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PROSÓDIA MUSICAL
PROSÓDIA MUSICAL
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................1
2. ESTRUTURA MÉTRICA ....................................................................................................1
3. TIPOS DE VERSO ............................................................................................................7
4. ESTRUTURA RÍTMICA ...................................................................................................16
5. ESTRUTURA MELÓDICA ...............................................................................................24
6. COMBINAÇÃO DOS ELEMENTOS MUSICAIS ..............................................................32
7. FONTES BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................................36
1
1. INTRODUÇÃO
2. ESTRUTURA MÉTRICA
1
Esses três pares de conceitos são muitas vezes empregados indistintamente, porém, em arte,
podem significar aspectos distintos da estrutura de uma peça de música, de um poema ou de
uma pintura, por exemplo. Podem-se diferenciar esses conceitos da seguinte maneira: uma
estrutura simétrica é aquela em que suas partes têm as mesmas proporções, como, por
2
Exemplo nº 1
exemplo, na quadratura clássica, um período de 16 compassos que é formado por duas frases
de 8 compassos possui uma estrutura simétrica: 8 + 8. Se uma dessas frases for composta por
uma estrutura do tipo ||5 + 3||, será considerada como uma frase irregular. Se ambas as frases
forem formadas da mesma forma ||5 + 3||, ocorre periodicidade em sua estrutura. Entretanto,
se a primeira frase for composta por um grupo do tipo ||5 + 3|| e a segunda for composta por
um grupo do tipo [4 + 4] não há periodicidade. Assim, obtém-se uma estrutura simétrica,
irregular e aperiódica da seguinte forma: ||5 + 3|| + ||4 + 4||; uma estrutura assimétrica, regular e
aperiódica poderia ser obtida assim: ||4 + 4|| + ||5 + 5||. Outra maneira de se obter periodicidade
em uma estrutura frásica, seria repetindo determinado elemento (p. ex.: um padrão rítmico, um
motivo melódico) em períodos regulares de tempo, mesmo que sejam realizados compassos
alternados (justaposição de compassos diferentes, na mesma frase) ou compassos irregulares
(aqueles formados por números de tempos não divisíveis por 2 ou por 3: 5/4, 7/8, 11/16).
Assim, entende-se que os princípios de simetria, regularidade e periodicidade podem ser
elaborados independentemente.
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[Escansão]
beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
c l o a c a
Exemplo nº 2
Be - ba co - ca co - la [esquema métrico]
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª [número da sílaba]
Exemplo nº 3
2
O compositor Gilberto Mendes escreveu um Moteto em Ré Menor (1967), também conhecido
pelo título Beba Coca-Cola, para coro misto a cappella, com base neste poema de Pignatari.
3
Escansão é a análise métrica do poema, com sua ordenação de sílabas tônicas e átonas.
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Exemplo nº 4
Exemplo nº 5
5
Exemplo nº 6
Exemplo nº 7
4
Note-se que o compasso ternário simples tem uma métrica ternária com divisão binária, ao
passo que o compasso binário composto tem métrica binária com divisão ternária, pois a
estrutura simples implica em divisão binária e a estrutura composta implica em divisão ternária.
6
Exemplo nº 8
5
Do ponto de vista da posição métrica de determinada frase ou estrutura melódica, considera-
se que há três tipos de início: 1. início tético, quando uma melodia inicia no tempo forte do
compasso; 2. início acéfalo, quando a linha melódica inicia após o tempo forte, isto é, quando
se elimina o tempo forte inicial; 3. início anacrúsico, quando a melodia inicia como preparação
para um tempo forte, ou seja, com anacruse. Há dois tipos de terminação: 1. terminação forte,
aquela que termina em um tempo forte; 2. terminação fraca, quando finaliza no tempo fraco ou
na parte fraca do tempo.
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3. TIPOS DE VERSO
[Escansão]
com
som
sem
som
Exemplo nº 9
[Escansão]
quebra
queima
reina
dança
6
Este poema também foi posto em música por Gilberto Mendes, em uma peça para coro misto
a cappela que tem o mesmo título do poema.
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Exemplo nº 10
[Escansão]
Na valsa
Que encanta
Teu corpo
Balança.
