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CORREÇÃO TEXTUAL: METODOLOGIAS UTILIZADAS POR

PROFESSORES DO ENSINO PÚBLICO – PUCPR

PINTO*, Thatiana C. da Fonseca – PUCPR


thatianafonseca@hotmail.com

RUFATTO**, César Augusto – PUCPR


ooczar@hotmail.com

Resumo
O presente artigo tem como tema a análise dos tipos de correção textual utilizados pelos
professores do Ensino Público, já que a atividade de correção é influenciada pela
subjetividade do professor. Entre esses tipos de correção textual encontram-se, conforme
Maria Tereza Serafini, a resolutiva, a classificatória e a indicativa. Para complementar essa
classificação das correções textuais, Eliane Ruiz apresenta um quarto tipo: a textual –
interativa. Para este estudo foram constatados os princípios para a correção de um texto e
posteriormente analisadas três correções textuais realizadas por três professores diferentes de
escolas públicas. Em cada correção foram identificados os procedimentos, as semelhanças e
os tipos de correção textual mais aplicados por esses professores. Duas correções foram
classificadas como resolutivas e apenas uma delas como indicativa. As correções dos
professores estavam acompanhadas de argumentos, indicações e correções confusas para os
alunos. A partir desta pesquisa, procurou-se destacar quais são os fatores que tornam um tipo
de correção textual mais freqüente que os demais e quais são as conseqüências desta ocorrente
utilização para o aprendizado e desenvolvimento do aluno. O fator cultural pode ser um dos
motivos do uso freqüente da correção resolutiva, pois o professor acaba sendo um transmissor
do aprendizado que ele recebeu. Foi possível perceber que a correção resolutiva exige menos
do professor e do aluno, já que muitos professores não se dão ao trabalho de pensar em
maneiras de instigar o aluno a desenvolver sua capacidade de reflexão, sua autonomia, a
melhoria de seu texto e a reescrevê-lo adequadamente.

Palavras-chave: Correção textual; Professores; Escola pública; Reescrita e aluno.

Introdução
O tema deste artigo são os tipos de correção textual, cujo intuito é identificar os
procedimentos de correção empregados pelos professores de uma escola pública por meio de
uma pesquisa de campo.
Esta pesquisa tem como base teórica argumentos e conceitos discutidos pelas autoras
Maria Auxiliadora Bezerra, Anne Karine de Queiroz, Mariana Queiroga Taboza, Rute Izabel
Simões Conceição e Maria Tereza Serafini.

*
Pós – graduanda em Língua Inglesa: Metodologia de Ensino e Tradução pela PUCPR. Graduada em Letras
Português – Inglês pela PUCPR.
**
Graduado em Letras Português – Inglês pela PUCPR.
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Tais fontes de pesquisa tratam da concepção interacionista, em que o aluno não é


induzido nas suas conclusões, pois a interferência do professor no processo de aprendizagem
é sutil, restringindo-se apenas a orientar o aprendiz para a reescrita do texto. Dessa forma, o
aluno desenvolve sua capacidade de reflexão sobre a língua, constituindo sua autonomia como
autor.
O artigo proposto é constituído de base teórica sobre correção textual, seis princípios e
tipos, procedimentos metodológicos da pesquisa, análise do corpus e considerações finais.

Correção Textual: seis princípios e tipos


Para fundamentar esta pesquisa, buscou-se o aprofundamento das concepções dos
tipos de correção textual.
Maria Tereza Serafini (2001, p.102-108), descreve a correção de um texto como um
conjunto de intervenções cabíveis ao professor para apontar defeitos e erros.
A partir dessas intervenções, o professor estabelece os aspectos considerados por ele
relevantes, criando assim seus próprios critérios de produção textual. O resultado dessa ação
subjetiva é o surgimento de inúmeras maneiras de se avaliar um texto.
Baseando-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais, constata-se que a reescrita é um
procedimento em que o professor e aluno precisam “aprender a detectar os pontos onde o que
está dito não é o que se pretendia, isto é, identificar os problemas do texto e aplicar os
conhecimentos sobre a língua para resolvê-los: acrescentando, retirando, deslocando ou
transformando porções do texto, com o objetivo de torná-lo mais legível para o leitor”.
Serafini (2001, p.108-113) estabelece seis princípios básicos para a correção de um
texto. Os três primeiros remetem-se a métodos para uma correção eficaz (1. a correção não
deve ser ambígua; 2. os erros devem ser reagrupados e catalogados; 3. o aluno deve ser
estimulado a rever as correções feitas, compreendê-las e trabalhar sobre elas). O quarto
princípio refere-se a reflexão do aluno mediante às correções (4. deve-se corrigir poucos erros
em cada texto). E os dois últimos princípios tratam da postura que o professor deve assumir
(5. o professor deve estar predisposto a aceitar o texto do aluno; 6. a correção deve ser
adequada à capacidade do aluno).
Com base nas afirmações acima, essa mesma autora analisou que existe uma tendência
entre os professores de oscilar entre dois tipos de correção textual classificados como
indicativa e resolutiva.
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A correção indicativa consiste em limitar o professor a indicar palavras, frases e


