Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
v . 3 5 , p . 79-84, 1991.
1. I N T R O D U Ç Ã O
Nesta introdução farei um resumo das idéias apresentadas por Bourdieu em seu
artigo (2), tendo em vista uma familiarização do leitor com a terminologia e concei-
tos por ele adotados, bem como uma melhor compreensão dos pontos desenvolvidos
a seguir.
Justifica-se a abordagem do presente artigo em função da visão atual de comuni-
cação e competência comunicativa, bem como da preocupação relevante com a inte-
ração lingüistica e as posturas de classe social.
A terminologia básica fundamentada na economia é uma evidência da atitude de
Bourdieu face ao fato lingüístico, como dado concreto e possibilitador de trocas na
sociedade.
Existe um mercado lingüístico em que a competência funciona como um capital,
que possibilita um sistema de trocas simbólicas dentro do universo social. A compe-
tência dominante funciona como capital lingüístico assegurando um ganho de distin-
ção na sua relação com as outras competências, na medida em que os grupos que a
detêm são capazes de se impor como únicos, os legítimos, nos mercados lingüísticos
legítimos (mercado escolar, administrativo, social etc).
As oportunidades de ganho são avaliadas pelo emissor em função de um hábito par-
ticular (norma) que comanda a sua percepção e a sua apreciação das chances objetivas
2. E M T O R N O D A C O M P E T Ê N C I A
3. F A T O L I N G Ü Í S T I C O F R E N T E A O PROCESSO H I S T Ó R I C O
Outra colocação feita por Bourdieu neste artigo é a de que: "Uma ciência rigorosa
da linguagem substitui a questão saussuriana das condições de possibilidade de inte-
lecção (isto é , a língua) pela questão das condições sociais de possibilidade da pro-
dução e da circulação lingüísticas". N ã o nos parece conveniente o termo substitui-
ção, mas sim complementação. Apoiadas em fundamentos lingüísticos, mas com um
foco de ação que toma em conta as condições sociais, enfim, o fator humano e toda
a problematização referente a ele, temos a Sociolinguística e a Lingüística Aplicada
(L. A.).
Quando Bourdieu afirma que " o discurso deve sempre suas características mais
importantes às relações de produção lingüística das quais é produto", apresenta uma
visão que é própria do sociolingüista e do lingüista aplicado, como veremos mais
adiante. Segundo ele, "todas as transações lingüísticas particulares dependem da es-
trutura do campo lingüístico, o qual é uma expressão particular da estrutura da rela-
ção de forças entre os grupos possuidores das competências correspondentes (exem-
plo: língua "polida" e língua "vulgar", ou, numa situação de plurilingüismo, língua
dominante e língua dominada)". Esta relação de forças reflete-se no ato da comuni-
cação e nas funções dialógicas da linguagem que fazem parte do mesmo. Assim,
Bourdieu relata que: " A língua não é mais somente um instrumento de comunicação
ou mesmo de conhecimento, mas um instrumento de poder".
4. L I N G Ü Í S T I C A A P L I C A D A : A Q U E S T Ã O D O E N S I N O E A P R E O C U -
PAÇÃO FUNDAMENTAL COM O FATOR HUMANO
5. A Q U E S T Ã O D A I N T E R D I S C I P L I N A R I D A D E
Bourdieu afirma que "a pesquisa dos pressupostos, na qual se embrenham atual-
mente os mais lúcidos dos lingüistas, conduz inevitavelmente fora da lingüística co-
mo ela se define ordinariamente, em boa lógica, ela deve conduzir à reintrodução de
todo o mundo social na ciência da linguagem, a começar pela Escola que impõe as
formas legítimas do discurso e a idéia de que um discurso deve ser reconhecido se, e
somente se, estiver conforme com essas formas legítimas ( . . . ) " .
Cumpre-nos ressaltar que a lingüística, como ciência que realiza um estudo cientí-
fico da linguagem, tem por meta o estudo da língua desde a sua gênese, transforma-
ções e estruturação.
Como j á foi mencionado anteriormente, a complementação desse estudo deve ser
feita, tomando-se em conta o caráter social da língua, enquanto instrumento de co-
municação entre os homens. Sendo assim, a preocupação manifestada por Bourdieu,
neste discurso, coincide com a expressa pela L . A . , tomando em conta o usuário da
língua, bem como, de forma mais específica, as situações de uso da língua no con-
texto de ensino, e as relações estabelecidas pelo educando com o ensino e a lingua-
gem da escola. A L . A . procura fazer uma análise desse quadro, tendo em vista o en-
sino da língua materna ( L j ) ou língua estrangeira ( L ) . Tendo como base uma sólida
2
6. C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
CRUZ, Maria de Lourdes Otero Brabo. Bourdieu and applied linguistics. Alfa, São Paulo: v.
35,79-84,1991.
ABSTRACT: This paper intends: (a) to analyse Bourdieu's concept of linguistic competence
and his social approach to linguistic facts; (b) to compare his concept with those of today's
Applied Linguistcs and(c) to define his position as one typical of modern Applied Linguistics.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS