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Resposta ao 2º exercício

Ficha de Leitura/Recensão crítica

BARTHES, Roland – A câmara clara, nota


sobre fotografia; Edições 70, Março 2015.
ISBN 978-972-44-1349-5

A CÂMARA CLARA
Nota sobre fotografia
Estudos de fotografia 2015/2016
1ºano A.P. 2º semestre
Sara Silva dos Santos

A câmara clara, nota sobre fotografia, foi escrito por Roland Barthes, que
para além de escritor foi um filósofo francês, este livro trata-se de um romance
baseado na fotografia, (apesar de o autor não ser fotografo questiona e
questiona-se sobre algumas questões relacionadas com a fotografia e imagem
fotográfica), esta obra apresenta-se dividida em duas partes, neste trabalho
debruço-me essencialmente na segunda parte do livro.
Na primeira parte do livro o autor reflete sobre a imagem fotográfica,
debruça-se principalmente sobre os conceitos de punctum e o studim; “Não
conseguia encontrar, em francês, uma palavra que exprimisse simplesmente
essa espécie de interesse humano; mas creio que essa palavra existe em latim:
é o studium, que não significa, pelo menos imediatamente, «o estudo», mas a
aplicação a uma coisa, o gosto por alguém, uma espécie de investimento geral,
empolgado, evidentemente, mas sem acuidade particular. É pelo studium que
me interesso por muitas fotografias, que as receba como testemunhos políticos,
quer as aprecie como bons quadros históricos, porque é culturalmente (…) que
eu participo nas figuras, nas expressões, nos gestos, nos cenários nas ações.” 1,
pela citação anterior conclui que o studium está relacionado a uma leitura
objetiva definida da imagem e contraditoriamente o punctum corresponde ao
lado mais intimo da imagem, ligado ao afeto, algo que toca ao observador; “A
este segundo elemento que vem perturbar o studium eu chamaria, portanto,
punctum; porque punctum é também picada, pequeno orifício, pequena mancha,
pequeno corte – e também lace de dados. O punctum de uma fotografia é esse
acaso que nela me fere (mas também me mortifica, me apunhala).”2
Na segunda metade do livro Barthes estabelece uma analogia entre a
fotografia e a morte, na qual defende que a fotografia transforma o ser num
objeto, aprofunda essa questão ao mesmo tempo que faz um tributo á sua
falecida mãe; “ Eu só a reconhecia aos bocados, o que significa que não atingia
o seu ser e que, portanto, a perdia por completo. Não era ela, e, no entanto, não
era qualquer outra pessoa. Tê-la-ia reconhecido entre milhares de outras
mulheres, e, contudo, não a encontrava». Reconhecia-a diferencialmente, não
essencialmente. A fotografia obrigava-me, assim, a um trabalho doloroso;
debruçado sobre a essência da sua identidade, eu debatia-me no meio de
imagens parcialmente verdadeiras e, contudo, totalmente falsas.”3, o autor dá-
nos a entender com isso que uma fotografia pode ser algo que na realidade não
é ou vice versa, é então que ele nos dá a conhecer a Fotografia do Jardim de
Inverno; “ A fotografia era muito antiga. Cartonada, com os cantos, gastos, de
um sépia pálido, revelava a custo duas crianças de pé, formando grupo, na
extremidade de uma pequena ponte de madeira num Jardim de Inverno de teto

1
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, pp. 34 e 35
2
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p. 35
3
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p. 76

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de vidro. A minha mãe tinha então cinco anos (1898), o irmão tinha sete.”4
Barthes dá a entender que tem um carinho ou uma admiração muito especial
pela “Fotografia do Jardim de Inverno” assim chamada pelo autor, no entanto,
Barthes não a coloca no livro, “ (Não posso mostrar a Foto do Jardim de Inverno.
Ela só existe para mim. Para vós, não seria mas do que uma foto indiferente,
uma das mil manifestações do «qualquer». Ela não pode constituir em nada o
objeto visível de uma ciência; não pode criar uma objetividade, no sentido
positivo do termo. Quando muito, interessaria ao vosso studium: época,
vestuário, fotogenia; mas nela não há para vos qualquer ferida).” 5 o que para
uma pessoa uma fotografia pode significar muito em sentimento em conteúdo
para outras pessoas pode não significar nada a não ser o ponto de vista estético.
O autor alarga a sua conceção de punctum, onde encontra o noema o
“isto foi”, “Isto explica que o noema da fotografia se altere quando essa Fotografia
se anima e se torna cinema: na Foto, qualquer coisa se colocou diante do
pequeno orifício e lá ficou para sempre (é essa a minha convicção); mas no
cinema qualquer coisa se passou diante desse mesmo orifício: a pose é
arrastada e negada pela secessão contínua de imagens”6, Barthes reforça ainda
“ Diz-se muitas vezes que foram os pintores que inventaram a Fotografia
(transmitindo-lhe o enquadramento, a perspetiva albertiniana e a ótica da camara
obscura. E eu digo: não, foram os químicos. Porque o noema «Isto foi» só foi
possível a partir do dia em que uma circunstância cientifica (a descoberta da
sensibilidade à luz dos sais de prata) permitiu captar e imprimir diretamente os
raios luminosos emitidos por um objeto diferentemente iluminado. A foto é
literalmente uma emanação do referente”7.
Barthes revela a fotografia como um instante da vida que remete para o
passado e o presente, a fotografia como a materialização da morte, é como se
imortaliza-se algo ou alguém, quando observamos uma fotografia do passado e
dizemos este era eu, “A Fotografia não diz (forçosamente) aquilo que já não é,
mas apenas e de certeza aquilo que foi.”8,também não podemos negar algo
fotografado, “E, contudo, porque se tratava de uma fotografia, não podia negar
que tinha estado lá (mesmo que não soubesse onde).”9 ; durante a reflexão do
autor a sua primeira designação de punctum, “Na altura (no inicio deste livro: já
foi há bastante tempo) em que me interrogava acerca da minha inclinação por
certas fotos, pensara poder detetar um campo de interesse cultural (o studium)
e essa distinção inesperada que, por vezes, vinha atravessar este campo e a
que chamava punctum (um outro «estigma») além do «pormenor». Este novo
punctum, que já não é forma, mas intensidade, é o Tempo, é a ênfase dolorosa
do noema («isto foi»), a sua representação pura.”10.