Exemplo nº 11
7
O termo elisão vem da fonética, onde significa a eliminação de uma vogal átona, no final de
uma palavra, que se liga ao início do vocábulo seguinte, como, por exemplo, ocorre em:
minh’alma [minha alma], copo d’água [de água], dele [de ele], daqui [de aqui], etc. Em música,
elisão é o emprego de um elemento fraseológico (uma nota, um acorde, etc.) com dupla
função, isto é, o mesmo elemento é utilizado para finalizar um segmento e para iniciar o
segmento seguinte.
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O texto “que en-can-ta”, que tem quatro sílabas escritas, possui apenas
três fonemas, quando falado: “qu’en-can-ta”. Como, na escansão poética, as
sílabas são contadas somente até a última sílaba tônica, o fonema [ta] da
palavra “encanta” não é contado no verso, que passa a ser considerado como
tendo apenas duas sílabas: “qu’en-can”.
A transcrição musical desse verso, porém, deve levar em conta todos os
fonemas da fala, pois todos têm som e devem ser cantados. Assim, para a
transcrição musical do verso “que encanta” devem-se escrever três notas (pois
possui três fonemas, mesmo que sejam contadas quatro sílabas escritas e
somente duas sílabas poéticas).
[Escansão]
ele ela
ele ela
ela ele
ele ela
alə ələ
la
le
ele ela
elela
l
l
l
Exemplo nº 12
[Escansão]
Topei um dia
Ao Deus vendado,
Que descuidado
Não tinha as setas
Na ímpia mão.
Exemplo nº 13
Exemplo nº 14
[Escansão]
Acende a lanterna
Que o boi já chegou,
Eu vou no jardim,
Apanha uma flor!
Exemplo nº 15
[Escansão]
Tu vens de longe; a pedra
suavizou seu tempo
Para entalhar-te o rosto
ensimesmado e lento
Exemplo nº 16
[Escansão]
Quem te ensinou, lavadeira
Quem te ensinou a lavar
Foi, foi, foi, lavadeira
Foi o peixinho do mar.
Exemplo nº 17
[Escansão]
Repete palavras esquivas
sublinha, pergunta, responde.
e apresenta, claras e vivas,
as intenções que o mundo esconde.
8
A análise da canção Lavadeira será apresentada posteriormente.
13
Exemplo nº 18
[Escansão]
Minha vida não foi um romance
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...
Exemplo nº 19
9
Sobre este poema de Quintana, Bruno Kiefer escreveu uma canção homônima para voz e
piano.
14
[Escansão]
Meu amigo, non poss’ eu guarnecer
sem vós, nen vós sem mi; e que será
de vós? Mais el Deus que end’ o poder á,
lhi rogu’ eu que El queira escolher
por vós, amigo, e des i por mi,
que non moirades vós, nen eu assi
Exemplo nº 20
[Escansão]
Nas horas caladas das noites d’estio
Sentado sozinho co’a face na mão,
Eu choro e soluço por que me chamava
– “Oh, filho querido do meu coração.”
Exemplo nº 21
15
[Escansão]
Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas,
Ondas em convulsões, ondas em rebeldias
Desespero do Mar, furiosa ventania,
Boca em fel dos tritões engasgada de pragas.
Exemplo nº 22
10
Hemistíquio corresponde a cada uma das metades em que um verso é dividido; a divisão é
normalmente feita através de uma cesura. Por ser comum a divisão de versos alexandrinos em
dois hemistíquios, considera-se que o verso dodecassílabo é uma justaposição de dois
hexassílabos.
16
[Escansão]
[Escansão]
Estou há muito tempo
sem notícias do mundo
Exemplo nº 23
4. ESTRUTURA RÍTMICA
Exemplo nº 24
Exemplo nº 25
20
Exemplo nº 26
11
Ocorre uma inversão tonal, pois o intervalo original era de terça maior ascendente, que é
invertido para uma terça menor descendente. Esta modificação na qualidade do intervalo
(maior/menor) deve-se à necessidade de manter a melodia no âmbito da tonalidade de Dó
Maior. Por isto, chama-se inversão tonal: para manter a melodia na mesma tonalidade.
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Retrogradação ocorre quando os elementos de uma estrutura musical são tocados de trás
para frente.
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Com tudo isso, se produz uma quebra na segunda frase que, além de
evitar um tratamento automático dos motivos, dá movimento e organicidade à
melodia para refletir a estrutura dos versos.
