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Editora Poisson

Ergonomia e Segurança do
Trabalho em foco
Volume 2

1ª Edição

Belo Horizonte
Poisson
2019
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade

Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Ms. Davilson Eduardo Andrade
Dra. Elizângela de Jesus Oliveira – Universidade Federal do Amazonas
Msc. Fabiane dos Santos
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy
Ms. Valdiney Alves de Oliveira – Universidade Federal de Uberlândia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


E67
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco
volume 2 – Editora Poisson – Belo
Horizonte (MG : Poisson, 2019)

Formato: PDF
ISBN: 978-85-7042-184-5
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5

Modo de acesso: World Wide Web


Inclui bibliografia

1. Ergonomia. 2. Segurança. I. Título

CDD-658.8

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são
de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

www.poisson.com.br

contato@poisson.com.br
SUMÁRIO
Capítulo 1: Análise da acessibilidade nas áreas comuns de edifícios residenciais
verticais com pilotis elevado................................................................................................................. 06
Mariana Santos Barbosa, Alexandre Márcio Toledo
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.01

Capítulo 2: Estudo ergonômico do almoxarifado público na cidade do Recife sob o olhar


do ambiente construído .......................................................................................................................... 16
Vilma Villarouco, Janaina Vanessa Laurindo Afonso Lima, Edeilson Vicente Ferreira, Paula Araújo Azevedo
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.02

Capítulo 3: Avaliação do ambiente construído do centro cirúrgico de um Hospital


Universitário da cidade do Recife-PE. ............................................................................................... 28
Francisco Amorim de Barros, Gabriella Maria de Brito Farias, Geane Rodrigues Chaves, Vilma Villarouco
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.03

Capítulo 4: Idosos e a acessibilidade aos computadores desktop: Mouse como


dispositivo de entrada ............................................................................................................................. 38
Rosana Gonçales Oliveira Rocha, João Roberto Gomes de Faria, Galdenoro Botura Junior, Ekaterina
Emmanuil Inglesis Barcellos
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.04

Capítulo 5: Prevalência de LER/DORT e fatores associados no Departamento Estadual


de Trânsito de Pernambuco – DETRAN/PE. .................................................................................. 46
Vanessa Coêlho, Klaúgene Gaudêncio, Marluce Santos, Maria Goretti Fernandes
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.05

Capítulo 6: Perfil socioeconômico e saúde dos trabalhadores em indústrias da Região


Amazônica ..................................................................................................................................................... 55
Rodrigo Canto Moreira, Brenda Rassy Carneiro Maradei
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.06

Capítulo 7: Perícias judiciais na 2ª Vara do Trabalho de Aracaju/SE: Possibilidades de


contribuição da ISO 11228-3 e do Decreto nº 6.957/09 para o nexo causal da LER/DORT
............................................................................................................................................................................ 63
Marcos André Santos Guedes, Maria Goretti Fernandes, Ana Verena Alves Calmon Almeida
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.07
SUMÁRIO
Capítulo 8: Vibração e ruído em um trator agrícola submetido a diferentes superfícies
de rolamento ................................................................................................................................................ 73
Patrícia Adriana Marques de Andrade, Vinícius Paludo, Jefferson Sandi, Murilo Battistuzzi Martins, João
Eduardo Guarnetti dos Santos
DOI: 10.36229/978-85-93729-184-5.CAP.08

Autores:......................................................................................................................................................... 81
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 1
Análise da acessibilidade nas áreas comuns de
edifícios residenciais verticais com pilotis elevado
Mariana Santos Barbosa
Alexandre Márcio Toledo

Resumo: A acessibilidade física é fundamental para garantir inclusão de pessoas com


deficiência nas áreas comuns dos edifícios residenciais verticais, sobretudo nos que
apresentam pilotis elevado. É necessário prover rotas acessíveis que atendam ao
desenho universal. Objetiva-se analisar questões de acessibilidade nesses edifícios
residenciais verticais. Selecionou-se para estudo um edifício típico aprovado em 1999,
anterior à publicação da NBR 9050/2004, analisando-se o acesso ao edifício, rota de
acesso ao elevador e as áreas de lazer de uso comum. Observou-se que as condições
existentes só atendem parcialmente, apresentando vários aspectos em desacordo com a
legislação vigente, implicando na necessidade de adequações futuras.

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1.INTRODUÇÃO
Acessibilidade é um assunto cada vez mais discutido no Brasil, pois é fundamental a preocupação com a
inclusão e a integração das pessoas com algum tipo de deficiência na sociedade. Porém, o Estado Brasileiro
nem sempre a teve como uma preocupação:
“A igualdade das Pessoas com Deficiência perante à lei e seus direitos à cidade são
resultados de um processo histórico, das reivindicações e articulações que
partiram destas pessoas. Pode-se dizer que estes direitos que começam a surgir
aos poucos, assumem uma nova dimensão com a instalação da Assembleia
Constituinte e a luta pela Reforma Urbana. O ano 1980 foi o marco de uma nova
postura com a instituição de uma Comissão Nacional do Ano Internacional das
Pessoas Deficientes (AIPD) ” (DUARTE; COHEN, 2004, p. 20).
Desde o ano 2000, criaram-se leis e normas no Brasil visando a garantia da acessibilidade nos meios
públicos e privados, são elas: a Lei Federal 10.098/2000, o Decreto Regulamentador 5.296/2004 e a NBR
9050/2004.
Em 2007, com a publicação do Código de Edificações e Urbanismo de Maceió (MACEIÓ, 2007), verificou-se
a inclusão da acessibilidade. Até a reformulação da NBR 9050 (ABNT, 2004) os edifícios residenciais
verticais não tinham parâmetros para implantação de rotas acessíveis, e antes disso não era obrigatória a
adequação dos edifícios a esses parâmetros.
Segundo a NBR 9050 (ABNT, 2004), todo edifício residencial vertical deve possuir áreas de uso comum e
rotas de acesso às unidades autônomas. Porém nem sempre esse respeito à norma citada está presente
nas construções, fazendo com que a pessoa com deficiência se encontre com dificuldade de acesso.
Alguns dados são relevantes na construção de um edifício adaptado para pessoas com deficiência, uma vez
que no programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), consta que 25% da população mundial tem deficiência, e, segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, cerca de 24 milhões de pessoas
apresentam alguma deficiência.
Além disso, também é necessária uma perspectiva de futuro, pois a ONU divulgou recentemente que a
expectativa de vida mundial subirá de 65 anos em 2000, para 75 anos em 2050. Fato que amplia a
quantidade de pessoas com dificuldade de locomoção para o convívio social, além de pesquisas do IBGE
que indicam que a população com mais de 60 anos no Brasil será de 22% em 2050. É importante salientar
que a acessibilidade não trata apenas das necessidades das pessoas com deficiências físicas, mas sim, da
adequação dos espaços para pessoas portadoras dos mais diferentes tipos de deficiência, além de pessoas
com mobilidade reduzida como idosos, gestantes, obesos e também de seus acompanhantes.
Uma vez que a NBR que trata da acessibilidade é do ano de 2004, os edifícios construídos antes desta data
não tiveram em seus projetos obrigação para com tal adequação. Como é a situação da acessibilidade em
edifícios residenciais verticais que antecedem a NBR 9050? O que se faz para que estes edifícios se
adequem ao cumprimento das rotas acessíveis?
O objetivo deste artigo é analisar um edifício vertical multifamiliar construído antes da norma NBR
9050(2004), verificando as questões de acessibilidade, visando contribuir para a discussão técnica que
considere o indivíduo no âmbito da acessibilidade arquitetônica.
O presente recorte integra o trabalho de conclusão de curso em Arquitetura e Urbanismo em
desenvolvimento. O qual analisará seis edifícios: três anteriores à NBR 9050(2004) e outros três
posteriores à mesma.

2.REFERENCIAL TEÓRICO
No Brasil, a acessibilidade é regida pela Lei Federal No 10.098/2000, regulamentada pelo Decreto Nº
5.296/2004, ano em que a ABNT publicou a NBR 9050/2004. O Código de Urbanismo e Edificações do 7
Município de Maceió (MACEIÓ, 2007) também possui diretrizes importantes para as construções na
Cidade. Estas Leis e Normas apresentam os conceitos de Acessibilidade, Deficiência e Desenho Universal.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

2.1. LEGISLAÇÃO
A Lei Federal Nº 10.098 (Brasil, 2000), instituída em dezembro de 2000, tem como objetivo estabelecer
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiências ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e obstáculos nas vias e
espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e
de comunicação (Art. 1º, Capítulo 1).
Em dezembro de 2004, instituiu-se o Decreto Nº 5.296 (Brasil, 2004), o qual regulamenta a Lei 10.098
(Brasil, 2000) e especifica as condições gerais de construções com acessibilidade.
A NBR 9050 surgiu no ano de 1985 e foi publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – órgão
competente, no Brasil, para publicação de normas técnicas. Desde a sua primeira publicação ela já foi
revisada três vezes: em 1994, em 2004 e a última revisão ocorreu em 2015. A título de análise, neste
trabalho será utilizada a NBR9050 de 2004.
A NBR 9050 (ABNT, 2004) estabelece parâmetros técnicos acerca do projeto, construção, instalação e
adaptação de edificações, mobiliário, espaço e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade.
Consideraram-se diversas condições de mobilidade e de percepção do ambiente, com ou sem ajuda de
aparelhos específicos, a fim de proporcionar a maior quantidade de pessoas a utilização de maneira
autônoma e segura do ambiente.
Para isso, a norma define as áreas de circulação e transferência de pessoas que fazem uso de cadeira de
rodas, comunicação e orientação visual e tátil, além das dimensões e inclinações que os equipamentos e
mobiliários deverão ter (ex.: portas, rampas, calçadas, banheiros, etc.).
No Código de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió (Maceió, 2007), instituído pela Lei
Municipal de Nº 5.593 (Maceió, 2007), a acessibilidade é citada em uma de suas diretrizes, a qual garante
as condições adequadas de acessibilidade, circulação e utilização das áreas e edificações de uso público ou
coletivo, especialmente para pessoas portadoras de necessidades especiais ou com mobilidade reduzida
(Art. 2º, Maceió, 2007).
É também importante citar que o Registro de Responsabilidade Técnica – RRT, documento requerido pelo
Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), exige do projetista o seguinte compromisso:
“Declaro que na(s) atividade(s) registrada(s) neste RRT foram atendidas as regras de acessibilidade
previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica e no Decreto Federal nº
5.296, de 2 de dezembro de 2004.”

2.2. ACESSIBILIDADE, DEFICIÊNCIA E DESENHO UNIVERSAL


O conceito de acessibilidade contido na Lei 10.098/2000 (Brasil, 2000) e no Decreto Federal 5.296/2004
(Brasil, 2004) é o seguinte:
Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia,
de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de
outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso
coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Brasil, 2000)
Já o conceito de deficiência presente na Norma de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e
equipamentos urbanos (NBR 9050:2004), é o seguinte:
Redução, limitação ou inexistência das condições de percepção das características
do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações, espaço, mobiliário,
equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente (NBR
9050,2004 p.3)
O conceito de Desenho Universal contido na Lei 10.098 (Brasil, 2000), Art. 2º, é o seguinte: 8

“Concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por


todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico,
incluindo os recursos de tecnologia assistiva. ”
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

E segundo a NBR 9050 (ABNT, 2004): “aquele que visa atender à maior gama de variações possíveis das
características antropométricas e sensoriais da população. ”
Connell et al. (1997) definem os sete princípios do desenho universal (Quadro 01), os quais incluem
aspectos relacionados ao uso (1 a 3), informação (4), segurança (5), eficiência (6) e dimensionamento dos
espaços (7).

Quadro 1 – Princípios do Desenho Universal


PRINCÍPIO DESCRIÇÃO
O desenho é utilizável e comercializável para pessoas com diversas
1. Uso correto
capacidades/incapacidades
O desenho acomoda uma larga faixa de preferências e habilidades
2. Flexibilidade no uso
individuais
O uso do desenho é fácil de ser entendido, não importando sua
3. Uso simples e intuitivo experiência, conhecimento, aptidões linguísticas, ou nível de
concentração do usuário
O desenho dá a necessária informação ao usuário, independentemente
4. Informação perceptível
das condições do ambiente ou das habilidades sensoriais do usuário
O desenho minimiza os perigos e as consequências adversas de ações
5. Tolerância ao erro
não intencionais ou acidentais
O desenho pode ser usado de forma eficiente e confortável com o
6. Pouco esforço físico
mínimo de fadiga
Prevê tamanho e espaço apropriado para aproximação, a busca, a
7. Tamanho e espaço para
manipulação e uso, não importando a altura, postura ou mobilidade do
aproximação e uso
usuário

3. METODOLOGIA
No trabalho apresenta-se uma análise sobre acessibilidade, focada em três aspectos: áreas de acesso ao
edifício; rota de acesso ao elevador; áreas de lazer de uso comum. Utiliza-se como estudo de caso um
edifício residencial vertical anterior à NBR 9050/2004.

3.1. OBJETO DE ESTUDO


Escolheu-se o edifício Milennium por anteceder à Norma e representar um exemplo significativo de
edifícios dessa tipologia arquitetônica, edifícios verticais com pilotis elevado, ou seja, com garagem no
subsolo. De acordo com o Art. 273 do Código de Edificações e Urbanismo de Maceió (2007), esta estratégia
permite que o subsolo ocupe todo o limite do lote:
Parágrafo único. Para fins de recuos, subsolo é o pavimento cuja laje de
cobertura não ultrapasse 1,80 m (um metro e oitenta centímetros) em face do
nível do meio-fio relativo ao lote em que se situe.
Registrado na Secretaria Municipal de Controle e Convívio Urbano de Maceió/AL (SMCCU) em 1999, o
edifício Milennium se localiza na Rua Hélio Pradines Nº 806, no bairro Ponta Verde, baixada litorânea da
Cidade (Figura 1).
É composto por oito pavimentos tipo com três apartamentos por andar, um subsolo e um pilotis elevado,
onde se localizam os equipamentos de lazer (playground e salão de festas). A área do terreno é de
720,00m² e a área de construção de 3.646,64m². Por não ter sofrido nenhuma reforma e ser registrado
anteriormente ao Decreto Federal 5.296 (Brasil, 2004) não possui mecanismos de acessibilidade espacial
ao pilotis (Figura 2).

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 1 – Localização do Edifício Milennium Figura 2 – Fachada do Edifício


Milennium

Fonte: Google Earth (Adaptado) Fonte: Google Earth.

3.2. INSTRUMENTO DE PESQUISA


Realizaram-se levantamento cadastral do edifício na SMCCU e visitas in loco para documentação
fotográfica e observação sistemática. Os dados alimentaram as planilhas de análise.
Dischinger et al. (2012) propõem seis áreas a serem estudadas: (i) Áreas de acesso ao edifício; (ii)
Saguões, salas de recepção e espera; (iii) Circulações horizontais; (iv) Circulações verticais; (v) Sanitários;
e (vi) Locais para atividades coletiva; para um estudo de acessibilidade em um edifício público.
Por tratar de um estudo de um edifício residencial vertical, estabeleceram-se apenas três áreas a serem
estudadas: (i) áreas de acesso ao edifício; (ii) rota de acesso ao elevador; (iii) áreas de lazer de uso comum
(incluindo sanitários, quando existentes) (Quadro 2).

Quadro 2 – Descrição das áreas analisadas


Compostas pelas áreas públicas do edifício (calçada) e a área privativa
da entrada – frente e laterais (quando houver). Incluem as calçadas, as
Áreas de Acesso ao Edifício escadas, as rampas, as portas principais e laterais e os mecanismos de
controle do ingresso no edifício (portas com sensores, interfones,
visores, etc.).
Composta pela circulação entre o acesso ao edifício até a entrada do
Rota de acesso ao elevador elevador. Incluem a circulação horizontal, a recepção e os corredores
(quando houver).
Compostas pelas áreas de lazer do edifício – apenas de uso comum.
Áreas de lazer de uso comum
Incluem piscinas, deck, playground, fitness e sala de jogos.

Para a análise, elaboraram-se três planilhas, adaptando-as às especificidades do objeto de estudo. Todas as
planilhas possuem oito colunas (Quadro 3) agrupadas em quatro blocos distintos: legislação, itens a
conferir, resposta, observações. O segundo bloco, itens a conferir, constitui a referência para todos os
demais.
O primeiro bloco – legislação – é composto por duas colunas, sendo a primeira referente à Lei, Decreto,
norma ou princípio do desenho universal, seguido pelo(s) artigo(s) (quando existente), correspondentes
na segunda coluna.
No segundo bloco – itens a conferir – organizado de acordo com os diferentes elementos a avaliar. Cada 10
item corresponde a um aspecto específico de acessibilidade a analisar expresso na forma de pergunta,
estes aspectos são divididos em componentes da acessibilidade.
Os componentes são: Orientação (pisos táteis e informações espaciais acessíveis); Comunicação
(mecanismos de controle de acesso ao edifício); Deslocamento (Condições de segurança, conforto e
continuidade dos percursos em relação a faixa livre de circulação, declividade, desníveis, materiais de
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

revestimento do piso e vãos das portas); Uso (utilização, alcance e manuseio de todos os componentes –
tais como corrimãos, maçanetas e banheiros).
O terceiro bloco – resposta – é preenchido com a resposta da questão avaliada (sim, não, não se aplica ou
inexistente). Respostas positivas significam que o elemento considerado possui boa acessibilidade
espacial, e respostas negativas indicam presença de problemas. Preenche-se “não se aplica/inexistente”
nos casos em que o elemento avaliado não existe na edificação.
O quarto e último bloco – observações – possui espaço para observações, tais como medições efetuadas e
descrição mais detalhada do(s) problema(s). Todas as planilhas foram preenchidas por meio de estudo
das plantas baixas do edifício ou fotos realizadas em visitas ao local.

Quadro 3 – Organização das Planilhas


Legislação Resposta
Lei Itens a conferir Na/I Obs.
Art. Sim Não

4. ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE NAS ÁREAS COMUNS


Trata-se da análise da acessibilidade nas três áreas, apresentando a situação atual de cada componente
analisado.

4.1. ÁREAS DE ACESSO AO EDIFÍCIO


O passeio tem pisos adequados (antiderrapantes), porém percebe-se que as árvores possuem copas mais
baixas que 2,10m de altura, o que causa invasão da área livre e, consequentemente, impede o
deslocamento e representa insegurança ao pedestre (Figura 3). O piso tátil existe, mas não sinaliza as
copas das árvores presentes na calçada.
O interfone para comunicação do pedestre com o porteiro (Figura 4) está a uma altura de 1,40m, o que o
torna inacessível aos cadeirantes e às pessoas com baixa estatura.

Figura 3 – Passeio externo Figura 4 – Interfone

Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.


A escada (Figura 5) possui 2,15m de largura e os espelhos são fechados, entretanto, o primeiro degrau
situa-se exatamente após a porta de entrada, o qual deveria distar pelo menos 50cm, este problema é
bastante ocorrente na Cidade por conta dos subsolos semienterrados. Não há sinalização visual e/ou tátil 11
nos degraus, no início e no término da escada.
O corrimão (Figura 6), existe somente em uma lateral da escada (deveria existir nas duas), possui apenas
2,5cm de largura (deveria ter entre 3 e 4,5cm) e 2,5cm de distância até a parede (deveria ter 4cm).
Ademais, só possui prolongamento na parte superior da escada e quinas vivas.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 6 – Corrimão da escada de acesso ao


Figura 5 – Escada do único acesso para pedestres
edifício

Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

4.2. ROTA DE ACESSO AO ELEVADOR


O corredor possui extensão de 7,55m e 2,30m de largura (Figura 7), estando assim de acordo com o
solicitado na NBR 9050 (ABNT, 2004) e não apresenta desnível. O piso do corredor é de material
antiderrapante, como sugerido na Norma, porém o da recepção é de pedra polida que causa risco pela
probabilidade ser maior de acidentes quando molhado.
A única porta existente na rota após a escada até o elevador tem o vão maior que o mínimo exigido pela
NBR 9050/2004: 80cm, e a maçaneta está numa altura de 1,06m do piso (deve estar entre 90cm e 1,10m)
logo, ambos atendem.
Apesar de as maçanetas não serem do tipo alavanca como deveria, a porta da recepção é mantida sempre
aberta. Não existe soleira na mudança de piso do corredor para a recepção, o que favorece a
acessibilidade, mas há um tapete antiderrapante (capado) que representa obstáculo na rota (Figura 8).

Figura 8 – Porta de ligação entre corredor de


Figura 7 – Corredor de Passagem
passagem e recepção

Fonte: Acervo pessoal.


Fonte: Acervo pessoal.

12
Há placas indicando o nome dos ambientes (Figura 9), porém estas não são contrastantes com a superfície
que estão afixadas, além de serem pequenas e altas (impossibilitando a sinalização em braile). Não existe
sinalização de rotas e entradas acessíveis em forma de pictogramas, pois não há uma rota totalmente
acessível.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 9 – Placa com indicação do nome do ambiente

Fonte: Acervo pessoal.

4.3. ÁREAS DE LAZER DE USO COMUM


Nem todos os vãos possuem 80cm livre como requerido na Norma, pois há uma porta que liga a recepção
ao salão de festas com apenas 67cm de vão, porém, as demais portas do salão possuem vãos livres maiores
que 80cm (Figura 10). Nestas as maçanetas estão a uma altura correta, 1,06m em relação ao piso (devem
estar entre 90cm e 1,10m), mas não são do tipo alavanca.
Não há corredores na Área de Lazer, porém os pisos existentes são antiderrapantes e regulares. Os únicos
desníveis na área de lazer encontram-se nas portas de entrada do salão de festas e são causados pelas
soleiras das esquadrias. São superiores a 1,5cm e não há rampas, o que dificulta o acesso (Figura 11).

Figura 11 – Entrada do salão de festas – desnível


Figura 10 – Portas externas do salão de festas
esquadria

Fonte: Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal

É necessário pelo menos um conjunto de sanitários masculino e feminino acessíveis para as pessoas com
restrições no edifício. Porém, há apenas um banheiro unissex na Área Comum e este é inacessível desde a
sua entrada, pois a porta possui apenas 60cm de vão, o que não permite o acesso de um cadeirante (Figura
12).

13
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 12 – Porta de acesso ao banheiro da Área de Lazer

Fonte: Acervo pessoal.

5. CONCLUSÃO
Este artigo teve como objetivo a análise da acessibilidade nas áreas comuns de um edifício residencial
vertical com pilotis elevado, verificando se estão de acordo com as legislações existentes. Para isso,
utilizaram-se planilhas construídas baseadas em Dischinger et al. (2012), preenchidas mediante visitas ao
local.
Nas áreas de acesso ao edifício, apenas o tipo de piso está de acordo com a legislação, pois é de material
antiderrapante. Porém, existe vegetação com altura menor que a mínima permitida, além de não serem
sinalizadas pelo piso tátil e o interfone, para comunicação com o porteiro, situa-se mais alto que o
sugerido pela norma. A escada possui largura e altura dos degraus adequadas, mas o corrimão e a
sinalização tátil não se apresentam satisfatórios.
A rota de acesso ao elevador foi o espaço que mais se aproximou do que a norma sugere. O corredor e as
portas possuem larguras satisfatórias, além de possuir piso antiderrapante e ausência de desnível, o que
facilita o acesso. Mas, não existe sinalização de rotas acessíveis.
Já na área de lazer de uso comum, as portas possuem vão e maçanetas adequadas, contudo, as esquadrias
ocasionam um desnível maior que 1,5cm. Além disso, há apenas um sanitário na área comum e este é
inacessível devido à largura do vão da porta ser mais estreito que o necessário.
Conclui-se que não há rotas acessíveis no edifício estudado, assim como na maioria anterior à NBR9050
(ABNT, 2004). Mesmo possuindo algumas características inerentes à acessibilidade, pessoas com
deficiência necessitam da ajuda de algum acompanhante para entrar no edifício. Sendo assim, o Edifício
encontra-se fora dos parâmetros de acessibilidade impostos pelas legislações aqui apresentadas. Além
disso, não acompanha o conceito de desenho universal, pois não é adaptável em sua situação atual,
implicando na necessidade de adequação futura.

REFERÊNCIAS
[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050:2004 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços
e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 14
[2] Barros, Cybele Ferreira Monteiro de. Casa Segura: uma arquitetura para a maturidade. Rio de Janeiro: Editora
PoD, 2000
[3] Brasil. Lei n.° 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

[4] Brasil. Decreto n.° 5.296, de 2 de dezembro de 2004, regulamenta a Lei Nº 10.098 de dezembro de 2000 e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF.
[5] Connel, Rose Bettye; Jones, Mike; Mace, Ronald; Mueller, Jim; Mullick, Abir; Ostroff, Elaine; Sanford, Jon;
Steinfield, Ed; Story, Molly; Vanderheiden, Gregg. The Principles of Universal Design. State University, NC: The Center of
Universal Design, 1997.
[6] Dischinger, Marta; Bins Ely, Vera Helena Moro; Piardi, Sonia Maria Demeda Groisman. Promovendo
acessibilidade espacial nos edifícios públicos: Programa de Acessibilidade às Pessoas com Deficiência ou Mobilidade
Reduzida nas Edificações de Uso Público. Florianópolis: MPSC, 2012.
[7] Duarte, Cristiane Rose; Cohen, Regina. Acessibilidade para todos: uma cartilha de orientação. Rio de Janeiro:
Núcleo Pró-Acesso, UFRJ/FAU/Proarq, 2004.
[8] Maceió. Código de Urbanismo e Edificações de Maceió. Maceió: Prefeitura Municipal de Maceió, 2007.

