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tlca era, em grande parte, equa- combinações e permutações pa:;sf- Cândido Mendes de Almeida

cionada com a busca...pelo bem mo- veis também é grande - embora Prospectiva do comportamento
ral, definido, na maior parte das não ilimitado. ideológico:
vêzes, no que se pode chamar de Entre as mais importantes va- o processo de reflexão na crise
têrmos "seculares", morais, parti· riáveis que tendem a influenciar do desenvolvimento
culares ou cívicos. Conseqüente- o modo pelo qual tais respostas se
mente, o bem político é equacio- cristalizam estão vários dos aspec-
nado com a bondade moral dos in- tos das instituições políticas e da
divíduos e a conduta politica é formação de centros que foram
equacionada com bom comporta- demonstrados acima - o âmbito
mento moral. da diferenciação e, especificamen-
Mas esta formulação do proble· te, de organização política, a pre-
ma da relação entre as esferas po- dominância relativa dos diferentes
lítica, cultural e moral -e, espe. componentes do centro, e, obvia-
cialmente, da resposta específica a e
mente, o número a natureza dos
êste problema - é peculiar à Ci- centros ou tipos de ordens, como
vilização Ocidental. Em muitas são concebidos simbolicamente
outras civilizações, a bondade ou em qualquer sociedade determi-
a moralidade "particulares" tem nada.
sido bastante secundárias na ava- Estas são, provàvelmente, aa I Introdução b) a caracterização dêste últi-
liação da ordem social e politica e principais determinantes das res- mo, a partir das suas funções es-
nas relações entre as duas. No postas específicas dadas a êstes O que se pretende no presente pecificas e das determinaÇões que
máximo, tem sido concebida como problemas, respostas que devem trabalho é a determinação pros- recebe, do ponto de vista dos con•
a manifestação de um conceito ser encontradas, de um lado, nos pectiva do comportamento da "in- teúdos de sua produção, quer do
mais profundo de "bondade" ou textos religiosos e, de outro, nas teligentzia" num quadro de para- sistema social imediato - magni-
como um tipo diferente de bon- representações do centro- sejam lisia do desenvolvimento espontâ- ficado nas etapas de organização
dade. arquitetônicas ou pictóricas. neo, como o que caracteriza o Bra- nacional do desenvolvimento, quer
Em geral, a natureza das respos- sil de hoje. Tem em mira o estudo do contexto de relações internacio-
tas dadas a êstes problemas ou focalizar as principais regularida- nais em que se insere o sistema
questões é necessàriamente muito (Tradução de des que deverão definir êste com- imediato - e que passam do se-
ampla e o número das variadas Angela Maria Cunha Neves). portamento na mesma medida em gundo para o primeiro plano du-
que se possa, como hipótese ~e rante a vigência do sistema colo-
trabalho, prever a tra:nsformaçao nial e, agora, da etapa neo-
em paradigma do atual modêlo bra- capitalista de relance do desen-
sileiro, caràcterizado por uma con- volvimento.
jugação entre uma experiência ri- Definidas tais premissas, o cer-
gorosamente neocapitalista de mu- ne do presente estudo dirá respeito
dança no plano econômico e a afir- à análise das diversas determina-
mação do regime de "elite de piJ- ções que as funções do ator "inte-
der", como seu correlato político. ligentzia" (desempenho da função
crítica, produção de ideologia, pro-
Configura-se, assim, a presente dução de símbolos, organização das
investigação, à partir da análise vanguardas sociais, atuação dlreta
de duas premissas, ou sejam: sôbre a decisão governamental)
a) a caracterização do processo passam a evidenciar dentro do nô-
de reflexão social como patamar, vo contexto em que atuará; no qua-
destacável no processo de desenvol- dro das experiências neocapitalis-
\ vimento, em que opera o ator "in- tas de mudança, levadas a cabo
telligen tzia"; por "elites de poder". Completa-se
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o estudo com o estabelecimento de de mudança, implica uma inten- lógico a partir do último após- contenção representados pelo pa-
algumas regularidades que permi- cionalidade transcendente à aná- guerra. Seu suposto é o de que a drão da concentração; da desfun-
tam, após aquela caracterização, lise do processo cultural como es- experiência brasileira poderia se cionalização e compartimentação;
situar o comportamento prospec- trito trânsito entre sistemas de re- colocar como marco heurístico, à de inversão de condicionamentos
tivo da "intelligentzla" na atual ferência axiológica, visões de mun- definição da conduta da produção entre as ações de infra e super-es
modalidade assumida pela mudan- do unificadoras. A mudança é. ideológica dentro da mudança. E trutura social.
ça, no Brasil, numa situação para- também, "fundação", afirmação de isto por ter o desenvolvimento do No plano do modêlo político,2
digmática do que possa ser a evo- um ponto de arranque, para a Brasil, a partir daquele periodo, tais regimes implicam na emergên-
lução próxima do processo social consciência, por si mesma, e cada apresentado, mais que qualquer ou- cia do padrão das elites de poder
e político da América Latina. vez mais, informadora do processo tro país no continente, as carac- caracterizadas respectivamente:
~· pois, de tôdas as representações, terísticas da transição entre estru- a) pela assunção do mecanis-
1is premissas: determinações do stmbolos e mitos da realidade so- turas sociais totais 1. mo decisório por uma elite defi-
processo de reflexão social cial, cada vez mais modificada por nida e caracterizada por uma ex-
esta mesma tomada de consciência Definido o processo de reflexão,
o estudo procura situar, corno pri- trema homogeneidade ideológica
Faz-se mister situar o processo e pelo específico direto protagonls- integrada dentro de polos mistos~
mo derivado de um auta-esclarect- meiro suposto de uma análise pros-
de reflexão social- do qual emer- pectiva, as características que de- civil e militar, ou tão só militar;
ge o comportamento ideológico - mento das fôrças, e grupos nêle
implicadas. ve assumir já numa etapa de co- b) eliminação, no mecanismo
face ao processo objetivo' de mu- lapso do desenvolvimento espontâ- das decisões, de todo recurso a
dança. Situa, como seu, constituin- O primeiro suposto do trabalho neo e, pois, de um padrão de se-
é o de que tal processo de reflexão compatibilização de dissensos e
do o processo de reflexão, a dimen- qüência trófica para a mudança utilização conseqüente de sua for-
são da "tomada de consciência" a manifesta-se quando, efetivamente,
a ruptura da estrutura colonial se que vem cada vez mais se situan- malização pelo padrão democrá-
acompanhar- e complementar - do como paradigma mais provável tico representativo;
o desenvolvimento dos comporta- pode dar dentro de uma seqüên- para a evolução da. América La-
mentos significativos a se verifi- cia trófica, isto é, daquela em que c) adoção da perspectiva de neu-
se dá um slmultaneísmo da mu- tina daqui para o fim do século. tralidade às conexões de infra-es-
carem nos diversos patamares de Vale dizer, por um modêlo distró- trutura, expressa na adoção da
uma estrutura social total: o eca- dança caracterizado pelo seu ad- fico caracterizado respectivamente:
vento em todos os patamares su- "ideologia da racionalidade";
nômico, o social, o político, o cul- a) pela perda do simul taneís-
tural. Destaca-se dêste último na pramencionados da vida coletiva. d) adoção de um modêlo refor-
específiC{I. conjuntura do arr~nco Tal circunstância verificou-se na mo entre a mudança no plano eco.- mista de mudança com tendência
nos atuais países subdesenvolvi- América Latina no imediato anãs- nômico, político e social, manifes- à contraposição, simultâneamente,
guerra de 1946 com a aceleração tando-se inclusive os padrões de na consolidação de sua vigência,
dos, enquanto é inédita nêles a ex.. incrementos contidos num dêsses
periência da autodeterminação: a então manifesta da mudança de quer dos mecanismos de legitima-
estrutura económica dos principais planos e acusadas regressões em ção social formal, quer dos pactos
mudança que hoje os caracteriza outros;
vai de par com a sua afirmação países da América La tina, especial- tradicionais de poder.
como centro de suas decisões· de mente favorecida por um momento b) configuração maltusiana dês-
contrôle crescente do process~ de de trégua no processo de deteriora- teb dinamismos contidos, sem cor- A intelligentzia e suas funções.
ql!e resulta o advento, naqueles re- ção dos seus têrmos de troca e, relação necessária entre o relan-
gtme, de uma efetiva sociedade conseqüentemente, pela aceleração ce da mudança e o potencial de Cumpre, em seguida, definir o
~uncion_al, suscetível de atuar pela do seu processo de substituição de desenvolvimento dêsses complexos; agente da produção das ideologias
importações e pelo comêço de efe- c) adaptabilidade permanente identificadas no caso ao efetivo su-
mteraçao de sub-sistemas, de en- jeito ou ator .sociológico do pra-
sejar a manifestação de suas diver- tiva generalização do mercado in- de tais dinamismos à inércia do sis-
sas funções. Donde a tomada ue terno e bens de consumo de uso tema, através dos mecanismos de cesso de reflexão, ou seja, a "intel-
consciência destacar-se do mero pa- geral.
tamar do estabelecimento das Na configuração do comporta- 1 Sôbre o conceito de estrutura total, veja-se do mesmo autor, NaciOnalismo
conexões de sentido, caracterís- mento ideológico, a comunicação e Desenvolvimento, IBEAA, Rio de Janeiro, 1963.
ticas do universo cultural. A se louva especificamente no exem- 2 Sôbre a articulação entre a mudança e o seu modêlo político, veja-se Um
percepção do antigo complexo plo brasileiro e nas vicisssitudes en- modêlo de câmbio político para a América Latina: Oscar Cornblit, Torcuato
colonial como centro de processo frentadas pelo seu processo ideo- Di Tella y Ezequiel Gallo; publicação mimeografada do Seminário de So-
ciologia do Desenvolvimento, UNESCO, Rio, julho de 1968.
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ligentzia" ,3 caracterizando respec-
tivamente:
do o processo de mudança
se desloca da compatibiliza-
nha a "intelligentzia" de
trazer a sua função para o
deria na plenitude do seu desem-
penho social. Num momento "ca-
'
a) as suas funções específicas ção mencionada para uma cerne da decisão. Vale dizer, nônico" que se pode situar entre
no processo de mudanÇa; ou sejam: perspectiva consensual, de de estabelecer em "curto-cir- 1956 e 61 - correspondendo no
1) O exercício da função crítica, projeção redutora dos obje- cuito" do papel crítico. Tal Brasil ao período Kubitscheck -
ou seja, de uma contínua tivos da mudança. Isto é, se manifestaria sobremodo com efeito, a "intelligentzia":
confrontação da decisão pO- o exercício da mencionada em têrmos de moderna in- a) a.Sstime uma perspectiva crí-
lítica com o projeto histó- atividade de segundo grau formática social, pela capa- tica sôbre o seu próprio processo,
rico da coletividade e com no processo de reflexão, com cidade que teriam os cen- procurando fazer a análise da alie-
o depósito da "memória so- a necessária prodüção redu- tros decisórios de aceitar o nação dos conteúdos mentais dos
cial" do país. tora dos objetivos da mudan- "feed-back" da sua correção grupos anteriores e de suas re-
2) A produção de ideologia vin.. ça e o estabelecimento de institucionalizando a "intel- presentações do contexto em que
culada à compatibilização coletivos globalizantes para ligentzia" dentro do apare- se achavam inseridos a partir de
dos dissensos na mudança; o relacionamento entre a lho de poder. Tal dimensão um ponto de vista nôvo; o da rea-
isto é, a definição dos con- ação governamental e a ex- se mediria pela capacidade lidade nacional entrevista de um
teúdos de representação da pectativa da coletividade. apresentada por tal função ângulo prospectivo de assunção de
realidade e projeção das rei- 4) Organização das vanguardas crítica de se manter distin- um destino e de um "projeto";
sociais, difusoras da condu ta do assessoramento estrito
vindicações de grupos e clas-
ta específica das "intelligen- governamental, ou de sua b r procura estabelecer a com-
ses diante do processo de patibilidade na conexão de inte-
mudança, e tal no sentido tzias". Vale dizer, das ações justificação, mantendo as-
de liderança espontânea- sim a independência e au- rêsses entre os vários atôres da mu-
de, respectivamente, expri- dança lançaiida-se, a frio inclusive,
mir identidades prévias à mente brotadas dentro de tonomia de seu "role", ao
"sets "sociais significativos, lado de outro papel social. à elaboração de uma ideologia en-
rigorosa definição de rei- globante e compatível com o es-
vindicação como conteúdo e suscetíveis de assegurar a b) a caracterização destas fun-
de classe, tal como, por transmissão de uma deter- tágio então vivido pelo pr<:cesso de
ções no qua&ro âo processo substituição de importaçao e ex-
exemplo, o nacionalismo; tal minada representação da de reflexão definido dentro
efetivamente numa etapa realidade expressa, em ideO- pansão do mercado interno naciO-
de um momento "canônico",
subseqüente estas determi- logias e símbolos, às articu- ou seja, o do desenvolvimen- nal;
nações exaustivas de ajuste lações mais importantes do to espontâneo, ocorrido no c) destaca no todo social e ins-
'entre a posição objetiva e processo social. As mesmas imediato após-guerra e, deh- titucionaliza a função das "intel-
subjetiva da classe no pro- corresponderia a ação no tro dêle, de uma efetiva se- ligentzias" através de uma agên-
cesso de mudança. Não atin- campo das comunidades in- qüência trófica em todos os cia definida de assessoramento e
giria a necessidade de ati- termédias da vida social: planos da mudança. O pres- crítica aos centros de poder; eman-
vidades redutoras, ou de se- cumprir-se-ia o nível de mo- suposto do trabalho é de cipa e formaliza o pa~e~ das "in-
gundo grau no desenvolvi- bilização, atingível pelas considerar as determinações telligentzias" no arquet1po repre-
mento do processo de refle- senhas e "slogans". que o comportamento da sentado pelo "Instituto Superior
xão e já visando pela ma- 5) Interveniência nps centros "intelligentzia" nas suas di- de Estudos Brasileiros";
billzação, através de símbo- decisórios, aferível pelo grau versas funções tenha rece- d) lança-se à procura dos sím-
los ordenados, à obtenção de de efetiva institucionaliza- bido nessa etapa como sus- bolos de mobilização, ao lado das
um consenso social. ção e autonomia da função cetível de estabelecer de fato ideologias, protagoniza_?do, o con-
3) A produção de símbolos, es- crítica supramencionada. Is- uma relação ideal entre de- senso da mudança: nao e outro,
pecialmente avivada quan- to é, do desempenho que te- senvolvimento, reflexão e por exemplo, o extraordinário va-
ação das "intelligentzia". lor de figuração e de gigantesca
3 A caracterização da "intelligentzia" se predica à formulação tradicional de Nos anos 50 estabelece-se assim "maquete do futuro", 9-ue se co:r~­
Karl Mannheim, essencialmente em Essays on The Sociology of Oulture, uma efetiva correlação entre o as- substancia na construçao de Brasl-
Routledge and Kegan Paul, 1956, especialmente a segunda parte: "O pro- lia e na verdadeira revolução "co-
blema da "intelligentzia", págs. 91 e seguintes . Consulte-se Também Tor- pecto trófico daquela mudança e
cuato S. di Tella: "A responsabilidade política da "i.ntelligentzia" latino- a exemplaridade da conduta da pernicana" que operou no panora-
americana", em Dados 1, págs. 42 e seguintes. ••intelligentzia" que lhe correspon- ma da intencionalidade ou da re-
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cer ou modificar-se substancial- que lhe sucedeu, assunnna o co..
