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Adaptação e Direção Teatral: Fernanda Möller

PERSONAGENS:
FOMINHA/MURO: Luísa
HIPÓLITA: Ana Beatriz
EUGENIA: Maria Fernanda
BOTTON/ FREIRA: Mariana
HERMIA: Manuela
ACONCHEGO/LEÃO: Bruna
LISANDRO: Bruno
SNOUT/MÃE DE TISBE: Júlia
DEMETRIO: João
OBERON: Joshua
HELENA: Isabela Ikawa
TITANIA: Isabela do Nascimento
MARMELO/DIRETORA: Giovanna
PUCK: Miguel
FUNDILHOS/PIRAMO: Daniel
FADA SEMENTE DE PITAYA: Vallenttina
FLAUTA/TISBE: Ana Luiza
FADA DENTE DE LEÃO: Maria Luiza
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FADA BRISA DE VERÃO: Caroline
Cena 01 – O Drama de Hérmia
HIPÓLITA- (para a plateia) Queridos cidadãos de Atenas, daqui a dois dias e duas noites, a lua cor de prata
iluminará a noite do meu matrimônio com Teseu. Quero todo o reino em nossa festa de casamento! Quero
que todos estejam muito alegres e que a tristeza não seja nossa hóspede! Teseu precisou lutar para
conquistar meu coração, mas em nosso casamento, e nesses dias que se aproximam, não quero saber de
lutas, quero somente música, dança e festejos.
(entram Hérmia, Eugênia, Lisandro e Demétrio)
HÉRMIA: Com licença nobre Hipólita, mandou nos chamar?
(todos a reverenciam)
HIPÓLITA: Fiquem a vontade! Sim, bela Hérmia, nessa manhã sua mãe esteve aqui para conversarmos e ela
me contou que você, apesar de ter compromisso firmado com Demétrio anda de conversas e paqueras
com Lisandro.
EUGÊNIA: Como lhe disse, este cavalheiro, Lisandro, enfeitiçou o coração de minha filha. E meu desejo e o
do pai dela é que ela se case com esse outro cavalheiro aqui: Demétrio.
HÉRMIA: Mas o que posso fazer, se meu coração só bate por Lisandro?
HIPÓLITA: Hérmia, Hérmia... as coisas não funcionam assim... Estamos em Atenas, quem decide com quem
devemos casar são nossos pais.
LISANDRO: (valente) E o que poderia acontecer a ela se ela se recusasse a se casar e nós dois fugíssemos?
HIPÓLITA: Os dois seriam mortos.
LISANDRO: (covarde) Uhhh ainda bem que eu perguntei primeiro hein? E.... se só ELA se recusar e eu não
tiver nada a ver com isto? (Hérmia olha irritada para ele)
HIPÓLITA: Hérmia só tem duas escolhas: Ou se casará com Demetrio ou será mandada para um convento.
Pense um pouco mais, Hérmia. Em meu casamento com Teseu, você deverá decidir entre ser esposa de
Demétrio, ou se tornar freira.
DEMÉTRIO: Por favor, Hérmia, concorde. E você, Lisandro, desista.
LISANDRO: Você é o preferido do pai de Hérmia, Demétrio, não é? Então por que não se casa com ele?
Mas, ela, é a mim que ama.
DEMÉTRIO: Engraçadinho.
HÉRMIA: Nobre rainha, Lisandro é honesto tanto quanto Demetrio. Além disso, Demétrio sempre cortejou
Helena, tanto que esta minha amiga vive perdidamente apaixonada por ele.
HIPÓLITA: Nada posso fazer. Agora venha comigo Demétrio, preciso conversar com você em particular.
EUGÊNIA: Vamos embora, Hérmia.
HÉRMIA: Minha mãe, eu te peço deixe-me despedir de Lisandro, pelo menos.
(Eugênia fica em dúvida, mas deixa Hérmia com Lisandro, ela sai)
HÉRMIA: Parece que não temos mais nenhuma saída...

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LISANDRO: Escute-me, Hérmia, eu tenho uma tia muito rica que mora a umas sete léguas de Atenas e me
considera como um filho. Na casa dela poderíamos nos casar e viver felizes, longe das rigorosas leis
atenienses. Se você me ama, fuja de casa amanhã à noite e encontre-se comigo no bosque que fica a uma
légua da cidade.
HÉRMIA- Légua?
LISANDRO – É um jeito antigo de falar, digamos que seja uns “cinco quarteirões”.
HÉRMIA – Ah assim fica melhor!
LISANDRO – É ,né? (repete) Se você me ama, fuja de casa amanhã à noite e encontre-se comigo no bosque
que fica a uns cinco quarteirões da cidade.
HÉRMIA- Meu querido Lisandro, eu juro pelas setas de Cupido: amanhã encontrarei você naquele bosque.
LISANDRO- Conto com você, manteremos isso em absoluto segredo. Olhe, vem chegando Helena...
(Entra Helena.)
HÉRMIA: Bom dia, bela Helena, por que tanta pressa?
HELENA: Bela? Bela é você, amada por Demétrio...
HÉRMIA: Não tenho culpa por Demétrio estar apaixonado por mim.
HELENA: A culpa é de sua beleza...
HÉRMIA: Você é tão ou mais bela que eu, apenas Demetrio não enxerga isto. Tenha calma que logo logo
ele perceberá! Mas tenho uma novidade: Lisandro e eu decidimos fugir de Atenas. Hoje à noite nos
encontraremos no bosque.
LISANDRO: O que aconteceu com o “absoluto segredo”?
HÉRMIA: Ela é minha melhor amiga! Reze por nós, Helena. (para Lisandro) Agora devemos nos preparar.
Até logo.
LISANDRO: Adeus, Helena.
(Saem os dois.)
HELENA: Em toda Atenas sou considerada tão bela quanto Hérmia; Demétrio é o único que não reconhece.
Antes ele me adorava, mas depois que viu Hérmia, só tem olhos para ela... Mas já sei o que fazer: vou
contar-lhe o plano de fuga dos dois. Ficará agradecido a mim e talvez volte a dar-me atenção. Preciso
encontrar Demétrio!(Sai.)

