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FACULDADE DE FARMÁCIA
RESIDÊNCIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR
Niterói
2019
NATHALI PEREIRA DA COSTA CAMPOS
Niterói
2019
REESTRUTURAÇÃO DO FLUXO DE DISPENSAÇÃO E ORIENTAÇÃO
FARMACÊUTICA PARA CUIDADORES DE RECÉM-NASCIDOS DE MÃES HIV
POSITIVAS POR MEIO DA GESTÃO DE PROCESSOS EM UMA MATERNIDADE DO
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________________________
Orientadora
________________________________________________________________________
Coorientadora
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Niterói
2019
AGRADECIMENTOS
Finalizo mais uma etapa muito importante da minha vida e não poderia deixar de
expressar minha eterna gratidão por todos aqueles que me apoiaram nessa longa jornada,
contribuindo de alguma forma para minhas conquistas.
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por todas oportunidades e por pessoas especiais
que colocaste em meu caminho.
Aos meus pais Laerte e Elizabeth (in memoriam) e meus irmãos Aron e Samir, muito
obrigada por todo apoio. Se é possível concluir mais essa etapa, foi devido aos seus esforços.
À minha orientadora Profª. Sabrina Calil por acreditar no meu trabalho e aceitar ser
minha orientadora.
À minha coorientadora MSc. Carla Maciel pela amizade, pelas longas conversas quando
batia aquele desespero e por ser essa profissional tão competente que me estimulou em dias
difíceis.
Aos meus amigos que fiz nessa longa jornada. Obrigada pelo apoio e por tornarem os
meus dias mais felizes e leves.
Nos últimos anos, foi observado a ocorrência de uma mudança no perfil da epidemia do
HIV/AIDS, conhecido como feminização da epidemia de HIV. Número crescente de mulheres
infectadas, em todo o mundo, constitui quase metade da população infectada com HIV. Essa
inversão no perfil da epidemia possui numerosas consequências, dentre elas, o aumento do
número de crianças infectadas pelo HIV tendo, como principal via de infecção, a transmissão
vertical. Estima-se que cerca de 15 a 30 % das crianças nascidas de mães soropositivas
adquirem o vírus HIV durante a gestação, durante o trabalho de parto e no parto propriamente
dito ou através da amamentação. A implementação de intervenções para a redução da
transmissão vertical do HIV, resultam na redução significativa da incidência de casos de AIDS
em crianças, para valores menores que 1 %. O presente estudo teve como objetivo descrever o
processo de trabalho multiprofissional, na atenção às gestantes HIV positivas propondo um
programa de Intervenção Farmacêutica para seus recém-nascidos, a fim de garantir seu
tratamento profilático pós-exposição ao vírus. Para abordagem preliminar do estudo foi
realizado o mapeamento do processo e coleta de informações através da observação das rotinas
de profissionais. Para elaboração dos fluxos, foi utilizado o software BizAgi Process Modeler®.
Para confecção do folheto informativo, utilizou-se linguagem clara, objetiva e com recursos
visuais, tornando-o mais atrativo e de fácil compreensão pelo público alvo. Como conclusão,
os resultados deste estudo sugerem que a elaboração e adequação dos fluxos internos, folheto
com orientações farmacêuticas e POP foram de suma importância. A gestão de processos é uma
ferramenta eficaz na integração dos diferentes processos dentro da instituição, como a
otimização dos resultados alcançados, do tempo, e, especialmente, promove a redução de erros,
garantindo a segurança e a melhoria da qualidade de vida do paciente.