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 2
Estudo ergonômico do almoxarifado público na cidade
do Recife sob o olhar do ambiente construído
Vilma Villarouco
Janaina Vanessa Laurindo Afonso Lima
Edeilson Vicente Ferreira
Paula Araújo Azevedo

Resumo: O almoxarifado objeto do estudo está inserido em uma instituição pública e é


responsável pelo abastecimento de itens para manutenção predial em três Campi. Este
setor sofreu uma redução de espaço físico de forma brusca e sem planejamento prévio.
Por isso, boa parte dos materiais foi realocada em outros galpões de maneira
desordenada. Hoje, apesar de possuir um software que auxilia a gestão do estoque,
Sistema de Controle de Almoxarifado (SCA), a estrutura do setor dificulta bastante o
andamento do trabalho, com falhas de localização e controle do estoque. Este problema
causa estresse, retrabalhos, esforços e deslocamentos desnecessários e como
consequência ineficiência do setor. Utilizou-se a metodologia Ergonômica do ambiente
construído (MEAC) desenvolvendo uma abordagem ergonômica a fim de entender,
avaliar e modificar o ambiente e a interação contínua com seu usuário.

Palavras Chave: Almoxarifado, Ambiente construído e Usuário.

16
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos ocorreram grandes transformações socioeconômicas e tecnológicas que levaram o
homem a repensar no que se diz respeito ao ambiente de trabalho e, neste contexto, viu-se a necessidade
de um estudo que proporcionasse maior conforto e segurança ao ser humano a fim de realizar seu
trabalho com máxima eficiência sem que sua saúde fosse afetada, tanto no aspecto mental, quanto físico.
A qualidade de vida no ambiente construído vem sendo sustentada por diversas pesquisas na área de
Arquitetura, Design, Ergonomia, Urbanismo e da Psicologia ambiental. Nesse sentido, Duarte (2002)
atenta para a questão de que a arquitetura não é apenas a delimitação de um espaço físico, mas é também
um fechamento cultural, e o ato de projetar significa buscar a satisfação de várias expectativas do homem
em relação ao seu ambiente, seja permitindo o livre desempenho de suas atividades, seja proporcionando
melhores condições de conforto ambiental, proporcionando a geração de afetos e a atribuição de
significados ao lugar.
O almoxarifado objeto de estudo está inserido em uma instituição pública e é responsável pelo
abastecimento de itens para manutenção predial em três Campi (Recife, Vitória e Agreste). Este setor
sofreu uma redução de espaço físico de forma brusca e sem planejamento prévio. Por isso, boa parte dos
materiais foi realocada em outros galpões de maneira desordenada.
Hoje, apesar de possuir um software que auxilia a gestão do estoque, Sistema de Controle de Almoxarifado
(SCA), a estrutura do setor dificulta bastante o andamento do trabalho, com falhas de localização e
controle do estoque. Este problema causa estresse, retrabalhos, esforços e deslocamentos desnecessários
e como consequência ineficiência do setor. Além disso, com a redução sem planejamento do espaço físico,
os banheiros/vestiários e a copa existente foram retirados, o que forçou os funcionários a improvisarem
um local para fazer suas refeições além de terem de se deslocar para outros setores a fim de utilizarem os
banheiros.
A ergonomia, que trata da interação do ser humano e o espaço no qual está inserido com o objetivo de
otimizar o bem estar da pessoa, é um estudo que atua com normas e procedimentos a fim de adaptar o
homem ao ambiente e como consequência, melhorar a produtividade. Assim, ela gera impactos positivos
na medida em que proporciona ganhos reais de qualidade na execução do serviço e na vida do funcionário.
Por isso, a mesma é um instrumento diferencial de melhoria de desempenho das atividades além de atuar
como sistema de prevenção de doenças do trabalho.

2 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória e qualitativa, de cunho descritivo. A população estudada foi
constituída por 10 servidores, de um universo de 10 que ocupam os diversos cargos, de ambos os sexos,
mediante a aquiescência de todos em participar do estudo.
A pesquisa foi realizada de julho a setembro de 2016. Esta pesquisa foi utilizada a Metodologia
Ergonômica para o Ambiente Construído – MEAC (Villarouco, 2007). Esta metodologia é composta de seis
fases subdivididas em dois blocos. No primeiro bloco ocorre a análise física do ambiente, que se
desmembra em três etapas: Análise global do ambiente, Identificação ambiental e Avaliação do ambiente
em uso. Já o segundo bloco trata da questão cognitiva e aborda mais três etapas: Percepção ambiental pelo
usuário, Diagnóstico ergonômico do ambiente e Recomendações. Assim, a MEAC busca não só analisar e
propor mudanças no ambiente físico, mas também foca na percepção do usuário em relação ao espaço.

2.1 ANÁLISE GLOBAL DO AMBIENTE


Nesta etapa propõe-se o reconhecimento do local de estudo, o qual é responsável pela identificação de
problemas através de observações assistemáticas, registros fotográficos, entrevistas com usuários, entre
outros. Desta forma, detecta as inconformidades que requeiram uma intervenção ergonômica.
Hoje, o almoxarifado é responsável pelo recebimento, armazenamento e distribuição de materiais 17
utilizados para a manutenção predial e do entorno do órgão público, o qual abastece em Recife, Caruaru e
Vitória de Santo Antão.
As visitas feitas ao local acompanhadas de um assistente administrativo, em que foi retirado o máximo de
informações sobre o ambiente e as tarefas exercidas no local (walkthrough), além de fotografias.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

O setor funciona de segunda à sexta, das 7h às 19h, ininterruptamente. Possui um quadro funcional de
dois assistentes em administração e um gerente de suprimentos (ambos servidores), um encarregado,
dois almoxarifes, dois auxiliares de almoxarife e um auxiliar de serviços gerais (terceirizados), além de
duas bolsistas.
O que se observa quando se entra no setor é que o ambiente não é atrativo para a permanência, pois tem
aspectos de abandono como: paredes com pinturas velhas e escuras, pouca iluminação e ventilação
natural na recepção, móveis antigos e em mau estado de conservação, espaços improvisados (Imagem 1-A,
1-B, 1-C).

Imagem 1 (A; B; C): Aspecto geral do almoxarifado avaliado

(A) Portão de Acesso ao setor (B) Recepção do almoxarifado (C) Acesso à recepção
Fonte: Autores

Apesar não passar por reformas a um bom tempo, o ambiente é limpo, mas não possui
banheiros/vestiários, copa/cozinha e local para descanso. Este fator impacta de forma negativa,
principalmente para os terceirizados, que cumprem uma jornada de trabalho de 44h/semanais. Alguns
corredores dificultam a circulação dos funcionários devido ao pequeno espaço entre as estantes (Imagem
2-A).
A sala administrativa não recebe iluminação nem ventilação natural, apenas artificial (Imagem 2-B). Por
sua recepção estar localizada dentro de um galpão utilizado como garagem de veículos pequenos da
instituição, os fornecedores têm dificuldades de acesso ao setor para a entrega/descarregamento dos
materiais no almoxarifado (Imagem 2-C).

Imagem 2 (A; B; C): Secções internas do almoxarifado

(A) Localização das estantes (B) Sala administrativa (C) Copa improvisada
Fonte: Autores

18
2.2 IDENTIFICAÇÕES DA CONFIGURAÇÃO AMBIENTAL
Esta etapa trata da análise do ambiente físico associado às tarefas desenvolvidas no setor. É nela em que
se avalia a estrutura do posto de trabalho, suas condições de conforto térmico, de iluminação e ruído,
layout, aspectos de segurança e acessibilidade.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

O almoxarifado é composto por 09 (nove) ambientes, os quais são subdivididos em 01(uma) sala
administrativa, 01 (uma) recepção e 07(sete) galpões, dos quais 02(dois) deles foram avaliados (o de
material hidrossanitário no térreo e do material elétrico no pavimento superior).
Os postos de trabalho dividem-se em dois principais: recepção, onde os almoxarifes, auxiliares de
almoxarifado e auxiliar de serviços gerais ficam a maior parte do tempo e; a sala administrativa, onde
estão os assistentes em administração, a gerente de suprimentos, o encarregado e as duas bolsistas. Além
destes, há os galpões onde ficam os materiais armazenados.
A sala administrativa consiste em uma área de aproximadamente 23m², com piso todo em cerâmica na cor
cinza claro e forro em pvc branco. Tanto a iluminação quanto ventilação são totalmente artificiais.
Já a recepção, é o local responsável pelo recebimento/liberação de mercadorias e atendimento ao público.
Também é o único meio de acesso à sala administrativa, aos galpões de hidrossanitários e de material
elétrico (piso superior). Possui iluminação tanto natural (pouca) quanto artificial.

Imagem 3: Planta baixa do almoxarifado no pavimento térreo

5
3

6
3

3
1
1

2 1 3

8
3

Fonte: autores

A ventilação natural quase não ocorre e a artificial é feita através de 02 ventiladores velhos, o que torna o
ambiente quente, principalmente nos dias de verão. Aproximadamente 1,5m da parede possui uma
pintura bastante escura (cinza), o que torna o ambiente desmotivador e desagradável.

Imagem 4: Planta baixa do almoxarifado no pavimento 01 (primeiro andar)

19

Fonte: autores
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

O forro é de telha Brasilit, proporcionando um local mais quente e abafado, como nos demais galpões.
Quanto aos galpões, todos têm telhado composto por telhas tipo Brasilit, em alguns ambientes a pintura
está bem gasta, há outras partes em que tanto as paredes quanto o piso não possuem nem acabamento, a
iluminação é feita de forma artificial (lâmpadas fluorescentes), com o auxílio da iluminação natural
(basculantes) e têm apenas uma porta de madeira para acesso aos locais, que é mantida fechada para
manter a segurança dos materiais armazenados, mas que impacta negativamente na temperatura do
ambiente, pois impede a circulação de ar e torna os galpões mais quentes.

2.3 ACESSIBILIDADE
Utilizou-se a NBR 9050 (ABNT 2004) para fazer a análise de acessibilidade do almoxarifado.
Constatou-se que há várias irregularidades em relação a esta norma.
Um dos principais problemas detectados foi o único acesso possível/disponível à recepção, administração
e galpões avaliados.
Por estar localizado dentro de uma estrutura utilizada como garagem para os veículos de médio e pequeno
porte da instituição, há momentos em que os carros estão estacionados na porta do almoxarifado, uns
muitos próximos aos outros. Isso impossibilita o acesso de cadeirantes e dificulta o ingresso de pessoas
com muletas e até dos próprios funcionários do setor. Além disso, não há indicadores, sinalização tátil e
sonora, os ambientes não possuem as sinalizações direcionais necessárias para deslocamentos no setor,
um dos galpões é no primeiro andar e há apenas escadas e há desníveis entre os ambientes, podendo
ocasionar acidentes.

2.4 AVALIAÇÃO DO CONFORTO ACÚSTICO


Por se tratar de um ambiente com acesso controlado e não possuir equipamentos/maquinários pesados
em pleno funcionamento, apresenta pouca variação acústica. Por isso, foi definido o horário das 13h, que
possui maior fluxo de pessoas devido à troca de turnos entre os servidores além do retorno do horário de
almoço dos terceirizados, para fazer as medições no centro de cada ambiente (sala administrativa,
recepção, galpão de material elétrico e de material hidrossanitário). Essas medições foram feitas através
do decibelímetro digital modelo MSL-1325, marca Minipa, para analisar se os índices são aceitáveis pela
NBR1052 (ABNT, 2000), conforme quadro 1, abaixo.

Quadro 1 – Medições de ruído nos ambientes de estudo


MEDIÇÕES (h)
AMBIENTE PONTO NBR 1052 (dB)
13h00min
Administração Centro do ambiente 61 45 – 65
Recepção Centro do ambiente 52 40 – 50
Galpão mat. Hidros. Centro do ambiente 42 35 – 45
Galpão mat. Elétrico Centro do ambiente 42 35 – 45
Fonte: autores

Quanto ao nível de ruído, o almoxarifado cumpre com o exigido pela Norma.

2.5 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA - INSTRUÇÃO NORMATIVA (I.N.) Nº. 205, DE 08 DE ABRIL DE 1988.
Por ser um almoxarifado de uma instituição pública há a I.N. que objetiva “racionalizar com minimização
de custos o uso de material no âmbito do SISG através de técnicas modernas que atualizam e enriquecem
essa gestão com as desejáveis condições de operacionalidade, no emprego do material nas diversas 20
atividades”. Ela trata de questões importantes que norteiam a aquisição, armazenamento, limpeza,
reposição de estoque, inventário e responsabilidade no controle dos materiais, entre outros.
No entanto, não se observou o cumprimento alguns desses aspectos, como por exemplo, em relação à
armazenagem. Notam-se produtos estocados em contato direto com o piso e parte dos materiais prejudica
o acesso aos extintores de incêndio. Alguns destes problemas foram causados pela diminuição não
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

planejada do setor, o que acarretou na “falta” de espaço para armazenar todos os itens. Isto forçou a
equipe do setor a guardar os produtos em locais inapropriados, além da falta de reposição de mobiliários
(estantes, palets, estrados) que, com o passar dos anos, deterioram-se e não foram repostos.

2.6 AVALIAÇÃO DO CONFORTO LUMÍNICO


A recepção e os galpões possuem iluminação tanto natural (pouca) como artificial.
Já a sala administrativa possui a iluminação totalmente artificial, através de lâmpadas fluorescentes de
32W.
As medições foram feitas através do luxímetro DIGITAL LUX METER, fabricante Minipa, em três horários
distintos: às 7:30, às 13h e às 17:30h e foram definidos 28 pontos na planta baixa (Imagens 3 e 4). Os
valores foram comparados com os níveis indicados pela norma NBR 5413 (ABNT 1992), conforme quadro
2, na sequência.
Quadro 2 - Medições de luminosidade nos ambientes de estudo
MEDIÇÕES (h) NBR 5413
AMBIENTE PONTO
07h30min 13h00min 17h30min (lux)
Administração 01 217 231 268 500-1000
Administração 02 305 279 307 500-1000
Administração 03 236 240 241 500-1000
Administração 04 156 180 190 500-1000
Recepção 05 114 125 104 500-1000
Recepção 06 123 159 115 500-1000
Recepção 07 140 126 137 500-1000
Recepção 08 117 114 105 500-1000
Recepção 09 270 200 144 500-1000
Galpão mat. Hidrost. 10 35 49 30 150-300
Galpão mat. Hidrost. 11 57 77 55 150-300
Galpão mat. Hidrost. 12 40 42 47 150-300
Galpão mat. Hidrost. 13 26 35 32 150-300
Galpão mat. Hidrost. 14 33 56 34 150-300
Galpão mat. Hidrost. 15 200 130 132 150-300
Galpão mat. Hidrost. 16 80 92 88 150-300
Galpão mat. Hidrost. 17 68 70 61 150-300
Galpão mat. Elétrico 18 22 34 20 150-300
Galpão mat. Elétrico 19 73 102 71 150-300
Galpão mat. Elétrico 20 60 73 69 150-300
Galpão mat. Elétrico 21 88 97 75 150-300
Galpão mat. Elétrico 22 152 156 150 150-300
Galpão mat. Elétrico 23 83 54 79 150-300
Galpão mat. Elétrico 24 129 142 127 150-300
Galpão mat. Elétrico 25 47 65 43 150-300
Galpão mat. Elétrico 26 10 35 05 150-300
Galpão mat. Elétrico 27 112 124 106 150-300
Galpão mat. Elétrico 28 118 152 113 150-300
Fonte: autores
Observou-se que há uma má iluminação no setor em estudo e que é bastante evidente em pontos
específicos, como o ponto 26 localizado no galpão de material elétrico. Este problema é agravado pela má
distribuição das lâmpadas nos ambientes e algumas lâmpadas queimadas, o que gera a desconformidade
em relação à referida NBR.

2.7 AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO


A sala administrativa possui apenas ventilação artificial através de um condicionador de ar de 18000 21
BTUS.
A recepção recebe tanto ventilação natural quanto artificial, por meio de dois ventiladores velhos.
Já os galpões não têm nenhuma ventilação artificial, apenas natural (pouca) através de basculantes ou de
paredes vazadas.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

As medições foram feitas com o Termo Anemômetro Digital MDA-II, da marca Minipa, nos mesmos
horários e pontos de avaliação do conforto lumínico.
Os valores foram comparados com os níveis indicados pela norma NR 17, Portaria MTPS n.º 3.751, de 23
de novembro de 1990, que prevê índice de temperatura efetiva entre 20°C (vinte) e 23°C (vinte e três
graus centígrados), conforme quadro 3, a seguir.
Quadro 3 - Medições de temperatura nos ambientes de estudo
MEDIÇÕES (h)
AMBIENTE PONTO NR 17 (°C)
07h30min 13h00min 17h30min
Administração 01 21,0 22,3 23,6 20-23
Administração 02 21,7 22,7 23,8 20-23
Administração 03 22,5 23,2 24,2 20-23
Administração 04 22,8 23,5 24,6 20-23
Recepção 05 25,9 28,9 25,0 20-23
Recepção 06 26,0 29,0 25,1 20-23
Recepção 07 26,1 28,5 25,2 20-23
Recepção 08 26,2 28,8 25,1 20-23
Recepção 09 26,4 28,7 25,2 20-23
Galpão mat. Hidrost. 10 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 11 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 12 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 13 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 14 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 15 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 16 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Hidrost. 17 26,5 29,2 25,5 20-23
Galpão mat. Elétrico 18 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 19 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 20 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 21 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 22 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 23 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 24 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 25 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 26 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 27 26,7 30,0 26,1 20-23
Galpão mat. Elétrico 28 26,7 30,0 26,1 20-23
Fonte: autores
O que se percebe é que na sala administrativa, há variações de temperatura de acordo com as localizações
dos birôs além dos ajustes feitos no condicionador de ar ao longo do dia.
Já a recepção, por ter ventilação artificial apenas por ventiladores, o ambiente possui temperaturas mais
elevadas e isso o torna menos agradável, além de estar em desacordo com o previsto na NR 17.
Quanto aos galpões, por não possuírem nenhuma ventilação artificial, suas temperaturas são bem
elevadas, gerando desconforto térmico e descumprimento da referida Norma.

2.8 AVALIAÇÃO DO AMBIENTE EM USO


Nesta terceira etapa, são observados os aspectos relacionados ao ambiente em uso, identificando o quanto
o mesmo funciona como elemento facilitador ou dificultador quanto ao desenvolvimento das atividades
que abriga (VASCONSELOS; VILLAROUCO; RES, 2009).

22
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Imagem 5 – Mapa fluxograma do almoxarifado (Térreo)

Fonte: autores

A avaliação do almoxarifado e de seus espaços para o desenvolvimento das atividades foi realizada através
de visitas, medições e depoimentos dos usuários.

Imagem 6 – Mapa fluxograma do almoxarifado (Pavimento 01)

Fonte: autores

Nas imagens 5 e 6, esquematizaram-se as diferentes seções que compõem o almoxarifado da UFPE,


descrevendo as funções exercidas pelas mesmas para o cumprimento dos objetivos inerentes a cada área,
como também o fluxograma das tarefas quanto às solicitações e recebimento de materiais.

Imagem 7 - Descrição das diferentes funções e suas atividades

23

Verificou-se que os deslocamentos realizados pela maioria dos trabalhadores do almoxarifado dependem
do material que for demandado ou do produto entregue pelo fornecedor no respectivo dia. O tempo de
deslocamento, a distância percorrida e a rapidez no atendimento dependem do local em que o material
está armazenado.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Imagem 8 - Fluxograma da tarefa: Recebimento de materiais

Fonte: autores

Imagem 9 - Fluxograma da tarefa: distribuição de materiais

Fonte: autores

A manutenção da limpeza fica comprometida pela obstrução dos ambientes e dificuldade de acesso aos
locais. Outro agravante é que outros setores utilizam o almoxarifado como um “depósito de
materiais/móveis inutilizados” de que eles querem se desfazer. Quando o que deveria ser efetivamente
estocado chega, não há onde armazená-lo, o que gera obstrução de corredores e vias de circulação para
acesso aos produtos, além do armazenamento inadequado.
Constatou-se que existe necessidade de melhoria dos ambientes e necessidades organizacionais para uma
eficaz execução das tarefas. O almoxarifado não possui alguns parâmetros de segurança e acessibilidade,
apresenta revestimentos inadequados, pinturas descascadas, pavimento com escada íngreme sem
acessibilidade para pessoas com algum tipo de deficiência física, ausência de sinalização tátil e sonora, 24
ambientes obsoletos, inúmeros materiais e equipamentos sem uso, alguns funcionários desmotivados com
o ambiente de trabalho, ambientes insalubres, quentes, escuros, instalações elétricas expostas, e com isso
consolidam a necessidade de intervenção física.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

2.9 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA


Quanto à avaliação antropométrica, observou-se que em algumas áreas da recepção e dos dois galpões há
lugares com difícil circulação para os funcionários, dificultando o recebimento, armazenamento e
distribuição dos materiais, conforme representado nas imagens 10-A e 10-B, na sequência.

Imagem 10-A: Avaliação antropométrica – Térreo (recepção, sala administrativa e galpão de


hidrossanitários)

Fonte: autores
Imagem 10 – B: Avaliação antropométrica – Pavimento 01 (galpão de material elétrico)

Fonte: autores

2.10 PERCEPÇÕES AMBIENTAIS PELO USUÁRIO


Utilizou-se o poema dos desejos que é um instrumento não estruturado, espontâneo e de livre resposta.
Seguindo a metodologia utilizada por Blower (2010), foi aplicada a ferramenta sem a identificação do
autor e sem identificação de sua função na instituição.
Esta etapa contemplou a análise das entrevistas e demonstrou as expectativas e impressões dos usuários 25
do ambiente. A representação gráfica foi através da ferramenta Poema dos Desejos (Wish Poem). A
aplicação desse instrumento, desenvolvido por Henry Sanoff, consiste em solicitar aos usuários de um
determinado local que descrevam verbalmente ou expressem por meio de desenhos o que teria ou como
seria o ambiente ideal para eles. Tendo em vista que as respostas podem ser as mais diversas, o método
possibilita ampla liberdade para a manifestação dos anseios das pessoas, fornecendo informações que
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

podem ser especialmente relevantes para o desenvolvimento de projetos similares ou mesmo de


intervenções – reformas ou ampliações – em construções existentes (CASTRO; LACERDA; PENNA, 2004;
RHEINGANTZ, 2007b). Por esse motivo, o Poema dos Desejos é um método indicado para a utilização em
projetos participativos, isso é, nos quais os grupos de usuários estejam representados durante o processo
(SANOFF, 1991; SANOFF, 1993).
Para a implementação desse método, é apresentada uma ficha ao usuário contendo uma frase do tipo “Eu
gostaria que o meu almoxarifado...”. A elaboração do instrumento de coleta das informações é, portanto,
muito simples. A tabulação das respostas, por sua vez, pressupõe a criação de categorias que sintetizem
informações semelhantes (RHEINGANTZ, 2007b). Para sua aplicação na avaliação do almoxarifado, foram
preparadas folhas com uma frase: “Eu gostaria que o almoxarifado fosse...”. Buscando não direcionar
nenhuma resposta específica, essa frase era apresentada pelo pesquisador de forma a estimular que os
funcionários respondessem na folha de papel seus anseios com relação ao ambiente. Sugeriu-se que as
respostas fossem relacionadas a aspectos que o ambiente construído deveria ter ou como ele deveria ser
na opinião dos funcionários. Ao longo de todo o processo, os pesquisadores foram também anotando os
comentários que os funcionários iam expressando enquanto elaboravam suas respostas. Sendo essa uma
postura já adotada que visa maximizar a interação entre os participantes e explorar as informações
relevantes que emergem espontaneamente durante o processo de coleta dos dados. Esse método foi
aplicado pelos três pesquisadores diretamente com 10 funcionários que trabalham no almoxarifado.

Imagem 11 – Gráfico representativo do Poema dos Desejos

POEMA DOS DESEJOS


Organização
2% Iluminação
7% 7% 20%

10% Ventilação
15%
Alimentação
12%
Ampliação
12% 15%
Banheiro/vestiário
Repouso
Informatização

Fonte: autores
Observa-se que o principal aspecto levantado foi o item “organização”, que se encontra na resposta de
20% dos entrevistados, sendo evidenciada nas visitas feitas ao local de estudo, corroborando com a
percepção dos pesquisadores, seguido dos itens iluminação e ventilação que correspondem a 15% cada,
confirmadas pelas medições feitas no almoxarifado através de aparelhos específicos.
Os itens alimentação e ampliação tiveram 12% das respostas, cada, pois constatou-se que não há
copa/refeitório, sendo realizada em ambiente improvisado, além de não ter espaço suficiente para
armazenar os materiais de forma adequada.
Como o item menos apontado está a necessidade de treinamento, 2%. Porém, não deixa de ser importante
para a melhoria da prestação dos serviços, pois garante maior conhecimento e motivação dos
funcionários.

2.11 DIAGNOSE
Há uma má iluminação no setor em estudo e que é bastante evidente em pontos específicos, como o ponto
26 localizado no galpão de material elétrico. Este problema é agravado pela má distribuição das lâmpadas
nos ambientes e algumas lâmpadas queimadas, o que gera a desconformidade em relação à referida NBR.
26
Na sala administrativa há variações de temperatura de acordo com as localizações dos birôs além dos
ajustes feitos no condicionador de ar ao longo do dia. Já a recepção, por ter ventilação artificial apenas por
ventiladores, o ambiente possui temperaturas mais elevadas e isso o torna menos agradável, além de estar
em desacordo com o previsto na NR 17. Quanto aos galpões, por não possuírem nenhuma ventilação
artificial, suas temperaturas são bem elevadas, gerando desconforto térmico e descumprimento da
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

referida Norma. No conforto acústico foi detectado que o objeto de estudo encontra-se em conformidade
com a norma estabelecida.

