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LIMITE DE FUNÇÕES

1. Extensões do conceito de limites


Consideremos os exemplos:
(1) f (x) := x/|x| para x 6= 0 e
(2) g(x) := x12 , para x 6= 0.

Embora os limites não existam nos dois casos, o comportamento das


funções na vizinhança da origem são bem distintos. No segundo caso o
valor da função ‘se aproxima’ de +∞ e, no primeiro o limite existe, se
consideramos o comportamento apenas para valores positivos ou ape-
nas para valores negativos. Para esses casos podemos dar definições que
caracterizam bem o comportamento e estendem o conceito de limite.
1.1. Limites laterais.
Definição 1.1. Dizemos que o ponto x0 é ponto de acumulação
à direita do conjunto A ⊂ R, se for ponto de acumulação de
Date: June 21, 2021.
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A ∩ (x0, +∞). Ou seja, para todo  > 0, o intervalo ]x0, x0 +


[ contém um ponto de A . Analogamente, definimos ponto de
acumulação à esquerda do conjunto A ⊂ R.
Exemplo 1.2. A origem é ponto de acumulação à direita do con-
junto A := {1/n : n ∈ N}, mas não é ponto de acumulação à
esquerda de A.

Definição 1.3. Seja f : A ⊂ R → R e x0 ponto de acumulação


à direita de A. Diremos que L ∈ R é limite à direita de f (x)
quando x tende a x0 e escrevemos limx→x0+ f (x) = L se, para todo
número real  > 0, existir δ > 0 de tal forma que |f (x) − L| < 
sempre que x ∈ A e 0 < x − x0 < δ, Em linguagem simbólica:
∀ > 0, ∃δ > 0 : x ∈ A ∧ (0 < x − x0 < δ) ⇒ |f (x) − L| < .
Analogamente, definimos limite à esquerda de f (x) quando x
tende a x0 e escrevemos limx→x0− f (x).
No exemplo (1) acima temos limx→0+ f (x) = 1 e limx→0− f (x) = −1.
Os limites à direita e à esquerda são também chamados de limites
laterais. Para esses limites, valem observações e resultados análogos
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aos limites usuais. Para provar esses resultados basta observar que eles
se reduzem a limites usuais, se o domı́nio de f for convenientemente re-
strito. Em particular, continuam valendo as propriedades operatórias,
o teorema da conservação do sinal e o teorema do sanduı́che. Também
podemos relacionar esses limites com os limites de de sequências.
Proposição 1.4. Seja f : A ⊂ R → R e x0 ∈ R um ponto
de acumulação à direita do conjunto A. Então limx→x0+ f (x) =
L se e somente se, para toda sequência (xn)n∈N de pontos de A
tal que limn→∞ xn = x0 e xn > x0, para todo n ∈ N, vale que
limn→∞ f (xn) = L.
Proposição 1.5. Se x0 é ponto de acumulação à direita e à es-
querda do conjunto A, então limx→x0 f (x) = L se e somente se
limx→x0+ f (x) = L e limx→x0− f (x) = L.
Segue dessa proposição a não existência do limite na origem no caso
da função f (x) = x/|x|, acima.
1.2. Limites infinitos. No exemplo (2) acima, também não temos
convergência da função g(x) quando x tende a 0, por uma razão difer-
ente: a função não é limitada na vizinhança da origem. Entretanto,
ainda é conveniente dizer que g(x) tende a +∞ neste caso ou que
g(x) diverge para +∞ quando x tende a um ponto de acumulação do
domı́nio.
Definição 1.6. Seja f : A ⊂ R → R e x0 ponto de acumulação de
A. Diremos que f (x) tende a +∞ quando x tende a x0 e escreve-
mos limx→x0 f (x) = +∞ se, para todo número real M , existir δ > 0
de tal forma que f (x) > M sempre que x ∈ A e 0 < |x − x0| < δ,
Em linguagem simbólica:
∀M ∈ R, ∃δ > 0 : x ∈ A ∧ (0 < |x − x0| < δ) ⇒ f (x) > M.
Analogamente, definimos limites para −∞.
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Definição 1.7. de A. Diremos que f (x) tende a −∞ quando x


tende a x0 e escrevemos limx→x0 f (x) = −∞ se
∀M ∈ R, ∃δ > 0 : x ∈ A ∧ (0 < |x − x0| < δ) ⇒ f (x) < M.
Exemplos 1.8. (1) g(x) : − x12 , para x 6= 0. Não é difı́cil mostrar
que limx→x0 g(x) = −∞.
(2) g(x) := x1 , para x 6= 0. Nesse caso, é falso que limx→x0 g(x) =
+∞, pois g(x) < 0 se x < 0 e analogamente é falso que
limx→x0 g(x) = −∞.