On the last years, the profile of epidemiology of HIV/AIDS have changed, known as
feminization of the AIDS epidemic. The growing number of infected women worldwide,
represents almost half of the HIV infected population. This inversion on the epidemic profile
have numerous consequences, one of them the increase on HIV infected children numbers,
having the principal transmission type the vertical transmission. It is estimated that 15% to 30%
of children born from seropositive mother acquires HIV during pregnancy, labor, birth and
breast-feeding. Implementation of interventions for reducing the HIV vertical transmission,
results on significative reduction on HIV cases in children to values lower than 1%. The present
study aimed to describe the process of multi-professional work at the attention for the health of
pregnant women living with HIV, proposing a program of pharmaceutical intervention for
newborns, to grant their prophylactic treatment after virus exposure. For the preliminary
approach of the study, we performed the process mapping and information collection through
professional routine observation. For the elaboration of work fluxes, we used the BizAgi
Process Modeler® software. For the informative folder, we used the principles of a clear
language, objective and with visual aids, turning the folder more attractive and more easy
understanding to the target audience. In conclusion, this work results suggests that the
development and adaptation of internal fluxes, folder with pharmaceutical orientations and SOP
were for great importance. The processes management is an efficient tool on the integration of
different process at an institution, like the optimization of the achieved results, time and,
specially, promotes an error reduction, ensuring the safety and improvements of patient life
quality.
AP Área de Planejamento
ARV Antirretroviral
AZT Zidovudina
CV Carga Viral
FI Folheto Informativo
MS Ministério da Saúde
RN Recém-Nascido
TV Transmissão Vertical
UI Unidade Semi-Intensiva
1.INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12
2. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 15
2.1 Contextualização Histórica ................................................................................. 15
2.2 Etiologia............................................................................................................... 16
2.3Epidemiologia........................................................................................................ 18
2.4 Transmissão do vírus e prevenção........................................................................ 20
2.5 Transmissão Materno-Infantil do HIV e medidas profiláticas............................. 21
2.6 Gestão e segurança............................................................................................... 25
3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 27
3.1 Geral ................................................................................................................... 27
3.2 Específicos .......................................................................................................... 27
4. METODOLOGIA ............................................................................................. 28
4.1 Caracterização do local de pesquisa ................................................................... 28
4.2 Delineamento do estudo ..................................................................................... 29
4.3 Ferramentas utilizadas ....................................................................................... 30
4.3.1 Modelo e Notação de Processos de Trabalho (Business Process Manegement 30
and Notation) e BizAgi Process Modeler® ..............................................................
4.3.2 Notação BPMN................................................................................................. 30
4.4 Elaboração de folheto Informativo (FI) para os cuidadores................................ 34
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 35
5.1 Mapeamento de processos e elaboração do fluxograma..................................... 35
5.2 Identificação dos Frascos de AZT e NVP........................................................... 39
5.3 Alta Hospitalar aos Finais de Semana................................................................. 40
5.4 Elaboração do folheto informativo..................................................................... 41
5.5 Elaboração de Procedimento Padronizado para Farmácia Central..................... 45
6. CONCLUSÕES .................................................................................................. 47
8. ANEXO ............................................................................................................... 57
1. INTRODUÇÃO
Porém, a contaminação se disseminou e atingiu outros grupos. Nos últimos anos, vem sendo
observado uma inversão no perfil da doença, chamado de feminização da epidemia de HIV, que
se caracteriza pelo número crescente de mulheres infectadas em todo o mundo (COSTA, DA
SILVA, ROSENDO, 2013). Além disso, gera diversas consequências preocupantes, dentre elas,
a transmissão vertical, considerada como a principal via de infecção da mãe para o recém-
nascido, originando aumento do número de crianças infectadas pelo vírus do HIV (MACEDO
et al., 2013).
No caso das mulheres com CV-HIV <1.000 cópias/mL, mas detectável, parto vaginal pode
ser realizado, se não houver nenhuma contra-indicação obstétrica. No entanto, essa mulher tem
indicação de receber AZT intravenoso. O AZT injetável é indicado para prevenção da
transmissão vertical e devendo ser administrado durante o início do trabalho de parto, ou pelo
menos 3 (três) horas antes da cesariana eletiva, até o clampeamento do cordão umbilical
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Diante desse cenário, torna-se relevante a realização de estudos que possam evidenciar a
atuação da equipe multiprofissional, incluindo-se o farmacêutico na linha de cuidados a recém-
nascidos expostos ao vírus por transmissão vertical.
