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ANDREZA NÓBREGA
RECIFE-PE
2012
ANDREZA NÓBREGA
RECIFE-PE
2012
Catalogação na fonte
Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________________
Prof. Dr. Francisco José de Lima
1º Examinador/Presidente
___________________________________________
Prof. Dr. Jefferson Fernandes Alves
2º Examinador
___________________________________________
Profª. Drª. Maria Lúcia Ferreira de Figueiredo Barbosa
3ª Examinadora
À minha mãe, por ser minha inspiração, minha força e exemplo de vida.
À leitura atenta dos meus escritos realizada por Reili Amon-Há, Thais
Talyta, Joelson Vale, Marcella Malheiros e Gustavo Souza.
À minha amiga e irmã, Thais Oliveira.
Denis Guénoum
RESUMO
A-d – Áudio-descrição
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15
(Milton Nascimento)
15
Preparar o sujeito de forma crítica para a tomada de decisões é o cerne
da educação. Nesse sentido Rubem Alves nos alerta:
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que
são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do
voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados
sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência
dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros
engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para
dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não
podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não
pode ser ensinado. Só pode ser encorajado (ALVES, 2001).
16
Ainda na graduação, ao cursar disciplinas referentes ao ensino do
teatro, ao discutir metodologias empregadas na sala de aula, percebemos a
necessidade de estudar o público alvo com o qual nós trabalhamos. Logo
vimos que era necessário quebrarmos a compreensão de que esse público, no
caso, estudantes, não podia ser visto apenas em função da faixa etária. Seria
pertinente considerarmos as características de todos e de cada indivíduo,
pensando nas suas diferenças, sendo, pois, necessário repensar a nossa
prática.
17
excluídas por razões semelhantes aos demais (baixa escolaridade e baixo
poder econômico), são ainda excluídas por barreiras atitudinais que as limitam
ou tolhem o seu direito de acesso aos bens culturais, educacionais e de lazer.
Justificativa:
18
aprendizagem de todos os alunos. Não se deve negligenciar o ensino de
nenhuma disciplina.
19
Em contraposição à Escola Tradicional, e à tendência pré-modernista,
entre as décadas de 1920 e 1970, vivenciam-se pelo ensino da arte novas
experiências norteadas pela estética modernista e pelo movimento da Escola
Nova. Agora o foco de atenção aponta para o desenvolvimento do sujeito, as
práticas pedagógicas de então rompem com as estruturas de repressão e o
professor procura se omitir enquanto mediador do processo de ensino-
aprendizagem. Centra suas atividades na livre expressão dos alunos, na
generalização do “Laissez-faire”, ação deliberada do deixar fazer, restringindo a
aprendizagem apenas para a experiência.
20
aprendizagem e do desenvolvimento do ser humano em sua totalidade,
cognição, subjetividade e ser social, sustentaremos o estudo no que postulam
os fundamentos do Teatro e da Teoria da Inclusão.
21
acesso às informações imagéticas (Lima, 2009). Ou seja, o que antes era
apenas percebido pela visão será oferecido de diferentes formas, seja através
da forma imprensa, a exemplo da A-d nos livros didáticos, A-d pré-gravada
para filmes, ou a locução ao vivo para espetáculos teatrais. Tal instrumento
possibilita que o público com deficiência visual acesse com qualidade os
eventos educacionais, sociais e culturais.
22
constitucional. Nela é ratificado o conceito de inclusão numa perspectiva global
e social. O artigo 30, que regula a participação na vida cultural, em recreação,
lazer e esporte, dispõe que os estados devem reconhecer os direitos das
pessoas com deficiência a participarem da vida cultural/educativa, social e de
lazer, em igualdade de oportunidades. Para isso, deverão tomar medidas
apropriadas, sinalizando adoção de formatos acessíveis.
Objetivos:
23
das notas proêmias; pontuar as relações de diálogo da áudio-descrição no
teatro com a educação inclusiva.
24
O quarto capítulo apresenta o mapeamento dos elementos visuais do
teatro, apresentando os conceitos e as funções desses componentes da
teatralidade.
25
1. A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A SOCIEDADE
26
Como nos aponta Pessoti (1984):
27
deficiência, antes renegadas pelo capitalismo mercantil, por causa da falsa
noção de improdutividade, também se tornaram úteis para completar a força de
trabalho nas fábricas. Vale salientar, que a pessoa com deficiência era
encaminhada a realizar trabalhos sem muita importância e em condições sub-
humanas. Nesse período, brota a necessidade de capacitação dessa mão de
obra para atender à demanda de força de trabalho, e com isso, consolidaram-
se as iniciativas do Ensino Especial e a segregação escolar (MAZOTTA, 1996).
28
No período entre guerras, com o avanço do nacional-socialismo
alemão, Adolph Hitler disseminou o ideal de uma raça pura (ariana), tentando
erradicar do povo alemão pessoas com algum tipo de deficiência, além de
judeus, ciganos, prostitutas e homossexuais. A tentativa de aniquilar os
combatentes mutilados na Primeira Guerra gerou forte resistência popular,
mesmo assim, muitos coxos e cegos congênitos foram exterminados
(SOMERA, 2008).
O século XXI que tanto fala de direitos humanos, que versa por garantir
o direito à vida e à dignidade humana, permite arestas que nos fazem
rememorar a cultura grega e o ato de jogar infantes com deficiência no
precipício, destituindo o direito à vida desses pequenos inocentes.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal votou pela legalização do aborto
em casos que seja diagnosticado um feto anencefálico, sonegando o direito à
29
vida da pessoa em razão da má formação fisiológica, de modo que a mãe
decidirá se dará à luz ou se interromperá a gestação.
30
114). São construções arquitetônicas, objetos, utilitários, adornos, desenhos,
pinturas que exprimem o pensamento de uma dada época.
31
determinados, com ênfase nos trabalhos manuais dirigidos (Reily, 2010, p. 89-
90).
32
incompatível. Sobre essa afirmação, poderiam justificar que a própria
etimologia da palavra -teatro- que é o lugar de onde se ver, traz em si um apelo
para a exposição das coisas à serem vistas. O teatro é um fenômeno repleto
de significação e de signos complexos advindos da confluência de elementos
repletos de significados, presentes nos cenários, figurinos, trabalho do ator,
iluminação e sonoplastia; e todos esses elementos têm na imagem um apelo
significativo para a comunicação.
33
partir desses temas, a educação pode se aproximar dos “aspectos coletivos,
comunicativos, comportamentais, emocionais [...] todos eles necessários para
se alcançar uma educação democrática dos futuros cidadãos” (IMBERNÓN,
2000 p. 11).
34
entre outras formas de discriminação, à necessidade de separar
alunos com dificuldades em escolas e classes especiais, à busca da
“pseudo-homogeneidade” nas salas de aula para o ensino ser bem
sucedido, remete, enfim, à dificuldade que temos de conviver com as
pessoas que se desviam um pouco mais da média das diferenças,
conduzindo-as ao isolamento e à exclusão dentro e fora das escolas
(MANTOAN, 2001, p. 51).
35
Ao assumirmos o compromisso ético com inclusão, devemos
questionar a congruência dos valores sociais e pessoais imbricados nas
nossas ações, ou seja, no nosso comportamento humano. Tais valores “são
crenças hierarquizadas sobre estilos de vida e formas de existência que
orientam nossas atitudes” (ROS, 2006, p. 96).
36
Para além das variantes da TAR, a Teoria da Ação Planejada
acrescenta que o controle percebido sobre o comportamento será determinado
em razão da avaliação em torno do grau de dificuldade para a pessoa praticar
uma ação (ROS, 2006). Ousamos dizer que seria um frear do sujeito ao se
deparar com o despreparo e falta de habilidade para realizar uma atividade.
37
como a viabilização de “condição para utilização, com segurança e autonomia,
total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de
comunicação e informação”. ((BRASIL, Lei de Acessibilidade - Lei 5296 de 2 de
dezembro de 2004).
Por meio do Decreto-lei 5296 de dois de dezembro de 2004, foram
regulamentadas as Leis n°s 10.048, de oito de novembro de 2000, que presta
atendimento prioritário e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade.
O Capítulo III versa sobre as Condições Gerais da Acessibilidade.
Classifica as barreiras em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos
espaços de uso público;
38
Trazemos para o bojo dessa discussão, a conceituação de algumas
das barreiras atitudinais mais comumente praticadas contra os alunos com
deficiência na escola, no artigo “Barreiras Atitudinais: Obstáculos À Pessoa
Com Deficiência Na Escola” (LIMA E TAVARES, 2007), categorizadas em:
Ignorância, Medo, Rejeição, Percepção de menos-valia, Inferioridade, Piedade,
Adoração do herói, Exaltação do modelo, Percepção de incapacidade
intelectual, Efeito de propagação (ou expansão), Estereótipos, Compensação,
Negação, Substantivação da deficiência, Comparação, Atitude de segregação,
Adjetivação, Particularização, Baixa expectativa, Generalização, Padronização,
Assistencialismo e superproteção.
39
Piedade: “sentir-se pesaroso e ter atitudes protetoras em relação ao
aluno com deficiência” (Ibidem, 2007, p. 6). Comiseração excessiva pela
deficiência do outro. Olhar para a pessoa com cegueira e depreender um penar
pela falsa ideia que por ser deficiente visual ele nunca poderá ser ator.
Adoração do herói: “considerar um aluno como sendo “especial”,
“excepcional” ou “extraordinário”, simplesmente por superar uma deficiência”
(LIMA E TAVARES, 2007, p. 6). Elogiar demasiadamente um surdo que dança
e realiza atividade com desenvoltura, pois a partir da vibração sonora ele
acompanha o ritmo da música e se orienta em função do ritmo.
Exaltação do modelo: usar a imagem da pessoa com deficiência
perante a mídia ou no contexto de aprendizagem como “modelo de persistência
e coragem” (LIMA E TAVARES, 2007, p. 6). Em virtude da evasão de público
no teatro, explorar a figura da pessoa com deficiência que se faz presente
mesmo com tantas dificuldades.
Percepção de incapacidade intelectual: opor-se em adotar tecnologias
assistivas, a exemplo da áudio-descrição, por acreditar que é um recurso
complexo de difícil compreensão da pessoa com deficiência, privando-os de
desenvolver as habilidades e competências. Ou ainda, não permitir que os
alunos frequentem aulas de artes por acreditar que eles não conseguirão
desenvolver as atividades.
Efeito de propagação (ou expansão): “supor que a deficiência de um
aluno afeta negativamente outros sentidos, habilidades ou traços da
personalidade” (LIMA E TAVARES, 2007, p. 6). Acreditar que o deficiente
visual tem comprometimento intelectual, que a pessoa surda é pessoa cega e
que a pessoa cega tem comprometimento auditivo. Por esta razão, pessoas
falam alto quando se dirigem ao deficiente visual.
Estereótipos: Rotular a pessoa com deficiência comparando-o com
outros com mesma deficiência. Acreditar que a estratégia utiliza para ensinar
técnicas de interpretação será exatamente a mesma para outro com mesma
deficiência. Não há um receituário prescritivo para as estratégias de ensino, há
possíveis caminhos que se remodelam de acordo com o contexto, assim como
para cada criação artística, o processo e os componentes atuam na condução
do trabalho.
40
Compensação: acreditar que a pessoa com deficiência deve ser
compensada de alguma forma; ao ofertar a áudio-descrição preferir uma
descrição explicativa a uma que empodera o sujeito a construir imagens e tirar
as próprias conclusões. Na aula de teatro, escolher sempre o aluno com
deficiência para ser o protagonista.
Negação: “desconsiderar as deficiências do aluno como dificuldades na
aprendizagem” (LIMA E TAVARES, 2007, p. 6).
Substantivação da deficiência: “referir-se à falta de uma parte ou
sentido da pessoa como se a parte “faltante” fosse o todo. Ex: o deficiente
mental, o cego, o “perneta”, etc.” (LIMA E TAVARES, 2007, p. 6). Não se referir
ao aluno pelo nome, mas sim pela característica da deficiência. Na escrita
dramatúrgica fazer menção às personagens com deficiência por atributos
pejorativos.
Comparação: comparar a pessoa com e sem deficiência. Apontar o que
um e outro alcançaram as faltas e as lacunas entre ambos. Relacionar
quantitativamente as imagens visuais captadas pela pessoa com deficiência
visual submetida ao recurso de áudio-descrição e a pessoa com visão normal
ao assistirem a um determinado espetáculo.
Atitude de segregação: acreditar que as pessoas com deficiência
deverão assistir a espetáculos com recursos de acessibilidade apenas com
pessoas que tenham deficiência.
Adjetivação: “classificar a pessoa com deficiência como “lenta”,
“agressiva”, “dócil”, “difícil”, “aluno-problema”, “deficiente mental’”, etc.” (Ibidem,
p. 7). Reportar-se apenas pela deficiência.
Particularização: “afirmar, de maneira restritiva, que o aluno com
deficiência está progredindo à sua maneira, do seu jeito, etc.” (Ibidem, p. 7).
Achar que existe uma maneira própria e exclusiva da pessoa com deficiência
aprender teatro.
Baixa expectativa: Acreditar que a pessoa com deficiência não
aprenderá linguagens artísticas. Prever que ele não saberá se relacionar com
pessoas sem algum tipo de deficiência e com isso não se ventila a
possibilidade de ter um ator com deficiência visual em encenações de nível
profissional. “Isso não ajuda [a pessoa] a descobrir suas inteligências,
competências e habilidades múltiplas” (Ibidem, p. 7).
41
Generalização: “generalizar aspectos positivos ou negativos” (Ibidem,
p.7). Acreditar que todos terão os mesmos avanços, seja pessoa com
deficiência ou não, se configura como um grande equívoco, seja qual for o
contexto da aplicação. Todos os atores chegarão ao determinado tom na
escola musical.
Padronização: “fazer comentários sobre o desenvolvimento dos alunos,
agrupando-os em torno da deficiência; conduzir os alunos com deficiência às
atividades mais simples, de baixa habilidade” (Ibidem, p.7). Entender que a
deficiência estipula alguns padrões que norteiam a linguagem artística que o
individuo deverá optar.
Assistencialismo e superproteção: impedir que a pessoa escolha
experimentar a linguagem artística que desejar, não permitir que experimentem
mecanismos de aprendizagem e desenvolvimento de habilidades temendo que
eles não tenham êxito.
Perpassa o universo escolar a presença dessas barreiras atitudinais
que merecem total atenção para que as mesmas sejam deixadas para trás e
definitivamente extintas. Nesse panorama é que se insere a criança com
deficiência visual. Ao entrar na escola, ela estará sujeita a atitudes que vão da
pena, medo, assistencialismo, discriminação e admiração, que assim como
qualquer outra criança, necessita de acesso ao conhecimento, à cultura, ao
lazer, às artes, ao teatro e suas várias instâncias de aprendizado que
contemplam o fazer e apreciar apresentações cênicas.
42
A função do olho é captar a luz por meio do ambiente e convertê-la
em impulsos nervosos, os quais, através das vias ópticas, são
transmitidos ao córtex visual, situado no globo occpital. O córtex
visual, por sua vez ‘interpreta’ as imagens formadas no olho, ou seja,
o olho recebe os impulsos, as vias ópticas os transmitem e o córtex
visual interpreta como imagens fisicamente bem definidas as
sensações iniciais captadas pelos olhos (SILVA, LUZIA, 2008, p. 41).
43
No Brasil, os critérios que classificam a deficiência visual se baseiam
pelos propostos pela Organização Mundial de Saúde- OMS (GENEBRA, 1981).
A análise clínica realizada mede a quantidade de acuidade visual, dentro dos
seguintes critérios:
a) Portadores de cegueira- Acuidade visual inferior a 0,05, em
ambos os olhos, após a máxima correção óptica, e campo visual ou
ângulo visual restrito a 20 (graus) de amplitude no melhor olho.
b) Portadores de visão subnormal- acuidade visual inferior, de 0,3
e 0,05 (tomando como referência a tabela de Snellen), em ambos os
olhos, com máxima correção óptica (OMS, 1981).
44
Para efeitos educacionais, o professor ao receber um aluno com
deficiência, seja ele cego ou com baixa visão, deve estimulá-lo a desenvolver a
aprendizagem a serviço da autonomia pessoal, socialização e inclusão social,
deverá estimulá-lo por meio dos sentidos remanescentes.
45
pretensão dessas escolas é a superação de todos os obstáculos que
as impedem de avançar no sentido de garantir um ensino de
qualidade, preocupado em desenvolver os talentos, as tendências
naturais, as habilidades de cada aluno para esta ou aquela
especialidade (MANTOAN, 2001, p. 52).
46
No campo da arte, mais precisamente das artes visuais, Reily (2004)
sugere algumas adaptações primando pela qualidade das imagens e a
possibilidade de compreensão da figura, transformando traçados em relevo:
Desenho em giz de cera sobre a própria figura, tendo como base uma
prancha de aglomerado na qual se tenha colado tela de náilon;
Pintura linear com tinta “puff”, que quando aquecida (com secador de
cabelo), cria volume fofo sobre o traço;
Bolinhas de plastilina (massinha) para fazer pontos de referência
sobre a mesa do aluno;
Manipulação das formas essenciais da figura recortadas em E.V.A.
(material emborrachado) ou em papelão;
Pintura com tintas texturizadas em graus que vão de fino a grosso;
Linhas produzidas em “thermo-form”, para transformar gráficos e
figuras;
Colagem de “cordonê” ou barbante sobre contorno de figuras;
Reproduções pela técnica clássica de pontilhado linear (REILY apud
ORMELEZI, 2007, p. 76).
47
repertório da criança, sendo neste caso, acessado por meio da áudio-descrição
e do tato.
48
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social
(CORDE, 2009. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/corde/).
49
Jaws e o NVDA (NonVisual Desktop Access), as legendas em português, além
de recursos assistivos são ferramentas à disposição dos professores e alunos.
Além de atuarem como ferramentas de acessibilidade comunicacional, figuram
na prática docente como recursos a serem utilizados nas estratégias de
mediação.
50
2. O TEATRO-EDUCAÇÃO E A INCLUSÃO
51
de propostas que possam valer-se desse potencial próprio à atividade artística,
quanto no desafio de tentar elucidar em que medida a fruição da arte pode, por
si, ser compreendida enquanto atividade pedagógica.” (DESGRANGES, 2006,
p. 1).
1
Joaquim Lebreton nasceu em 7 de abril de 1970, em Saint Meen de Gael, no
Departamento de Ille de Villaine, na Bretanha. Era de família humilde, pois o pai não
passava de ferrador de cavalos. [...] Lebreton se mudou para Paris, onde se tornou
conhecido por suas idéias avançadas e temperamento impulsivo. (BITTENCOURT, 1967
p.13). Uma curiosidade é que antes da vinda para o Brasil, “adquiriu numerosas telas ,
com a intenção de vendê-las a D. João VI para formar uma pinacoteca na vindoura
Academia. Devido a embaraços financeiros, não foi possível ao chefe da missão trazer um
acervo somente constituído de obras primas. Recorreu, então, às réplicas ou originais de
preços mais acessíveis. (BITTENCOURT, 1967, p. 17).
52
cargos de chefia de museus, conservatórios e bibliotecas, além de vários
projetos culturais (BITTENCOURT, 1967).
53
ministradas as aulas de desenho, pintura, escultura e gravura (BITTENCOURT,
1967).
2
Jean Baptiste Debret nasceu em Paris em 1768, seu pai foi um amante da história natural e
da arte, além de escrivão do Parlamento de Paris. Sua família era composta por afamados
artistas da época: Desnaisons, arquiteto real; Jacques Louis David, chefe do classicismo
francês e o pintor François Boucher. Debret estudou pintura, freqüentoufrequentou o curso de
Engenharia Civil da Escola de Pontes e Calçadas. Em 1816, iIntegraintegra a missão artística
francesa no Brasil, como pintor histórico, cujos primeiros trabalhos foram: retrato de D. João VI
em trajes majestáticos e o desembarque da Arquiduquesa. (BITTENCOURT, 1967). Debret foi
nomeado cenógrafo do Real Teatro de São João, o atual teatro João Caetano, o mais antigo da
cidade do Rio de Janeiro, localizado na praça Tiradentes.
54
Os alunos que lá passavam, eram submetidos a se dedicarem e
desenvolverem a habilidade de desenhar. Era valorizada ainda, a cópia fiel dos
desenhos e a utilização dos modelos europeus, sobretudo a tendência do
Neoclassicismo em contraposição ao Barroco, que vivia naquele tempo uma
efervescência e se expandia especialmente em Minas Gerais, mas que sofria
forte negação da elite que valorizava com fervor os padrões europeus. Com a
proclamação da República, a Academia Imperial de Belas Artes veio a se
chamar Escola Nacional de Belas Artes.
