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DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
Curso de Ciências Biológicas
BASES GENÉTICAS
DA EVOLUÇÃO
GBI 117
Evandro Novaes
José Airton Rodrigues Nunes
João Cândido de Souza
Vinícius Quintão Carneiro
Flávia Maria Avelar Gonçalves
Elaine Aparecida Souza
2020
Bases Genéticas da Evolução GBI 117
BIBLIOGRAFIA
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Bases Genéticas da Evolução GBI 117
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Bases Genéticas da Evolução GBI 117
SUMÁRIO
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ II
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1
2. A ORIGEM DA VIDA .................................................................................................................... 1
HOMO SAPIENS ............................................................................................................................. 2
3. GENÉTICA DE POPULAÇÕES ........................................................................................................ 7
3.1 CONCEITOS ....................................................................................................................................... 8
3.2 POPULAÇÕES PANMÍTICAS ............................................................................................................ 10
3.3 ESTIMATIVA DAS FREQUÊNCIAS ALÉLICAS COM DOMINÂNCIA COMPLETA .................................. 13
3.4 TESTE DE EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG ................................................................................. 14
3.5 FATORES QUE ALTERAM AS FREQUÊNCIAS ALÉLICAS .................................................................... 15
4. TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO ............................................................................................. 16
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 16
4.2 PROCESSO QUE CRIA VARIABILIDADE - MUTAÇÃO ........................................................................ 17
4.2.1. A mutação e as propriedades genéticas das populações ..................................................... 22
4.3 PROCESSOS QUE AMPLIAM A VARIABILIDADE ............................................................................... 23
4.3.1 RECOMBINAÇÃO .................................................................................................................... 23
4.3.2 - HIBRIDAÇÃO ......................................................................................................................... 24
4.3.3 ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA E NÚMERO DE CROMOSSOMOS ............................................ 25
4.3.4 - MIGRAÇÃO ........................................................................................................................... 28
4.3.4.1 Migração e as propriedades genéticas das populações ................................................................. 28
4.4 PROCESSOS QUE ORIENTAM AS POPULAÇÕES PARA MAIOR ADAPTAÇÃO ................................... 30
4.4.1 SELEÇÃO NATURAL ................................................................................................................. 30
4.4.1.1 CHARLES DARWIN, SUA VIDA E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES PARA A CIÊNCIA.................... 30
4.4.1.2 Efeito da Seleção nas propriedades genéticas das populações ...................................................... 33
4.4.1.3 MUTAÇÃO E SELEÇÃO E AS PROPRIEDADES GENÉTICAS DAS POPULAÇÕES .................................. 45
4.4.1.4 SELEÇÃO REALIZADA PELO HOMEM ............................................................................................... 46
4.4.1.5 OBJETIVOS DA SELEÇÃO NATURAL ................................................................................................. 49
4.4.1.6 TIPOS DE SELEÇÃO NATURAL .......................................................................................................... 51
SELEÇÃO ESTABILIZADORA .......................................................................................................................... 51
4.4.1.7 ALGUNS EXEMPLOS BEM DOCUMENTADOS DA AÇÃO DA SELEÇÃO NATURAL ............................. 56
4.4.2. DERIVA GENÉTICA ................................................................................................................. 65
4.4.2.1. Efeito da deriva genética nas propriedades genéticas das populações ........................................ 66
4.4.2.2. Deriva genética sob o ponto de vista da endogamia ..................................................................... 71
4.4.2.3. Exemplos de deriva genética.......................................................................................................... 76
4.4.2.4. Efeito do fundador e afunilamento genético ................................................................................. 77
4.4.3 MECANISMOS DE ISOLAMENTO REPRODUTIVO .................................................................... 79
4.4.3.1 MECANISMOS PRÉ-ZIGÓTICOS ........................................................................................................ 82
4.4.3.2 MECANISMOS PÓS-ZIGÓTICOS ....................................................................................................... 88
iv
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1. INTRODUÇÃO
2. A ORIGEM DA VIDA
evolutivo, que compreende alguns bilhões de anos. É muito difícil para todos nós, cuja vida
fica nas dezenas de anos, imaginar o que são 3,6 bilhões de anos, a época provável do
surgimento dos primeiros seres vivos.
Para facilitar, vamos fazer uma analogia no tempo evolutivo, colocando-o dentro do
período de um ano. Como os dados disponíveis apontam que o universo tem 15 bilhões de
anos, esse número irá corresponder aos 365 dias. Assim, o universo teria surgido no
primeiro segundo do dia primeiro de janeiro e corresponderia a 365 dias até o presente
momento (Tabela 1). As evidências disponíveis mostram que o planeta terra surgiu a 4,6
bilhões de anos, ou seja, na nossa analogia, 112 dias para o final do ano.
A primeira forma de vida surgiu há 3,6 bilhões de ano, ou seja, 88 dias atrás no
tempo relativo a um ano. Por essa analogia a era cristã, ou seja, 2020 anos atrás ocorreria
no dia 31 de dezembro quando estivesse faltando apenas 4 segundos para terminar o ano.
A compreensão do tempo evolutivo é fundamental para entender, em escala, o
processo de surgimento e extinção das espécies. Além disso, esse entendimento aponta
para a dificuldade de se estudar os processos evolutivos, na medida em que a evolução
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completa de qualquer espécie não pode ser diretamente observada e documentada por
nenhum cientista. Ao invés disso, os cientistas precisam acumular evidências indiretas,
como registros fósseis e árvores filogenéticas, baseadas nas diferenças (polimorfismos)
nas moléculas de DNA das diferentes espécies.
A história da terra é subdividida em eras e períodos. A descrição das eras e períodos
está representada na tabela 2.
A teoria mais aceita da origem do universo é conhecida como “big bang”. Como já
mencionado, essa grande explosão primordial é o marco zero de tudo e teria ocorrido há
15 bilhões anos. Antes dessa explosão toda a matéria estaria condensada em um pequeno
volume de energia/matéria extremamente densa. Suporte para essa teoria provém da
aparente expansão continuada no universo, a abundância de hidrogênio e hélio em corpos
celestes e a radiação remanescente do universo primitivo (Strikberger 2000). A terra, por
outro lado, teria surgido a 4,6 bilhões de anos, a partir de uma nuvem de poeira e gases
interestelares.
Já a origem da vida é um processo muito mais fascinante. É difícil imaginar como
podem ter surgido moléculas tão elaboradas como as proteínas e, principalmente os ácidos
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B
A
Caldo
Nutritivo
C
Gargalo Quebrado
Água-Vapor
Ar contaminado
Poeira e
microrganismos
D E
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Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Após os experimentos iniciais de Miller e Urey, vários outros foram feitos simulando
diferentes condições presentes na Terra primitiva. Em 1957, Sidney Fox aqueceu a seco
uma mistura de aminoácidos, conseguindo moléculas orgânicas complexas semelhantes à
proteína. Mais recentemente, outros pesquisadores conseguiram as mesmas moléculas na
superfície da argila. É possível que reações desse tipo tenham ocorrido nas areias quentes
das praias primitivas.
De interesse, a síntese de polipeptídios pode ser realizada a altas temperaturas
(120ºC), condições que poderiam ser encontradas, por exemplo, em lugares próximos a
vulcões. A síntese abiótica de purinas e, em menos quantidade, de pirimidinas, ambas
componentes dos ácidos nucleicos, também é possível a partir da condensação de cianeto.
A adenina, de fato, é a base nitrogenada encontrada em maiores concentrações nos
experimentos de simulação de síntese abiótica. Pequenas quantidades de ATP (trifosfato
de adenosina) também podem ser produzidas em condições abióticas, sobretudo na
presença de um mineral bastante comum, conhecido como apatita (fosfato de cálcio).
A síntese de vários açúcares a partir de formaldeído (H 2CO) também foi descrita em
condições simulando a Terra primitiva. Por exemplo, a polimerização de formaldeído resulta
em ribose, e não em desoxirribose. Sendo esta apenas uma das muitas observações que
sugerem que o RNA precedeu o DNA na evolução da vida. Apesar da possível formação
de nucleosídeos polifosfatados em determinadas condições (principalmente na ausência de
apatita), a polimerização de oligômeros de RNA não é evidente. Os polímeros sintetizados
nessas condições são diferentes daqueles existentes atualmente nos ácidos ribonucleicos.
É possível que condições especiais tenham existido para permitir a geração de
polinucleotídeos similares aos que formam a base dos organismos vivos conhecidos.
A formação de lipídios também seria fundamental para o processo de
compartimentalização de compostos eventualmente necessários para a criação do ser vivo,
através da composição de membranas de dupla camada lipídica. Embora a síntese pré-
biótica de seus componentes (ácidos graxos, glicerol e fosfato) seja plausível na sopa
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primitiva, não está claro como foram formados lipídios de cadeia longa, lineares,
indispensáveis para a formação de membranas.
Assim, compostos orgânicos correspondendo aos menores blocos fundamentais
para a vida (aminoácidos, nucleotídeos e açúcares) provavelmente puderam ser formados
por meio de síntese abiótica. A formação de compostos maiores, resultado da condensação
(eliminação da água) desses compostos deve ter gerado, de forma ainda desconhecida,
moléculas poliméricas através de ligações fosfodiéster entre nucleotídeos dos ácidos
nucleicos e de ligação amida entre aminoácidos de proteínas. A virtual inexistência de
oxigênio na atmosfera primitiva pode ter feito com que os compostos gerados fossem
relativamente estáveis, o que levaria ao seu acúmulo nos oceanos, até alcançar
concentrações suficientemente altas para reações mais complexas. Exatamente como
previsto por Oparin.
Ao que tudo indica, a atmosfera primitiva não era protegida pela camada de ozônio.