ferêncla da coletividade ao seu vincula externamente um processry mente paradigmas como o de uma
contexto envolvente. nacional de desenvolvimento, in- mandQ..do país l1Jll regime de elite
"meta nacional" para o processo de poder que suprimia a reflexãO
Neste quadro, haveria pois a fa- terferem de fato na conduta de- de mudança, ou a da "compatibi·
suas "intelligentzla". Dêste pris- social com seu jôgo autônomo e
lar num sistema social primário lização" entre mobilidade social e fazia já do Govêmo a realização de
em que se inseriria, com o pro- ma se coloca, assim, a análise da difusão da renda nacional. Nas uma ideologia prévia, homogênea,
cesso de reflexão, o comportamen- efetiva interação da produção ideo- determinações vindas da própria e altamente acQ.bada. O govêmo
to das "intelligentzla". Ou seja, o lógica nacional, daquela etapa, no .estrutura, haveria a falar, na etapa da Escola Superior de Guerra, em
das chamadas "revoluções nacio- quadro "hic et nunc'' da história. canônica, na grande enfatização 64, teria como seu primeiro ato
nais pelo desenvolvimento". Quer das idéias. No caso, se as limita- .da dimensão nacional do desen-
ria à análise das condições de re- que fechar o ISEB, instituir rigo-
dizer, do processo de auto-afirma- volvimento. Esta se cauciona na roso processo penal para os seus
ção nacional, que acompanhava, cebimento e rejeição particulares. .configurabilidade de um projeto e artífices, dar àquela institUição
em todos os demais patamares da que os grandes sistemas ideológi- na sua afirmação, como centro todo o caráter simbólico de uma
vida social, as mudanças qualita- cos contemporâneos apresentariam prospectivo e íntegro, das múltiplas efetiva evicção daquele ator da in-
tivas resultantes da ruptura do para a "intellígentzia" latino-ame- conexões de interêsse de uma cole- teligêriciã- óra.sileira emergente da
antigo padrão econômico e da sua ricana. Fica ainda fora do qua- tividade que passa a se afirmar própria memória social do pais.
substituição por t~m sistema cres- dro o contra-influxo de tais rece- .como centro de suas decisões. A
centemente industrial e voltado bimentos sôbre a produção externa compatibilidade de tal projeto as- Configurou-se, assim, o desempe-
para o próprio mercado interno ao sistema diretamente enfocado. .segurava, potencialmente, a ~sono­ nho de uma "intelligentzia" deter-
imF.dia to do país. Vigente a experiência do desenvol- mia das representações em termos minada por um mom,~nto trófico
Assume o trabalho a perspectiva vimento espontâneo, procura o tra- nacionais daquelas mesmas cone- ou canônico da muda,nça. A defj-
de que naquela etapa canônica é balho mostrar de que forma, do xões e das reivindicações de todos nição dos diversos conteúdos con.
pcssível designar como um siste- primeiro ponto de vista, ou seja,. os grupos e classes vinculados à cretos em qu~ se verteu êste re:-
ma secundário constelado, os flu- do extremo subjetivo, o padrão do mudança: não transcendia esta ao pertório latente se fêz dentro do
xo;> e condicionamentos que carac- recebimento das ideologias exter- .quadro em que emergia. Tais ca- objetivo de suscitar um paradig7
terizavam a inserçao do pais en- nas vai-se caracterizar pelo~ fenô- racterísticas vão-se modificar so- ma para confrontá-lo com a etapa
tregue ao esfôrço de autodetermi- menos do idiomatismo; da assin- bremodo - como se verá na ter- subseqüente. Em síntese, verificar
nação a todo o seu circuito de de- cronía; do operacionalismo. Tais ceira parte do trabalho - na etapa qual o desempenho .da "intelligent-
pendências externas. Nessa etapa, características tendem a r~gredir .subseqüente em que tenderá a zia" quando se perde aquêle mo-
e só neia, poder-se-ia de fato, para na etapa posterior, ae colapso da dominar a prospectiva da produção mento canônico; quando se entra
caracterizar o comportamento da mudança espontânea; ~deológica ®.qui para o fim do
no padrão ~e ip.ércia supra-aludi-
"intelligentzia", considerar o con- b) o extremo objetivo, caracte- .século. o estabelecimento, entre-: do e que caracteriza cada vez mais,
junto de fluxos externos ao siste- rizado pelos condicionamentos que tanto, das conexões da etapa ca- hoje ,o futuro ilnediato da Améri-
ma nacional imediato, como deter- advirão à estrutura que serve de nônica permitiriam a proposição, ca Latina. Vale dizer, quando aquê-
minações vindas do "contexto", ou por inferência, d~ diver~~ corre- le atar é ·condicionado por um qua-
suporte imediato à produção ideo-. dro já de pa~alisia da mudança eco-
seja, das resistências do "não en- lógica em tela, pelo seu grau de lações que devenam defmrr essa
dógeno", que depararia aquela es- nova conduta consoante as modifi- nômica, vindo de par com o retro-
dependência de outras correlações
pecialíssima articulação da vida econômicas e sociais; pela sua in- -cações ocorridas entre a perda do
A
cesso franco e anterior das mani-
social dos países da Amé,.-ica Lati- serção em sistemas mais vastos. desenvolvimento espontâneo e a festaÇões paralelas de criação de
na em que brotou o espontaneis- Neste plario intercorrem, por exem- possibilidade de autonomização do um sistema funcional de vida cole-
mo do:t mudança no após-guerra de plo, na dimensão econômica do de- plano da reflexão no . processo de tiva, ocorrida nos outros patama-
46. É possível reconhecer as deter- mudança. res do complexo social. Como já
senvolvimento, os problemas da. mencionado, tal conjuntura se
minantes, pois, do contexto, em integr~ção; os ajustes de escala,
dois tipos de influxo, ou de extra- a formação dos novos agregados 1I. Prospectiva ·atual da comp&rta- · anuncia com o desligamento ou a
mos de condicionamento: do ·compiexo produtor, a partir de mento da "intelligentzia!' na ruptura ão estrato mais sensível
América Latina do panorama de mudança, na tran-
a) o Extremo subjetivo, carac- decisões qualitativamente distin- . '
sição; ou seja, o da reflexão. Neste
terizado pelo grau de influxo di- tas das anteriores, eín têrmos de Em seguida à perda do mom~n­ sentido, a se querer fazer o estudo
reta em que as ideologias vigentes "capital ratio". É em função des-
nos centros dos sistemas a que se sas perspectivas que podem pare.: to canônico dos anos 50, e à crise prospectivo da ação da "intelligent-
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zia", na América Latina, daqui pa- cional por um regime de "elite de mobilidade social, com o inevitável tecnocracia, corporificada na sua
ra o fim do século, há que .estabe- poder" mista, ou simplesmente mi- amortecimento, pois, do papel de- cabeça militar, e a hierarquia da
lecer as conotações que vai apre- litar, com crescente homogeneida- sempenhado pelo espontaneismo Igreja Católica. A tradição de
sentar, já dentro dêste nôvo pa- de ideológica (caso limite, o da da reivindicação dos grupos e clas- oficialismo desta última, não esti-
drão social. Analisar o seu efeito Escola Superior de Guerra durante ses envolvidas na mudança. Tal vesse, já, atingida pelo influxo ex-
respectivamente sôbre: o castelisrno no Brasil, em 64) e regime se traduzirá na substitui- terno resultante do "aggiornamen-
a) o exercício da consciência assuncão do divórcio entre a even- ção das "comunidades intermé- to" do Vaticano II, seria hoje repu-
crítica na mudança; tual 1nudança no plano econômico dias", constituídas, em largo sen- tada por êste papel de porta-voz das
b) a produção de ideologia; - e o retrocesso do plano político en- tido, pelos movimentos sindicais, formações stndicais, reprimidas ou
c) a produção de símbolos so- tendido como um padrão de des- em favor da organização munifi- anuladas no sistema de "elite de
ciais; centralização, difusão das decisões, cente do aparelho assistencial, que poder" . -Assistirá, esse período, ao
d) a formação de vanguarda, participação crescente da coletivi- se possa desdobrar dentro da: ,~la­ ganho, pela Igreja, de um caráter
no efeito de radiação e propagação dade na sua formação e implemen- nificação e a partir da sua politica misto nesta função vicãria que pas-
da ação das "intelligentziàs"; tação.4 Tal regime supera, inclusi- de redução de tensões sociais. E sou a assumir, a partir da institui-
e) a instituícionalizaão objetiva ve formalmente, por suas novas isto, pois, sempre dentro dos níveis ção de regimes políticos de mobi-
da função da "intelligentzia", nos constituições, o modêlo democráti- tolerávei's pelo modêlo econômico, lidade contida e de eliminação das
quadros do aparelho de poder. c<M'epresentativo tradicional ao, da contenção ao relaxamento da comunidades intermédias para ex-
Há, pois, que verificar como em respectivamente: mobilidade . Propiciará assim, êste pressão dos interêsses e aspirações
todos êstes aspectos reagirá a "in- 1) romper o sistema de freios padrão, tôdas as formas vicárias, da infra-estrutura social. Com efi-
telligentzia" - e portanto a pro- e contrapêsos, outorgando ou destorcidas, de reivindicação, to, a ação da Igreja, numa primei-
dução de ideologias - diante de nítida asc:endência a'1 Exe- em que, diante da hiper-arganiza- ra etapa, térá o papel de "legiti-
regimes contidos de mudança ca- cutivo; ção da "elite de poder", ganharão mar" a reivindicação social ainda
racterizados respectivamente: 2) coibir a descentralização do relêvo as outras organizações não suscetível de ser canalizada para
a) pela aceitação de programas processo d€cisório (ou seja, subsumiveis ao aparelho de Esta· "dentro da situaçã'o";
neocapitalistas, como modelos de da "difusão" do poder), eli- do e, pois, de configuração social
desenvolvimento enfatisando o re- d) não poderá fugir a personi-
minando os sistemas fede- independente, neste contexto. No
lance do processo a partir da con- rativos remanescentes, e ins- caso da América Latina, e tendo-se ficar o "pólo" do repto a esta mes-
servação de sua eqüação tradicio- tituindo, pelo contrôle dos em vista especialmente a debili- ma situação, no jôgo de confronta-
nal em têrmos de "capital ratio" e aparelhos dr segurança e da dade tradicional da Sociedade face ções, que poderá eventualmente se
de níveis de absorção da economia perfórmance fiscal das uni- ao Estado, evidenciada especial- seguir ao colapso do processo de
de subsistência pela de mercado. dades federais, um regime mente pelas características histó-
Numa palavra, recorrendo à re- de centralismo autoritário mudança contida e, pois, de sur-
ricas de suas formações sindicais, gimento de uma condição flagran-
cuperação de suas taxas de pou- expresso, sobretudo, pela he- aquêle papel remanescente fica,
pança ,ou de incremento da produ- gemonia da planificação; nesta nova etapa, quase que exclu- temente maltusiana para o deve-
tividade, pelo recurso ao capital 3) eliminar tôda preocupação sivamente em mãos da Igreja. nir dêstes países .
externo, a preço de tôda reordena- de legitimidade formal, ao Numa palavra, está hoje implícita,
ção dos "trends" do período espon- A análise do impacto do para-
coibir os institutos do voto latente, na dinâmica dos regimes
taneísta dos anos 50, inclusive ao direto, na composição do es- digma assim caracterizado, nas
de "elite de poder" 6 -e modulada
ponto de reabrir a tese da confi- trato governante; pelas suas chances de relançar o suas determinantes econômicas,
guralidade nacional dêste projeto; c) pela admissão, ao lado do re- desenvolvimento econômico - a políticas e sociais, sôbre as várias
b) pela assunção da decisão na- trocesso político,5 da limitação da confrontação necessária entre a componentes da conduta da "intel-

Veja-se, do mesmo autor, "Sistemas Políticos e Modelos de Poder no Bra-


-1.
6 Na extraordinária expansão atual dos trabalhos relativos ao nôvo "role" da
sil" in Dados 1, Rio, dezembro de 1966 e "Govêmo de Castelo Branco Para- Igreja, no desenvolvimento da América Latina, consultar, entre ~utros,
digma e Prognose", Dados 2-3, Rio, 1967. ' Houtart, "A Igreja Latino-Americana na Hora do Concilio", Feres-Friburgo,
5 Veja-se Hel19 J~gparibe, "Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento 1962, L~~berger & Canitrot, "Igreja, Intelectuais e Camponeses", IlNSORA
Político", Fundo de Cultura, Rio, 1962, e especialmente a sua reedição "EcO- Santiago do Chile, 1967. "Cathollclsm and Development, The Catholle Left
nomic & Politicai Development - 'I'heoretical Approach & a Brazilian Case ln Brazil", de Thomas Banders, ln Chuches a.nd States, Editado por Kal-
Study"; Harvard Unlversity ~ess, Cambridge, Massachussets, 1968. man Sllvert, Ameriean Universities Field Staff, New York, 1967.