14
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O início dos anos 1980 foi marcado pela nova “doença misteriosa”, que atingia países
como Estados Unidos, o Haiti e a África Central, promovendo a preocupação das autoridades
de saúde pública. Em 1981 o aparecimento de cinco casos de pneumonia por Pneumocystis
carinii em homossexuais nos Estados Unidos alertou estudiosos para o surgimento de uma
síndrome que ocasionava danos graves ao sistema imunológico dos doentes (BEARD et al.,
2000). Não tardou e a doença desconhecida foi associada à homossexualidade, sendo chamada
de “câncer gay” (BRASIL, 2016c).
15
Posteriormente, este cenário sofreu grandes transformações devido ao crescente número
de casos da doença entre heterossexuais, acompanhado por uma expressiva participação das
mulheres (feminização da doença), que até então eram consideradas “fora de risco” (GIR et al.,
2004; QUINN, OVERBAUGH, 2005; CARVALHO, PICCININI, 2008).
Em 1984, a equipe do médico Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França, isolou e
caracterizou um retrovírus como o causador da Aids, denominando-o como HIV
(Human Immunodeficiency Virus, em inglês), ou Vírus da Imunodeficiência
Humana (BRASIL, 2015).
Em meados de 1985, a realização dos primeiros testes baseados na detecção de
anticorpos do vírus com objetivo de diagnosticar a infecção pelo HIV, foi considerado um
grande avanço no controle da epidemia. Eles foram utilizados nas triagens para banco de
sangue, reduzindo em quase 100 % a transmissão do vírus HIV através de transfusão de
sanguínea (BRASIL, 2015).
No final da década de 1980, a introdução da TARV com AZT mudou o curso natural da
doença retardando a instalação das infecções oportunistas, com consequente aumento da
sobrevida e da qualidade de vida dos portadores do vírus (QUINN, 2008; BRASIL, 2015).
No Brasil, ocorreram ainda mais algumas ações importantes para o controle da
epidemia, das quais se destaca a criação do Programa Nacional de DST e AIDS, que teve por
objetivo garantir distribuição gratuita e universal de ARV aos portadores de
HIV, assegurando o tratamento igualitário a toda sociedade. Em paralelo, a expressão “grupo
de risco” foi substituída pelo termo “comportamento de risco”, visto que a exposição ao HIV
se deve a uma conduta de risco e não a uma identidade do sujeito. Alguns anos depois (1999),
a mortalidade dos pacientes com AIDS caiu em aproximadamente 50%, havendo
também melhora significativa na qualidade de vida de portadores do vírus (BRASIL, 2015).
2.2. Etiologia
16
São descritos dois tipos de retrovírus causadores da AIDS, sendo eles o HIV-1 e o HIV-
2, que apresentam diferenças estruturais, epidemiológicas e fisiopatológicas entre si. Porém no
Brasil só foi descrito e comprovado até o momento infecções por HIV-1, sendo este o mais
prevalente (LEVER, 2005). O HIV-2, menos virulento, mostrou-se difundido na África
Ocidental, principalmente nos países de língua portuguesa (EHOLIÉ, ANGLARET, 2006).
A presença da enzima integrase auxilia na junção do novo genoma viral com genoma
da célula hospedeira, a partir dessa etapa, o genoma viral é capaz de iniciar sua transcrição e
produção de grande quantidade de RNA viral. No interior da célula, partes da estrutura viral
são formadas e um novo vírus é constituído, e, pela ação da enzima protease ocorre a
desintegração e consequentemente, a infecção de novas células (MANAVI, 2006; KLIMAS,
KONERU, FLETCHER, 2008).