3 RECOMENDAÇÕES
Intervenções organizacionais devem ser feitas quanto à realocação de materiais, padronização das
estantes e desobstrução dos corredores, a fim de melhorar os fluxos de trabalho. Quanto ao desconforto
lumínico, propõe-se o redimensionamento das lâmpadas além da manutenção do espaço através da
reposição de lâmpadas queimadas, além da reavaliação da quantidade mínima de lux necessária para
iluminar de forma adequada dos ambientes.
Em relação ao conforto térmico, sugere-se a instalação de condicionadores de ar e exaustores para
proporcionar um melhor bem estar aos usuários. Além disso, a criação de um espaço físico adequado para
refeições, instalação hidrossanitária e repouso. Quanto à acessibilidade, orienta-se a implantação de um
motor carga e uma rampa no galpão superior, aplicação de piso tátil, rotas de fuga e sinalizações
direcionais para melhores deslocamentos no setor.

4 CONCLUSÃO
Percebe-se que o ambiente pesquisado possui algumas desconformidades e que precisam de intervenção
para melhoria e adequação às condições ergonômicas e assim, gerar um ambiente favorável para interação
dos usuários com as atividades desenvolvidas.
Os aspectos prioritários quanto às intervenções são a organização do espaço físico, a iluminação e
temperatura dos ambientes, pois, além de estarem em desacordo com as Normas regulamentadoras, têm
impactado diretamente de forma negativa no desempenho das funções do setor. Assim, as recomendações
propostas são de fundamental importância para melhoria no funcionamento do almoxarifado analisado.

REFERÊNCIAS
[1] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050 – Acessibilidade a edificações,
mobiliário, espaços e equipamento urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
[2] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152 – Níveis de ruído para conforto
acústico. Rio de Janeiro, 1987. 4 p.
[3] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413 – iluminância de interiores. Rio de
Janeiro, 1992.13 p.
[4] BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. NR 17 – Ergonomia. Brasília: 2007.
[5] VILLAROUCO, Vilma. O ambiente está adequado? In: Anais do I Encontro Nacional de Ergonomia do
Ambiente Construído, II Seminário Brasileiro de Acessibilidade Integral. Recife, 2007.
[6] RHEINGANTZ, Paulo A.; AZEVEDO, Giselle A.; BRASILEIRO, Alice; ALCANTARA, Denise de; QUEIROZ, Mônica.
Observando a qualidade do lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: Proarq | FAU-UFRJ,
2009 [livro eletrônico].
[7] RHEINGANTZ P.; AZEVEDO, G. et al. Observando a qualidade do Lugar: procedimentos para a Avaliação Pós-
Ocupação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Pós-
Graduação em Arquitetura, 2009. Disponível em: www.fau.ufrj/prolugar. Acesso em: junho 2012.
[8] SANOFF, H. Methods of Architectural Programming. Stroudsburg: Dowden, Hutchinson & Ross Inc., 1977.
_____. Participatory Design: Theory and Technique. Raleigh: Henry Sanoff, 1990. _____. Visual Research Methods in
Design. Nova Iorque: Van Nostrand Reinhold, 1991.
[9] RHEINGANTZ, P. A.; AZEVEDO, G.; BRASILEIRO, A.; ALCANTARA, D.; QUEIROZ, M.. Observando a Qualidade
do Lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: FAU-UFRJ (Coleção PROARQ), 2009.
Disponível em: www.fau.ufrj.br/prolugar acesso em junho de 2010
[10] SANOFF, H. Creating Environments for Young Children. Mansfield, Ohio: BookMasters, 1995.
27
[11] SANOFF, Henry. School Building Assessment Methods. Washington: National Clearinghouse for Educational
Facilities, 2001. Disponível em http://www4.ncsu.edu/~sanoff/schooldesign/schoolassess.pdf acesso em set/2010.
SOMMER, Robert. Espaço Pessoal: As Bases Comportamentais de Projetos e Planejamentos. São Paulo, EPU, EDUSP,
1973
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 3
Avaliação do ambiente construído do centro cirúrgico
de um Hospital Universitário da cidade do Recife-PE
Francisco Amorim de Barros
Gabriella Maria de Brito Farias
Geane Rodrigues Chaves
Vilma Villarouco

Resumo: Este artigo é o resultado da Avaliação Ergonômica do Ambiente Construído


realizada no Centro Cirúrgico do Hospital das Clínicas da UFPE, com o objetivo de
identificar os atributos do ambiente, as adequações, não conformidades, bem como as
expectativas e impressões dos usuários. Para a realização do estudo foi utilizada como
ferramenta a Metodologia Ergonômica do Ambiente Construído. O trabalho nos
possibilitou uma visão ampla de todo o ambiente, visto que incluiu a percepção do
pesquisador sobre o ambiente físico e o funcionamento, associado à percepção que o
usuário do serviço faz deste, permitindo analisar, sob os vários aspectos, as variáveis
envolvidas sugerindo pontualmente as adequações necessárias.

Palavras-chave: Ergonomia, Ambiente Construído, Centro Cirúrgico

28
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1 INTRODUÇÃO
As mudanças no mercado de trabalho são frequentes, obrigando as instituições de diversos segmentos a se
adequarem sempre a um novo cenário. Diversos fatores interferem na realização diária das atividades e
incluem ferramentas tecnológicas, novas formas de hierarquia, entre outros. Tais mudanças também se
aplicam ao ambiente hospitalar.
Segundo Claval (2008), o ambiente hospitalar consiste no território no qual os profissionais da equipe
multiprofissional de saúde prestam assistência aos usuários do serviço. Estes usuários buscam ações de
prevenção, promoção e recuperação da saúde. Esse espaço é formado por fatores físicos, sociais e
humanos que se correlacionam no intuito de criar um local mais harmonioso, sustentável e saudável,
refletindo na ação do profissional que terá mais segurança e conforto no desempenho de suas atividades.
Tratando da conjugação das características citadas, na perspectiva de ajustar o ambiente ao bem estar dos
seres humanos que o habitam (em sentido genérico da palavra habitar, usar, ocupar, viver), a ergonomia
aplicada ao ambiente construído dispõe de ferramentas de avaliação, implantação, e correção dos
processos de interação humano-ambiente-atividade, com otimização do espaço edificado, adequando-o às
necessidades das atividades profissionais ali desempenhadas.
Segundo Villarouco (2008), o foco principal do trabalho é o usuário, para os quais, o ambiente deverá ser
ergonomicamente adequado para que interajam cotidianamente. Moraes & Mont’Alvão (2003)
desenvolveram a intervenção ergonomizadora, que cuida de entender e avaliar as situações de interação
entre o humano e outros elementos de um sistema, e que particularizando às relações homem-ambiente,
permite a taxonomia e classificação dos problemas relacionados ao ambiente construído, como também,
permite a compreensão do espaço de forma sistemática, seguindo as etapas de Apreciação, diagnose,
Projetação e Validação.
Outras metodologias que tratam de situações de intervenção da ergonomia podem ser adotadas no
entendimento, análises e proposições para o ambiente em que as atividades se desenvolvem, sendo a
MEAC (Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído) desenvolvida com seu foco completamente
voltado para o foco no ambiente das atividades.
Focado na interação homem-ambiente-atividade sob a égide da ergonomia, o objeto deste estudo foi o
Centro Cirúrgico do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, unidade de
suma importância para o funcionamento do Hospital, uma vez que o mesmo atende usuários de todo o
Estado de Pernambuco, com procedimentos de baixa, média e alta complexidade. Teve como objetivo
realizar uma análise ergonômica do ambiente construído verificando a influência do mesmo nas
atividades desenvolvidas dentro do Bloco Cirúrgico.

2 METODOLOGIA
Foi utilizada neste estudo a Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído – MEAC (VILLAROUCO,
2011). Esta metodologia leva em consideração a diversidade de variáveis concernentes ao ambiente
construído, que influenciam nos processos de trabalho e desenvolvimento de atividades. A MEAC é
subdividida em etapas que permitem avaliar o ambiente em toda sua diversidade, desde a consideração de
todas as variáveis físicas, do entendimento e percepção dos pesquisadores, quanto repousando o foco no
usuário. As etapas são Análise Global do Ambiente, Identificação da Configuração Ambiental, Avaliação do
Ambiente em Uso, Percepção Ambiental pelo Usuário, Diagnóstico Ergonômico do Ambiente e
Recomendações.
Na Análise Global do Ambiente é realizado um reconhecimento para entendimento do ambiente e das
atividades desenvolvidas no local. São realizadas visitas acompanhadas (walkthrough) e entrevistas com
usuários. Ela se encerra quando há um entendimento do sistema Ambiente – Homem – Atividade numa
perspectiva macro. Em seguida, inicia-se a Identificação da Configuração Ambiental. Nesta segunda etapa
são levantados dados referentes ao espaço físico e suas variáveis ambientais. Os dados são confrontados
com a legislação vigente para cada item analisado.
29
A terceira etapa, Avaliação do Ambiente em Uso, consiste em observar o ambiente enquanto atividades são
desempenhadas no local. Já a Percepção Ambiental do Usuário consiste na análise de entrevistas com os
usuários do serviço. Pode-se lançar mão de várias ferramentas para esta etapa, como por exemplo, a
Constelação de Atributos. Por fim, em posse de todos os dados coletados e analisados no decorrer do
estudo, é realizado o Diagnóstico Ergonômico do Ambiente e são dadas Recomendações no intuito de
propor mudanças para adequação às necessidades dos usuários.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

2.1 ANÁLISE GLOBAL DO AMBIENTE


O Hospital das Clínicas de Pernambuco é um Hospital quaternário de referência em tratamentos
avançados e cirurgias nas diversas especialidades. Seu Centro Cirúrgico atende os pacientes internados,
pacientes provenientes do ambulatório e pacientes referenciados de outras instituições de saúde. O
mesmo funciona ininterruptamente, todos os dias da semana. O corpo de profissionais é diversificado,
sendo parte professores, servidores, residentes multiprofissionais, estudantes e estagiários.
A escolha do local de estudo se deu por proporcionar o uso da MEAC em um ambiente no qual se
encontram vários postos de trabalho. A coleta dos dados desta fase foi realizada no mês de Julho de 2016.
Foram realizadas duas visitas nas quais percorremos todo o bloco cirúrgico acompanhados da enfermeira
supervisora do setor (walkthrough). Foram feitos observações, registros e fotografias do ambiente. Assim,
pôde-se ter conhecimento do ambiente e as tarefas ali desempenhadas.
O bloco cirúrgico contempla vestiárias masculina e feminina, as mesmas estão com mobiliário sucateado e
insuficiente e estrutura física deteriorada; sala de materiais estéreis, expurgo, 10 salas de cirurgia, sala de
repouso para a equipe, dormitórios masculino e feminino, sala para armazenamento de materiais
anatomopatológicos, depósito de material de limpeza, sala da chefia do bloco cirúrgico, SRPA, copa,
farmácia do bloco cirúrgico, posto de enfermagem, 3 pequenas salas para armazenamento de
equipamentos cirúrgicos, ante sala para espera de pacientes que realizarão cirurgia.
O ambiente no geral é agradável, climatizado, bem iluminado e limpo. As cirurgias acontecem,
principalmente, no período da manhã e no período da tarde. À noite são realizadas cirurgias de urgência. O
número médio é de 20 cirurgias realizadas por dia, sendo elas de pequeno, médio e grande porte. As
equipes cirúrgicas são compostas, em média, por 6 a 8 profissionais. É importante salientar que, por se
tratar de um Hospital Escola, as salas de cirurgia encontram-se sempre com um grande quantitativo de
pessoas.
Após a cirurgia, os pacientes são encaminhados para a Sala de Recuperação Pós Anestésica (SRPA) onde
ficam em observação e onde são prestados os cuidados imediatos depois do procedimento cirúrgico. Após
terem alta da SRPA, o paciente é encaminhado para o leito na unidade de internação do Hospital.
Por se tratar de um ambiente extenso onde são desempenhadas várias atividades, foram elencados dois
postos de trabalho principais para serem estudados nas próximas etapas: Sala de Cirurgia e Sala de
Recuperação Pós-Anestésica.

2.2 IDENTIFICAÇÃO DA CONFIGURAÇÃO AMBIENTAL


Dando sequência à avaliação ergonômica do ambiente, nesta fase, foram identificadas todas as
configurações físico-ambientais da Sala de Cirurgia e da SRPA. Identificaram-se, mais profundamente,
aspectos relacionados às tarefas desenvolvidas dentro da sala de cirurgia e na Sala de Recuperação Pós
Anestésica (SRPA). Foram avaliados, também, os equipamentos, materiais e tecnologias disponíveis nestas
unidades de observação.
Foi obtida a planta baixa do Centro Cirúrgico através do setor de infra-estrutura do hospital, no qual
sinalizamos os dois postos de trabalho a serem estudados e, consequentemente, os pontos de medição das
variáveis ambientais (Figura 1).

Figura 1 – Planta baixa do Centro Cirúrgico

30

Fonte: Unidade de Infraestrutura do HC-UFPE


Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

A entrada e saída da sala de cirurgia são realizadas por uma única porta. Esta porta tem dupla abertura,
possuem visores e as maçanetas são do tipo alavanca e a sala de cirurgia em questão tem 31,36 m²
contendo uma mesa cirúrgica, assim como determina a RDC 50 (ANVISA, 2002). O fluxo de profissionais
dentro da sala cirúrgica é dinâmico.
A entrada e saída da SRPA são realizadas por uma única porta. Esta porta tem dupla abertura, possui visor,
tem largura total de 1,40m, conforme RDC 50 (ANVISA, 2002). Em desacordo com esta RDC, a maçaneta
desta porta não é do tipo alavanca. O fluxo de pessoas dentro da SRPA é dinâmico e a sala comporta bem o
quantitativo de profissionais durante o período que o paciente permanece em observação. A RDC 50
(ANVISA, 2002) preconiza que a SRPA tenha o número de camas igual ao número de salas cirúrgicas + 1.
Como existem 10 salas cirúrgicas, deveria haver 11 camas na SRPA, mas só existem 7. Tal carência aponta
para a redução do número de cirurgias realizado, promovendo acréscimo no tempo de espera dos
pacientes por uma intervenção cirúrgica.
A sala cirúrgica e a SRPA encontram-se com pintura branca e piso verde claro intactos. O piso é feito com
material resistente à lavagem e ao uso de desinfetantes e as paredes também são resistentes à lavagem,
assim como determina a legislação (BRASIL, 1994) e a junção entre rodapé e piso é arredondada de tal
forma que permite a correta limpeza do ambiente.

2.3 AVALIAÇÃO DO CONFORTO LUMÍNICO


Para a sala de cirurgia, consideramos dois pontos de medição que são a mesa de cirurgia e a mesa auxiliar.
Segundo a NBR 5413 (ABNT, 1992), a iluminância deve ser medida no campo de trabalho e a iluminância
no restante do ambiente não deve ser inferior a 1/10 da adotada para o campo de trabalho, mesmo que
haja recomendação para valor menor. Esta mesma NBR classifica o procedimento cirúrgico como tarefa
visual muito especial, designando-a como CLASSE C, a qual deve haver iluminação adicional.
Consideramos o campo de trabalho como sendo a mesa de cirurgia e o restante do ambiente, mesa
auxiliar.
Já referente à Sala de Recuperação Pós-Anestésica, o trabalho desempenhado é dinâmico, o funcionário
está em constante movimento, assim, consideramos dois pontos de medição sendo eles o posto de
enfermagem da SRPA e o leito do paciente. Desta forma, segundo a NBR 5413 (ABNT, 1992) por ser um
setor que não necessita de iluminação especial, mas onde se realizam tarefas com requisitos visuais
normais a especiais, esta tarefa visual está na CLASSE B.

Tabela 1- Avaliação da luminosidade da sala de cirurgia e da SRPA

A medição da iluminância dos ambientes foi realizada com o aparelho Digital Lux Meter Minipa® MLM-
1011.
Em todos os ambientes, os níveis de lux encontrados foram superiores ao que a legislação recomenda
(tabela 1)

31
2.4 AVALIAÇÃO DO CONFORTO ACÚSTICO
Os índices de condições de conforto acústico dentro da Sala de Cirurgia e da SRPA devem variar entre 35 –
45 dB(A), conforme NBR 10152 (ABNT, 2000).
A medição foi realizada visando verificar a adequação dos índices encontrados às normas que definem os
padrões a ser adotados nas áreas específicas avaliadas. Nas medições obtivemos os dados a seguir:
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Tabela 2- Avaliação dos níveis de ruído da sala de cirurgia e da SRPA

A medição do ruído nos ambientes foi realizada com o aparelho Decilíbetro Digital Minipa® MSL-1325.
Em ambas as salas, detectou-se que o ruído estava acima do recomendado pela NBR 10152 o que, a longo
prazo, pode causar danos à audição dos profissionais que ali desempenham suas atividades.

2.5 AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO


Por ser considerada uma área onde existem fortes evidências de risco de ocorrência de agravos à saúde
relacionados à qualidade do ar, de seus ocupantes ou de pacientes que utilizarão produtos manipulados
nesta área, a temperatura do ambiente em uso deve estar entre 18°C e 22°C, conforme NBR 7256 (2005).
Para a SRPA não há temperatura pré-definida, mas por ser um ambiente climatizado e estar dentro de um
Centro Hospitalar, a temperatura deve variar entre 21°C e 24°C, como determina a ANVISA (2003).
Após as medições, os seguintes dados foram encontrados:

Tabela 3- Avaliação da temperatura da sala de cirurgia e na SRPA

A medição da temepratura nos ambientes foi realizada com o aparelho Termo Anemômetro Minipa® MDA
II.
Na sala cirúrgica, as temperaturas encontradas estiveram um pouco acima da recomendada o que significa
um risco à saúde do paciente uma vez que temperaturas elevadas facilitam a proliferação de micro-
organismos e aumentam o risco de infecção hospitalar. Já na SRPA, as temperaturas encontradas estão
dentro do que é recomendado pela legislação.

2.6 AVALIAÇÃO DO AMBIENTE EM USO


Esta etapa preconiza o entendimento do funcionamento do ambiente. Devem ser realizadas observações
longas e cuidadosas, a fim de identificar as movimentações, fluxos, as interações dos usuários com seus
postos de trabalho, as posturas adotadas na realização das atividades. Verifica-se na realidade o quanto 32
facilitador ou dificultador o ambiente se apresenta ao desenvolvimento do trabalho que abriga.
Neste momento realizamos também entrevistas com os usuários do ambiente no intuito de gerar os itens
de observação mais comumente citados, configuração do desenho manual dos fluxos e da circulação das
pessoas por todos os espaços pesquisados, medidas dos ambientes, mobiliário e equipamentos utilizados,
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

como também medições com finalidades antropométricas para verificar a viabilidade do ambiente e a
existência de espaços de apoio para funcionários (copa, repouso, sala de estar).

Figura 2- Fluxograma do centro cirúrgico

Este fluxograma apresenta-se de forma bastante simples, permitindo fácil visualização dos fluxos de
circulação dos usuários e pacientes dentro da unidade estudada, bem como permitindo uma definição
completa dos possíveis caminhos e destinos dos mesmos.

Figura 3 - Layout da sala de cirurgia

O layout desta sala permite identificar que a circulação de pessoas torna-se dificultada não
necessariamente pelo espaço físico, mas pelo elevado número de usuários. A sala, embora ampla, quando
em uso, nos mostra que pela finalidade, deveria estar melhor disposta quanto ao mobiliário, bem como
maior restrição de usuários circulantes. Os pontos críticos observados são o local do anestesista e os
técnicos de enfermagem quando na sua atuação de registrar as atividades, circulantes de sala, o segundo
cirurgião e instrumentadores. Um dos problemas de maior importância ergonômica deve-se à falta de
espaço para colocação de cadeiras, tendo em vista que muitas cirurgias acontecem num largo período de
tempo, causando desconforto aos profissionais e levando á cansaço e exaustão.

33
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 4 - Layout da SRPA

No tocante à sala de recuperação, observa-se amplitude do espaço, bem como variação de possibilidades
de acomodação do mobiliário. Os espaços entre os leitos, embora apareçam como reduzidos, podem ser
melhorados de acordo com a necessidade de movimentação dos pacientes, visto que os leitos são móveis.
O ponto de maior não conformidade foi o posto de enfermagem, o qual além de mal estruturado, possui
pouco espaço e falta de cadeiras para os profissionais e a existência de um único birô para registros, bem
como uma única pia para lavagem das mãos.

2.7 PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS


Nesta etapa valorizou-se a percepção que os usuários têm do seu ambiente, bem como sua inter-relação
com o mesmo, incluindo os aspectos comportamentais. Para tal análise foi adotada a metodologia da
constelação de atributos, ferramenta adotada na psicologia ambiental, idealizada por Moles em 1968, a
qual fornece uma representação gráfica a partir das respostas dos usuários acerca da percepção do
ambiente. A partir de então estas respostas são categorizadas em quadros de acordo com as respostas
mais expressivas de segundo grau de importância das respostas.
Foram realizadas 22 entrevistas com todos os profissionais que estavam de plantão na unidade e que
aceitaram participar da pesquisa. Para cada uma das perguntas era solicitado uma lista de cinco respostas
(adaptação dos pesquisadores) que envolviam a percepção dos usuários acerca do ambiente. A primeira
pergunta se referia à ideia de ambiente ideal formada mentalmente pelo entrevistado, a saber: “Quando
você pensa em um Centro Cirúrgico de uma maneira geral quais ideias ou imagens lhe vem à mente?”. A
segunda pergunta, dizia respeito ao ambiente real: “Quando você pensa no Centro Cirúrgico deste hospital
no qual você trabalha, quais ideias ou imagens lhe vem à mente?”. Os dados obtidos foram categorizados
utilizando as formulas para análise da constelação de atributos. Para cada agrupamento de respostas foi
aplicada uma equação matemática determinando a distância deste atributo em relação ao núcleo (Figura 5
e 6). Quanto mais próximo do núcleo da constelação maior importância teria para os entrevistados, ou
seja, maior número de respostas correspondentes.

34
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 5- Constelação de atributos referente ao ambiente IDEAL

CONSTELAÇÃO DE ATRIBUTOS - AMBIENTE IDEAL

Rotinas
1 Administrativos
2 Resolutividade
Instalações físicas
2 Material suficiente
Ambiente /conforto
3 Organização
IDEAL
3 Humanização Materiais/equipamentos

4 Coleguismo

4 Limpeza

Prioridade 8 5 Comprometimento

Silencioso/Calmo 7 5 Estrutura adequada


Iluminação adequada 7 5 Bem equipado

Chefia colaborativa 7
Trabalho adequado 7 6 Confortável
Segurança 7

Importante salientar na avaliação da constelação de atributos para o ambiente ideal que os fatores
administrativos tiveram bastante expressão nas respostas dos usuários, estando as rotinas de serviço e
resolutividade como primeiro e segundo pontos, ou seja, com maior número de respostas entre as ideias
ou imagens de um centro cirúrgico ideal. O fornecimento e existência de matérias de trabalho aparecem ao
lado da resolutividade como segundo ponto mais citado. Merece destaque também aspectos relacionados
à organização, humanização e coleguismo, como também limpeza. Estes fatores de maior expressão
apontam para uma grande importância dada aos atributos relativos aos fatores organizacionais, os quais
estão diretamente ligados à qualidade do trabalho prestado e satisfação dos profissionais.

Figura 6 - Constelação de atributos referente ao ambiente REAL

10 CONSTELAÇÃO DE ATRIBUTOS - AMBIENTE REAL

Falta/pouc os de materiais
Ausência de critérios 1 Administrativos
Para pr ioridades Instalações
2
precárias/ ruins
Inst alações f ísicas

Chefia r ígida/ Ambiente/ conforto


REAL 3 cobranças
Equipamentos Mat eriais/ equipamentos
4
quebrados
4 Ineficiência
Suspensão/atrasos
5 De cirur gias
6 Muito trabalho/insalubridade

Descompromisso 7 Limpeza boa

7 Pouca or ganização
9 7 Rotinas desencontradas/falhas

9 Limpeza r egular 7 Compromisso/Humanização


7 Necessidade de mais funcionários
8 Funcionários Competentes 7 Bur ocr ático
35

Na avaliação do mapa da constelação de atributos para o ambiente real observa-se que a falta de materais
para trabalhar aparece como item de maior citação pelos usuários entrevistados, merecendo atenção
especial pela direção da unidade seguido pelas instalações precárias/ ruins. Estes fatores são de relevante
importância não apenas para avaliação da satisfação dos usuários, bem como das instalações físicas. Em
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

relação aos fatores organizacionais, estes aparecem em grade número de citações, principalmente quanto
à intransigência da chefia e outros fatores de menor citação, mas que somados são de grande relevância.
Fatores como estes deverão ser repassados á direção desta unidade no sentido de otimizar o trabalho
realizado e melhoria da satisfação dos usuários que fazem parte desta unidade.
2.8 DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO DO AMBIENTE
Representam os resultados finais de tudo que foi pesquisado no Centro Cirúrgico mediante a análise das
informações coletadas. Esta etapa faz um consolidado de informações incluindo todas as percepções e
avaliações mensuradas pelo examinador desde a primeira etapa. Ênfase também foi dada às percepções
dos examinadores e às avaliações relacionadas à usabilidade do ambiente, bem como sua inter-relação
com as percepções feitas pelos usuários.