CENA 02 – Os camponeses fazem um grupo


(Música. Entram os camponeses. Fominha vem comendo e Marmelo com uma prancheta)
MARMELO: Estão todos presentes? Aqui neste papel está o nome de todos os artesãos de Atenas que
foram considerados capazes de interpretar nossa peça, no banquete de casamento de Teseu e Hipólita.
Vou chamar um por um, para ver se falta alguém.
SNOUT - Não seria melhor você nos contar primeiro o enredo da peça, e só depois chamar o nome dos
atores?
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MARMELO: Bem, a peça é: “A mais lamentável comédia e a mais cruel morte de Píramo e Tisbe”.
SNOUT: Vocês não acham este nome muito confuso? As pessoas não vão se interessar por isso não.
TISBE: De forma alguma, a confusão é genial, geralmente as pessoas que assistem teatro só gostam
daquilo que não entendem, parece sempre mais inteligente.
MARMELO: Perfeitamente. Agora farei a chamada. Fundilhos, tecelão!
FUNDILHOS: Presente!
MARMELO: Você está inscrito para o papel de Píramo.
FUNDILHOS: Muito bem, acredito que não exista mesmo ninguém aqui melhor que eu para tal
personagem.
MARMELO: Seu personagem se mata muito galantemente por questões de amor.
FUNDILHOS: Então terei que derramar muitas lágrimas... Se depender de mim, provocarei tempestades de
choro! (se empolgando) Porém, acho que eu ficaria ainda melhor num papel de tirano. E também daria um
guerreiro excelente... Bem, vamos aos outros.
MARMELO: Flauta.
FLAUTA: Presente!
MARMELO: Você ficará com o papel de Tisbe.
FLAUTA: A donzela apaixonada??! Representarei de forma belíssima.
MARMELO: Botton!
BOTTON: Presente.
MARMELO: Você será a freira.
BOTTON: E já está escrita a parte da freira?? Preciso estudar o texto.
MARMELO: Já já entregarei, não se preocupe. Fominha , você será o muro.
FOMINHA: Muro?
MARMELO: Sim... o muro é importantíssimo. É a grande barreira entre os casais.
FOMINHA: Mas eu sou muito tímida, não posso ficar em cena o tempo todo.
MARMELO: É só um muro, Fominha, você consegue. Pense que o muro é como um pavê.
FOMINHA: Hmmm que delícia.
MARMELO: Mas é de cimento mesmo! Será bom você fazer o muro por onde os amantes conversam,
assim não terá perigo de errar o texto. Aconchego, você será o Leão.
ACONCHEGO: O leão, que máximo! Eu tenho muitas falas?
MARMELO: É um leão, ele não fala. Só (ruge)!
ACONCHEGO: Mas e todos os meus anos de experiência? Pode ser meu momento de ser descoberta? Qual
vai ser minha outra oportunidade de pisar no castelo do rei e exibir toda a minha beleza, digo, talento?
MARMELO: Poxa, e tenho que te falar que o leão usará mascara.

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ACONCHEGO: Não! Por favor, de jeito nenhum! Eu não vou ter esse rostinho bonito a vida toda!
MARMELO: Ok, não colocamos mascara dessa vez, mas não há espaço para tanta vaidade no meio teatral.
Continuando: Snout, será a mãe de Tisbe.
SNOUT: Eu não sei se ficaria bem no papel de mãe, pareço mais nova que minha filha. Não vão acreditar
nisso e tudo vai dar errado.
MARMELO: Qualquer coisa fazemos uma maquiagem.
SNOUT: Ah eu não gosto de usar maquiagem, minha pele fica estranha depois.
MARMELO: Pode fazer uma voz diferente então.
SNOUT: Sem preparo pra isso? De jeito nenhum. Bom, já vi que você não vai mudar de ideia então faço,
mas já aviso que tem grandes chances da plateia reclamar.
ACONCHEGO: Eu faço, eu faço
MARMELO: (para Snout) Tá, você prefere fazer o leão?
SNOUT: Sem fala? Nem morta.
FLAUTA: Marmelo, tenho receio que estamos com pouco tempo para os ensaios. Ninguém aqui tem
experiência em teatro (Aconchego pigarra) Você fez teatro na igreja...
MARMELO: Pode ficar despreocupada, eu já pensei em tudo. Vou distribuir o texto para todos (ela entrega
uma folha para cada). Bom, ensaiem seus personagens sozinhos. À noite, encontrem-me no bosque do
palácio, a uma légua daqui, para ali ensaiarmos longe de olhares curiosos. Não faltem!
SNOUT: Mas nessa noite do solstício de verão?
BOTTON: Na noite mais curta do ano a floresta fica cheia de elfos, fadas e demônios.
MARMELO: Estou cansada destas histórias... Vamos ao ensaio. Vamos!!!
FOMINHA: Hmmm na floresta tem um monte de comida e tudo de graça!! Então vamos rápido!!! (sai
correndo)
FUNDILHOS: Vão preparadas para uma aula de teatro! Minha, obvio! (todos saem)

Cena 03 – O Confronto na Floresta.