Numa situação como essa, os raios ultravioletas, oriundos da luz solar, atingiram a terra
numa grande intensidade provocando alterações no material genético – mutação – numa
frequência tal, que nenhum ser vivo sobreviveria e/ou poderia ter uma constância genética,
fundamental para a perpetuação da espécie.
Do exposto, pode-se inferir que a vida surgiu na água, que é um filtro para a radiação
ultravioleta, e mais ainda, após um resfriamento da terra, pois no início as altas
temperaturas do planeta, provavelmente impediriam a sobrevivência de qualquer ser vivo.
3. GENÉTICA DE POPULAÇÕES
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3.1 CONCEITOS
A cor da flor é controlada por um gene V, com dois alelos com dominância incompleta,
ou seja, genótipo V1V1, flores vermelhas; V2V2, flores brancas; V1V2, flores de cor rosa. No
quadro abaixo, seguem as estimativas de frequência genotípica para as flores vermelhas,
rosa e branca.
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2n1 + n 2 2n1 n 2 1
pˆ (V 1 ) = = + =D+ H
2N 2N 2N 2
2n3 + n 2 2n3 n 2 1
qˆ (V 2 ) = = + =R+ H
2N 2N 2N 2
n1 100
A frequência do genótipo V 1V 1 = = D= = 0,05
N 2000
n2 1000
A frequência do genótipo V 1V 2 = =H= = 0,50
N 2000
n3 900
A frequência do genótipo V 2V 2 = = R= = 0,45
N 2000
1
Já a frequência do alelo V1= p = D + H = 0,30 e do alelo V2 = q = R+ ½ H = 0,70.
2
Lembrando que p + q = 1,0.
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H2 1 1
Frequência de V 1V 2 = DH + 2DR + + HR = 2 D + H . R + H
2 2 2
2 2
H 1
Frequência de V V = + HR + R 2 = R + H
2 2
4 2
Como:
1 1
D + H = p(V 1 ) e R + H = q(V 2 ) tem-se:
2 2
V1V1 = p2 V1V2 = 2pq V2V2 = q2
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( )
p1 = p 2 + 1 2pq = p 2 + pq = p(p + q ) = p
2
q1 = q 2 + (1 ) 2pq = q 2
+ pq = q (p + q ) = q
2
Desse modo, fica demonstrado que as novas frequências alélicas (p1 e q1) são iguais
às frequências alélicas da população parental (p e q). Usando-se o teorema dos acasalamentos
2 2
ao acaso pode-se verificar que as novas frequências genotípicas serão: p1 ; 2p1q1; q1 . Assim,
as novas frequências genotípicas são idênticas às frequências genotípicas da geração anterior.
Verifica-se que, respeitadas as condições de panmixia, as frequências alélicas e
genotípicas permanecem inalteradas geração após geração, e a população é dita estar em
equilíbrio. Essa condição de equilíbrio é conhecida como Equilíbrio (ou Lei) de Hardy-
Weinberg. Ela foi proposta independentemente por G.H. Hardy, um matemático britânico, e W.
Weinberg, um médico alemão, em 1908. Ou seja, em uma população grande, em que os
indivíduos se intercruzam ao acaso e na ausência de seleção, mutação e migração, as
frequências alélicas e genotípicas não se alteram. Observe que, considerando um gene, o
equilíbrio é atingido após uma única geração de acasalamentos ao acaso, indiferentemente
das frequências D, H e R.
Como o p ou q podem assumir qualquer valor entre 0 e 1 pode-se construir um gráfico
(Figura 4) mostrando o que ocorre com as frequências genotípicas, para qualquer população
em equilíbrio de Hardy-Weinberg, considerando a amplitude total das frequências alélicas. É
necessário salientar que o equilíbrio de Hardy-Weinberg independe do tipo de interação alélica
e será atingido de modo semelhante tanto para genes codominantes como dominantes. Veja
que quando p = 1,0 ou p = 0 só ocorre um genótipo na população, isto é, o homozigoto para o
único alelo existente nessa população. Nesse caso, ocorre o que se denomina fixação alélica.
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80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
q
Até aqui, estudamos um caráter controlado por um gene, cuja interação alélica envolve
dominância parcial ou codominância, de modo que o genótipo heterozigoto se distingue dos
dois homozigotos. Entretanto, quando ocorre dominância (alelo B > b) os genótipos BB e Bb
se confundem fenotipicamente e as frequências D e H se somam, impossibilitando a estimativa
das frequências alélicas com as expressões mencionadas anteriormente. Contudo, sabendo-
se que a população está em equilíbrio de Hardy-Weinberg, a frequência q do alelo b pode ser
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estimada com base na frequência genotípica do homozigoto recessivo. Assim, como bb = q2,
temos que a frequência de b (q) será dado pela raiz da frequência de bb:
n3
ˆ (b) =
q e ˆ (B 1 ) = 1 − q
p ˆ
N
Vamos utilizar como exemplo a maravilha. Contudo, o caráter cor da semente. Ela pode
ser preta devido ao alelo B ou branca devido ao alelo b. Sendo que o alelo B domina o b. Em
uma população com 200 plantas cruzando ao acaso, foram obtidas 32 plantas com sementes
brancas e 168 com sementes pretas. Nessa situação, a frequência de plantas com sementes
B = p = 1 − q = 0,6 .
Quando o gene possui mais de dois alelos, ou seja, quando se tem alelos múltiplos, o
equilíbrio também é atingido após uma geração de cruzamento ao acaso, independente do
número de alelos. Contudo, quando está envolvido mais de um gene, para se ter a população
em equilíbrio, é necessário, normalmente mais de uma geração de cruzamento ao acaso.
Maiores detalhes podem ser obtidos em Falconer & Mackay (1996).
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probabilidade de 95% e 1 GL, é = 3,84 (Tabela 7.8 Livro Ramalho et al., 2005). Quando
2
o valor tabelado é menor que o estimado rejeita-se a hipótese H0, que diz que a população
original estava em equilíbrio. Entretanto, após uma geração ao acaso ela atinge o equilíbrio.
No caso de caracteres controlados por genes com dominância completa ou de séries
dominantes (caso de alelos múltiplos) não há graus de liberdade disponíveis, de forma que não
é possível realizar o teste.
No nosso exemplo com a Maravilha teremos:
Como o calculado é maior que o tabelado com 1 G.L. ( = 3,84), temos que a
2 2
15
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4.1 INTRODUÇÃO
Basta olharmos os seres vivos ao redor, para visualizarmos um fato comum a todos
eles. Isto é, a existência de diferença entre eles. As diferenças observadas são fenotípicas,
ou seja, dependem do genótipo e do ambiente. Como o ambiente afeta o fenótipo e a
seleção atua sobre o fenótipo, deve-se ter clareza que o efeito do ambiente tem importante
contribuição na evolução, como será enfatizado em várias situações.
O que nos interessa no momento é como ocorre a variabilidade genética, ou seja,
as diferenças genotípicas. Não iremos discutir como surgem os genes, mas sim como
ocorrem as diferentes formas alternativas (alelos) dos diferentes genes que permitem um
indivíduo realizar todas as suas atividades vitais. Já vimos que a variabilidade é devido a
existência de dois ou mais alelos, por gene. A soma total dos diferentes alelos constitui o
que denominamos de conjunto ou “pool gênico da população”.
A pergunta no momento então é: como surgem novos alelos? Eles surgem por
mutação. Como já comentado na disciplina de Genética, mutações ocorrem devido a
alterações na sequência de bases nitrogenadas que constituem um dado gene. Essas
mudanças podem ser por alteração de bases ou por adição ou deleção de bases. Os
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detalhes de como elas ocorrem e suas consequências foram apresentadas por Ramalho et
al. (2012). No momento é necessário salientar que ela é a única fonte de variabilidade
existente na natureza. Na analogia do STEBBINS (1970), a mutação é o combustível da
evolução. Sem mutação, a evolução não teria condições de ocorrer ao longo do tempo.
A frequência de mutação é muito baixa e varia entre organismos e entre genes do
mesmo organismo (Tabela 4). Contudo considerando o número de genes presentes em um
organismo, por exemplo, mais de 21.000 genes em humanos e o número de gametas que
o indivíduo produz, fica fácil imaginar que qualquer indivíduo tem uma probabilidade grande
de produzir algum gameta mutante.
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Retinoblastoma 1,2-2,3
Anirídia 0,5
Acondroplasia 4,2-14,3
Anomalia de Pelger 1,7-2,7
Neurofibromatose 13,0-25,0
Microftalmia - anoftalmia 0,5
Doença de Huntington 0,5
Insetos D. melanogaster
y+ para amarelo 12,0
bw+ para marrom 3,0
+
e para ebone 2,0
+
Ey para ausência de olho 6,0
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Dificilmente, surgirá um alelo novo melhor que os preexistentes, nas condições ambientais
a que as populações estão submetidas ao longo do tempo. Inclusive, é comentado que as
mutações úteis, que produzem alelos mais favoráveis têm maior chance de ocorrer em
espécies novas e/ou em expansão, isto é, que ainda estão em fase de adaptação. Já em
espécies mais antigas, as contribuições boas já tiveram chance de ocorrer. Dessa forma, a
probabilidade de que surja um alelo novo que promova melhor adaptação que os
preexistentes certamente é baixa.
Outro aspecto que pode aumentar a chance de benefício de novas mutações são
as mudanças ambientais. Alterações climáticas, colonização de novos habitats e novas
interações ecológicas podem fazer com que a variação genética existente na população
não seja mais perfeitamente adaptada a essa nova realidade. Com isso, aumenta a pressão
para que a população se adapte novamente e, com isso, que novos alelos sejam
selecionados. Dessa forma, aumenta a probabilidade de que alguma nova mutação seja
benéfica, tornando a população mais adaptada a essas mudanças ambientais.