2.9 RESULTADOS ENCONTRADOS


Percebemos através de toda análise do ambiente que o centro cirúrgico estudado atende de forma parcial
às necessidades que se propõe, dada as questões próprias do serviço e fatores diretamente
organizacionais, tais como fluxograma de atendimento e escolha dos pacientes atendidos pela instituição.
Por sua dimensão e número de salas teria um potencial para uma maior produtividade de serviços se
fossem feitos os ajustes necessários.
As dimensões do centro são compatíveis para a finalidade, tanto quanto ao número de salas, como pelos
outros espaços de apoio, tais como corredores, sala de arsenal de material cirúrgico, farmácia, expurgo e
repouso. As salas de cirurgias foram consideradas bem estruturadas fisicamente e respeitando quase
sempre ao preconizado para as variáveis ambientais e de conforto, necessitando apenas de modernização
e revisão de mobiliários existentes bem como a aquisição de equipamentos novos. Ainda em relação ao
conforto do ambiente, percebe-se durante as cirurgias, pelo alto número de pessoas em cada sala, elevam-
se os ruídos e temperatura.
A planta física apresenta uma boa disposição dos espaços, permitindo uma boa circulação de pessoas,
tanto nas salas de cirurgia, sala de recuperação pós-anestésica e corredores, sejam usuários ou pacientes.
Estes dados foram confirmados nas entrevistas e aferições realizadas, corroborando com as normas
preconizadas conforme visto anteriormente.
O layout apresenta alguns pontos críticos, visto que por se tratar de um hospital escola, a circulação de
pessoas é maior que o normal para um centro cirúrgico, necessitando de mais espaços de observação ou
redução do número de pessoas que transitam durante os atos cirúrgicos.
Os usuários relatam alguns problemas relacionados à iluminação, sendo que alguns consideraram como
boa e outros acham que necessita de melhorias. Para esta variável é importante destacar que a iluminação
das salas de cirurgia obedece à parâmetros mais baixos de iluminação visto a necessidade de concentração
luminosa no foco cirúrgico. A alta temperatura é um fator de destaque por alguns dos entrevistados, onde
o fator complicador é o numero elevado de pessoas circulando nos espaços.
Os dois postos de trabalho avaliados foram identificados pela equipe como razoáveis para a finalidade
proposta. Em relação ao posto “sala de cirurgia”, por ter alteração de mobilidade de acordo com o tipo de
cirurgia, não apresenta muitas possibilidades de mudança, visto que se modifica em relação ao tipo de
cirurgia e consequentemente às variáveis antropométricas do cirurgião quer seja com elevação ou
rebaixamento da mesa cirúrgica ou modificação do mobiliário em uso. Em relação à sala de recuperação, o
posto necessita de melhor adequação, tais como armários e prateleiras para guarda de insumos, a
aquisição de cadeiras melhores, ampliação da mesa de registros e colocação de pias adequadas para
lavagem das mãos. Os materiais utilizados nos acabamentos destas duas unidades atendem à normas
específicas, permitindo boa limpeza e evitando maiores riscos de infecção.

2.10 PONTOS FORTES APONTADOS PELOS USUÁRIOS


36
Mesmo encontrando várias dificuldades em relação ao ambiente e tudo que o cerca, boa parte dos
entrevistados relataram pontos de destaque positivo no ambiente real, como por exemplo, o compromisso
e humanização com os pacientes (05 pessoas) e competência dos profissionais (04 pessoas). Outro item
bem comentado foi a limpeza, sendo que 05 pessoas relataram como boa e 03 como regular.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

2.11 Pontos fracos apontados pelos usuários - itens de melhoria


Merecem destaque os relatos de falta de material, apontado por 13 dos 22 entrevistados, bem como os
aspectos relativos às instalações físicas, sendo consideradas ruins ou precárias por 11 pessoas (50%).
Outro item de verificação que merece ênfase é a relação com a chefia, sendo esta considerada
intransigente, rígida ou pouco flexível (10 pessoas). Importante também destacar fatores relativos aos
equipamentos disponíveis, considerados sucateados, deficientes e defasados, bem como a ineficiência do
serviço, confirmada pela excessiva suspensão e atrasos nas cirurgias.

3 CONCLUSÃO
O trabalho realizado dentro deste centro cirúrgico aponta a ergonomia como importante ferramenta para
identificação de problemas e ajustes necessários relacionados ao ambiente de trabalho. O uso da MEAC
como instrumento de avaliação do ambiente físico possibilitou uma visão ampla de todo o ambiente, visto
que incluiu toda a percepção do observador sobre o ambiente físico, o funcionamento e usabilidade,
associado à percepção que o usuário do serviço faz deste.
Diante desta análise, fazem-se necessárias recomendações para a melhoria dos pontos críticos
encontrados, com ênfase revelada nos fatores organizacionais, de relacionamento interpessoal e da falta
de materiais e sucateamento dos equipamentos.
Por se tratar de uma unidade destinada ao tratamento e cura de pessoas doentes, estes fatores menos
positivos merecem atenção especial com vistas à melhoria do atendimento aos clientes e satisfação
profissional de todos os usuários que compõem o quadro.

REFERÊNCIAS
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de Janeiro, 1987.
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01ed.Teresópolis - RJ: 2AB, 2011, v. Único, p. 25-46.

37
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 4
Idosos e a acessibilidade aos computadores desktop:
Mouse como dispositivo de entrada
Rosana Gonçales Oliveira Rocha
João Roberto Gomes de Faria
Galdenoro Botura Junior
Ekaterina Emmanuil Inglesis Barcellos

Resumo: O mundo está envelhecendo. Assim, estudos que venham contribuir para o
desenvolvimento de produtos e serviços que possam integrar os usuários idosos ao meio
tecnológico da melhor forma possível, garantindo a eficiência das questões de
usabilidade e respeitando as limitações de declínios motor e cognitivo inerentes ao
avanço da idade, tornam-se relevantes. Este artigo traz à luz a questão das barreiras que
se apresentam na inclusão digital de idosos considerando como ferramenta os
computadores desktop (PCs). Este artigo discute o uso de computadores para suprir a
necessidade de interação dos idosos, concentrando, especificamente, nos computadores
pessoais (PCs) modelo de mesa e mostra, especificamente, o mouse como um empecilho
neste processo por não estar adaptado à necessidade desse público.

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, temos visto uma transição do panorama populacional – os países que antes eram de
jovens têm acompanhado o envelhecimento da sua população e o crescimento no número de idosos. Por
outro lado, também se tem acompanhado o desenvolvimento acelerado da tecnologia, que traz
funcionalidades e opções de lazer e entretenimento para idosos cada vez mais sozinhos. A maior
expectativa de vida que ganharam com a melhor qualidade de vida e o avanço da medicina também lhes
trouxe a solidão – veem os filhos construírem suas vidas, mudarem-se para casas muitas vezes distantes.
Surgiram assim novas necessidades: a de ser autossuficiente e se cuidar sem ajuda enquanto as funções
permitirem independência; a de criarem proximidade, mesmo que virtual, com parentes distantes; a de
obter informações em um mundo em constante mudança; a de se comunicar e interagir com esse mundo.
Eles também estão acessando serviços online – como serviços bancários, compras ou gestão de saúde – e
atividades de lazer, incluindo recreação e comunicação por meio de mensagens instantâneas e redes
sociais (Vuori & Holmlund-Rytkönen, 2005). Nesse processo, surgem barreiras. O mundo ainda não está
totalmente adaptado e preparado para esse novo universo de pessoas.
A evolução da tecnologia trouxe as telas touchscreen, que têm se mostrado como alternativa de interface
de entrada de dados relativamente simples para esse público: substituem-se três dispositivos (tela, mouse
e teclado) por apenas um – a interface touchscreen. Com o toque, atividade inerente e natural ao ser
humano, suave ou pressionado, temos movimento, seleção, apontamento, digitação e todas as funções que
mouse e teclado, separadamente, nos oferecem. Isso pode ser uma simplificação desejável para usuários
que têm funções cognitivas e motoras que estão sofrendo os declínios pertinentes à idade (Rocha, 2013).
No entanto, temos um cenário que se contrapõe a toda essa tecnologia. Os PCs de mesa continuam a fazer
parte do cotidiano famílias e instituições que atendem idosos. Seja pelo fator cultural de que as pessoas
estão acostumadas a esses equipamentos e também porque são resistentes a mudanças, seja por questão
do investimento necessário para fazer a troca de equipamentos e vários outros fatores que se tornam
empecilhos ao acesso aos equipamentos digitais, os idosos ainda têm a necessidade de se incluir
digitalmente por meio dos computadores pessoais. Este artigo discute o uso de computadores para suprir
a necessidade de interação dos idosos, concentrando, especificamente, nos computadores pessoais (PCs)
modelo de mesa.

2 PCS X TABLET DIGITAL


Quando se fala em PCs (Personal Computers), especialmente as versões desktop, há uma tendência à
profecia de que esse tipo de equipamento está em extinção, sendo substituído pelos tablets e TVs em um
curto espaço de tempo.
No entanto, os resultados da 27ª Pesquisa Anual do Uso de TI (Meirelles, 2016), da Fundação Getúlio
Vargas, aponta que, embora em 2015 tenha havido uma queda de 30% nas vendas de computadores no
Brasil, até o final deste ano serão 166 milhões de computadores (desktop, notebook e tablet) em uso, ou
seja, quatro computadores para cada cinco habitantes, o que significará um aumento de 7% nas vendas.
Em três anos, poderemos ter um computador por habitante, o que significa um total de 210 milhões de
equipamentos, mantendo o Brasil em uma colocação acima da média mundial por habitante em
computador. Os resultados estão baseados em dados colhidos no início de 2016 com a participação de 2,5
mil empreendimentos de médio e de grande porte, que correspondem a 66% das 500 maiores empresas
do país e também indicadores do uso doméstico.

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Gráfico 1. Base ativa de computadores. Total de computadores ativos no Brasil (milhões de unidades).
Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas, 2016.

Fonte: http://eaesp.fgvsp.br/ensinoeconhecimento/centros/cia/pesquisa

Em relação aos números globais de venda de PCs, uma pesquisa (Statista, 2016) mostra que em 2016
serão distribuídos 127 milhões de PCs em todo o mundo e a projeção é que em 2019 esse número seja de
121 milhões. O mesmo estudo aponta que um pico de distribuição de tablets deve ser em 2017, com 405,8
milhões.

Gráfico 2. Número de computadores Desktop-Pcs, Laptops e Tablets embarcados de 2010 a 2019


(projeção), no mundo. Statista, 2016. Fonte: https://www.statista.com/statistics/272595/ global-
shipments-forecast-for-tablets-laptops-and-desktop-pcs/

3 DISPOSITIVOS DE ENTRADA DE DADOS


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Quando consideramos isoladamente os computadores Desktop-PC (computadores de mesa) temos: a CPU
(Central Processing Unit), que é onde todas as operações do computador são processadas o monitor, o
teclado e o mouse, estes dois últimos considerados dispositivos de entrada de dados, ou seja, é por meio
deles que vamos manipular o computador para o uso que desejarmos.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

O mouse, particularmente, apresenta um grande número de variedades que buscam atender às


necessidades do usuário em termos de velocidade, usabilidade, precisão e ergonomia, principalmente no
que tange ao uso contínuo que pode levar a lesões, como a do túnel do carpo, amplamente demonstradas
em estudos acadêmicos (Fagarasanu M, Kumar S. , 2003; Keir PJ, Bach JM, Rempel D., 1999; Thomsen JF,
Gerr F, Atroshi I., 2008; Yucel A et all, 2005; Mikkelsen S. et all, 2007).
No caso específico de idosos, temos que considerar prioritariamente a interferência dos declínios motores
e cognitivos decorrentes da idade.

3.1 MOUSE
O mouse é o dispositivo de entrada mais comumente utilizado para computadores de mesa (desktop)
(Atkinson et al., 2004; Sandfeld, Jensen, 2005). Nessa mesma proporção, ele é também o mais crítico e
responsável por uma série de lesões.
No caso dos idosos, controlar o mouse, arrastando em sincronia com o dispositivo apontador na tela, clicar
com um botão quando se tem dois a disposição e fazer movimentos finos é particularmente difícil em
função do declínio no controle e coordenação motora.
Um estudo de Smith, Sharit e Czaja (1999) relatou que os idosos têm dificuldades de executar tarefas, e as
diferenças de desempenho em relação aos jovens foram percebidas em tarefas mais complexas, como o
clique e o duplo clique. Ranganathan et al. (2001) relataram a dificuldade da coordenação mão–olho,
também observada em estudo em um projeto de extensão universitária na Unesp, Bauru/SP, por Rocha et
al. (2012).
Em uma observação livre em um projeto de inclusão digital de idosos da Vila Vicentina da Bauru, SP, essa
dificuldade pode ser constatada, somando-se, ainda, as alterações de formato das mãos acometidas por
inchaço, artrite e outras enfermidades que tornam o simples ato de fechar a mão ou controlar um clique
uma tarefa extremamente difícil e de controle complicado.
Em resumo, os estudos mostram que o controle do mouse ao arrastá-lo, o clique e duplo clique, o
apontamento e o posicionamento fino são as maiores dificuldades encontradas pelos idosos no manuseio
do dispositivo.

3.1.1 MODELOS DE MOUSE


Embora os fabricantes de mouse estejam tentando criar um mouse ergonômico ideal, que possa ser mais
eficiente quantos às questões de usabilidade e, ao mesmo tempo, possa evitar lesões por uso repetitivo do
dispositivo (LER), até o momento não encontramos no mercado um modelo que tenha se preocupado com
as questões relativas às deficiências dos idosos no que diz respeito ao seu uso. Embora com formatos
variados, as funções continuam sendo basicamente a mesmas para todos os modelos, que oferecem o
arrastar para mudar a posição do cursor na tela, dois tipos de botão de clique para executar diferentes
comandos e dispositivo de rolagem (que pode ser apenas o arrastar os dedos ou rolar uma roldana).
Podemos afirmar que todos os usuários necessitam de todas as funções que os modelos de mouse
oferecem e que, assim sendo, podem dificultar o aprendizado para o controle deste?

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Tabela 1. Modelos de mouse presentes no mercado, agrupados segundo tipologia.


Convencionais Minimalistas

Games Trackball

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Tabela 1. Modelos de mouse presentes no mercado, agrupados segundo tipologia (Continuação)


Vertical

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

3.1.2 MOUSE E IDOSOS


Podemos encontrar na literatura estudos que mostram a dificuldade dos idosos nos movimentos com o
mouse (Teeken et al., 1996), o maior número de submovimentos que estes realizam nas atividades com o
dispositivo (Morgan et al., 1994; Pohl et al., 1996), as diferenças entre idade e desempenho, ou seja, a
maior dificuldade dos idosos na realização de tarefas se comparados a adultos mais jovens (Riviere e
Thakor, 1996; Walker, Philbin, e Fisk, 1997).
Alguns estudos mostram que o desempenho na utilização do computador desktop entre adultos mais
velhos varia muito (Czaja et al., 2001; Lindberg, Nasanen, e Muller, 2006), e a idade cronológica não deve
ser um fator primordialmente considerado. Encontramos ainda que os efeitos da idade são mediados por
fatores como a experiência e capacidade cognitiva (Czaja et al., 2001) e que, segundo Sharit, Hernandez,
Czaja, e Pirolli (2008), após a contabilização de conhecimento e habilidade cognitiva a influência da idade
é insignificante.
Com o objetivo de reunir informações sobre as características da utilização do mouse por usuários idosos,
tais como velocidade de processamento, visão e espaço e coordenação motora, Smith, Sharit e Czaja
(1999) realizaram um estudo com 60 adultos, sendo 20 deles na faixa etária de 20-39 anos (M = 31,9, DP =
4,51, 4 mulheres e 16 homens), 20 de meia-idade (40-59 anos, M = 49,9, DP = 6,59, 9 mulheres e 11
homens) e 20 mais velhos (60-75 anos, M = 69,0, DP = 4.90, 9 mulheres e 11 homens). Os resultados
apontam que os declínios do controle motor, relacionados à idade, de fato prejudicam o desempenho dos
idosos: o controle do cursor foi mais difícil para idosos; o duplo-clique foi a ação mais difícil para este
público; os participantes mais velhos cometeram mais erros de deslizamento, relacionados com a
incapacidade de clicar no alvo, para tarefas de clique e duplo clique; um outro problema encontrado foi a
incapacidade dos idosos de manter a posição do mouse na tela e simultaneamente pressionar o botão do
mouse com rapidez. Segundo os autores, os resultados foram consistentes com os relatos de que idosos
têm dificuldade com desaceleração e processamento em circuito fechado (Seidler & Stelmach, 1995;
Teeken et al., 1996).
Considerando todas essas variáveis e seus impactos, podemos concluir que a experiência e idade
certamente têm fortes implicações sobre o desempenho no aprendizado da utilização de computador
desktop por idosos. Assim sendo, apesar do mercado apresentar uma grande variedade de mouse para
computador, inexiste um modelo que possa atender as necessidades específicas de usuários idosos,
considerando as muitas nuances das deficiências causadas pelo avanço da idade.

5 CONCLUSÕES
O mundo está envelhecendo. A longevidade e a autonomia das pessoas que se tornam idosas têm trazido
consigo o reflexo de uma sociedade cada vez mais avançada em termos de conhecimento e tecnologias,
tornando esse público cada vez mais passível de estudos que possam garantir qualidade de vida e
adequação do meio tecnológico às suas necessidades específicas.
Nesse contexto, entender as características e carências dessa população e desenvolver equipamentos e
dispositivos que possam integrá-lo com segurança e conforto a esse meio torna-se uma necessidade
premente. Os estudos ergonômicos e do perfil desse usuário são ferramentas que podem orientar
profissionais como desenvolvedores, engenheiros e designers para projetos com características eficientes
de usabilidade. Assim, estudos que venham colaborar tornam-se extremamente relevantes.

REFERÊNCIAS
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Journal of Industrial Ergonomics, 33, 571–579, 2004.
[2] CZAJA, S. J., SHARIT, J., OWNBY, R., ROTH, D. L., & NAIR, S. (2001). Examining age differences in performance
of a complex information search and retrieval task. Psychology and Aging, 16(4), 564–579.
[3] FAGARASANU, M., KUMAR, S. Carpal tunnel syndrome due to keyboarding and mouse tasks: a review. Int J 44
Ind Ergon 2003;31:119–36.
[4] KEIR, P. J., BACH, J. M., REMPEL, D. Effects of computer mouse design and task on carpal tunnel pressure.
Ergonomics 1999; 42:1350–60.
[5] LINDEBERG, T., NASANEN, R., & MULLER, K. (2006). How age affects the speed of perception of computer
icons. Displays, 27(4–5), 170–177.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

[6] MEIRELLES, Fernando S. 27ª Pesquisa Anual do Uso de TI, 2016. São Paulo.
http://eaesp.fgvsp.br/ensinoeconhecimento/centros/cia/pesquisa. Acesso em 8/8/2016.
[7] MIKKELSEN S., VILSTRUP I., LASSEN C. F., KRYGER A. I., THOMSEN J. F., ANDERSEN J.H. Validity of
questionnaire self-reports on computer, mouse and keyboard usage during a four-week period. Occup Environ Med
2007;64:541–7.
[8] MORGAN, M., PHILLIPS, J. G., BRADSHAW, J. L., MATTINGLEY, J. B., IANSEK, R., & BRADSHAW, J. A. (1994).
Age-related motor slowness: Simply strategic? Journal of Gerontology: Medical Sciences, 49(3), M133–M139.
[9] Número de computadores Desktop-Pcs, Laptops e Tablets embarcados de 2010 a 2019 (projeção), no
mundo. Statista. https://www.statista.com/statistics/272595/global- shipments-forecast-for-tablets-laptops-and-
desktop-pcs/. Acesso em 17/08/2016.
[10] RANGANATHAN R., SAWIN, E. R., TRENT, C., & HORVITZ, H. R.. Mutations in the Caenorhabditis elegans
serotonin reuptake transporter MOD-5 reveal serotonin- dependent and -independent activities of fluoxetine. J
Neurosci, 2001, 21, 5871-84.
[11] RIVIERE, C. N., & THAKOR, N. V. (1996). Effects of age and disability on tracking tasks with a computer
mouse: Accuracy and linearity. Journal of Rehabilitation Research and Development, 33(1), 6–15.
[12] ROCHA, R. G. O.; FARIA, J. R. G.; SALES, M. B. Tablet and Digital Inclusion of Elderly. Renote, 2014.
[13] SEIDLER, R. D. & STELMACH, G. E. Reduction in sensorimotor control with age. Quest, 47, 386-394.
[14] SHARIT, J., HERNANDEZ, M., CZAJA, S., & PIROLLI, P. (2008). Investigating the roles of knowledge and
cognitive abilities in older adult information seeking on the web. ACM Transactions on Human–Computer Interaction,
15(1) [Article 3].
[15] SMITH, M. W.; SHARIT, J.; CZAJA, S. J. Aging, motor control, and the performance of computer mouse tasks.
Human Factors, 41, 389–396, 1999.
[16] TEEKEN, J. C., ADAM, J. J., PASS, F. G. W. C., van BOXTEL, M. P. J., HOUX, P. J., & JOLLES, J. (1996). Effects of age
and gender on discrete and reciprocal aiming movements. Psychology and Aging, 11(2), 195–198.
[17] THOMSEN, J. F., GERR, F., ATROSHI, I. Carpal tunnel syndrome and the use of computer mouse and keyboard:
a systematic review. BMC Musculoskelet Disord 2008;9:134.
[18] VUORI, S., & HOLMLUND-RYTKÖNEN, M. (2005). 55+ people as internet users. Marketing Intelligence &
Planning, 23(1), 58–76.
[19] WALKER, N., PHILBIN, D.A., FISK A.D. Age-related differences in movement control: adjusting submovement
structure to optimize performance. Journals of Gerontology: Psychological Sciences, Washington, v.52B, n.1, p.40-52,
1997.
[20] YUCEL A., YAMAN M., ACAR M., HAKTANIR A., ALBAYRAK R., DEGIRMENCI B. Sonographic findings of median
nerve and prevalence of carpal tunnel syndrome in computer mouse users. Riv Neuroradiol 2005;18:212–20.

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 5
Prevalência de LER/DORT e fatores associados no
Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco –
DETRAN/PE
Vanessa Coêlho
Klaúgene Gaudêncio
Marluce Santos
Maria Goretti Fernandes

Resumo: As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares


Relacionadas ao Trabalho (DORT) representam uma grande preocupação dos
profissionais das áreas de saúde e segurança do trabalho. Este estudo objetivou
determinar a prevalência de LER/DORT nos servidores públicos do DETRAN/PE. Trata-
se de um estudo transversal, do qual participaram 82 servidores. Os dados foram
coletados por meio de uma entrevista com os funcionários. Além disso, realizou-se uma
avaliação ergonômica do posto de trabalho. A prevalência de sintomatologia
osteomuscular foi de 85,4%, estando associada as suas características laborais. Faz-se
necessários estudos com amostras maiores para avaliar as tendências aqui relatadas.

Palavras-chave: LER-DORT. Epidemiologia. Saúde do trabalhador.

Artigo apresentado no 1º Congresso Internacional de Ergonomia Aplicada, realizado na


cidade de Recife-PE, no período de 16 a 18 de novembro de 2016.

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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1 INTRODUÇÃO
As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(DORT) podem ser definidas como quadros clínicos do sistema musculoesquelético adquiridas pelo
trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho. Caracteriza-se pela ocorrência de sintomas
variados, simultâneos ou não, tais como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga, de aparecimento
insidioso, em geral, nos membros superiores (BRASIL, 2006).
A LER/DORT é um fenômeno multifatorial (JANS e BORDIN, 2005; JUNIOR, 2005) de origem psicológica,
biológica e social (FILHO e JUNIOR, 2004). Estes fatores são reconhecidos como: biomecânicos (referem-se
à força, postura, movimentos repetitivos, dentre outros); organizacionais (por exemplo, pausas
inexistentes, jornada de trabalho diária, realização de horas extras); psicossociais (percepção do
trabalhador em relação aos fatores organizacionais); ambientais (relacionados à temperatura) e
individuais (capacidade funcional, atividades extraprofissionais, enfermidades, por exemplo) (SIGNORI,
GUIMARÃES e SAMPEDRO, 2004).
Estas lesões atingem o trabalhador no auge da sua produtividade e experiência profissional (BARBOSA et.
al., 2007). Acomete, com maior frequência, trabalhadores jovens do sexo feminino na faixa etária entre 20
e 39 anos (COUTO, 1998). Diante disso, sua prevenção é de suma importância para saúde pública e privada
dos países, assim como para as empresas e seus empregados, pois as estatísticas levantadas pelo
Ministério da Saúde demonstram um grande prejuízo causado por estas afecções (BRASIL, 2001).
As LER/DORT são as principais responsáveis pelo afastamento do funcionário do ambiente de trabalho
(BARBOSA et. al., 2007), podendo ser consequentes da alta competitividade e das exigências impostas ao
trabalhador para conquistar seu espaço, associadas às tensões da vida moderna (JANS e BORDIN, 2005).
Nesse aspecto, o trabalho do servidor público, caracterizado, muitas vezes, por um excesso de burocracia,
transforma-se em uma atividade que requer resultados cada vez mais rápidos e objetivos,
comprometendo a qualidade de vida do trabalhador, tornando-o, muitas vezes, adoecido pelo sistema que
o circunda.
Dessa forma, a implantação de medidas ergonômicas aliadas aos programas de ginástica laboral são
ferramentas importantes para reversão do processo de adoecimento dos trabalhadores, melhorando e
mantendo sua saúde ocupacional. Por outro lado, o trabalho inadequado e a falta de ergonomia em uma
determinada empresa podem propiciar o desenvolvimento das LER/DORT, assim como de alterações
psicossociais atribuídas ao trabalho, por existir a relação com o uso excessivo das estruturas
osteomusculares em situações inadequadas (OLIVEIRA, 1998).
Neste contexto, este estudo objetivou determinar a prevalência de LER/DORT nos servidores públicos do
Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco – DETRAN/PE, verificando a região do corpo com
maior frequência de sintomas osteomusculares, correlacionando-a com a atividade laboral, e a existência
de associação entre as variáveis sociodemográficas, ocupacionais e de saúde com a presença de
sintomatologia osteomuscular, já que não há publicações referentes ao tema com a amostra escolhida.

