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DO ENSINO FUNDAMENTAL
Introdução
Este trabalho tem por objetivo mostrar algumas estratégias para avaliar a produção
de textos feitos por alunos do Ensino Fundamental.
Basear-nos-emos na concepção sócio-interacionista de língua para avaliar os
textos produzidos. Segundo Geraldi (1995), o aluno produtor de textos atua como
participante de um diálogo contínuo com o texto e com os leitores. Entendemos ainda que a
escrita de um texto é um processo dinâmico que envolve determinados momentos: o
planejamento, a revisão e a editoração. Assim revisar e refazer um texto são ações que tem
como objetivo revitalizar o processo do construto textual (Fiad e Sabinson, 1991).
Fundamentação Teórica
Algumas reflexões sobre avaliação
O surgimento da Lingüística Textual trouxe o texto como unidade de maior
importância para o ensino-aprendizagem, direcionando os trabalhos em Língua Portuguesa
para a produção textual. Esta inserção do texto no mundo escolar trouxe, no entanto, sérios
problemas para a avaliação escolar, pois os professores ainda continuam avaliando os
trabalhos produzidos pelos alunos nas aulas de Língua Portuguesa de forma unilateral, isto
é, apontando e corrigindo os “erros” sem considerar a concepção enunciativa/constitutiva
da língua.
De modo geral, a avaliação envolve mitos e preconceitos, deixando seqüelas que
são representadas pelos medos e tabus que permeiam o processo avaliativo. Os professores,
segundo Paiva (1997), ainda não tomaram consciência de que a unidade de ensino-
aprendizagem e, conseqüentemente, de avaliação escolar não pode ser concebido como
algo inerte, onde apenas se apontam os pecados cometidos pelos alunos. Geralmente os
docentes se espelham no seguinte modelo de avaliação:
a) um modelo que classifica os alunos em fortes e fracos, bons e maus;
b) o conhecimento é visto com algo pronto, acabado;
c) o professor é o único sujeito detentor de conhecimentos, portanto, o único apto a
avaliar;
d) o aluno é um sujeito passivo.
Neste sentido, avaliar um texto torna-se uma atividade mais complexa que avaliar
um exercício de matemática. Esta dificuldade surge da falta de modelos de referência que
permitam ao professor proceder de modo único, como num exercício de matemática.
Segundo Jesus (1993), ao levar em consideração apenas os critérios que norteiam
uma abordagem gramatical, o professor não concebe o texto como um todo, pois apenas
considera-o como uma seqüência de unidades gramaticais menores descontextualizadas e
destituídas de aspectos semântico-pragmáticos. Ao invés de refletir sobre o texto para
corrigir o erro, ele reflete sobre o erro para corrigir o texto. Isto é, no momento de avaliar
uma produção escrita, deve-se considerar a existência da variedade lingüística em
diferentes modalidades, oral ou escrita, forma ou informal e os diversos grupos sociais.
O “erro”, assim, deve ser concebido como algo que faz parte do processo de
aprendizagem, sendo muitas vezes hipóteses lógicas do processo de construção do
conhecimento (Ferreiro e Teberosky, 1984) e que intervenções pedagógicas eficientes
poderão ajudar a superá-lo.
A avaliação e o processo de ensino-apendizagem escolar se interdependem, pois
não tem sentido avaliar o que não foi objeto de ensino, como não sentido avaliar sem que os
resultados dessa avaliação sejam refletidos nas próximas atuações de ensino. No entanto,
em nossas atividades docentes a interdependência entre avaliação e ensino-aprendizagem
parece não existir, pois a avaliação é vista como uma espécie de finalidade, estuda-se
para... prestar conta: o livro é lido porque é para nota ou porque cai no vestibular. Daí o
termo “cobrar” ser tão corrente no meio escolar, o que evidencia esse lado meramente
mercadológico do ensino.
Nesta classificação dos principais tipos de erros cometidos pelos alunos, faz-se
necessário esclarecermos que o termo erro, concebido de forma tão grosseira e punitiva, é
visto como processo construtivo.