17
Após a exposição ao vírus, é observado aparecimento dos primeiros anticorpos anti-HIV
e, devido à janela imunológica, a detecção ocorre no período entre a 3ª e a 5ª semana. A primeira
manifestação clínica é conhecida como infecção aguda, também chamada de síndrome
retroviral aguda, caracterizada por viremia e resposta imune intensa acompanhada de rápida
queda na contagem de células T-CD4+ (responsáveis pela defesa do organismo). Nesse estágio,
os sintomas assemelham-se aos de uma mononucleose, surgindo de duas a quatro semanas após
o paciente ter sido contaminado (FANALES-BELASIO et al., 2010).
Logo após a infecção aguda o indivíduo passa pelo período conhecido como fase
assintomática ou latência clínica. Durante essa fase, o vírus encontra-se ativo, porém em baixos
níveis, justificando a ausência de sinais e sintomas da doença (LEVY, 2009). O período de
latência é seguido pela fase sintomática inicial, na qual há o aparecimento de infecções
oportunistas de menor gravidade, além de sintomas inespecíficos com intensidade variável
(ZETOLA, PILCHER, 2007; SIERRA, KUPFER, KAISER, 2005)
2.3 Epidemiologia
Atualmente, estima-se que 36,9 milhões de pessoas em todo mundo vivem com HIV,
1,8 milhões de novas infecções pelo HIV em 2018 e 35,4 milhões de indivíduos morreram em
decorrência da AIDS desde o início da epidemia, apresentando grandes desafios para as
sociedades (UNAIDS, 2018).
As fontes utilizadas para a obtenção desses dados são: as notificações compulsórias dos
casos de HIV e de AIDS no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan); os
óbitos notificados com causa básica por HIV/aids no Sistema de Informações sobre Mortalidade
(SIM); os registros do Sistema de Informação de Exames Laboratoriais (Siscel) e os registros
do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom). Cabe ressaltar que a infecção
pelo HIV e a AIDS fazem parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças
(Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016), sendo assim, na ocorrência de casos de infecção
pelo HIV ou AIDS, estes devem ser reportados às autoridades de saúde. Porém ainda é muito
presente a subnotificação desses casos, tornando desconhecidas algumas informações
relevantes no âmbito da epidemiologia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Inicialmente a epidemia da AIDS era restrita a alguns “grupos de risco”. Hoje, a AIDS
acomete, globalmente, tanto homens quanto mulheres e crianças, ou seja, se compreende que
qualquer indivíduo é suscetível à infecção pelo vírus. Das 36,9 milhões de pessoas que estão
vivendo com HIV no mundo aproximadamente 50 % são mulheres (UNAIDS/WHO 2018). O
avanço da infecção pelo HIV em mulheres em idade fértil trouxe, como consequência, o número
cada vez maior de crianças expostas ao vírus durante a gestação e o risco da transmissão
materno-infantil (TMI) (BURNS et al. 1999).
No Brasil, no período de 2000 até junho de 2018, foram notificadas 116.292 gestantes
infectadas com HIV, das quais 7.882 só no ano de 2017. Também em 2017, foram registrados
19
no SIM um total de 11.463 óbitos por causa básica AIDS. A taxa de mortalidade padronizada
sofreu decréscimo de 15,8 % entre 2014 e 2017, possivelmente, em consequência da
recomendação do “tratamento para todos” e da ampliação do diagnóstico precoce da infecção
pelo HIV (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Com isso, a taxa de detecção do HIV em gestantes no Brasil vem apresentando pequena
tendência de aumento nos últimos anos, em grande parte devida a iniciativa de testes rápidos
distribuídos pela Rede Cegonha. Desde sua implementação no SUS, em 2012, foram
distribuídos 17.062.770 testes rápidos (até outubro de 2018), 36,4 % do total de testes rápidos
distribuídos no país. Em um período de dez anos, houve aumento de 21,7 % na taxa de detecção
de HIV em gestantes: em 2007, a taxa observada foi de 2,3 casos/mil nascidos vivos e, em 2017,
passou para 2,8/mil nascidos vivos. Esse aumento poderia ser explicado, em parte, pela
ampliação do diagnóstico no pré-natal e a consequente melhoria da prevenção da transmissão
vertical do HIV (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
A transmissão ocupacional, por sua vez, ocorre quando profissionais da área da saúde
sofrem exposição a instrumentos pérfuro-cortantes contaminados com sangue de pacientes
portadores do HIV. São descritos alguns fatores que colaboram para este tipo de contaminação,
sendo eles: a profundidade e extensão do ferimento, a presença de sangue visível no instrumento
que produziu a lesão, o procedimento que resultou na exposição, dentre outros (VIEIRA,
PADILHA, 2008; GOMES et al., 2009).