102 103
llgentzia" ,7 permitirá a definição riscp, a função crítica se afirma a e o conteúdo de uma conduta ideo- Não causará assim espécie a
dos atributos de seu comportamen- partir da experiência do apuro, ou lógica. No caso, o projeto é que dificuldade de formulação d-as al-
to, neste período que ora se inicia, do deperec1mento dêste mesmo .configura as condições de viabili- ternativas às situações de desen-
cem características de um efetlvo projeto. 1!:, com efeito, só a partir dade do real: o momento objetivo volvimento e seu colapso em tôda
regime fadado a se transformar da sua intencionalidade, que se só se exerce de fato - só ganha a América Latina. E tal poderá ser
m~m modêlo pclítico dominante, organiza o "real concreto", na es- realidade - a modo de "reenvio" atribuído à falta de atendimento
daqui para o fim do século, no pecífica situação dêsses países, e sôbre a intencionalidade operante. aos princípios que premiam a
quadro de transição da América tão só, pois, "de dentro destas si- Donde, pois, só poder ser percebido verdadeira demarche dialética, no
Latina . tuações" que se pode exercer a a partir d-e uma intencionalidade exercido da função critica, pedida
função das "intelligentzias", ou a 4
'em situação" . E não, pois, como à "intelligentzia" e por: ela sõmen-_
Quadro imediato do impacto: possibilidade de transcenderem, de .. resistência", mas como pré-con- te realizável ao viver, lance por
a exasperação da junção crítica forma dialética, o seu contexto dicionante daquela mesma inten- lance, o deperecimento do projeto.
imedato. Há que atentar, sempre, cionalidade. Donde não existir Vale dizer que, se na etapa do de-
No quadro em tela, o principal a que tal realidade constitutiva- "realidade" fora da dimensão prOS- senvolvimento espontâneo, a refe-
efeito da ruptura do processo de mente "prospectiva", dependendo pectiva nos países subdesenvolvi- rência obrigatória à sitUação não
reflexão será a perda da determi- da violentação contínua da inér- dos e ao mesmo tempo, não existir confinava necessàriamente o cam-
nação praxística da "consciência cia dos comportamentos sociais e ' "não perspectivau.u
projeto ..:.~~" em po de formulação de alternativas,
crítica". Desaparece, com efeito, econômicos, só se afirma plena- tais contextos. Donde a completa tal não se verifica no caso oposto.
o pressuposto da viabilidade do mente num enlace como que em modificação que o contexto do de- Numa palavra, atua, na hipótese,
projeto nacional que assegurava "sustenido", entre a intencione I- senvolvimento impõe à conduta um mecanismo de causação cumu-
sempre a uma "intelligentzia" que dade e seus efeitos objetivos. Dá. . normal das ideologias e ao "corpo lativa necessàriamente agenciável
atuasse, de dentro da mudança, se, pois, no constitutivo íntimo dês- .a corpo" tradicional ~e ~eu enga_;;te pelo projeto de mudança. Se, no
a critica, necessàriamente, como te real concreto, distensão muito com a realidade obJetiva. Da1 o caso de seu êxito, o projeto só
"autocrítica". Isto é, como um particular, não entre os dois têr- 4
'canon" típico que impõe a formu- faz caucionar paradigma sôbre o
exercício de juízos de valor que mos de uma "praxis" - isto é, lação das contradições neste con- potencial de transformação da rea-
supunha, latentemente, a reorde- o seu momento ideal e o objetivo texto e ao caminho em que con- lidade, a partir do qual se reorde-
nação dos agentes. a correção de - mas nas condições de referên- dicionam as oportunidades de su- narão todos os outros fatôres de
suas falhas, no quadro de metas cia da intencionalidade do seu con- peração de uma "situação". Den- mudança, o reverso envolve tam-
amplas e de uma ordenação geral texto. Referimo-nos ao aspecto de tro de tal ótica é fácil compreen- bém uma reinversão de condicio-
do processo, que permaneciam ln- "sustenido" dêste iôgo de polarida- der-se a perda de substância e de namentos: a viabilidade, ainda;
tocados. Mais do que isto, a de, pa medida em que o momento validade do comportamento, por da mudança, se encompassa rigo-
"praxis", validada, amarrava a "in- subjetivo deslisa para o lugar do exemplo das oposições ao statu.s- rosamente à do estreitamento do
telligentzia", pela sua crítica, à objetivo, e êste só pode assim atuar ·quo qu~ façam do constitutivo de projeto; a sua despotenciação se-
"situação". Poderia, por aí, experi- sob o diapasão do primeiro, modi- sua conduta, no campo ideológico, ria a única regra a ficar na expe-
mentar tôda a riqueza de- exposi- ficando o registro, mas não efeti- o mero revíde das proposições da riência das tensões concretas, a
ção ao real concreto nas suas es- vamente o "quid" da sua ação. ·
(/1 situação; a r~g_~o .~Jl~,f. das estabelecer o jôgo das oportunida-
pecíficas tensões históricas. 1'en- premissas do " - status~qidl: · Da des do desenvolvimento, de sua
sõe~ que darão ao marco válido
para a própria superação da pre-
Numa palavra, cria-se conotação
muito específica para o problema \. mesma maneira que O' 1'real con- reordenação diante dos potenciais
creto", nesta circunstânçia, é, em desperdiçados, ou, dentro da regra
missa maior do projeto. Vale di- da vigência do real concreto nestes demasia, intencionalidade perspec . . da causação cumulativa, somente
contextos. Verifica-se, no caso, a
zer que, nessas específicas conjun- tivada, o seu eurso não passa por capazes de influenciar o plano de-
turas de transição, apoiadas na sua predeterminação por uma in- cisivo da ação a partir de certos
afirmação de um projeto e de seu versão de papéis entre o suporte um itinerl\rio de exasperação de limites de fundação do projeto, ou
pureza de seu momento subjetivo: de sua ruína. Em síntese, no mo-
de uma oposição apoiada tão só mento crítico da paralisia do de-
7 Sôbre o tema, ainda, da "intelligentzia", ver Lipset, "Politicai Man; The
Social Bases of Politics", 3.a parte, capitulo IX, "Intellectuals vs. and In- no rigor de suas premissas lógicas senvolvimento espontâneo, e do
telligentzia", A Doubleday Anchor Books, N. Y. 1963. E Daniel Bell, "The e na descontaminação ampla com comêço da regressão, a realidade
End of Ideology: on the Exhaustion of Politicai Ideas in the Fifties"; New
Revised Edition, N. Y., 1961. o status-quo. dos países subdesenvolvidos se

104 lOS
identifica com o consêrto, estrito caminho da vigência. E incidiram a) de um estudantado8 cortado e profissional liberal que, de fato,
e sêco, das medidas basilares de em tal percalço por terem se afas- por urna condição contraditória, criara a primeira "intelligentzia''
uma estratégia de relance do de- tado do efetivo exercício da função. qual seja, a de: do desenvolvimento, nos anos 50.
senvolvimento, para o seu êxito, crítica que lhes imporia, à custa 1) pela própria rigidez do sis- Não há, só, a registrar a criação,.
ou o seu colapso. Dentro destas de vencerem um trauma emocional tema educacional do regime pela primeira vez no Continente,
linhas de fôrça, são mais uma vez explicável, a formulação válida das colonial, representar uma de uma marginalização continuada
tão só à situação e a referência ao antíteses à situação pelo acompa- parcela ínfima da coletivi- dêstes primeiros protagonistas d()
contexto que impõem os padrões nhamento e vivência do projeto. dade (menos de 1%) que seu processo de reflexão, ou do
do viável. O que equivale a dizer efetivamente consegue ven- hiato que abrem no processo gera-
anterior, pela permanência de uma cional, de formação de idéias no.
que se ampliam de muito as limi- atitude de continuidade histórica cer a enorme pirâmide sele-
tações ao exercício da normativi- tiva dos cursos secundários; quadro dos países mais complexos-
com o dado do real concreto nacio- por aí inclusive não espelha da América Latina. Importante é
dade pura, ou do desatamento da nal, e não de sua rejeição sumária
conduta ideológica. Manifestam-se a amostragem de vários es- salientar a dificuldade do reenlace
regras do ,jôgo altamente estritas ou da sua colocação psicologística tratos sociais, mas tende a desta produção que forceja por le-
para que se mantenha, nessas pO- apenas como "intermezzo" diante compor estrato ainda bas- var adiante o seu papel, de ma-
sições de estreitamento do futuro, das predisposições fundas, ou do. tante homogêneo de seu neira clandestina. Protagonizam
a "praxis" efetiva, através da qual constitutivo verdadeiro da situa- complexo social; por aí ao "emigrado", no lugar d()
os conteúdos ideológicos possam ção nacional. 2) tender, fora os casos clás- membro da "in telligentzia". E tan-
ganhar, autênticamente, vigência, sicos de distorsão, a trans- to no quadro do regime de elite
Não se trata só de reconhecer de formar o seu privilégio na de poder se exacerbe a dogmati--
num processo como o hoje atraves- que maneira, com esta medida,
sado pelos países subdesenvolvidos. produção do fator econô- zação do projeto nacional e a eli-
eliminou-se o corte critico que da- mico mais escasso para uma minação de suas alternativas, tan-
Numa palavra, o exercício des- ria efetiva complementaridade en- política de desenvolvimento, to se apurará a intolerância com
sas "intelligentzias" não se acomo- ou seja, o "know how", go- a inteligência dissidente. Nesta
da com o desempenho de grupos tre tese e antítese; entre situação
zam, por aí, mais do que mesma medida, pois, tenderá a se
sociais "impunes". Ou seja, que e oposição; entre conteúdo do ''pro- qualquer outro grupo, da expandir a corrente dos emigrados,
afirmem a pretensão à mudança jeto" e do contraprojeio. No lo- possibilidade de uma in- correlata ao sucesso dos regimes
por fora de demarche da viabili- cal de uma "intelligetnzia", neste serção caracteristicamente de elite de poder, com a conse-
dade, ou. da agonia do projeto na- sentido, e com o perecimento da "conservadora" no meio em qüente tentativa de levar adiante
cional. Da mesma maneira que a que vai atuar; o processo de reflexão, de fora dó
função crítica, substituiu-a a opo- contexto em que se desfecha a
vigência de conteúdos ideológicos b) de uma intelectualidade exi-
nesse contexto, suspenso num pro- sição como afirmação pura de um lada: a consolidação dos regimes rnuda:_nça. A produção ideológica,
jeto, depende estritamente de um antagonismo que não se corpori- de ente de poder veio apresentar pois, dà América Latina, neste pe-
pragma, as posições normativas fica na de uma proposição lógica característica inédita na América río.do, tenderá a sofrer o influxo-
puras. os conteúdos de negação su- de sua pretensão a reordenar esta Latina, ou seja, a da troca da an- desta corrente "clandestina", in-
mária, não podem pretender se tiga evicção ae inimigos pessoais tercorrendo no processo, interpre--
realidade histórica-social em for- das situações pela de estratos ideo- tações, palavras de ordem e inten-
deslocar de um papel incoativo,
mação. Não se verifica, entretanto, lógtcos inteiros. Tal conduta 1m- tos de mobilização de grupos mar-
que caracteriza sempre a ala radi-
cal das mudanças, para o próprio apenas a evicção funcional da "in.. plicou, inclusive, como nos casos ginalizados e, por aí, prisioneiros
centro dêste processo. O grande telligentzia"; objetivamente a prO-- brasileiro e argentino, no esvazia- da tensão concreta e da visão das
risco, neste prisma, do comporta- mento da liderança universitária contradições do momento em que
dução exasperada do mero papel se desligaram da situação nacio-
mento das "oposições" dos atuais mais expressiva, sem falar na da
de antagonista que lhe sucede,. antiga vanguarda sindical, militar nal. Vale dizer que, neste sentido,
regimes de "elite de poder", na vê-se envolvida, quanto aos supor-
América Latina, é o de pagarem o
tributo, nas situações de relance da tes sociológicos dêstes novos atô- 8 Sôbre a análise do comportamento estudantil, consultar especialmente-
mudança, à substituição sumária res, numa condição fatal de alie- Edgar Morin, "Os movimentos Estudantis de 1968", notas e pesquisas mi-
nação, enquanto respectivamente meografadas, Seminário de Lugano, maio de 1968. Ou ainda Seymour Linset
e apriorística de modelos, desli- & Sheldon Wolin, in Student Revolt, Doubleday Anchor Original, New York.
gada da senda de viabilidade, do é formada: 1965.

106 107
é de se esperar • grande incremen- testo dos "Narodniks", sem, entre- cional dependerá da compatibiliza- as oportunidades da fase espontâ-
to dos conteúdos de "radicaliza.. tanto, incidir na fecundidade do ção relativa dêstes mesmos prota- nea ,tornaria inviável, em têrmos
ção" e "milenarismo" na represen- legítimo comportamento utópico. gonistas 10. Perde ela tôda signifi- de tempo útil, o lento e vasto es-
tação da realidade social da Amé- Ou seja, naquele em que o com- cação quando o projeto se subsu- fôrço de condução ào processo, a
rica Latina e de suas perspetivas promisso do homem social no qua- me de um modêlo, e êste decorre partir da mobilização das perife-
de mudança na formulação ideo- dro da mudança representa uma de uma adesão direta de uma elite rias; do esclarecimento e proble-
lógica, daqui para o fim do século; caução e um apressamento da desguarnecida de qualquer preo- matização de todos os protagonis-
c) de um estrato religioso utó- "nova ordem" decorrente de fato cupação de legitimar a sua hege- tas do processo. Num ou outro ex-
pico, isto é, de todo o grupamento de um processo "revoludionário": monia, ou estabelecer-se a auto- tremo do quadro político se impo-
religioso condicionado, como já Isto é, de uma mudança trófica adesão da coletividade ao seu pro- ria, em conseqüência ,o regime de
dito, à reivindicação vicária das de estruturas sociais. No caso das grama. Especialmente quando, "elite de poder" . O centralismo
comunidades intermédias e, pela situações de desenvolvimento abor- como hoje, surge para tôdas as autoritário, independentemente do
sua situação de desengaste social, tado, a impersonificação dêste ra- elites de poder na América Latina, modêlo que emprestasse ao pro-
tendente a assunção simples de dicalismo, entretanto, não se in- os novos detentores do centro de grama de desenvolvimento - nea-
uma perspectiva utópica, caracte- flete segundo as linhas de fôrça decisão já radicam de um grupo capitalista ou neo-socialista - se
rística do "revolucionarismo so- de uma mudança latente. Pode ideologicamente homogêneo, com imporia de regra. E tornaria "rea-
cial". Ou noutras palavras, pelo campear, a esmo, e sem foco, nu- as eleições de modêlo e de progra- cionária" a reivindicação democrá-
seu descompromisso com as ten- ma permanente encampação de ma de govêrno como que já, "built tica clássica no quadro de uma
sões concretas da reivindicação e tôda reivindicação da mobilidade in", no contexto daquela mesma recuperação do simultaneísmo do
sua viabilidade transformam-se nos social reprimida, sem contudo cola- homogeneidade. Dentro desta he- processo político e econômico da
protagonistas inevitáveis do "ra- borar para adequá-la ao nervo gemonia do modêlo, tôda apoiada mudança.
dicalismo da generosidade".9 Avi- efetivo das contradições do pro- na eficácia de sua perfórmance, e
ventados pelo "aggiornamento" do cesso, ou da legítima atuação da hão de sua representação ou sim- Desuso dos símbolos
Vaticano II, êstes estratos do Clero função crítica, no plano da mu- bologia, desaparece necessàriamen-
logram fazer do seu descompro- dança social. te o comportamento ideológico. A Não se trataria, apenas, de re-
misso sociológico o verso de uma desnecessidade da ide-ologia não re- cbnhecer a desnecessidade, nestes
atitude de compromisso, no sentido A eliminação da produção flete apenas a superação do espon. regimes, de compatibilização ou re-
da participação conduzida por ideológica taneismo da mobilidade social nos dução dos dissensos, ou da criação
uma visão abstrata dos valôres hu- processos de desenvolvimento con- de um projeto nacional pelos tron-
manos, desligados do seu contexto · Noutro registro, há que salien- tido, depois da promoção imedita, cos comuns que apresentassem as
concreto. E sempre susceptíveis tar a contradição que estabelecem através de cada ator, de · sua rei- conexões de interêsses das várias
de serem reivindicados pela media- os regimes de elite de poder com vindicação social. Ela é o sinal classes convocadas ao esfôrço de
ção do testemunho e da solidarie- a necessidade social de produção da perda de vigência do padrão desenvolvimento. Os regimes de
dade, independentemente da sua de .ideologia. Na verdade, como já elite de poder não só tornam pres-
formulação conceituai, ou da sua adiantado, a ideologia se torna cru- democrático clássico para essa
etapa da mudança social no Con- cindíveis as funções de compatibi-
exaustão dialética. Neste quadro cial no processo de mudança en- lização na conexão de interêsses da
-o específico papel desta perspectiv~ quanto êste se assenta nu~ es- tinente. Ou seja, o da perda de
vigência do produto democrático infra-estrutura social. A primeira
do ~lero no Terceiro Mundo e, es- fôrço de auto-esclarecimento e vista compensariam a desnecessi~
pecialmente, na América Latina num eventual empenho de motiva- clássico para essa etapa do desen-
volvimento contido11• O atraso com- dade da ideologia, ao dar ênfase
.se aproxima extremamente d~ , ç~o dos. grupos e classes protago- sôbre os procedimentos formado-
e~a:pa ~o~ .P~dres Gapons dos es- mstas diretos da superação da es-
parativo em que ora se colocaria a
América Latina depois de perdidas res do consenso. E isto dando va-.