períodos inteiros que apresentam erros ou são confusos. Geralmente esses erros são ocasionais
e localizados como os ortográficos e os lexicais.
Esse tipo de correção não respeita nenhum dos três princípios de correção eficaz,
sendo por vezes ambígua e sem uma classificação precisa e fazendo com que o aluno não
encontre soluções em seu texto.
O segundo tipo de correção mais utilizado pelo professor denomina-se resolutiva que
se preocupa em corrigir todas as inadequações encontradas no texto, reescrevendo palavras,
frases e períodos inteiros.
A correção resolutiva acaba solucionando o problema do aluno por apresentar o texto
correto, como um modelo determinado e tido como o único aceitável, sendo que poderiam ser
aceitos outros modos de expressão além do sugerido pelo professor. Isso prova a interferência
ocorrente do professor com suas opiniões no texto do aluno.
Tanto a correção indicativa quanto a resolutiva são consideradas por Serafini como
uma atitude descritiva, ou seja, trata-se o erro descrevendo-o ou resolvendo-o.
Uma terceira correção textual, chamada classificatória, procura a classificação não-
ambígua dos erros no texto, visando à correção de seus próprios erros. Essa correção respeita
os princípios básicos de uma boa correção, já que não é ambígua e possibilita o
reagrupamento e catalogação dos erros.
A correção classificatória incentiva, de certa forma, a reescrita do texto, já que o
professor adequa esta classificação ao nível do aluno, fazendo com que ele reflita sobre os
erros que o texto possui. Tal correção é apresentada como uma atitude operativa, por ser mais
útil para o aluno na reflexão da construção de um texto.
Para complementar a classificação dos tipos de correção textual, Eliana Ruiz (2001),
citada por Conceição (2004), Bezerra, Queiroz e Tabosa (2004), apresenta um quarto tipo de
correção denominada textual-interativa, na qual o professor, por meio de bilhetes, conduz o
aluno a uma reflexão de forma interativa, em relação aos seus erros no texto.
A correção textual-interativa possui a função de complementar as lacunas deixadas
pelas outras correções, citadas, pois se trata de uma conversa com o aluno, que objetiva suprir
as necessidades de orientação que ele tem, para a escrita de seu texto.
Além dessa classificação, Ruiz (2001) também agrupa as correções em monofônicas e
polifônicas, ou seja, para a autora, as correções textual-interativa, classificatória e indicativa
são polifônicas, pois apresentam a voz do professor na correção, enquanto que a correção
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resolutiva se enquadra como monofônica, já que o professor aplica as alterações no texto


anulando seu discurso.

Procedimentos metodológicos da pesquisa


Este artigo tem como corpus uma proposta de resenha sobre o documentário “Ilha das
Flores”, de Jorge Furtado. Essa produção textual foi realizada por um aluno do Ensino Médio
de uma escola pública de Curitiba.
Foram disponibilizadas três cópias dessa resenha a três professores de Língua
Portuguesa atuantes na rede pública de ensino, para que realizassem apontamentos no texto, a
fim de torná-lo mais adequado aos padrões de escrita.
No momento da abordagem ao professor, procurou-se não destacar informações
relacionadas aos tipos de correção textual, para evitar qualquer influência durante a correção
do texto.
A escolha deste corpus se deve à necessidade de verificar os tipos de correção textual
mais utilizados pelos professores de Língua Portuguesa de uma escola pública e o porquê de
sua ocorrência.