(Bosque. Puck entra com os varinhas das fadas nas mãos, tirando sarro)
FADA DENTE DE LEÃO- (em off) Eu te mato ladrão levado. Venha aqui. (aparece) Trate de devolver agora
mesmo nossas varinhas.
PUCK- Vem buscar!!
FADA SEMENTE DE PITAYA - Não é você aquele menino que de noite embaraça os cabelos das jovens dos
vilarejos, desajusta as peças dos moinhos, faz com que a manteiga recém-batida desande e a cerveja não
fermente, e ri de tudo isso às gargalhadas?
PUCK- Acertou, pequena Fadinha. Sou Puck, aquele que durante a noite de tudo faz brinquedo. E agora
estou brincando com suas varinhas.

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(Puck fica provocando elas fingindo fazer magias, até que elas conseguem pegar)
FADA BRISA DE VERÃO – Isso é fadafobia. Vai ver quando Titânia chegar, ela te colocará no seu devido
lugar e aprenderá a nunca mais ficar nos provocando (Puck a assusta).
PUCK- Xii a Titânia comigo não manda nada, tenho que obedecer apenas ao Oberon. Aliás, avisem sua
rainha para não se encontrar com Oberon, pois ele está furioso com ela por causa daquele menino vindo
da Índia, que ela arrumou para ser seu pajem. Oberon queria roubá-lo para fazer parte do seu cortejo, mas
a rainha só quer saber de cuidar do menino e enfeitar-lhe com grinaldas de flores.
(escutam vozes)
FADA SEMENTE DE PITAYA- Parece que vem chegando a Rainha das Fadas, Titânia.
PUCK- E também escuto vozes de Oberon. É melhor nós sairmos daqui.
(Música , entram Oberon e Titânia)
OBERON: Que péssimo encontro!
TITÂNIA: Preferia a morte! Vamos embora, fadas. Não quero mais a companhia desse senhor.
OBERON: Fique, Titânia! Nós precisamos conversar.
TITÂNIA: ... Está bem, eu fico. Pois temos que resolver nossa briga. Desde o verão passado que você está
me perseguindo em cada canto da floresta com suas acusações. Onde quer que eu estivesse com minhas
fadas, lá vinha você nos perturbar com suas gritarias. E, assim, acabou atrapalhando as estações do ano...
As pessoas sofrem muito com a confusão das estações, e a culpa desses infortúnios é tua Oberon!
OBERON: Está em suas mãos o remédio desses males, Titânia.
TITÂNIA: Eu não te entregarei o menino indiano. A mãe dele era uma grande amiga, devota seguidora das
fadas no reino da Índia, morreu de parto justamente com o nascimento dele, que peguei para criar com
muito carinho e jamais largarei.
OBERON: Você tem intenção de permanecer neste bosque?
TITÂNIA: Ficarei aqui até as núpcias de Teseu e Hipólita. Se você quiser vir de bom grado participar de
nossas brincadeiras e danças à luz da lua, será bem-vindo. Se não, poupe-me, e também terei o cuidado de
evitar os lugares onde você estiver. Vamos fadas.
(Sai Titânia)
PUCK: É bom mesmo que vocês saiam e nos deixam em paz.
AS FADAS: Deixaremos!
PUCK: E também prefiro que não nos encontremos até o casamento.
AS FADAS: Não encontraremos.
(Puck as assusta, elas saem correndo. Oberon e Puck vão a frente)
OBERON: Estou contrariado Puck, o que você me diz?
PUCK: Na noite mais curta do ano, a floresta é o cenário perfeito para fazermos nossas maldadezinhas.
OBERON: Já sei então: estou precisando daquela flor que as moças chamam de amor-perfeito.

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PUCK: Sei qual é... O suco desta flor, derramado sobre os olhos de quem dorme, desperta na pessoa uma
paixão violenta pela primeira visão que encontra ao acordar.
OBERON: Vou derramar o suco de amor-perfeito nos olhos de Titânia, assim que ela acordar se apaixonará
por qualquer ser repulsivo, e teremos aí nossa vingança.
PUCK: Ótima idéia, rei Oberon, podemos fazê-la se apaixonar por um urso, um macaco, um tigre. Podemos
fazer com que se apaixone por um burro. E ela perderá todo o prestígio que ainda lhe resta.
OBERON: Isto mesmo. Vou descansar um pouco por aqui, espero que me traga a flor o mais rápido
possível. (Puck sai, Oberon observa algo vindo do outro lado) O que vem por ali? Sendo invisível aos
humanos, posso escutar a conversa.
(Entram Demétrio e Helena).
DEMÉTRIO- Não me persiga, Helena, não gosto de você. Onde estão Lisandro e minha amada Hérmia?
Você disse que estariam aqui. Pare de andar atrás de mim! Vai embora!
HELENA- Você me atrai como um ímã... Mas meu coração não é de ferro. Pode me tratar como um cão,
que continuarei seguindo você. Pode me chutar, me insultar, mas permita que eu siga você.
DEMÉTRIO- Você está ultrapassando os limites, Helena. Fico doente só de olhar o seu rosto...
HELENA- Fico doente se não vejo você.
DEMÉTRIO- Não é aconselhável que uma jovem como você ande sozinha pelo bosque a esta hora. Volte
para Atenas.
HELENA- Não estou sozinha, confio em você. E quando olho o seu rosto, minha noite se ilumina.
DEMÉTRIO- Vou deixar você para trás, entregue às feras, e embrenhar-me entre os ramos mais cerrados.
HELENA- Qualquer fera tem o coração mais brando que o seu.
DEMÉTRIO – Pois vou andar mais rápido e deixá-la a mercê desta floresta sombria (Sai)
HELENA – Você não faria isto comigo, deixar uma donzela sozinha na floresta numa noite de solstício de
verão é muito perigoso... Por mais que você... (percebe-se sozinha) Demetrio... cadê você??? Demétriooo...
(sai também, Oberon se levanta como se estivesse tendo uma ideia, entra Puck animado com a flor na
mão).
PUCK: Aqui está mestre. Trouxe a flor que me pediu...
OBERON: Puck, agora necessito de outro favor.
PUCK: Oba!!! Mais uma brincadeira?
OBERON: Não, agora é sério. Agora mesmo vi passar por aqui dois jovens atenienses. Ela, muito
apaixonada por ele e ele a desprezava. Quero que derrame a poção nos olhos do rapaz.
PUCK: E aí ele vai se apaixonar por um porco-espinho e vai ser aquela confusão...
OBERON: Nada disso. Faça-os dormir, coloque-os juntinhos e derrame a poção no rapaz.
PUCK: Como é que vou saber quem são?
OBERON: Estão vestidos como nobres.