~gios IIDCiaiS da revolução sovié- trutura colonial. Faz-se mister a
tica: acentuam a tradição de pro- ideologia enquanto o projeto na-
10 Veja-se James N . Rosenau, "Compatibility, Consensus, and an Emerging
Politicai Science of Adaptation", The Amerlean Politiea.l Science Review.
9 ~ô~f~ o ~pe! ~a Igre~a na:"Intelligentzia" da. América. Latina, veja-se Ivan vol. LXI, dezembro de 1967, n.0 4.
a .1er, Religious Elites lll1 La1tin AJnerim; OllithoiJI.cism Leadership and
Social ~~n&:e" (m.imeografado, documento apresentado 'no Seminário de 11 Veja-se r.owell Field, "Comparative Politicai Development", Cornell Univer-
Mtondt:evldeu •. JUnho de 19~5, sob os auspícios do rnstitute of Intemational slty Press, 1967, especialmente o Capitulo IV, "Stability and Change" in
8 u 1es, Uruversity of Cahfomia). Politicai Regimes - A Tbeory.
108 109
state" (mais do que do antigo pa- b) dessolidarização do sala ria-
~ão a particip ação popula r direta ção social. Obrigad o a marcha r ternalis mo), que não deixa de su~ do do setor público da econom ia
num tipo de projeto históric o co- para a política do consens o e do por o jôgo das arregim entaçõe s so- naciona l levado, pelo modêlo neo-
mo o do desenvolvimento, inclu- símbõlo, interdit ava-se tal passo ciais, a indução necessá ria do com- capitali sta, a emular na sua ope-
sive ainda agora numa fase de seu adiante , pe1a perspec tiva em que portam ento compla cente do centro ração o setor privado e, portant o,
relance racionalizado. Seria êste o já caía prision eira desta mesma de poder. Dentro de tal quadro , a estabele cer, em condições de
campo ideal para tôda a drama- raciona lidade. Daquel a que tra- general izar-se- la uma perspec tiva atendim ento, para as lutas da ela~
turgia que, desliga da daquela s co- vada nesta ida adiante , mantin ha- de entorpe cimento da ação operá~ se operári a, padrões de atendim en-
nexões de infra-e strutura , já pro- se no simples culto da perfórm an- ria, no âmbito da reivind icação ~ to às suas reivindicações num es-
curasse trabalh ar sôbre a adesão ce e trocava a produç ão do consen- cial dos regimes de elite de poder, tilo, e numa condiçã o de bargan ha_
direta e engloba nte ao projeto "ma- so pela assunçã o "heróic a" da e tenden te a ser diretam ente pro- inteiram ente distinta da do anti-
ximaliz ado", e dotado de coerênc ia "ética da impopu laridad e". porcion al à sua particip ação nos go proleta riado estatutá rio. Mais
autôno ma a partir das decisões tec- A paralis ia das vangua rdas nódulos, ou nas áreas eleitas para o padrão de perfórm ance do setor
nocráti cas. Acontece, entreta nto, o relance do desenvolvimento; nas público se incline pelo modêlo ca-
que os atuais regimes de poder No quadro dos regimes de elite
de poder, como já dito, o padrão regiões e setores compag inados pe- pitalist a, e êste assegur e a sua
vêm-se caracte rizando por uma los padrões de produti vidade resul- rentabi lidade, mais a luta prole-
absolut a falta de recurso à simbo- de mobilidade contida , por si mes-
~o, atenua e elimina a organiz a- tante da nova concen tração e re- tária, pelas própria s exigênc ias do
1ogia da política do consenso a que ordena ção dos mercad os do país. seu imediat ismo e sentido prag-
estão estrutu ralmen te fadados. çao da reivind icação a partir de
sua coalescêricia espontâ nea, por- Como conseqü ência das altera~ mático, se confirm ará no âmbito
Radica ria a incongr uência que con~ específico nodula r em que a sua
trasta, por exemplo, as atuais tec- tada pelas organizações de classe; ções da escala que deverão se pro-
pelos sindica tos. Não só há a en- duzir diante de tal padrão , avolu- melhor ia, dentro do padrão, nôvo
nocraci as da Améric a Latian dos fa tisar a perda de signific ação dês- e isolado em que atua (isto é, o
regimes clássicos que abolira m a mar-se-la ainda, objetiv amente . a
tes últimos no processo de "irradia - segrega ção dos grupos salariai s in- nôvo regime da emprês a pública
particip ação, pela mediaç ão ideo- ção normal das "intelli gentzia s" ,12 no quadro neocap italista ) indepen -
lógica, daquela caracte rística ho- seridos nestas novas unidade s, e
mas sobretu do da base essenci al particip antes, cada vez mais, do ci- derá de uma formula ção naciona l
mogene idade que definiu a tecno- desta articula ção, represe ntada pe- de reinvid icação e das ideologias
·cracia Casteli sta, ou a do Genera l clo interno da repartiç ão de seus
lo salariad o urbano . Nesta dimen- benefícios e vantage ns; numa pa- que a portem .
Ongani a. Ou seja, esta identid a- são atua sobretu do o padrão de
de resulta nte da aceitaç ão das lavra, das tensões da área eleita, Se, no extrem o do salariad o ur-
clien~elização já referido, que co- de dinami smo contido , mais do que bano, é o padrão de mobilid ade
mesma s . premiss as dogmát icas no loca este grupo no centro das pO- de uma formula ção naciona l das contida que vai segrega r o opera-
encarar a realidad e de seus paí- líticas antícícl icas de correçã o dos riado da vangua rda social, é o da
ses levou-os a fazer do culto à ra- contrad ições e das reivindicações
desempregos, a partir dos chama- de tôdas as fôrças e grupos envol- anomia que irá apartá- lo do cam-
-cionalidade o próprio conteúd o dos investim entos sociais; das re- vidos no período de esponta.neís- pesinato.13 Na verdade , pelos jogos
ideológico de sua posição, como distribu ições localizadas da renda mo dos anos 50. Neste sentido . ve- de compor tas entre a econom ia da
grupo, e a domina nte da perspec- naciona l, com nítida preferê ncia rificara m-se como que: substân cia e a de mercad o, a con-
tiva sôbre o processo polêmico que dos reajuste s dêste salariad o sôbre, tínua inserçã o e devoluç ão da re-
hoje control am. Vale dizer, ao por exemplo, as classes médias (ex- serva de mão-de-obra agrária se
mesmo tempo a raciona lidade res- a) a segrega ção dos setores ten-
presso pela aplicaÇão dos mecani s- dentes a se compo rtar dentro das faz à margem de qualqu er arti- .(
-Sumava como padrão unifica dor mos de correçã o monetá ria, ou de reg!·as do jôgo do plano privado culação social. Inexist e, no caso,
daquel a homoge neidade (que já vi- ~efesa seletiva dos padrões aquisi- qualqu er poder de bargan ha cole-
destas econom ias cujo dinami smo
nha como dado prévio à formula - tivos no quadro do desenvolvimen- hoje depend eria cada vez mais de tiva que possa, dando condições de
ção históric a dêste grupo), como to neocap italista ); sôbre, princip al- sua integra ção num ciclo interna - ação àquele campes inato, tomá-lo
por outro lado se transfo rmava nu- mente, o relance , também contido , cional de investim entos e estraté- o suporte de uma ideologia. Não
ma ideologia, por si mesma esterl- dos sistema s de previdê ncia social gias de crescim ento; se trata só de registra r, por exem-
1izante de sua plena e ampla fun- já na base de um efetivo "welfar~
12 Veja-se Seligman, "Elite Recruitm ent and Politicai Deveiopment" e Edward 13 Veja-se Bonilla & Nichelena, "A Strategy for &esearc h on Social Policy",
of the New states"
Shil~ "The Intellect uals ln the Politicai Develop ment especial mente "The Venezue lan Campesino: Perspect ivas on Change" ,
M1T
NeV:
ln Finkle & Gable "Politica i Development and Social Change" ' Wiley' Press, 1967.
York, 1968.
111
110
pio, a absoluta facilidade com que aquisitivo de determinadas zonas pressão, de protesto interrompido, ·· tais de uma "visão da realidade
os regimes de "elite de poder" se da classe média, de rendimentos mais do que da possibilidade de em mudança, já transformados
implantaram no quadro rural dos fixos ou não protegidos pelos pro- efetiva institucionalização do pro- numa pedagogia, ou mesmo num
países subdesenvolvidos de organi- cessos, também seletivos, de cober- cesso de reflexão e seu ator - a catecismo da desalienação, e nos
zação mais complexa, como o Bra- tura do risco infla6onárlo, adian- "intelligentzia" - no processo de "slogans" necessários à sua ativa-
sil e a Argentina. Mas de aten- tado pelo padrão do neocapitalis- mudança social, hoje, ao alcance ção, passam a constituir uma prá-
tar a que, nas contrações da eco- mo. O resultado de tal processo do Continente. tica súbita e sistemática da "re-
nomia de mercado face à subsis- é o de poder aquela classe média velação" da realidade e seu con-
tência, é ainda maior aquela ano- apresentar um padrão crescente de A desin stituctonalizaçáo da "in- t exto a todos os estratos da cole-
mia, que literalmente avanece a massificação, representado pela telligentzia" tividade. Inclusive partindo dos .
orgamzação das classes campesi- mobilização direta do individuo mais imersos no velho complexo,
nas do país. Se as possibilidades atingindo no seio daquela coleti: quais as populações rurais. Num
Aludiu-se acima ao "excesso de terceiro momento , por fim corre-
de alastramento da economia de vidade por aquêles desabamentos inser ção", no aparelho da socie- lato à aparição dos modelos neo-
mercado face aos enclaves da rei- internos e localizados de sua es- dade de mudança, a que podia
vindicação, o fenômeno oposto truturação social. Tal condição ser levada a "intelligentzia" no capitalistas e suas contrapartidas
não implicou em qualquer reação faz desta classe o protagonista nor- momento "canônico" da transição. políticas, a mobilização se desliga
organizada daquele grupamento. mal do protesto e das mobilizações Inclusive ao ponto, como se veri- do último elemento trófico, ou se-
Mais do que qualquer explicação genuinamente de massa, que pos- ficou no caso do ISEB, da absor- ja, de aceleração da mudança de
pela coerção seria o efeito consti- sam vir a desempenhar papel im- ção de seu papel crítico por um dentro de uma dada situação so-
tutivo da marginalidade daquele portante no processo político da. desempenho assessoriaP4 A crise cial e, pois, da complacência do seu
excedente de mão-de-obra que atua- América Latina, daqui para o fim do espontaneísmo repercutiu, por sistema de poder. Ela se coloca em
ria aí, e especialmente quando o ao século. É êste o estrato social fôrça, na desfiguração dêste papel. contraste à organização social, e
seu fluxo se fizesse, do extremo que vem outorgando ressonância. E isto em vários graus. ~ possível seu monopólio da coerção: can-
de maior para o de menor dinamis- às manifestações dos "grupos im- acompanhar, do fim do per iodo cela, pràpriamente, a instância da
mo. E não haveria a esperar mu- punes" supra-aludidos. Ou sejam, Kubitscheck até o implante dos reflexão , para se concentrar, tôda,
danças ou reação neste "patern" o estudantado e a Igreja rejuvene- regimes de elite de poder, esta mu- na prática dos meios e das técni-
quando, a modo do nôvo modêlo cida. Mas hã que estabelecer esta. dança de desempenhos. Ela segue cas para o abate da conformação
de mobilidade contida, o eventual distinção entre esta forma de mo- a trajetória do desligamento do assumida pelo poder, ao se esta-
relngrel;lso daquela massa à econo- bilização e, propriamente, as das processo reflexo do plano da mu- bilizar êste último num regime de-.
mia de mercado se faça dentro das vanguardas clássicas, nas quais a dança direta, perdendo esta o seu tinido, após o colapso do esponta-
regras do jôgo de um sistema neo- função crítica e ideológica de uma aspeto trófico, já aludido. Numa neísmo dos anos 50.
capitalista estrito, com as suas "intelligentzia" se difunde pelas li- primeira etapa, ela deixa de apre- Dentro dêste quadro, a efetiva
exigências, já, de expansão regu- deranças de grupos e classes emer- sentar o aspecto de indução e reen- querela a ser produzida pelas "in-
lada e de incorporação seletiva e gente.s no complexo social. For- vio, por uma inteligência, das ten- teligentzias" se troca na estrita
de mão-de-obra. mações egressas de uma articula- sões da mudança, à formulação análise da logística do conflito a
Nas condições de arreglmenta- ção crescente de seus aparelhos ideológica que a acelere, pelo es- curto prazo, protraindo-se inclusi-
ção da classe média urbana vai- sindicais; da organização de sua clarecimentà' de seus protagonis- ve, e, mesmo, abandonando-se a
se manifestar co~ nitidez o pa- espontaneidade criadora e não de tas principais e localizados. A fun- discussão das alternativas e dos
drão da mobilidade contida e, con- uma desintegração, formações pois~ ção crítica, por aí, se trans:4lrma modelos substitutivos ao do curso
seqüentemente, das desintegrações distintas do encontro do papel rei- na "'conscientização". Vale dizer, tomado pela mudança, no Conti-
internas do seio da sociedade ur- vindicante pelo indivíduo "deses- no entender-se o processo reflexo, nente. É êste o quadro do opera-
bana que acarreta a redistribui- truturado" na vida social. O efei- não mais como aquêle reenvio In- cionalismo que cada vez mais
ção da "renda nacional" por es- to, por fôrça, desta articulação, é dicado, mas, já, fundamentalmen- transforma a polémica da mudan-
calões e compartimentos. A cria- a necessidade, para constituir-se, te, como uma "técnica de mobili- ça na estrita discussão das técni-
ção de um nôvo "welfare state" do levantamento dos grandes ce- zação". Os elementos fundamen- cas de "subversão", numa réplica
para o proletariado se confronta, nários de massa. E, pois, da li-
ou, mesmo, se contrapõe, em ten- mitação dos seus condicionamen- 14 Veja-se, quanto ao problema do intelectual tecnocrata Frédéric Bon Ml-
dência crescente, à perda do poder tos às condutas de contágio, de chel-Antoine Burnier, "Les Nouveaux Intellectuals", cujas, Bur, 1966. '

112 113
quase simétric a ao pragma das tido e a espontaneidade comunit á- mentais derivados daqueles siste- tre a realidad e e a sua represen-
metas, a oculto da perfórm ance e ria, na organiza ção do "exército do mas externos, consoan te se amplie, tação. Afasta-se ela cada vez mais
da planifica ção das situações em- povo", a polémica regressiva tende, ·OU se reduza, a mediaçã o daqueles da "praxis" , ou do reenvio entre
polgada s pelas "elites de poder". neste momento, a perquirição in- cânones já aludidos, do idiomatis- a consciência e a ação que indi-
Já se fêz referência ao condicio- teiramen te reduzida a uma dimen- mo; da assincro nia e da operacio- caria o engaste do processo de re-
namento que êste tipo de confor- são tática do operacionalismo: a flexão dentro da mudanç a objetl-
mação objetiva, hoje assumido pela análise das novas desinências ur- nalidade;
va experim entada pelas estrutur as
reflexão, nesta etapa da mudanç a, banas, da guerrilh a. O ponto úl- b} O objetivo, pelas alteraçõ es sociais totais da América Latina. '~
no Contine nte, impõe à recepção timo desta regressão reencon tra, que vénha a sofrer o próprio su- Seria possível reconhecer esta ten-
"invertid a", a praxis original con- '·
dos conteúdos externos das teses -porte naciona l de todo aquêle sis- dência nos seguinte s estilos que·
e debates que seguem a polémica sistiria em prover-se cada confron~ tema, em função das novas estra- apresen taria a produçã o ideológi-
dos grandes modelos em que se to com a "situaçã o "dentro de um tégias do desenvolvimento neoca- ca, caracter ística, hoje, superve-
pauta a sociedade contemp orânea. modêlo idiomático e fechado. Do pitalista : os problem as de econo- niente à crise do espontan eísmo
Todo processo, por exemplo, de seu próprio desfecho e das tensões mia de escala, de integraç ão, de dos anos 50, e tanto mais acusada
ruptura das esquerda s latino-ame- que acarrete , dependendo o passo reordena ção das fôrças produtiv as, quanto se extrema ssem os atribu-
ricanas, com a ortodoxia marxist a adiante. Fechar-se-ia, por aí, o to- a partir daquele modêlo e, inclu~ tos dos regimes de "elite de po-
clássica e neoclássica, cada vez picismo absoluto, em que a refle- ·sive, à custa da configuração na- der" ora vigorant e nas sociedades
mais resulta daquele operacionalis- xão se torna por completo prisio- cional do desenvolvimento . mais complexas da América La-
mo. :E': o seu condicionamento cres~ neira do evento e, definitivamente,
ancila de sua eclosão, e não con- Do primeiro dêstes aspetos hã tina .