Tendo em vista o último exemplo é conveniente definir também os


limites laterais infinitos:
Definição 1.9. Diremos que f (x) tende a +∞ quando x tende a
x0 pela direita e escrevemos limx→x0+ f (x) = +∞ se
∀M ∈ R, ∃δ > 0 : x ∈ A ∧ (0 < x − x0 < δ) ⇒ f (x) > M.
Analogamente, definimos limx→x0− f (x) = +∞, limx→x0− f (x) =
−∞ e limx→x0− f (x) = −∞.
Exemplo 1.10. Seja g(x) := x1 , para x 6= 0. Nesse caso, temos
limx→x0+ g(x) = +∞ e limx→x0− g(x) = −∞.
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Valem, para limites infinitos de funções, propriedades análogas às vis-


tas para sequências. Vamos enunciá-las aqui, apenas por conveniência.
Proposição 1.11. Sejam f, g : A ⊂ R → R satisfazendo:
f (x) ≤ g(x) para todo x ∈ A, x 6= x0.
Então temos:
a) Se limx→x0 f (x) = +∞, então limx→x0 g(x) = +∞.
b) Se limx→x0 g(x) = −∞, então limx→x0 f (x) = −∞.

Lembremos que as hipóteses só precisam valer em uma vizinhança de
x0, exceto o próprio x0. A mesma observação vale para os resultados
que seguem.
Proposição 1.12. Sejam f, g : A ⊂ R → R funções positivas
satisfazendo:

f
lim (x) = L
x→x0 g

Então temos:
a) Se L = 0 e limx→x0 f (x) = +∞, então limx→x0 g(x) = +∞.
b) Se L = +∞ e limx→x0 g(x) = +∞, então limx→x0 f (x) = +∞.
c) Se 0 < L < +∞ então limx→x0 f (x) = +∞ ⇔ limx→x0 g(x) =
+∞
Observação 1.13. Conclusões sobre funções não necessarimante
positivos também podem ser obtidas, a partir da proposição. Por
exemplo, no ı́tem (c), se −∞ < L < 0 então limx→x0 f (x) = +∞ ⇔
limx→x0 g(x) = −∞.
Proposição 1.14. Propriedades algébricas para limites infinitos
Sejam f, g : A ⊂ R → R.
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a) Se limx→x0 f (x) = +∞ e g é limitada inferiormente, então


limn→∞(f (x) + g(x)) = +∞.
b) Se limx→x0 f (x) = +∞ e g(x) > c > 0 para todo x ∈ A então
limx→x0 (f · g)(x) = +∞.
c) Se f (x) > 0 para todo x ∈ A então limx→x0 f (x) = 0 ⇔
limx→x0 1/f (x) = +∞.
d) Se f é limitada e limx→x0 g(x) = +∞ então limx→x0 f /g(x) =
0.
e) Se f (x) > c > 0, g(x) > 0 para todo x ∈ A e limx→x0 g(x) = 0
então limx→x0 f /g(x) = +∞.

Observação 1.15. • Resultados análogos valem se substituirmos


+∞ por −∞ na proposição 1.14
• Outras propriedades aritméticas seguem facilmente da proposição
1.14. Por exemplo, segue do ı́tem b) que se limx→x0 f (x) =
+∞ e limx→x0 f (x) > 0 então limx→x0 f · g(x) = +∞.

Observação 1.16. (Indeterminações). Se limx→x0 f (x) = 0 e


limx→x0 g(x) = 0, nada se pode afirmar, em geral, sobre limx→x0 f /g(x).
De fato, a função f /g pode nem estar bem definida, pois g pode se
anular na vizinhança de x0. Mesmo que f /g esteja bem definida,
nada podemos dizer sobre o limite, em geral e cada caso deve
ser analisado individualmente. Dizemos que 0/0 é uma indeter-
minação.
Outros casos de indeterminação são: ∞∞ , 0 · ∞ e +∞ − ∞. Em
muitos casos, essas indeterminações podem ser ”levantadas” us-
ando o Teorema de L’Hospital, como veremos.

1.3. Limites no infinito. É conveniente também definir limites quando


x tende a +∞ ou −∞. Por exemplo
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Definição 1.17. Seja f : [a, +∞[→ R. Diremos que f (x) tende a


L quando x tende a +∞ e escrevemos limx→+∞ f (x) = L se, para
todo número real  > 0, existir N ∈ R de tal forma que |f (x)−L| <
sempre que x > N . Em linguagem simbólica:
∀ > 0, ∃N ∈ R : x > N ⇒ |f (x) − L| < .
Definição 1.18. Seja f : [a, +∞[→ R. Diremos que f (x) tende
a +∞ quando x tende a +∞ e escrevemos limx→+∞ f (x) = +∞
se, para todo número real M , existir N ∈ R de tal forma que
f (x) > M sempre que x > N . Em linguagem simbólica:
∀M ∈ R, ∃N ∈ R : x > N ⇒ f (x) > M.
As propriedades para os ”limites no infinito” são semelhantes às es-
tudadas para sequências.
Exemplos 1.19.
√ √
(1) limx→∞( x + 1 − x) = 0,
(2) limx→∞(x − x2) = −∞ .

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