2 CASUÍSTICA E MÉTODOS
A presente pesquisa trata-se de um estudo transversal do tipo descritivo, realizada nos Pontos de
Atendimento dos Shoppings Recife, Plaza e Tacaruna, assim como na Sede do Departamento Estadual de
Trânsito de Pernambuco DETRAN/PE nos meses de julho e agosto de 2010.
O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Câncer de
Pernambuco (CAAE 2482.0.000.447-10), seguindo os termos preconizados pelo Conselho Nacional de
Saúde estabelecido na resolução 196/96 que descreve as diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos. Os servidores públicos foram esclarecidos sobre a natureza,
objetivos e relevância do estudo e os que concordaram em participar assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Vale ressaltar que, durante toda a pesquisa, foram estritamente
observados os aspectos éticos. 47

A amostra foi composta por 82 servidores públicos de ambos os sexos, na faixa etária entre 21 e 60 anos.
Foram incluídos na pesquisa, os servidores que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
e exerciam a função de Assistente de Trânsito por no mínimo 12 (doze) meses, trabalhando diretamente
no atendimento ao público e utilizando o computador diariamente em suas atividades laborais. Excluíram-
se da pesquisa, os servidores públicos que estiveram fora da faixa de tempo e da função exigida, que não
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

faziam uso do computador em suas atividades laborais e que possuíam algum tipo de patologia postural
congênita.
Os dados foram coletados por meio de uma entrevista com os funcionários através do preenchimento da
Ficha de Identificação e do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), versão brasileira
traduzida e validada por Pinheiro, Tróccoli & Carvalho, do Nordic Musculoskeletal Questionnaire – NMQ
de Kourinka (1987), que foram esclarecidos e aplicados pelas autoras deste estudo. Além disso, realizou-
se uma avaliação ergonômica do posto de trabalho mediante o preenchimento do Checklist para análise
das condições do posto de trabalho ao computador de Couto.
Foram analisadas as variáveis sociodemográficas (sexo, faixa etária, escolaridade, estado civil),
ocupacionais (tempo de serviço, jornada de trabalho e se exercem outra profissão) e de saúde (tabagismo
e prática de atividades físicas), discutindo-os e correlacionando-os para verificar se existia associação
entre essas variáveis.
Para análise dos dados, utilizaram-se os Softwares SPSS 13.0 para Windows e o Microsoft Excel 2003, nos
quais foi calculada a frequência de LER/DORT. As relações entre as variáveis categóricas foram analisadas
pelo Teste de associação Qui-Quadrado e Exato de Fisher. Todos os testes foram aplicados com 95% de
confiança e seus resultados estão apresentados em forma de tabela com suas respectivas frequências
absoluta e relativa. O nível de significância adotado foi de 5% (p< 0,05).

3 RESULTADOS
A caracterização da amostra está descrita na Tabela 1. Entre os servidores públicos investigados, 68,3%
eram do sexo masculino (n=56) e 31,7%, do sexo feminino (n=26). A média de idade foi de 31,8 anos,
sendo que 47,6% dos servidores (n=39) se encontravam na faixa etária entre 20 e 30 anos. Quanto ao
estado civil verificou-se que 36,6% (n=30) eram casados; 58,5% (n=48), solteiros e 4,9% (n=4)
separados/divorciados ou viúvos.
A maior parte dos servidores entrevistados exercia a função de Assistente de Trânsito a cerca de 4 - 5 anos
(46,3%, n=38) e 92,7% (n=76) cumpria cerca de 6 horas de trabalho diárias. Em relação ao grau de
escolaridade, 46,3% (n=38) possuíam o ensino superior completo, 29,3% (n=24) o ensino superior
incompleto e 24,4% (n=20) o nível médio completo.
Quanto aos hábitos e atividades, 93,9% não fumavam e 45,1% realizavam atividades físicas três ou mais
vezes por semana, com, no mínimo, 30 minutos de duração. Menos de 10% dos servidores relataram
exercer outra atividade profissional.

Tabela 1 - Caracterização dos sujeitos do estudo, Recife (2010).


Sexo
Masculino Feminino
Variáveis p-valor
n(%) n(%)
Idade
20 |- 30 29 (51,7) 10 (38,5) 0,683 *
30 |- 40 21 (37,5) 12 (46,1)
40 |- 50 3 (5,4) 2 (7,7)
≥ 50 3 (5,4) 2 (7,7)
Tempo de Serviço
1 - 1,99 7 (12,5) 5 (19,2) 0,084 *
2 - 2,99 11 (19,6) 2 (7,7)
3 - 3,99 9 (16,1) 0 (0,0)
4 - 5,00 23 (41,1) 15 (57,7)
>5 6 (10,7) 4 (15,4)
Horas de Trabalho
6 horas 50 (89,3) 26 (100,0) 0,217 *
8 horas 5 (8,9) 0 (0,0) 48
> 8 horas 1 (1,8) 0 (0,0)
Tabagismo
Sim 3 (5,4) 2 (7,7) 0,650 *
Não 53 (94,6) 24 (92,3)
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Tabela 1 - Caracterização dos sujeitos do estudo, Recife (2010) (Continuação)


Sexo
Masculino Feminino
Variáveis p-valor
n(%) n(%)
Outra atividade Profissional
Sim 6 (10,7) 1 (3,8) 0,422 *
Não 50 (89,3) 25 (96,2)
Atividade Física
Sim 29 (51,8) 8 (30,8) 0,123 **
Não 27 (48,2) 18 (69,2)
Legenda: n = valor absoluto; % = porcentagem. (*) Teste Exato de Fisher (**) Teste de Qui-Quidrado.

De acordo com os resultados do QNSO, verificou-se que a prevalência de sintomatologia osteomuscular


(dor, desconforto ou dormência), independente da região corporal afetada, foi de 85,4% nos últimos doze
meses; 62,2% nos últimos sete dias, sendo que 34,1% já tiveram afastamento devido ao problema.

Tabela 2 - Prevalência de sintomas osteomusculares referidas pelos servidores públicos, por região
anatômica, nos últimos 12 meses, nos últimos 7 dias e se apresentou afastamento devido a essas
condições. Recife (2010).
Sintomas
12 meses precedentes 7 dias precedentes Afastamentos
Região Acometida
n (%) n (%) n (%)
Pescoço 36 (43,9) 17 (20,7) 9 (11,0)
Ombros 29 (35,4) 19 (23,2) 10 (12,2)
Cotovelos 9 (11,0) 6 (7,3) 1 (1,2)
Antebraço 15 (18,3) 8 (9,8) 7 (8,5)
Punhos/Mãos/Dedos 46 (56,1) 26 (31,7) 7 (8,5)
Região Dorsal 42 (51,2) 28 (34,1) 9 (11,0)
Região Lombar 38 (46,3) 23 (28,0) 14 (17,1)
Quadris ou Coxas 11 (13,4) 9 (11,0) 7 (8,5)
Joelhos 22 (26,8) 10 (12,2) 5 (6,1)
Tornozelos/Pés 21 (25,6) 16 (19,5) 4 (4,9)
Legenda: n = valor absoluto; % = porcentagem.

As principais regiões corporais referidas com presença de sintomas osteomusculares durante o último ano
foram a dos punhos/mãos/dedos (56,1%), dorsal (51,2%), lombar (46,3%) e pescoço (43,9%). Destacou-
se a presença de referências dos sintomas nos últimos sete dias, a região dorsal (34,1%),
punhos/mãos/dedos (31,7%), lombar (28%) e ombros (23,2%). O absenteísmo ao trabalho associado aos
sintomas foi mais frequente quando os mesmos acometiam a região lombar (17,1%), seguida dos ombros
(12,2%) e região dorsal e pescoço (ambas com 11%) (Tabela 2).

Tabela 3 - Associação de sintomas osteomusculares por região anatômica e sexo nos últimos 12 meses, nos
últimos 7 dias e se apresentou afastamento devido a essas condições. Recife (2010).
Sexo
Região Acometida Masculino Feminino
p-valor
n (%) n (%)
12 meses
Pescoço 19 (33,9) 17 (65,4) 0,015 **
Ombros 11 (19,6) 18 (69,2) < 0,001 **
Cotovelos 4 (7,1) 5 (19,2) 0,134 *
Antebraço 10 (17,9) 5 (19,2) 1,000 *
Punhos/Mãos/Dedos 28 (50,0) 18 (69,2) 0,163 ** 49
Região Dorsal 25 (44,6) 17 (65,4) 0,131 **
Região Lombar 22 (39,3) 16 (61,5) 0,100 **
Quadris ou Coxas 5 (8,9) 6 (23,1) 0,094 *
Joelhos 13 (23,2) 9 (34,6) 0,414 **
Tornozelos ou Pés 13 (23,2) 8 (30,8) 0,647 **
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Tabela 3 - Associação de sintomas osteomusculares por região anatômica e sexo nos últimos 12 meses, nos
últimos 7 dias e se apresentou afastamento devido a essas condições. Recife (2010) (Continuação)
Sexo
Região Acometida Masculino Feminino
p-valor
n (%) n (%)
7 Dias
Pescoço 9 (16,1) 8 (30,8) 0,217 **
Ombros 6 (10,7) 13 (50,0) < 0,001 **
Cotovelos 3 (5,4) 3 (11,5) 0,375 *
Antebraço 5 (8,9) 3 (11,5) 0,704 *
Punhos/Mãos/Dedos 18 (32,1) 8 (30,8) 1,000 **
Região Dorsal 17 (30,4) 11 (42,3) 0,417 **
Região Lombar 14 (25,0) 9 (34,6) 0,524 **
Quadris ou Coxas 5 (8,9) 4 (15,4) 0,455 *
Joelhos 6 (10,7) 4 (15,4) 0,718 *
Tornozelos ou Pés 12 (21,4) 4 (15,4) 0,731 **
Afastamentos
Pescoço 4 (7,1) 5 (19,2) 0,134 *
Ombros 4 (7,1) 6 (23,1) 0,066 *
Cotovelos 0 (0,0) 1 (3,8) 0,317 *
Antebraço 3 (5,4) 4 (15,4) 0,200 *
Punhos/Mãos/Dedos 3 (5,4) 4 (15,4) 0,200 *
Região Dorsal 5 (8,9) 4 (15,4) 0,455 *
Região Lombar 6 (10,7) 8 (30,8) 0,054 *
Quadris ou Coxas 5 (8,9) 2 (7,7) 1,000 *
Joelhos 4 (7,1) 1 (3,8) 1,000 *
Tornozelos ou Pés 4 (7,1) 0 (0,0) 0,302 *
Legenda: n = valor absoluto; % = porcentagem. (*) Teste Exato de Fisher (**) Teste de Qui-Quidrado
Em relação à associação entre sintomas osteomusculares e o sexo, observou-se uma maior frequência nas
mulheres (96,1% relataram algum tipo de sintoma). Conforme a Tabela 3, a região anatômica de maior
prevalência sintomatológica no sexo feminino, nos últimos doze meses, foram os punhos/mãos/dedos e os
ombros (ambas com 69,2%), a região dorsal e pescoço (ambas com 65,4%) e região lombar (61,5%). Nos
últimos sete dias, foram a região dos ombros (50,0%), dorsal (42,3%) e lombar (34,6%). Já no item
afastamento, a região lombar foi a mais acometida (30,8%), seguida dos ombros (23,1%) e pescoço
(19,2%).
Referente ao sexo masculino, 85,7% dos homens relataram a presença de sintomas osteomusculares. No
último ano e nos últimos 7 dias, os sintomas atingiram, primeiramente, os punhos/mãos/dedos (50% e
32,1%, respectivamente), seguidos da região dorsal (44,6% e 30,4%) e lombar (39,3% e 25%). Já as
regiões sintomáticas que provocaram o afastamento do servidor de suas atividades foram a lombar
(10,7%), dorsal e quadris/coxas (ambas com 8,9%).
Nos dados relativos à associação entre sintomas osteomusculares e a idade, a faixa etária de maior
prevalência dos sintomas no último ano foi de 40 – 50 anos (n=5, 100%). Analisando o sexo feminino,
todas as servidoras com idades a partir de 30 anos foram acometidas nesse período (n=16).
Em relação ao tempo de serviço, constatou-se uma maior prevalência dos sintomas nos servidores que
exerciam a função a cerca de 4 anos ou mais (n=46, 63%), destes os que exerciam função a mais de 5 anos
foram acometidos em sua totalidade (n=10, 100%).
Quanto aos hábitos e atividades, não houve uma diferença significativa nos resultados encontrados.
Enquanto 89,1% das pessoas que praticavam atividade física (n=33) relataram algum tipo de sintoma
osteomuscular no último ano, 88,8% das que não praticavam (n=40) também referiram dor, dormência ou
incômodo neste período.
De acordo com a pontuação obtida no Checklist para análise das condições de trabalho ao computador de
Couto, observou-se que no DETRAN/PE os postos de trabalho analisados possuíam uma condição
ergonômica ruim (com 46,5% dos pontos). Detalhando-se esses dados, o único item com condição
ergonômica excelente foi o Gabinete e CPU (com 100% dos pontos). A iluminação do ambiente e o teclado
apresentaram uma boa condição ergonômica. O monitor de vídeo e a cadeira possuíam uma condição 50
ergonômica razoável. Os demais itens foram classificados com condição ergonômica ruim (Sistema de
trabalho, suporte do teclado) ou péssima (Interação e Leyaut, Porta-documentos, Apoio para os pés e Mesa
de trabalho) (Figura 1).
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Figura 1 - Resultado da Avaliação Ergonômica no DETRAN/PE através do Checklist para análise das
condições do posto de trabalho ao computador de Couto. Recife, 2010.

4 DISCUSSÃO
O presente estudo possibilitou verificar a situação atual de saúde, dentro dos parâmetros estudados, dos
servidores públicos do DETRAN/PE, e sua relação com os sintomas osteomusculares. Isto foi possível pela
escolha do modelo de pesquisa, visto que os estudos transversais permitem uma análise sobre a situação
encontrada no momento da avaliação, mostrando um retrato imediato da amostra observada.
Ressalta-se, como um importante atributo deste estudo, o fato dos questionários utilizados se
configurarem como autoaplicáveis. De acordo com Griep, Chór e Camacho (1998), o uso desse tipo de
instrumento, além de reduzir o tempo de coleta de dados, minimiza possíveis influências do entrevistador
nas respostas, evitando, assim, vieses de informação, devido ao mesmo ser facilmente respondido em seu
ambiente de trabalho.
A maior parte dos resultados obtidos não apresentou relevância estatisticamente significante. Esse baixo
índice pode ser explicado pelo fato de que os servidores públicos entrevistados podem ter tentado negar o
aparecimento dos sintomas, com receio de punições de superiores, dificultando assim o conhecimento e
controle das LER/DORT dentro do âmbito de trabalho.
A instituição analisada, nesta pesquisa, apresentou uma alta prevalência de LER/DORT em seus
funcionários. Estudos nacionais e internacionais confirmaram a alta prevalência dos sintomas
osteomusculares em profissionais de diversas categorias (BRANDÃO, HORTA e TOMASI, 2005; CARNEIRO
et al., 2007; CROMIE, ROBERTSON e BEST, 2000; HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE, 2009), apresentando
uma considerável relevância social devido a sua abrangência e magnitude (GASPARINI, BARRETO e
ASSUNÇÃO, 2005).
Segundo Porto et al. (2004), os valores elevados de prevalência podem ser considerados como 51
consequência do novo paradigma do mundo do trabalho, que passou a obrigar o trabalhador a executar
suas atividades laborais por meio de movimentos inadequados e intensos dos vários segmentos corporais,
provocando desordem músculo-tendinosa.
Em relação às regiões corporais mais acometidas nos últimos 12 meses, a região dos punhos/mãos/dedos
foi a mais referida por usuários de computador com sintomas de LER/DORT no estudo realizado por
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Santos et al. (2005), confirmando os achados desta pesquisa. Todavia, os resultados aqui obtidos diferiram
de outros estudos. Em uma pesquisa executada em um banco internacional de Hong Kong, na China, com
usuários de microcomputadores em suas atividades laborais, constatou-se uma prevalência de sintomas
osteomusculares de 31,4% na região do pescoço, 16,5% em ombros, 14,9% em mãos e punhos, e 6,6% em
antebraços (Yu e Wong, 1996). Em outro estudo efetuado com funcionários de um banco estatal,
ocupantes de diferentes cargos e lotados em diversos setores da empresa, a região dos ombros foi a mais
citada como região acometida (50,6%), seguida da região do pescoço (48,1%) e punho/mãos/dedos
(44,42%). (PINHEIRO, TRÓCCOLI e CARVALHO, 2002).
O grande número de registros de sintomas na região dos punhos, mãos e dedos encontrados nos
resultados da presente pesquisa pode ser, conforme Massambani (2002), consequência da associação de
técnicas incorretas, da inobservância relacionada aos aspectos ergonômicos e da execução de movimentos
rápidos, repetitivos e de pequena amplitude.
Referente ao absenteísmo ao trabalho associado aos sintomas, os achados deste estudo foram
comprovados por Mendes e Leite (2004), que relataram a lombalgia como causa mais frequente de
diminuição de capacidade para o trabalho, de forma temporária e permanente, estando em segundo lugar
nos índices de afastamentos, ocasionando as licenças mais longas do Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS).
A prevalência de LER/DORT no sexo feminino tem sido constatada em várias pesquisas (Monteiro,
Alexandre e Rodrigues, 2006; PINHEIRO, TRÓCCOLI e PAZ, 2006; VITORIA e SILVA, 2010), corroborando
os resultados deste estudo. Porém, este fato difere dos achados encontrados pelo Bureau of Labor
Statistics (2009), que relacionada ao gênero, constatou que homens e mulheres são atingidos de forma
semelhante (35,6%; 30,4%), embora os homens registrassem mais casos em termos absolutos (196.710
ocorrências de LER/DORT nos homens; 120.150, nas mulheres).
Conforme os estudos de Couto (1998), a maior prevalência sintomatológica no sexo feminino se deve a
vários fatores, entre eles: presença de estruturas orgânicas mais frágeis, variações hormonais, condições
impostas no trabalho e a dupla jornada de trabalho – na empresa e em casa, fazendo com que haja uma
redução no período de descanso, sobrecarregando os tecidos musculoesqueléticos.
Quanto aos dados relativos à associação entre sintomas osteomusculares e a idade, pesquisas realizadas
por Monteiro, Alexandre e Rodrigues (2006) e pelo Bureau of Labor Statistics (2009), constataram maior
prevalência em idades mais avançadas (45-54 anos) confirmando os dados encontrados neste estudo.
Pinheiro, Tróccoli e Paz (2006) observaram que o aumento da idade aumenta a probabilidade de relato de
sintomas osteomusculares. A idade exerce influência na velocidade de reconstituição dos tecidos gastos e
na qualidade da recuperação dos mesmos (DIAS et al., 2002).
Porém, outras pesquisas relataram que trabalhadores mais jovens são os mais afetados pelas LER/DORT,
contudo não há um consenso em relação à faixa etária mais acometida. No estudo realizado por Garcia et
al. (2004) com trabalhadores atendidos no Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (CESART) de
Belo Horizonte, a faixa etária entre 21 e 30 anos apresentou maior prevalência. Em outra pesquisa
realizada por Vitória e Silva (2010) com trabalhadores de várias agências de um banco privado no sul do
estado do Rio Grande do Sul, a faixa etária entre 18 e 29 anos foi a mais prevalente.
Concernente às variáveis de condição de saúde, no estudo realizado por Maciel, Fernandes e Medeiros
(2006) sobre a prevalência e fatores associados à sintomatologia dolorosa entre profissionais da indústria
têxtil, comparando-se os trabalhadores praticantes de atividade física aos trabalhadores sedentários,
houve menor incidência de queixas dolorosas nos trabalhadores que realizavam atividade física. Este fato
também já havia sido observado por Pinheiro, Tróccoli e Carvalho (2002). Todavia, na presente pesquisa,
não foi verificada qualquer relevância entre a prática de atividades físicas e os sintomas, já que tanto os
servidores ativos quanto os sedentários referiram queixas osteomusculares de forma semelhante.
Em relação ao ambiente de trabalho, a instituição avaliada apresentou, de forma geral, uma condição
ergonômica ruim, o que caracteriza um fator bastante significativo para o aparecimento das afecções
osteomusculares em seus funcionários. De acordo com Punnet e Bergqvist (1999), um projeto inadequado
de postos de trabalho, o uso contínuo do computador durante todo o dia e o trabalho repetitivo no 52
computador, como entrada de dados, estão associados ao aumento do risco de desenvolver sintomas
desses distúrbios.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseado nos resultados obtidos neste estudo, constatou-se alta prevalência de queixas osteomusculares
relacionadas ao trabalho na população avaliada, bem como associação de sua ocorrência com as
características laborais. Dessa forma, torna-se importante e indispensável à adequação ergonômica e
biomecânica dos postos de trabalho do DETRAN/PE, além de uma conscientização dos servidores públicos
quanto ao uso correto do mobiliário e a manutenção de hábitos posturais adequados, a fim de promover
melhora na qualidade de vida através do bem-estar físico e psicológico destes trabalhadores, assim
evitando e/ou reduzindo o aparecimento das LER/DORT. Ressalta-se que estudos futuros ampliando a
amostra estudada poderão contribuir para melhor avaliar as tendências aqui relatadas.

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54
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 6
Perfil socioeconômico e saúde dos trabalhadores em
indústrias da Região Amazônica
Rodrigo Canto Moreira
Brenda Rassy Carneiro Maradei

Resumo: O presente estudo apresenta o perfil socioeconômico dos trabalhadores das


indústrias da região amazônica e dados relativos à saúde, identificando alguns dos
problemas que merecem atenção do empresariado e das autoridades governamentais. É
um estudo descritivo, transversal com análise secundária de dados. Envolve 9.041
trabalhadores de 56 indústrias nacionais atuantes na região amazônica brasileira. Os
resultados indicaram um menor número de trabalhadores que relatam diabetes e
hipertensão arterial sistêmica quando comparados a população brasileira em geral;
grande incidência de problemas de coluna e de trabalhadores que apresentam
resultados indicativos de depressão e não sabem que possuem tal transtorno.

55
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1.INTRODUÇÃO
De tempos em tempos, o mundo do trabalho vem passando por transformações intensas, sendo que nas
últimas décadas, com o advento de novas tecnologias, essas mudanças também estão tendo reflexo tanto
na produção quanto na cultura organizacional de forma bem peculiar; já que mesmo com o avanço gradual
na organização da produção, com o processo de globalização e a nova ordem estabelecida nas relações
entre capital e trabalho; as relações conflituosas no trabalho ainda estão presentes, originando novos
processos de adoecimento e dificuldades para retorno e, sobretudo, permanência no trabalho (TOLDRA et.
al., 2010).
Os efeitos da nova configuração do trabalho (informatização e robotização na oferta de produtos e
serviços) aumentam a necessidade de um maior conhecimento a respeito das consequências provocadas
por mudanças recentes, tendo em vista que o aumento do controle sobre prazos e metas, os quais estão
bem delineados para as organizações, podem gerar agravos à saúde do trabalhador e que antes não
existiam. A rotina está mais intensa dentro das organizações capitalistas devido a busca pelo lucro está
cada vez mais acirrada, podendo até mesmo atropelar a valorização do funcionário (AUBERT, 2011).
Conhecer a saúde do trabalhador favorece a manutenção de práticas que motivacionais, beneficiando o
trabalhador em sua saúde e a empresa em sua produtividade/lucratividade. Estudos sobre a promoção de
saúde no local de trabalho têm quantificado a relação entre boa saúde e aumento de produtividade
(SANTOS & VAJDA, 2007). Além disso, a Política Nacional de Segurança e de Saúde do Trabalhador
(BRASIL, 2011) e a Política Nacional da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (BRASIL, 2012)
asseguram ao trabalhador o suporte necessário à melhoria e à efetivação dos serviços direcionados a eles
pelas empresas privadas e pelo governo.
Estatísticas revelam que 40% dos afastamentos funcionais são motivados por pequenas doenças e mal-
estar, como gripes, dores nas costas, entorses e outras, as quais podem ser evitadas com medidas
ergonômicas (SANTOS & VAJDA, 2007). Além disto, podemos observar o aumento dos agravos e ao
surgimento de novo perfil de morbidade nos trabalhadores do país nas últimas décadas, em especial às
Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os problemas de saúde mental decorrentes da reestruturação da
economia e da produção, que sofre um momento de transição onde a mecanização e a especialização do
trabalho ganharam espaço.
No Brasil, a dificuldade em se estabelecer um perfil dos trabalhadores e suas necessidades de atenção em
saúde são concretas, tendo em vista, principalmente, que as características de produção são
regionalizadas, onde cada microrregião econômica possui um perfil de atividade particular e seus
trabalhadores possuem atividades diferentes. A diferença também existe no aparecimento de doenças
ocupacionais relacionadas ao trabalho (DORT’s) que estão consequentemente relacionadas ao tipo de
atividade exercida (artesanato, indústria, agricultura, serviços, dentre outros).
A dificuldade de delinear um perfil e traçar formas de intervenção em saúde do trabalhador no âmbito
nacional é um desafio a ser superado. Por tanto, analisar cada região e suas peculiaridades é a alternativa
que este estudo propõe ao buscar conhecer de forma regionalizada a saúde do trabalhador, analisando
indivíduos do setor de maior potencialidade na região amazônica, o setor industrial.
Levando em consideração a importância da vigilância para a manutenção da saúde, este trabalho tem
como objetivo apresentar dados relativos aos problemas de saúde recorrentes nos trabalhadores do setor
da indústria amazônica e ressaltar a importância de medidas com potencial de evitar agravos.