cente que explica, progressivamen- -que sublinha r, respecti vamente : b) A Tevresen tação m i lenarista
te, o comport amento dos setores dutora das fôrças e grupos em co-
tejo no processo de mudanç a. a) O recrudes cimento do cará-
da mudanç a. Por fôrça, haveria de
radicais dentro desta variante po- se manifes tar uma contrap artida
lítica. E, portanto , a partir dêles, ter formalm ente utópico da pro-
IV dução i deológica. Vale dizer, a ar- à violênci a com que foram remo-
a configur ação de todo o leque de vidos, nos atuais regimes do Bra-
cismas que deve percorre r aquela ticulaçã o com a recepção externa os suportes so-
A prospec tiva da produçã o dos conteúdos ideológic os vai ex- sil e da Argentin a,
esquerd a para atender à sua exi- ciais de formaçã o de uma "intelli-
gência de ação imediata. No ca- ideológic a determin antes vindas perimen tar, diretame nte, o lmpac-
gentzia" : ela seria represen tada
minho ficaria não só a problema- do contexto to da ·ruptura entre o processo de formas de compensa-
·mudanç a objetivo das antigas so- pelas diversas
tlzação dos fins, como a institu- Ao lado da análise do Impacto ção e proj eção, pelas quais os prO'
cionalização permane nte, e a largo ciedades coloniais e o da reflexão
aduzido à produçã o ideológica a -concorrente, e, concomi tante, ca- tagonist as daquele papel social rea-
prazo, das técnicas - como a re- partir da específica conforma~ão ao afastam ento sumário do
volução cultural , por exemplo - Tacteristica das etapas cancnica s giram nacionai s, nu-
que deverá apresen tar a "intelli- {}o desenvolvimento. Aludiu-se aci- quadro das decisões
para conformarem-se aos compor- gentzia" na América Latina, numa ma situação inédita para as pre-
tamento s e as configurações tão 1na ao efeito que a perda desta sin-
visão prospectiva, cumprir ia adicio- daqueles países. É
só táticas daquele mesmo ativis- cronia acarreta va sôbre os condi- sentes gerações , detectar , no
nar as determinações que lhe ad- cicmamentos sociológicos da pro- possível, por exemplo
mo. Neste quadro se entende a vêm dos fluxos entre o sistema na- o, a larga paralisia
vicissitude percorri da pela temáti- dução ideológica. Faz-se mençã.o caso brasileir grande
cional e o conjunto de condicio- ao aparecimento, neste prisma, dos que caracter izou, durante
ca da OLAS. Não lhe bastaria dei- mentos externos em que se acham tado, período, a produçã o ideológi ca dês-
xar para trás todo o debate das grupos impuros - o estudan ime-
inseridos. Como já adiantad o é a Igreja "aggiorn ada", os núcleos te grupo removid o do contexto
variante s metropo litanas do socia- possível analisar esta determl~a­ exilados - que tenderia m a assu- diato, de onde poderia brotar a sua
lismo, na sua postura larga de mo- ção complem entar - ao lado das antigas "intelli- ação significa tiva. Haveria a ~alar
dêlo e de premissa teórica. Vem mir o papel das a violên-
componentes, já explicitadas, que gentzias", inserida s no processo. numa correlaç ão em quecorrespo
experim entando cada vez mais o definirão o condicionamento ime- cia do trauma inicial n-
confinam ento e a redução de am- Seria possível prever, neste senti-
diato daquela produç ão- a partir -do, que o recebim ento daquele con- deria às racional izações da inação,
plitude polémica a que lhe conduz de dois extremos· o mile-
a posição "operaci onalista de ba- teúdo externo se pautaria pelo clás- indicada s pelo alto conteúd a sua ati-
~ico estilo utópico acusand o o cur- narista que caracter izou
se". Mais do que à discussão es- a) O subjetivo , represen tado mesmos conteúd os as tude de e
r. ferência à realidad e na-
~o daqueles
sencial da precedência entre o par- pelo influxo direto dos conteúdos cional. Durante largo prazo a an-
linhas clássicas de um destaque en-
114 115
tiga "intelligentzia" formulou uma dica o caminho inverso ao da "alie- o caráter quiliástico dessas ma- ma, a "queima de etapas" vai-se
perspectiva nitidamente utópica e nação", a a tingir as agências de nifestações, no complemento que contrapor a tôda noção de "esca-
traumática daquela realidade, ca- produção ideológica afastadas do trazem ao milenarismo. Isto, em lada" ideológica que marcaria,
racterizada respectivamente: primeiro lugar, pelo aspecto de des- nestes contextos, a possibilidade
s~? ~onte:.xto -pelo conteúdo qui-
lzastzco 15 que se adiciona àquela
ligamento de qualquer logística ou de adequar o teor programático
viSao milenarista inicial. Neste dialética interna da situação, que viável dos projetas oponíveis ao
I) pela "iminência" do colap- teriam aquelas "irrupções". Dou- status-quo, pela linha que per-
so da nova situação, tendo- quadro ela inverte a seqüência tra-
dicional. A indicar uma tentati-va, tra parte, a viabilidade de tal des- mitisse sempre um somatório de
se em vista a gravidade de fêcho seria tôda creditada ao en- fôrças, um contraponto entre a
suas contradições e a falta de reinserção daquelas "inteliigent-
zias" na realidade, o seu padrão de tendimento das situações daquéles generalização de perspectivas de
de suporte popular ao mo- países, como já tendo atingido ao
dêil.o que pretendia impor, comportamento percorre o cami- dissenso, ou de descontentamento
na realidade; paroxismo, e, portanto, à nivela- social, e a progressão do nível rei-
nho contrário ao de um descesso ção das suas contradições. Alcan- vindicatório, assumível diretamen-
crescente de tôda "intervenção" no te pelo programa da "intelligent-
2) pela extensão dessas contra- contexto distante. A racionaliza- çaram pleno amadurecimento para
dições ao próprio núcleo de a queda do poder dependente, tão zia". O atual panorama de anta-
ção da inação é um ponto de par- só, dos gestos simbólicos do "re- gonismo aos regimes de elite de
tal sistema, em certa parte, tida, e não de chegada. Ela se
numa projeção do facciona- tôrno". poder, na América Latina, tem
"degela" - ao invés de recrudes- mostrado o contrário desta última
lismo dos próprios grupos cer - à proporção que aquela In-
afastados, pela assunção das teligência exilada procura um re- c) O padrão de radicalização. atitude e o pleno domínio do pa-
elites de poder, do centro de Dentro do mesmo efeito de divór- drão radicalizante. Tôda tentati-
encontro no seu contexto original. va de protesto vem-se caracteri-
mecanismo decisório nacio- O primeiro sintoma desta atitude clo entre a mudança direta e are-
nal. é o ãe uma visão já quiliástica. Ou flexão, entende-se o caráter cres- zando por desbordar, de imediato,
seja, da crença na deflagração de centemente ortodoxo que reveste o nível da reivindicação direta-
A atitude milenarista se tradu- alguma ação súbita e desligada de a visão subjetiva do projeto da "in- mente experimentada por deter-
zia na contínua marcação de data um processso mais amplo que, des- telligentzia" e de sua aspiração à minados grupos e classes no caso,
para o advento daquele colapso, vigência social. Mais se extreme fundamentalmente, o estudantado
fechado, a qualquer momento, den- - para, num curto circuito ime-
portanto pela sua própria inércia. tro daquele contexto, já "saturado" aquêle ato, mais o empenho em im-
Ou seja, pelo desenvolvimento de por êste projeto se desligará de diato, se transformar no repto úl-
de contradições, teria, por si, o con- timo à detenção do poder, com a
sua própria inviabilidade, à mar- dão de deflagrar a mudança. Don- qualquer modulação no tempo; de
gem de qualquer ação pelos gru- de o padrão cunhado por essa "ln- qualquer temperamento de seu formulação ostensiva das palavra.S
pos antagonistas. Calhava à sua conteúdo pelo intuito de viabili- de ordem e dos "slogans" que co-
telligentzia", numa variante de In-
especial perspectiva uma visão da tervenção na realidade, ainda den- dade; de desatamento da dimen- limem êste fim. O resultado, no
realidade em que se aglutinavam, tro de um modêlo utópico: a mu- são efetiva de vigência que com- momento, dêste padrão, tem sido
tanto a rejeição sumária do con- dança da situação poderia advir de porte. Mais importante, ainda, é o da falta de "coalescência" entre
texto, quanto a fatalidade do ad- dois ou três arremêssos súbitos ou que esta ruptura com a viabilida- os grupos impunes e as reinvindi-
vento dêste desfecho. O "milenaris- voltas de representantes do siste- de implica em deflagrar-se a radi- cações de estratos e classes inse-
mo" vinha a ser o conteúdo utópi- ma removido do cenário pela elite calização crescente numa estraté- ridos no sistema social, com o ris-
co desta visão de mundo e o con- de poder. Mercê do seu retôrno, gia, via de regra, mversa à da vi- co de poder levar aquela ação, as-
trapêso ao quietismo forçoso em fariam reemergir de pronto, num gência. Não é outro o quadro que sim insulada, a um protagonismo
que aquelas "intelligentzias", ain- toque de reunir para o qual esta- leva, ao lado da ''não transigên- cada vez mais "simbólico", que
da paralisadas, refaziam-se do trau- ria amadurecido o país, a verdadei- cia" sôbre o fundo dos conteúdos, marcaria o divórcio final entre o
ma e de sua súbita remoção do ra ordem social e econômica des- a projeção de sua tarefa num es- plano da renexão e o da efetiva
centro do acontecer nacional. É sas nações, tão só e incidentemen- quema necessário de "queima de mudança social.
possível acompanhar a perda pro- te turbada pelos governos tecno- etapas" e de refôrço de cada teor
gressiva desta posição - o que in- crático-militares. Há que sublinhar programático a se frustrar, pelo seu d) O padrão da idealização. Ou-
lance subseqüente, sempre desa- tra conseqüência forçosa da per-
guável sôbre o clima da confron- da da "praxis" no processo de to-
15 Dentro da acepção clássica de Mannheim, in Ideologia e Utopia, Capítulo tação, última e decisiva. Neste cli- mada de consciência, é a distân-
IV, "A Mentalidade Utópica", idem.

116 117
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cia social que passam a apresen- dos modelos de ação revolucioná-


tar os modelos adotados pelo prO- rios desorbitados, como que perdi- de racionalização da mudança, e mesmo tempo o nível de dependên-
jeto das "intelligentzias" face à dos já num~ distância social que de intuito de relance de um desen- cia externa, que passa a condicio-
realidade em que atuariam.ls Há a eliminou tôda visão realista de seus volvimento contido, residirá na fa- nar a estratégia do relance do de-
falar, neste caso, num pleno desa- conteúdos. Mais se verifique o re- cilidadP c:rescente com que, do ân- senvolvimento, compatibilizam ca-
tamento da atitude utópica, tra- crudecimento dos regimes de elites gulo das situações, os modelos ex- da vez mais, em todos os planeja-
balhando no vácuo de qualquer ternos serão diretamente inseridos mentos nacionais, as etapas do nô-
de poder na América Latina, mais no centro da decisão nacional. A vo processo de múdança. Na sin-
efetiva inserção social dos seus con- se evidenciará a idealização dos
teúdos; retornando, à míngua dês- idealização, que vai acentuar o cronia crescente, pela qual todos
modelos revolucionários ambientes. caráter ortodoxo da repetição dos êsses planejamentos passam a
te engaste, ao ponto de partida O entorpecimento da "praxis", pela conteúdos de oposição ao nôvo re-
das teses e dos conteúdos que, ca- reduzir sempre as suas distân- -
formalização dos exemplos das ati- gime, replicará o status-quo, com cias (definidas pelas diferenças
da vez mais, no seu rigor formal, tudes de mudança, conecta-se com a mP..sma dominante rigorista e for-
e à falta da contrapartida da ex- de pontos de partida no re-
a situação, não mais pelo vínculo malizante já, no caso assegurada lance) patenteia-se o correlato,
periência, tomam de todo conta das analogias ou das compatibili- pelo culto da racionalidade, que do nôvo panorama de mudan-
do programa das· "intelligentzias". dades, mas, de uma reconstituição tende a Re constituir como a ideo-
O resultado será o processo de ça da América Latina: esta-
permanente do seu paradigma, na logia dominante dos regimes de belece-se cada vez mais um pa-
idealização dêstes próprios mode- escala das projeções e das compen- elite de poder. Dêste prisma, não drão de permutação entre os fatô-
delos na mesma medida em que sações que requeiram a fuga ou se trata apenas de salientar o im- res atuantes no auxílio interno e
"intelligentzia" se imobilizasse a negação dos regimes de elite de pulso crescente à repetição do ,c?n- externo. A integração dos dois
numa perspectiva de, ao mesmo poder, no hemisfério. teúdo propriamente programatic,o tempos se consumaria: o do sis-
tempo: dêstes modelos, mas, da sua pra- tema imediato e o do contexto. Os
1) retirada de tôda participa- O Extremo Sujetívo
pria perspectiva instrumental; nas seus respectivos fluxos se compO-
ção no contexto ambiente; técnicas, instrumentos e estilos de riam numa operação "standard",
Dentro destas características.