O efeito do novo alelo produzido pode variar em intensidade, ou seja, pode
apresentar um pequeno efeito até uma mudança drástica. Essa última possui menor chance
de permanecer na população. Vários exemplos são conhecidos de mutantes com efeito
pronunciado. Dobzhansky (1970) cita o que ocorre algumas vezes nos insetos da ordem
díptera, ou seja, que se caracterizam por ter um único par de asas, um par de halteres,
antenas e peças bucais bem característicos. Ocorrem alguns mutantes nessa ordem, em
que as antenas são substituídas por órgão semelhante, como as pernas. Já em outros, a
probóscida se torna semelhante a antenas no mutante. Já no mutante hexáptero ocorre no
protórax um par de apêndices semelhante a asas. É evidente que esses indivíduos com
alterações genotípicas tão radicais, dificilmente terão vantagem seletiva e serão eliminados.
Em síntese, é esperado que apenas mutante com alterações menos pronunciadas, terão
maior chance de permanecerem na população, isto é, de contribuírem para maior
adaptação dos indivíduos que a possuem.
A esse respeito STEBINS (1970), diz que: “Se um organismo é bem ajustado a seu
ambiente, alterações leves em sua constituição genética podem ajustá-lo melhor às
modificações desse ambiente, as alterações drásticas de uma ou de algumas
características provavelmente o farão funcionar deficientemente em qualquer ambiente. O
organismo pode ser comparado a um carro regulado para atingir a maior velocidade
possível sob um determinado conjunto de condições. Dada uma mudança de temperatura,
de umidade, ou da condição da estrada, pode ser assegurado um desempenho melhor
mediante ligeiros ajustamentos do carburador, da transmissão ou do combustível, mas
qualquer mudança radical desses elementos certamente reduziria a eficiência do motor e
poderia até impedi-lo de funcionar”.
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q1 = q 0 + up0 − vq 0
q = q 1 − q 0
q = up0 − vq 0
Esta situação pode levar ao equilíbrio, isto é, mesmo com a mutação não há alteração
nas frequências alélicas, Δq = 0 . Desse modo, pode-se predizer a frequência alélica no
up − vq = 0
u (1 − q ) − vq = 0
u − uq − vq = 0
u − q (u + v ) = 0
u
qe =
u+v
Observa-se então que a frequência alélica no ponto de equilíbrio (qe) independe das
frequências alélicas iniciais, mas apenas das taxas de mutação.
Normalmente as taxas de mutação são muito baixas (10-4 a 10-6 por loco, por geração),
portanto a mutação por si só produz mudanças muito lentas nas frequências alélicas. Se dados
experimentais sobre taxas de mutação são substituídos na expressão acima (por exemplo, u
~ 10-5 e v ~ 10-6) a frequência (q) do alelo mutante seria 0,90, indicando que este alelo deveria
ser o tipo "comum" enquanto que o alelo selvagem deveria ser o tipo "raro" na população.
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q − qe
(u + v )t = ln 0
qt − qe
q − qe
(u + v )t = ln o
t
q − q e
0,01 − 0,9375
(0,00003 + 0,000002 )t = ln
0,10 − 0,9375
(0,000032 )t = ln(1,107462687 )
0,10207153
t= = 3190 gerações
0,000032
4.3.1 RECOMBINAÇÃO
(ou genes) segregando, cada um com m alelos. Por essa expressão pode-se entender
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4.3.2 - HIBRIDAÇÃO
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? BB x AA (T. monococcum)
F1 – AB (estéril)
AA BB (T. turgidum)
AA BB x DD (T. taushii)
AA BB DD (T. aestivum)
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4.3.4 - MIGRAÇÃO
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direção da mudança dependem da proporção dos migrantes (m) e quão diferentes são as
duas populações. Se qm < q0 a nova frequência alélica será reduzida; se qm > q0 a frequência
será aumentada.
Se a migração continua ocorrendo por t gerações com a mesma intensidade, a
freqüência alélica será dada por:
qt = (1− m) q0 + 1− (1− m) qm
t t
No caso de plantas, a migração se dá por contaminação com pólen estranho, por
sementes disseminadas pelo vento ou por animais, ou mesmo quando se considera o
cruzamento entre variedades de polinização livre ou de duas populações distintas.
Para exemplificar, vamos considerar uma população de capivaras. Nessa espécie a
cor pode ser branca ou marrom, a diferença devido a um gene w, sendo o alelo dominante
responsável pela cor marrom. Em um habitat 1 existem 800 animais com as diferentes cores
e a frequência de animais brancos é de 16%. Em outro habitat 2 a frequência de animais
brancos é de 64%. Se 200 indivíduos do habitat 2 migrarem para o habitat 1, qual a nova
frequência do alelo w no habitat 1?
Habitat 1 Habitat 2
Brancos 64%
Brancos 16%
64%
800 animais
200 animais
Brancos ?
q = q + m(qm q )
1 0 0
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Aqui será efetuado um relato sucinto da sua vida e o que representou o seu trabalho
para o entendimento da evolução. Aos que desejarem maiores informações a respeito da
vida e obra de Darwin, sugerimos ler Mayr (2006).
“Charles Darwin” nasceu em fevereiro de 1809, na Inglaterra. Filho de Robert
Darwin, um médico bem sucedido. Perdeu a mãe muito jovem, com 8 anos de idade. Uma
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Bases Genéticas da Evolução DBI 117
das pessoas que influenciou o seu trabalho foi o avô Erasmus Darwin, um poeta, filósofo
zoologista e naturalista que tentava explicar a evolução.
O pai desejava que ele fosse médico, porém ele detestava ver sangue e cirurgias, e
então foi estudar teologia. Também não era isto que ele desejava de sua vida. Porém,
durante seus estudos na Universidade de Cambridge fez a disciplina de Botânica com o
Prof. John Stevens Henslow. Darwin adorou a matéria e passou a ser orientado por
Henslow que, por outro lado, viu um talento no, então, estudante. Desde o princípio de sua
vida, Darwin, estimulado por seu avô, esteve preocupado com o que ocorria na natureza.
Era sem dúvida nenhuma um jovem naturalista talentoso.
No verão de 1831, o Prof. Henslow recebeu um convite do governo inglês para ser
o naturalista a bordo de um navio (o HMS Beagle), cuja missão principal era melhorar o
mapeamento geográfico do continente americano. Naquela época, a Inglaterra era uma das
maiores potências nas tecnologias de navegação. O Prof. Henslow acabou não aceitando
o convite por questões familiares, mas indicou seu pupilo Charles Darwin para integrar a
tripulação do navio. Assim, com 22 anos, Darwin recebeu o convite do governo inglês para
participar como naturalista da expedição a bordo do HMS Beagle. Esse navio saiu da
Inglaterra em 27/12/1831. Inicialmente, a expedição foi planejada para dois anos, mas
durou quase cinco anos, com o navio só retornando à Inglaterra em 02/10/1836.
Darwin tirou o máximo de proveito desses 5 anos de viagem ao redor do mundo,
incluindo os cinco meses em que passou no Brasil. Por aqui, ficou logo maravilhado com a
diversidade e beleza das florestas tropicais. Disse não conseguir “expressar os sentimentos
de um naturalista que, pela primeira vez, vagueia sozinho numa floresta brasileira. É uma
visão das mil e uma noites com a diferença de que é tudo verdade”. Por outro lado, ficou
estarrecido com a escravidão e com a burocracia para conseguir autorização para explorar
algumas reservas naturais (Darwin 1839).
Foi, contudo, nas Ilhas Galápagos, que as suas observações contribuíram para que
alguns anos mais tarde, ele revolucionasse os conceitos a respeito de evolução. A partir de
suas observações, bem precocemente, ao contrário do pensamento vigente, ele passou a
acreditar na origem gradual de novas espécies pela especiação geográfica e na teoria da
evolução pela origem comum.
A sua saúde não era boa. A partir dos 30 anos, não tinha condições de trabalhar por
muito tempo. Acredita-se que ele possa ter contraído doença de Chagas em sua expedição
pela América do Sul. Outra hipótese é que ele possuía algum problema no sistema nervoso
autônomo. Mesmo assim, publicou vários livros. O mais famoso foi o revolucionário livro “A
origem das espécies” publicado em novembro de 1859. Cabe ressaltar a sua cautela
científica ao escrever esse livro ao longo de vários anos. Mesmo com o livro finalizado, ele
demorou muito para publicar, pois sabia do conteúdo herético das suas revelações a
31
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
respeito da evolução das espécies. Porém, o também naturalista A. R. Wallace tinha ideias
semelhantes e, inclusive escreveu a Darwin a esse respeito. Com isso, Darwin se sentiu
pressionado a publicar seu livro para não perder o ineditismo das suas ideias. Essas
revelações sobre a evolução das espécies e o papel da seleção natural foram prontamente
aceitas pela maior parte dos cientistas/naturalistas da época. Porém, essas ideias
receberam uma enxurrada de críticas de uma parcela grande da sociedade, especialmente
dos círculos religiosos. O que ocorre até os dias atuais.
Além dos problemas de saúde, Darwin enfrentou uma série de dificuldades devido
ao excesso de trabalho. A morte de dois filhos crianças também lhe impuseram grande
tristeza. Estudioso dos efeitos da “consanguinidade” (ou endogamia), ele temia que os 10
filhos que teve com sua esposa Emma Wedgwood pudessem sofrer pelo fato dele ser primo
de Emma. Apesar do seu temor, alguns de seus filhos foram proeminentes cidadãos
ingleses. George, Francis e Horace Darwin se tornaram membros da Royal Society e
cavalheiros da rainha, sendo respectivamente astrônomo, botânico e engenheiro civil.