2.METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se por ser do tipo descritivo, de corte transversal com análise secundária de
dados. Envolve 9.041 trabalhadores de 56 indústrias nacionais atuantes na região amazônica brasileira. O
tamanho mínimo da amostra foi calculado considerando um erro amostral de 3%, com intervalo de
confiança de 95%.
As indústrias foram selecionadas de forma aleatória, sem que houvesse divisão proporcional de gênero,
56
estado civil ou situação socioeconômica. Com isso, torna-se possível identificar o perfil dos trabalhadores
do setor.
O levantamento de dados foi realizado a partir de documentos arquivados na gerência de qualidade de
vida do SESI/PA. Os dados são oriundos de pesquisas de campo realizadas nas indústrias nos anos de
2013 e 2014 por profissionais capacitados, que preencheram o instrumento da pesquisa, o questionário. O
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

questionário validado por (Barros, 1999) aplicou 89 perguntas objetivas direcionadas a saúde e ao estilo
de vida de cada trabalhador.
O termo de consentimento fornecido pelo SESI/PA foi apresentado para apreciação e assinatura,
especificando o caráter sigiloso das informações pessoais prestadas. Tendo posse dessa informação, o
pesquisador utilizou somente formulários completos, descartando os arquivos que não continham a
assinatura do trabalhador ou qualquer outro dado essencial para a precisão dos resultados, tornando a
pesquisa ainda mais credível.
O preenchimento do questionário foi feito ora pelos profissionais capacitados, ora pelo próprio
funcionário da indústria pesquisada; dependendo da capacidade do indivíduo em preencher o seu próprio
formulário no que diz respeito ao grau de escolaridade, nível de entendimento das perguntas propostas e
problemas visuais.
Alguns itens do questionário foram obrigatoriamente preenchidos por profissionais da saúde, que fizeram
avaliação antropométrica e aferição da pressão arterial (PA) nos trabalhadores, e puderam observar no
local de trabalho a presença de doenças como obesidade e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS).
Após a coleta, os dados obtidos foram armazenados no banco de dados do Programa Microsoft Office Excel
2010™ (Microsoft Corporation, Redmond, Estados Unidos). Vale lembrar que a coleta de dados foi
realizada pelo próprio SESI/PA e a utilização dos dado na análise passaram por aprovação do mesmo. A
análise descritiva foi feita por meio de gráficos e tabelas.
O levantamento bibliográfico que serviu de suporte para esse estudo teve início em março de 2015
e foram acessados diferentes bases de dados disponíveis on-line, tais como a Bireme, que engloba os
sistemas Scielo, Lilacs, Scad e a Biblioteca Cochrane; o National Center for Biotechnology
Information (NCBI), que envolve o Pubmed, o online books e outras bases virtuais; o portal CAPES e
buscadores internacionais.

3.RESULTADO
A partir dos dados coletados, pode-se dizer que os trabalhadores da indústria na região amazônica são
predominantemente do gênero masculino, com renda até 3 salários mínimos, casados, que se consideram
chefes de família, ganham até três salários mínimos e possuem casa própria (Tabela 1).

Tabela 1: Caracterização de gênero, estado civil, posição na família, renda mensal, e residência dos
trabalhadores da indústria amazônica
Variável Percentual
Gênero
Feminino 19,41
Masculino 78,06
Estado civil e posição na família
Casados ou em união estável 60,01
Declaram ser chefes de família 69,98
Renda mensal
Ganham até 3 SM 76,69
Ganham de 3 a 10 SM 15,94
Ganham mais do que 10 SM 4,72
Não sabem ou não responderam 0,58
Residência
Própria 68,79
Alugada ou emprestada 31,21
Fonte: Autor SM: Salários mínimos

A pesquisa, por ter ouvido e avaliado os trabalhadores da indústria amazônica, traz em seu escopo 57
informações tanto de diagnostico medico referido pelos trabalhadores quanto as informações coletadas
por meio das avaliações clinicas de saúde. Os resultados desta investigação culminaram na eminencia de
problemas metabólicos, vasculares, do aparelho locomotor e psicológicos.
Os problemas identificados através dos relatos dos trabalhadores revelam que, com relação a problemas
vasculares, 6,57% dos trabalhadores das industrias amazônicas relataram ser hipertensos. Na avaliação
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

clínica para a aferição da PA, 24,58% dos sujeitos apresentaram alteração nos valores de referência
adotados pelo diagnóstico (normotenso até 140/90 mm Hg) (CARDIOLOGIA, 2010). Dentre os avaliados, o
que chama atenção é o percentual de trabalhadores que referem não possuir diagnóstico médico de HAS.
19,16% dos que apresentaram pressão arterial alterada negam HAS (Gráfico 1).

Gráfico 1: Dados clínicos e percepção de saúde dos trabalhadores da Indústria Amazônica para
Hipertensão Sistêmica (HAS)

Fonte: Autor

Os problemas do aparelho locomotor avaliados envolvem algumas das principais queixas encontradas nos
consultórios de saúde ocupacional. Os problemas de coluna, tendinite e lesão por esforços repetitivos
(LEER). Logo, os resultados indicam que 22,28% dos trabalhadores referiram problemas de coluna, e
4,50% tendinite ou LEER (Gráfico 2). Já nas avaliações antropométricas, realizadas para identificar a
obesidade, revelou-se que 14,66% dos trabalhadores possuíam algum grau de obesidade (Gráfico 2),
variando entre obesidade grau 1 e grau 3 (obesidade mórbida).
Outro fator avaliado foi a ocorrência de diabetes na população industriaria. Para isso, a metodologia
utilizada foi a entrevista. Mesmo este dado não sendo confirmado com exames clínicos, o relato do
trabalhador já ajuda a dimensionar a gravidade do problema. Por tanto, 2,12% dos trabalhadores
relataram ter diabetes (Gráfico 2), sem especificar qual tipo (Diabetes tipo I ou II).

Gráfico 2: Problemas musculoesquléticos,diabetes referida e obesidade trabalhadores da Indústria


Amazônica

Fonte: Autor
58
Dentre os problemas de cunho psicológico, foi levantada a porcentagem de trabalhadores que relatam
depressão, chegando a 2,82% dos avaliados (Gráfico 3). Contudo, outros dados foram levantados para
posterior correlação. A porcentagem de entrevistados que apresentaram algum transtorno de depressão,
identificados a partir de suas respostas ao questionário; e a porcentagem destes que não referem
diagnóstico anterior de depressão, sendo respectivamente 9,11% e 8,52% dos entrevistados (Gráfico 3).
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Gráfico 3: Dados clínicos e percepção de saúde dos trabalhadores da Indústria Amazônica para Depressão

Fonte: Autor

4.DISCUSSÃO
O perfil do trabalhador da indústria amazônica se revela muito semelhante a outras regiões do país com
relação as variáveis gênero, renda e estado civil (SILVA, 2011), onde se observa a prevalência de
industriários do gênero masculino, com renda de até três salários mínimos e casados. Por tanto, a
prevalência de homens e pessoas com baixa renda já era esperada como reflexo do tipo de atividade
exercida, levando em consideração que muitas atividades industriais exigem força e resistência física,
como as atividades extrativistas, agrícolas e construção civil.
Com relação a dados de saúde em si, o presente estudo revela que porcentagem dos trabalhadores que
relataram diagnóstico médico de diabetes (2,12%) é menor quando comparada com a média nacional
(6,2%) apresentada pela última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) (IBGE, 2013).
O surgimento desta estatística pode demonstra que as atividade exercidas pela indústria, que em muitos
casos exigem força e resistência física, beneficiam a manutenção da saúde do trabalhador ao proporcionar
uma rotina diária de atividade física.
Apesar da amostra ter sido predominantemente de homens (78,06%), que comprovadamente possuem
menor chance de desenvolver diabetes, ainda assim é possível afirmar que a influência de gênero não tem
o potencial de influenciar de forma tão significativa os resultados, já que as mulheres (7,0%) e homens
(5,4%) apresentaram maior proporção de diabetes que a apresentada por esta pesquisa (IBGE, 2013).
A pesquisa ainda mostra que 14,06% estavam obesos, o que nos remete ao fato de que o desenvolvimento
da obesidade perpassa pelos hábitos alimentares, com dieta rica em alimentos hipercalóricos e consumo
baixo de alimentos saudáveis, como cereais e hortaliças.
De modo geral, com relação a alimentação, muitas indústrias possuem refeitório e disponibilizam
alimentação baseada na ingestão de alimentos saudáveis. Porém, sem acompanhamento nutricional para o
trabalhador no momento da eleição da dieta oferecida, as empresas não conseguem adequar hábitos
positivos na alimentação de seus empregados (GERALDO, BANDONI & JAIME; 2008). Assim, a ocorrência
de doenças crônicas não transmissíveis pode aumentar consideravelmente, colocando em jogo a saúde do
trabalhador.
Os locais de trabalho são um excelente espaço para oferecer programas de promoção à saúde, em
particular aqueles voltados para a redução de fatores de risco para doenças metabólicas e
cardiovasculares. A educação em saúde deve ser praticada no dia-dia das empresas. Pessoas com
obesidade, diabetes e HAS (patologias associadas ao consumo excessivo de sal e açucares) demonstram
preocupação em se educar para adquirir a capacidade de controlar possíveis agravos a saúde, 59
promovendo um estilo de vida saudável, e é neste contexto que o setor de saúde da empresa deve agir. O
ideal é que essa consciência venha antes da patologia instalar-se, principalmente porque a mudança de
atitude não reflete somente no indivíduo em si, mas também em sua família e comunidade, pois a
educação em saúde possui a característica de multiplicar para prevenir (TORRES et. al., 2011; FERREIRA
et.al., 2006; SANTOS & LIMA, 2008).
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

No levantamento para HAS, 24,58% apresentaram pressão arterial alterada no momento da avaliação,
valor este que merece atenção a nível epidemiológico devido a relação da alimentação baseada em
consumo excessivo de sal e o desenvolvimento de HAS, gerando assim mais um dado que alerta para a
necessidade de programas de educação alimentar nas indústrias. (GERALDO, BANDONI & JAIME; 2008).
Apesar de muitos trabalhadores terem apresentado a pressão arterial alterada durante a avaliação
clinicas, somente 6,57% referiram diagnóstico de HAS. Por tanto, várias conclusões podem ser fomentadas
com estes dados, principalmente porque, existe uma diferença significativa (α>0,5) entre a o percentual
das pessoas que relataram HAS e as pessoas que apresentaram alteração na pressão arterial durante a
avaliação clínica (6,57% e 24,58%, respectivamente).
Além disso, a PNS apresenta que a proporção de indivíduos de 18 anos ou mais que referem diagnóstico
de HAS no Brasil é de 21,4%; número significativamente superior ao apresentado pelo presente estudo
(α>0,5) (IBGE, 2013). Sendo assim, uma quantidade importante de trabalhadores pode apresentar HAS e
não saber, fato que coloca cheque a proteção à saúde destes colaboradores.
Os problemas de coluna e musculoesqueléticos relacionados ao trabalho merecem destaque quando se
fala em proteção e promoção à saúde, já que alguns componentes tecnológicos e atividades da indústria
são barreiras para a manutenção da plena saúde física. No presente estudo, a taxa de trabalhadores que
relataram problemas de coluna (22,28%) chama a atenção por ser maior que a média nacional (13,50%),
de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PnaD) (IBGE,2008).
Algumas medidas podem ser incorporadas às empresas para que a ocorrência de problemas
osteoarticulares não acometam seus empregados, principalmente para aqueles que realizam trabalhos
manuais em setores administrativos, que sofrem grande risco de desenvolver problemas físicos devido ao
trabalho estático (BIFF, 2006).
O incentivo à atividade física regular, controle da obesidade (fator predisponente a problemas de coluna)
programas de ergonomia, ginástica laboral, educação em saúde, dentre outros tipos de atividades
relatados na literatura, são aconselháveis por serem considerados como protetores e promotores da saúde
física e mental (MONTEIRO, ALEXANDRE & RODRIGUES, 2006; PADEZ, 2002).
Os locais de trabalho podem afetar o desempenho do trabalhador, levando a fadiga, desgaste e danos
físicos. Por tanto, análise ergonômica como ferramenta para o controle de agravos a saúde é um caminho
para a resolução de problemas complexos que exige o conhecimento das tarefas, da atividade
desenvolvida para realizá-las e das dificuldades enfrentadas para se atingirem o desempenho e a
produtividade exigidos (SLACK et al.,2002).
Dados com relação a transtornos de cunho psicológico apresentam que 9,11% dos trabalhadores da
indústria amazônica tiveram resultados indicativos de depressão; 8,52% referiram diagnóstico médico
anterior de depressão, e 2,82% declaram ter depressão. Estes itens merece uma investigação mais
detalhada, já que os dados disponibilizados pelo SESI/PA não dá base para que se possa afirmar que os
trabalhadores que um dia já apresentaram diagnóstico médico de depressão são os mesmos que
apresentaram sinais indicativos de depressão durante a investigação. Apesar de não ser possível afirmar, é
intuitivo que a maioria dos trabalhadores que apresentam resultados indicativos de depressão não sabem
que possuem tal transtorno, já que a porcentagem de trabalhadores que relatam diagnóstico clínico
(2,82%) é menor que os que apresentaram o transtorno durante a investigação (9,11%).
Quando indicadores de depressão e ansiedade evidenciam problemas psicológicos, o empregador já pode
inferir que o problema pode está partindo do próprio trabalho. A saúde e as boas condições de trabalho
oferecidas pela empresa resultam em melhor desempenho e maior satisfação do colaborador e da
organização. Por isso, é dever do empregador identificar se a exigência de agilidade na execução de
tarefas, o medo de perder o emprego, condutas de dominação para com o empregado, a competitividade
entre os empregados, dentre outros, estão influenciando o desvio de comportamento, que pode levar a
desde um leve comprometimento psíquico a uma psicopatia mais severa (FABRIN & CASTRO, 2015).
A solução para problemas psicológicos precisa da análise dos casos de forma particular, onde o
trabalhador deve sempre ser avaliado junto a sua atividade laboral. Sendo assim, lidar com situações
60
particulares requer a intervenção de profissionais qualificados para o diagnóstico e tratamento das
afecções psicológicas. Esse fato é relevante à prevenção em saúde, já que a aplicação da intervenção deve
ser elencada de acordo com a situação apresentada dentro da empresa, evitando, assim, gastos
desnecessários e execução de medidas ineficazes (FABRIN & CASTRO, 2015).
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

5.CONCLUSÃO
Considerando que as atividades industriais dentro do território brasileiro se diferenciam e acompanham
as características geoeconômicas de cada região, tomamos por instrumento a análise de fatores de saúde
dos trabalhadores das industrias atuantes na região amazônica, e assim, foi possível identificar a
prevalência de problemas de cunho físico e psicológico para esta população. Os resultados refletem
indicadores positivos e negativos.
Pode-se destacar como indicadores positivos o menor número de pessoas que relatam diabetes e HAS
quando comparados a população brasileira em geral. Já como indicadores negativos, os problemas de
coluna, que potencialmente estão relacionados a fatores ambientais e ergonômicos, apresentam grande
incidência na população industriaria da região amazônica. Além disso, a depressão também aparece como
um indicador negativo, já que a maioria dos trabalhadores que apresentam resultados indicativos de
depressão não sabem que possuem tal transtorno, devido a porcentagem de trabalhadores que relatam
diagnostico de depressão ser menor que a porcentagem dos que apresentaram sinais indicativos de
depressão durante a investigação.
Com base em toda essa fundamentação, pesquisa e análise, conclui-se que a vigilância à saúde do
trabalhador da indústria amazônica merece uma atenção mais intensa, tanto com relação a políticas
públicas quanto a medidas de caráter privado dos empresários, com vistas para o crescimento social e
econômico local e o bom andamento das atividades industriais da região que, além de tudo, também é
carente de pesquisas voltadas à ergonomia e saúde do trabalhador.
Devido à grande diversidade de culturas e etnias no Brasil, seria interessante a realização de estudos em
outros locais do país para que se possa entender a realidade de cada região, correlacionando as
características locais. A realização do mesmo estudo para o biênio de 2015/2016 terá grande relevância
cientifica, uma vez que será possível identificar e comparar a evolução das condições de saúde dos
industriários; que supostamente trarão reflexo positivo ao revelarem quais pontos merecem maior
atenção para a promoção à saúde dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS
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Seminário da AFAPP: L’accompagnement des Processus de Construction Identitaire L’apport de la Sociologie, 3., 2011.
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Repositório Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina, 1999.
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trabalhadores de uma indústria de materiais elétricos de Caxias do Sul (RS) [dissertação]. Caxias do Sul: Universidade
do Vale do Rio dos Sinos; 2006.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7602.htm>. Acesso em: 05 mar. 2016.
[5] ________. Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, nº 165, Seção I, p. 46-51, 24 de agosto de 2012.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt1823_23_08_2012.html>. Acesso em: 12
mar. 2016.
[6] Cardiologia, Sociedade Brasileira de. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Disponível em:
<http://www.anad.org.br/profissionais/images/VI_Diretrizes_Bras_ Hipertens _RDHA_648> 5.pdf, Acesso em: 19
mar. 2016.
[7] Couto, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo
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61
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Saúde, Estilos de Vida e Doenças Crônicas. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2013.
[9] ________. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Pnad – 2008. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2008.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

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[11] Ferreira, Sandra Roberta Gouvea; Moura, Erly Catarina de; Malta, Deborah Carvalho; Sarno, Flávio.
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[13] Marques, Amanda; Tavares, Estelina; Souza, Jannerpaula; Magalhães, Juliana Arruda; Léllis, Jimmy. A
Ergonomia como um Fator Determinante no Bom Andamento da Produção: um Estudo de Caso. São Paulo, SP. Revista
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[20] Toldra, Rosé Colom et al . Facilitadores e barreiras para o retorno ao trabalho: a experiência de
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[21] Torres, Heloisa de Carvalho; Souza, Edinilsa Ramos; Lima, Maria Helena Melo and Bodstein, Regina
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vol.24, n.4, pp. 514-519. ISSN 0103-2100.

62
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 7
Perícias judiciais na 2ª Vara do Trabalho de
Aracaju/SE: Possibilidades de contribuição da ISO
11228-3 e do Decreto nº 6.957/09 para o nexo causal
da LER/DORT
Marcos André Santos Guedes
Maria Goretti Fernandes
Ana Verena Alves Calmon Almeida

Resumo: As sentenças em muitos processos judiciais trabalhistas que envolvem


problemas de LER/DORT são tomadas mediante a produção de perícia que além de ter
um caráter multidisciplinar, ainda se defronta com questões como a formação
profissional do perito. Com o intuito de minimizar a liberação desses laudos imprecisos
buscou-se analisar possibilidades de reconhecimento causal através de revisão
bibliográfica e da adoção da norma ISO 11228-3 e do Decreto 6.957/09 em processos de
uma comarca de Sergipe. Concluiu-se que essas regulamentações mostraram se
valorosos para auxiliar nas perícias técnicas em LER/DORT.

63
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1 INTRODUÇÃO
Na prática atual, os tribunais trabalhistas brasileiros têm se baseado em perícias técnicas para dar suas
sentenças, sendo, muitas vezes, os conhecimentos técnico-científicos os norteadores para esse tipo de
tomada de decisão. Por isso, a formação profissional do corpo pericial vem preenchendo a lacuna
provocada pelo desconhecimento técnico envolvendo a matéria do objeto de perícia.
O ordenamento jurídico brasileiro, por meio do Artigo 145 do Código de Processo Civil – CPC1, evidencia a
necessidade de prova pericial diante da complexidade da causa e quando a prova de fato depender do
conhecimento técnico-científico. Para a escolha desses peritos, os profissionais deverão estar inscritos no
órgão da classe e comprovar a sua especialidade na matéria a qual opinarão. Foi demonstrado o quão
importante é atender a essas especificações para a qualificação de perito nas diversas áreas
(NASCIMENTO, 2010).
A palavra perícia está depositada no estudo morfológico da língua portuguesa como pertencente à classe
de palavras substantivadas feminina sendo atribuídos cinco significados específicos: 1º) Qualidade do
perito, 2º) habilidade, destreza, 3º) vistoria ou exame de caráter técnico e especializado, 4º) conjunto de
peritos (ou um só) que faz essa vistoria, 5º) conhecimento, ciência (AURÉLIO, 2013).
O perito judicial deverá, portanto, ter conhecimento técnico e científico capaz de esclarecer o nexo causal
em perícias envolvendo atividade laboral. Nexo causal é definido como o elemento referencial entre
conduta e resultado (CAVALIERE FILHO, 2012). É através dele que podemos concluir quem foi o causador
do dano. Para isso, é necessário o estudo do movimento humano (cinesiológico) e das intervenções físicas
do movimento combinado (biomecânica), além da ergonomia ambiental.
Tem sido demonstrado um grande desafio, em países com fortes processos de industrialização, identificar
o nexo causal das patologias relacionadas ao trabalho (CARRARA E ABREU,2012). Afirma – se, ainda, que
essas doenças têm grandes implicações legais na vida dos pacientes, sendo seu reconhecimento regidos
por normas e legislações que devem garantir a saúde do trabalhador.
A identificação do nexo causal patológico passa por enormes desafios, principalmente quando se tratada
de LER/DORT, uma vez que esta é uma doença multicausal que requer ampla investigação dos hábitos
laborais e pessoais do trabalhador (MENEGON, CAMAROTTO, BERNADIO, 2012).
Foi provada a dificuldade de se realizar perícia judicial nessa área por falta de conhecimento técnico
especializado (BERNARDES, MORO, MERINO, 2010). Traduz – se, assim, o cenário de dificuldades na
escolha de técnica avaliativa ergonômica, influenciando no poder conclusivo do perito judicial, e portanto
atuando positiva ou negativamente sobre a sentença praticada nos Tribunais de Justiça.
Ao analisar o contexto histórico da ergonomia, observa se que esta prática não se faz tão antiga, sendo o
registro mais velho, a Norma Reguladora 17, do Ministério do Trabalho e Emprego. Nesta norma foram
montadas estratégias de proteção contra riscos ergonômicos a serem cumpridos por todas as empresas.
Destaca-se que a NR-17 ainda não era regulação para pericias judiciais como a norma ISO 11228-3 e o
Decreto 6.957/09 da Previdência Social.
A presente pesquisa tem o fito de propor subsídios técnicos à atividade do perito na identificação do nexo
causal de patologias envolvendo o grupo LER/DORT, notadamente a possibilidade de aplicação do Decreto
6.957/09 da Previdência Social e a norma internacional ISO 11228-3, reconhecendo que se trata de um
grupo de doenças de complexa investigação.

2 METODOLOGIA
A pesquisa realizada assumiu classificação como de natureza aplicada em razão dos conhecimentos
gerados possuírem aspectos práticos e dirigidos à solução dos problemas já apontados. A abordagem da
pesquisa com características qualitativa e quantitativa considerou a interpretação dos acontecimentos,
bem como as informações obtidas através dos laudos analisados, sendo o procedimento técnico adotado
foi do tipo documental direta, utilizando-se de laudos periciais da 2ª Vara do Trabalho em Sergipe.
64
As atividades de pesquisa realizadas ao longo de quatro meses dividiram-se em três momentos distintos
tendo cada etapa sua metodologia própria empregada
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

2.1 ETAPA 1: PESQUISA POR PRODUÇÕES CIENTÍFICAS PERTINENTES E NECESSÁRIAS NA


BIBLIOTECA CAPES E DO GOOGLE ACADÊMICO
Essa etapa buscava identificar produções científicas via pesquisa bibliométrica sistemática e longitudinal.
Para isso, iniciou se a pesquisa através do portal CAPES e num segundo momento através do site Google
Acadêmico.
As pesquisas foram realizadas em Julho/2014 reunindo consulta a todos os bancos de dados mantidos
pelos sites pré-definidos sempre buscando artigos, dissertações, teses e/ou periódicos já publicados como
meio de identificação de produções científicas pertinentes ao objeto da pesquisa. Foram utilizados os
descritores “laudo pericial” e “ergonomia” em suas variantes do português e do inglês. Os resultados
obtidos no portal CAPES mostrou igualdade com o Google Acadêmico sendo angariado um total de 100
publicações.
A partir de então foi realizada criteriosa avaliação para identificar a presença de alusões as palavras
“laudo pericial” e/ou “ergonomia” nas sessões resumo ou palavras-chave. Caso fosse necessário era feita a
leitura da publicação na íntegra. Os critérios de exclusão foram o maior distanciamento da comparativo de
ideias entre o grupo formado pelas palavras chave e objeto de pesquisa versus o grupo formado pelo título
do artigo e, pela metodologia aplicada pelo autor.
Foram selecionados, então 47 artigos, os quais incitam resposta para os problemas da pesquisa que fora
previamente levantados. Esses artigos foram categorizados pelos seguintes itens: autoria, objetivo do
estudo, metodologia aplicada, resultados alcançados, considerações sobre os laudos periciais, informações
referentes ao laudo investigativo e título.

2.2 ETAPA 2: PESQUISA ENVOLVENDO LEVANTAMENTO DOS PROCESSOS JUDICIAIS


TRABALHISTAS, DA 2ª VARA DO TRABALHO EM SERGIPE, REUNIDAS ELETRONICAMENTE ENTRE
JULHO/2012 E JULHO/2014
Na segunda etapa procurou elencar todos os processos trabalhistas da 2ª Vara do Trabalho de Sergipe em
que o pleito de direitos resultou em ações periciais judiciais de nexos causais envolvendo patologias do
sistema osteomuscular (LER/DORT). Tal finalidade decorreu da necessidade em atender os objetivos pré-
estabelecidos, dentre eles a possível utilização de conhecimentos da ergonomia para auxiliar na
comprovação da existência de nexo-causal patológico-laboral da LER/DORT.
Os processos foram analisados de acordo com as informações específicas retratadas.