20
As principais estratégias adotadas para o controle da doença envolvem: o incentivo ao
uso de preservativos, a educação em saúde a partir do esclarecimento das formas e riscos da
transmissão do vírus, a promoção do uso de agulhas e seringas esterilizadas e descartáveis,
adoção de cuidados na exposição ocupacional a material biológico e o controle adequado das
outras DST (KAPIGA, HAYESB, BUVÉ, 2010).
O uso do preservativo é descrito como uma das diretrizes mais importantes para a
prevenção da infecção pelo HIV. A utilização do mesmo foi incorporada como recomendação
desde 1985 em documentos oficiais dos CDC/EUA e no programa brasileiro desde 1987,
proposta por técnicos dedicados à saúde pública e à prevenção, em conjunto com o movimento
das comunidades mais atingidas, principalmente a comunidade homossexual organizada
(BASTOS, 2010)
Várias medidas de intervenções, tanto isoladas quanto combinadas, têm sido adotadas
para busca incansável na redução significativa da infecção pelo vírus. A fim de alcançar o
objetivo, a realização da testagem para o Anti-HIV para indivíduos sexualmente ativos e o
início imediato da TARV, aparecem como sugestões (BRASIL, 2017).
Desde 1986, foi observado que os usuários de drogas injetáveis representam grupo
significativo na manutenção da epidemia. Como a transmissão nesse caso ocorre através do
compartilhamento de seringas/equipamentos, vale ressaltar a importância das medidas
educativas, que tem por objetivo incentivar mudanças comportamentais desses usuários
(KURTH et al., 2011).
21
Uma das metas da OMS para o controle da AIDS no mundo é que nenhuma criança
exposta ao HIV durante a gestação e/ou parto seja infectada (UNAIDS 2018). Sabe-se que, em
gestações planejadas, com intervenções realizadas adequadamente durante o pré-natal, o parto
e a amamentação, o risco de transmissão vertical do HIV é reduzido a menos de 1 %. No
entanto, sem o adequado planejamento e seguimento, está bem estabelecido que esse risco é de
15 % a 30 % (WHO, 2016). Para alcançar esta meta é preciso garantir o acesso universal de
testes de diagnóstico da infecção pelo HIV precocemente, onde a triagem pode ser feita
adequadamente no pré-natal. Essa medida permite tanto tratamento quanto a introdução de
profilaxia da TMI, reduzindo os riscos de casos neonatais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
O Brasil preconiza o direito reprodutivo de todas pessoas que vivem com HIV,
assegurando de maneira livre e responsável a decisão sobre sua reprodução. Para isso, as
políticas públicas de saúde estão presentes, visando garantir o acesso à informação, tanto para
mulheres em idade fértil quanto para seus parceiros, enfocando a anticoncepção efetiva, o
desejo de engravidar e a conscientização sobre as medidas necessárias à prevenção da
transmissão vertical do HIV (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Diante dos dados da influência da carga viral sobre a TV, fica claro a necessidade do
uso de anti-retrovirais para reduzir a carga viral a níveis indetectáveis ou abaixo de 1000
cópias/ml, com intuito de reduzir essa forma de transmissão (CAMPOS, et al., 2008).