Todos se tornaram cavalheiros. Um outro filho, Leonard Darwin, foi soldado, político,
economista, eugenista e mentor do famoso estatístico e geneticista Ronald Fisher. Após
enfrentar diversos problemas de saúde, Charles Darwin faleceu em 1882, com 73 anos.
Segundo Mayr (2006), Darwin empregou o método científico com maestria. Mayr
(2006) assim expressou as qualidades do trabalho do grande naturalista: “Darwin achava
que antes de fazermos quaisquer observações sobre determinado fenômeno, deveríamos
propor hipóteses que fundamentassem tais observações. O método de Darwin era
verdadeiramente o método consagrado pelos maiores naturalistas. Ele observava
numerosos fenômenos, sempre tentando compreendê-los. Quando alguma coisa não se
encaixava de imediato, ele fazia uma conjectura e testava isso por observações
adicionais, o que levava a refutação ou ao fortalecimento da suposição original. Esse
procedimento não se adaptava muito bem às prescrições clássicas da filosofia da ciência,
porque consistia num vai-e-vem contínuo entre fazer observações, levantar questões,
estabelecer hipóteses e testá-las ao fazer observações adicionais. O método empregado
por Darwin era um processo bem disciplinado, usado por ele e por todo cientista moderno.
Este processo direcionava o planejamento dos experimentos e a coleta de observações
adicionais. Não conheço nenhum precursor de Darwin que tenha usado esse método
consistentemente e com tanto sucesso.
O fato de Darwin ter sido um gênio dificilmente pode ser questionado, não obstante
alguns de seus antigos detratores. Mas certamente havia outros biólogos de igual
inteligência que fracassaram na tentativa de se igualarem a Darwin. O que distinguia Darwin
dos outros cientistas? Para respondermos a essa questão, devemos investigar que tipo de
cientista era Charles Darwin. Como ele mesmo dizia, antes de tudo, ele era um naturalista.
32
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Por exemplo, assuma que os genótipos AA, Aa, aa tenham taxas de fertilidade
(mAA,mAa,maa) iguais a 3, 4, 10 e probabilidades de sobrevivência (lAA, lAa, laa) de 0,9; 0,6;
0,1. As taxas reprodutivas (mAA.lAA, mAa.lAa, maa.laa) serão então 2,7; 2,4 e 1,0. Observe que
o genótipo aa, neste exemplo, tem a taxa reprodutiva mais baixa, embora ele seja bastante
prolífico quando adulto. Este exemplo ilustra a importância de considerar a capacidade de
sobrevivência e a taxa de fertilidade antes de se fazer qualquer julgamento com relação à
contribuição genética de cada genótipo.
O conceito de taxa reprodutiva pode ser aplicado em genética de populações se
considerarmos que, deixando descendentes, um indivíduo está contribuindo com genes para
a próxima geração. Quanto mais descendentes um indivíduo produzir maior será sua
contribuição para o pool gênico da próxima geração. O produto mij.lij fornece uma medida de
adaptabilidade absoluta, expressa na forma de uma taxa reprodutiva. De modo geral,
estamos interessados em como a capacidade reprodutiva de um genótipo se compara de
um modo relativo à de outro genótipo. Assim, usa-se a adaptabilidade relativa (wij) que é
34
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
expressa como a taxa reprodutiva de um dado genótipo dividida pela taxa reprodutiva do
genótipo com maior adaptabilidade absoluta. Desse modo, as adaptabilidades relativas dos
três genótipos seriam:
2,7
w 11 = = 1,00
2,7
2,4
w 12 = = 0,89
2,7
1,0
w 22 = = 0,37
2,7
A adaptabilidade relativa (w) pode apresentar valores variando de 0 a 1. Adaptabilidade
zero significa que o genótipo em questão não se reproduz (ou não deixa descendentes).
Quando isto acontece diz-se que há seleção completa contra aquele genótipo particular.
Adaptabilidade relativa entre 0 e 1 significa uma forma menos extrema de seleção e que é
conhecida como seleção parcial. Neste caso o genótipo é capaz de reproduzir, mas numa taxa
menor do que o ótimo.
A adaptabilidade média ( w ) da população é dada pela soma dos produtos das
adaptabilidades relativas de cada genótipo e suas frequências genotípicas:
w = p 2w 11 + 2pqw 12 + q 2w 22
A seleção atua sobre um genótipo através de seu fenótipo. Assim, a eficiência da
seleção dependerá do grau de dominância exibido pelo gene sob ação da seleção. Para tanto,
deve-se considerar os tipos de interação alélica quanto à adaptabilidade, conforme Figura 7.
A seleção pode atuar contra um determinado alelo, tendendo a eliminação de
genótipos que possuem o referido alelo, ou pode atuar a seu favor, tendendo preservar os
indivíduos que o possuem. A força da seleção é expressa pelo coeficiente de seleção (s) que
representa a redução (ou aumento) proporcional de gametas contribuídos por determinado
genótipo, comparada a um genótipo padrão, que geralmente é o mais favorável (ou
desfavorável). A adaptabilidade é representada por 1-s. Assim, se o coeficiente de seleção s
= 0,1 a adaptabilidade é 0,9, o que significa que para cada 100 zigotos produzidos pelo
genótipo favorável, somente 90 serão produzidos pelo genótipo contra o qual a seleção está
atuando.
Embora a diferença de adaptabilidade entre indivíduos resulte da seleção sobre todos
os locos simultaneamente, será dada atenção apenas ao efeito da seleção sobre um único
loco. As conclusões a serem apresentadas aplicam-se à seleção natural ou à seleção artificial
imposta pelo melhorista. Vários modelos de seleção podem atuar, conforme mostrado na
Tabela 6 e Figura 7.
35
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
A1A1
A2A2 A1A2
Dominância
1-s 1
1-s 1-hs 1
1-s1 1-s2 1
Figura 7. Esquemas representativos dos diferentes modelos de seleção.
a) Recessivo letal
Alguns alelos causam a morte do indivíduo antes que o mesmo atinja a idade
reprodutiva, como é o caso de algumas doenças em várias espécies. Em plantas, mutantes
para clorofila (albinos) geralmente são letais e atuam quando em homozigose. Nesse caso,
tanto o indivíduo homozigoto normal (A1A1) quanto o heterozigoto (A1A2) apresentam a
mesma adaptabilidade (1) enquanto que o outro homozigoto, A2A2, é letal com
adaptabilidade relativa de zero. A nova frequência alélica (q1) será:
36
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
p0 q 0 (1) + q 02 (0) pq
q1 = = +0
w w
Como a adaptabilidade média ( w ) é dada por:
w = p 02 + 2 p 0 q 0
w = p0 (1 + q 0 )
A nova frequência alélica será:
p0 q 0 q0
q1 = q1 =
p0 (1 + q 0 ) 1+ q0
q0
q = − q0
1+ q0
q 02
q = −
1+ q0
Estas últimas expressões permitem responder duas questões importantes com relação
à dinâmica da mudança de frequências alélicas com alelos letais: a) quantas gerações seriam
necessárias para ocorrer mudança na frequência alélica para uma quantidade específica? b)
qual será a mudança na frequência alélica após um número t de gerações, dada uma
frequência alélica inicial? Na tabela 7 são apresentados alguns exemplos. Quando a
frequência do alelo letal é alta, ela é reduzida muito rapidamente, por exemplo, de 0,5 a 0,25,
isto é, à metade, em apenas duas gerações. Já quando a frequência do alelo letal é muito
baixa, por exemplo, (0,01), são necessárias 100 gerações para reduzi-la à metade (0,005).
Esse fato decorre de que, quando a frequência alélica é baixa, a grande maioria dos alelos
letais estará oculta nos heterozigotos e, portanto, não sujeitos à seleção.
37
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Tabela 7. Número de gerações (t) necessárias para reduzir a frequência alélica de um valor
inicial qo para qt para um recessivo letal.
Qo qt t
0,25 2
0,5 0,1 8
0,01 98
0,05 10
0,1 0,01 90
0,001 990
0,005 100
0,01 0,001 900
0,0001 9900
q02 (1 − s ) + p0 q0
q1 =
1 − sq02
Fazendo p0 = 1 – q0
sq02 (1− q0 )
q = −
1 − sq02
Considerando-se um coeficiente de seleção pequeno, pode-se simplificar a equação
e, neste caso, a mudança na frequência alélica seria dada por:
38
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
q = sq02 (1− q0 )
Assim, o número de gerações (t) necessárias para reduzir a frequência alélica é dada por:
1 q0 − qt q (1 − q t )
t= + ln 0
s q0qt q t (1 − q 0 )
Tabela 8. Número de gerações (t) para reduzir a frequência alélica de um valor inicial (q0) a
outro valor (qt) para um alelo recessivo com s = 1 ou s = 0,2.
t
q0 qt
s=1 s = 0,2
0,25 3 15
0,5 0,1 10 51
0,01 103 513
0,05 11 54
0,1 0,01 92 462
0,001 995 4974
Tabela 9. Mudança nas frequências alélicas com uma geração de seleção, e diferentes tipos
de interação alélica para adaptabilidade. A frequência alélica inicial de A2 é q.
Tipo de interação Nova freq. alélica Mudança na freq. alélica
Ausência de dominância, seleção contra A2
sq (1 − q )
1 1 1
q− sq − sq 2
2 2 − 2
1 − sq 1 − sq
Dominância parcial de A1, seleção contra A2 q − hspq − sq 2 spq q + h(p − q )
−
1 − 2hspq − sq 2 1 − 2hspq − sq 2
Dominância completa de A1, seleção contra A2 q − sq 2 sq 2 (1 − q )
−
1 − sq 2 1 − sq 2
39
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Por exemplo, se deseja reduzir a frequência alélica em duas vezes, então q0/qt = 2.