55
Em contraposição à Escola Tradicional surgia a tendência pré-
modernista, entre as décadas de 1920 e 1970, que passava a tornar
presente no ensino da arte novas experiências norteadas pela estética
modernista e pelo movimento da Escola Nova. Com isso, o foco de atenção
se voltava para o desenvolvimento do sujeito, as práticas pedagógicas de
então romperam com as estruturas de repressão e o professor procura se
omitir enquanto mediador do processo de ensino-aprendizagem. Centrava
suas atividades na livre expressão dos alunos, na generalização do
“Laissez-faire”, ação deliberada do deixar fazer, canalizando a
aprendizagem para a experiência.
56
pela cognição sem descartar a emoção e a expressão emocional inerente à
prática artística.
57
A lei 5692/71 determinava que a disciplina “Educação Artística”
abarcasse os conteúdos de música, teatro, dança e artes plásticas nos cursos
de 1º e 2º graus. Assim, criou-se a figura de um professor único, polivalente,
que deveria dominar e ensinar todas as linguagens. Como não havia
profissionais especializados, com formação específica em artes, abriu-se
espaço para que professores de qualquer área ensinassem a disciplina de
artes, sobretudo os professores que necessitavam complementar a carga
horária da instituição de ensino.
A LDB de 1996 identifica a área por arte (e não mais por educação
artística) como na LDB de 1971, colocando a arte como disciplina de conteúdos
artísticos próprios ligados à cultura artística e não apenas como atividade
(Martins, 1998).
58
Em 2006, as orientações curriculares para o ensino médio sofreram
modificações. As novas Diretrizes do Ensino Médio (referenciais curriculares
para o ensino médio) designam no volume 1 como Arte a disciplina que
compõe a área da linguagem, códigos e suas tecnologias, apesar de não citar
diretamente a áudio-descrição sinaliza o uso da tecnologia
59
2.3 O TEATRO INFANTO-JUVENIL E A ESCOLA
60
Em contraposição, Camarotti (2005) alerta que a expressão teatro
infantil é mais comum e amplamente usada para designar aquele teatro que se
destina a um público composto primordialmente por crianças e que o grau
pejorativo do adjetivo “infantil” é em função de um desvirtuamento conceitual, já
que “a raiz desse mal está na própria visão distorcida que a sociedade em
geral e o homem de teatro em particular têm da criança e do que lhe é
pertinente” (CAMAROTTI, p. 13, 2005).
61
E até a década de quarenta o teatro infantil esteve sempre na mão de
educadores, não sendo ainda uma atividade empresarial, a cargo de
artistas de teatro. Isto só aconteceria a partir da estreia de O Casaco
Encantado, de Lúcia Benedetti, no Rio de Janeiro, em 1948, sendo
novamente impulsionado, para um lugar de destaque, na década de
cinquenta, igualmente no Rio, com o aparecimento de Maria Clara
Machado e seu O Tablado (CAMAROTTI, 2005, p. 17).
62
É redundante dizer que quando falamos de crianças e jovens
consideramos aqui o entendimento que todas as diferenças e peculiaridades
deverão ser consideradas, inclusive as crianças com deficiência visual. Aliás, é
nesse contexto que se situa a reflexão da nossa pesquisa.
63
Desse modo, a Educação estendendo-se às mais variadas instâncias
da vida social não se restringe apenas ao processo intencional e formal da
escola. O desenvolvimento das habilidades e da formação humana não é
realizado apenas pela escola enquanto instituição social com estrutura
organizacional e administrativa, com normas e diretrizes que as rege. É um
processo amplo em que vários agentes, inclusive os não institucionalizados,
organizações não governamentais, igrejas, movimentos sociais, família, meios
de comunicação e grupos artísticos também atuam.
64
[...] mesmo que nem sempre estejam ligadas orgânicas ou
explicitamente, estão funcionalmente relacionadas. E essas relações
funcionais podem dar-se – como de fato de dão- de maneiras muito
diversas (TRILLA, 2008, p. 46).
65
participante, ou o jogador, nos diferentes eventos, e processos
teatrais, a partir de variados contextos e procedimentos, pode ser
estimulado a efetivar um ato produtivo, elaborando reflexivamente
conhecimentos tanto sobre o próprio fazer artístico-teatral, quanto
acerca de aspectos relevantes da vida social (DESGRANGES, 2010,
p. 20).
66
assunto. Infelizmente, esta é uma prática que ainda permeia alguns fazedores
de teatro na escola. Tal ilustração alimenta o valor pejorativo do educacional na
arte, atreladas a uma das possibilidades didáticas de transmissão de
informações e conteúdos curriculares, o que reduz a as potencialidades dessa
linguagem. Tais resquícios mancham o binômio teatro-educação, o que fez e
faz com que muitos artistas instaurem um campo, uma fronteira de tensão,
entre o artístico e o educacional.
67
ligadas às organizações, instituições formais e informais de ensino, ou a
processos de criação artística, cuja atividade formativa consiste em
provocações, experimentações, reflexão, assimilação e transmissão na busca
de saberes relativos ao teatro, tendo em vista os objetivos de formação integral
do sujeito, seja sujeito arte e sujeito cidadão, indissociáveis.
68
mero divertimento. O aprendizado do ator euro-americano, até
Stanislávski, de modo geral, baseava-se na imitação do mestre. O aluno-
ator aprendia com um ator mais velho, que lhe transmitia os passos, os
textos as formas de executá-los passo a passo (ICLE, 2006, p. 5-6).
3
As principais obras publicadas e traduzidas em português são: A Preparação do Ator.
Tradução: Pontes de Paula Lima (da tradução norte-americana). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1964. A Construção da Personagem. Tradução: Pontes de Paula Lima (da tradução
norte-americana). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1970. A Criação de um Papel.
Tradução: Pontes de Paula Lima (da tradução norte-americana). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1972 e Minha Vida na Arte. Tradução de Paulo Bezerra (do original russo). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 1989.
69
Corpeau4 lançaram as bases das tradições pedagógicas euro-americanas no
século XX, sem, contudo, impô-las como método rígido ou caminho único.
Nosso método nos serve porque somos russos, porque somos este
determinado de grupos de russos aqui. Aprendemos por
experiências, mudanças, tomando qualquer conceito de realidade
gasto e substituindo-o por alguma coisa nova, algo cada vez mais
próximo da verdade. Vocês devem fazer o mesmo. Mas ao seu modo
e não ao nosso ( STANISLÁVSKi,1989 p. 17).
4
Nas transformações instauradas no século XX Copeau também se preocupava com a
renovação do teatro, e ele foi tão importante quanto Stanislávski. Vale alertar que apesar
dos possíveis pontos de encontro entre ambos, Copeau segue um diverso instaurando a
via negativa. “Essa via consiste basicamente na eliminação dos bloqueios do ator. O
trabalho do diretor-pedagogo, nessa acepção, é vinculada à capacidade de identificar o
que obstaculiza o processo criativo do ator e promover um tangenciamento proposital.
(ICLE, 2006, p.9).
70
Nesse sentido, Desgranges (2010) alerta que o caráter pedagógico no
teatro consiste nos aspectos provocativos e dialógicos presentes de maneira
particular nos diferentes movimentos e práticas teatrais abordados.
71
luz, ator entre outros). a ação educativa nesses casos se dá individualmente e
coletivamente, sejam eles conscientes ou não.
72
nossa atenção, principalmente ao tratar com o aluno com deficiência para que
o nosso preconceito, baixa expectativa, deprecie nossa prática frente a esses
sujeitos.
73
visão de mundo. A forma de conduzir os conhecimentos específicos
de sua área de estudo, a relação com os alunos e a avaliação que
utiliza passam pela visão de ciência que possui, pela concepção de
aluno, de escola e de educação que acumulou no decorrer das
experiências vivenciadas (LIMA E PIMENTA, 2004, p. 157).
74
3 ÁUDIO-DESCRIÇÃO ONTEM, HOJE E AMANHÃ
75
americano Chet Avery, administrador e pessoa com deficiência visual, do
Departamento de Educação dos Estados Unidos, alertou e incentivou pessoas
a áudio-descreverem mídia educacional para pessoas com deficiência visual.
Pode-se citar ainda, na década de 70, o professor na Universidade de São
Francisco, Gregory Frazier, que investigou a conceituação de peças de teatro
descritas.
Porém, o surgimento da áudio-descrição aos moldes da compreensão
que temos hoje é atribuída à Dra. Margaret Pfanstiehl, fundadora do
Metropolitan Washington Ear Radio Reading Service, com o seu marido Cody
Pfanstiehl.
Diversos países têm avançado nos aspectos legais que asseguram o
desenvolvimento e o aprimoramento da áudio-descrição. Além dos Estados
Unidos, os países que mais investem na áudio-descrição, tanto na televisão
como no cinema e no teatro, são Inglaterra, França, Espanha, Alemanha,
Bélgica, Canadá, Austrália e Argentina (FRANCO, 2011).
76
edições de 2006 e 2007, foram as primeiras mostras não-temáticas a
exibirem filmes audiodescritos. No teatro, a peça Andaime, exibida
em São Paulo em 2007, foi o primeiro espetáculo teatral a contar com
o recurso. Já a montagem Os Três Audíveis foi o primeiro espetáculo
de dança audiodescrito, que aconteceu em Salvador (maio de 2008)
e em Curitiba (junho de 2009). E em maio de 2009, em Manaus, o
público com deficiência visual pôde apreciar a primeira ópera
audiodescrita do país, Sansão e Dalila, atração do XIII Festival
Amazonas de Ópera (FRANCO, et al., 2011, p. 27).
77
que presumiam a consolidação do direito da pessoa com deficiência. De
caráter multidisciplinar, o Centro se tornaria, posteriormente, o grande celeiro
produtivo na capacitação de profissionais e aplicação da áudio-descrição.
5
Áudio-descrição: Ernani Ribeiro.
6
Áudio-descrição: Ernani Ribeiro.
7
Áudio-descrição da temporada: Ernani Ribeiro, Andreza Nóbrega, entre outros.
8
Prova prática de audio-descrição: Andreza Nóbrega e Laís Melo.
9
Roteiro e Locução da áudio-descrição: Andreza Nóbrega. Informações técnicas: Gênero:
Infanto-juvenil. Sinopse: Farsa, Clown, máscara, música e animação, serão ingredientes
desta grande história de vida, onde os personagens estão segregados, divididos entre
gatos x gatos x ratos x lixo, desenrolando-se a partir daí toda a peça. Os personagens
Romeu e Julieta exilam-se involuntariamente cada um em seu gueto, convivendo com
todo o tipo de miséria e disputando entre eles a coleta do alimento diário. Quando esse
alimento não vem, ora por falta da coleta, ora porque não fora colocado no lugar de
sempre, faz com que estes, criem os seus próprios conflitos entre os seres que lhes
rodeiam. Toda essa história é contada com muito humor, músicas ao vivo, onde os atores
tocam os instrumentos musicais. (http://www.sesc-
pe.com.br/palco2010/index.asp?i=sinopses).
10
Roteiro e Locução da áudio-descrição: Andreza Nóbrega. Informações técnicas:
Gênero: Teatro de Bonecos. Sinopse: O Fio Mágico apresenta a história de Gèrard, um
menino impaciente que recebe o dom de adiantar o tempo puxando o fio de sua própria
vida. Apesar da situação fantástica, que aparentemente resolveria seus problemas, o
personagem se depara com dúvidas e desafios como o conflito entre o bem e o mal, o
envelhecimento e a inevitabilidade da morte. O simbolismo implícito nas situações e
78
Carla Denise, Produção: Mão Molenga Produções Artísticas e Culturais), “Um
Rito de Mães, Rosas e Sangue11”, (Direção: Claudio Lira, Dramaturgia: Claudio
Lira); e “Leve12” (Concepção/direção: Maria Agrelli e Renata Muniz, Assistente
de Coreografia Liana Gesteira, Realização: Maria Agrelli e Renata Muniz). Este
último foi também o primeiro espetáculo de dança áudio-descrito em
Pernambuco. No segundo semestre, o teatro recebe mais duas obras teatrais
com o recurso: “A Revolta dos Brinquedos”13 (Direção:José Francisco Filho,
Realização:Circus produções) e “A Morte do Artista Popular”14 (Direção:
Dramaturgia: Luiz Reis. Realização: Escola Sesc de Teatro).
personagens mostra que é possível vencer obstáculos e ser bem sucedido, mesmo sem
se ter um dom especial. Que a mágica da vida reside em se vivê-la plenamente. Assim, o
personagem consegue construir um novo olhar sobre o que é a vida, a importância de
aproveitar o tempo e enfrentar os desafios.
11
Roteiro e Locução da áudio-descrição: Andreza Nóbrega. Informações técnicas: Gênero:
Drama. Sinopse: Um Rito de Mães, Rosas e Sangue (Lorca – Um ato poético em três
quadros), traz à cena uma livre licença poética das Três Tragédias Rurais de Federico
Garcia Lorca: “Bodas de Sangue”, “Yerma” e “A Casa de Bernarda Alba” em um
espetáculo ritualístico ambientado num não lugar aqui presente, o qual o tempo e o
espaço não são geometrizados, medidos e comparados. Tudo é reinventado e
metaforizado, na cena. Nesse contexto, a personagem da Mãe é o foco central do ritual
cênico, é o elemento aglutinador das forças que regem a natureza, é ela que dita às
regras do jogo nos três quadros que dividem a encenação.
12
Roteiro e Locução da áudio-descrição: Andreza Nóbrega. Informações técnicas:
Gênero: Dança Contemporânea. Sinopse: O espetáculo Leve transporta para a cena as
sensações, os sentimentos e os questionamentos do ser humano diante da morte. O
trabalho foi criado sob a perspectiva de quem viveu a perda, a partir das vivências das
criadoras-bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. A concepção do espetáculo surgiu das
reflexões das duas artistas, que lidavam de forma diferente, e até mesmo divergente,
sobre a perda de pessoas próximas. As variadas perspectivas de encarar a morte
serviram de suporte para a criação de Leve, abarcando a complexidade e intensidade do
tema proposto. As sensações de impotência, saudade, dor, raiva, desespero, vazio, alívio
se mesclam na cena do espetáculo, desveladas pelo corpo das bailarinas e pelo ambiente
criado para este trabalho. Um espetáculo de dança que une coreografia e improvisação,
propondo a imersão do público em uma atmosfera mística, intimista e lúdica.
(www.sescpe.com.br).
13
A equipe de acessibilidade desse espetáculo foi composta por José Carlos Santos Veloso
(Intérprete de Libras) e Ernani Ribeiro do Grupo Imagens que falam UFPE.
14
Roteiro e locução da áudio-descrição: Andreza Nóbrega, Liliana Tavares e Fabiana
Tavares.
79
Porém, não houve o aparato técnico adequado, nem a menção da ação na
programação do evento.
15
Roteiro: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares. Locução: Liliana Tavares.
16
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega, Ernani Ribeiro, Liliana Tavares e Paulo Vieira.
Consultor de áudio-descrição: Francisco Lima.
17
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares. Sinopse: Caetana, poética
forma de denominar a morte. A encenação resgata elementos do teatro das tradições
populares e os transforma em linguagens renovadas de contemporaneidade. Na peça,
Benta, uma rezadeira que, depois de indicar o caminho do além para várias almas
perdidas, se vê diante de seu próprio encontro com a Caetana, a morte. Chegando ao
Reino do Invisível, Benta reencontra as almas anteriormente encomendadas por ela que
aparecem em forma de bonecos. Caetana é um espetáculo experimental que renova-se a
cada encontro com o espectador, que fala nas imagens, nas palavras, nos sons e no
imaginário, a linguagem poética do humano, o Nordeste renovado na cena. Caetana é
Teatro de Celebração, de Encantamento e Diversão. (www.sescpe.com.br)
18
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares. Sinopse: Matias e Bianca são
recém-casados e moram numa casa isolada em meio a um descampado. O casal se
prepara para receber Vladine, irmã doente de Matias, que traz consigo seu bem mais
precioso: Natanael, uma espécie de filho. A hiperbólica e exigida cautela com a saúde da
hóspede e a presença do seu acompanhante fazem com que Bianca, aos poucos, crie
uma rivalidade com ambos, levando o embate às últimas consequências.
19
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares
80
Popular20” (Texto: Luís Augusto Reis / Encenação: Antonio Cadengue,
realização: Escola Sesc de Teatro); “Reprilhadas e Entralhofas: Um concerto
para Acabar com a Tristeza21” (Dramaturgia e encenação: Alexsandro Silva,
Realização: Cia. 2 Em Cena de teatro,circo e dança); “Cordel do Amor Sem
Fim22”, (Texto: Claudia Barral e Direção e Cenografia: Samuel Santos,
Produção O Poste: Soluções Luminosas e Samuel Santos); e “Cabanagem23”
(Direção artística: Monique Andrade e Getúlio Lima, realização do Corpo de
Dança do Amazonas).
20
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares. Sinopse: Espetáculo de
conclusão da Escola Sesc de Teatro, do Sesc Piedade, com direção de Antonio Cadengue
e texto de Luís Augusto Reis. A peça apresenta múltiplos ângulos de discussão e leitura:
dos meandros das políticas públicas da cultura ao papel da arte na sociedade
contemporânea. Além disso, enceta uma reflexão acerca da natureza da obra de arte, em
suas ambiguidades e interface com a realidade.
21
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares
22
Roteiro: Andreza Nóbrega e Liliana Tavares. Locução: Andreza Nóbrega. Sinopse:
Cordel do Amor sem Fim se passa na cidade de Carinhanha, sertão baiano, às margens
do Rio São Francisco, na cidade vivem três irmãs – a velha Madalena, a misteriosa
Carminha e a jovem e sonhadora Tereza – por quem José é apaixonado.
Drummondianamente, Carminha ama José, que ama Tereza que ama Antônio, um viajante
forasteiro por quem ela se apaixonara no porto da cidade, exatamente no dia em que um
almoço marcaria seu pedido de casamento feito por José. Toda a trama então se
desenrola em função do tempo de espera de Tereza pela volta de Antônio que vai
interferindo na vida dos personagens de forma decisiva. (www.sescpe.com.br).
23
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega. Sinopse: A Cabanagem foi uma revolta popular
na qual negros, índios e mestiços se insurgiram contra a elite política regencial. Diversas
batalhas fizeram com que o movimento ficasse marcado pela violência. O espetáculo, não
narrativo, apropria-se da essência da Cabanagem e utiliza a linguagem do coreógrafo
Mário Nascimento para traduzir o espírito de resistência, de luta, de revolta e de
preservação das culturas do local. A pesquisa para o espetáculo partiu da literatura de
Márcio Souza e Marilene Corrêa (www.sescpe.com.br).
24
Roteiro: Andreza Nóbrega e Paulo Viera. Locução: Paulo Vieira. Consultor em áudio-
descrição: Francisco Lima. O projeto tramitou desde de 2010, “Em julho de 2010 foi
gravado em formato digital o filme "Casa dos Estranhos", com o argumento de Marco
Abuljanra, cineasta residente no Rio de Janeiro -RJ, e membro da Ong MHUD, abordando
a questão do preconceito contra portadores de necessidades especiais e sobre as
diferenças”. (http://www.cremepe.org.br/ceac/projeto_casa_dos_estranhos.php).
81
Pablo Polo, Produção: 485 Filmes), numa iniciativa do Cremepe e com apoio
do Centro de Estudos Inclusivos.
25
Roteiro e Locução: Andreza Nóbrega, Ernani Ribeiro, Laís Castro e Paulo Vieira.
Consultor em áudio-descrição: Francisco Lima.
26
Audio-descritores: Andreza Nóbrega, Fabiana Tavares, Patrícia Pordeus e Paulo Viera.
27
A ação foi realizada com o apoio financeiro da (secretaria de apoio à pessoa com deficiência
(Sead) que custeou as passagens dos palestrantes e do apoio estrutural da UPPE, cedendo o
auditório Barbosa Lima Sobrinho.
82
de Dentro”; bem como apresentação em lugar alternativo de “Pindoramas
Caravelas e Malungos”, ambos com realização do Grupo Quadro de Cena;
além do espetáculo “Leve”, uma realização do Coletivo Lugar Comum, das
bailarinas Renata Muniz e Maria Agrelli, sendo todos eles previstos com o
recurso da áudio-descrição e aprovados por leis de incentivo estadual ou
prêmios a nível federal.