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PUCK: Está bem, Vou colocar os feitiço nos olhos de Titânia e depois vou atrás do ateniense.
OBERON: Conto você, sei que não vai me decepcionar.
PUCK: Serio mesmo que você confia em mim? Que coragem! Digo, pode deixar chefinho.
(Oberon sai. Entra Titânia e as fadas)

Cena 04 – O sono de Titânia


TITÂNIA: Você, Dente de leão, matará os insetos daninhos que moram nos botões das rosas silvestres.
DENTE DE LEÃO: Mas, minha rainha, eu detesto usar o martelo.
TITÂNIA: Use isto, será inventado no futuro, chama-se Rodasol. (Dente de leão sai) Você, Brisa de Verão, vá
até o ninho das corujas e diga que amanhã quero uma reunião com elas.
BRISA DE VERÃO: Está bem, rainha (Vai saindo para um lado, depois para o outro, depois fica confusa) Mas
é que eu não sei onde fica o ninho das corujas.
TITÂNIA: Use isso, será inventado no futuro também e chama-se GPS. (ela sai) Já você, Semente de Pitaya,
cante para o meu sono da meia noite.
SEMENTE DE PITAYA: Rainha, estou muito cansada. Deixo com a senhora este invento futurista, iphone
com spotify.
TITÂNIA: Ótimo. Pode retirar-se. Ligue e vá.
(A fada sai. Toca a música de ninar. Ela adormece, aparece Puck por trás dela)
PUCK: Quando os olhos abrirem, ao despertar, o que primeiro ver, irá amar. (enfeitiça Titânia e se esconde)

Cena 05 – Os Camponeses Ensaiam e Titânia se apaixona

(Snout entra primeiro, espera um segundo, entram os outros)


SNOUT: Ah até que enfim vocês chegaram, estou aqui faz um tempão esperando vocês.
TISBE: Snout, a gente viu você passar pela gente.
ACONCHEGO: Correndo! Só pra chegar antes e reclamar.
MARMELO: Em todo caso, parece que encontramos um local perfeito para ensaiar. Vamos representar
como se já estivéssemos diante de Teseu...
SNOUT: Sabe, Diretora, eu acho que nesta peça de “Píramo e Tisbe” há algumas coisas que poderão não
agradar ao público, principalmente às mulheres. Por exemplo, quando Píramo sacar a espada para se
matar...
BOTTON: É mesmo, é melhor tirarmos as cenas de matança.
ACONCHEGO: Eu acho melhor escrevermos um prólogo, avisando que a espada não é de verdade e que
Píramo, na realidade, é o tecelão Fundilhos.
MARMELO: Muito bem, escreverei esse prólogo.

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FUNDILHOS: E o leão não irá causar medo às mulheres presentes?
MARMELO: Não sei. Interprete-o Aconchego!
(ela exagera ao máximo na interpretação)
FOMINHA: Talvez seja conveniente escrever um segundo prólogo, informando ao público que não se trata
de um leão de verdade.
SNOUT: Nada disso. A própria Aconchego poderá dizer algo assim: “Prezadas senhoras, não tenham medo,
sou uma atriz fantasiada de Leão”.
ACONCHEGO: (emocionada) Eu vou ter uma fala.
MARMELO: Perfeito. Então vamos começar o ensaio, da parte da freira. Se aproxime, Botton.
BOTTON: “Você deve beber este veneno, Tisbe”
FLAUTA: “Mas isto não me matará?”
BOTTON: “Não, apenas te deixará desmaiada por 24 horas.”
MARMELO: Interprete-o um pouco mais feliz, Botton.
BOTTON: (repete extremamente feliz) “desmaiada por 24 horas.”
MARMELO: Não. Melhor um pouco mais triste.
BOTTON: (repete extremamente chorando) “desmaiada por 24 horas.”
MARMELO: (desanimada) Hmmm... não ficou bom... Venha Fundilhos, vamos ensaiar a cena do encontro.
FUNDILHOS: “Oh, Tisbe, você é como a flor mais horrorosa...”
MARMELO: Odorosa! Odorosa!
FUNDILHOS: “...como a flor mais odorosa. Tenho que ir agora, escuto passos de sua mãe.”(Sai.)
FLAUTA: Sou eu agora?
MARMELO: Claro! Você tem que entender que ele saiu apenas para verificar o que era aquele barulho,
mas logo entrará de novo.
FLAUTA: “Ó Píramo, tão brilhante é sua pele, você é fiel como o cavalo mais altivo que jamais correu.
Venha encontrar-me mais tarde na tumba do menino...”
MARMELO: Na tumba de NINO! Mas ainda não é hora de dizer esta última frase. Só depois que o Píramo
entrar. Você disse a sua parte toda de uma vez, sem esperar o Fundilhos. Entre, Píramo! É sua vez!
(Quando ele entra já está transformado em burro, todos se assustam)
SNOUT: O que é isso? Um monstro horrível! Estamos enfeitiçados, socorro! Fujam do burro!
(Todos saem correndo. Fominha fica paralisada, alguns voltam para carregá-la. Fundilhos faz gestos de
burro, coça a cabeça, dá coice, e se mostra irritado)
FUNDILHOS- Por que será que saíram correndo? Com certeza estão querendo aprontar alguma brincadeira
comigo... Ah já entendi a brincadeira. Parece que querem me fazer de asno, só para me amedrontar. Mas
não sairei daqui! E vou até cantar, para verem que não estou com medo. “Não sei mais pra onde ir, só sei
que a noite foi longa...
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(Titânia acorda. Música de feitiço)