2) refúgio na estratégia de a prospectiva da produção ideO- implantação do modêlo acolhido manifestada tão só por relações de
"volta" a esta ação, num lógica, na América Latina, vai para reger a etapa pós-espontaneís- alocabilidade de recursos. Mas o
momento azado e fulmi- apresentar um padrão con trárit> ta da mudança nacional. seu efeito seria a progressiva e ine-
nante. ao que caracterizou a sua rea- vitável inversão de iniciativas -
b) Redução da assincronia. No
Nesse quadro se adiantariam tô- ção ao contexto, no moment() e, pois, de condicionamentos - en-
efeito necessário da racionalização, tre o que na fase anterior se denO-
das as justificativas e as raciona- canônico do desenvolvimento. que caracteriza a elejção dos mode-
lizações para a inércia imediata da- Pode-se adiantar que se deverão minava de sistema, imediato e
los de desenvolvimento da etapa complementar, da sociedade envol-
quele comportamento, constituti- reduzir as distâncias e os hiatos atual de relance da mudança no
vas do padrão do "milenarismo", pelos quais, e positivamente, na vida na transição.
supradescrito. A compensação ine- hemisfério, manifesta-se, cada vez
etapa anterior_, se afirmava a au- mais urna nivelação dos tempos sa- c) Exacerbação do operaciona-
vitável dêste afastamento da in- tonomia do tempo social e da pro- ciais'em que se concatena êste nôvo lismo. Em contrapartida às situa-
serção histórica, reclamada com a dução ideológica dos países que de- ções de vigência do a tual processo
própria atmosfera para a ação das projeto, adiantado pelas atuais eli-
viam arrancar para a mudança tes de poder. Em síntese, e dentro -hoje magnificados pelo seu em-
"intelligentzias", e a idealização qualitativa de sua estruturarocial. polgamento pela racionalização do
cada vez maior dos modelos que da ótica adotada para êste projeto,
E, neste clima, chegavam a formu- colima-se o fenômeno do "duplo nôvo projeto latino-americano -
entrevê para reger o projeto de mu- lar uma autêntica ideologia naciO-
dança social, que acalente num reenvio" já focalizado. Ordenam-se verifica-se a aceleração da já men-
nal para o desenvolvimento. Don- não só a progressão interna das cionada "degradação" de conteú-
quadro de ·crescente "hibernação". de ser possível prever, respectiva-
Neste sentido, mais se confine o mente: etapas da mudança, mas os fluxos do, na representação da :ealidade
processo de reflexão, mais se adian- .com o seu contexto externo, já histórica-social dêsses pa1ses, per-
a) Redução do idiomatismo. A cebida a partir dos antagonistas
tará o culto dos valôres e estilos primeira conseqüência das etapas compagináveis ao mesmo: com
efeito, haveria a falar de verdadei- aos regimes de elite de pod~r. Isto,
ras transacões entre os dois siste- como já frisado, no sentido de
16 Cf. Edgar Morin, "As Utopias Peninsulares"; Q>nferência proferida na Fa- mas. Numa palavra, a racionali- transportar-se tôda a qu.erela, dota-
culdade de Ciências Políticas e EC'onômicas do Rio de Janeiro, junho de dade implica numa perspectiva da de efetivo corte cntico, das te-
1968, notas mimoografadas.
"built in", pela qual o rigor e ao ses, para a sua dimensão estrita-
118
119
mente instrume ntal. E, estas, des- nado, ou ainda, "importad o", dês te ses "impunes " e as massas ur- Latina. Numa palavra, e mais
fiadas num espectro de condutas instrume ntal para cada vez mais banas. uma vez tendo-se como exemplar
intermed iárias e de conteúdo cres- reencontr ar a "praxis" pela pur- o caso do Brasil, os dados configu-
centemen te logístico, cada vez gação dêsses mesmos conteúdo s e O Extremo Objetivo radores do processo de reflexão,
mais distanciad as dos eixos, ou dos instrume ntos; êstes se processam prévios ao desenvolvimento, na
parâmetr os em que se configura- ao embate em que se patentear ia No extremo obj etivo, faz-se miS- etapa do espontane ísmo, marcha-
ria larga e integralm ente a a sua inviabilidade e, "incontin en- ter indagar das novas limitaçõe s riam de par com a viabilidade ple-
"conduta " de antagonismo à si - te", o imperati vo- sob o calor dos que a configura bilidade nacional na da ordem do projeto da mu-
tuação. Curiosam ente, entretant o, eventos deflagrados - de sua su- do projeto experime nta, diante das dança e, pois, com a caução nacio-
é dentro desta trama rasa - que peração. Neste quadro, por exem- novas linhas de fôrça assumida s nal que continha . Entre os dados
algumas vêzes pode até parecer to- plo, não se falará numa "al- pelo modêlo de relance do desen- de uma fenomenologia ingênua da
talmente deslocaçla da querela dos ternativa ", em têrmos de modelos, -volvimento, hoje, na América La- identidad e nacional, ainda não mo-
fins, do projeto e das alternativ as definição dos projetas das elites de tina . Há que, ao mesmo tempo, es- bilizada por um efetivo projeto de
- que se poderia encontrar o es- poder, hoje, na América Latina; tudar o efeito da perda daquela autodeter minação, e a represent a-
cape à formalização, ao pré-condi- nem dos regimes n ecessários à sua "''configur abilidade " inicial e os re- ção das metas dêste último, man-
cionamen to das condutas signifi- consecução, as oportunid ades de le- sultados sôbre a produção ideoló- tinha-se uma perfeita homogenei-
cativas e capazes de dar origem gítima produção ideológica vêm, gica das novas alteraçõe s de escala, dade: a memória social se forra-
a uma efetiva ação de "intellige ntr talvez, se mantendo pelo mais frá- da reordenaç ão dos pólos de cres- ria de tôda a iconograf ia represen-
zias" neste momento da mudança. gil dos elos : o que advém da per- dmento, originário s da conjuntu ra tativa dos grandes fastos aa mu-
Há a falar, no caso, na reabertur a manência num engajame nto, ou de integraçã o em que tende a se dança.
do campo de ação à espontanei- de uma inserção no real concreto, apoiar o nôvo esfôrço de mudança .
dade criadora, lograda através da mantida pela exacerbaç ão daquele o momento "canônico " dos anos
"exaspera ção" do operacionalismo. operacionalismo, forçado à formu- Do primeiro ponto de vista, ma- 50 indica, em tôdas as formas de
Numa palavra, no processo men- lação de respostas imediatas à pers- nifestam- se os sinais distintivo s da efetiva glosa PQpular desta repre-
cionado, de "degradaç ão" do com- perda da dimensão nacional, como sentação nacional, então larga-
pectiva existencial em que colocou suscetível de servir de eixo à even- mente ativada, o clássico corte
portamen to ideológico pelo próprio dentro de uma atitude que lhe im-
confinam ento da situação social tual retomada de um processo de prospectivo manifesta dor dos flu-
pelia a um engajame nto forçoso reflexão.ls Na mesma medida em xos, do contrapo nto entre o est?-
de mudança , da atitude de man- - e criador - ao mesmo tempo
ter-se, tão só, a querela dos estilos que êste último, nos países subde- que de experiênc ias nacionais pre-
que exibia à saturação a obsoles- senvolvidos, articula-s e a partir de vias à mudança e a sua configura -
e processos instrumen tais de anta- cência dos conteúdo s que, heurís-
gonismos.17 No caso, as técnicas de um fundame nto prospecti vo - ção, unificada , num efetivo prota-
ticamente , a tinham impelido a tal. como reclama a ordem do projeto
luta, assumind o o rigor escolástico Por aí, ainda que levado pela visão gonismo cultural que o êxito do
dos debates das questões de prin- - compreende-se o resultado ime- desenvolvimento propiciav a. Co-
"obsoleta ", por exemplo, da "guer- diato do desbaliza mento do~ pólos, meça agora, por exemplo, o recen-
cípio, são, não obstante, "impeli- rilha" tradiciona l, que caracteriz a- QU da moldura nacional, como qua- seamento dêste impacto, em todo
das" à frente, num reencontr o às ria o operacionalismo de um pri-
vêzes inesperad o da "praxis" dro de referência daquele processo. repertório da literatura , das can-
meiro momento, aquela atitude ~le repercute sôbre a constituiç ão ções da iconograf ia popular, inclu-
criadora. A concentra ção da inten~ "criadora " da "inteligen tzia" en-
cionalidade da "intellige ntzia", no da memória social da coletividade, sive responsável pela guinada épica
contraria praxlstica mente, em paí- ampliando-se o ~ivórcio e~tre, ~ que passou a caracteriz á-la em eS-
plano estritame nte operacional, ses como hoje o Brasil e a Argen-
como que caucionav a a permanên - conteúdo das açoes paradigm ati- treito acompan hamento com a in-
tina, as técnicas inéditas de con- eas, que lhe permitiri am configu- trodução de uma temática nacio-
cia dêste ator ideológico no leito frontação , compostas nos meios es-
possível do real concreto: donde, rar um efetivo desafio social gera- nal que passava a dominá-la. E,
sencialme nte urbanos, pelas novas dor de cultura, e o sentimetn o de esta, pela primeira vez, já diante
por aí, a sua crescente capacidad e e imprevist as estratégia s de des-
de transcend er o caráter condicio- identidad e nacional, subjacen te ao da quase superposi ção entre o pro-
:. fôrço, estabelecidas entre as elas-

17 Ao mesmo tempo interessant e a impostação polêmica do tema e a sua de-


mcmento de arranco da mudança
.ora experime ntada pela América
tagonism o e o "lore" , numa identi-
dade geraciona l que caracteriz a o
monstraçã o é a colocação de Régis Debray "Révolutio n dans la Révolution ?"
François Maspero, Paris, 1967. Ou ainda, "Latin Amerlca : Reforma or Re~ 18 Veja-se Tbe Poliltical Alternativ es of Developme nt, D~ussion at Bellagio
volution?" , James Petras & Maurice Zeitlin, Fawcett, 1968. Editado por K. H. Silvert, AUFS, New York, 1964.
120 12 1
"epos" e, por aí, o arranco da "me- pelo desenvolvimento, ainda que c) Confinamento e exaspera- caso fundamentalmente do estu-
ção na produção ideológica. Acom- dantado. De todos os membros da
mória social típica das mudanças abortado, pelas fastos e vicissitu-
des de um contexto pretérito e re- panham a perda da configurabi- "intelligentzia", é curiosamente
transicionais, como a que caracte- lidade do projeto nacional, por aquêle que tem mais predisposição
riza o desenvolvimento.19 Estagnan. duzido: seu património iconográ-
do-se êste último, e perdendo-se o fico passa a ser bombeado para a fôrça, as várias manifestações de - como salientado- à inserção,
momento canónico supra-aludido, irrigação de um corpo social de ou- desarticulação daquele eixo básico, d~ntro do contexto da situação.
poder-se-ia acompanhar a interrup- tra magnitude; de outra exigên- que permitia a compaginação das nele desempenhando as funções de
ção do contraponto entre o suporte cia de representação da sua especí- aspirações coletivas numa pauta maior qualificação, ou seja, a de
e a configuração da memória so- fica e nova realidade. sincrónica de articulação "supra- provisão do "know how" essencial-
cial da coletividade, através de fe- b) A perda do paradigma na- classe" de tais interêsses e de úma mente dependentes da permanên-
nômenos como os seguintes: cional no exercicio da autodeter- visão efetiva de transformação da cia e incremento das condições de
midação. Tanto se paralise a mu- realidade circundante . Típico de mudança. Em síntese, trata-se do
a) O recrudescimento da noção tal atitude, fôra, na etapa canóni- grupo menos acomodável à margi-
de civismo na representação da me- dança social espontânea, tanto se
manifestará a tendência a que o ca do desenvolvimento o naciona- nalidade- em contraposição, por
mória social. Independentemente lisrrw do fim dos anos 50. Assim exemplo, aos intelectuais, ou ao
da clara influência, nesta atitude, exercício da autodeterminação
transcenda à gesta nacional, o con- desarticulados daquele eixo básico, clero - e ao mesmo tempo de de-
do pólo militar das novas elites de os vários atôres do processo como terminação mais prospectiva, e
poder, êste fenômeno resulta, clàs- junto de ações-suma da mudança
de estrutura, comprimidas dentro que erram dentro do panorama de portanto mais sensível, na percep-
sicamente, da troca da dimensão mudança, com a tendência inevi- ção das condições de abertura, ou
prospectiva do projeto, e do seu daquele compasso de tempo que ti-
pificaria a transição efetivamente tável a centrar em si mesmos, não estreitamento, das oportunidades
"epos" imediato, pelo reativamen- trazidas ao país pelo processo de
to do fasto do passado; do conteú- lograda. Nessas condições se en- só a sua ótica da mudança, mas, a
tende como o exercício da autode- valoração dos esforços para lográ- mudança . Mais ainda, intimamen-
do literalmente despolemizado na terminação poderá transcender a te articulada como processo das
história, reativado dentro da pers- la . Verifica-se uma como "metás-
dimensão prospectiva da memória tase" social do antigo processo de gerações, revela, mais que qual-
pectiva situacional imediata dos quer outro grupo, as condições de
detentores da estrutura de poder. social, mercê dos gastos que arro- reflexão, e, a cada nôvo centro de-
Recrudescerá, com o fortalecimen- lou, apressada e creativamente, nos sarticulado, por fôrça, da queda da crença da coletividade no contínuo
to dêste regime, o empenho em anos 50. Dentro dela. é fácil esta- antiga configurabilidade nacional c;ocial da mudança: é o que re-
promoverem-se as campanhas de belecer de que maneira as princi- do projeto, corresponderá um de- fletirá a perspectiva da juventude
pais querelas de então (a querela terminado nível compensatório de em têrmos de integração, de segre-
civismo· nacionais: elas represen- da estatização do petróleo no Bra-
tarão a clássica atitude de se ex- sua representação da realidade am- gação, de desintegração com o
tremar o pólo "a quo", amputado, sil, por exemplo) arrancavam dire- biente. Eis como a antiga domi- contexto social em que se deverá
tamente, e acima de tudo, da exi- nante utópica, que caracterizaria inserir. Numa palavra, as repre-
do processo de reflexão, e de ne- gência, em têrmos exemplares, de
cessário reenvio entre os suportes a atividade da "intelligentzia" nes- sentações ideológicas do estudan-
exercício da autodeterminação. O tado deitam luz sôbre a avaliação
latentes da configuração nacional relance do desenvolvimento, nas ta fase do processo de mudança da
e a sua precipitação ou articulação América Latina, pode, de repente, das expectativas sociais gerais.
novas bases em que está hoje es- quanto à crença na viabilidade no
realmente popular e inédita, lográ- tabelecido, poderá retomar a eXi- se transformar em ideológica pró-
vel pela emergência do processo de priamen.te dita. Isto é, assumir êxito ou na generalização do pro-
gência profunda e essencial da au- cesso de mudança social, em patses
reflexão dentro da mudança so- todeterminação; mas talvez já es- um conteúdo de simples raciona-
cial. Tal atitude se compadece, por como o Brasil. É, pois, expressivo
teja perempto o quadro nacional lização e revide à frustração que que a condtção de estagnação, hoje,
inteiro, da. imobilização da memó- para dar-lhe conteúdo: tenha fica-· lhe pode acarretar, a partir dêste
ria social; do seu confinamento do desenvolvimento, venha de par-
do obsoleta aquela épica nacional; ponto de vista, a perda das espec- te com o recrudecimento, caracte-
forçoso. Patenteia-se, daí por dian- as linhas da memória social pro~ tativas do desenvolvimento. Tal rístico no estudantado, das diver-
te, a necessidade de alimentar-se a pectiva originada do seismo sócio- condicionamento é especialmente sas representações confinadas e
perspectiva de identidade nacional económico dos anos 50, na Amé- sentido a partir de grupos cujo pa- exasperadas de seu papel no pre-
do presente, no cenário alargado rica Latina. drão de espectativas sociais esteja sente contexto social da América.
intrinsecamente associado à ex- Latina. Os conteúdos hoje inte-
19 V~ja-se,do autor, Memento dos Vivos, especialmente o Capitulo IV, "Emer- pansão do desenvolvimento. É o grantes das mensagens e "slogans"
gencia da Cultura Popular", Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1966.