4
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, pp.77 e 78
5
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p. 84
6
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, pp.88 e 89
7
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, pp. 90 e 91
8
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p.95
9
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p.96
10
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, pp. 105 e 107

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Para Roland Barthes a fotografia é uma loucura pois reflete o que foi e
não o que é, “O noema da Fotografia é simples, banal, sem profundidade: «Isto
foi». Conheço os nossos críticos: o quê, um livro inteiro (mesmo pequeno) para
descobrir essa coisa que sei logo ao primeiro olhar? Sim, mas essa evidencia
pode ser irmã da loucura”11 por fim o autor que trata as fotografias do ponto de
vista do observador (“spectator”)12 e não a fotografia de forma geral, conclui
“Louca ou séria? A Fotografia pode ser ambas as coisas: séria, se sei realismo
permanecer relativo, temperado por hábitos estéticos ou empíricos (folhear uma
revista no cabeleireiro, no dentista); louca, se esse realismo for absoluto e, se
assim se pode dizer, original, fazendo regressar à consciência amorosa e
assustada a própria marca do Tempo: movimento propriamente revulsivo, que
altera o curso da coisa, e chamaria, para concluir, o êxtase fotográfico. São estes
os dois caminhos da Fotografia. Cabe-me a mim escolher, submeter o seu
espetáculo ao código civilizado das ilusões perfeitas ou enfrentar nela o
despertar da inacessível realidade.”13.
Refletindo sobre a conclusão do autor acho que cabe a cada pessoa
escolher o que representa a fotografia se só representa a nível “estético ou
empírico”, na verdade nem todas as fotos mostram a realidade tal como ela é
referentemente ao sentimento ao que esta por de traz de uma imagem, entre o
evidente e o oculto, o evidente é o que podemos visualizar esteticamente numa
imagem ou fotografia, o oculto é o que está para além da imagem ou fotografia.
Podemos então observar a fotografia de Taryn Simon fig.1, o que podemos
dizer da fotografia? Podemos dizer apenas que é uma fotografia num espaço
cheio de comida muito desorganizada, vemos legumes, fruta, uma cabeça de
porco, sacos, caixas e não haverá muito a acrescentar em relação a esta
fotografia, então e o que está oculto? O que está para além da imagem? Nós
observadores não sabemos o que está oculto, mas a fotografa Taryn Simon será
a única que nos poderá dizer que “Todos os itens na fotografia foram apreendidos
da bagagem de passageiros que chegam em os EUA no JFK Terminal 4 do exterior ao
longo de um período de 48 horas. JFK lida com o maior número de chegadas
internacionais em aeroportos do país e processa passageiros mais internacionais do
que qualquer outro aeroporto nos Estados Unidos. Proibidos itens agrícolas podem
abrigar pragas estrangeiras animais e vegetais e doenças que podem danificar
colheitas, gado, animais de estimação dos Estados Unidos, o ambiente e da economia.
Antes de entrar no país, os passageiros são obrigados a declarar frutas, legumes,
plantas, sementes, carnes, aves ou produtos de origem animal que podem transportar.
Os especialistas em agricultura do PFC determinar se os itens atender aos requisitos
de entrada nos Estados Unidos. Os EUA exige autorizações para animais e plantas, a
fim de proteger contra doenças altamente infeciosas, como a febre aftosa e da gripe
aviária. Todos os itens apreendidos são identificados, dissecados, e em seguida,

11
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p. 126
12
Termo utilizado por Barthes para definir quem observa a fotografia “O spectator somos todos nós que
consultamos nos jornais, nos livros, álbuns e arquivos, coleções de fotografias” BARTHES, Roland – A
câmara clara, nota sobre fotografia, p.17
13
BARTHES, Roland – A câmara clara, nota sobre fotografia, p. 130

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triturados ou incinerados.”14, Ninguém iria adivinhar, ou chegar até ao oculto desta
imagem, a fotografia diz o que foi e não o que é.

US Customs and Border Protection, Contraband quarto


John F. Kennedy Aeroporto Internacional de
Queens, New York

Um Indice americano do oculto e desconhecido de 2007 emoldurada a jato de tinta de arquivo e


Latraset na parede 37 1/4x44 3/4 polegadas (94,6x113,7 cm)

14
Retirado http://tarynsimon.com/works/aihu/#8

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