TITÂNIA: (acordando) Que anjo é este que me desperta do meu leito de flores? Cante outra vez, gentil
cavalheiro, eu lhe imploro. Sua voz arrebata meus ouvidos; sua formosura encanta meus olhos; me
comove de tal modo que não resisto a jurar que o amo.
FUNDILHOS: Minha senhora, eu acho que a senhora não deve estar em pleno uso da razão para dizer uma
coisa dessas... Mas, para dizer a verdade, hoje em dia a razão e o amor quase não andam juntos...
TITÂNIA: Você é tão sábio quanto belo.
FUNDILHOS: Nem tanto. Se eu tivesse sabedoria suficiente para conseguir sair deste bosque, já me daria
por satisfeito...
TITÂNIA: Não quero que você saia deste bosque! Quer queira, quer não, você vai ficar. Tenho muito poder
aqui! E agora que você já sabe que lhe tenho amor... Vou dar a você muitas flores e jóias do mar e pôr a
seu serviço muitas fadas. Farei de você um gentil cavalheiro.
FUNDILHOS: Bom, já que é tão importante pra você que eu fique, então fico mais um pouco.
TITÂNIA: Como me agrada ouvir estas palavras, venha comigo e cante... cante...
(Saem com ele cantando a musica anterior.)

Cena 06 – A confusão de Puck


(Entram Hérmia e Lisandro)
HÉRMIA: Lisandro você tem certeza que é por aqui?
LISANDRO: (aparentando estar perdido) Claro que eu tenho, eu lembro que... aí viramos... bom, tinham
árvores...
HÉRMIA: (brava) É uma floresta, Lisandro!!! É claro que terão árvores. Mas você disse que sabia chegar à
casa da sua tia.
LISANDRO: E eu sei chegar. Não estou perdido, mas você não disse que estava cansada? Talvez seja melhor
a gente descansar um pouco.
HÉRMIA: Por que homem nunca admite que está perdido? Bom, mas podemos descansar sim. De manhã
ficará mais fácil achar o caminho.
LISANDRO: Então, dorme aqui. Também estou cansado. Ninguém deve vir à floresta nesta noite. Na noite
mais curta do ano a floresta fica cheia de elfos, fadas e demônios.
HÉRMIA: Estou tão cansada que nem medo tenho.
LISANDRO: (disfarçando mal) É... eu também.
HÉRMIA: Durma longe de mim, assim é mais prudente. Boa noite!
LISANDRO: Boa noite
(Chega Puck)

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PUCK- Já percorri todo o bosque, sem achar o ateniense em cujos olhos devo espremer o sumo desta flor.
Noite e silêncio... Mas aqui está ele! E ali está a moça, coitadinha, dormindo no chão, tão distante dele...
Vou dar agora um jeito nisso! (Espreme a flor nas pálpebras de Lisandro.) Despejo em suas pálpebras o
sumo mágico da flor, para que o amor nunca mais consinta ao sono fechar os seus olhos. Pronto, tarefa
concluída! Hoje eu “tô” demais!!
(Ele sai. Escuta-se a voz de Helena e logo depois ela entra)
HELENA: Espere-me, por favor, Demétrio! Vá mais devagar! (aparece) Demétrio, que caminho você fez? E
agora, sozinha nesta escuridão. Como me sinto cansada! Como estou triste... Mas, o que vejo? Lisandro
aqui? Estará dormindo ou ferido? Será que está morto? Acorde Lisandro, você está bem?
LISANDRO- (despertando, som de feitiço) Helena! Que felicidade poder despertar com a maravilhosa visão
do seu rosto! Por você eu seria capaz de atirar-me ao fogo! Onde está Demétrio, aquele insignificante?
Quero liquidá-lo com minha espada!
HELENA- Não, Lisandro, não diga tal coisa. Somente porque ele ama sua Hérmia? Ela adora você, isso é o
que importa. Você devia ficar contente.
LISANDRO- Contente com o amor de Hérmia? Não. Eu me arrependo das horas que perdi ao lado dela...
Amo você, Helena! Só agora consigo enxergar.
HELENA- O que eu fiz para merecer tamanha humilhação? Já não basta o desprezo de Demétrio, devo
agora suportar o escárnio de quem eu considerava amigo? Pensei que você fosse um cavalheiro mais
honrado e gentil, Lisandro! (Sai.)
LISANDRO- Hérmia continua dormindo. Ainda não percebeu que já não tem o poder de encantar-me. Mais
que isso, que a odiarei noite e dia. Todo o meu amor agora pertence a Helena. (Sai.)
HÉRMIA: (despertando) Lisandro, socorro! Uma serpente me ataca! Lisandro... Pensei que uma serpente
me picava, mas foi apenas um mau sonho... Que susto! (percebe que ele não está) O que terá acontecido
com Lisandro? Ele não deixaria o grande amor da vida dele aqui sozinha à noite na floresta.
(entra Demétrio.)
DEMÉTRIO: Querida Hérmia, finalmente te encontrei. Estou tão cansado...
HÉRMIA: Fala logo, o que foi que você fez?
DEMÉTRIO: Como assim? Por que está me tratando dessa maneira tão ríspida? Eu amo você, Hérmia.
HÉRMIA: Eu o amaldiçoarei mil vezes se souber que você tirou a vida de Lisandro enquanto ele dormia.
Oh! Mate-me também! Ele era tão fiel a mim como o sol é fiel ao dia. Não, não tenho dúvidas: você o
assassinou, posso ver em seu olhar.
DEMÉTRIO: A sua crueldade é tanta que devo estar mais com aspecto de assassinado que de assassino.
Mas, mesmo com ar tão severo, o seu brilho é encantador, como o da própria Vênus cintilante...
HÉRMIA: Traga-me Lisandro de volta!
DEMÉTRIO: Isso é impossível. Eu não sei onde ele está.
HÉRMIA: Já estou perdendo a paciência, Demétrio. Você deve tê-lo matado enquanto ele dormia, não é?
Você só teria a coragem de cometer tal crime pelas costas... Você é traiçoeiro como uma víbora!