122 123'
do chamado "poder jovem", atual- desarticulação deixa os países de modo a compatibilizar com as con- escala continental, o essencial da
mente veiculados no Brasil, apre~ desenvolvimento abortado no li- autodeterminação . Vale dizer que
miar dos novos e largos sistemas dições de um afluxo internacional
.sentam características muito mais de recursos o remanescente das se a crise do espontaneísmo poderá
"ideológicas" do que "utópicas". sucessores àquela etapa de mudan- vir a acarretar o colapso da confi-
ça dos anos 50 . E neste sentido possibilidades endógenas de supe-
Junta-se, nestas manifestações, o ração do regime colonial, dura- gurabilidade nacional do desenvol-
sentido de insulamento e segrega- que há cada vez menos a falar na vimento, tal não implíca, necessà-
permanência dos complexos de de- mente atingidas, na última década,
ção do contínuo social - ao lado Neste nôvo quadro, pois, há quere- riamente, na perda, pelos países
do tipicamente compensatório - pendência externa, apenas como conhecer de que forma a interna- cujo espaço de mudança escapa de
de magnificação do papel do estu- elementos do contexto da produ- cionalização do programa de -de- suas fronteiras , da pretensão a
dantado nos contextos de mudan- ção ideológica.20 Deixam de repre- exercer a decisão última sôbre tal
sentar uma constelação apenas se- senvolvimento não é apenas uma
ça, e de ampliação da responsabi- estratégia de "retomada" dêste es- processo, de dar-lhe o cunho de um
lidade social do seu desempenho. cundária de condicionamentos. E projeto; de um exercício, pois, da.
isto na mesma proporção em que fôrço, para superar os novos cír-
Tal magnificação vai, assim de culos viciosos e as carências resul- autodeterminação apenas transfe~
par com o panorama crescente se assegure o êxito do relance das tantes do colapso do espontaneís- rido de escala. Na circunstância
dos excedentes universitários, "ha- atuais experiências neocapitalistas, mo . Tal perspectiva, ainda que en- presente do hemisfério, entretanto,
bilitados", mas sem condição ma- no hemisfério. carada como uma estrita interna- esta alternativa vai importar numa
terial de acesso ao ensino supe- Na verdade, a nova configuração cionalização do planejamento para opção concreta e difícil. haja vista
rior; afirmação vigorosamente do processo de mudança do hemis- a mudança, pode reencontrar, nes- o caráter necessàriamente trans-
tecnocrática e limitada de seu fério implica necessàriamente a ta escala, e ampliadas, o mesmo cendente e incontrolável à realida-
desempenho profissional; com modificação das economias de es- quadro de antagonistas. Pode re- de nacional que àssumem. como
a exasperação da competição para cala; a alteração da antiga estra- viver a mesma confrontação entre conseqüência fatal do neocapitalis-
a conquista de tais desempenhos tégia dos pólos nacionais de desen- autonomia e dependência que ten- mo, as estratégias de maximização
na sociedade, de oportunidades de- volvimento; de dimensionamento tou superar, com vantagens níti- a que está vinculado o afluxo de ca-
crescentes e altamente comparti- da proporção dos fatôres - capi- das para a afirmação nacional, nos pitais externos, hoje, na América.
mentadas . De uma núrada dinâ- tal e trabalho - integrados no primeiros anos da alteração espon- Latina. Diante de um continente
mica e aberta sôbre a evolução do nóvo aparelho de produção. Está, tânea da estrutura colonial, veri- aceleradamente integrado pela es-
"environment" soctal, passa o es- por fôrça, o imperativo de inte~ ficada até o início da presente dé- tratégia a largo prazo da firma, há
tudantado a uma perspectiva trau- graç_ão do continente e a dupla cada. Numa palavra, a estratégia que contemplar a perspectiva re-
mática e de crescente protecionis- opçao que requer. Ou seja: de ordenação do mercado comum, manescente da nação como centro
mo: o poder jovem é, neste sen- a) a realização do "mercado como forma de reconstituição alar- de decisões; e de sua participação
tido, já a utopia de uma geração comum" como desbordamento obri- gada de um plane)amento neocapi- no quadro deci.sório a se contrapor
~arginalizada, a partir da percep- gatório e complementação dos es- talista do desenvolvimento, não a de todo um nôvo complexo eco-
çao das restrições de suas oportu~ forços nacionais de mudança; atua num vácuo económico e po- nómico que gerou o presente ino-
nidades pelo colapso crescente da b) a sua implantação, súbita lítico. O efeito mais profundo, tal- dêlo de desenvolvimetno da Amé-
mobilidade social dentro do desen- como meta do nôvo relance da mu: vez, da estagnação dos últimos rica Latina, sem ao mesmo tempo
volvimento contido. dança à margem e por sôbre a anos, num panorama de inércia assegurar-se as condições de con~
prévia conquista das dimensões na- que caracterizou o advento dos re- trôle do seu desenvolvimento. Vale
A inserção num nôvo contexto cionais do primeiro projeto dos gimes nacionais de elite de poder, dizer que se coloca o risco de a
supranacional anos 50. tenha sido, justamente, o· início do ideologia integracionista não sur-
Neste segundo caso, as estraté- aproveitamento das oportunidades, gir, natural e ordenadamente,
. Não há como fixar a perda do ~as de rela~ce maximizariam, por e da criação de uma economia como estrato redutor de um regime
eixo da experiência nacional ca- força, os estimulas e as condições complementar clandestina e supra- de efetivas interdependências no
racterística do após-guerra ' sem de reordenação do quadro econô- nacional dos grandes ciclos de ca- quadro do hemisfério. Na verdade,
tarnbém perceber-se de com~ esta mico e político do hemisfério, de pital externo . t:stes já teriam o mercado comum não solucionou
começado a integrar o citado mer- o problema da oposição entre a
cado,inteiramente por fora de um nova dependência e a autonomia
20 Vej~-~e Fe~ando Henrique Cardoso, "Dependência e Desenvolvimento na
Ame.ri~:a ljatma : Ensaio de Inte111retação Sociológii:1a", mimeografado Se - "rationale" ou de um centro de de- residual, representada por tôd.as
minano sobre Sociologia do Desenvolvimento - UNESCO, Rio, julho '1968. cisões que conservasse, dentro da aquelas áreas marginais às novas
124 125
gica da América Latina, tendo-se (exaustão na apreciação temática
dimensões traçadas pelos "núcleos" nação externa, poderiam elas en- em vista respectivamente: do real) pelo operacionalismo.
estratégicos do neocapitalismo con- contrar-se na sua nova luta polí- a) as características do prO-
tinental, e na qual se abrigassem tica na n{esma linha reivindicató- b) desenvolvimento dos conteú-
cesso de reflexão no quadro atual dos "utópicos" na representação
os esforços remanescentes das an- ria ~ no mesmo compasso de prio- distrófico da mudança;
ridades acolhidas pelas ideologias da realidade (milenarismo; radi-
tigas expressões n~cionais ~a ecO- b) as conotações assumidas pe- calização; idealismo).
nomia latino-amencana. Ha a fa- da "segurança nacional", porta~o­ lo ator "intelligentzia" diante do
lar na introdução dêste antagonis- ras das "situações" vigentes, hoJe, impacto das situações de desenvol- c) Eliminação da própria ne-
mo latente, de imediato, em pràti- nos regimes de "elite de poder". vimento abortado sôbre as suas di- cessidade de produção ideológica
camente tôda a decisão, já de Vale dizer que as peculiaridades da versas funções (desenvolvimento pela desaparição do paradigma de
agora, de relance do desenvolvi- mudança de escala acarretadas pe- da atitude crítica; produção de mudança, a partir de uma compa-
mento na América Latina. E a lo a tual modêlo de mudança im- ideologias; de símbolos;. ~rga~Z3:­ tibilização de reivindicação social,
cada uma corresponderã necessà- pôsto ao hemisfério podem levar ~ ção das va~guardas soci.~s;. msb- ou seja, do favorecimento da mu-
riamente o ganho ou a perda de uma reinserção em planos de soli- tucionalizaçao da consc1enc1a ou dança pela política de empenho di-
posições com efeitos decisivos a dariedade, e de compatibilidade de reflexão no plano da decisão gO- reta da motivação por grupos e
largo prazo sôbre problemas cru- reivindicação, de fôrças e grupos --vernamental); classes protagonistas diretos da su-
ciais, quais o do nível de incorpo- que ora se antagonizam no âmbito c) as determinações sobrevindas peração da estrutura colonial.
ração das atuais economias de su~ nacional, definhante, de regimes à conformação daquele setor pelo d) Desuso dos símbolos pela
sistência às de mercado; as efeb- neocapitalistas, quais os hoje impe- contexto em que atua, ou seja, pe- atitude de "racionalidade" que as-
vas proporções ou a "capital ratio" rantes no Brasil e na Argentina. Jas constelações secundárias (a da sumiram, como ideologia, os regi-
A se manifestar esta tendência, -inserção direta na estrutura de mu- mes de "elite de poder", sucessores
das indústrias naciohais, de pou- haveria a falar no efeito marcado
pança endógena; o papel do capi- dança e de seus suportes) repre- da etapa de espontaneísmo da mu-
de "distorção" que caracterizaria ~entadas respectivamente: dança, caracterizada pelo simulta-
tal público situado no núcleo es- o comportamento de eventuais nO-
tratégico daquele processo ou prO- 1) pelo influxo derivado dos neísmo entre as alterações da es-
vas "intelligentzias", ao ruir o prO- próprios conteúdos do prO- trutura econômica, e o aumento
vedor das economias externas re- jeto nacional sôbre o nôvo contexto
queridas pelo nôvo complexo de cesso de reflexão dos com- da autodeterminação política na-
continental. Ela seria caracterizada plexos externos em que se cional e da respectiva difusão do
suas decisões sôbre as economias por uma convergência forçosa de iru;ere o sistema nacional
da escala comportãveis hoje pela poder. Não obstante importar êste
seus extremos - os identificáveis imediato;
América Latina. O essencial, no pela antiga reivindicação do "~a­ nôvo regime numa mudança, em
2) pelas alterações sobrevindas têrmos de mobilização nacional, da
momento, é sublinhar o impacto cionalismo" e da "segurança naciO- a êste pela reordenação de
nal"- aproximados por uma opO- "compatibilização dos dissensos",
dêste nôvo contexto e da polémica seus modelos e as novas re- para as políticas de "consenso", a
que engendra sôbre a produção sição comum a uma internaciona- lações de dependência e con-
lização susceptível de implicar na ideologia da racionalidade impôs-
ideológica,21 daqui para o fim do dicionamento daquele mes- se o cancelamento de tôda a ins-
século. Ela pode dar lugar, no en- expropriação final do contrôle e mo complexo externo.
da decisão da América Latina sô- tância simbólica que necessària-
trelaçamento entre o antigo siste- mente pedia tal atitude. Estabele-
ma internacional, derruído, e a bre seu próprio processo social de Seriam elas as seguintes:
mudança. ce-se, por aí, correlatamente a todo
definição das novas dimensões in- :r - Tendência, à eliminação do abandono de uma política de "mO-
ternacionais, a um jôgo de alian- desempenho da.s funções da
Conclusões "intelligentzia" nos processos
bilização", o esfôrço restritivo de
ças de fôrças e de grupos inteira- procurar-se uma adesão indireta
mente inesperados para a antiga de mudança paralela do pro-
cesso trófico da mudança, e,
dos destinatários da mudança aos
ótica das tensões puramente "na- O quadro exposto permite, no seus modelos. E isto pelo culto da
ciona.is". A se subordinarem as es- plano estrito da prospectiva, for- pois, da existência de uma
efetiva reflexão social.
perfórmance, da manifestação tópi-
querdas, por exemplo, à prevalên- mularem-se algumas conclusões ca de seus resultados. Não se passa
cia de regra da contradição princi- quanto ao comportamento que de- ao plano "redutor" da manifesta-
pal contra a perspectiva da domi- verá apresentar a produção ideoló- Tal eliminação tenderia a ser
Eianifestada respectivamente por: ção da identidade nacional e de
a) Substituição da produção seu reconhecimento "prospectivo"
21 Beozzo, "Les Mouvements des Universitaires Catholiques au Brésil: Apcrçu _:ideológica propriamente di t a na tarefa coletiva da mudança.
Historique et essai d'Interprétation", Louvain, 1968.
127
126
e) Paralisia da.s vanguardas e, situra lógica. No repto, pois, que Igreja "aggiornada" e imbuida rão largo impacto social ao se im-
po1s, da difusão da atividade das assim lhe endereça ,estruturalmen- crescentemente do espírito do re- pregnar da expressão dêste poten-
"intelligentzias" acarretadas pelos te, o govêrno de elite de poder, po- volucionarismo social. cial de expectativas sociais reprt.
padrões de mobilização contida ca- de a Universidade, dialetizando o Estabeleceu-se, já, o padrão de midas no quadro dos regimes de
racterísticos do nôvo modêlo desen- seu nôvo papel institucional, fazer normatividade pura, que caracte- elite de poder, na proporção cUre-
volvimento, com o inevitável afas- ressurgir a função crítica 22 ao evi- rizaria o comportamento dêsses ta das limitações de sua perfór-
tamento do proletariado rural denciar, por sôbre os juízos impos- atôres num contraste com a -Pers- mance. O caráter ciclico que ten-
(pelo jôgo intermitente de absor- tos pelo papel a que é ostensiva- pectiva de "praxis" de permeio en- deria a apresentar a ação dêstes
cão do excedente de mão de obra mente requerida, os seus efetivos tre a ação e a consciência das eta- grupamentos "impunes", desliga,.