Sem dúvidas, a estratégica mais eficiente, mas não única, para reduzir a TV do HIV é a
redução da carga viral. Um marco importante na história da transmissão vertical do HIV foi a
publicação do “Pediatric AIDS Clinical Trials Group Study” (PACTG076). Estes ensaios
clínicos demonstraram redução significativa de transmissão vertical em crianças não
amamentadas, tratadas com AZT xarope por 6 semanas e cujas mães receberam monoterapia
com AZT durante a gestação e trabalho de parto (CONNOR et al. 1994).
De acordo com o PCDT 2018, em cesariana eletiva, o uso de AZT injetável, para a
prevenção da transmissão vertical, deve ser administrado durante o parto ou iniciado 3 horas
antes do início da cirurgia, período em que se tem concentração intracelular máxima desse
medicamento, e mantida até o clampeamento do cordão umbilical (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
20018). Não é necessário uso de AZT profilático em gestantes que apresentem CV-HIV
indetectável após 34 semanas de gestação, e que estejam em TARV com boa adesão. Entretanto,
independentemente da CV-HIV, o médico pode eleger ou não o uso do AZT intraparto EV, a
depender do seu julgamento clínico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 20018).
23
O risco de TV do vírus HIV ainda continua por meio da amamentação. Dessa forma, o
fato da mãe utilizar ARV corretamente, não controla a eliminação do HIV pelo leite, e não
garante proteção contra a TV. Recomenda-se, então, que toda puérpera vivendo com HIV/AIDS
seja orientada a não amamentar seu filho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Ao mesmo tempo, ela deve ser informada e orientada sobre o direito a receber fórmula
láctea infantil. A criança exposta, infectada ou não, terá direito a receber a fórmula láctea
infantil, pelo menos, até completar seis meses de idade. Podendo, esse prazo ser estendido
conforme avaliação em casos específicos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Sabe-se que a redução de erros só será obtida com a análise criteriosa e sistêmica do
processo, com detecção dos pontos críticos e implementação de medidas para diminuir esses
possíveis erros (LEAPE et al., 2000).
25
Vale ressaltar que o campo de dinâmica organizacional abrange condições importantes,
mas que a associação entre condições e os resultados de segurança depende da implantação
bem-sucedida e de intervenções específicas (DÜCKERS et al., 2009).
26
3. OBJETIVOS
27
4. METODOLOGIA
28
Os usuários da Instituição têm uma assistência em saúde executada por uma equipe
multidisciplinar com profissionais de diferentes categorias, como: médicos, enfermeiros,
técnicos de enfermagem, assistentes sociais, nutricionistas, farmacêuticos entre outros, a fim de
garantir um atendimento completo para seus usuários (DATASUS, 2017).
A unidade é considerada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a maior maternidade que
compõe a rede do município, realizando cerca de aproximadamente 550 partos por mês
(DATASUS, 2017).
No presente estudo foi utilizado software gratuito Biz Agi Process Modeler®, que
utiliza a notação BPMN para modelar processos de negócio de forma descritiva, ágil e simples
em um ambiente gráfico intuitivo. Foi idealizado para diagramar processos em BPMN, definir
regras de negócio, definir interface do usuário, otimização e balanceamento de carga de
trabalho, indicadores de desempenho de processos, monitor de atividades e muito mais
(ABREU et al., 2018).
30
➢ Eventos: Acontece durante o curso do processo de negócio. São representados
por círculos vazados para permitir sinalização que identificam os gatilhos ou
resultados.
31
➢ Decisões: São usadas para definir que rumo o fluxo vai seguir e controlar suas
ramificações. A forma gráfica é um losango com as pontas alinhadas na
horizontal everticalmente. O interior do losango indica o tipo de comportamento
da decisão.
32
Figura 7: Swimlanes do BPMN (Adaptado de Manual de procedimentos: modelar processos).
33
4.4 Elaboração de folheto Informativo (FI) para os cuidadores
34
5. Resultados e Discussão
A primeira etapa conduzida foi o mapeamento de processos que teve por objetivo o
entendimento de falhas e erros do processo para, posteriormente, implementar ações corretivas
visando a otimização do processo avaliado, favorecendo a reflexão dos serviços de uma maneira
estruturada e a uniformidade nos procedimentos.