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DEMÉTRIO: Não matei ninguém. E, se Lisandro desapareceu, não sou culpado. Se eu lhe afirmasse que ele
está vivo e bem, que vantagem teria?
HÉRMIA: Nesse caso, você teria o privilégio de não me ver nunca mais. (Sai.)
DEMÉTRIO: Está tão enfurecida que não adiantaria segui-la. O melhor agora é descansar. Vou ficar aqui
porque cansei de ser pisado. (Deita-se e dorme.)

Cena 07 – Arrumando a confusão


(Entra Oberon observando Demétrio. Logo depois entra Puck)
PUCK: Mestre, mestre, tenho a melhor notícia de todas. A rainha se encontra loucamente apaixonada por
um asno! Bem perto do local sagrado onde ela dormia um sono tranquilo, uma trupe de pobres artesãos
atenienses tentava ensaiar uma peça. O pior dentre os atores, que fazia ridiculamente o papel de Píramo,
deixou a cena por um instante, enquanto aguardava sua vez. Então, eu o transformei em burro, assustando
todos os outros artesãos. Bem naquele momento Titânia despertou e apaixonou-se perdidamente pelo
monstro.
OBERON: Foi melhor do eu poderia imaginar! Mas, e a magia do ateniense, o que deu errado?
PUCK: Ah eu já coloquei também.
OBERON: (aponta para Demétrio) Neste moço?
PUCK: Olha, a roupa até que é parecida, mas tenho certeza que era outro.
OBERON: Foi neste que mandei colocar. Transformou um ator em burro, mas o verdadeiro burro desta
história é você. Pôs a magia nos olhos da pessoa errada, pervertendo o coração de um namorado fiel!
PUCK: Foi culpa do destino... Afinal, para cada namorado fiel, há milhares de infiéis!
OBERON: Faça uma busca por todo o bosque, à procura de Helena! Enquanto isso, eu vou encantar os
olhos desse rapaz.
PUCK: Lá vou eu, ligeiro como uma flecha!(Sai.)
OBERON: Bela florzinha ferida pela seta do Cupido. (Espreme a flor nos olhos de Demétrio). Vá até o fundo
dos olhos deste moço adormecido. E faça que, ao acordar, ele se sinta rendido pelo amor de quem o ama.
(Puck volta)
PUCK: Helena vem vindo aí.
OBERON: Com o barulho, Demétrio logo vai acordar. Vamos observar daqui, invisíveis.
PUCK: Dois homens disputando o amor de uma jovem... Certamente vai haver cenas de ciúme. Vai ser
divertido!
HELENA: (chegando) Você está louco Lisandro, só pode ser isso.
(Demétrio acorda)
DEMÉTRIO – Helena, eu te amo.
LISANDRO – E eu amo mais.

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HELENA – Ih, não tinha nenhum e agora tenho dois.
DEMÉTRIO: Helena, encantadora Helena! O que há de mais fascinante que seus olhos?... Como eu gostaria
de beijá-la, minha princesa de luz!
HELENA: Oh, que sofrimento! Vocês dois resolveram zombar de mim? Rivais no amor de Hérmia, juntos
resolveram tirar-me a paciência, por zombaria...
LISANDRO: Você está sendo cruel, Demétrio. Tenho certeza de que ama Hérmia. Por que não fazemos um
acordo franco? Eu cedo a você o amor de Hérmia, você me cede o de Helena.
HELENA: Jamais ouvi uma declaração tão absurda.
DEMÉTRIO: Mas, Lisandro, não quero saber de Hérmia. Se um dia a amei, está tudo acabado. Meu amor
agora pertence somente a Helena.
LISANDRO: Não acredite nisso, Helena.
DEMÉTRIO: Terei de usar a força para provar meus sentimentos? Olha aí chegando a sua amada...
(Entra Hérmia.)
HÉRMIA: Lisandro! Consegui chegar até aqui na noite escura seguindo sua doce voz! Por que você me
deixou sozinha?
LISANDRO: Para vir ao encontro de meu amor.
HÉRMIA: Mas que amor pôde afastar você de mim?
LISANDRO: O amor da bela Helena. Você não percebe que, se a abandonei, foi porque não a suporto?
HÉRMIA: Não é possível que esteja dizendo a verdade...
HELENA: Até você, Hérmia, está metida nesta brincadeira de mau gosto? Que ingratidão! Rompendo nossa
amizade, ficando ao lado destes dois traidores, contra mim, para zombar de minha tristeza?
HÉRMIA: Mas eu não ofendi você; ao contrário, afinal Lisandro, sempre foi apaixonado por mim e eu por
ele. E pelo que vejo, você o enfeitiçou de alguma forma...
HELENA: Eu não fiz nada, aposto que você três tramaram para tirar sarro de mim... Já não basta eu ter a
infelicidade de amar sem ser correspondida... Isso deveria despertar piedade em vocês, não desrespeito.
LISANDRO: (para Demétrio) Vamos ver quem de nós tem direito sobre Helena. Siga-me.
DEMÉTRIO: Sim, vamos decidir à força! Em um duelo.
(Saem Lisandro e Demétrio.)
HÉRMIA: Você é a culpada por essa briga. Sua, sua talarica!
HELENA: Não acredito nisso. Prefiro estar bem longe de sua companhia.(sai)
HÉRMIA: Não sei mais o que pensar... Eu.... eu... (Sai bufando.)
OBERON: Você é o culpado por essa confusão Puck!!
PUCK: Pelo menos a briga vai ser bem divertida!