Tabela 1 - Lista dos principais documentos analisados que fizeram parte dos autos dos processos da 2ª
Vara do Trabalho
Documentos principais Informação retratada
Documento elaborado pelo perito judicial nomeado pelo douto julgador que contém
Laudo Médico Pericial exposição detalhada, minuciosa do que foi observado, analisado pelo perito sobre os fatos
ou circunstancias objeto da perícia.
Laudo Técnico Laudo Técnico produzido por profissional indicado pelas partes envolvidas (reclamante
produzido por e/ou reclamado) com a finalidade de pesquisar e informar sobre as questões propostas
Assistente Técnico através de provas científicas e documentais.
Manifestação sobre o Pedido de advogado das partes no tocante ao conteúdo apresentado pelo Laudo do Perito
laudo Pericial Judicial.
Prova Pericial Laudo Pericial que foi realizado para um determinado processo e agora, este mesmo laudo,
Emprestada está sendo utilizado como meio de prova em outro processo distinto.
Petição inicial
Ajuizamento de reclamação trabalhista contra empresa reclamada (ré no processo) com
produzida pelo
vistas a assegurar direitos trabalhistas diversos do reclamante previsto em legislação
advogado do
hodierna.
reclamante
Documentos principais Informação retratada
Petição apresentada pelo Perito Judicial informando data, local e hora da realização do ato 65
Agendamento da perícia
pericial.
Laudo Técnico das Documento elaborado pela reclamada (ré no processo) contendo informações técnicas
Condições Ambientais sobre enquadramentos de atividades com riscos que almejam adicional insalubre ou
do Trabalho – LTCAT periculoso
Sentença Judicial Prolação de decisão judicial apresentando suas justificativas e enquadramentos.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Uma vez autorizado pelo diretor da 2ª Vara do Trabalho, foram reunidos processos que faziam parte do
banco de dados digital interno (intranet) do sistema de acompanhamento processual conhecido por
Processo Judicial Eletrônico – PJE. A identificação dos processos de interesse (população/amostra) foi
realizada fazendo uso do termo “laudo pericial” no campo “busca por critério” disponível no sistema PJE.
Após este levantamento inicial, realizou-se uma classificação referente aos tipos de patologias do objeto
pericial. De acordo com os resultados alcançados, uma amostra composta somente por processos
envolvendo perícias judiciais em lesões osteomusculares (LER/DORT) foi analisada.
A decisão por esse escopo de pesquisa nesta etapa, assim apresentado, deu-se em consequência da Vara
do Trabalho escolhida abranger reclamações de trabalhadores da capital e dos municípios
geograficamente circunvizinhos, e assim, portanto reunir uma incidência de empresas com atividade
econômica principal (CNAE) sugestiva a existência de patologias-laborais do grupo LER/DORT.
O acesso integral aos achados da pesquisa só foi possível perante solicitação formal à diretoria da 2ª Vara
do Trabalho em Sergipe, ainda que o ambiente virtual utilizado encontrasse parcialmente disponível na
internet a qualquer cidadão. O pedido de autorização de acesso às informações detalhadas dos processos
junto ao Tribunal Regional do Trabalho – TRT aconteceu diante da necessidade pormenorizada de
conhecer certos documentos de cada processo mantidos na rede interna (intranet), bem como pelo
intervalo da pesquisa (julho/12 a julho/14) representar um período em que não se poderia realizar esta
varredura com facilidade na rede aberta de informações (internet).

2.3 ETAPA 3: PESQUISA POR LEGISLAÇÕES E NORMAS TÉCNICAS COM ABORDAGENS SOBRE
ERGONOMIA E LER/DORT
O desenho procedimental técnico desta fase é classificado quanto a sua natureza como pesquisa aplicada
em modalidade documental, pois retrata o estudo de normas de livre acesso com importância compulsória
ou não.
Perseguimos nesta etapa identificar legislações e/ou normas técnicas de caráter nacional e/ou
internacional que contemplassem as palavras-chave “ergonomia” e/ou “LER/DORT” em seu escopo. Para
tal propósito, foi realizada uma varredura na internet como meio de investigação através do site da
previdência social (http://www.previdencia.gov.br/) e na entidade voltada à padronização e
normatização (http://www.iso.org/iso/home.html). Esse levantamento ocorreu no mês de Julho/2014
O critério de escolha pelas fontes de pesquisa, especialmente a da Previdência Social, ocorreu pelo caráter
agregador de instruções na forma de decretos com características compulsórias, e portanto, obrigatórias e
soberanas diante de outras discussões paralelas que ocorram.
A escolha por normas técnicas da classe ISO ocorreu diante do reconhecimento mundial e no Brasil por
apresentar padrão de valor em serviços e/ou produtos. Não obstante, a implementação por empresas, das
diretrizes encontradas em suas normas representam a possibilidade de empresa chancelada via
certificado de conformidade de regras internacionais. Neste interim e mesmo não tendo um caráter
compulsório no Brasil, já que as normas foram elaboradas sem a participação direta dos órgãos
controladores, investigações foram produzidas.
Por fim, o resultado final foi a identificação de duas normativas sendo uma compulsória na forma do
Decreto nº 6.957/2009 da Previdência Social, e outra não compulsória através da norma ISO 11228-3.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 47 publicações encontradas entre o Portal CAPES e o Google Acadêmico, a mais antiga datava de 2002.
Mostrando a atualidade moderada dos dados com a perspectiva de que a temática envolvendo “laudo
pericial” e “ergonomia” sendo ainda pouco investigada.

66
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Fig. 1 – Distribuição de produções científica ao longo dos anos

Antes de 2002 não foram encontradas produções científicas pertinentes a temática aqui estudada. A partir
desse ano surgiram os primeiros estudos, sendo que entre 2002 e 2007 houve um crescimento com média
de produção de 6 artigos por ano. Tal comportamento pode ser explicado em razão da publicação do
anexo II da Normal Reguladora nº 17 do Ministério do Trabalho e Emprego em que as diretrizes
compulsórias ergonômicas apontaram a Analise Ergonômica do Trabalho (AET) como ação necessária e
obrigatória na prevenção dos riscos ergonômicos em empresas.
A partir da análise das áreas de maior interesse, observadas na figura 2, observou se clara disparidade
para os assuntos jurídicos. Deve se considerar que, havendo um maior interesse do segmento jurídico por
essa temática, o amadurecimento quanto as questões da necessidade de qualidade técnico-científica para
realização de um laudo de perícia preciso.

Fig. 2 – Distribuição das frequências da produção científica identificada por setor de atividade abordada.

As condições específicas de trabalho praticado através de gestos, posições, movimentos, esforços, tensões,
ritmo, carga de trabalho, e outros, permitem afirmar ou rejeitar possíveis prejuízos na saúde do
trabalhador (VERONESI JR, 2009). Certo disto, fomentar estudos voltados a entender, explicar, e sugerir
melhorias do cenário torna-se condição necessária para atingir o equilíbrio no pleito de direitos junto a
justiça. Tal cenário fomenta a ideia de que a ergonomia possa auxiliar a construção do pensamento diante 67
da prevenção e do nexo técnico causal envolvendo patologias (LER/DORT) e o seu meio de trabalho
ocupado. Corroborações são identificadas nos estudos que afirmam a urgência na mudança dos métodos
de análise quando diante de perícias judiciais, sugerindo uma visão ergonômica pautada na análise da
atividade desenvolvida (JUNIOR, M. et al., 2011).
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Quanto aos processos, foi identificado, incialmente, um universo populacional compreendido por 246
laudos periciais divididos em dois grupos distintos: grupo Engenharia e afins, que contava com 80% dos
trabalhos periciais, e o grupo Saúde, que concentrava apenas 20% das perícias. Foi selecionada, ainda uma
amostra do grupo da Saúde formada por 11% (vinte e oito processos) que se tratavam especificamente de
laudos periciais com escopo investigativo em doenças ocupacionais.
Das várias doenças relacionadas ao trabalho, representadas pela figura 3, a mais presente foram aquelas
pertencentes ao grupo LER/DORT, apresentando em sua grande maioria relatórios restritos quanto a ao
possível nexo causal dessas patologias.

Fig. 3 – Frequência das perícias por doenças ocupacionais abordadas

As doenças do grupo LER/DORT são tidas como mantenedoras, ao longo dos anos, do primeiro lugar entre
as doenças ocupacionais com benefícios concedidos pela Previdência Social (MONTEIRO E BERTAGNI,
2005). Estes achados corroboram com os dados extraídos do Anuário Estatístico da Previdência Social.
Eles ainda afirmam que doenças ocupacionais, incluindo LER/DORT precisam de uma boa história clínica,
porém para isso seria necessária a elaboração de um quadro dinâmico da rotina laboral praticada por esse
paciente.
Vale ressaltar, que os segmentos de transporte público (ônibus), supermercados e de construção civil
foram os que mais demandaram atos periciais judiciais, especialmente por queixas do grupo LER/DORT. É
defendido que moléstias laborais, a exemplo das geradas por esforços repetitivos (LER) tem deixado a
tempos de ser patrimônio exclusivo de digitadores, havendo incidência em diversos operários de outros
ramos de atividades, tais com os de linhas de montagem, metalúrgicos, dentre outros (MONTEIRO E
BERTAGNI, 2005).
A Figura 4 apresenta as conclusões a que se chegaram vinte e oito processos periciais em LER/DORT sob
os olhares metodológicos investigativos adotados pelo corpo pericial e quando aplicado o Decreto nº
6.957/09. As contribuições das informações para a pesquisa revelam um ganho significativo na ordem de
46% quando aplicado o Decreto 6.957/09 nas perícias judiciais. Esses resultados apontam para um
aumento três vezes maior no reconhecimento de nexo causal quando utilizado o decreto em comparação
as metodologias tradicionais normalmente utilizadas pelo corpo pericial. Disto depreende-se a
necessidade em aperfeiçoar os caminhos periciais adotados para fins de reconhecimento de nexo causal.
Esse aumento significativo no reconhecimento do nexo causal pode ser atribuído a base científica da
epidemiologia em o Decreto 6.957/09 foi construído, e assim justificando a possibilidade de ser utilizada
como recurso auxiliar em investigações futuras.

68
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Fig. 4 – desfecho dos laudos periciais de LER/DORT na ótica pericial utilizando o Decreto 6957/09

Entre todos os peritos nomeados para atuar em processos judiciais de LER/DORT 50% (catorze processos
periciais) eram peritos com formação na área médica, como mostrado na figura 5, dos quais um mesmo
perito atuou em 46% (treze processos periciais) em perícias de nexo causal do grupo de patologias
conhecidas como LER/DORT. Em consulta realizada formalmente a Associação Brasileira de Ergonomia –
ABERGO, através do site desta mesma associação, apenas um único perito, entre os quatros nomeados,
possuía certificação pela associação. Neste aspecto torna-se importante estimular peritos judiciais a
seguirem um caminho pautado nas premissas ergonômicas defendidas pela ABERGO com fins de
fortalecer os pontos fracos num contexto de ato pericial judicial envolvendo nexos patológicos do grupo
LER/DORT
Percebe-se o caráter predominante de profissionais da área de saúde atuando como peritos judiciais nos
casos de LER/DORT, que em parte explicaria a ideia expressa da hipótese do problema da pesquisa ao não
incluir ferramentas ergonômicas nos métodos de análise investigativa. E essa não inclusão pode ser
explicada pelo possível desconhecimento da existência de ferramenta auxiliar utilizado pela ergonomia
combinado com sua metodologia de uso.
As doenças relacionadas ao trabalho devem ser constatadas mediante a adoção de olhares multicausais e
multifatoriais, especialmente as que se retratam de patologias do grupo da LER/DORT (REIS, 2005). É
apontado, ainda, que dentre os fatores de riscos já reconhecidos que envolvem este grupo de doenças
devem incluir fatores biomecânicos e psicossociais (BERNARDES; MORO; MERINO, 2010).
O predomínio de profissionais da área médica representa a confiança nos trabalhos em que o magistrado
tem depositado. A existência de orientação técnica advinda do Conselho Federal de Medicina sinaliza
abertura para que outras áreas científicas, a exemplo da ergonomia, possam se juntar e produzir sinergia
científica no estabelecimento do nexo técnico correlacionando o diagnóstico da moléstia com o trabalho.
O fato do perito não se deslocar para o ambiente de trabalho do reclamante para verificar in loco como se
executavam as atividades indica ausência de rigor quanto à metodologia pericial adotada, e que pode ser
ampliada quando não fundamentada por legislações e normas técnicas a exemplo do Decreto 6.957/09 e
da ISO 11228-3.
O conhecimento advindo da aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho é um poderoso aliado do
Médico Perito Judicial no entendimento da gênese e da evolução das patologias ocupacionais com
repercussões no nexo causal (BERNARDES; MORO; MERINO, 2010).
A necessidade de formação profissional pautada na ergonomia não surge apenas como condição
imprescindível. O profissional perito que atue em perícias judiciais deve adquirir conhecimentos relativos
a legislações e a matéria processual jurídica visto que a sua ausência pode fragilizar seus estudos
(BERNARDES, JÚNIOR, 2011).

69
4 CONCLUSÃO
Um processo judicial investigativo de nexo causal referente a uma doença laboral não significa uma tarefa
simples a ser cumprida. O profissional perito que se propõe a praticá-lo deverá estar ciente de uma série
de requisitos necessários e obrigatórios de caráter técnico, processual, legal, e normativo, de modo que
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

possa emitir laudo conclusivo o mais próximo possível da realidade enfrentada pelo trabalhador e livre de
vícios ou possibilidades de impugnações.
Levando-se em consideração o valor numérico de 42% de casos notificados segundo estratificação no ano
de 2013 sobre doenças do grupo LER/DORT reconhecidos pela Previdência Social e referenciada como
base o teor do Decreto 6.957/09, estima-se que em situações análogas, utilizando-se das ferramentas
sugeridas pela norma ISO 11228-3 combinada com este decreto, a estatística seria significativamente
maior uma vez que os casos onde o estudo epidemiológico (utilizado pelo decreto) tenha sido pouco
conclusivo para nexo causal, as considerações das ferramentas ergonômicas da norma ISO 11228-3
auxiliariam como argumento técnico-científico de valor probante e assim reforçando os enquadramentos
periciais produzidos. Como consequência um aumento do número de casos na justiça trabalhista poderia
fomentar nova inclusão de profissionais peritos judiciais devidamente preparados.
Ao simular o uso do Decreto 6.957/09 aos processos periciais envolvendo doenças do grupo LER/DORT
triplicou-se o número de processos com reconhecimentos de nexo causal em comparação a conclusão
inicial manifestada pelo corpo pericial. Tal acontecido atribui-se ao uso dos conhecimentos advindos da
epidemiologia utilizada para validar a construção das informações presentes no decreto. Neste sentido,
possibilidades técnicas reais do decreto vir a ser considerado no futuro como recurso auxiliar nos
enquadramentos praticados pelo corpo pericial em perícias de LER/DORT.
Esses resultados sugerem o estímulo a novos estudos no tocante a avaliações de impactos na sociedade e
ao trabalhador pela introdução de mecanismo auxiliar no enquadramento metodológico praticado por
peritos em processos judiciais de LER/DORT.
Como evidenciado houve predomínio de nomeação de peritos com formação na área de medicina
totalizando 50% de todo espaço amostral analisado.
Destaque-se a condição de ausência de aplicação de algum modelo ferramental de avaliação ergonômica
nas práticas periciais, ainda que tenha sido observada em 50% dos processos uma abordagem com foco
humano/sistema.
Acreditamos que a proposta de utilização da norma internacional ISO 11228-3 e do Decreto 6.957/09
como parte integrante do fio condutor do nexo causal não tem a pretensão em minimizar os atuais
problemas identificados pela falta de especialização dos peritos judiciais na área de ergonomia.
Importante é mencionarmos que se os profissionais peritos judiciais fossem assessorados por
profissionais ergonomistas certificados pela ABERGO, dada a existência voluntária e atual de uma lacuna
entre esta associação e peritos judiciais, não enfrentariam as dificuldades e fragilidades de seus atos
periciais e assim evitariam uma impugnação do resultado de seus trabalhos.
De fato, a mera utilização de métodos investigativos pautados em aspectos clínicos, cinesiológicos e
biomecânicos, entre outros aspectos, não são garantias suficientes para emitir um nexo causal livre de
vícios ou imprecisões envolvendo patologias do grupo LER/DORT. Faz-se necessário inserir no escopo
metodológico pericial visitas imprescindíveis ao ambiente laboral do trabalhador com consequente uso de
ferramentas ergonômicas consagradas cientificamente de modo a melhor retratar a situação vivenciada
pelo trabalhador.
Tendo em vista a patologia estudada, LER/DORT, ser uma doença de origem multicausal, de difícil
identificação, e exame pericial de natureza complexa, que abrange mais de uma área de conhecimento
especializado (Medicina, Fisioterapia, Ergonomia, Educação Física) propõe-se, ainda, que a perícia seja
realizada por mais de um profissional das áreas correlatas à matéria, com fulcro no art. 431-B do CPC.
Vale salientar que, caso fosse aplicado o Decreto 6.957/09 aos processos estudados, mais da metade
(54%) dos laudos periciais envolvendo patologias do grupo LER/DORT não teriam suas conclusões
confirmadas, demonstrando que sua utilização sugere reflexões pelo corpo pericial, e assim então,
conferindo a este um importante valor como recurso de auxílio dada a base científica pautada na
epidemiologia em que o decreto se baseia. Dessa forma, torna-se importante, para minimização das
fraquezas do laudo pericial, que novas avaliações quanto a atual forma de certificação acreditada pela
ABERGO sejam produzidas sob um olhar pautado nas necessidades de qualificação profissional real a que
70
o corpo pericial necessita.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

REFERÊNCIAS
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Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

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8bb30018af6f41d3%26groupId%3D10136&ei=5wdjU_szzpPIBNXggbgD&usg=AFQjCNES8-
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72
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Capítulo 8
Vibração e ruído em um trator agrícola submetido a
diferentes superfícies de rolamento
Patrícia Adriana Marques de Andrade
Vinícius Paludo
Jefferson Sandi
Murilo Battistuzzi Martins
João Eduardo Guarnetti dos Santos

Resumo: O trabalho teve por objetivo medir e avaliar vibração e ruído em um trator com
e sem implemento deslocando-se em três diferentes superfícies de rolamento. Utilizou-
se um trator agrícola 4X2 com tração dianteira auxiliar (TDA) de 197 cv (144,8 kW), os
dados de vibração foram obtidos por um registrador e medidor de vibração HVM 100,
conectado a um sensor de aceleração piezelétrico de três eixos (X, Y e Z) e o ruído na
cabine do trator foi obtido utilizando um decibelímetro. O ruído máximo interno da
cabine permite que o operador desempenhe uma jornada de trabalho de 8 horas.
Somente foram geradas condições insalubres na pista padronizada de ensaio de vibração
independentemente da presença de implemento acoplado ao sistema de três pontos do
trator.

73
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

1 INTRODUÇÃO
Trabalhadores rurais são expostos a vários riscos ocupacionais durante sua jornada de trabalho, como os
mecânicos (decorrentes do manuseio de máquinas), físicos (radiação solar, frio, calor e o ruído), químicos
(poeira, fuligem, gases e agroquímicos), biológicos (animais peçonhentos e microrganismos), além dos
relacionados a organização do trabalho (ROSEIRO, TAKAVANAGUI, 2004; BRAUNBECK et al., 2012).De
acordo com Tosin (2009), com o aumento da utilização de máquinas agrícolas as condições de segurança
do operador não tiveram devida correspondência, de forma que o condutor do trator se torna um dos
profissionais mais expostos a fatores insalubres.
Os parâmetros ergonômicos em máquinas agrícolas não se restringem somente a disposição dos
comandos, o posicionamento e características do assento, espaço interna da cabine, presença de sistema
de ventilação, etc; quando se refere à avaliação de parâmetros ergonômicos incluem-se na avaliação
também os agentes insalubres como ruído e vibração que são produzidos pela máquina (DOIMO 2015).
Mesmo com a grande importância do setor agrícola no Brasil, parte dos tratores produzidos no país não
são projetados para fornecer uma adequada relação homem-máquina (conforto, segurança, facilidade de
acessos, disposição de comandos, etc), sendo a concepção do projeto voltada para a otimização dos
parâmetros operacionais e desempenho, resultando em máquinas que expõem o operador às condições
climáticas, ao ruído e a vibração (SANTOS et al. 2014). Dessa forma, embora no Brasil exista a
obrigatoriedade quanto ao seguimento das NRs e NBRs na inspeção de máquinas, nem sempre as mesmas
são seguidas da forma exigida, resultando na reduçãoda qualidade ocupacional dos operadores das
máquinas (Baesso et al. 2015).
As máquinas agrícolas, durante seu funcionamento, geram vibrações mecânicas que são transmitidas por
toda a sua estrutura e para o ambiente que a rodeia. Quando estas ocorrem em níveis indesejados e por
períodos de exposição mais longos que o suportável, podem causar problemas de saúde aos indivíduos
expostos às mesmas (SANDI 2015).
Para Lanças et al. (2009), as vibrações estão diretamente ligadas ao afastamento por doença do trabalho
no país. Estas vibrações ocasionam grande desconforto e aumentam a fadiga do trabalhador, podendo-se
classificar as mesmas de acordo com a região do corpo atingida em: vibrações de corpo inteiro, comuns em
atividades de transporte, tais como caminhão, trator, empilhadeira, ônibus, etc., e vibrações de
extremidades que afetam principalmente mãos e braços.
As vibrações mecânicas originadas tanto no funcionamento da máquina quanto pela rugosidade da
superfície de deslocamento se tornam problemáticas quando a frequência de partes do corpo humano
(por exemplo, o tronco vibra a uma frequência de 4 a 8 Hz), acaba se aproximando a do trator (1-7 Hz), o
que pode elevar as chances de problemas de saúde no operador (ZEHSAZ et al., 2011).
Dessa forma, são necessários que estudos sejam realizados constantemente no intuito de quantificá-las,
para que, se necessário, possam ocorrer adaptações dos maquinários ou legislações. (SILVA, MIRANDA e
VIANA 2015).
Por sua vez, o som é definido como variação da pressão atmosférica dentro dos limites de amplitude e
banda de frequências. No entanto, não são todas as flutuações de pressão que produzem a sensação de
audição quando atingem o ouvido humano (GERGES, 2000).
O ouvido humano suporta até 85dB por volta de 8 horas exposto ao ruído sem qualquer desconforto, mas
ao colocarmos o ouvido a ruídos que ultrapassam a máxima exposição diária permissível, a faixa audível
de um ser humano pode sofrer perda em um determinado prazo e muitas vezes essas perdas acabam
sendo irreparáveis. Porém, o ruído é o agente físico insalubre presente em mais de 90% das atividades
laborativas existentes. Na operação de um trator é o principal risco ao qual o operador está exposto
(TOSIN, 2009).
Para ABRAHÃO et al. (2009) algumas situações produzem níveis elevados de ruídos provocando vários
efeitos negativos não somente para a saúde das pessoas, mas também para o desempenho do trabalhador.
Dessa forma, sendo o trator uma máquina que durante seu funcionamento apresenta altos valores de
74
ruído e vibrações mecânicas devido as suas características construtivas e condições encontradas no local
de construção, este trabalho teve como objetivo medir e avaliar estes dois fatores em um trator com e sem
implemento deslocando-se em três diferentes superfícies de rolamento.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

2 MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi realizado na Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, Campus de Botucatu – SP (22°51’S e 48°25’W), a uma altitude de 760 metros.
O experimento foi realizado por meio de operações executadas em três diferentes superfícies, sendo uma
pista de vibração normatizada, construída em madeira em acordo com a norma ISO 5008 (2002). Os
degraus foram dispostos ao longo dos dois trechos de deslocamento obedecendo aos critérios
estabelecidos pela norma, uma pista de concreto com 200 metros de comprimento e 4 metros de largura
construída segundo a Norma OECDCode 2 (2008), totalizando 800 m² de área útil e declividade de 1% no
sentido do comprimento, e uma pista de solo mobilizado com 400 metros de comprimento e 20 metros de
largura totalizando 8.000 m² de área e declividade de 1% no sentido do comprimento. O solo da pista foi
classificado segundo a Embrapa (1999), como Nitossolo Vermelho Distroférrico com relevo plano e
textura argilosa.
Foi utilizado um trator agrícola 4X2 com tração dianteira auxiliar (TDA) de 197 cv (144,8 kW), equipado
com cabine modelo padrão dotada de sistema de amortecimento oferecida pelo fabricante. Foram
utilizados pneus traseiros 30.5L/32 LS-2 com pressão de inflação de 41,37 kPa e pneus dianteiros 420/85-
82 com pressão de inflação de 55, 16 kPa.
Também foi empregado um distribuidor de fertilizantes a lanço com acoplagem pelo sistema de três
pontos do trator da marca SEMBRA modelo 1300 PAH com capacidade de carga para 1800 quilos, o qual
era acionado pela tomada de potência (TPD) do trator agrícola.
Para obtenção dos dados de vibração utilizou-se um registrador e medidor de vibração HVM 100 da marca
Larson Davis, conectado a um sensor de aceleração piezelétrico de três eixos (X, Y e Z) modelo SEN027-
CBL devidamente calibrado. A medição da vibração foi realizada utilizando-se o registrador e medidor de
vibração modelo HVM-100 para levantamento dos valores de aceleração de corpo inteiro. O acelerômetro
foi fixado sobre o assento do operador de acordo com a NHO 09 (eixo x – frente/trás; eixo y –
direita/esquerda; e eixo z – para cima/para baixo). Para evitar a movimentação do disco, este foi fixado ao
assento por meio de fita adesiva. O aparelho coletor dos dados de vibração foi ajustado de modo a coletar
os parâmetros referentes à vibração no corpo todo, presentes nos três eixos e o intervalo de aquisição dos
dados. Foram obtidos os valores de valor da dose de vibração (VDV) e projeção de dose para 8 horas (A8).
O valor da dose de vibração é obtido a partir do método de dose de vibração à quarta potência
determinada na direção “i”, onde “i” corresponde aos eixos ortogonais “x”, “y” ou “z”, expresso em m s-1,75
(Equação 1). Nas normas internacionais adota-se o valor dose de vibração como sendo o maior valor de
dose de vibração obtido entre os três eixos ortogonais, enquanto a Norma NHO 09 (2013) obtém este
valor através do conceito de valor dose resultante (VDVR).

4 𝑡
𝑉𝐷𝑉: √∫0 [𝑎𝑗(𝑡)]4 𝑑𝑡 = [𝑚 𝑠 − 1,75][Eq. 01]

Onde:
aj(t) = aceleração instantânea ponderada em frequência; t = tempo de duração da medição.