83
pelo olfato; e, no último exemplo, a decodificação dos códigos do sistema braile
é realizada pelo tato.
84
objetivo transformar o que é visto em palavras, por meio da descrição objetiva.
Ou seja, a transmutação do signo visual para o verbal, ofertado à pessoa com
deficiência visual, dislexa, analfabeta ou para todos, para garantir-lhes o
acesso aos bens culturais, educacionais, sociais e de lazer.
28
As diretrizes originaram-se com o intento de tornar acessíveis as apresentações de teatro ao
vivo, porém salienta-se que a essência dos princípios listados ao longo do documento pode ser
aplicada em quase todas as situações de áudio-descrição.
85
Para Pozzonbon (2008), o recurso consiste na descrição clara e
objetiva de todas as informações que compreendemos visualmente e que não
estão contidas nos diálogos, como, por exemplo, expressões faciais e corporais
que comuniquem algo, informações sobre o ambiente, os figurinos, os efeitos
especiais, as mudanças de tempo e espaço, além da leitura de créditos, títulos
e qualquer informação escrita na tela.
86
Bearzoti (1991) afirma também que os cinco sentidos são instrumentos
da descrição, explorados nesta técnica por estímulos de impressão sensorial:
ruídos, musicalidade, cores, formatos, cheiros, texturas suaves, sabores de
frutas, alimentos, provocadores do campo perceptual do indivíduo.
87
esses elementos ou objeto como um todo, a que daremos a denominação de
traços adjetivos” (BEARZOTI, 1992, p. 16). Já nos traços subjetivos, há
indicativos que nos levam a ter determinadas impressões. Uma vez que a
áudio-descrição tem como propósito levar o sujeito a ver, emponderá-lo, de
modo que ele mesmo possa construir e fruir do objeto, as escolhas tradutórias
precisam se aproximar cada vez mais do real, daí a necessidade de primar
pela objetividade.
88
Usamos a expressão gênero textual como uma noção
propositalmente vaga para referir os textos materializados que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam características
sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais,
estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas
meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros
textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal,
romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de
condomínio, horóscopo, [...], carta eletrônica, bate-papo por
computador, aulas virtuais e assim por diante (MARCUSCHI, 2010, p.
23-24).
89
produção escrita, haja vista os roteiros redigidos previamente. Mesmo nesse
caso, a intenção primordial é que o roteiro seja lido/locucionado para que assim
atinja a sua concretude, transmitir a informação ao destinatário à pessoa com
deficiência visual. Essa não é uma peculiaridade apenas da áudio-descrição,
outros gêneros textuais também são assim, há de se notar tal similaridade nos
telejornais por exemplo.
90
sociocomunicativa emergente em contextos diferenciados como cultura,
educação e lazer, e tal necessidade se refere especificamente à acessibilidade
comunicacional das pessoas cegas ou com baixa visão inseridas nesses
contextos (SILVA; NÓBREGA, et al. 2010).
91
do recurso acessível, na sua trajetória laboral, visto que a áudio-descrição
traduz por meio das palavras as características de uma imagem, de modo que
o usuário possa recriar o objeto29. É um exercício desafiador e permanente
para esse profissional perceber e traduzir em palavras os códigos visuais, os
detalhes que caracterizam de forma precisa os objetos.
29
Entendemos a palavra objeto no sentido etimológico. Ou seja, como aquilo que está
diante do sujeito, seja (coisas, ações, pessoas, animais, arquitetura, pintura,
representação teatral)..
92
exige do profissional o conhecimento da língua, domínio sobre os aspectos
técnicos da áudio-descrição (diretrizes que norteiam as escolhas tradutórias,
técnicas de elaboração de roteiro) e na linguagem do objeto/obra.
93
há margem para inovações “fora do script”, o roteiro é elaborado
antecipadamente, mas a locução da AD é feita no momento do
evento; e em programas, paradas ou reportagens de última hora e
sem ensaio, fica inviabilizada a preparação do roteiro, daí decorrendo
que a audiodescrição é integralmente feita no momento do evento
(COSTA; FROTA, 2011).
94
cotidianos, mas a execução se remodela de acordo com o público, resultando
num espetáculo imprevisível a cada dia.
95
Esse tipo de espetáculo gera uma especificidade, o que nos leva a
entender que haverá determinados casos em que apenas um áudio-descritor
poderá realizar a locução da áudio-descrição.
Costa, Frota (2011), apud Jorge Díaz Cintas, no artigo “Por una
preparación de calidad en accesibilidade audiovisual”, estabelece três grandes
categorias para a identificação de diferentes tipos e formas de produção da
áudio-descrição:
96
do roteiro, relativamente à exibição do produto ou realização do evento, e a que
privilegia a natureza do objeto áudio-descrito:
97
Áudio-descrição simultânea: Quando não há contato ou apenas
parcialmente com a obra, ou ainda quando o espetáculo não apresenta um
roteiro preestabelecido, exigindo do profissional agilidade e experiência prévia
em tradução, facilitando destreza com as escolhas tradutórias no momento
exato do evento.
30
Empregamos o termo por entendermos que se trata de um roteiro que não é determinado,
fixo.
98
A Organização Internacional de Normatização (The International
Organization for Standardization- ISO), por meio de normas, descreve as
condições a serem respeitadas no momento do projeto e da construção das
cabines de interpretação simultânea, a fim de permitir uma prestação de
serviço de qualidade por parte dos intérpretes.
Conforme ISO 2603 que transcore sobre as cabines fixas e ISO 4043
cabines móveis, as cabines de interpretação devem cumprir três requisitos
básicos: preservar a separação acústica, possibilitar a boa comunicação pelas
duas vias (o intéprete e o evento), entender-se aqui sonora e visualmente e
permitir um ambiente de trabalho confortável. Dentre esses parâmetros, elas
são definidas de acordo com a relação no espaço da realização do evento,
podendo ser fixa, semi-permanente ou móvel.
99
esteja localizada em um lugar que garanta boa visibilidade da cena.
Internamente a cabine carece de: bancada para pôr o roteiro, iluminação
adequada para que a luz não vaze para o público, nem comprometa o
acompanhamento do roteiro por parte do locutor, e que a dimensão seja
compatível e acomode o locutor sentado numa posição confortável, livre de
tensões corporais.
100
paredes laterais como o chão devem ser revestidos com um material de
isolamento sonoro.
101
som (CATAI, et al., 2006). Comercializado no formato de placas de espessuras
e dimensões diversas, o que facilita a sua manipulação e aplicação.
102
Devem existir ainda apoios para os pés, independentes e amovíveis
(ISO, 4023).
103
roteiro áudio-descritivo, onde traça o itinerário dessa viagem (imagem-palavras-
imagens), ancora-se e enxerta na própria dramaturgia, entre os diálogos dos
atores e as rubricas técnicas a áudio-descrição, com detalhes pormenorizados
sobre a corporeidade da cena (movimentação, cenário, figurino, efeitos
luminosos) e as notas proêmias.
O marinheiro não vai colocar seu navio sem antes conhecer o mar e o
áudio-descritor sem conhecer o território para tradução. Elabora o roteiro
hasteando-se no estudo prévio da obra, ou seja, ele entra em contato com o
objeto e o contexto de criação, exibição, esmiuçando as partes constituintes
dessa composição, nesse caso a cênica.
104
consultor de A-d, audição dos usuários do serviço para possíveis ajustes no
roteiro.
105
mediante a inclusão de rubricas. (TAVARES et al., 2010, p. 11-
12).
106
oportunidade antes que o segundo ato comece. A maioria dos áudio-
descritores prepara informações pré-apresentação, a fim de
assegurar que estejam cobrindo tudo de uma forma coerente
organizada e oportuna (VIEIRA, 2010 p. 13).
107
modo direto/objetivo. A clareza exprime, com a maior nitidez, o texto
áudio-descritivo. A correção refere-se à exatidão com que se áudio-
descreve um evento visual. A especifidade, a escolha tradutória de
termos/palavras que eliciem a melhor e mais precisa ideia do que se
está áudio-descrevendo. E a vividez, a escolha tradutória que elicia a
mais vívida imagem na mente de quem ouve/lê a áudio-descrição.
Por assim dizer, a “vividez”, enquanto atributo de requinte,
aperfeiçoamento, lapidação ou burilamento da áudio-descrição, será
o traço distintivo dos melhores áudio-descritores, aquilo que todos
deverão almejar sempre, mas que nem sempre todos alcançarão
(LIMA, 2011, p. 13 grifos do autor).
Negrito Audiodescrição
108
(Som da cápsula se abrindo)
Por exemplo, a vírgula (,) será usada para indicar breve pausa na
locução; o ponto e vírgula (;), para indicar uma pausa média na
locução e o ponto final (.), para indicar uma pausa maior, definindo o
fim de uma locução (o fechamento de uma ideia, o fim de uma áudio-
descrição ou de uma parte dela).
109
3.7 A LOCUÇÃO NA ÁUDIO-DESCRIÇÃO NO TEATRO PARA
INFÂNCIA E JUVENTUDE
110
Enquanto testemunha fiel da obra, não poderá nunca ser acometida
pela emoção do que é exposto, arrematado pelos impulsos de sentimentos,
desviando a atenção dos usuários do foco principal: a apresentação. Segundo
Marta Gil (2011), “a locução não pode ser monótona, mas também não pode
“roubar a cena”. Dosar a emoção requer sutileza e clareza dos objetivos a
serem alcançados” (GIL, 2011, p. 174).
Pela minha experiência na Iguale, acho que este profissional deva ser
um ator ou atriz, pois essa narração demanda um domínio da
linguagem interpretativa, devendo ser uma fala descritiva com o tom
de interpretação muito sutil para não concorrer com as falas originais
do filme. Baseado num roteiro, o audiodescritor-narrador descreve
com o máximo de detalhes e sem julgamento tudo que acontece nas
cenas de uma obra audiovisual (SANTANA, 2011, p. 106).
Muitas vezes, o roteiro está bem elaborado, mas a locução sem vida
faz com ele perca a qualidade. O contrário também pode acontecer: o
áudio-descritor com sua entonação, timbre, clareza e alguns
improvisos pode melhorar um roteiro medíocre. (BENECKE, 2007;
SNYDER, 2004 apud MOTA, 2011, p. 67).
111
técnico que engloba conhecimentos sobre o aspecto fisiológico da fala, técnica
de respiração, aquecimento vocal, articulação, ressonância, projeção de voz e
cuidados com a saúde vocal. Na verdade, essas são competências básicas
que se aplicam aos profissionais que trabalham essencialmente com a voz:
educadores, jornalistas, radialistas, executivos, secretárias, telefonistas,
advogados, políticos, vendedores, empresários, ou ainda todas as pessoas que
desejam se comunicar bem.
112
Para subsidiar tecnicamente esse profissional, há alguns conteúdos a
serem dominados, além do domínio da própria língua, o trabalho com o
corpo/voz e seu funcionamento é relevante para essa atividade.
113
3.8 OS PREPARATIVOS DA LOCUÇÃO: RELAXAMENTO E
RESPIRAÇÃO
114
3.9 DIRETRIZES PARA ÁUDIO-DESCRIÇÃO NO TEATRO
115
que opta em construir formas expressivas através do próprio corpo sem usar
necessariamente a palavra e com simplicidade para o uso de objetos. O foco é
o próprio corpo do ator e suas potencialidades em representar e sugerir a
materialidade. Exemplo disso é o que ocorre na mímica, no teatro físico e na
dança-teatro.
116
descrição. É bastante útil valer-se de duas cópias do mesmo filme –
uma com descrição pré-gravada e outra sem. Depois que alguém
descrever uma parte e o grupo a discutir, verifique como as suas
decisões diferem da descrição gravada (VIEIRA, 2010, p. 6).
117
Assim como o teatro é ao vivo e necessita de público presente, a
áudio-descrição no teatro é a arte da tradução no tempo presente com
usuários, espectadores também presentes.O áudio-descritor, profissional
responsável pela tradução, é a testemunha viva da obra, ele deve conhecer tão
bem o material a ser traduzido, que se torna parte dele, uma unidade
homogênea.
118
observado (das expressões faciais, ações físicas, figurino, cenário,
maquiagem) é o que será descrito de forma objetiva. Não caberá, portanto,
inferências pessoais nem censuras. Essa primeira regra, é o pilar norteador
das escolhas tradutórias do áudio-descritor.
119
A produção de uma áudio-descrição é ditada pela consideração da
obra e do usuário a que ela se destina, sendo que é esse conjunto
que exige do tradutor o que traduzir, como traduzir, quando e quanto
traduzir. Em toda tradução é necessário que o tradutor faça
constantemente edições e escolhas. Assim, lhe são exigidos a
pesquisa, a leitura e o desenvolvimento de espírito crítico, para que
possa executar, de maneira eficaz e com responsabilidade, as
edições e as escolhas tradutórias (LIMA, 2011).
120
às pessoas que enxergam. Se um áudio-descritor acreditar que
descrever um certo material lhe fará sentir-se mal, ele não deve
aceitar o trabalho (União em Prol da áudio-descrição. Diretrizes
para áudio-descrição e código de conduta. Trad. Vieira, 2010,
p. 12).
121
adverte que só se deve “Utilizar a comparação desde que seja possível ser
reconhecida pelos ouvintes” (União em Prol da áudio-descrição. Diretrizes para
áudio-descrição e código de conduta. Trad. Vieira, 2010, p. 13). Tratando-se de
criança, considerar relações de comparações com coisas diretamente
relacionadas a elas.
Vale salientar que uma vez escolhida uma característica distintiva para
determinado personagem, deve-se buscar o mesmo com os outros, por
exemplo: “mulher negra” e “mulher asiática”. A esse respeito, encontramos nas
Diretrizes: “Se for importante descrever essa característica num personagem,
então a áudio-descreva para todos os personagens”. (União em Prol da áudio-
122
descrição. Diretrizes para áudio-descrição e código de conduta. Trad. Vieira,
2010, p.15).
123
estrangeiros etc, ou muitas variações nos seus nomes (por
exemplo, personagens Chekovianos) – assegure-se de que
está usando o nome que mais sirva à narração da história.
Uma vez que um personagem tenha sido identificado no
material, ligue o nome do personagem com a voz mencionando
o seu nome, imediatamente antes de ele ou ela falar (Ibidem, p.
17).
124
2- Censurar elementos constitutivos da obra traduzida ou eventos
imprevistos no decorrer da áudio-descrição;
3- Realizar a áudio-descrição de modo descontextualizado, isto é,
sem estudo prévio da obra e da contextualização; desconsiderar a
faixa etária ou campo de atuação laboral do público-alvo e trazer
construções linguísticas inadequadas, levando a fragilidades na
construção do gênero tradutório;
4- Desconsiderar opiniões dos usuários do serviço ou de outros
tradutores;
5- Provocar desvio da atenção à obra ou evento áudio-descrito,
trazendo, com ênfase, informações secundárias sobrepostas à
mensagem principal;
6- Omitir alguma informação por julgar que será incompreensível
para as pessoas com deficiência.
7- Superestimar as respostas da pessoa com deficiência visual
quanto à acessibilidade e compreensão da informação.
8- Demonstrar pesar, atitude comiserativa nas relações
interpessoais com os usuários do serviço.
9- Não áudio-descrever piadas visuais, sob o entendimento de
que a pessoa com deficiência, mesmo utilizando o recurso da áudio-
descrição, não as compreenderá (LIMA, TAVARES, 2010, p. 18-19).
125
dentro de um mar de palavras. Escolhemos determinadas passagens,
escolhemos determinados sentidos possíveis num texto literário, por
exemplo, e desta forma criamos um livro dentro do livro (BARBOSA,
SEVERINO, 1992, p. 31-32).
126
5. Pessoais: o repertório cultural anterior ao qual têm ou tiveram
acesso os espectadores, seus hábitos como consumidores, etc;
6. Referenciais: são também um tipo de mediação classificada
como pessoal; as referências identitárias do espectador, tais como
gênero, grupo de idade, descendência étnica, nacionalidade,
orientação sexual, etc. (FERREIRA, 2006, p. 29-30).
127
4. TEATRO E A CARTOGRAFIA DOS ELEMENTOS VISUAIS
128
totemismo e xamanismo e dos vários cultos divinos (BERTHOLD,
2004, p. 2).
129
Para que esse fenômeno aconteça é necessário alguém para observar.
O olhar do espectador é essencial para o próprio jogo teatral, ele compõe a
tríplice estrutura, juntamente com o ator e a encenação, para concretude da
arte efêmera, que é o teatro. Nesse caso, a áudio-descrição atua como os
olhos do espectador com deficiência visual, possibilitando que essas pessoas
vejam a cena e participem em igualdade na composição da tríplice estrutura do
teatro.
130
Posteriormente discorreremos sobre o corpo/movimento do ator, maquiagem,
cenografia, indumentária, maquiagem e iluminação e sonoplastia.
131
de lanças espetadas no chão, um animal batido, um monte de trigo,
milho, arroz, ou cana-de-açucar (BERTHOLD, 2004, p. 4).
132
Destaca-se nas transformações ocorridas no espaço cênico, ainda
ligado ao aspecto religioso, o espaço do Medieval Processional, na Alta Idade
Média. O teatro medieval deriva do rito religioso (a missa cristã), adaptado para
o drama. Eram escritos e encenados pelo clero dentro da própria igreja. O local
onde ficavam expostos os santos e mártires da idade média era o pequeno
palco para o acontecimento cênico. Tais representações tinham por finalidade
passar os preceitos do cristianismo e conservar a fé e a moral cristã. O teatro
era visto como um instrumento didático-religioso.
133
separação pelo proscênio onde a cena formava um quadro vivo que o
espectador contemplava como uma pintura” (URSSI, 2006, p. 35-36).
134
No que concerne o ensino da linguagem teatral, é necessário
compreender o percurso evolutivo dos espaços cênicos e sua funcionalidade,
ele é acervo cultural e é um elemento da teatralidade.
135
Entendemos por consciência global ou total do ator a capacidade que
esse artista tem de perceber os fatores internos e externos. Ou seja, seria o
domínio das sensações cinestésicas, tomada de consciência corporal (eixo,
peso e esquema corporal) e percepção do entorno (domínio do espaço e ação
dos demais parceiros de cena) (PAVIS, 2008).
136
ator exige uma abordagem mais técnica para captar a variedade do trabalho
corporal executado”. Para isso, aponta-se a pragmática corporal segundo
Bernard apud Pavis (1996) ao determinar os seguintes operadores:
137
Considerado um dos grandes pensadores da dança e do movimento
humano, Rudolf Von Laban dedicou a vida em estudar as dinâmicas do corpo e
a sistematização do movimento.
138
compreensão do esforço. Tais aspectos constituem-se como os pilares dessa
teoria, tornando elegíveis as marcas constituintes da dinâmica do movimento
do ator em cena.
4.3 INDUMENTÁRIA
4.4 MAQUIAGEM
139
com o intuito de afastar os maus espíritos ou de celebrar os deuses. Os
produtos utilizados eram extratos vegetais- seiva de flores, raízes, frutos- ou de
origem mineral: óleos, pelos e penas. Atribui-se aos egípcios, gregos e
romanos a invenção da indústria dos cosméticos.
A maquiagem teatral pode ser entendida como “uma película, uma fina
membrana colada no rosto: nada está mais perto do corpo de ator, nada
melhor para servi-lo ou traí-lo que esse filme tênue” (PAVIS, 1996, p. 170). A
sua função por vezes está em acentuar, reforçar os traços expressivos que
precisam ser percebidos pelos espectadores. O maquiador com pincéis marca
o corpo do ator, espaço de transformação simbólica, explorando cores,
tonalidades e efeitos luminosos, luz e sombra, claro e escuro. Com isso, as
partes do corpo podem ser estreitadas, engordadas, salientadas,
rejuvenescidas ou envelhecidas.
4.5 CENOGRAFIA
140
4.6 ILUMINAÇÃO
4.7 SONOPLASTIA
141
A esse respeito, Lima 2011 (comunicação pessoal) explica que “o
empoderamento na tradução visual se dá quando a A áudio-descrição vem
trazer ao evento imagético:
142
5 METODOLOGIA
143
Exigência: Estrutura física composta com os artefatos elementares:
palco, espaço para acomodar a plateia, equipamento de iluminação e som.
Instrumentos de coleta: gravadores, câmeras e respectivos operadores.
Sujeitos: Pessoas com deficiência visual.
Exigência: Que o sujeito nunca tenha assistido ao espetáculo em
questão.