Assim, o número de gerações t depende não das frequências alélicas propriamente ditas, mas
sim de quanto se deseja reduzir a frequência alélica inicial. Para levar a frequência alélica q0
= 0,8 até qt = 0,05 se gasta quatro gerações. Ao mesmo tempo, para levar a frequência q0 =
0,01 até qt = 0,000625 se gasta também quatro gerações. Isso porque em ambos os casos
reduziu-se a frequência alélica inicial em 16 vezes.
40
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
2 q0 (1 - qt )
t= ln
s qt (1 - q0 )
q0* qt t
0,80 0,20 27,73
0,60 0,15 21,40
0,40 0,10 17,92
0,20 0,05 15,58
0,10 0,025 14,66
0,05 0,0125 14,25
0,005 0,00125 13,90
* Valores arbitrariamente escolhidos.
0,5
Frequência alélica
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Gerações
Figura 8. Redução esperada () e observada () na frequência de um alelo letal recessivo em
d) Sobredominância ou vantagem após
Drosophila melanogaster, do heterozigoto
sete gerações.
41
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
pq (s1p − s 2q )
q =
1 − s1p 2 − s 2q 2
Há três condições em que o Δq pode ser zero, ou seja, em que pq (s1 p – s2 q)= 0.
As duas primeiras condições ocorrem quando p = 0 ou q = 0, evidentemente estas duas
condições não têm muito significado em termos seletivos, pois não tendo variabilidade a
seleção não pode atuar. A terceira condição, porém ocorre quando ps1 = qs2, assim pq será
nulo. Quando isto ocorre teremos:
s1 p = s 2 q fazendo p = (1 − q )
s1 (1 − q ) = s 2 q
s1 = s1q + s 2 q
s1 = q (s1 + s 2 )
s1
qe =
s1 + s 2
0,20
qe = = 0,4.
0,20 + 0,30
42
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
heterozigoto.
Provar a ocorrência de sobredominância não tem sido fácil; de fato são pouquíssimos
os exemplos que se enquadram bem nesse tipo de modelo. Entretanto, existem algumas
maneiras que ocorre sobredominância em adaptabilidade ou valor seletivo. Por exemplo, os
alelos podem contribuir em direções opostas para os componentes da adaptabilidade e pode
ocorrer certo grau de dominância em cada componente. A adaptabilidade, como um todo,
depende da combinação dos componentes. Por exemplo, em uma planta leguminosa pode-
se ter a situação especificada a seguir: Veja que, no número de vagens por planta o mais
adaptado é o genótipo A1A1 e o número de sementes por vagens é o A2A2. Como o número de
sementes por planta é o produto dos dois anteriores, o indivíduo com maior adaptação é o de
genótipo A1A2. Veja que mesmo sem ocorrer sobredominância o heterozigoto é o mais
adaptado. A frequência de equilíbrio será:
s1 0,3143
qe = = = 0,8463
s1 + s 2 0,3143 + 0,0571
Caráter Genótipos
1 1
AA A1A2 A2A2
Número de vagens/planta 16 14 11
Número de sementes/vagem 3 5 6
Número de sementes por planta 48 70 66
Coeficiente de seleção (s) 0,3143 0 0,0571
Adaptabilidade 0,6857 1 0,9429
Outra situação seria a sobredominância ocorrer a nível molecular. Neste caso, dois
alelos de um mesmo loco poderiam ter propriedades diferentes, tais como atividade
enzimática, estabilidade ao calor e pontos ótimos de temperatura, pH, etc. Assim, a mistura
dos produtos dos dois alelos poderia tornar o heterozigoto mais vantajoso que os homozigotos.
Quando isto ocorre na população são mantidos os diferentes genótipos, sendo um
exemplo de “polimorfismo balanceado”, termo criado pelo evolucionista famoso FORD para
descrever situações em que a variabilidade genética é mantida por meio da seleção. Alguns
exemplos são conhecidos. Em Drosophila melanogaster um dos genes que afeta a cor do
corpo, o alelo dominante do gene E confere a cor normal e o e (ebony) a cor escura do corpo.
43
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
O mutante ebony permance por muito tempo em populações de laboratório. Foi sugerido que
isto ocorre porque o heterozigoto Ee tem vantagem seletiva.
Um caso muito estudado é do gene causador da anemia falciforme em humanos. O
alelo Hbs do gene é normalmente letal em homozigose (HbsHbs). É responsável por
aproximadamente 100.000 mortes/ano Ele altera a α hemoglobina dificultando o transporte
de oxigênio. O indivíduo normal HbAHbA tem as células sanguíneas redondas. O heterozigoto
tem a forma alterada, fica em forma de foice, oitenta por cento dos indivíduos homozigotos
(HbsHbs) morrem antes da reprodução (A = 0,8). Se a intensidade de seleção é tão alta como
o alelo permanece na população em frequência alta, cerca de 10%.
A explicação é obtida em associação com a ocorrência de malária (Plasmodium
falciparum). O indivíduo heterozigoto tem vantagem adaptativa. Quando o parasita da malária
entra em contato com células vermelhas, eles a destroem, provavelmente comem a
hemoglobina. As células infectadas em forma foice são destruídas junto com o parasita. Os
indivíduos sobrevivem porque a maioria das células vermelhas não é afetada e carregam o
oxigênio normalmente. Portanto, onde há o parasita da malária é comum o heterozigoto
sobreviver melhor que os homozigotos normais. Na Nigéria ocorre malária e já foi estimada a
adaptação dos genótipos HbAHbA como sendo de w = 0,88, ou seja coeficiente de seleção s1
= 0,12. Já o genótipo HbsHbA tem adaptação igual a 1. Nesta condição, o equilíbrio com a
seleção é atingido com a freqüência do alelo Hbs = q na população de:
s1 0,12
q= = = 0,1276 0,13
s1 + s 2 0,12 + 0,82
44
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
sobreviver com os recursos ambientais disponíveis, e a morte causada por fatores genéticos
daria lugar à morte devido à falta de alimentos ou outros recursos.
SELEÇÃO MUTAÇÃO
- Alelo A2 +
(q)
Em um tempo relativamente longo deve-se atingir um equilíbrio, onde não mais haveria
mudança na frequência alélica. Nessa situação q devido a mutação seria igual e de sentido
oposto a q devido a seleção, assim:
Considerando dominância completa:
sq 2 (1 − q )
u(1 − q ) − vq =
1 − sq 2
O interesse aqui é para genes cuja freqüência alélica é baixa, de modo que vq é
desprezível, bem como sq2. Assim tem-se aproximadamente:
u(1 − q ) = sq 2 (1 − q )
u = sq 2
u
q=
s
Essa expressão para o equilíbrio da frequência alélica sob a ação conjunta da mutação
e seleção mostra que a frequência alélica pode ter qualquer valor no ponto de equilíbrio,
dependendo somente da magnitude relativa da taxa de mutação e do coeficiente de seleção.
10 −5
Por exemplo, se u = 10-5 e s = 0,1 então q = = 0,01e q 2 = 0,0001
0,1
Este exemplo mostra que mesmo com uma seleção branda (s = 0,1) a frequência do
alelo mutante é mantida a níveis muito baixos. Por isso é que em populações naturais a
45
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Para se ter uma noção mais precisa do que a seleção é capaz de fazer serão
utilizados alguns exemplos de caracteres submetidos a seleção por um grande número
de gerações. O que precisa ficar bem claro é que, o efeito da seleção natural realizada
pelo homem é o mesmo. O que pode variar é o objetivo da seleção. Seja por exemplo,
o processo de domesticação do milho, uma gramínea nativa do México. É
impressionante o que o homem conseguiu em termo do aumento no tamanho da
espiga por exemplo. (Figura 9). Comparando o tamanho da espiga da planta primitiva
e da espiga de um híbrido atual fica fácil visualizar a resposta a seleção praticada pelo
homem por alguns milhares de gerações.
46
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Figura 10. Resultado da seleção para alto e baixo teor de proteína em milho realizado
em Illinois. Fonte: Dudley &47
Lambert (2004)
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Figura 11. Resultado da seleção para alto e baixo teor de óleo em milho realizado em
Illinois. Fonte: Dudley & Lambert (2004)
48
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Figura 13. Algumas raças de cães mostrando o que a seleção artificial é capaz de
fazer.
49
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
50
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
aquele que estiver com sd terá sua vantagem seletiva ampliada. Esse fato é conhecido
como “arraste por ligação”, do inglês “linkage drag”. Como a seleção diminui a
diversidade genética nos locos sob seleção, devido ao efeito da ligação genética os
locos adjacentes também terão sua diversidade genética reduzida. Essa redução de
diversidade ao redor de um gene com influência adaptativa é conhecida como
“varredura seletiva”, do inglês “selective sweep”. Sendo assim, a seleção não afeta
apenas um gene, mas possivelmente todos os outros genes que estão próximos, ou
geneticamente ligados, no cromossomo.
Esse assunto é bem controvertido como já enfatizado. Porém, Mayr (2006) é bem
enfático a esse respeito. O fenótipo do indivíduo é o objeto da seleção. Segundo ele,
o conceito de evolução como sendo qualquer alteração nas frequências alélicas das
populações, como nós temos utilizado nessa disciplina, não é correto. O mais
apropriado seria mudança de fenótipos, em particular, a manutenção (ou a melhoria)
da adaptação ou a origem da diversidade. Mayr salienta que as alterações nas
frequências alélicas são o resultado da evolução e não a causa. Assim, é possível
utilizar as frequências alélicas para se entender os efeitos da seleção nas
propriedades genéticas das populações.