A projeção A(8), é um método de avaliação que gera um valor médio de vibração ajustado para
representar a dose de uma jornada de trabalho de oito horas, pois no banco do operador os valores se
mantem de forma relativamente estável durante este período (SCARLETT et al., 2007). A projeção A(8) é
dada pela Equação 2.

𝑡
𝐴(8): 𝑎𝑝√ [Eq. 02]
𝑡0 75

Onde:
ap= é a aceleração ponderada, combinada nos três eixos, equivalente em m s-2; t0= é uma duração de
referência de 8 horas.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Conjuntamente com a aquisição de dados de vibração em corpo inteiro, foi avaliado o nível de ruído na
cabine do trator, sendo utilizado um decibelímetro de medição de nível sonoro, digital e portátil da marca
INSTRUTHERM – modelo DEC 300 com escala de 40 a 130dB, o qual foi configurado para coletar os dados
na faixa A no modo rápido, posicionado ao lado do operador, onde foi registrado o valor de máximo e
mínimo do ruído do trator agrícola dentro da cabine.
Para todos os tratamentos foi utilizada a mesma velocidade de deslocamento através da fixação de uma
rotação do motor e marcha de trabalho. A velocidade média de deslocamento foi obtida através da
Equação 1.

𝑣 = 𝑑. 𝑡 − 1[Eq.03]

Onde:
v = velocidade de deslocamento (m s-1); d = distância percorrida pelo conjunto (m); t = tempo de
deslocamento (s).

Para avaliação do nível de insalubridade vibracional utilizou-se os parâmetros estabelecidos na Norma de


Higiene Ocupacional NHO09 (Tabela 1), e para a insalubridade causada pelo ruído foi empregada à tabela
disponibilizada pela Norma Regulamentadora NR15 (Tabela 2).

Tabela 1. Critério de julgamento e tomada de decisão para exposição vibracional de corpo inteiro.
aren VDVR
Consideração Técnica Atuação Recomendada
(m s-2) (m s-1,75)
No mínimo manutenção da condição
0 a 0,5 0 a 9,1 Aceitável.
existente.
No mínimo adoção de medidas
> 0,5 a < 0,9 > 9,1 a < 16,4 Acima do nível de ação.
preventivas.
Adoção de medidas preventivas e
0,9 a 1,1 16,4 a 21 Região de incerteza. corretivas visando à redução da exposição
diária.
Acima de 1,1 Acima de 21 Acima do limite de exposição. Adoção imediata de medidas corretivas.
Fonte: Norma de Higiene Ocupacional 09 – NHO 09 (2013).

Tabela 2. Máxima exposição diária em relação ao nível de ruídos sem proteção auricular.
Nível de ruídos dB Máxima exposição diária Nível de ruídos dB Máxima exposição diária
(A) permissível (A) permissível
85 8 horas 98 1 hora e 15 minutos
86 7 horas 100 1 hora
87 6 horas 102 45 minutos
88 5 horas 104 35 minutos
89 4 horas e 30 minutos 105 30 minutos
90 4 horas 106 25 minutos
91 3 horas e 30 minutos 108 20 minutos
92 3 horas 110 15 minutos
93 2 horas e 40 minutos 112 10 minutos
94 2 horas e 15 minutos 114 8 minutos
95 2 horas 115 7 minutos
96 1 hora e 45 minutos 76
Fonte: Norma Regulamentadora (NR 15) - Atividades e operações Insalubres, 1978.

Os tratamentos consistiram no emprego de 3 pistas de ensaios pela presença/ ausência de implemento


acoplado ao trator, totalizando 6 tratamentos. Foram coletadas 3 repetições por tratamento, gerando um
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

total de 18 unidades amostrais. Os dados coletados foram analisados através do teste de separação de
médias de teste de Tukey (p>0,05) com auxílio do software Sisvar 5.3 (Build 77).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ruído interno máximo medido com a cabine do trator fechada durante os ensaios sofreu influência tanto
do tipo de superfície de deslocamento quanto da presença/ausência do implemento (Tabela 3). Os
maiores valores foram encontrados no tratamento sem implemento em deslocamento sobre pista de
concreto (sendo este o tratamento com maior ruído entre todos), e no tratamento com implemento em
deslocamento sobre a pista padronizada para ensaio de vibração.

Tabela 3. Ruídos máximos internos (dB) obtidos com o trator operando com e sem implemento em três
condições superficiais distintas.
Superfície
Implemento Concreto Solo Mobilizado Pista de Vibração
Sem 83,93 Aa 76,93 Ab 77,86 Ab
Com 76,63 Bb 76,43 Ab 79,43 Aa
F de Implemento 12,04**
F de Pista 12,09**
F de Implemento x Pista 20,27**
CV (%) 1,61
DMS Linha 2,75
DMS Coluna 2,25
Médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si na coluna e mesma letra minúscula não diferem entre
si na linha pelo teste Tukey (p≤0,05). ns: não significativo pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade. * Significativo
pelo teste F ao nível 5% de probabilidade. ** Significativo pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade.

Quando os valores de ruídos ultrapassam a máxima exposição diária permissível, muitas vezes é
necessário verificar as medidas de controle de ruído, podendo ser consideradas basicamente três: na
fonte, na trajetória e no trabalhador. Se as medidas de controle na fonte e na trajetória não foram possíveis
ou quando elas não foram suficientes, é indicada a utilização de EPI (Equipamento de Proteção Individual),
ou controlar o limite de tempo de exposição do trabalhador, através de rodízio de funcionários nas
atividades.
Em todas as situações avaliadas os valores de ruído máximo não ultrapassaram o limite de 85 dB
estabelecido pela NR15, permitindo que o operador possa trabalhar em jornada de 8 horas diárias nas
condições ensaiadas com a cabine fechada. Baesso et al. (2015), também obteve valores de ruído interno
abaixo de 85 dB para tratores com cabine original de fábrica, atribuindo estes valores ao bom projeto e
construção deste componente.
Apesar da eficiência da cabine em isolar o operador dos ruídos externos, é importante que o mesmo tenha
seus EPIs disponíveis, pois segundo Pimenta Junior et al. (2012), independente do ambiente onde será
realizada a operação com trator agrícola, é imprescindível que qualquer trabalhador, seja ele o operador
ou funcionário auxiliar, para desempenhar atividades fora da cabine a menos de cinco metros em relação à
posição central do trator deve fazer uso de EPI.
Os resultados de valor de dose de vibração encontrados para a pista padronizada de ensaio de vibração
indicam que para operar neste cenário seriam necessários cuidados e medidas para redução da vibração
incidente sobre o operador (Tabela 4). Nas demais pistas, os valores encontrados se encontram abaixo do
nível de ação, indicando que o operador pode realizar jornadas diárias de 8 horas de trabalho nas quatro
condições de operação (nas duas pistas com ou sem implemento). A cooperação benéfica do implemento
na atenuação dos valores de vibração é observada quando o trator se desloca sobre as pistas com
superfícies irregulares.
77
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Tabela 4. Valores de dose de vibração (m s-1,75) obtidos com o trator operando com e sem implemento
em três condições superficiais distintas.
Superfície
Implemento Concreto Solo Mobilizado Pista de Vibração
Sem 1,27 Ac 2,93 Ab 10,63 Aa
Com 1,20 Ac 2,20 Bb 9,67 Ba
F de Implemento 112,36**
F de Pista 9993,00**
F de Implemento x Pista 23,56**
CV (%) 2,53
DMS Linha 0,257
DMS Coluna 0,209
Médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si na coluna e mesma letra minúscula não diferem entre
si na linha pelo teste Tukey (p≤0,05). ns: não significativo pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade. * Significativo
pelo teste F ao nível 5% de probabilidade. ** Significativo pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade.

O VDV representa a exposição cumulativa da exposição a vibração em um dia de trabalho, sendo mais
indicado para avaliação do efeito da vibração sobre o corp humano em jornadas maiores que 8 horas por
representar de forma mais adequada os solavancos e choques que ocorrem durante o trabalho (SCARLETT
et al., 2007).
Apenas a pista de vibração gerou uma condição de insalubridade, pois gerou valores que ficaram acima do
nível de ação (9,1 m s-1,75) e abaixo da região de incerteza (16,4 m s-1,75), devendo-se assim adotar um
conjunto de medidas preventivas para amenizar os efeitos da vibração sobre o operador como redução da
velocidade de trabalho, verificação da correta regulagem e posição do assento para operador, evitar
sempre que possível superfícies muito irregulares e adoção da correta condição operacional da máquina
para cada situação de trabalho.
Segundo Balbinot (2001), quando o valor de 8,5 m s-1,75é excedido existe a possibilidade de desconforto
médio, pois segundo o mesmo, este parâmetro de avaliação indica a severidade da exposição à vibração;
porém, não existe um consenso na comunidade científica da relação precisa entre VDV e o risco de
ferimentos a que o corpo humano pode sofrer, sendo que durante o desempenho da atividade a campo
valores de VDVs em torno de 15 m s-1,75 usualmente podem ocorrer em superfíciesmuito acidentadas,
causando severo desconforto, dores e ferimentos.
Para a projeção de 8 horas de trabalho os resultados encontrados repetem o cenário encontrado para o
valor de dose de vibração, com a pista padronizada de ensaios de vibração apresentando as condições
mais insalubres para o operador e o implemento acoplado ao trator auxiliando na amenização desta
insalubridade (Tabela 5).

Tabela 5. Valores de projeção para jornada de 8 horas (m s-2) obtidos com o trator operando com e sem
implemento em três condições superficiais distintas.
Superfície
Implemento Concreto Solo Mobilizado Pista de Vibração
Sem 0,103 Ac 0,236 Ab 0,847 Aa
Com 0,089 Ac 0,157 Bb 0,731 Ba
F de Implemento 303,64**
F de Pista 11624,29**
F de Implemento de Pista 55,66
CV(%) 2,36
DMS Linha 0,018
DMS Coluna 0,015
Médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si na coluna e mesma letra minúscula não diferem entre
si na linha pelo teste Tukey (p≤0,05). ns: não significativo pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade. * Significativo
78
pelo teste F ao nível 5% de probabilidade. ** Significativo pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade.
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

Apenas os valores encontrados na pista padronizada de ensaio de vibração ficaram acima do nível de ação
(faixa entre 0,5 e 0,9 m s-2), o que implica na necessidade de intervenções com caráter preventivo para
evitar possíveis lesões e problemas de saúde aos operadores, como adoção de menores velocidades de
operação, treinamento e conscientização dos operadores sobre a importância da adoção de boas práticas
de trabalho e da seleção correta das regulagens da máquina e implemento para operação.
Conhecer a ocorrência de condições insalubres geradas durante o desempenho das atividades agrícolas é
importante para preservar a saúde do operador. Santos Filho et al. (2003), em experimento utilizando
diferentes marchas para deslocamento do trator durante operação de gradagem sobre solo arado,
obtiveram valores de aceleração ponderada global bem acima dos limites determinados para uma
exposição de 4 horas de trabalho, de acordo com a Norma ISO 2631 (1997). Cunha et al. (2009), obtiveram
resultados onde o limite para oito horas diárias de trabalho foi excedido, sendo que as piores situações
ocorreram com as maiores acelerações ocorrendo no sentido de deslocamento do trator a medida que a
rotação do motor foi aumentada.
Marsili et al. (2002), demostraram que a adoção de sistemas de suspensão pode permitir um incremento
superior a 50% no tempo de exposição do operador ao trabalho. Lanças (2009) indica que, somente em
condições específicas de operação com tratores agrícolas é possível atingir as oito horas diárias de
trabalho. Segundo Tosin (2009), a vibração incidente sobre o operador está diretamente relacionada com
a velocidade de deslocamento do trator, sendo que em seu experimento apenas as velocidades médias de
1,0 m s-1 e 1,4 m s-1 permitiram uma jornada completa de 8 horas de trabalho, em pista de concreto.

4 CONCLUSÕES
O ruído máximo interno da cabine permite que o operador desempenhe uma jornada de trabalho de 8
horas.
Somente foram geradas condições insalubres na pista padronizada de ensaio de vibração
independentemente da presença de implemento acoplado ao sistema de três pontos do trator.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ pela oportunidade de aquisição dos equipamentos utilizados no ensaio, acelerômetro modelo
HVM-100 e decibelímetro modelo DEC-300. A CAPES pelas bolsas concedidas aos alunos de pós-graduação
autores deste trabalho.

REFERÊNCIAS
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ISSN: 0022-4898.

80
AUTORES
ALEXANDRE MÁRCIO TOLEDO
Doutor em Engenharia Civil pela UFSC (2006), mestre em Arquitetura pela UFRGS (2001),
especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UFPB (1993) e graduado em
Arquitetura e Urbanismo pela UFAL (1985). Atualmente é professor associado 3 da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, na qual leciona disciplinas de
Projeto de Arquitetura, no curso de Arquitetura e Urbanismo e no Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU/UFAL). Lidera o Grupo de Estudos em Projeto de Arquitetura
(gEPA), desde 2006; coordenou os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo (1996-1998)
e graduação em Design (2011-2014) e o PPGAU/DEHA (2009). Tem experiência na área de
Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Projetos da Edificação, atuando
principalmente em tecnologia e representação, ensino e prática, teoria e crítica do projeto de
arquitetura.

ANA VERENA ALVES CALMON ALMEIDA


Fisioterapeuta formada pela Universidade Federal de Sergipe, especialização em Traumato-
ortopedia e terapia manual, formação no método Pilates, Mestranda pelo Programa de Pós
Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe.

BRENDA RASSY CARNEIRO MARADEI


AUTORES

Graduada em Administração de Empresas pela Universidade da Amazônia (2000); especialista em


Auditoria em Saúde (2004) e Administração Hospitalar (2008) pela Universidade do Estado do
Pará; mestre em Planejamento e Políticas Públicas Pela Universidade Estadual do Ceará (2009) .
Atua na docência do ensino superior a mais de 15 anos e atualmente é professora da Faculdade de
Estudos Avançados do Pará (FEAPA) e Diretora de Planejamento da Secretaria de Estado de
Planejamento (SEPAN-PA). Possui diversas publicações entre livros e artigos das áreas de
Administração pública e Gestão em saúde.

EDEILSON VICENTE FERREIRA


Graduado em enfermagem pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (19940, Pós Graduado em
enfermagem Cardiológica; Enfermagem em Saúde Mental pela - UFPE; Curso de Formação
Pedagógica em Educação na Área de Saúde: Enfermagem pela FIOCRUZ e Enfermagem do Trabalho
pela Universidade Potiguar - RN; Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira
(2010) - UNIVERSO - Pós Graduado em Direito Penal e Processual Penal; Direito Civil, Processual
Civil e Direito do Consumidor, Mestre em Terapia Intensiva - SOBRATI, Mestre e Doutor em
Ciências da Educação e Mestre em Ergonomia pela - UFPE.

EKATERINA EMMANUIL INGLESIS BARCELLOS


Doutoranda e Mestre em Design pela UNESP - FAAC/Bauru (Conceito 6 CAPES). Designer pela
FAAP/São Paulo. Especializações: MIT - Massachussets Institute of Tecnology: - Innovation of
Products and Services: MIT Approach for Design Thinking,; University of Michigan - User
Experience (UX); PUC/RIO - Gestão de Incubadoras; USP - Criação de Startups ; STUDIO
BERÇOT/Paris - Fashion Design; CIT/RHODIA - Design de Moda/Têxtil. Conduz pesquisas na área
de Inovação e Processos Inovadores por meio do Design. Pesquisadora Bolsista FAPESP e Membro
do Conselho de C&T&I da cidade de Bauru, por notável conhecimento. Atua como Palestrante e
Consultora na área de Design. Foi Docente da FASM - Faculdade Santa Marcelina e do SENAC e
Palestrante do SENAC MODA INFORMAÇÃO (2004-2009).
FRANCISCO AMORIM DE BARROS
Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Atualmente é
enfermeiro do Hospital das Clínicas - UFPE e Enfermeiro da Classificação de Risco do Hospital da
Restauração-SES/PE. Possui Mestrado em Ergonomia pela Universidade Federal de Pernambuco -
UFPE. Residência em Terapia Intensiva pelo Hospital da Restauração e Pós Graduação em
Auditoria de Serviços Hospitalares pela Universidade Castelo Branco. Atua também como
preceptor das Residências de Enfermagem e Multiprofissional em Saúde da Secretaria Estadual de
Saúde e do Departamento de Enfermagem da UFPE/Hospital das Clínicas-UFPE.

GABRIELLA MARIA DE BRITO FARIAS


Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco, Especialista em
Enfermagem do Trabalho pelo Instituto de Ensino Superior Santa Cecília - AL, Mestre em
Ergonomia pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente, é Enfermeira da Unidade de
Gestão de Riscos Assistenciais do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.

GALDENORO BOTURA JUNIOR


Professor Livre-Docente e Doutor na área de Engenharia Elétrica do Curso de Engenharia de
Controle e Automação do Campus de Sorocaba/UNESP e do Programa de Pós-Graduação em
Design/FAAC/UNESP,. Mais de 150 artigos e trabalhos científicos publicados em Revistas
AUTORES

nacionais, internacionais, Congressos nacionais e internacionais, e Livros. Atua na área de Inovação


Tecnológica e sua interação com o Design, Projeto de Circuitos Eletrônicos Integrados Analógicos e
Digitais, Instrumentação Virtual e Inteligência Artificial/Lógica Fuzzy. Página pessoal:

GEANE RODRIGUES CHAVES


Possui Graduação em Enfermagem pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (1994), Pós
Graduação em Gestão de Serviços de Saúde (UFPE), Terapia Intensiva (FACINTER) e Enfermagem
do Trabalho (UFPE), Mestre em Ergonomia pela UFPE. Coordenadora da Pós Graduação Lato Sensu
em Urgência e Emergência do Ide Cursos Reconhecido pela Faculdade Redentor. Atualmente é
Enfermeira Coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do hospital de Pediatria Maria Cravo Gama
(Prefeitura do Recife) e Enfermeira da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital
das Clínicas.

JANAÍNA VANESSA LAURINDO AFONSO DE LIMA


Possui graduação em Engenharia de Produção pela Faculdade Boa Viagem (2014), graduação em
Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Pernambuco (2010), especialização em
Logística pela Universidade Federal de Pernambuco (2013) e mestrado em Ergonomia pela
Universidade Federal de Pernambuco (2017). Atualmente é assistente em administração da
Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em
Administração.

JEFFERSON SANDI
Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre e Doutor pelo
Programa de Pós Graduação em Agronomia - Energia na Agricultura. Professor de Ensino Superior
no Curso de Agronomia e Coordenador da Fazenda Escola da Faculdade La Salle de Lucas do Rio
Verde. Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em Máquinas e Implementos
Agrícolas, atuando principalmente nos seguintes temas: mecanização agrícola, ensaio de máquinas
e implementos agrícolas, agricultura de precisão, manejo do solo e plantio direto.
JOÃO EDUARDO GUARNETTI DOS SANTOS
Engenheiro Agrícola pela Universidade José do Rosário Vellano, Especialização em Engenharia e
Segurança do Trabalho pela Universidade Estadual Paulista -UNESP, Mestrado e Doutorado em
Agronomia (Energia na Agricultura) pela FCA / UNESP- Campus de Botucatu
Atualmente é Professor Adjunto MS5 -Livre Docente e Livre Docente II junto ao Departamento de
Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia -FEB/UNESP - Campus de Bauru da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Engenharia
Agrícola, com ênfase em Projetos e Segurança e Ergonomia em Máquinas Agrícolas, atuando
principalmente nos seguintes temas: Ergonomia, , Design, e Projetos de máquinas.

JOÃO ROBERTO GOMES DE FARIA


Professor Associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, Bauru. Atuo nos programas de pós-graduação em Design e em Arquitetura e
Urbanismo, e no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Desenvolvo pesquisas
vinculadas ao Núcleo de Conforto Ambiental (NUCAM) nas áreas de conforto ambiental e
ergonomia no ambiente construído, mais especificamente sobre a relação entre a morfologia
espacial e microclimas urbanos e sobre metodologia para qualificação da iluminação.

KLÁUGENE GAUDÊNCIO
AUTORES

Fisioterapeuta

MARCOS ANDRÉ SANTOS GUEDES


Possui graduação em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Campina Grande
(1999) e mestrado em Ergonomia pela Universidade Federal de Pernambuco (2015). Consultor na
norma OHSAS 18001, Consultor de Engenharia de Segurança do Trabalho, Expert Forense em Eng.
de seg. do trabalho, professor do Instituto Federal de Sergipe, Engenheiro de Segurança do
Trabalho da Universidade Federal de Sergipe. Tem experiência na área de Engenharia com ênfase
em Engenharia de Segurança do Trabalho e Ergonomia.

MARIA GORETTI FERNANDES


Doutora em Ciências da Saúde pela UFRN. Professora adjunta da Universidade Federal de Sergipe.

MARIANA SANTOS BARBOSA


Graduada em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Alagoas (2011-2016) e
especialista em Arquitetura de Sistemas de Saúde pela Universidade Católica de Brasília (2016-
2018). Arquiteta autônoma com trabalhos realizados nos setores residenciais, serviços de saúde e
comerciais. Tem interesse nas áreas de concepção e acompanhamento de projetos arquitetônicos,
acessibilidade, edifícios verticais e arquitetura hospitalar.

MARLUCE SANTOS
Fisioterapeuta. Pós-graduada em Fisioterapia Hospitalar pela Faculdade Redentor/RJ.

MURILO BATTISTUZZI MARTINS


Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP -
Campus de Botucatu, Mestre e Doutor em agronomia pela mesma instituição. Atualmente é
Professor do curso de graduação em Agronomia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul -
UEMS, em Cassilândia (MS). Possui experiência na área de agronomia com ênfase em mecanização
agrícola, manejo de solo, ensaio de máquinas, ergonomia de máquinas agrícolas, relação máquinas-
solo e agricultura de precisão.
PATRÍCIA ADRIANA MARQUES DE ANDRADE
Mestre em Energia na Agricultura pela Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu - UNESP.
Engenheira de Segurança do Trabalho formada pela Faculdade de Engenharia de Bauru - UNESP
(2015). Arquiteta e Urbanista formada pela Universidade Sagrado Coração (2012). Aluna em nível
de Iniciação Científica na área de Projetos na mesma instituição. Tem experiência na área de
Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em acompanhamento de obras, desenvolvimento de projetos
e layouts, desenvolvimento de interiores (paginação) e desenvolvimento de plantas. Tem
experiência na área de Engenharia de Segurança, com ênfase em ergonomia atuando em riscos
físicos.

PAULA DANIELLE DE AZEVEDO ARAÚJO


Graduada em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (2008), com especialização em
Estratégia de Saúde da Família (2010) pela Universidade Salgado Filho, e mestre em Ergonomia
pela Universidade Federal de Pernambuco. Atua como enfermeira assistencial no Ambulatório de
Oncologia do Hospital das Clínicas de Pernamuco (HC-UFPE) desde 2010.

RODRIGO CANTO MOREIRA


Graduado em fisioterapia pela Universidade do Estado do Pará (2014), Gestão em Marketing
(2008) e Gestão em Recursos Humanos (2012) pela Universidade Paulista. Pós-graduado em nível
AUTORES

de MBA em Gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (2011), Gestão em Saúde pela
Universidade Federal do Pará (2016), Fisioterapia do trabalho e ergonomia (2017) e Fisioterapia
em Neurologia Adulto (2019). Mestre em Neurociência e Comportamento pela Universidade
Federal do Pará (2017). Atuou no Departamento Financeiro da Secretaria Municipal de Saúde de
Belém (2014-2015) e como docente do Instituto Tecnológico e Ambiental da Amazônia (ITAM) e
Universidade Federal do Pará no programa PARFOR-EF. Atualmente é professor da Faculdade
Paraense de Ensino (FAPEN), da Faculdade Panamazônica (FAPAN) e professor coordenador do
curso de pós-graduação em fisioterapia traumato-ortopédica e desportiva da Faculdade
Metropolitana de Marabá (METROPOLITANA). Atua como fisioterapeuta do trabalho junto ao
Serviço Social da Indústria - Superintendência Regional do Estado do Pará (SESI-PA) da capital e
interior do Estado.

ROSANA GONÇALES OLIVEIRA ROCHA


Possui graduação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998) e
especialização em Gestão Empresarial pela Instituição Toledo de Ensino (ITE - 2005). Mestrado em
Ergonomia pelo PPG Design - Unesp - Campos Bauru. Atualmente é doutoranda em Ergonomia do
PPG Faac - Unesp - Bauru/SP e Diretora de Comunicação Digital na empresa 2 Design,
Comunicação e Branding.

VANESSA COÊLHO
Fisioterapeuta. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Pernambuco.

VILMA VILLAROUCO
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (1983),
especialização em Engenharia de Transportes pela Universidade de Pernambuco - POLI/UPE
(1988), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba (1997),
doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001) e
Estágio Pós Doutoral em Engenharia e Gestão do Conhecimento na Universidade Federal de Santa
Catarina (2011/2012). Aposentada como professora Titular na UFPE (2019), permanece nos
Programas de Pós Graduação em Design e no de Ergonomia, coordenando o Laboratório
ErgoAmbiente. Atualmente é professor/pesquisador Visitante na Universidade Federal do Ceará,
no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Design. É professor/pesquisador
atuante no grupo de pesquisa em Ergonomia Aplicada ao Ambiente Construído-CNPQ, do qual é
líder. Tem experiência nas áreas de ergonomia, com ênfase na sua aplicação ao ambiente
construído, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos dos ambientes para pessoas
idosas, acessibilidade predial e urbana, espaços para escritório e de educação, neuroergonomia
aplicada à avaliação de ambientes e da acessibilidade.

VINÍCIUS PALUDO
Engenheiro Agrônomo pela Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal de Garça - SP. Mestre e
Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP – FCA Botucatu – SP. Experiência na área
agronômica, com ênfase em maquinas e mecanização agrícolas.
AUTORES
Ergonomia e Segurança no Trabalho em foco – Volume 2

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