Análise do Corpus
Para a análise do corpus, as correções textuais serão nomeadas como Professor 1,
Professor 2 e Professor 3.
Em um aspecto geral, os três professores Língua Portuguesa apresentaram
semelhanças em suas correções. Foi possível identificar que os apontamentos feitos pelos
professores incluíram apenas aspectos de concordância, coerência, ortográficos e de
pontuação.
Observou-se também que nenhum dos professores atentou para a solicitação do
enunciado, que se tratava de um posicionamento crítico sobre o documentário Ilha das Flores,
pois foram realizadas observações que ignoravam justamente a posição crítica do aluno no
texto.

CORREÇÃO DO PROFESSOR 1:
Analisando a correção do Professor 1, notou-se que o tipo de correção textual
utilizado foi a resolutiva, além de haver alguns apontamentos que conceituam uma correção
indicativa.
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O Professor 1 substituiu alguns aspectos gramaticais, como a pontuação, que


acabaram prejudicando o texto do aluno, deixando-o incoerente, como é visto a seguir:

Além da pontuação, outro aspecto identificado foi a ortografia. O professor atentou-se


a um erro, que de certa maneira, poderia ser desconsiderado, já que o próprio aluno já o havia
corrigido. Na mesma linha não foi localizado pelo professor o erro “inoja”, cuja grafia correta
é “enoja”:

Um último aspecto relevante na análise do Professor 1 foi o fato de não haver


interação com o aluno em nenhum momento da correção.
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CORREÇÃO DO PROFESSOR 2
O Professor 2 apresentou a sua correção como resolutiva. Porém, no momento de
corrigir os erros do aluno, aplicou critérios confusos no texto.

Foi perceptível que houve falta de disposição do Professor 2 para a aceitação do texto
do aluno.
Por muitas vezes, o professor reavaliava o texto, provocando alterações em sua própria
correção, acarretando no não entendimento dos seus apontamentos.

Esse professor foi um dos que não se preocupou com o enunciado, pois se referiu à
posição crítica do aluno com pontos de interrogação:
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CORREÇÃO DO PROFESSOR 3

Ao contrário de seus antecessores, o Professor 3 empregou a correção indicativa, ou


seja, apontou apenas no texto o que, em sua opinião, deveria ser corrigido pelo aluno:
Observou-se que, ao final do texto, o Professor 3 escreveu dois comentários em

relação ao texto corrigido, sendo que um dos comentários é considerado ambíguo:

O que o professor pretendeu com esta observação foi salientar que o uso dos pronomes
relativos utilizados pelo aluno dificultou o entendimento do texto. Porém, o aluno pode
entender com essa afirmação que todos os pronomes relativos existentes sempre dificultam o
entendimento de um texto.
Entretanto, pode-se dizer que com esse comentários, o Professor 3 fez uma tentativa
de interação com o aluno no momento da correção, embora não haja qualidade de
comunicação. É necessário que o professor tenha precisão no momento da intervenção no
texto.
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Com a análise do corpus, foi identificado que, conforme Serafini (2001), os tipos de
correção textual utilizados pelos professores tendem a ser a indicativa e a resolutiva.
Apesar do tipo de correção textual resolutiva ser o mais utilizado, como constatado
nesta análise, nota-se que os outros tipos de correção textual também têm ocorrência nos
textos dos alunos. Em muitos casos, os professores utilizam mais de um tipo de correção em
um único texto, como observado nas correções do Professor 1 e 3, fazendo com que haja uma
junção entre as correções resolutiva e indicativa, sem que o professor identifique suas funções
distintas.

Considerações finais
Primeiramente, foram identificados os procedimentos e tipos de correção textual mais
utilizados pelos professores de uma escola pública.
Pode-se destacar o fator cultural como justificativa do uso freqüente da correção
resolutiva, pois o professor passa ao aluno o que lhe foi imposto, ou seja, o professor acaba
sendo um transmissor do aprendizado que ele recebeu.
Se a correção resolutiva for comparada com as demais, é possível perceber que ela
exige menos do professor e do aluno, já que o professor não se dá ao trabalho de pensar em
maneiras de instigar o aluno a melhorar seu texto.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Mª. A.; QUEIROZ, A.; TABOZA, M. Correção de textos e concepções de


língua e variação: relações nem sempre aparentes. Campinas: UNICAMP, 2004.

CONCEIÇÃO, R. I. S. Correção de texto: um desafio para o professor de português. Campo


Grande: UFMS, 2004.

SERAFINI, M.T. Como escrever textos. 6. ed. São Paulo: Globo, 2001.

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