35
Figura 9. Fluxograma o qual reflete o panorama do processo no momento do mapeamento.
Fonte: Autora
36
Através do mapeamento dos processos envolvidos foi possível observar que a gestante
e seu RN passa por mais de uma unidade do hospital e por diferentes profissionais, como
médicos, auxiliares de farmácia, técnicos de enfermagem e enfermeiras, nutricionistas,
farmacêuticos. Por isso a importância de criar uma interface da farmácia hospitalar com as
outras unidades hospitalares e, além disso, contar com o apoio dos demais profissionais de
saúde para garantir que a segurança do paciente transcorra de forma contínua e ordenada (UMA
REDE, 2013).
37
Figura 10. Fluxograma o qual reflete o panorama do processo após o mapeamento. Fonte:
Autora
38
A preocupação com a melhoria da qualidade da assistência farmacêutica prestada foi
evidenciada pela participação e integração dos colaboradores ao projeto, permitindo discussão
dos processos, redesenho, validação e implementação das mudanças. Destaca-se também a
contribuição das demais áreas e de funcionários do hospital, como a direção, equipe de
enfermagem e equipe médica
39
O papel da farmácia no contexto hospitalar atual vai além da distribuição e dispensação
de medicamentos (BOND, RAEHL, FRANKE, 2012). A simples identificação individual
garante maior rastreabilidade do paciente em uso de AZT. Caso este seja esquecido na
instituição, a maternidade tem a possibilidade de entrar em contato com o cuidador ou
familiares próximos.
É descrito que a identificação do paciente tem sido reconhecida como crucial em relação
a segurança do paciente. A falta de processo padronizado de identificação nos serviços de saúde
pode contribuir para ocorrência de falhas (TASE, 2015).
Após a reunião com as chefias de cada setor, a segunda modificação a ser realizada, foi
a determinação de não haver alta hospitalar pelos médicos plantonistas da unidade aos finais de
semana.
Com isso, vale ressaltar que não havendo alta hospitalar, no momento que o setor de
farmácia estiver fechado, há garantia que essas pacientes tenham acesso às latas de fórmula
láctea infantil. Ademais, é garantida, também, a orientação farmacêutica no momento da
dispensação dos medicamentos.
Dessa forma, foi elaborado um folheto informativo (Figura 12) com orientações gerais
e farmacêuticas para cuidadores de RN expostos ao vírus HIV através da transmissão vertical.
Para isso, utilizou-se uma linguagem clara, simples e aspectos gráficos facilitando a
legibilidade, visto que os FI muitas vezes são lidos de forma seletiva, ou seja, apenas
informações sobre determinado assunto (STAHL et al., 2006).
41
Figura 12. Capa do Folheto Informativo “Cuidados com o Recém-Nascido em uso de Anti-
retrovirais”, contendo informações sobre o AZT e NVP. Fonte: Autora
42
Figura 13. Folheto Informativo “Cuidados com o Recém-Nascido em uso de Antirretrovirais”,
contendo informações sobre o AZT e NVP. Fonte: Autora
43
Figura 14. Folheto Informativo “Cuidados com o Recém-Nascido em uso de Antirretrovirais”,
contendo informações sobre o AZT. Fonte: Autora
44
Foi demonstrado que o FI é considerado fonte de informação importante sobre os
medicamentos após a prescrição médica (SILVA et. al. 2000). Porém, em um outro estudo,
observou-se que algumas informações contida no FI dos medicamentos, como por exemplo,
composição química dos medicamentos, entre outras informações não são do interesse dos
pacientes (FUJITA, 2009). Dessa forma, os profissionais de saúde têm papel importante em
relação ao processo de obtenção da informação, devendo, para isso, fornecer aos pacientes
informação oral e escrita com linguagem de fácil acesso sem termos técnicos, o que contribui
para o conhecimento. Porém para os pacientes a prescrição médica ainda é o documento mais
relevante (RAYNOR, DICKINSON, 2009).