êntre a economia de mercado e de condicionamentos; os substratos pas canônicas da mudança. Subli- dos do processo de reflexão social,
subsistência) e o entorpecimento daquela racionalidade. Nestes têr- nhou-se sobretudo o aspeto "imiti- não exclui, entretanto, o seu even-
do proletariado urbano, (suscetí- mos, de qualquer forma, a polê- gável" que teria a reivindicação tual papel de veiculo de um pro-
vel de favorecimento localizado das mica, como "locus" de manifes- esposada por êsses grupos em ~ cesso cumulativo de expressão
políticas de redução de tensões so- tação da função crítica, acompa- sição social marginalizada do pon- de dissenso social, especialmente
ciais que permite o padrão de con- nha, nestes regimes, a deslocação to de vista do exercício de um po- quando logrem canalizar a expres-
centração dos pólos de crescimento que se estabeleceu na fundamen- der de barganha social e de in- são de solidariedade dos grupamen-
e de progresso localizado do nôvo tação da decisão nacional, da prá~ serção num quadro efetivo de pres- tos sociais difusos, quais as clas-
modêlo econômico). tica do dissenso (e de sua compa- tações sociais. No contexto daque- ses médias urbanas, nos paises sub-
f) Desinstitucionalização de seu tibilização ideológica clássica - e la "diástase", há que salientar: desenvolvidos, e sômente suscetí-
papel subsumido necessàriamente operada nos Congressos) à do con- veis de agregação em têrmos de
na função assessorial, caracteriza- a) o papel do estudantado na massa e de confrontação direta.
senso servido por uma racionali- configuração do 1n017'Umto crítico
do pela perspectiva "tecnocrática" dade "absolutizada" (e a ser ora Tais diástases, assim cumuladas,
dos novos regimes de elite de de manifestação dêsse di,ssenso so- teriam como efeito permanente a
purgada de seu conteúdo ideoló-
poder. gico nas instituições ostensivas de cial; radicalização dos regimes de elite
Em tal quadro, inclusive, a de- análise de uma proposição cien- de poder e, pois, para sua conser-
saparição, apreciada a partir do b) do clero na representação vação a manutenção de um hiato
tífica do comando político).
exercício do papel tornado obsole- vicária, constitutiva e cada vez cresc~nte entre as eventuais mu-
to, tem o aspecfo de uma fuga in- mais intensa, de tôda mobilidade danças alcançadas no plano eco-
II - Substituição da função das social contida, e desapercebida da
finites~mal, enquanto cada vez "intelligentzias" pela das
nômico e a regressão das institui-
mais a atitude de crítica, passando expressão natural de sua espon~ ções do plano politico da Amé,.
diástases cíclicas de anta- neidade.
à de antagonismo, dentro dela se ca Latina. Pode inclusive atingir
gonismo às situações, desen- Neste sentido, e cativa cada vez
assenta na discussão puramente volvida pelos novos atôre.s,. os pressupostos do processo sim-
mais a Igreja, dêste nôvo "role'" bólico, pelo qual aquela elite con-
instrumental da logística do con- protagon-istas da "impuni-
flito e, pois, de tôdas a.s escolásti- nos atua.is contextos sociais da seguiu subsumir o seu exercício do
dade social" nos regimes de América Latina, é de se prever o
cas de estrita derrubada do status- elite de poder.
poder à margem dos procedimen-
quo . Institucionalmente, o lugar
seu antagonismo crescente com os tos de legitimação tradicionais.
abandonado pelas antigas "intelli- regimes de elite de poder e as de- Com efeito, prescindiam êsses re-
Com efeito, a função fundamen- cisões por êstes assumidas quanto
gentzias" tenderia, nos regimes de tal das "intelligentzias" perdida gimes do sufrágio popular, na mes-
elite de poder, a ser ocupado pelas
à participação popular no proces- ma medida em que poderiam de-
no momento trófico da mudança so de mudança. Dentro de tal qua-
universidades. E isto enquanto o (e, pois, todo o simultaneísmo, senvolver uma forma indireta de
pressuposto da neutralidade aos dro, o adensamento daquela fun- legitimação representada pela sua
quer entre os planos da mudança ção vicária tenderá a predominar
interêsses de infra-estrutura que direta, quer entre esta e a refle- função positiva ostensiva no qua-
assume a nova "situação" só per- sôbre a ainda clássica inserção da
xão social) consubstancia, nessa Igreja dentro da Ordem, herdada dro de um conceito de ordem so-
mite o debate de suas proposições posição de antagonismo, a ação,. cial do aparelho institucional. Nes-
pela discussão de sua consistência da estrutura colonial. Ainda que
respectivamente, do estudantado, seja pequeno o contingente numé- te, inclusive, a Igreja represen-
científica, e do rigor de sua propo- da intelectualidade exilada e da taria um dos atôres sufragantes
rico dos estratos do clero que se
lance àquela função reivindicató- desta função simbólica de manu-
22 Veja-se Morin, Lefort & Coudray, Mai, 1968: La Breche, Fayard, Paris, 1968. ria, as suas manifestações ganha- tenção da ordem, da qual o ator
128 129

••
contrar a ação inovadora da es.. !idade de um projeto nacional im-
"Fôrças Armadas" deixou um pa- As situações de estagnação so- plica também na discussão das
pel no "pano de fundo" para as- cial não vão apenas com a elimi- pantaneidade no processo. E, curio-
samente, por uma "praxis" inver- largas alternativas para a escôlha
sumir a condução direta do pro- nação da mudança trófica, impos- de modelos cada vez mais trocada
cesso político. Nesta ordem de sibilitar o desempenho das funções tida. Haveria a falar, no caso, de
um reencontro do real através da pelo debate áa estrita instrumen-
idéias, o significativo é o papel sociais da "intelligentzia" e, corre- tação nas condutas de manuten-
que possa desempenhar o Ciero latamente, suscitar a aparição conduta da confrontação; do an-
tagonismo radical. A fim de man- ção ou derrubada dos status quo;
"aggiornado" na "dessacralização" dos comportamentos substitutivos,
daquela mesma noção de ordem, mencionados no parágrafo ante- ter a efetiva continuidade e re-
e, pois, dos supostos simbólicos de rior. Como já sublinhado, o relan- presentatividade de sua ação, ~­ d) tendência à contradição dos
estamilidade dos regimes de poder: ce atualmente da mudança pode rão obrigadas estas condutas a sistemas condicionantes da produ-
a retirada do seu apoio represen- implicar o cancelamento da ins- transcender o debate degradado ção ideológica entre o nacional
ta, assim, muito mais do que uma tância nacional 23 na formulação da escolástica revolucionária para, imediato, em regressão, e o exter-
mera perda quantitativa de sus- do projeto de mudança; na dimen- pelas técnicas novas da confron- no, em crescente emergência; tal
tentação. Num golpe sério àquela são do processo reflexo. Tal im- tação levar a situação a uma exas- importando, por exemplo, nos fe-
mesma estabilidade, a posição do plicaria na atenuação, também, de peração, induzida - ~ inesperada nômenos crescentes de distorção
Clero pode ser decisiva na modi- tôda a plena instância polêmica - das regras assumidas para o entre o alinhamento nacional e
ficação qualitativa das perspecti.. para a produção ideológica. É seu jôgo político e social. internacional dos protagonistas do
vas de protesto iniciadas por ou- neste quadro, pois, que se produ- Dentro dêste quadro, seria pas- ator "intelligentzia", tendo-se em
tro dêsses atôres "impunes", ou ziria, necessàriamente, a "degra- sivei estabelecer algumas regula.. vista a evolução assumida pelo jô-
seja, o estudantado. Poderá indi- dação" temática daquela produ- ridades quanto à produção ideo- go das contradições principais pa-
car uma primeira "profanação da ção: a sua substituição pelo es- lógica, representadas respectiva- ra o estabelecimento de um deci-
ordem" suscetível de ser seguida, trito operacionalismo. O que se mente por: são nacional.
por exemplo, pela que emprestem consubstancia neste quadro é a
aquêles mesmos atôres impunes às perda da configurabilidade endc).. a) correlação entre a elimina- IV - Tendência à contradfçllo
classes médias, numa retorção ao gena de um projeto, condição pa- ção do processo de reflexão, e, pois, entre o sisteTTUL social ime-
seu comportam.e nto clássico, pa- ra aquela mesma plenitude da do desempenho da função social diato da produção ideol6gt.
drão do concejto de ordem e tran- produção ideológica. E tal degra- da "intelligentzia", com reapare- ca, decrescente ,e o sistema
qüilidade social. O importante, dação ,pois, opera em qualquer dos cimento das características milena.- secundário, substitutivo.
neste sentido, e no clímax a que distanciamentos dêste eixo ideal, ristas, radicalizantes e idealistas
pode .atingir aquêle processo, é a assim cancelado. No extremo da na produção ideológica; Com efeito, as estratégias de re-
prc)pna dessacralização da noção "situação", pela perda de tôda re- lance do desenvolvimento tendem
de ordem a que pode levar o exer- sistência idiomática, à importação b) substituição das funções da a assumir, como já dito, as impli-
cício da função impune pelo cle- de conteúdos das constelações se- "intelligentzia" pelas diástases cí- cações forçadas da reorganização
ro "aggiornado" e, numa segun- cundárias da estrutura social na- clicas, de antagonismo às situações do espaço econômico nacional re-
da "profanação" o apoio anônimo cional, e mesmo pela total adoção desenvolvidas pelos novos atôres sultante das exigências da econo-
que as classes médias, padrão do do seu tempo social externo. No
da aposição pelo confinamento ca- protagonistas da impunidade so- mia de escala, de polarização, e
conceito de ordem e tranqüilidade cial na elite de poder; maximização eventual de lucros
social, logrem prestar à confronta- da vez maior dos comportamentos exigidos pela migração de novos
ção estudantil. de antagonismo, não ao debate ao fe-
das alternativas, ou a contra-tese c) tendência à regressão em capitais. Em conseqüência também, da
conjunto com a do processo de re- nômeno já aludido,
III - Tendência à regressão, em dominante, mas à estratégia da emergência neste nôvo contexto
conjunto com a do proces- subversão e ao instrumental para flexão, do sistema social imediato,
so de reflexão, do sistema lográ-lo. Neste quadro também, condicionador da produção ideoló- alargado do esfôrço de mudança,
social, imediato, condicio- como já sublinhado, só por êste gica: tal implicaria na regra da da contradição de onde arrancou
nador da. prod'llÇão ideoló- mesmo extremo, da exacerbação crescente degradação temática da o desenvolvimento espontaneísta
gica. do operacionalismo se pode reen- polêmica condicionante da produ- do imediato após-guerra, constata-
ção ideológica com a sua substi- se a inversão de paradigmas que
tuição pelo estrito operacionalismo. vão caracterizar os suportes da
23 ~cott, Lucas & Lucas, Simu.la.tion and National Development, Wiley, New
York, 1966. Ou seja, a perda da configurabi- produção ideológica no antigo sis-
131
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tema, arruinado, e, no nôvo, em damenta.fs, e dos afastamentos e
emergência. Não se trata apenas proximidades que os grupos antes
de reconhecer que, como a const~ O planeiamento econômico Josef Barat (*}
vinculados ao contexto nacional da lndia
lação secundária, a dependência possam apresentar a partir desta
internacional passa do segundo pa- nova pauta. Sublinhamos também,
ra o primeiro plano, nas atuais si- dentro desta perspectiva, as difi-
tuações de relance do desenvolvi- culdades dêste realinhamento, ten-
mento na América Latina. Não só, da-se em vista:
por aí, como enunciado na regula-
ridade interior, tende a desapare- a) a permanência, ainda, da
cer o sistema condicionante im~ rigidez dos seus antagonismos, do
diato desta produção ideológica. A ponto de vista interno, numa clás-
inserção dos antigos regimes naciO- sica descontinuidade entre o plano
nais na constelação que antes sur- da representação politica e o do
gia como secundâria, pode impli- contexto econômico vigorante nas
car, respectivamente, uma inversão atuais estratégias de relance do •
dos primitivos antagonismos, a de- desenvolvimento;
nom~~ores comuns novos para
as.sociaça:o de fôrças que, sob o cO- . ~) ~ dificuldades de compa.tf- Introdução prevalecem na quase totalidade
mando do antigo projeto nacional, blllzaçao da nova escala interna dos mesmos impedem não só a
se colocava em perspectivas neces- e da proposição efetiva de suas no- 1. A História do século XX tem sua continuidade, como muitas vê-
sàriamente conflitantes. Haveria vas contr&.<Uções, dados ati níveis mostrado que, independentemente zes que sejam atingidas as metas
a falar na sua reordenação e nos presentes tanto do grau atingido do seu marco institucional, as eco- visadas.
pontos de encontro em que sere- pelo crescimento e diferenciação nomias subdesenvolvidas só têm As experiências bem sucedidas
locassem, redistribuídos os seus pa- económica na fase espontanefsta, viabilidade a longo prazo no seu de nosso século evidenciam ainda
péia históricos a partir da preva,.. quanto de sua regressão, sobrevin- processo de crescimento se cons~
lência de novas contradições tun- a necessidade da formação de
da no último lustro. guirem traçar objetivos definidos quadros técnicos e administrativos
e coerentes, estabelecer prioridades de alto nível, bem como a aloca-
compatíveis com os mesmos e uti- ção maciça de recursos para pes-
lizar da melhor maneira possível quisas. Sem a formulação de ob:-
a sua disponibilidade de fatôres jetivos definidos e sem ...w.J!la cons-
de produção. Entretanto, ao exa- ciência clara das possibilidades de
minar-Se o planejamento econô- aproveitamento de suas aptidões,
mico nos países subdesenvolvidos, as sociedades subdesenvolvidas es-
verifica-se que as freqüentes situa- tarão condenadas à uma depen-
ções de instabilidade política que dência tecnológica ao exterior. Não
' . ,, 1 ' ' 1\ii ~ !
• o autor é Economista do Grupo Executivo de Integração da Política de
Transporte (GEIPOT) e Professor de _Economia ~rasileira Da: Facu}dade de
Ciências Politicas e Econômicas do R1o de Janeiro . A sua mtençao, neste
artigo, é permitir um maior, conhecime~to factual de u~a eXI?eriência em
planejamento pouco divulgada no Brasil. Trata-se mmto mrus da apre-
sentação sistematizada de fatos históricos, lnstituclo~ais e operacio-
nais relacionados com o Sistema de planejamento eXIStente na tndia,
do que uma análise detalhada da sua economia, muito embora seja._ d~o
um tratamento analitlco mais amplo para alguns aspectos abordados. Nao sao
feitos confrontos diretos com o planejamento brasileiro, em razão da .nossa.
escassez de dadÓs sôbre metas e realizações físicas além de se considerar
que a Institucionalização muito recente e a extrema instabilidade dos nossos
planos dificultam bastante êsse confronto . Não havendo por conseguin~e,
grandes possibilidades de avaliação objetiva dos resulta~os na comparaçao
dos dois sistemas de planejrunento, o artigo permitirá lndiretamente, a cons-
132 tatação daa nossas deficiências mais evidentes.

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