Aporte técnico: Transporte para os sujeitos da pesquisa,
acompanhante para traslados, áudio-descritor, cenotécnico, técnico de luz,
técnico de som, operador de luz e bilheteiro.
Inicialmente, a escolha do espetáculo infanto-juvenil para aplicação da
AD estava condicionada à disponibilidade de uma produção de um espetáculo
já em atividade, que cumprira temporada em outra ocasião, acolher a pesquisa.
Porém, ao nos depararmos com alguns obstáculos com a equipe artística, tais
como a indisponibilidade do elenco para adequar aos horários e dias de
ensaios e apresentações em função das necessidades da pesquisa, mudamos
o rumo.
Curvamos para esquerda e pegamos uma nova estrada, mas em
direção ao mesmo destino. No novo caminho, decidimos conceber um
espetáculo prático, versátil e portátil, onde a função da atriz fosse ocupada pela
própria pesquisadora do trabalho. A ação participante na concepção artística
permitiria mergulhar em profundidade no processo, contexto da obra, já que a
mesma estaria envolvida em todas as etapas (construção artística e elaboração
da áudio-descrição). Esse aspecto, estudo e apropriação do material é
sinalizado pelas diretrizes da áudio-descrição como relevante na construção do
roteiro áudio-descritivo.
A montagem de um espetáculo exige a mobilização de diversos
artistas, profissionais, técnicos, além de compra de matérias, equipamentos
(nenhum teatro até o momento da pesquisa contava com esses equipamentos),
aluguel de espaço para ensaio, pauta do teatro, entre outros. A fim de
transpormos esse obstáculo, elaboramos um projeto de captação de recursos e
apoio, de modo que pudéssemos oferecer a proposta em diversas empresas,
instituições e órgãos governamentais para financiar a investigação.
Nesse percurso, fomos acolhidos pelo Serviço Social do Comércio
(Sesc-PE), empresa que de imediato firmou a parceria. O Sesc disponibilizou
144
recurso financeiro para despesas com compra de material para montagem do
espetáculo e pagamento de alguns profissionais contratados, bem como
espaço para ensaios, pauta no teatro Marco Camarotti, ônibus para transportar
os usuários do serviço e aluguel do equipamento de tradução simultânea para
todos os dias da pesquisa.
Além do incentivo do Sesc, contamos com o apoio de vários
colaboradores31 que encontraram no produto “Nem Sempre Lila” campo para
experimentação das habilidades e troca de conhecimento. A Editora
Universitária da Universidade Federal de Pernambuco também contribuiu com
a impressão do material gráfico, cartazes e programas do espetáculo.
Apresentamos o resumo metodológico realizado em duas etapas:
Montagem do espetáculo
pela pesquisadora atriz e
Quadro de Cena e
elaboração da áudio-
descrição.
Etapa 2- O Caso
Espetáculo infanto-
juvenil/ áudio-descrição/
Recepção pessoa com
deficiência visual
31
Os colaboradores foram artistas, profissionais que atuaram diretamente na construção
do trabalho artístico e da pesquisa abrindo mão do cachê, ou pagamento real pelo serviço.
Alguns deles receberam apenas ajuda de custo para despesas, ou um valor abaixo do
mercado pelo serviço executado. Foram eles: Breno César, Camila Buarque, Fabiana
Tavares, Theonila Barbosa, Liliana Tavares, Ernani Ribeiro, Michel Chaves, Ana Farias,
Diogo Lopes, Débora Cristina e Quadro de Cena.
145
5.2 ETAPA 1- PROCESSO COLABORATIVO DE
CONSTRUÇÃO ARTÍSTICA
32
Em atividade desde 2004, atualmente é composto por Andreza Nóbrega, Eduardo Rios,
Milena Marques, Marcella Malheiros e Thomás Aquino. Mantém atividades regulares
relativas à formação técnica do ator e produção artística. Os principais espetáculos
montados foram O amor do Galo pela Galinha D`água, 2006 e Historinhas de Dentro,
2008, ambos dirigidos por Samuel Santos e Nem Sempre Lila, 2011, processo
colaborativo do Quadro de Cena.
146
integrantes são convidados e estimulados a interferirem na criação de todos,
sem perder de vista a responsabilidade pela área específica ocupada.
(CARREIRA, s/d)
Em relação à escolha por um processo colaborativo, Figueiredo (2007)
nos alerta a grande complexidade na estrutura de criação dos espetáculos.
Por vezes se fazem necessárias exaustivas tentativas, compartilhamento de
escolhas e discussões, o que exigiria um intenso período para viabilizar a
produção.
No entanto, ele permite o desenvolvimento de outras habilidades,
decorrentes das interferências em distintas áreas de criação. Mas para que
isso ocorra “é necessário um corpo coletivo com potencialidades além
daquelas específicas em sua área de atuação, além de desejo propositivo”
(FIGUEIREDO, 2007, p. 118).
Os quadrantes33 transitaram não apenas no exercício da cena, como
também se deslocaram e cavaram por outras terras, onde aqueles elementos
da teatralidade, antes inexplorados, eram as camadas que juntos
perpassávamos com entusiasmo e dor. A dramaturgia, a escrita do corpo e da
cena, as letras e as melodias, que se provocavam mutuamente, assim
coexistiram. Um mergulho em profundidade.
Utilizando a energização corporal aliada ao treinamento físico em
busca da união entre mente e expressão cênica do ator, tomamos como roteiro
para construção artística pedaços da vida dos “quadrantes” que dialogavam
com os rotineiros questionamentos e conflitos de jovens e adolescentes
referentes a temas como amor, convivência com as diferenças, aceitação
pessoal, transformações do corpo e relações familiares. Foi aí que Lila saiu de
dentro do buraco para nós e nós cavamos mais e mais para brincar com a
história dela. Nascia assim a concepção de “Nem Sempre Lila”: uma menina,
não tão menininha, que caiu no buraco depois de viver uma história sem o “feliz
pra sempre” dos contos de fadas: a separação dos pais.
33
Termo utilizado para se referir aos componentes do grupo, uma brincadeira dos
integrantes com a variação da palavra Quadro. Segundo o Aurélio [do lat. Quadrante] S.
m. Qualquer das quatro partes centradas em que se pode dividir igualmente um círculo, ou
ainda o instrumento destinado a medir altitudes em navegação.
147
Cavamos, cavamos, cavamos, por acreditar que o buraco é bem mais
que o simples vazio: ele é repleto de todas as potencialidades do que o
preencheria, o repassaria, o transbordaria pela sua abertura. Foi cavando que
aquilo que apenas preencheria, preencheu; aquilo que transbordaria,
transbordou e aquilo que repassaria, repassou em “Nem Sempre Lila”.
148
mais criativo, mais imaginativo; tem mais tempo de adaptar seus
instrumentos, modificar detalhes e construir uma compreensão do
caso que leve em conta tudo isso, pois ele não mais está atrelado a
um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutável
possível. (LAVILLE, 1999, p.156)
149
Após a recepção dos espectadores e entrega dos equipamentos, o
áudio-descritor ofertou as Notas Proêmias, que correspondem a informações
introdutórias, de apresentação e instrução que subsidiam a AD.
Vale salientar que tais informações não anteciparam os conteúdos da
obra, pois a oferta das Notas Proêmias apenas disponibiliza o que é possível
ser visto pelo público vidente. Por exemplo, as imagens do programa, sinopse,
ficha técnica, históricos do grupo, figurino, cenário. As informações que são
acessadas por imagens presentes nas fotos, matérias de jornal, banner,
comercial televiso entre outros. Nesse momento, fizemos observação e vídeo-
gravação.
Passada essa etapa, todos os espectadores foram orientados a se
sentarem nas cadeiras da platéia. E então acomodados, foi realizada a áudio-
descrição do espetáculo “Nem Sempre Lila”.
Ao término do espetáculo, a fim de avaliar o potencial de transferência
de informações visuais a partir da AD para audiências com deficiência visual
realizamos uma pesquisa de recepção, que consistiu, numa entrevista semi-
estruturada baseada na análise prévia e na identificação das lacunas
comunicacionais advindas das imagens presentes na obra. Na ocasião,
testamos a compreensão dos elementos visuais, pedindo que relatassem
cenas, iluminação, caracterização dos personagens etc.
150
5.5 A ESCOLHA DOS SUJEITOS
151
1. Categoria Tema: Nome da obra; Espaço de realização (local que
acolhe a produção); Classificação; entre outros.
2. Categoria Autoria: Equipe técnica. Quem? O que? (grupo,
produção, artistas, profissionais envolvidos e respectivas funções) Origem
(Cidade/Estado/País); histórico do grupo, produção.
3. Categoria Gênero: Comédia, Tragédia, Drama, Auto, Farsa,
Melodrama, Ópera, Musical, Revista, Besteirol, Stand-up comedy,
Tragicomédia, Teatro para infância e juventude, Teatro de Rua, Teatro
invisível, Dança-teatro, Teatro de Formas Animadas, Teatro de fantoches,
Teatro de sombras, Teatro de Mamulengos, Teatro lambe-lambe (miniaturas).
4. Categoria Arquitetura Teatral: (o onde da cena); palco italiano,
arena, semi-arena, teatro de rua, construções alternativas da sala de teatro.
5. Categoria Propriedade da Encenação: Estilo da encenação
(romântico, realista, naturalista, simbolista, expressionista, surrealista, futurista,
dadaísta, absurdo, hibridismo estético, épico, popular).
6. Categoria Elementos constituintes:
a) Cenário: palco nu, realista, simbólico.
b) Iluminação: fontes artificiais convencionais: uso de refletores (PC
100, de 500, Fresnel, Elipsoidal, pimbim, cachão de luz, lâmpadas LED).
Fontes naturais/e ou alternativas: tochas, candeeiro, lanternas, luz solar,
refletor feito com lâmpada incandescente e lata de alumínio.
c) Técnica de representação (ator, teatro-animação, bailarino-ator):
teatro físico, naturalista, clown, fantoche, marionete, marote, mamulengo, entre
outros.
d) Personagem:
I. Características fenotípicas:
• Características faciais: Rosto (redondo, oval, redondo, triângulo,
triângulo invertido, diamante). Cabelo: quanto à forma: liso, cacheado,
ondulado, crespo; quanto à cor: loiro, ruivo, castanho e preto. Quanto ao
tamanho: longo, curto, na altura dos ombros. Testa. Sobrancelha (fina,
arqueada e arredondada, arqueada e ondulosa, arredondada, ligeiramente
angulosa, reta curvada na ponta, angulosa). Cílios. Olhos. Nariz (pequeno,
grande, arrebitado, aquilino, achatado, grego, romano). Maçã do rosto. Orelha.
152
Boca. Lábios (finos, grossos, assimétricos). Queixo. Barba, cavanhaque;
expressões faciais (olhos arregalados, lábios serrados) entre outros.
• Características corporais: Pescoço, ombros, peito, braços,
barriga, bunda, joelho, pernas, coxa, pés.
• Estatura: Alto, Baixo, Estatura média, alto, baixo, estatura media
1,70cm.
• Massa corporal: obeso, gordo, magro, robusto, atlético.
II. Figurino: nu ou vestimentas: vestido, jaleco, short, chapéus,
lingerie, túnica, terno, batina, turbante, óculos, calçados.
III. Adereços/adornos: lenço, bengala, chapéu, pulseira, leque.
IV. Maquiagem/máscara: nariz vermelho de palhaço, máscara tribal,
maquiagem de realce.
V. Expressões corporais (ombros tensionados, contraído, de ombros
caídos, cabisbaixo, mão sobre a cabeça, deitado; acocorado).
153
Enquadramento das categorias: definição, entrevistas e extratos da áudio-descrição
Categoria Autoria Apresentação dos autores 12. Como você avalia as Nas notas proêmias: “ESPETÁCULO
responsáveis pela obra informações ofertadas antes do TEATRAL “NEM SEMPRE LILA”
(dramaturgo, encenador, atores, início do espetáculo (notas REALIZADO PELO GRUPO TEATRAL
ficha técnica) proêmias)? O que elas QUADRO DE CENA. GÊNERO: DRAMA.
anunciavam? FAIXA ETÁRIA: RECOMENDADO PARA
MAIORES DE 8 ANOS.[...]”
Categoria Gênero Definição do conjunto de 12. Como você avalia as Nas notas proêmias: “ESPETÁCULO
características da apresentação informações ofertadas antes do TEATRAL “NEM SEMPRE LILA”
teatral que o enquadra num início do espetáculo (notas REALIZADO PELO GRUPO TEATRAL
determinado gênero proêmias)? O que elas QUADRO DE CENA. GÊNERO: DRAMA.
anunciavam? FAIXA ETÁRIA: RECOMENDADO PARA
MAIORES DE 8 ANOS.[...]”
Categoria Arquitetura Especificação descritiva do 12. Como você avalia as Nas notas proêmias: “UMA SALA
Teatral espaço cênico, onde acontece a informações ofertadas antes do RETANGULAR. PAREDES FORRADAS
encenação início do espetáculo (notas DE ALCATIFA CINZA ESCURO. PISO
proêmias)? O que elas DE MADEIRA. 75 CADEIRAS PRETAS
anunciavam? ENFILEIRADAS SOBRE UMA
ARQUIBANCADA VOLTADAS DE
154
FRENTE PARA O ESPAÇO DA
REPRESENTAÇÃO CÊNICA”
Categoria Propriedade Estilo predominante das 1.Qual a cena você mais gostou Nas notas proêmias: “UMA ATRIZ E
da Encenação características da encenação do espetáculo? (Por quê? *Extrair DOIS MÚSICOS/ATORES
descrição. Como estava REPRESENTAM, NUM JOGO DE
posicionada? Ação corporal?) CONTRACENAÇÃO. VÁRIOS
2.Qual a cena você menos PERSONAGENS DIFERENTES SE
gostou? (Por quê? *Extrair UTILIZAM DE OBJETOS, FIGURINOS E
descrição) MODIFICAÇÃO DA VOZ.”
4.Que elemento foi utilizado para
representar a moça encantada e
o príncipe?
5. A Moura Torta estava vestida
como? Como ela se
movimentava? E as expressões
faciais dela?
6. Na história de Recife e Olinda
Lila conta a história que é
protagonizada por dois
personagens. Como era Recife e
Olinda?
7. Como Lila construiu a amiga
lagartixa “lilatixa”?
12. Como você avalia as
informações ofertadas antes do
início do espetáculo (notas
proêmias)? O que elas
anunciavam?
Categoria elementos Conjuntos de elementos visuais
constituintes da da teatralidade (cenário,
encenação iluminação, técnica da
representação)
In const. Cenário Espaço e elementos sistêmicos 8. Como era o cenário? Cenário: Nas notas proêmias: “A ÁREA
que podem elucidar aspectos do Iluminação?
tempo, época histórica, DA REPRESENTAÇÃO CÊNICA, ONDE
155
momentos fugazes do imaginário A CENA ACONTECE, É DEMARCADA
POR UM TECIDO AMARELO ESCURO.
O TECIDO AMARELO ESCURO MEDE
(10MX5M) E ESTÁ SUSTENTADO POR
UMA VARA DE FERRO ROLIÇA QUE
LIGA UM LADO AO OUTRO DO PALCO.
DO URDIMENTO QUE É UM
CONJUNTO DE TRAVES NO TETO DO
PALCO. SEIS METROS DE TECIDO
DESCEM DO URDIMENTO ATÉ O
CHÃO, DEMARCANDO O PANO DE
FUNDO E OS QUATRO METROS
RESTANTES VESTEM O PISO DO
PALCO.”
In const. Iluminação É a brincadeira semiótica de 8. Como era o cenário? Na Ad do espetáculo: “AO FUNDO DO
iluminar e escurecer na cena. Iluminação? PALCO DOIS FOCOS DE LUZ BRANCA
ILUMINAM OS MÚSICOS QUE ESTÃO
SENTADOS EM UM BANQUINHO”
156
representação do trabalho do ator representar a moça encantada e CONTRACENAÇÃO, VÁRIOS
o príncipe? PERSONAGENS DIFERENTES SE
5. A Moura Torta estava vestida UTILIZAM DE OBJETOS, FIGURINOS E
como? Como ela se MODIFICAÇÃO DA VOZ.”
movimentava? E as expressões
faciais dela?
6. Na história de Recife e Olinda
Lila conta a história que é
protagonizada por dois
personagens. Como era Recife e
Olinda?
7. Como Lila construiu a amiga
lagartixa “lilatixa”?
12. Como você avalia as
informações ofertadas antes do
início do espetáculo (notas
proêmias)? O que elas
anunciavam?
Personagem
In Pers. Características Características fenotípicas do 12. Como você avalia as Nas notas proêmias: “LILA É UMA MOÇA
fenotípicas (caract. personagem informações ofertadas antes do DE 1,60m DE ALTURA, DE COR
faciais, corporais, início do espetáculo (notas BRANCA, CABELOS PRETOS, LONGOS
estatura, massa proêmias)? O que elas E LISOS. USA UMA MAQUILAGEM
corporal expressões anunciavam? SUAVE EM TONS DE ROSA CLARO.”
corporais
In Pers. Figurino Elementos do vestuário 3. Como Lila estava vestida? Nas notas proêmias “LILA USA UMA
Você notou alguma mudança no TIARA DOURADA NO CABELO E
figurino? VESTIDO DE ALÇA ROSA CLARO
12. Como você avalia as
COLADO AO CORPO ATÉ ALTURA DA
informações ofertadas antes do
início do espetáculo (notas COXA. TEM UM TORÇAL BEGE NA
proêmias)? O que elas CINTURA. POR BAIXO DO VESTIDO
anunciavam? LILA VESTE UMA CALÇA LEGGING
157
BEGE ATÉ O JOELHO. ESTÁ
DESCALÇA. UM TECIDO DE DUAS
FACES ORA SERVE COMO SAIA ORA
COMO CAPA.”
In Pers. Objetos, instrumentos que 12. Como você avalia as “LILA USA UMA TIARA DOURADA NO
Adereços/adornos compõem a indumentária e são informações ofertadas antes do CABELO[...]”
utilizados pelo personagem início do espetáculo (notas
proêmias)? O que elas Notas proêmias: “INSTRUMENTOS
anunciavam? MUSICAIS: VIOLÃO: INSTRUMENTO
DE CORDA. COMPOSTO POR UMA
HASTE FINA E ALONGADA E POR UMA
CAIXA DE RESSONÂNCIA QUE TEM
FORMATO DE AMPULHETA COM UM
CÍRCULO NO MEIO. AS CORDAS SÃO
PRESAS NAS PONTAS DAS HASTES E
NA CAIXA DE RESSONÂNCIA.
INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO
VARIADOS: PAU DE CHUVA, ROI-ROI,
CUÍCA, ALFÁIA, SINO, TRIÂNGULO,
MENSAGEIRO DOS VENTOS DE
BAMBU, TAMBOR, CHOCALHOS,
APITO”
158
In Pers. Maquiagem/ Película que recobre, transforma, 9.Como Lila estava maquiada? E Nas notas proêmias: “LILA É UMA
máscara realça, o rosto/ corpo do ator. o penteado? MOÇA DE 1,60M DE ALTURA, DE COR
10. Lila descobriu uma creca, BRANCA, CABELOS PRETOS, LONGOS
pereba, ferida, em parte do corpo E LISOS. USA UMA MAQUILAGEM
dela. Onde estava localizada? SUAVE EM TONS DE ROSA CLARO.”
12. Como você avalia as Nas notas proêmias: MÚSICO/ATOR
informações ofertadas antes do “RAPAZ MORENO DE CABELOS
início do espetáculo (notas PRETOS, CURTOS E COM GEL
proêmias)? O que elas REPARTIDO DE LADO E COM UMA
anunciavam? MECHA EM DESTAQUE NA TESTA.
TEM UMA COSTELETA LONGA.”
MUSICISTA/ATRIZ
MOÇA BRANCA DE CABELOS
CASTANHOS DIVIDIDOS AO MEIO E
CORTADOS NA ALTURA DAS
BOCHECHAS. A FRANJA ESTÁ PRESA
NO ALTO DA CABEÇA.
In Pers. Expressões Sistema de signos gestuais que 1.Qual a cena você mais gostou Na cena de abertura do espetáculo: “O
corporais formam a gramática do ator na do espetáculo? (Por quê? *Extrair AMONTOADO DE TECIDO NO CENTRO
cena. descrição, Como estava DO PALCO REVELA DOIS PÉS QUE
posicionada? Ação corporal?)