SELEÇÃO ESTABILIZADORA
Uma população de indivíduos que permanece por um longo período de tempo
em uma determinada condição ambiental desenvolve fenótipos que são adaptados
àquela condição. Isto é, muitos dos fenótipos tendem a aglutinar-se ao redor de um
valor em que a adaptação é maior. Os indivíduos extremos que desviam deste ótimo
são menos adaptados e, provavelmente, serão eliminados. Esse tipo de seleção é
conhecido como seleção estabilizadora, e tende a diminuir a variância fenotípica da
população. Como se observa na figura 14, são selecionados os indivíduos que
apresentam desempenho em torno da média, reduzindo a variabilidade.
Alguns exemplos de seleção estabilizadora são bem conhecidos. Estudos com
pardais que sobreviveram a uma tempestade apresentaram em oito dos nove
caracteres avaliados, valores próximos da média; enquanto os que morreram
mostraram variabilidade muito maior. Segundo o pesquisador “É bem perigoso ser
notado acima de um padrão, bem como, estar abaixo deste padrão”.
51
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
2 3 4 5 6 7 8
9 10
Peso ao nascer (IB)
Figura 15. Taxa de sobrevivência em função do peso dos bebês de sexo feminino em
Londres (Exemplo de seleção estabilizadora).
52
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
53
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
SELEÇÃO DIRECIONAL
54
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
SELEÇÃO CÍCLICA
Quando o ambiente varia muito em diferentes direções entre gerações ou entre
estações, o fenótipo ótimo, e consequentemente o genótipo ótimo, pode alterar em
sentidos opostos de acordo com o ambiente. O resultado disso é a seleção em uma
direção em uma ou mais gerações e em direção oposta em outras gerações (Figura
13). Esse tipo de seleção contribui para manter as diferenças genéticas na população,
55
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
uma vez que diferentes fenótipos podem ser vantajosos em diferentes momentos ao
longo da evolução da população.
SELEÇÃO DISRUPTIVA
56
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Figura 17. Mariposas Biston betularia de cor clara e escura pousadas sobre troncos de
árvores cobertas de liquens e coberto de fuligem .
Ao que tudo indica o fenótipo claro devido ao genótipo cc e o escuro C_. Há dúvida
a respeito do alelo C ser realmente dominante, pois em certas situações o heterozigoto tem
fenótipo intermediário dos homozigotos. Além do mais, já foi identificada a presença de
alelos múltiplos. Estimativas das frequências dos alelos C e c, considerando apenas
dominância foram apresentadas por RIDLEY (2004). As estimativas foram realizadas
considerando certa taxa de mutação e de intensidade de seleção (Tabela 9).
Tabela 9. Alteração teórica nas frequências alélicas do gene envolvido com a cor da
mariposa B. betularia. Foi considerada uma frequência inicial do alelo C de 0,00001
arredondado para zero na tabela, correspondente a frequência de mutação de 10-5. O ano
de início foi 1848 na simulação e a intensidade de seleção de s = 0,33 (Adaptado
RIDLEY, 2004).
Frequência alélica
Data (geração)
C c
1848 0,00 1,00
1858 0,00 1,00
1868 0,03 0,97
1878 0,45 0,55
1888 0,76 0,24
1898 0,86 0,14
1908 0,90 0,10
1918 0,92 0,08
1928 0,94 0,06
1938 0,96 0,04
1948 0,96 0,04
57
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Tabela 10. Frequência de fenótipos claros e escuros das mariposas em ambientes com e
sem poluição. Os números observados são os números recapturados e o
número esperado é o que seria recapturado se a sobrevivência fosse igual.
(Mariposas que foram soltas e as recapturadas de 1 a 5 semanas após).
Mariposas
Claras Escuras
Ambiente Poluído
Número recapturado
Observado 18 140
Esperado 36 122
Sobrevivência relativa 0,5 1,15
Adaptação relativa (w) 0,5 1,15
= 0,43 =1
1,15 1,15
58
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
59
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Produto do Grupo A
S
SSS S S Após a S
SS S S S
SSS S pulverização S R
SS R
S
Produto do Grupo A
S S
S S S Após a R
S R
S S S
R S
S S S R pulverização R
S
R S S S
S
Produto do Grupo A
R SR
R S S R
S S R R Após a R
S R
S R S S R R
SS pulverização
RS S R R R
S
1 − sqo
2
mostra o trabalho realizado por CURTIS et al. (1978). Foi considerado o tempo de cada
geração como sendo um mês. Os resultados obtidos mostram que os insetos resistentes
têm adaptação quase o dobro dos suscetíveis, o que é uma forte intensidade de seleção.
60
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Tabela 12. Principais mecanismos de resistência aos inseticidas. Adaptado PRYOR (2004).
Mecanismo Inseticida
Comportamento
Aumenta a sensitividade ao inseticida DDT
Evitando microhabitats tratados Vários
Aumentando a destoxificação DDT, Piretróides, Carbonatos
Dehydrochiborinase Organosfosfatados, Organofosforado
Diminuindo a sensibilidade no local alvo Organofosforado
Acetylcholinesterase DDT, Piretróides
Diminuição na penetração cuticular Maioria dos inseticidas
61
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
62
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Sabe-se que o caráter tipo de crescimento é controlado por um gene (Fin) com
dominância do alelo que condiciona o fenótipo indeterminado (Fin). Testando a
hipótese de ¾ (Fin_) e ¼ (finfin) na geração F 2 , verificou-se o teste de qui-quadrado
(2 ) foi não significativo, possibilitando aceitar a hipótese formulada e concordando
com os resultados anteriormente citados.
Na ausência de seleção natural os resultados esperados com o decor rer da
endogamia estão apresentadas na tabela 13. Na mesma tabela, estão os resultados
observados pela pesquisadora. Veja que as frequências observadas são diferentes
das esperadas já a partir da F 3 . Na F 13 , por exemplo, apenas uma das plantas
apresentou hábito determinado, enquanto o esperado era de 50. A seleção atuou
favorecendo os indivíduos de crescimento indeterminado, que por serem mais
agressivos deixaram mais descendentes.
Um outro caráter observado foi o peso de 100 grãos que teve uma nítida
tendência de redução com o avanço das gerações (Tabela 14). Veja que o coeficiente
de regressão linear estimado foi negativo (b = -0,60) indicando que a cada geração o
peso médio dos grãos reduziu de 0,60 g.
63
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Tabela 14 . Peso de 100 grãos (g) de feijão do cruzamento Manteigão Fosco x nas 13
gerações conduzidas em “Bulk”.
Gerações Peso de 100 grãos (g)
F2 28,97
F3 26,53
F4 25,49
F5 23,69
F6 23,86
F7 23,47
F8 23,39
F9 23,31
F10 21,77
F11 21,54
F12 21,27
F13 21,17
Média 23,71
B -0,60
R 2 (%) 86
64
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Gerações R S R S χ c2 Probabilidade
Com relação ao tamanho dos grãos, pode-se imaginar que as plantas possuem
um mesmo potencial de produção (g/plantas) assim aquelas com grãos menores terão
mais grãos, ou seja, maior número de descendentes. Assim, a frequência dos alelos
para grãos menores incrementam rapidamente. Por que o mesmo fato não foi
observado com relação ao fungo? A mais provável resposta é que quando do plantio
das gerações (F 2 a F13 ) no campo não ocorreu o patógeno, desse modo, a seleção
natural não atuou contra o alelo recessivo observando as frequências esperadas de
acordo com as proporções mendelianas.
65
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
66
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
d) Aumento da homozigose
A frequência dos homozigotos aumenta à custa da frequência dos heterozigotos.
Como os alelos recessivos, em geral, tendem a ser deletérios, há uma perda de fertilidade e
viabilidade que quase sempre estão associados com a endogamia.
Para entender a deriva genética de uma forma mais simples, imagine uma população
ideal ou população base, infinitamente grande, conforme a Figura 20. Esta população é
subdividida em um grande número de subpopulações ou linhas, constituídas de N indivíduos
cada. Esta subdivisão pode ocorrer devido a causas geográficas ou ecológicas em populações
naturais ou por condições controladas em populações domesticadas ou de laboratório. Todas
as linhas juntas constituem a população como um todo e cada linha é uma população pequena,
na qual a deriva genética pode ocorrer. O que ocorre aos alelos de um loco em várias linhas
ocorre igualmente em vários locos numa mesma linha, admitindo que todos tivesse a mesma
frequência inicial. Para facilitar o entendimento desse processo considere, inicialmente, as
seguintes condições que simplificam o modelo:
i) Os acasalamentos estão restritos aos membros de uma mesma linha, isto é, não há
migração, entre as subpopulações.
ii) Não ocorre sobreposição de gerações, como é o caso de plantas anuais.
iii) O número (N) de indivíduos que se acasalam é o mesmo em todas as linhas e gerações.
iv) Os acasalamentos são inteiramente ao acaso, incluindo autofecundação em quantidade
aleatória.
v) Não há seleção em nenhuma linha ou geração.
vi) A mutação é desconsiderada
67
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
O que ocorre em termos das propriedades genéticas pode ser estimado a partir da
expressão da variância das frequências alélicas ( σ q2 ) que é obtido por uma espécie diploide;
q(1 q ) q(1 q )
q2 = ou q = q = 0,5 . 0,5 / 2 . 2 = 0,79
2N 2N
Por exemplo, se a população inicial tem 5000 indivíduos e p = q = 0,5, o desvio nas
0,5(0,5)
frequências alélicas será q = = 0,005 , ou seja, se for considerado um grande
2 * 5000
número de amostras de tamanho 5000 em 68% delas a frequência alélica irá flutuar de q = 0,5
± 0,005, ou seja, entre 0,495 e 0,505. Isto é, ocorre o que denominamos de fixação dos
alelos. Acaba com a variabilidade da população que passa a possuir apenas genótipos
homozigotos, BB quando q = 0 e bb para q =1,0. Se continuar com está amostra pequena,
após algum tempo todas as subpopulações poderão fixar seus alelos. De um modo
imprevisível, para maior adaptação BB ou ao contrário menor adaptação bb.