Nosso quadro, baseado em Cagliari (1989), foi divido em duas macro categorias: a
forma que avalia os aspectos relacionados à ortografia e a gramática e a do conteúdo, que
mostra os aspectos relacionados ao conteúdo de um texto.
Forma : Ortografia
Tipo de erros:
Nível 1. Interferência fonética: dificuldades que surgem devido à variação fonética
existente na fala. Podem ser subdividas em:
Apagamento da letra final de palavras: esperar – espera
Redução de ditongo: docero – doceiro
Apagamento do – d do gerúndio: dormino – dormindo
Permuta entre o e u / e e i: butão – botão
Formação de ditongo: nóis – nós
Nível 2. Arbitrariedade da língua: dificuldades derivadas da etimologia, origem das
palavras.
Pollo (latim) – poleiro e não puleiro
Nível 3. Segmentação indevida: dificuldade na segmentação das palavras
Com nosco – conosco
Nível 4. Falta de atenção
Bricar – brincar
Principalment – principalmente
Nível 5. Pontuação
Nível 6. Acentuação
Este primeiro quadro procura ajudar o professor a fazer uma avaliação mais
consciente e justa das dificuldades ortográficas apresentadas na produção textual de seus
alunos.
Baseando-se nas ocorrências das dificuldades ortográficas, o professor poderá
agrupá-las por categorias, permitindo-lhe conhecer a maior ou menor incidência dos “erros”
com isso passará a elaborar exercícios ortográficos que enfatizem os principais erros. A
categorização de erros assume, então um papel fundamental na avaliação dos textos, pois o
professor poderá ter consciência do grau de dificuldades que o sistema ortográfico
apresenta. Segundo Pontes (1990, 35),
Se trabalharmos as dificuldades do aluno, a partir de uma tipologia de
erros, ao invés de considerarmos vários erros, catalogaremos apenas
variações de um mesmo erro. Desse modo, dez palavras oxítonas não
acentuadas, consideraríamos apenas um mesmo erro, ocorrendo em
palavras diferentes. Se tivéssemos que punir um aluno que cometeu esse
erro, que punamos por um erro, e não por vários, como se faz em geral, na
prática corrente.
Forma : Gramática
Concordância:
Verbal
Nominal
Regência:
Verbal
Nominal
Colocação pronominal
Conteúdo
Variedade Lingüística:
Considerações Finais
Os quadros elaborados na seção anterior têm como finalidade fazer um diagnóstico
da produção textual dos alunos em sala de aula. As categorias que os compõem não
necessitam serem avaliadas em todas as produções dos alunos. Sugerimos que o professor
decida quais categorias avaliar em uma determinada produção, realizando assim um
trabalho gradativo do processo da escrita dos alunos.
No momento da avaliação, é importante que os sujeitos envolvidos nesse processo,
professor e aluno, estejam cientes dos parâmetros de avaliação que serão adotados,
assumindo assim uma perspectiva dialógica diante da produção textual.
É importante, pois, que se adote uma postura frente à avaliação que exija do aluno
conhecimentos não apenas normativos, mas também de caráter semântico e pragmático-
discursivo.
A avaliação de textos, segundo Naspolini (1996), é um instrumento essencial no
processo de ensino-aprendizagem da escrita, principalmente se realizada de forma
detalhada, pois leva o professor a entender melhor o processo de construção da escrita de
seus alunos: o professor encontra o pensamento da criança nas idéias ou conteúdos, percebe
a coordenação das suas ações na sua lógica, coerência e coesão.
Referências Bibliográficas
GERALDI, João Vanderlei. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
HOFFMAN, J. M. L. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola a
universidade. Porto Alegre: Mediação Editora, 1995.
MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 1998.
NASPOLINI, Maria Tereza. Didática de Português: tijolo por tijolo. São Paulo: FTD,
1996.
PAIVA, Jane. Avaliação: um monstro? Um bicho de sete cabeças? In: Boletim de Jovens e
adultos: um salto para o futuro. Programa n. 1. Maio, 1997, p. 1-10
PIAGET, Jean. A Linguagem e o Pensamento da Criança. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
PONTES, Antônio Luciano. O Ensino da Ortografia. In: Revista Contexto, ano II, n. 2,
Fortaleza, 1990.