LENTAMENTE SOBEM: ESQUERDO,
2.Qual a cena você menos
gostou? (Por quê? *Extrair DIREITO, ESQUERDO DIREITO.
descrição) AGORA DUAS PERNAS SE PROJETAM
5. A Moura Torta estava vestida NO AR BALANÇAM DE ACORDO COM
como? Como ela se A MÚSICA. LILA ESTÁ DENTRO DO
movimentava? E as expressões MONTINHO DA CINTURA PARA BAIXO.
faciais dela? PÉS PARA A ESQUERDA, DIREITA NO
CENTRO, BALANÇAM PARA OS
LADOS, PARA CIMA. PERNAS GIRAM,
ABREM, PÉS EM SENTIDOS OPOSTOS,
159
JUNTOS, BALANÇAM, DANÇAM,
JOELHOS FLEXIONADOS, PÉS PARA
BAIXO, PARA CIMA, SE SACODEM. ”
160
In Semântica Efeito de Decodificação e tradução do 6. Como era o cenário? Na ad, cena inicial da escavação: LILA
ilusão efeito de ilusão provocada na Iluminação? “LILA SORRI”- E se eu cavar mais fundo
cena. no mundo? “LILA CAI PARA TRÁS, A
SAIA A ESCONDE , VÊ-SE APENAS AS
PERNAS QUE BALANÇAM
RAPIDAMENTE”
Efeito de Divide-se em dois: 1.Qual a cena você mais gostou
distanciamento/ Apropriação e aplicação da do espetáculo? (Por quê? *Extrair
aproximação relação de distanciamento ou/e descrição, como estava
aproximação do espetáculo com posicionada? Ação corporal?)
o público, proposto pela obra. 2.Qual a cena você menos gostou
Relação de distanciamento ou/e no espetáculo?
aproximação de identificação
com a obra.
161
5.7 PROCEDIMENTOS E USO DOS INSTRUMENTOS PARA
COLETA DE DADOS
163
Outro instrumento utilizado foi o diário de campo que consiste num
caderno de anotações que nos acompanhou em todo o processo da pesquisa.
Nele registramos, sem excessiva preocupação com a estrutura, a ordem e a
esquematização sistemática, a corrente de acontecimentos e impressões que o
investigador observa, vive, recebe e experimenta durante a estada no campo
(PÉREZ, GÓMEZ, 2001). Utilizamos esse diário para registrar trechos
significativos que subsidiaram o nosso olhar na análise das falas dos nossos
sujeitos.
164
6 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados foi feita a partir das entrevistas realizadas com 22
espectadores do espetáculo Nem Sempre Lila. O grupo foi composto por
sujeitos com deficiência visual, realizada no Teatro Marco Camarotti nos dias
21,22, 27,28 e 2934 de setembro de 2011, com idades entre 11 e 55 anos, em
sua grande maioria ocupantes da classe baixa e ligados a entidade de
assistência da pessoa com deficiência. Conservamos na íntegra as transcrições
do áudio de todas as entrevistas a fim de garantir a fidedignidade das
declarações emitidas pelos sujeitos.
Classificação da
Sujeitos Gênero Idade deficiência visual
Adulto (não
Marl Feminino informada)
Baixa visão
Crist Feminino 39 Cegueira congênita
Bel Feminino 43 Cegueira
Edv Masculino 28 Cegueira
Adri Masculino 36 Cegueira
Edva Feminino 26 Cegueira
Est Feminino 49 Cegueira
Mar Masculino 11 Baixa visão
Nil Masculino 34 Cegueira
Rob Masculino 40 Cegueira
Josi Masculino 41 Cegueira
Edn Feminino 28 Cegueira
Jac Masculino 42 Cegueira
Juc Masculino 46 Cegueira
Não especificado o
grau (ambriopia
Mel Masculino 32 permanente)
Joa Masculino 15 Cegueira
Paul Masculino Adulto (não Não especificada
34
No dia 29 não houve a presença de nenhum espectador com deficiência visual.
165
informada)
Deslocamento da
Cíc Masculino 50 retina
Wil Masculino 19 Cegueira
Nei Feminino 55 Cegueira
Elb Feminino 51 Cegueira
Man Feminino 42 Baixa visão
Tabela III. Sujeitos espectadores
166
fenotípicas (características faciais, corporais, estatura, massa corporal
expressões corporais; Figurino (elementos do vestuário), adereços/adornos
(objetos, instrumentos que compõem a indumentária e são utilizados pelo
personagem), Maquiagem/ máscara (película que recobre, transforma, realça,
o rosto/corpo do ator), Expressões corporais (sistema de signos gestuais que
formam a gramática do ator na cena).
35
Expressão utilizada para desejar boa sorte no teatro.
167
O enredo se desenrola com Lila trazendo à cena algumas histórias,
entre elas a Rapunzel aprisionada, onde Lila, de vestido rosa, pega os longos
cabelos e ergue para cima da cabeça, fica de ponta de pé, montando, assim, a
torre. Para cada princesa há um deslocamento no espaço, uma proposição de
desenho cênico. Mais adiante, Lila percebe uma creca no joelho, pelos por todo
o corpo e aí, deita no chão esperneia, lembra da história da Moura Torta com a
qual sente uma forte identificação. Sob uma luz vermelha, Lila se contorce,
pega a saia, amarrando-a no pescoço, transformando-a numa capa amarela.
Dessa capa, Lila retira um lenço rosa para ser a moça encantada e um verde,
para ser o príncipe, e depois constrói com lenços coloridos a Lilatixa, uma
lagartixa de olhos pretos, que passa a ser a companhia de Lila dentro do
buraco.
Com a nova amiga, a menina inventa uma história de amor entre
Recife e Olinda e à medida que conta, simultaneamente os músicos se
levantam. À esquerda, o homem pega o violão e coloca rente ao corpo, com a
parte mais alongada por dentro da camisa. A parte em formato de ampulheta é
usada para representar a cabeça de Recife. À direita, a mulher com a cabeça
dentro do tambor se torna Olinda.
Ao terminar a história de Recife e Olinda, Lila tem a ideia de convidar
Lilatixa para visitar o pai e almoçar na casa dele. O réptil agita-se, aponta com
a cabeça para o chão, então Lila descobre que a amiga está de barriga cheia
por ter engolido o arco-íris que estava debaixo da terra. Lila curiosa senta no
chão e remove as faixas coloridas do arco-íris de dentro da barriga de Lilatixa,
puxando cor a cor.
Nesse momento Lila olha ao redor e vê surgir luzes coloridas das
laterais que perpassam a cabeça dos espectadores, embalada pela música
“Hoje eu aprendi que a luz do sol, vira um arco-íris, basta chover”, Lila dança
com as sete faixas coloridas do arco-íris. Ela dança de um lado para o outro,
saltita, sorri. Aproxima-se de Lilatixa e deita no chão. Escuridão total. O público
aplaude, as crianças gritam. As luzes acendem. Os atores curvam-se diante da
plateia.
Com o fim do espetáculo, passamos a entrevistar os nossos sujeitos. A
primeira coisa que descobrimos foi que apesar das nossas precauções com a
168
transmissão da áudio-descrição, realizando testes, orientando os sujeitos
como usar o equipamento, houve relatos de falhas técnicas:
Marl – [...] Se não tivesse havido esta falha teria sido bem melhor,
porque quando a gente inicia um teatro sabendo já da introdução, do
enredo já facilita pra gente...
Entrevistador(a) – As notas proêmias, né?
Marl – Isso, já facilita pra gente localizar toda história, né? Mas
infelizmente deu defeito.
Crist – Depois ela ficava perguntando quem tivesse ouvindo era pra
levantar a mão. [...]
Crist- Assim, na hora da descrição não foi ela, foi um pouco o
aparelho, né? Que estava um pouquinho chiando, mas deu pra
escutar.
169
Contratou-se uma empresa profissional que utilizou na transmissão um
sistema de rádio frequência VHF, modelo muito utilizado em tradução
simultânea, e sujeito a interferências de ondas de rádio, que a depender da
qualidade do aparelho, a perturbação na recepção sob a forma de ruídos,
poderá ainda mais ser agravada.
No entanto, objetivando detectar preventivamente e ajustar possíveis
interferências e falhas na transmissão foi realizado, antes do início do
espetáculo, teste de equipamentos, porém não foi suficiente para inibir as
falhas técnicas em alguns dias de apresentação. Para antevermos possíveis
problemas, disponibilizamos uma equipe preparada para explicar como utilizar
os equipamentos, ajustar o volume e sintonizar a rádio para a recepção da
áudio-descrição. E para auxiliar os que ainda assim sinalizassem alguma
dificuldade, dois técnicos permaneceram dentro da sala de espetáculo e
próximos aos nossos sujeitos durante a apresentação do espetáculo.
Apesar dos cuidados tomados, alguns sujeitos indicaram a presença de
um chiado constante durante a locução da áudio-descrição, principalmente no
início, quando então são ofertadas as notas proêmias.
Outro aspecto a ser considerado é o tipo de fone oferecido. Dessa
falha técnica, a presença de ruídos, alguns usuários apontaram incômodo ao
utilizar fones de ouvido.
Adri– Eu... O que eu não gosto é por que, às vezes, o aparelho fica
chiando tá entendendo? Hoje mesmo ele chiou bastante, tá
entendendo? Mas já no final, aí eu acho que... que isso, eu não sei se
pode melhorar, se é problema de aparelho velho ou se é problema da
pessoa que tá lá em cima narrando, se é o problema no aparelho
mesmo, tá entendendo?. Eu acho que isso é que incomoda, já que
também, eu também não sou muito sabe “Andreza” daqueles
fonezinhos no meu ouvido. Pra falar a verdade eu não gosto de fone.
Entrevistador(a)- Por quê? Qual o incômodo?
Adri– Por que o incomodo, Andreza é que me incomoda porque meu
ouvido fica doendo.
Bel – [...] meu marido mesmo ele não gosta muito por conta do fone.
Por que incomoda ele, sabe? Ele não gosta nem de fone de celular,
ele nem gosta. Ele disse que dói o ouvido, sei lá. E quando ele
coloca é baixinho e até ele não se incomoda com a voz da menina.
170
espetáculo. Sobre esse episódio destacamos o que ocorreu no dia 22 de
setembro na cena em que a menina Lila se depara com as transformações do
próprio corpo (aparecimento de espinha, creca, pelos por todo corpo,
crescimento disforme dos braços). Ao perceber todas essas mudanças, Lila
questiona as características físicas relacionando-as com padrões de beleza
chegando à seguinte pergunta: “Então eu sou torta?”, embora a pergunta não
tivesse sido direcionada explicitamente para as crianças e adolescentes, não
hesitaram em se manifestar, e nesse dia de forma mais intensa, cerca de cem
pessoas gritavam “Torta, torta, torta, torta, torta!”.
Bel – Por que a gente que não enxerga, a gente... nossa audição são
os nossos ouvidos que são nossos olhos.
Wil - No meu ponto de vista assim, na hora que começou eu tava na,
assim naquela, uma poltrona embaixo, eu e meu esposo e fica atrás,
atrás de nós estava, os adolescentes que sentaram atrás de nós e
ficaram sentados. Aí a moça falando a áudio-descrição, né? Ela
falando pra gente, mas aí eu não tava conseguindo ouvir entendeu?
Por que não era o aparelho, era o barulho que eles estavam fazendo
lá atrás. Falando e dando risada alta, muito assim muito... as crianças
também ficaram rindo alto e na hora de subir a moça tava, tava
falando e a agente, eu mesmo, olhe eu não, não me concentro em
barulho.
171
Ao sugerir a separação do público em espectadores com deficiência e
sem, a entrevistada parece não perceber que ao fazermos isso sonegamos o
direito do outro participar com liberdade, autonomia e igualdade nas ações
mais rotineiras da sociedade, como ir ao teatro com a família e amigos,
privando-o do convívio social e familiar.
172
específicas desses indivíduos, ou ainda para protegê-los de situações
conflitantes ou de perigo. Entretanto, o resultado desse entendimento era, não
outro que a segregação social das pessoas com deficiência.
A inclusão denuncia o abismo existente entre o conceito e o
preconceito, entre o que são “preocupações com pessoa com deficiência” e
barreiras atitudinais.
A inclusão é um compromisso ético que deve ser assumido por todos
os cidadãos e ela deve ser praticada em casa, na escola e em atividades
extraclasse, por exemplo, no teatro. Isso pode ser estimulado, por exemplo
quando ela vier a encontrar uma cabine de áudio-descrição, de onde transmite
um áudio-descritor; quando ela vir um intérprete de libras traduzindo para a
Língua Brasileira de Sinais o espetáculo; e pessoas de todos os tipos, de todos
os gêneros, que falam diversos idiomas e possuem diferentes formas de ver,
perceber e sentir o mundo.
173
a importância de constarem nas notas introdutórias, assim como podemos
notar nas falas abaixo transcritas:
Est – Eu acho muito válido. Eu acho muito legal isso aí. Porque
quando a gente tá entrando, a gente já tá sabendo a forma de tudo,
cenário, como está né, como é o ambiente, isso aí é muito importante
pra gente.
Wil – É de fato, isso é bom. Por que tem que descrever pra gente
aonde a gente tá, o que está ao nosso redor, o que está
acontecendo. Se isso é tal coisa, se o lado direito tem isso, se o
esquerdo tem isso, na sua frente tem isso, em cima, tem que ser
descrito. A áudio-descrição ajudou muito nisso aí também.
174
6.3 O JOGO CÊNICO: PROPRIEDADE DA ENCENAÇÃO E
TÉCNICAS DE REPRESENTAÇÃO
O espetáculo Nem Sempre Lila propõe um jogo cênico onde uma atriz
interpreta diversos personagens, recorre à recursos de alteração vocal,
elementos visuais marcados por uma sonoplastia executada ao vivo por dois
músicos/atores.
Crist – [...] Foi falando dos músicos, que um estava com o violão e o
outro estava com um instrumento de percussão. Aí depois começou a
narrar a peça.
175
caminho é a via que empodera o sujeito a confirmar ou a negar o que ele
supôs.
Crist – Só sei que ela tinha um monte de pano, agora não me lembro
bem, não."
[...]Também a outra foi que ela ficou... e tirava panos assim da
barriga.
Entrevistador(a) – A Lilatixa?
Bel– É acho que eram as fitas, os tecidos, né?
Entrevistador(a) – Hum rum
Bel - Pra formar o quê? Um arco-íris.
176
objetos (lenço, tambor, violão) apelando significativamente para o sentido da
visão.
177
possível a inserção delas no intervalo da fala da personagem Lila. A áudio-
descrição no momento da montagem de Lilatixa informava:
178
A construção de uma personagem vai além do sonoro e do visual, as
relações travadas pelos personagens são ingredientes atuantes na recepção
dos espectadores. O entrevistado “Josi” ao ser questionado sobre como Lila
construiu a amiga lagartixa, ou Lilatixa disse:
Josi – [...] Oh, ela construiu através da amizade, né? Ela construiu
desse vinculo, através do vínculo que ela teve com a Lilatixa.
179
Edv – Para representar a moça encantada ela utilizava lenços, ela
usava lenços... Agora uma coisa, Lila ela fazia papel duplo, né?
Edv – Justo... Ela mesmo que fazia o próprio. Ela era a Torta isso e
aquilo e daqui a pouco quando surgia a Bela, aí era ela mesmo que
fazia o papel, modificava a voz e só uma curiosidade que eu tinha.
Marl – Ela usava um lenço na mão e por sinal é... às vezes ela se
transformava numa princesa realmente. Às vezes ela ficava muito
frustrada. Estava se sentindo feia, horrorosa, mas que não ia dar o
braço a torcer. Que ela era a princesa.
Entrevistador(a) – Certo. E o príncipe? Como era que ela
representava o príncipe?
Marl – O príncipe, ela representava já de maneira mais, com mais
firmeza.
Entrevistador(a)- Hum rum
Marl – É, eu diria assim, com pose mais do príncipe.
Entrevistador(a) – [..].
Que elemento foi utilizado pra representar a moça encantada, durante
o espetáculo, você lembra? Qual foi o elemento, o objeto que a
personagem principal utilizou pra caracterizar essa moça encantada,
a princesa? Você se lembra?
Paul - Foi aquele sino ou não? Não me lembro.
Elb – Ai! Não prestei atenção nisso. Foi o caso de lençinhos, não foi,
isso? Com as cores do arco-íris. A moça e o príncipe?
Entrevistador(a) – Hum rum!
Elb – Acho que foi a voz né? Mudança de voz, e o quê mais, deixa eu
ver... Tudo é decorado aí é pau, foi a mudança e... Não lembro."
180
conhecimento desses elementos. Já nas falas de “Paulo”, “Melquezedeque”
eles trazem de forma mais representativa os efeitos sonoros, relatando a
presença de sons avindos dos sinos e da mudança de voz, ambos elementos
que compunham a representação da moça encantada.
Edn – Como eram? Por que tinha o violão, né? Que, aí deixa eu ver
se eu me lembro mesmo. Tinha o violão que representava... Tinha o
sino, né? Deixa eu ver o que é que tinha mais de elementos... O
tambor, né? E... Eu acho que só, que eu me lembre só.
181
Edv – É informou que o quê? Que Olinda tava com um sino e parece
que era o quê, um tambor, na cabeça. Um tambor, não. Como é era o
nome daquilo ali? Parece que Recife era o violão era? Era o violão e
Olinda eu não sei.
Adri – Eu me lembro, assim que tinha... que tinha um músico, né? Ele
tava com um violão. Que tinha uma lagartixa.
Edva – Olinda pegou os dois sinos e Recife parece que pegou, não
sei... foi uma lagartixa foi? Sei não.
Josi – A cena que eu mais gostei foi a cena de Recife e Olinda, né? A
cena mais bonita quando ele tá com o violão por debaixo da blusa.
182
Crist – Com uma parte dentro da camisa e a outra parte como se
fosse a cabeça. Deixa eu vê Recife, deixa eu vê se eu lembro de
mais alguma coisa.
Entrevistador(a)– E Olinda?
Crist – Olinda tinha um instrumento de percussão, parece, na cabeça.
Dois sinos parece, uma coisa assim.
183
artística. Portanto, saber a maneira como a Lilatixa toma vida no palco,
entender como a moça é encantada, como são representados Recife e Olinda,
são aspectos relevantes no processo de recepção e fruição do espetáculo.
184
Em algumas entrevistas, os espectadores, apesar de alegarem não
lembrar dos elementos constituintes da cenografia ou demonstrarem
insegurança para detalhar os aspectos descritivos, trazem informações
imagéticas, oferecidas na áudio-descrição.
185
Compreender, inventar, construir por invenção. “Quando aprendemos
algo, estamos de certa forma criando-lhe uma significação com base em
nossas vivências e conceitos” (DUARTE JUNIOR, 1998, p. 99). Ou seja, para
além dos elementos que atuam para provocar significação no instante da cena
(diálogos, iluminação, indumentária) existe a particularidade de cada sujeito e
sua leitura que faz do mundo.
No extrato, “Jac” ao falar que existia um pano escuro para o buraco
não pode ser considerado um equívoco, mesmo que saibamos que o tecido era
amarelo. Simbolicamente o buraco é construído pela saia da personagem,
amarelo, na mesma cor do piso do chão. Ao se levantar que a primeira cena,
quando Lila está com as pernas para o alto, a parte que esconde o restante do
corpo de Lila, o amontoado de tecido que representa o buraco, nesse momento
encontra-se no escuro. Conforme podemos perceber no extrato da áudio-
descrição:
186
aqueles desenhos no fundo do palco ela também avisou, na hora da
chuva de bolas de sabão, foi muito bom o trabalho.
Est – An ran. Que tava escuro o palco. Não, tava lá... Como é o
nome? Ali no palco mesmo. Mas depois colocaram dois... dois no
chão, que é bem grande a luz. Ai meu Deus, esqueci o nome. Que
focaram bem assim, dois focos de lâmpadas, de luz.
Entrevistador(a) – Era em quê esta luz?
Est – Era em cima dos atores, não é? Da cena.
Paul- Sim, elas falaram muito das luzes, as posições que as luzes
estavam né? O momento em que ela tava olhando pros pés que tinha
uma luz também. Aquele momento do buraco que tinha alguma coisa
envolvida assim, por cima, com um centralizado rosa, alguma coisa
assim.
187
Apesar de não trazer descritivos com riquezas de detalhes, os sujeitos
trouxeram aspectos que demonstram a função técnica da luz, iluminar,
esconder, sugerir o foco de atenção e de poetizar a cena. Assim como
apontado na fala de “Elb”
188
Bel – Os rapazes estavam descalços, cabelos, tinha de cavanhaque.