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OBERON: Não quero briga nenhuma. Cubra o céu com uma névoa bem espessa até que eles se cansem e
durmam. Então, tire o feitiço de Lisandro, que vai trazer de volta o antigo amor. Deixe Demétrio
apaixonado por Helena. Quando despertarem, pensarão que tudo não passou de um sonho...
PUCK: Farei tudo imediatamente, senhor dos elfos!
(Música, magia, neblina, eles entram como se não enxergassem.)
PUCK: Lá vem um deles.
(Entra Demétrio.)
DEMÉTRIO: Onde você se escondeu, Lisandro?
PUCK- (imitando Lisandro) Estou bem aqui. Siga a minha voz!!
(passa pelo palco e sai pelo outro lado)
LISANDRO: Onde está você, Demétrio? Vou pegá-lo!
PUCK: (imitando Demétrio) Duvido que consiga!
LISANDRO: Quase o alcanço, mas me perco... Estou exausto, é melhor descansar um pouco. (Deita-se)
Amanheça logo, dia! Assim que eu vir a luz, pegarei Demétrio de uma vez por todas.
(Dorme. Volta Demétrio.)
DEMÉTRIO: Não vejo nada... Estou esgotado, mas quando chegar a luz do dia você vai ter o que merece,
vilão!
(Deita-se e dorme.Volta Helena.)
HELENA: Venha logo, aurora, para que eu possa chegar sã e salva a Atenas! Enquanto isso, sono, faça-me
companhia! (Deita-se e dorme.)
HÉRMIA: Nunca tive tanto sofrimento e tanto cansaço. Já não posso nem mesmo caminhar, pois os pés
não me obedecem. Vou ficar aqui até o sol nascer... (Deita-se e dorme.)
PUCK: Dorme, dorme, namorado, em doce sono mergulhado. (Para Lisandro). Seus olhos, ao acordar, o
puro amor vão achar. Cada moça e cada rapaz de novo terão sua paz. Pois é como o povo diz: João
encontra Maria, e tudo termina feliz.
(Puck sai, entra Titânia com Fundilhos)

TITÂNIA: Venha sentar-se entre as flores, pitutuco, para que eu possa acariciar seu rosto, enfeitar de rosas
sua cabeça e beijar suas orelhinhas. O que deseja??
FUNDILHOS: Para falar a verdade, gostaria muito de repousar serenamente, sem ser incomodado...
TITÂNIA: Durma tranquilo, querido. Eu ficarei aqui vigiando seu sono até o amanhecer... (ela fica fazendo
carinho nas orelhas dele, até que pega no sono também )
(Oberon aparece junto com Puck)
OBERON: (Joga um pó brilhante). Que tudo continue a ser exatamente como era antes, e com clareza você
possa ver e esquecer o ridículo amante! Titânia, acorde.

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TITÂNIA: Oberon! Que pesadelo horrível eu tive! Sonhei que estava amando um... (olha pra Fundilhos e se
assusta) ASNO! Como foi possível acontecer isto comigo? Quer dizer, que durante todo este tempo estive
apaixonada por um asno e todos da floresta sabem disso?
OBERON: Posso fazer com que todos se esqueçam. Se você me conceder o menino indiano.
TITÂNIA: .... E se compartilhássemos a guarda dele?
OBERON: Parece uma excelente e surpreendente solução. Faremos isso então. E quanto a este coitado... Já
sei, Puck tire a cabeça dele... (ele tira a cabeça) Agora, Titânia, peça um pouco de música. Quero que todos
aqueles atores durmam profundamente, para depois pensarem que tudo não passou de sonho.
TITÂNIA: Ah eu tenho uma música excelente aqui no spotify.
(Titânia liga uma música)
OBERON: Música para encantar o sono! E espero que esta música também conforte o coração de todos os
atenienses, para que respeitem o amor.
TITÂNIA: Por quê? Estamos com conflitos amorosos em Atenas?
OBERON: É uma longa história, organize suas fadas e preparem um feitiço de amor. Agora que terminou a
discórdia entre nós, temos a obrigação de cuidar dos apaixonados de Atenas.
TITANIA: Faremos agora mesmo, pois a cotovia já está anunciando o amanhecer.
(Saem. Ouve-se um toque de clarineta. Entra Eugenia e Hipólita.)