Na Canção para uma valsa lenta, de Bruno Kiefer sobre o poema
homônimo de Mario Quintana [cf. ex. nº 27], o ritmo ternário ascendente
(anapesto) dos versos é transcrito musicalmente para um compasso binário
simples, em que as sílabas tônicas aparecem no tempo forte, em semínimas,
enquanto as sílabas átonas estão dispostas nos tempos fracos, em colcheias.
É interessante notar como a passagem do primeiro ao segundo verso exige a
interpolação de um compasso ternário em meio á métrica predominantemente
binária.
A relação com o acompanhamento também se torna interessante, pois a
introdução instrumental aparece como uma valsa lenta com caráter de
modinha, que se transforma em um ritmo de marcha para acompanhar o canto.
Note-se como os movimentos melódicos do exemplo abaixo também refletem a
estrutura métrica do poema, com saltos ascendentes enfatizando as sílabas
tônicas13.
Exemplo nº 27
[Escansão]
Já não sei mais o tom em que devo cantar.
A natureza, quando alguém a contraria,
Vinga-se. E o antigo elo de ouro que existia,
Rompeu-se – ou se desfez no cotidiano mar.
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As relações entre a métrica dos versos e a composição melódica serão abordadas mais
detalhadamente no próximo capítulo.
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Exemplo nº 28
Exemplo nº 29
5. ESTRUTURA MELÓDICA
A melodia das duas primeiras frases da Canção para uma valsa lenta,
de Bruno Kiefer, citada anteriormente no ex. nº 27, reflete precisamente a
estrutura métrica dos versos, mesmo se forem abstraídas a disposição métrica
e a configuração rítmica da música. Isso significa que, também no nível da pura
distribuição das notas no tempo, a linha melódica está perfeitamente adaptada
ao poema de Quintana.
No ex. nº 30, abaixo, em que foram suprimidos os aspectos métricos e
rítmicos para evidenciar a estrutura puramente melódica, percebe-se que,
mesmo sem a quebra de compasso nem a diferenciação rítmica entre uma
frase e outra14, as duas frases estão claramente articuladas devido ao salto de
oitava existente entre a última nota da primeira frase e a primeira nota da
segunda frase.
Exemplo nº 30
14
Para observar a quebra de compasso binário para ternário, na passagem de uma frase à
outra, e para conferir a mudança rítmica de semínimas, no final da primeira frase, para
colcheias, no início da segunda frase, ver o exemplo nº 27.
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Exemplo nº 31
Exemplo nº 32
Exemplo nº 33
Exemplo nº 34
Exemplo nº 35
1ª frase 2ª frase
1ª semifrase 2ª semifrase 3ª semifrase 4ª semifrase
1º motivo 2º motivo 3º motivo 4º motivo 5º motivo 6º motivo 7º motivo 8º motivo
Acende a lanterna que o boi chegou eu vou no jardim a- panhá u- ma flor
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As três melodias do ex. nº 36 estão escritas em escala pentatônica.
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Exemplo nº 36
Exemplo nº 37
Exemplo nº 38
33
Exemplo nº 39
Exemplo nº 40
Exemplo nº 41
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Note-se que a frase “eis aqui este sambinha feito de uma nota só” é uma redondilha maior
com a mesma estrutura métrica que “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Isso
significa que ambas as frases poderiam ser cantadas com a mesma melodia, em se levando
em consideração apenas os aspectos relativos à prosódia.
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pronunciada estão marcadas com linhas duplas [“ ”] e suas notas indicadas por
setas.
Exemplo nº 42
Exemplo nº 43
Exemplo nº 44
indicadas por “”, no ex. nº 45], a seqüência de notas poderia ser utilizada para
cantar os versos de Bandeira. Entretanto, a linha rítmica do ex. nº 44 não
estaria plenamente adaptada aos versos do poeta pernambucano, pois as
sílabas acentuadas das palavras “adormecida” e “noite” seriam notas de
duração breve. A disposição métrica do ex. nº 42 também não estaria correta
para o texto de Bandeira, pois as sílabas tônicas do interior da frase estariam
posicionadas em partes fracas do compasso.
Exemplo nº 45
7. FONTES BIBLIOGRÁFICAS