Entrevistador(a) – Hum rum.
Bel – Fechado. E o cabelo espetado com gel. Eu lembro disso.
Entrevistador(a)– Hum rum. Isso eram os músicos.
Marl – Olhe! Ela estava com muitas roupas por sinal, né?
Entrevistador(a) – Hum rum.
Marl – Estava com um vestido rosa de alça, com uma tiara dourada, é
com uma calça por baixo, uma legue e até o joelho.
Marl – E se eu não me engano ela estava com uma roupa clara, né?
Olinda. É Recife já estava com uma roupa mais colorida, mais escura.
Bel– Uma voz parecida. O vestido era de alça, curto, curto até as
coxas e bem ligado ao corpo. Não sei se eu tô errada. Parece que era
rosa o vestido, era rosa, agora eu tô lembrando. Tinha... agora que eu
não sei... tinha parece, parece tipo uma túnica.
Entrevistador(a)– Hum rum.
Bel – Agora eu não lembro também, parece que era na cintura dela a
túnica que estava amarrada. Foi isso que eu fiquei pensando. Ela
com esse vestido curto. Se tá com as pernas pra cima vai aparecer
às calcinhas, mas ela estava com uma túnica, já cobre, tipo uma saia
longa, foi isso que a moça falou. Acertei?
189
devido ao tempo que já se passou e não dei tanta importância, não. A
moça falou ali na hora assim, aí a gente esquece.
Adri – Ela tava vestida, se eu não me engano foi de saia, né? De saia
rosa, né?
Lila usa uma tiara dourada no cabelo e vestido de alça rosa claro
colado ao corpo até a altura da coxa. Tem um torçal bege na cintura.
Por baixo do vestido Lila veste uma calça legging bege até o joelho.
Está descalça.
Um tecido de duas faces ora serve como saia ora como capa.
Os músicos vestem uma bata bege com uma faixa laranja nas
extremidades da manga e na altura dos quadris. Usam uma bermuda
amarela clara. Estão descalços.
190
Essas mudanças foram narradas pelos nossos sujeitos:
Est – Ela pôs as tranças, né? Quando acabar vai fazer não sei o
quê... Aí depois veio, tirou e vestiu uma roupa e tirou e botou uma
bata.
Est – Lila estava vestida de rosa, uma calça legue bem colada, um
cinto feito um torçal, bem amarrado, era laranja ou era dourado meu
Deus? Esqueci agora um pouco.
Entrevistador(a) – Esqueceu. Ela usava alguma coisa na cabeça?
Est – Ela usava assim, o cabelo com as franjas pra cima.
Entrevistador(a) – Era Lila que usava franja?
Est – Agora tu me pegasses, visse? Não lembro bem. Eu sei da
roupa dela.
Entrevistador(a) – Fala aí da roupa.
Est – A roupa era rosa, né? Com esse dorsal, que é o cinto amarrado
bem aqui em cima. Calça legue preta, foi isso? (OBS: enquanto fazia
a entrevista, “Est” costurava).
Josi – A Lila teve uma hora que ela mudou de roupa, não é, de traje?
Tem uma hora que ela mudou de traje.
Edn – Por que é assim, no início ela tava com um vestido, né? Depois
ela botou... Tava com um, deixa eu ver se eu me lembro, uma capa
também, ela tava com uma capa durante o espetáculo também,
depois a saia caiu, durante o espetáculo. É por que são tantos
detalhes.
Jac – Num prestei atenção não. Ela trocando a saia, fazendo uma
capa só isso assim, não me veio agora…
191
Paul - Um dos detalhes né? Foi isso, e que no começo as
vestimentas até a altura da cintura, bem justo, alguma coisa assim, foi
isso?
Wil – Acho que foi, assim aonde… Parece que envolveu uma capa
nela, não sei se eu tô certo e algumas partes que envolvia uns
lenços.
Nei– De longo foi? Não ela estava vestida de coton, de coton com
vestido e uma bata... Não com um avental, uma capa, como se fosse
uma saia é assim?
Elb– Ela estava vestida com saia longa, e que também tem um capuz
e, que ela era rosa se eu não me engano, não era assim mesmo? E
tinha um capuz que ela se cobria se eu não me engano tinha
estampa também, se eu não me engano.
Elb– Eu sei que ela tirou a saia e ficou de... Como é que chama? Que
ela tinha em baixo, como é que chama aquela calça que fica até o
joelho? Agora sim, quando Lila ta falando, aí, tem coisas que a gente
não dá pra entender por causa do, do... Ao mesmo tempo né, a gente
tem que ficar prestando atenção em uma coisa e eu sou muito
demente assim, só sei prestar atenção em uma coisa. Aí, pronto, mas
foi ótimo, achei maravilhoso. Agora a mudança, acho que foi isso né,
que ela tirou a saia. Elba – E ficou com aquela calça bem apertada
que fica até o joelho.
192
Entrevistador(a)– Certo. E onde é que estava essa creca de Lila?
Lembra quando ela disse: “aí eu tenho uma creca, eu tenho uma
creca”?
Marl – Foi nos braços?
Entrevistador(a) – Certo, nos braços, certo. E tinha mais algum outro
lugar onde ela tinha creca, pereba?
Marl – Nas pernas.
Entrevistador(a) – Lila teve uma hora que descobriu uma pereba, uma
creca, lembra onde era? Onde era que ela achou essa creca?
Bel – Foi na perna, não foi?
Entrevistador(a) – Hum rum. Foi.
Bel – E ela disse até uma palavrinha que eu tô esquecida. Mas eu
lembro que ela disse: “só por causa da minha creca, porque eu tenho
essa creca?” Não sei o quê que ela falou. Eu não lembro da palavra,
mas ela se queixou de alguma coisa por conta da creca, parece.
Josi – Uma pereba? Eu acho que na perna. Que ela descobriu, Lila.
193
Edn – Tinha... Foi quando ela olhou pro joelho não é isso? Que ela se
assustou. Tinha tipo umas rugas entre o nariz.
Entrevistador(a)-E teve uma hora que ela tinha uma creca, pereba
que ela descobriu no corpo, sabe onde estava?
Nei – A pereba era nas pernas dela. Não era nas pernas?
194
Entrevistador(a) – Hum rum. Tinha mais outra creca em alguma outra
parte ou só no nariz?
Cic – Só no nariz.
Elb – Isso foi logo no início né que ela disse, eu sei que ela tava com
o cabelo amarrado se eu não me engano, que ela levantava pra cima
e pra baixo, agora maquiagem eu não lembro.
Crist – Teve uma que estava com a franja amarrada assim, mas eu
acho que era a que estava com um instrumento, parece.
Entrevistador(a) – Ela estava com uma franja amarrada?
Crist – Era.
Entrevistador(a) – Como era que estava a franja dela?
Crist – Ui, desculpa.
Entrevistador(a) – Tudo bem, desculpa. Pode falar.
Crist – Eu sei que estava amarrada acima da cabeça.
Entrevistador(a) – Certo.
Crist – E ela tem o cabelo cortado na altura do queixo.
195
suaves nas bochechas e batom rosa, os músicos demarcaram o traçado das
sobrancelhas e dos olhos.
As falas dos nossos sujeitos são ilustrativas acerca dos desenhos que
o corpo dos atores desenhava no palco.
196
Bel – Ela tava de ponta cabeça, é?
Entrevistador(a)– An ran.
Bel – Por que a moça disse que ela está agora com a cabeça... Com
as pernas... A cabeça pra baixo e as pernas pra cima fazendo,
fazendo os mesmos movimentos. Vai pra lá, vai pra cá, o movimento.
Aí eu tava analisando que eu tava ouvindo a música e a música do
violão, então eu deduzi também que ela tava... Aí, na minha
imaginação, essa menina é fogo ela tava fazendo tipo um
malabarismo.
Entrevistada – Plantando bananeira. Foi assim que eu pensei e achei
bonito.
Nil – Esse foi bom. Foi muito interessante. Porque ela falou do
buraco, da Branca de Neve, a língua né, mostrando a língua. As
mãos fechando, se ajoelhando.
Nil – Eu lembro que ela, é por que é muita coisa que diz né?
Entrevistador(a)– Hum rum.
197
Nil – Eu lembro que se levantava, jogava no chão. Ficava se
arrastando.
Nil – Aí disse que, foi quem? Parece que foi a moça que fazia assim,
que enchia a boca.
Entrevistador(a)– Enchia a boca de ar?
Nil – Sim.
Entrevistador(a)– Hum rum.
Nil – Aí eu não sei pra que né? Eu não sei pra quê, só sei que ela
enchia a boca. Sim, teve uma parte que ela ficava com o olho
arregalado, um olho assim, olhando para o público.
Entrevistador(a)– Certo.
Nil – É a moça do… do músico né?
Entrevistador(a)– Hum rum.
Nilson – Teve uma hora que ele ficava rindo.
Entrevistador(a)– O músico?
Nil – Sim. Eu só lembro só essas partes.
Josi – Ah sim, quando ela faz os gestos, quando ela aponta com os
dedos, quando ela senta, a hora que ela derrubou a saia, lá? Muito
interessante, né? Muito interessante.
Edn – Ela ficava toda encurvada, né? E assim, com a boca pra baixo,
a língua pra fora e os braços também todo encurvando, ela ficava
praticamente toda encurvada, né?"
Elb – Ela mudava o perfil, mudava os olhos pra lá, os olhos pra cá,
fazia caretas com a boca, foi tanta coisa que a gente fica doidinha,
doidinha mesmo foi muita coisa, muita coisa que a gente fica...
198
A face dela era de vários jeitos. A língua ficava de vários jeitos.
Juc – Moura Torta, toda torta, né? Caía pelo chão, toda... Caía pelo
chão e batia e isso, entendeu?
199
descrição, para que a tecnologia assistiva ofereça aos indivíduos com
deficiência visual, “condições de, independentemente, chegarem às suas
próprias conclusões a respeito do evento visual” (LIMA, 2010, p. 11).
200
comparando o domínio técnico da intérprete com as habilidades de um
malabarista e esse fato foi contributivo para que a espectadora selecionasse a
cena em que Lila está de pernas para o ar no buraco como um dos momentos
mais significativos da fruição. Constata-se que o posicionamento do gostar na
obra foi influenciado em razão da eficiência técnica nela demonstrada. A
entrevistada demonstra por meio desse relato que a função da áudio-descrição
foi cumprida ao possibilitar o empoderamento da pessoa com deficiência para
que ela mesma tirasse as suas próprias conclusões.
Ainda sobre a fruição, a “Bel” apresenta uma reinterpretação da
movimentação inicial, imaginando-a e relacionando-a à posição de ficar de
bananeira, nos revelando mais uma cena marcante.
201
importância de áudio-descrever as cores para o público com deficiência visual
reside, por exemplo, para a pessoa com baixa visão, no sentido em que ajuda
o espectador a direcionar o olhar e localizar objetos e personagens permitindo-
a acompanhar o desenrolar da ação cênica. Vale considerar que a pessoa
cega, mesmo que congênita, partilha socialmente do significado das cores,
atribuindo valor estético a esses elementos. A fala da “entrevistada” levanta
outra contribuição dessa particularidade, a de rememorar o repertório de
imagens e sensações advindas da época que tinha visão.
A entrevistada “Crist” reitera a importância dessas informações estarem
presentes na áudio-descrição.
Crist – Pra gente saber qual é a cor, né? Por que todo mundo tá
vendo as cores, só a gente que não, a gente precisa saber que cor
que é cada coisa.
Entrevistador(a)– Por que é importante pra vocês saberem a cor?
Crist – Ah, quem enxerga não sabe. Então a gente também tem que
saber.
Entrevistador(a)– Certo. E qual é a cor que você mais gosta?
Crist – Eu não tenho preferência não.
Entrevistador(a)– Tem não?
Crist– Não.
Entrevistador(a)– Certo. Então você vai, bota uma blusa amarela,
uma saia vermelha.
Crist – (Interrompe) Ah, não. Aí não! (risos)
Entrevistador(a)– Não?
Crist– Tem que ser combinando.
Entrevistador(a)– E como é que você faz pra combinar as cores?
Crist – Eu gosto muito de roupas escuras.
Entrevistador(a)– Roupas escuras.
Crist - Combinar com roupa clara. Porque senão fica muito... muito
escuro também não dá certo, não.
Entrevistador(a)– Por que você não gosta de usar muito escuro?
Crist– Ah, eu não sei explicar.
Entrevistador(a)– Não, né?
Crist – Não.
Entrevistador(a)– Mas nada de usar amarelo com vermelho? Nada de
uma calça bolinha com uma camisa xadrez, ok?
Crist – Não.
Entrevistador(a)– Por quê?
Crist – Eu acho que fica feio.
202
Nil – Porque como eu já tive a visão, tem uns que perdeu agora a
pouco, pra gente saber se aquela luz é vermelha, se é branca a cor
daquela luz que tá iluminando assim, a pessoa né?
Entrevistador(a)– Hum rum.
Nil – Que tá refletindo na pessoa e o tipo da roupa que a pessoa está
vestida.
203
“Elb” pontua ter gostado da cena da conversa de Lila com a Lilatixa porque tal
recurso permite que o espectador se transporte para outras realidades,
estimulando a ação da criatividade.
A criatividade é um processo fundamental do ser humano, por meio
dela “o homem se desprende do universo meramente físico para criar o mundo
dos valores e dos significados” (DUARTE JUNIOR, 1998, p. 100). Permitir se
deslocar para dentro da obra é também um exercício da imaginação e da
criatividade.
Edv – Cena que eu mais gostei. Deixa eu vê... a cena que eu mais
gostei... eu tô só pensando, pensando, pensando... na parte do final
não, antes de chegar no final. A da lagartixa, certa cena que ela tava
falando que é a nossa realidade. Nossa realidade e da gente mesmo,
né? Que temos deficiência, falou mesmo assim, sobre, de não ter,
né? De não ter... Foi o quê que ela falou? Das partes do corpo.
Pronto. Feito a lagartixa até mesmo, mesmo sem... Com o rabo
partido ela vai embora. Aí quer dizer que o quê, até mesmo a gente
mesmo sem ter um braço, uma perna vai seguindo da mesma forma.
Entrevistador(a)– Hum rum.
Edv – Aí gostei mais dessa parte, assim porque eu fui mais pelo lado,
né, sentimental do meu dia a dia, não sei, não foi só pra mim, é pra
todos os seres humanos, que cada um tem o seu defeito.
204
Man – Mas é algumas coisas, a separação dos pais dela, entendeu?
Que tem um pouco a ver. E de hoje também gostei, ali não tem o que
tirar nem botar. Foi muito bonita a história.
Entrevistador(a)– Foi mesmo?
Man– Demais!
“Est” se contenta facilmente com o que foi exposto. Ela evidencia uma
carência e necessidade de usufruir produtos direcionados à infância. “Nil”
seleciona a cena que se aproxima do que ele já viu nos filmes clássicos
produzidos pela indústria cinematográfica, cujo foco por muitos anos foi
reproduzir os contos de fadas do ocidente. Enquanto uma apresenta a lacuna
de referências culturais presentes na infância, o outro revela a herança dos
205
filmes e em ambos se faz necessário um posicionamento mais crítico e
consciente em relação à arte. É necessário um “sujeito que dialoga livremente
com a obra, elabora suas interrogações e formula suas respostas”
(DESGRANGES, 2003, p. 67).
A escola deverá desempenhar papel essencial nesse processo
formativo e de mediação, onde os fundamentos da educação estética e a
pedagogia do teatro ressaltam a importância da escolar estimular que os
alunos assistam a espetáculos para que eles possam, a partir dessa vivência,
aprender a distinguir concepções de direção, estilos de interpretação,
cenografia, figurinos, sonoplastia e iluminação desenvolvendo uma atitude
crítica perante a obra. Incluindo na prática docente a ferramenta da áudio-
descrição, permitindo, assim, a participação da pessoa com deficiência visual,
que muitas vezes em razão da falta de produtos assistivos, é privada do vasto
repertório cultural imagético da nossa sociedade.
No campo da fruição, os espectadores também demonstram desagrado
pela cena da Moura Torta e de Recife e Olinda.
Wilson – Acho que foi ali onde eu não gostei mais. Saiu do foco da
história, sei lá.
Entrevistador(a) – Certo.
Wil – No meio de tanta beleza que tava a história vem uma coisa feia
assim.
206
que nos outros temas o teatro foi mais infantil está entendendo? Na
minha parte de vê, tá entendendo?
Entrevistador(a)– An ran.
Adri– Foi mais infantil, né?
Entrevistador(a)– An ran.
Adri – Aí um tema assim... Abordou assim melhor pra mim na parte
que falou sobre isso, né? Recife e Olinda, né?
207
Rob – Ao descrever os movimentos que a personagem fazia, no
caso, Lila. Ao descrever os trejeitos com o rosto, que ela fazia.
Porque se não fosse a áudio descrição a gente poderia deduzir que
ela estava fazendo careta.
Entrevistador(a) – Hum rum.
Rob – Mas aí a gente não tinha certeza que ela estava fazendo isso.
E pelos giros, pelos rodopios, os movimentos que fazia de chutes no
ar, as quedas, o deixar cair da cabeça, tudo isso ajudou a entender
melhor que estava acontecendo.
Rob – Eu tenho meus dados pra discutir com ele, pra também
perguntar e também de lembrar a ele o que aconteceu em algumas
cenas. [...] Rob – Bom, dá mais possibilidade de você discutir com
outras pessoas, sobre o espetáculo.
208
Mel – Sim. Porque a partir do momento que nós não vemos e com a
áudio-descrição, com as pessoas que trabalham com isso, nos
passam aquilo que está acontecendo e é como se a gente tivesse
realmente enxergando o que está acontecendo nesse momento. No
caso, o momento que estava sendo apresentada a peça.
209
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
210
teatralidade importantes para a recepção e a fruição da obra pelo assistente
com deficiência.
Entretanto, não basta ao áudio-descritor saber os elementos da
teatralidade, ele deve/precisa áudio-descrever e exercitar a técnica, sendo,
para isso importante que busque uma formação continuada, cursos
complementares, de cuidado vocal, preparação, articulação, domínio
linguístico. É necessário mergulhar na obra, evento a ser traduzido
aproximando-se e dominando intimamente os mecanismos próprios daquela
atividade. No teatro, a primeira etapa é conhecer o texto da peça, o enredo, o
estudo dos personagens, do ambiente e buscar informação do público a que se
destina. Esse diagnóstico rebate sobre as escolhas tradutórias, o que
descrever, qual o emprego do vernáculo adequado para um determinado tipo
de espetáculo e o público.
Vale considerar que a oferta do serviço deve ser aprimorada,
principalmente com a tecnologia e os equipamentos utilizados. É importante, ao
contratar o serviço, solicitar a discriminação detalhada do equipamento para
que possa ser checado a eficiência do sinal da transmissão, bem como se a
cabine favorece tanto a visibilidade quanto o isolamento acústico da
transmissão, quando esta é (cabe ser) feita em cabine. Outro aspecto a ser
considerado é o conforto dos usuários, disponibilizando-se vários modelos de
fone auricular, “diadema”, com espuma de maior ou menor espessura etc.
Nesse pormenor, o sujeito também precisa ter a possibilidade de controlar o
volume do equipamento, ajustando-o às suas necessidades.
Os usuários da áudio-descrição que já possuem familiaridade com o
recurso posicionam-se criticamente sobre as escolhas dos áudio-descritores,
inclusive solicitando mais informações durante a tradução. No entanto, a áudio-
descrição no teatro lança ao áudio-descritor a restrição temporal para locução,
onde as escolhas tradutórias deverão aparecer preferencialmente nos
intervalos silenciosos dos diálogos. Contudo, consideramos importante que os
usuários se expressem de modo a contribuir com o aprimoramento desses
recursos.
Constituiu-se como entrave ao nosso estudo, a pequena
representatividade de crianças com deficiência visual, nos levando a questionar
as estratégias de divulgação e sensibilização necessárias para um trabalho de
211
formação de plateia que atinja diretamente os professores, pais e responsáveis
pelas crianças. Questionamo-nos, ainda, se de fato a ausência de crianças foi
pela falta de informação que haveria espetáculo com recursos assistivos, ou se
essas informações esbarraram nas barreiras atitudinais dos adultos que não
acreditam que teatro também é espaço de cultura e educação ao alcance da
pessoa com deficiência visual.