Contudo, sabe-se que a prescrição médica não contém algumas das informações
relevantes para o uso do medicamento como: advertências, contra-indicações e efeitos adversos.
Portanto pode se dizer que o folheto informativo é tão importante quanto a prescrição, pois são
essenciais para a aquisição e o uso adequado dos medicamentos e, no caso deste estudo, da
fórmula láctea infantil. O uso ou consulta isolada destes dois documentos pode originar
desconhecimento de informações necessárias para o paciente, podendo levar a equívocos
(FUJITA, 2009).
O procedimento operacional padrão (POP) é um documento que busca fazer com que
um processo, independentemente da área, possa ser realizado sempre da mesma maneira,
permitindo a verificação de cada uma de suas etapas a serem desenvolvidas (DAINESI,
NUNES, 2007).
A fim de garantir a entrega das seis latas de fórmula láctea infantil corretamente e
validar o processo institucional verificando a entrega do(s) frasco(s) dos ARV, foi elaborado
um POP (anexo A) utilizando linguagem clara e detalhada com objetivo de uniformizar rotinas
operacionais.
45
A estratégia utilizada para padronização são os treinamentos e educação continuada,
que tem por objetivo aprimorar os métodos educacionais na saúde, para melhorar o processo de
trabalho, a qualidade em serviços se tornando qualificados para atender a necessidade da
organização, e assim, formular estratégias para solucionar seus problemas. (MASSAROLI;
SAUPE, 2014).
46
6. Conclusão
Por fim, pode-se concluir que a gestão de processos é uma maneira rápida e fácil de
desenvolver a integração dos diferentes processos dentro da instituição, como a otimização dos
resultados alcançados, do tempo, e, especialmente, promove a redução de erros, garantindo a
segurança e a melhoria da qualidade de vida do paciente
47
7. BIBLIOGRAFIA
ABREU, Taiana Nascimento de et al. Implantação de uma equipe de processos num hospital
universitário. 2018.
ACEIJAS, Carmen et al. Global overview of injecting drug use and HIV infection among
injecting drug users. Aids, v. 18, n. 17, p. 2295-2303, 2004.
BASTOS, Francisco Inácio Pinkusfeld Monteiro et al. A nova agenda internacional e brasileira
em política de drogas e prevenção do HIV/AIDS entre usuários de drogas. 2010.
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56
8. ANEXO
57
DISPENSAÇÃO DE LEITE EM PÓ
DISPENSAÇÃO DE LEITE EM PÓ
Objetivo:
Descrever a maneira que deve ser realizada a dispensação de leite em pó para recém-nascidos
de mães HIV positivas.
Considerações:
Mães soropositivas para o HIV não devem amamentar seus filhos com leite materno, pois o vírus
do HIV encontra-se presente no fluido. Desse modo, o SUS fornece, no primeiro momento, o
quantitativo de 6 latas leite em pó para cada recém-nascido na Unidade Hospitalar.
Responsabilidade:
Descrição:
58
- Verificar se foi entregar o folheto Informativo (vide anexo II) e orientar o paciente sobre o
uso do xarope, bem como sua importância para o recém-nascido;
Atenção: Há dois tipos de folhetos informativos, 1 contendo apenas informações sobre o xarope
de Zidovudina e 1 contendo informações sobre o xarope de Zidovudina e a Nevirapina.
- Neste momento, é indispensável a conferência. A fim de avaliar foi entregue, pelo setor de
enfermagem, o Frasco de Zidovudina e/ou Nevirapina para o paciente, validando assim, toda
etapa do processo;
Anexos:
- Folheto Informativo;
Riscos/Limitações:
59
HMCD – Serviço de Farmácia
__________________________________________________
Responsável : ______________________________________
60
61
62
63