Pelo último comentário fica claro que as subpopulações não irão fixar o mesmo alelo.
Inlusive, porque a frequência alélica média das subpopulações é igual à frequência alélica da
68
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
2BB x Bb 2 ( 14 . 12 ) = 14 3
4
1
4
2BB x bb 2 ( 1 4 . 1 4 ) = 18 1
2
1
2
Bb x Bb 1
2 . 12 = 14 1
2
1
2
2Bb x bb 2 ( 12 . 14 ) = 14 1
4
3
4
bb x bb 1
4 . 1 4 = 116 0 1
Média 1
2
1
2
genótipo BB e quatro com genótipo bb. A frequência alélica média como já comentado será a
mesma da população original. Verifica-se que em 56 subpopulações (64-8) ainda não ocorreu
a fixação. Porém, na próxima geração, considerando novamente amostra de tamanho 2, mais
fixação deverá ocorrer. Na realidade, nesta terceira geração 18,75 das amostras-
subpopulações – já estarão fixadas, Ou seja, das 64 amostras, 12 não terão mais variabilidade.
O processo se repetindo ao final todas as subpopulações estarão fixadas. Quando isto ocorrer
32 das amostras serão BB e 32 bb.
Quando N é grande, a fixação ocorre lentamente. Mas mesmo para populações
grandes, em longo prazo, certa proporção de fixação pode ocorrer. Wright citado por
Strickberger (1976) mostra o que ocorre com populações de diferentes tamanhos (Figura 21).
Veja que para populações de tamanho superiores a 10.000 a 100.000 é que, no tempo
avaliado, a fixação não ocorreu.
69
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Figura 21: Fixação de alelos considerando populações com diferentes tamanhos. Veja que,
com uma população de 1.000 ou 5.000 a fixação ocorre já com 10.000 e 100.000 ela não
ocorreu durante o tempo em que foi avaliada. Fonte: Strickberger, 1976.
70
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Veja o exemplo apresentado na figura 22. Assim, três dos aspectos do processo
dispersivo já podem ser visualizados: a oscilação das frequências alélicas, diferenciação em
subpopulações e a fixação dos alelos.
Figura 22. Frequências alélicas ao longo de 15 gerações para dez populações de tamanho
20.
1
A2 A2 = q 2 = .
4
Se ela for autofecundada, a frequência genotípica passa a ser:
3
A1 A1 = ;
8
2
A1 A 2 = ;
8
3
A2 A2 = .
8
Veja que a frequência alélica não foi alterada, pois:
3 2
2 +
p1 =
8 8 1
=
2 2
1
q1 = 1 − p1 =
2
Porém, a frequência genotípica foi modificada. Há incremento na frequência dos
genótipos homozigóticos e redução dos heterozigóticos. Se nós imaginarmos que o alelo A2
for prejudicial, deletério, a endogamia aumenta a frequência dos indivíduos A2A2, expressando
maior carga genética e facilitando a seleção. Vejamos agora o que ocorre com a média da
população. Sejam os genótipos mostrados a seguir com os respectivos valores genotípicos:
A1A2 2pq 80 1
2
2
8
A2A2 q2 20 1
4
3
8
MÉDIA 70 65
72
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
73
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
descendência.
Outro modo de visualizar esse fenômeno. Seja um loco A em um indivíduo diploide.
Então, nós teremos, para dois indivíduos, os seguintes genótipos:
A iA j
A k Al
Em que o índice indica apenas que o indivíduo inicial não é aparentado, isto é, não
possui alelos idênticos por descendência, pois os índices são diferentes.
Qual seria a probabilidade dos descendentes terem nos genótipos alelos idênticos por
descendência, por exemplo, A i A i ? A frequência do alelo A i é 1 4 , e a probabilidade de de unir
de tamanho 2. Ou seja, o mesmo valor que seria obtido com a expressão anterior:
F= 1 = 1 = 1 .
2N 2 2 4
Se for incluído mais um indivíduo não aparentado Am An, a probabilidade passa a ser:
A i Ai = 1
6 16 = 1
36
AjA j = 1
6 16 = 1
36
A kA k = 1
6 16 = 1
36
Al Al = 1
6 16 = 1
36
Am Am = 1
6 16 = 1
36
An An = 1
6 16 = 1
36
anterior, F = 1
2N , onde N = 3, F = 1
23 = 16 .
Esse é o coeficiente de endogamia da geração 1. Na geração 2 já existem dois modos
pelos quais os homozigotos idênticos podem aparecer: um devido à união de alelos idênticos
já acumulados na geração anterior, e o outro devido às novas uniões que são possíveis nessa
geração. Essa nova probabilidade é também 1 , pela mesma razão. Lembrando que nessa
2N
74
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
nova geração apenas 1− 1 2 N dos zigotos têm alelos que não são idênticos por descendência.
2q = p0 q0 1 − (1 − 12 N )t = p0 q0 F
(q ) = q
2
0
2
+ 2 q = q0 + p0 q 0 F
2
75
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
A1A2
2 pq − 2 q2
A2A2
q 2 + q2
alelos bw75 ou bw. O empilhamento ocorre porque uma vez que o alelo é fixado ou perdido,
não há mais possibilidade dele reverter a qualquer outra frequência. Na geração 18, cerca de
50% das subpopulações foram fixadas para um alelo ou outro e, as populações não fixadas
apresentaram frequências alélicas semelhantes.
Número de
Figura 23. Deriva genética em 107 populações de Drosophila melanogaster. Cada uma das
populações inicial consistia de 16 indivíduos heterozigotos bw75/bw (N = 16; bw75
olhos avermelhados e bw olhos marrons). Em cada uma das progênies em cada
geração, oito machos e oito fêmeas eram tomadas aleatoriamente para formar a
próxima geração. Com o passar do tempo, números crescentes de populações se
tornaram fixadas para um ou outro alelo. (Buri, 1956)
casal contribuiu com mais de 25% dos alelos da população em 1885. Posteriormente, mais
três genitores foram introduzidos na ilha. Foi possível mostrar em 1961 que 45% dos alelos
presentes na população humana da ilha eram devido a apenas cinco genitores. Durante
esses anos ocorreram flutuações no tamanho populacional. A redução é como se os alelos
tivessem que passar pelo gargalo de uma garrafa, redução drástica. E, posteriormente, a
população retorna à condição normal. A chance que a nova população acabe com toda a
variabilidade – fixação dos alelos é fornecida pela probabilidade de ocorrer homozigotos na
população, ou seja, (p2)N + (q2)N. É fácil visualizar que a probabilidade de eventos
fundadores produzirem só homozigotos é muito pequena. Ridley (2006) mostra que mesmo
com um tamanho tão pequeno como N = 10, a chance de só ocorrer homozigoto é muito
pequena, especialmente se p =q. O mesmo autor comenta como foi formada parte da
população da África do Sul, “Africânder”. Ao que tudo indica, eles descendem de imigrantes
que chegaram num navio de carga, em 1652. Atualmente, a população tem 2,5 milhões de
indivíduos e mais de um milhão possui nome dos 20 colonizadores iniciais. Esse fato tem
permitido acompanhar alguns alelos na população. Um dos imigrantes que chegou em 1652
tinha a doença de Huntington. A maioria dos indivíduos da população atual, que possui
essa anomalia, pode ser rastreada até o imigrante com a anomalia. Vários outros exemplos
são conhecidos.
78
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
O que são espécies? Por que elas existem? Como se mantêm isoladas? Esses são
alguns questionamentos que os biólogos constantemente formulam. O conceito de espécie
pode ter significado diferente em diferentes áreas da biologia. Alguns taxonomistas adotam
o conceito tipológico, por meio de caracteres fenéticos ou morfológicos. Segundo Ridley
(2004), caracteres fenéticos são aqueles que podem ser observados ou medidos no
organismo incluindo caracteres microscópicos e fisiológicos. Os morfológicos são
caracteres de forma observados no organismo como um todo ou em parte. Assim, por
exemplo, o comportamento de um animal e sua fisiologia faz parte de caracteres fenéticos,
mas não morfológicos. Contudo, na prática eles se misturam. As expressões fenética e
fenotípica também são frequentemente utilizadas como sinônimos. Os taxonomistas
observam um dado caráter comparando a expressão fenotípica de outra espécie para
definir se é uma nova espécie ou apenas indivíduos diferentes da mesma. O problema é
que há muita variação na expressão fenotípica dos diferentes caracteres que dificultam a
classificação em muitas situações.
Os evolucionistas por seu turno têm o conceito de espécie fundamentado na
capacidade dos indivíduos da mesma espécie trocam alelos entre si, ou seja, espécie é um
grupo de indivíduos que possuem a capacidade de trocar alelos livremente entre si, porém
não com indivíduos de outra espécie. Os indivíduos de uma espécie participam de um pool
gênico comum. A espécie é uma unidade de evolução. Esse é conhecido como conceito
biológico de espécie. Em vários casos, a classificação dos tipologistas e dos evolucionistas
79
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
coincide, porém há situações que isto não ocorre, o que gera confusão. No gênero
Eucalyptus, por exemplo, os taxonomistas colocam como espécie distinta Eucalyptus
grandis e Eucalyptus urophyla, fundamentado em diferenças morfológicas e em suas
regiões de ocorrência distaintas. O E. urophylla é uma das poucas espécies que não ocorre
no continente Australiano, como o E. grandis, mas sim nas ilhas ao norte como a de Timor.
Contudo, indivíduos dessas duas espécies ainda se intercruzam produzindo descendentes
férteis e viáveis, sendo inclusive o híbrido E. grandis x E. urophylla o mais utilizado nas
florestas plantadas do Brasil. Portanto, de acordo com o conceito biológico de espéces, E.
grandis e E. urophylla constituem uma espécie única.