O fato de os assistentes com deficiência visual passarem a frequentar
o teatro, sustentando essa prática na recepção do serviço de áudio-descrição,
tomando gosto pelo teatro e fazendo-se presente em espetáculos, é algo
também a ser considerado como um benefício desse recurso, já que parte da
população geral não possuir o hábito de frequentar massivamente casas de
espetáculos, se comparado à shows, cinema, entre outras manifestações de
cultura e lazer. Em outras palavras, o teatro fica bem abaixo em quantidade de
público. Entendemos que outros agentes atuam e influenciam a presença ou
ausência nas representações cênicas e atrelada a tudo isso está a forma como
a pessoa com deficiência foi vista em vários momentos históricos. Implantou-se
entraves, tanto sociais como pessoais, que distanciaram esse público do
convívio efetivo com o TODO da sociedade.
Inúmeras situações influenciam a motivação de o indivíduo com
deficiência sair de casa para ir ao teatro. Logo, é indispensável que encontre
um caminho receptivo, com o menor número de inacessibilidades pela frente e,
certamente, no próprio teatro. Caso contrário, ele poderá optar por continuar
em casa ou em outro lugar mais cômodo e acolhedor. Não queremos dizer com
isso que a pessoa com deficiência é acomodada. Basta lembrarmos que, assim
como qualquer outra pessoa, elas também darão preferência aos espaços que
fornecem outras coisas que facilitam a vida, principalmente no que tange a
segurança.
Ainda sobre o aspecto do hábito, a escola poderá atuar como agente
condutor, mediador entre a arte e a pessoa com deficiência, reservando na
grade curricular um espaço para trabalhar essa linguagem. Reconhecer e
utilizar a linguagem teatral como área de conhecimento é considerar os demais
agentes que intermediam e atuam como mediadores no fazer, na recepção e
na fruição da modalidade cênica. Estiveram presentes nos relatos dos nossos
sujeitos, para além das categorias estabelecidas na análise dos nossos dados,
212
aspectos particulares, evidenciando as mediações pessoais e a vivência que
tiveram com práticas teatrais ou culturais anteriores, inclusive com áudio-
descrição.
O aspecto educacional no teatro é inerente à própria natureza dessa
manifestação cênica: o apreciar. Apreciar é um dos aspectos que fundamentam
a Abordagem Triangular do Ensino da Arte, proposta por Ana Mae Barbosa
(1994). Tanto quanto os outros vértices desse triângulo, deve ser um aspecto
importante a ser considerado e efetivado para a pessoa com deficiência visual.
Paul - Foi ótima. Foi um ponto fundamental pra mim entender mais.
Eu acredito que se eu voltar algumas vezes mais, eu já vou aprender
um pouco de teatro. Porque aqui eu posso dizer que foi uma escola
pra mim, aprendi muita coisa. Principalmente do personagem Lila, foi
perfeito. Gostei.
213
recursos para impressão? E o que custaria propor trabalhos em grupos onde
houvesse ledores oficiais do texto, trabalhando a repetição até que todos, de
acordo com o próprio tempo, decorassem os diálogos?
Essa, entre outras propostas, poderá ser descoberta a partir do
instante que a atitude do docente seja alicerçada pelo entendimento que todos
os alunos são diferentes, com tempo de aprendizagem diferenciado e que a
inclusão propõe exatamente a ruptura com essa pseudo-homogeneidade que
ronda a nossa sociedade e as práticas pedagógicas comumente adotadas. A
inclusão propõe a vivência e o reconhecimento da escola das diferenças e as
potencialidades e riquezas advindas desse convívio.
Acreditamos que a inclusão instaura a tendência de uma cultura
irradiadora da áudio-descrição, onde essa tecnologia assistiva poderá ser
empregada nos livros didáticos, na didática do professor, inserida no
planejamento, na forma diferenciada como ele trabalha com imagens; no
campo da contação de histórias, com o detalhamento de imagens e situações
que favoreçam o ouvinte a se deslocar para dentro da história e construir
imagens; seja nas aulas de teatro (em noções básicas e aprofundadas do
estudo do movimento e das expressões que compõem a técnica do ator, no
reconhecer de traços que sinalizam aspectos da evolução cenográfica e dos
espaços cênicos, nos estudos de efeito de luz, no jogo de cores claro e
escuro); ou ainda, no circo, no museu, em casamentos, em velórios, em
partidas esportivas, nos shows, no cinema, na televisão, na escola, na igreja,
nos jogos eletrônicos, no parque, na academia de ginástica, de dança, no
zoológico, em trilhas ecológicas, nos restaurantes e nas atitudes com o outro.
A áudio-descrição, tecnologia assistiva à serviço da extinção de
barreiras comunicacionais, toma força nesse novo século e com isso abre
novos campos de pesquisa e reflexão. Compreendida aqui enquanto gênero
textual emergente, já que se enquadra como uma entidade sociodiscursiva,
socialmente constituída, cuja finalidade é a comunicação, merece ter seu
espaço reservado nos conteúdos escolares ao tratar especificamente sobre
gêneros textuais e a função comunicativa deles. Contudo, não podemos
encerrar a proposição da áudio-descrição na escola, pois, como um campo
amplo, ela desabrocha para múltiplos caminhos e possibilidades, de acordo
com o esforço e o empenho de quem a pretende utilizar.
214
Um desses caminhos é o do lazer e da cultura, que, no teatro, é
também o da educação.
Não obstante, sabemos que por muito tempo ir ao teatro e usufruir em
igualdade das informações visuais era uma coisa distante para a pessoa com
deficiência visual. Na tentativa de participar da vida cultural, em ações comuns
como ir ao cinema ou ao teatro, a pessoa com deficiência visual até poderia
acompanhar o enredo que estava sendo proposto, mas não desfrutava das
imagens. Para minimizar a ausência dessas informações, um amigo,
companheiro, acompanhante passava a relatar o que estava acontecendo na
cena, cochichando no ouvido.
215
uma acessibilidade”, há uma tecnologia assistiva sendo desenvolvida visando
contribuir e proporcionar ou ampliar as habilidades da pessoa com deficiência.
A áudio-descrição se configura como uma tecnologia assistiva que visa
contribuir, proporcionar e ampliar a compreensão dos eventos visuais para
pessoas cegas ou com baixa visão, autenticando a participação dessas
pessoas em atividades de lazer, de cultura comuns a todos, promovendo assim
a autonomia para acessar produtos e serviços.
As questões almejadas por todos envolvem o se sentir acolhido,
respeitado nas diferenças e reconhecido enquanto ser humano. A
disponibilização de formatos acessíveis como a áudio-descrição é uma das
vias para resgatar e primar pela efetivação do princípio da dignidade.
Elb – [...] Por que, quando a gente ia, a gente ficava dependendo de
alguém pra comentar de lado, geralmente eu ia ao cinema, e hoje
não, hoje a gente não precisa disso né?Por que antes a gente tinha
que ir com alguém, pra essa pessoa falar o que estava acontecendo
quando eles estavam calados, hoje não, hoje a gente sabe tudo, foi
ótimo, foi ótimo mesmo
216
Ao realizar ações com o recurso de áudio-descrição, deve-se prever
ações formativas junto ao público alvo, a fim de divulgar o recurso e sensibilizá-
lo para os benefícios que esse novo instrumento possibilita para recepção de
informações visuais. Por muito tempo as pessoas com deficiência se viram
excluídas de participar de atividades como ir ao teatro, por que não havia
acessibilidade comunicacional nesses espaços. Com a áudio-descrição,
começa-se a resgatar a confiança dessas pessoas para que usufruam de
produtos artísticos, em igualdade de oportunidades.
Ao fim dessa pesquisa, nosso intento é provocar e despertar outros
pesquisadores para que se debrucem nessa temática em futuras investigações,
a fim de provocar a diluição de fronteiras, implementando a áudio-descrição em
outras áreas. Logo, sugerimos estudos mais aprofundados sobre as variáveis
que influenciam na recepção, além de outros lócus de aplicação do recurso,
como na sala de aula e em outros locos de oferta. Para todos os casos será
necessário sempre atuar próximo ao público alvo para divulgar e popularizar o
recurso assistivo.
Rob – Aumentar a oferta da áudio-descrição, popularizar mais a
áudio-descrição, sobretudo, não só pra quem tem deficiência visual,
mas pras pessoas que vão oferecer o entretenimento e a diversão.
Esclarecendo de que, do mesmo modo que as outras pessoas que
recebem o espetáculo, as pessoas cegas também têm o direito de
receber informações de qualidade.
217
pesquisadores, encorajamo-los para que se dediquem nesse maravilhoso ato
de refletir, experimentar e de viver a inclusão.
Saudosamente, revisito as marcas dessa imersão e caio novamente no
buraco. Revejo a estrada marcada por dores, amores, desamores e entre as
pedras e poeira, até me fazem lembrar dos versos “Nunca me esquecerei
desse acontecimento/na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me
esquecerei que no meio do caminho/ tinha uma pedra/ tinha uma pedra no
meio do caminho/ no meio do caminho/ tinha uma pedra” (Carlos Drummond de
Andrade), e as minhas retinas mesmo que fatigadas enxergaram as flores,
algumas delas eu ornei os desamores, as dores.
Convivi com essa dor, a dor da procura. É... Talvez eu seja mais artista
do que pesquisadora! Mas ser atriz também é investigar, experimentar,
construir, analisar, considerar, reconstruir, ousar, expor. Hum.... Andreza aqui é
outra história, você não está no palco. Será mesmo? [...] Não estou! Pois
então, é bem verdade que ao se tratar da acepção da palavra pesquisa no
contexto acadêmico, essa foi minha estreia, com direito a frio na barriga,
choros, inseguranças e alegria de finalizar uma etapa.
Ir e vir livremente. Caminhar! Sozinho? Não. Nesse caso, melhor
acompanhado. Então, vamos adiante, vamos em frente, avançar com sucesso,
progredir, não há impedimento, obstáculos que paralisem a nossa ação e nós
todos, juntos, incessantemente, caminhemos rumo à inclusão.
218
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Summus, 2008.
226
Anexo A
Roteiro de Entrevista da pesquisa “CAMINHOS PARA INCLUSÃO: UMA
REFLEXÃO SOBRE ÁUDIO-DESCRIÇÃO NO TEATRO INFANTO-JUVENIL”
Autora: Andreza da Nóbrega
Nome:_______________________________________________________
Idade: ___________
10. Lila descobriu uma creca, pereba, ferida, em parte do corpo dela.
Onde estava localizada?
227
11. Você acha que a áudio-descrição contribuiu para apreciação do
espetáculo? Como?
14. Com que frequência você vem ao teatro por ano? Quantas vezes?
228
Anexo B
36
O roteiro de áudio-descrição grifado em azul.
229
LEGENDAS:
EM NEGRITO (rubricas)
GRIFADO EM AZUL (notas da áudio-descrição)
NOTAS PROÊMIAS
ESPETÁCULO TEATRAL “NEM SEMPRE LILA” REALIZADO PELO
GRUPO TEATRAL QUADRO DE CENA. GÊNERO: DRAMA. FAIXA ETÁRIA:
RECOMENDADO PARA MAIORES DE 8 ANOS.
SINOPSE:
ERA UMA VEZ LILA, UMA MENININHA (NÃO TÃO MENININHA), QUE
CAIU NUM BURACO DEPOIS DE VIVER UMA HISTÓRIA QUE NÃO TINHA O
FELIZ PRA SEMPRE DOS CONTOS DE FADAS: A SEPARAÇÃO DOS PAIS.
CARACTERÍSTICAS DA ENCENAÇÃO:
UMA ATRIZ E DOIS MÚSICOS REPRESENTAM, NUM JOGO DE
CONTRACENAÇÃO, VÁRIOS PERSONAGENS DIFERENTES SE
UTILIZANDO DE OBJETOS, FIGURINOS E MODIFICAÇÃO DA VOZ.
Teatro:
TOMANDO A ENTRADA COMO PONTO DE PARTIDA, AS CADEIRAS FICAM
DO LADO DIREITO E O PALCO DO LADO ESQUERDO.
UMA SALA RETANGULAR. PAREDES FORRADAS DE ALCATIFA CINZA ESCURO.
PISO DE MADEIRA. 75 CADEIRAS PRETAS ENFILEIRADAS SOBRE UMA
ARQUIBANCADA VOLTADAS DE FRENTE PARA O ESPAÇO DA
REPRESENTAÇÃO CÊNICA.
.
Cenário:
230
A ÁREA DA REPRESENTAÇÃO CÊNICA, ONDE A CENA ACONTECE, É
DEMARCADA POR UM TECIDO AMARELO ESCURO. O TECIDO AMARELO
ESCURO MEDE (10MX5M) E ESTÁ SUSTENTADO POR UMA VARA DE
FERRO ROLIÇA QUE LIGA UM LADO AO OUTRO DO PALCO. DO
URDIMENTO QUE É UM CONJUNTO DE TRAVES NO TETO DO PALCO.
SEIS METROS DE TECIDO DESCEM DO URDIMENTO ATÉ O CHÃO,
DEMARCANDO O PANO DE FUNDO, E OS QUATRO METROS
RESTANTES, VESTEM O PISO DO PALCO.
MÚSICO;
RAPAZ MORENO DE CABELOS PRETOS CURTOS E COM GEL
REPARTIDO DE LADO E COM UM PEGA-RAPAZ NA TESTA. TEM UMA
COSTELETA LONGA.
MÚSICA/MUSICISTA
Moça BRANCA DE CABELOS CASTANHOS DIVIDIDOS AO MEIO E
CORTADOS NA ALTURA DAS BOCHECHAS. A FRANJA ESTÁ PRESA NO
ALTO DA CABEÇA.
FIGURINO:
OS MÚSICOS VESTEM UMA BATA BEGE COM UMA FAIXA LARANJA NAS
EXTREMIDADES DA MANGA E NA ALTURA DOS QUADRIS. USAM UMA
BERMUDA AMARELA CLARA. ESTÃO DESCALÇOS.
INSTRUMENTOS MUSICAIS:
231
NEM SEMPRE LILA
POR ANDREZA NÓBREGA, EDUARDO RIOS, MARCELLA MALHEIROS E
MILENA MARQUES
INTEGRANTES:
2 MÚSICOS; 1 HOMEM E 1 MULHER
A PERSONAGEM: LILA
LEGENDA:
HOMEM – H; MULHER – M;
SOLFEJO
MÚSICA:
H- Hoje é domingo/ que pede cachimbo/cachimbo de couro/que arrancou do touro
O touro é valente/ então bate na gente/e porque a gente é fraco/cai no buraco
O buraco é fundo, acabou-se o mundo
M- O buraco é fundo, acabou-se o mundo
M- Hoje é domingo/ que pede cachimbo/cachimbo de couro/que arrancou do touro
O touro é valente/ então bate na gente/e porque a gente é fraco/cai no buraco
O buraco é fundo, acabou-se o mundo
H-O buraco é fundo, acabou-se o mundo
LILA:AHHHHHHHHHHH.
M,H-AHHHHHH... AHHHHHH.... AHHHHH
232
ELA OLHA PARA CIMA, PARA BAIXO, PARA A DIREITA, PARA A ESQUERDA,
LEVANTA. VESTE UMA SAIA ROSA DE TULE LONGA E ENCORPADA.
LILA- O quê! INVESTIGAA PARA A ESQUERDA
M, H – O quê, O quê, O quê... UMA LUZ VINDA DE CIMA ILUMINA O TECIDO DO
FUNDO DO PALCO, TEM –SE A IMPRESSÃO QUE A LUZ VEM DA ABERTURA DO
BURACO.
LILA- O quê! LEVANTA, INVESTIGA A PARA A DIREITA
M, H – O quê, O quê, O quê...
LILA- O quê! DE COSTAS, CAMINHA PARA O FUNDO DO PALCO
M, H – O quê, O quê, O quê...
VOLTA-SE E CAMINHA PARA FRENTE
LILA - Eu estou no fundo do buraco.
OLHA PARA CIMA
M, H – buraco, buraco, buraco...
LILA - Buraco!
M, H – buraco, buraco, buraco...
LILA- Ei, pare de me imitar.
BALANÇA A CABEÇA DE UM LADO PARA O OUTRO
M,H- me imitá, me imitá, me imitá...
LILA – Buracoco! COM AS MÃO NA CINTURA
M, H – Cocô, cocô, cocô...
LILA - Cocô! SORRI
M, H - cocô, cocô, cocô... SENTA
LILA - Lilá!
H,M- li/lá, li/lá, li/lá...
LILA (Lila sorri)- E se eu cavar mais fundo no mundo? LILA CAI PARA TRÁS, A SAIA A
ESCONDE , VÊ-SE APENAS AS PERNAS QUE BALANÇAM RAPIDAMENTE
H, M- Cava, cava, cava, cava; cava, cava, cava, cava; cava, cava, cava, cava-ca SENTA
LILA- Eu vou cavar até o outro lado do mundo.
H- Cava, cava, cava, cava; cava, cava, cava, cava; vaca, vaca, vaca, vaca APENAS AS
PERNAS BALANÇAM NO AR
M, H- Vaca!
LILA – VIRA, DE QUATRO Muhhhhhhhhhhhhh
M,H (eco) – Muh, muh, muh LEVANTA
LILA- (PARA OS MÚSICOS) Vaca amarela pulou pela janela, quem falar come a bosta
dela.
OS DOIS MÚSICOS ENCHEM A BOCHECHA DE AR
MÚSICA:
Era uma vez uma menininha, não tão menininha
Que por não ter par dançava sozinha/ não tão menininha
Ela ouvia historias da carochinha
Sonhava com príncipe e fada madrinha
233
LEVANTA. LUZ LILÁS. CHUVA DE BOLINHAS DE SABÃO. LILA DANÇA DE UM LADO
PARA O OUTRO, GIRA, SORRI ,SALTITA, BALANÇA OS CABELOS, ABRE OS
BRAÇOS E GIRA... SORRI
Pobre da menininha
Dançava suas lembranças
Mas ela não tinha tranças
Nem sapatos de cristal
Na história da sua vida
Havia sapos medonhos
E um príncipe bizonho ESTAPEA AS BOLHINHAS.
que parecia um lobo mau
Auuuuu!!! TIRA A SAIA LONGA E A DEIXA NO CHÃO
Auuuuu!!!
LILA- Rapunzel foi aprisionada por uma bruxa má no alto de uma torre bem alta EM
PONTA DE PÉ UNE OS CABELOS E ERGUE e vivia isolada de todos. GIRA
RAPUNZEL-Ai como me sinto tão sozinha. ERGUE A PERNA PARA DIREITA Eis que
surge um príncipe: AJOELHA E DE PERFIL LEVANTA OS BRAÇOS, O DIREITO MAIS
ACIMA DO ESQUERDO jogue as tranças Rapunzel. FAZ QUE SOBE PELAS TRAÇAS
E BEIJA Aí viveram felizes para sempre.
Cinderela! JOGA-SE NO CHÃO Cinderela limpava o chão ESFREGA O CHÃO e fazia a
comida pras irmãs e pra madrasta má. FAZ QUE MEXE UMA PANELA (IRMÃS) –
CORRE PARA DIREITA E FAZ QUE BALANÇA O SINO Cinderela! (CINDERELA) –
VAI AO CENTRO, SUAVEMENTE Já vou, já vou, já ouvi. Ora que tormento, já começa o
dia... (IRMÃS) – Cinderela! (CINDERELA) CORRE PARA ESQUERDA E FAZ QUE
BALANÇA O SINO– Já vou, já vou!
ESTICA OS BRAÇOS PARA UM LADO E PARA O OUTRO, O CORPO ACOMPANHA.
GIRA. COLOCA AS MÃO NA CABEÇA E OLHA PARA NÓS.
Bastou calçar o sapatinho ESTICA UMA PERNA e o príncipe a levou prum castelo
enorme,CAVALGA onde eles viveram felizes para todo o sempre.
A Bela Adormecida era bonita,SALTITA PARA DIREITA inteligente SALTITA e tinha uma
voz linda. SALTITA
OHHHH.. OHHHH...COM AS MÃOS NO QUADRIL ESQUERDO. LEVANTA MÃO
CONTORCIDA EM DITREÇÃO AO ROSTO (Sonoplastia interrompe o canto) MAS AÍ,
UMA BRUXA LANÇOU UM FEITIÇO QUE FEZ A BELA DORMIR POR CEM ANOS.
DEITA, CABEÇA PARA O LADO ESQUERDO. MÃO CRUZADAS NO PEITO, RONCA.
LEVANTA A CABEÇA, AS PERNAS DEITA. GIRA E LEVANTA.
A Bruxa encheu os arredores dos muros do castelo de espinhos. AJOELHADA,
BALANÇA OS BRAÇOS COM MÃO ABERTAS, LANÇA FEITIÇO
Vários homens tentaram atravessar a floresta de espinhos para salvar a jovem moça,
um, MARCHA PARA ESQUERDA COM BRAÇOS E PERNAS ESTICADOS DOBRA OS
PUNHOS ENCOLHE O CORPO E ANDA PARA A DIREITA, JOGA-SE NO CHÃO.
dois,
234
MARCHA PARA ESQUERDA COM BRAÇOS E PERNAS ESTICADOS PARA NO
CENTRO, ACOCORA-SE, ENCHE AS BOCHECHAS DE AR. ESPALMA AS MÃOS FAZ
QUE SOBE, CAI PARA TRÁS.
três, MARCHA PARA ESQUERDA COM BRAÇOS E PERNAS ESTICADOS. PARA.
ANDA LENTAMENTE, ESTICA OS BRAÇOS E PERNAS COMO EFEITO DE CAMERA
LENTA.
cinquenta, um milhão de infinitos homens, mas todos que tentaram salvar a jovem moça
se furaram. DEITA NO CHÃO.
Mas aí... Surge um príncipe LEVANTA lindo, corajoso, chegou com sua superespada,
COM BRAÇO ESQUERDO ESTICADO BALANÇA PUNHO E ANDA A PASSOS
MÍNIMOS E LIGEIROS entrou no castelo, deu um beijo nela e, pronto, eles viveram
felizes para sempre. JOGA-SE NO CHÃO
E a Branca de Neve? Os sete anões já tavam chorando a morte dela ERGUE UM
BRAÇO E BALANÇA A MÃO Mas aí, apareceu o príncipe encantado,O OUTRO BRAÇO
deu um beijo nela e o que aconteceu? Foram felizes para sempre.
Até a fera monstruosa e horrível deixou de ser fera e se casou com a Bela PRA
SEMPRE. SENTADA
Sempre, sempre! Ora que coisa, sempre tem um sempre pra fazer a gente pensar que
tudo vai ser lindo desde a hora que a gente acorda até a hora que a gente vai dormir.
ABORRECIDA DEITA Meu coração não tá bonito de alegria hoje, e eu ainda nem dormi.
Então o pra sempre não é pra mim. LEVANTA Sempre é quando a gente não consegue
ver até onde vai. AJOELHA-SE COM AS MÃO EM CONCHA NOS OUVIDOS Como o
mar.
H, M - Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada (A AÇÃO DE NADAR DEVE TER
UMA RELAÇÃO COM O CAVAR DOS TRECHOS ANTERIORES)
LILA - A água do mar vai até tão longe, tão longe, que nada que eu disser vai poder
dizer até onde vai essa água. Ou então quando eu vejo as faixas coloridas de um arco-
íris no céu, eu nunca acho nem o começo nem o fim. Quando ele aparece fica me
chamando: “vem pra cá, vem pra cá”.
H,M - cá, cá, cá...
LILA - Já me disseram que todo mundo que vai até o fim do arco-íris acha um pote
cheio de ouro amarelo. E de tanto ele me chamar um dia eu fui lá.
H,M – corre, corre, corre, corre, corre, corre, corre ...
Eu corri, corri, corri, corri e nada. Nuncanunquinha a gente consegue alcançar o arco-
íris. Pode ir lá, tenta, ninguém consegue. Eu já tentei...
(PENSATIVA) Se o arco-íris nascesse de cabeça pra baixo ia ser bem mais fácil de
achar ele debaixo da terra.
H, M – Cava, cava, corre, nada, cava, cava, corre, corre, cava, cava, nada, nada. Nada.
... Nada... Nada... FICA IMPACIENTE
LILA- Eu ainda nem dormi, e eu não tô feliz. Então o feliz pra sempre não é pra mim!! É
mentira que a gente passa todas as horas de todos os dias de todo o resto da vida feliz,
sorrindo. O meu “pra sempre” sempre acaba muito rápido e logo-logo vira nada, bem na
esquina do dia seguinte.
H, M –(SOM DE SINO) EM PÉ MÃO NA CABEÇA, GIRA
LILA- Ai, não! Eu tô no fundo do buraco.
H, M- Cava, cava, nada. Cava, cava, cava, nada. Cava, cava, cava, cava, cava, cava
CAI NO CHÃO
235
LILA- Essa droga de buraco. Quanto mais eu cavo mais buraco ele vira!
MOVE AS PERNAS, PARA CAVAR O CHÃO COM OS CALCANHARES
PERCEBE UMA MANCHA NA PERNA
LILA- Ai, não!!! Eu to com uma creca horrível. E to peluda feito um lobisomem. FICA
ZAROLHA E tem uma espinha no meio do meu nariz. Não!!! É uma verruga bem no
meio do meu narizzz!!! Ai, socorro! Meus braços tão se esticaaaaaaaaaaaaaannndo.
ERGUE OS BRAÇOS. CHEIRA O SOVACO, PAUSA BRUSCA Eu fedo! Meu sovaco
tem cheiro de queijo azedo. ESPERNEIA Não, não quero parecer com a bruxa não, eu
quero ser a Bela!!! Eu sou bonita sim! LEVANTA E CAI DE NOVO NO CHÃO. Só porque
eu tenho uma creca e pé grande eu não posso ser a princesa? Ah, é? Então eu sou
torta!!! SE CONTORCE, MÃOS, SE CONTORCE.
LEVANTA PEGA A SAIA, DESAVEÇA, VIRA CAPA
M,H- Torta, torta, como a Moura Torta! Torta, torta, como a Moura Torta! (LILA/MOURA
TORTA CORRE)
PRENDE OS CABELOS. COLOCA A CAPA. ENCURVA-SE. LÍNGUA PARA FORA.
LILA- O que isso te importa!
M,H- Torta, torta, como a Moura Torta! Torta, torta, como a Moura Torta! Você é uma
torta, como a moura torta.
MÚSICA- (LILA E MÚSICOS CANTAM):
Eu sou...Torta como uma moura torta
O que é que isso te importa
Feche sua boca aberta
Porque eu sou mais esperta
E se sua memória é curta
Vou contar a história da moura
Que não fez a coisa certa
LILA - Há muito tempo atrás, a moura Torta, que mais parecia um buldogue, CURVA-SE
com bochechas arriadas e olhos esbugalhados, um apontando pro leste outro pro oeste,
foi ao rio buscar água com uma lata na cabeça.
OLHA PARA NÓS
Cantando desafinada, andava desengonçada, com os joelhos pra dentro. Mas coitada
da tortinha. Ela era malvada, mas todo mundo debochava dela, porque ninguém achava
ela bonita. Imagine então a surpresa da Moura Torta quando se baixou na beira do rio e
viu, no reflexo nas águas, a imagem da mais bela moça do reino.
LEVANTA OS BRAÇOS CONTORCIDOS
(MÚSICA)
Ontem eu fui buscar água
E hoje, vou buscar também FAZ QUE SEGURA UMA JARRO D’ÁGUA NOS OMBROS
Ninguém tem pena da Moura Torta
Pensa que não sou alguém
Mas sonho com o príncipe encantado que me queira bem.
(LILA FALA COMO A MOURA) OLHA PARA BAIXO Ôhh.. ahhh... Mi...Mi.. Mi... Minha
nossa, como eu sou bela! Cabelos de ouro, pele de leite, olhos azuis como a cor do céu,
lábios de rosa carmim. Ora vejam, com uma aparência como essa, o serviço pesado não
é pra mim.
236
(GIRA) Pobre da tortinha. MÃO ESPALMADA PARA O LADO DIREITO Quando olhou
pra cima, viu escondida entre os galhos do ingazeiro (SOMBRA DOS GALHOS) uma
linda jovem. Então entendeu que o que ela tinha visto no reflexo das águas era a
imagem da linda moca e não a dela.
GIRA, MÃO ESQUERDA SEGURA UM LENÇO ROSA Então é você, minha pombinha.
Desça, desça. OLHA E FALA PARA O LENÇO Humm, sim, agora deixe-me alisar seus
cabelos e me conte sua história.
SEGURA O LENÇO E MEXE
Sou uma moça encantada. O príncipe quando olhou pra mim, se apaixonou pela minha
beleza, e disse que ia casar comigo. Então foi à cidade comprar um vestido COBRE A
CABEÇA COM O LENÇO para que pudéssemos nos casar.
LILA - Entre palavras e cafuné, a mocinha acabou adormecendo. RETIRA O LENÇO
E no mesmo momento, a Moura decidiu que quem ia casar com o príncipe e ia ter o final
feliz dos contos de fadas era ela e, no mesmo instante, pegou um alfinete JOGA O
LENÇO PARA CIMA E FAZ QUE ESPETA e espetou na cabeça da moça, que virou
uma pomba, que voou, assustada, desesperada, bateu assas, voou,
ANDA EM CIRCULOS E BALANÇA O LENÇO voou, pra bem longe. CAI NO CHÃO
Eu sou a moça bonita. Agora é só esperar o meu príncipe chegar.
(H- príncipe assustado) VOZ EM OFF
LILA- Ó, meu amado, não se assuste, sou eu mesma. Esperei tanto que o Sol
encriquilhou meus cabelos, me deixou com uma pele cheia de bit-bits e brotoejas por
todo o meu corpo, ai, me deixou com cheiro de queijo azedo. De tanto esperar entre os
galhos do ingazeiro fiquei assim. Mas, palavra de príncipe não volta atrás. Vamos nos
casar! BEIJA PARA FRENTE SEGURA UM LENÇO AMARELO E BALANÇA, FAZ QUE
É O PRÍNCIPE
(H,M - FALA COMO O PRÍNCIPE) É claro, querida.
E a Torta, coitada, pensou que ia ser feliz ao lado do príncipe, mas ele não parava de
pensar na encantada. Passava o dia inteiro debruçado na janela, admirando uma
pombinha.
A Tortinha, com raiva, comia tudo que via: GIRA sorvete de salsicha, SEGURAS AS
MÃOS NA FRENTE DO ROSTO, ESTICA A LÍNGUA, FAZ QUE LAMBE SORVETE purê
de chuchu, FAZ QUE LANÇA COLHERADAS PARA A BOCA ABERTA sanduíche de
feijão, MORDE SANDUICHE COM VORACIDADE vitamina de fígado FAZ QUE VIRA O
COPO NA BOCA, INCLINA O CORPO PARA TRÁS E ... ARROTA e iogurte de rúcula.
FAZ QUE SEGURA UM POTINHO E DÁ LINGUADAS Pombinha! Eu quero essa
pombinha, bote já na panela. Ai, asinha de pombinha. Vaaaaaiii. GIRA O príncipe então
pegou a pombinha, e logo descobriu o alfinete cabeça dela. Assim que puxou o alfinete,
quebrou o feitiço, e a pombinha voltou a ser a moça encantada. PEGA TECIDO ROSA E
VERDE, SEGURA UM EM FRENTE AO OUTRO E FAZ QUE BEIJA O príncipe casou
com ela e foram felizes para sempre. E a Torta VIRA-SE PARA DIREITA E OLHA
FIXAMENTE viveu um feliz pra sempre bem diferente do que imaginava, correndo todo o
tempo, fugindo pelas estradas com medo de ser castigada. RETIRA A CAPA SEGURA
COM AS DUAS MÃOS, ASSUME POSTURA DE TOREIRO, E CORRE PARA DIREITA
Não, não vai. PARA, SACODE A CAPA.
H,M (ECO) – Pai, pai, pai...
LILA - Não vai CORRE AGORA PARA ESQUERDA. PARA SACODE A CAPA
H,M (ECO) – Pai, pai, pai...
LILA - Não vai. CAMBALEIA E GIRA PARA DIREITA.
H,M (ECO) – Pai, pai, pai...
LILA - Não vai CAI NO CHÃO.
237
LILA –DEITADA, CHORA, FOCO DE LUZ BRANCA. Enquanto a menina do reino
encantado sorriu para sempre, a moura torta chorou para todo o sempre. Quando a
gente chora molha o rosto todinho, e quanto mais água sai de dentro da gente, mais
seco a gente fica. SENTA Parece que a gente fica quebrado, duro feito um galho de
árvore seca por onde passa a ‘largatixa’. Lar-ga-ti-xa? Não... largartixa. Não, lagartixa.
Lagartixa. Ah, eu acho tão bonitinho a lagartixa passar o dia todinho dizendo sim pra
todo mundo: BALANÇA UMA MÃO E A CABEÇA NA AFIRMATIVA sim, sim, sim, sim...
Todo dia quando eu vejo ela, é sempre, sempre: sim.
Ai, eu sempre quis ter uma lagartixa de estimação CAMINHA PARA DIREITA, PARA,
mas o meu pai nunca, nunca gostou de lagartixa. SEGURA E OLHA PARALILATIXA Ele
acha feio o olho preto dela. FALA COM LILATIXA (O APITO É A LAGARTIXA
FALANDO) Mas agora que ele foi embora daqui de casa, quem sabe a minha mãe não
me deixa criar uma. Aí, quando o meu pai vier pra cá nos finais de semana ele vai dizer:
“Lila, quem mandou colocar esse bicho dentro da casa da sua mãe? Devolve essa coisa
pro buraco de onde ela veio”. Não, não. LILATIXA BALANÇA A CABEÇA E CAI NO
CHÃO. AS DUAS NO CHÃO Ele sempre acha esquisito quando a lagartixa consegue
continuar andando mesmo quando cortam o rabo dela fora. LADO A LADO RASTEJAM
Acho que o pra sempre de pai e mãe separados é igual ao de uma lagartixa sem rabo. A
gente continua andando, mesmo com um pedaço faltando. ARRASTA AS PATAS DE
LILATIXA QUE PERDE O RABO Mas dói tanto, DEITA COM LILATIXA EMCIMA DELA
dói muito, dói, dói.
H,M - ói, ói, ói...
LILA- AJOELHADA Ói... olha o quê...Eu já sei que tô no fundo do buraco. Olha os meus
pais. Pai com mãe juntos não foi pra sempre. LEVANTA Ora que coisa, eu nunca mais
vou querer saber desse tipo de feliz pra sempre que faz a gente acreditar numa coisa
que pode não acontecer. CAMINHA PARA ESQUERDA Meu coração fica tão
apertadinho quando esse pra sempre acaba. CRUZA OS BRAÇOS Nuncanunquinha
disseram pra mim que pai com mãe não é pra todo o sempre. Todos os dias quer dizer
que é pra sempre? Onde fica esse sempre? SEGURA AS MÃO E LEVA ATÉ O ROSTO
Eu queria comer o sempre, comer ele todinho, mastigar bem muito, pra poder
experimentar o sabor do “pra toda a vida”. Será que o pra sempre é tão gostoso quanto
um bolo? Ou então cheirar ele de cima até embaixo, de um lado até o outro, até eu ficar
tonta e cair no chão de tanto sempre que vai entrar pelo meu nariz. E o meu nariz ia ficar
assim, igual ao de um porquinho rosado: roinc, roinc. AJOELHADA. A minha mãe diz
que todo porco fede, mas eu tenho pra mim que são só alguns que tem fedor, porque o
porco de Seu Ataíde não é fedido, e ele é um porco de verdade.COLOCA OLHOS EM
LILATIXA
238
MÚSICA
Dentro de um pra sempre
Existe um nem sempre
E tudo que você
Consiga imaginar:
Certamente e talvez,
Nunca e era uma vez,
Todo dia, ontem,
Amanhã, jamais.
Num reino distante,
Ou na esquina ao lado
Uns “sempres” vão brotar
Uns “sempres” vão murchar
Mas o que importa é a semente
Que esses “sempres” vão deixar.
Tá vendo que a gente sempre descobre que o sempre não é toda vez? Porco sem fedor
ainda é porco. PARA FRENTE, BALANÇAM A CABEÇA EM AFIRMAÇÃO Rosa sem
espinho ainda é rosa. BALANÇAM Vaca sem peito é... vaca. BALANÇAM Cachorro com
três patas ainda é cachorro, BALANÇAM tartaruga com duas cabeças ainda é tartaruga,
BALANÇAM arco-íris debaixo da terra ainda seria arco-íris, BALANÇAM lagartixa sem
rabo ainda é lagartixa. BALANÇAM. A Moura torta, é torta e é bela. COLOCA LILATIXA
NO CHÃO Eu, Lila, sou bela, uma bela com creca na perna e do pé grande. ABRE OS
BRAÇOS
H, M- (sinos)
PAM PAM PAM – COM AS MÃOS EM CONCHA PRÓXIMAS À BOCA Atenção
senhoras e senhores, eu, euzinha mesma, contarei a vocês uma história recheada de
risos, choros, cores, bichos e fedores. Quem chora molha o rosto, quem nunca chorou
tem medo de água. Quem não tem par dança sozinha. Quem não sabe dançar, dança
do mesmo jeito. Quem vai, vai, quem não vai, fica! Cada qual com sua história
mirabolante para contar. DEITADA AO LADO DE LILATIXA.
239
flor do campo, RECIFE CONTRAI O CORPO ele ficou enroscado nas plantas altas e
espinhentas de um campo próximo. Desesperado para avisar a alguém que estava
preso, Recife começou a atirar pedras o mais longe que podia. FAZ QUE LANÇA
VÁRIAS PEDRAS PARA FRENTE As pedras atingiram o mar e formaram um grande
muro de pedras por toda a praia. Todos conseguiam ver aquele paredão enorme, mas
não conseguiam descobrir de onde Recife estava jogando as pedrinhas. Preso em
raízes e em pensamentos que envolviam sua amada, ele chorou a ponto de encharcar
de lágrimas todos os pedaços de terra que estavam ao redor dele. TREME A CABEÇA
PARA BAIXO Olinda, que já estava pronta só esperando o noivo, COM OS SINOS
PRÓXIMOS A ORELHA CURVA-SE PARA UM LADO E PARA O OUTRO notou que ele
demorava demais. Aflita, sem saber notícias de seu amado, ela começou a construir um
bocado de igreja, nos morros mais altos de suas terras, para que Recife, de onde
estivesse, pudesse ir ao casamento. BALANÇA OS SINOS. PARA O ALTO, PARA
BAIXO, PARA DIREITA, ESQUERDA Daí, enquanto Olinda badalava todos os seus
sinos, Recife gritava o mais alto que podia gritar. SIMULTANEAMENTE. RECIFE BATE
FAZENDO SOM NO VIOLÃO E OLINDA BADALA OS SINOS Assim, nem Recife
escutou os sinos, e nem Olinda escutou os gritos de seu amor. E o casamento deles não
aconteceu. O HOMEM TIRA A HASTE DO VIOLÃO DE DENTRO DA CAMISA E
OLINDA RETIRA O TAMBOR DA CABEÇA E COLOCA OS SINOS NO CHÃO. LILA
PEGA A LILATIXA E SEGURA NO BRAÇO, ACARICIA No fim, Recife se apaixonou
pelos manguezais que nasceram de seu choro, e Olinda badalava seus sinos toda vez
que suas ladeiras e terras sorriam para ela.
LILA- (LILA SENTA) Hoje, Recife tá casado há mais de 400 anos com o mangue e
Olinda também, tá casada com suas terras há 476 anos. E mesmo que eles tenham se
casado com outras pessoas e não tenham ficado juntos no final como a gente queria,
eles são felizes, moram um do lado do outro, e Olinda sempre pede açúcar pra Recife
quando falta na casa dela, e Recife todo ano vai dançar frevo nas ladeiras de Olinda. É
uma risadagem só, GIRA cheia de cores.
Essa história parece até a gente aqui em casa. PEGA LILATIXA. SENTA DO
LADO ESQUERDO Essa semana eu vou em Recife visitar meu pai, ele quebrou a perna
aí fica difícil ele chegar aqui em casa com tanta ladeira saltando de um pé só para subir
essas ladeiras. Ah... mas você vai comigo Lilatixa. E eu vou pedir pra ele fazer uma
comida bem gostosa. Pro almoço Lasanha, e de sobremesa, bolo de chocolate e ...
APITO SOA REPRESENTANDO FALA DE LILATIXA. O quê? APITO Como? APITO
Onde já se viu comer isso na sobremesa? APITO Tem certeza? APITO Você comeu
hoje? APITO Um arco-íres?! APITO Em baixo da terra! Então eu estava certa! Pode
existir sim arco-íres embaixo da terra! E você comeu! Posso ver?
240
(MÚSICA):
Assim como nada é para sempre
Ninguém é uma coisa somente
Na vida existe bem mais que o bem ou o mal
FIM
241