Há também o conceito ecológico de espécie. Esse conceito é discutido por Ridley
(2004) e não será comentado aqui. Apenas será mencionado que por esse conceito, a
espécie é um grupo de indivíduos adaptados a um determinado nicho ecológico, incluindo
seus habitats.
Cabe ressaltar que a classificação dos indivíduos em categorias discretas é uma
necessidade do Homem. A natureza não está nem um pouco preocupada com essa nossa
necessidade de atribuir nomes às coisas. De fato, conforme visto ao longo desta apostila,
as forças evolutivas, como mutação, deriva genética e seleção natural, vão alterando as
frequências alélicas de forma muito lenta. Sendo assim, as espécies não derivam de um
ancestral comum a partir de um evento repentino que, da uma hora para outra, transforma
uma espécie ancestral em duas. Conforme veremos a seguir, a partir do isolamento
reprodutivo, duas populações vão acumulando diferenças genéticas, por deriva e seleção
natural. Em longo prazo, esses processos podem levá-las a acumularem diferenças
morfológicas e a não terem mais compatibilidade reprodutiva, já que os materiais genéticos
se tornaram muito divergentes. Nesse contexto, fica evidente que a evolução das espécies
ocorre paulatinamente e de forma contínua, ao invés de ser um evento abrupto e discreto.
Portanto, a classificação de espécies acaba sendo, muitas vezes, um processo arbitrário
ditado pelos especialistas na taxonomia de cada grupo de espécies.
Porém, dado a necessidade de categorizar os indivíduos em nomes de espécies,
facilitando nossa comunicação, é preciso adotar um critério para isso. O conceito a ser
adotado nessa disciplina, evidentemente, é o conceito biológico. Nesse contexto é
necessário comentar que há ainda alguns conceitos importantes relacionados à espécie.
Por exemplo, especiação alopátrica, que ocorre quando as populações são
geograficamente isoladas; especiação simpátrica, tipo de especiação em que uma
espécie origina duas espécies dentro de uma mesma região geográfica; espécies crípticas
ou irmãs, populações morfologicamente similares ou idênticas que são isoladas
reprodutivamente.
80
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
81
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
ISOLAMENTO DE HABITAT
82
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
ISOLAMENTO TEMPORAL
sair do ritmo. Menos fácil é entender a origem da progênie de cada espécie emergindo
em anos diferentes e a existência de ciclos de 17 e de 13 anos.
ISOLAMENTO ETOLÓGICO
Etologia é o estudo do comportamento animal. Essa é uma das áreas mais
interessantes da biologia, sobretudo no que é relacionado à reprodução. Há uma infinidade
de exemplos descritos na literatura. Nas aves, por exemplo, a visão e o canto são os
principais fatores da atração sexual. A plumagem, os adornos e exibições no corte
desempenham papel fundamental no reconhecimento do sexo oposto, porém da mesma
espécie.
Um exemplo marcante é apresentado por Dobzhansky (1970) relacionado às aves
do gênero Ptilorhynchidae. Nesse gênero já foram descritas 19 espécies que vivem na
Austrália e Nova Guiné. O comportamento no momento da corte é extraordinário. Os
machos constroem "caramanchões", cada espécie a seu modo, que decoram em vários
estilos. Para a decoração dos caramanchões algumas espécies usam flores e frutos de
cores vivas ou constroem avenidas de acesso com ossos alvejados, pedras, peças de
metal que podem encontrar ou campos de musgo. Uma espécie chega a ponto de pintar
seu caramanchão com a polpa de frutos, usa para isto, como pincel um chumaço de
capim seco ou uma cortiça esponjosa. As fêmeas são seduzidas para entrar no
caramanchão, onde ocorre a cópula. Entretanto, os ninhos são construídos em outros
lugares, sem nenhuma decoração especial.
Em sapos e rãs os estímulos auditivos desempenham um papel impor tante na
reunião de fêmeas e machos da mesma espécie nos seus locais de reprodução. Durante
a estação de reprodução os chamados dos machos atraem as fêmeas e também
estimulam outros machos a se aproximarem e começarem a chamar, de modo que se
forma um "coro" de indivíduos coespecíficos. A resposta ao chamado é própria para
cada espécie. O papel de estímulos auditivos no isolamento reprodutivo das espécies
vem sendo estudado A Tabela 18 fornece exemplos das características dos chamados
(sons) de onze espécies de rãs hilas que ocorrem na Flórida. São mostradas a
freqüência dominante (em ciclos por segundo) e a duração média (em segundos), tal
como foram reveladas por meio de espectrogramas de som. Observe que não há duas
espécies com o mesmo padrão de sons emitidos. Na realidade as diferenças são bem
mais numerosas - por exemplo, a taxa de repetição para as espécies que produzem
trinados varia de 9,7 notas por segundo em Hyla phaeocrypta a 50,0 em H. ocularis.
84
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
Tabela 18. Valores médios para a frequência dominante e duração dos sons de
chamamento de onze espécies de rãs hilas. Fonte: Dobzansky, (1970).
Frequência dominante,
Espécie ciclos por segundo Duração, segundos Trinado
85
Bases Genéticas da Evolução DBI 117
ISOLAMENTO MECÂNICO:
Esse isolamento ocorre devido a diferenças estruturais nos órgãos
reprodutivos. Há vários exemplos. Na falsa erva-de-rato (Asclepias spp) plantas
tóxicas que ocorrem em pastagens, as flores de espécies distintas têm a estrutura
floral tão diferente que mesmo com visitas sucessivas de insetos polini zadores, não
há ocorrência de híbridos interespecíficos.
Em muitas espécies da família das Escrofulariáceas (Penstemon) ocorrem
plantas com flores azuis ou avermelhadas, mas o tamanho e a forma das flôres diferem
muito de uma espécie para outra. Algumas são adaptadas à polinização por abelhas
grandes, tais como as xilacopíneas, outras, por mamangavas, outras ainda, por abelhas
pequenas, solitárias, ou por vespas. Algumas espécies, além disso, possuem flores de
coloração vermelha viva e forma tubular que se adapta aos bicos dos beija-flores, seus
principais polinizadores (Figura 24).
As espécies de bocas-de-leão (Antirrhinum), muitas das quais são encontradas
em estado silvestre na Espanha, são todas polinizadas por abelhas altamente
desenvolvidas, com instintos especializados, um dos quais é o da constância de flor. As
abelhas de uma determinada colméia visitam flores de uma única espécie. Experiências
em um jardim plantado contendo duas espécies de boca-de-leão mostraram que uma
determinada abelha raramente voará da flor de uma espécie para a de outra, embora
abelhas diferentes da mesma colméia visitem ambas as espécies. É importante enfatizar
que são produzidas poucas sementes híbridas na natureza, embora tais híbridos
possam ser facilmente obtidos por polinização artificial.
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Bases Genéticas da Evolução DBI 117
ISOLAMENTO GAMÉTICO
Quando óvulos de duas espécies de ouriço-do-mar Strongy locentrotus
purpuratus e S. Franciscanus são expostos a mistura de esperma das duas espécies, a
fertilização de esperma da mesma espécie é muito mais frequente. O mesmo fato é
observado para espécies de peixes em que a fertilização é externa. Outros exemplos
são conhecidos em Drosophila em que foi realizada a inseminação artificial utilizando
espermatozóides de diferentes espécies. A eficiência é muito maior quando o
espermatozóide (semen) é da mesma espécie do óvulo.
Um belo exemplo de incompatibilidade gamética ocorre em espécies do gênero
(Tribolium), barata da farinha. Em duas espécies T. Castaneum, T. Fremani, não há
mecanismos de isolamento antes da fertilização, isto é, os machos das duas espécies
copulam indisdintamente com as fêmeas. Em experimento realizado por Wade et al
(1993) com fêmeas de T. Freemani, foram avaliados três tratamentos: (i, a fêmea foi
submetida sucessivamente a dois machos de T. Fremani ii) com dois machos de T.
Castaneum; ou i) com um macho de cada uma das espécies. Constatou-se que as
fêmeas produziram a mesma quantidade nos três casos e os ovos eclodiram (contudo,
estéreis). Isto mostra que o espermatozóide de T. Castaneum consegue fertilizar os
óvulos de T. Freemani. Entretanto, quando as fêmeas de T. Freemani foram colocadas
com os machos de ambas as espécies, condição iii, menos de 3% dos descendentes
foram híbridos, ou seja mais de 97% dos óvulos foram fertilizados por espermatozóides
de T. Freemani. Há competição entre os espermas das espécies diferentes e o da
mesma espécie vence a competição. A fisiologia dos órgãos reprodutivos da fêmea é
que realiza a seleção dos espermatozóides .
Em plantas ocorrem inúmeros exemplos. No gênero Nicotiana, o pólen de uma
espécie aborta no estigma da flor de outra espécie bem relacionado. Nesse caso,
inclusive foi constatado que a reação de compatibilidade não tem controle genético
monogênico.
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Bases Genéticas da Evolução DBI 117
A fecundação ocorre e os zigotos híbridos são formados, mas estes são inviáveis
ou produzem híbridos fracos ou estéreis. Há alguns tipos:
( ), não germinaram porque o embrião não conseguiu romper o invólucro da semente nas
condições naturais.
ESTERILIDADE DO HÍBRIDO
a poliploidia porque a esterilidade pode quase sempre ser suplantada por meio da
duplicação do número de comossomas. Vários exemplos obtidos desse modo são
encontrados na natureza, de alopoliploides férteis. Algumas espécies alopoliploides, e que
hoje assumem grande importância econômica após terem duplicado seus comossomas,
são o trigo comum (Triticum durum x Aegilops squarrosa), triticale (Triticum aestivum x
Secale cereale) e nabo (Brassica oleracea x Brassica campestris), entre outras.
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