Cena 08 – Os apaixonados
EUGÊNIA: Aqui estão: Lisandro e Hérmia, Helena e Demétrio. Isto parece uma brincadeira de mau gosto.
HIPÓLITA: Acordem todos! (eles vão acordando aos poucos). Bom dia, fujões! Lisandro e Demétrio, vocês
não eram grandes inimigos e rivais no amor? O que agora fazem aqui, dormindo lado a lado em perfeita
harmonia?
LISANDRO: Peço perdão, senhora. Estou um pouco confuso. Não sei se estou dormindo ou acordado... Mas
lembro que vim para cá com Hérmia, íamos fugir juntos, para que ela não se casasse com Demetrio!
DEMÉTRIO: E eu tenho a dizer que não quero mais o prometido, Senhora Eugenia. No fundo, sempre amei
Helena. Parece que tudo aconteceu como num sonho! Agora que voltei ao meu estado normal, posso dizer
que, de todo coração, não quero casar com sua filha!
HIPÓLITA – Meus queridos, não se preocupem. Por alguma razão desconhecida, o nosso rei aboliu a lei de
morte por desobediência. E, de agora em diante, todos se casarão por amor.
EUGÊNIA - Agora temos que ir, afinal hoje teremos o casamento de Teseu e Hipólita. Estamos todos
atrasados, vamos!
(As duas saem)
DEMÉTRIO: (para Hérmia) Estou dormindo ou sua mãe realmente parece ter concordado que agora todos
podem se casar por amor?
HÉRMIA: Sim, é verdade. Agora todos nós teremos liberdade para seguirmos o coração. Mas o que não
entendo mesmo é o que houve na floresta durante esta noite.
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HELENA: O que quer que tenha acontecido, só de uma coisa eu tenho certeza: Em uma noite de verão...
OS QUATRO JOVENS – Os sonhos podem acontecer!
(Saem. A cortina vai sendo fechada por duas fadas foco em Fundilhos que acorda)
FUNDILHOS: (despertando) Avisem quando chegar a minha vez! Minha próxima fala é... Ei, Marmelo!
Flauta, Fominha... onde vocês foram parar? Será que foram embora e me deixaram dormindo aqui
sozinho? Tive um sonho estranho, inexplicável. Quem quiser dar uma explicação para ele não passará de
um grande... asno. Vou pedir a Marmelo que escreva uma poesia a respeito. E vai se chamar “O Sonho...
sem Fundo de Fundilhos”. Agora tenho que encontrá-los para continuarmos o ensaio, por sorte, ainda hoje
apresentamos o nosso lindo espetáculo e poderei receber as glórias de minha interpretação. (Sai.)

Cena 09 – A festa do casamento.


(Música. Som de marcha nupcial, todos eles estão posicionados sentados, como se o casamento já tivesse
acontecido)
HIPÓLITA: Obrigada a todos pela presença. Agora vamos às comemorações, um grupo de artesãos daqui
de Atenas ensaiaram uma pequena peça para nos apresentar nessa noite. O título é “A mais lamentável
comédia e a mais cruel morte de Píramo e Tisbe”.
HÉRMIA - Mas, senhora, com esse nome confuso esta peça não deve estar à altura dos espetáculos a que a
senhora costuma assistir. A menos que queira simplesmente se divertir com a ignorância dos atores...
HIPÓLITA- Se tudo foi feito com zelo e com boa intenção, não pode haver nada de errado. Onde está a
diretora do espetáculo. (lendo e depois chamando) Srta Marmelo??!
MARMELO: A seu dispor majestade!
HIPÓLITA: Traga seus atores, queremos muito assistir ao seu espetáculo.
MARMELO: É uma grande honra senhora!! Venham, venham todos, se posicionem.
(Eles fazem reverências várias vezes)
MARMELO: Com a licença de todos... Prólogo: Senhoras e senhores nos desculpem se os ofendemos. Não
é essa nossa intenção, mas fazemos de bom grado. Queremos apenas trazer-lhes alegria, aborrecimento e
distração. Os atores já estão prontos, podemos com desleixo mostrar nosso trabalho.
HELENA: Esta moça usou algumas palavras esquisitas...
LISANDRO: Vamos aguardar o restante. De quem será a vez, agora?
(entra o muro, com cara de assustada e tímida. Fica parada sem saber o que fazer)
DEMETRIO: Será que o muro vai falar?
HELENA: Mas, querido, se tantos burros falam, por que não falaria um muro?
FOMINHA: Eu sou a Fominha. Estou aqui representando um muro... Gostaria que imaginassem este muro
com um buraco por onde Píramo e Tisbe possam sempre conversar em segredo. Esta cal e este barro que
eu tenho mostram que sou de fato um muro... E é pelos vãos entre meus dedos que os namorados trocam
suas confidências. Mas, por enquanto, o muro ainda não foi construído. (abaixa-se)

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HELENA: Não poderia haver discurso mais claro...
DEMÉTRIO: É o muro mais espirituoso que eu já vi na vida!
(entra Snout)
SNOUT: Eu não tolero mais a presença de Píramo como vizinho. Há muito tempo, nossas famílias são rivais,
e agora ele anda tentando enfeitiçar o coração de minha filha. Sendo assim, quero construir um muro bem
resistente para separar as nossas casas. Muro, erga-se.
(fica esperando o muro se levantar. Quando o muro se levanta, ela olha para frente)
SNOUT: Pronto, agora estamos completamente separados. Posso ficar tranquila.
(ela sai)
MARMELO: O que eles não sabiam é que este muro tinha um buraco (O muro faz o buraco) e quando
Píramo e Tisbe queriam, se encontravam pelo buraco do muro.
FUNDILHOS: Ó noite escura, ó negra noite que sempre vem quando o dia não está! Ó meu infortúnio!
Onde estará a minha Tisbe que não chega? Ó doce muro que se interpõe entre minha casa e a dela, será
que ela estaria aí do outro lado? (O muro afasta os dedos.) Obrigado, bom muro.
(Entra Flauta)
FLAUTA: Ó muro, que me tem escutado chorar tantas vezes!
FUNDILHOS: Vejo uma voz! Vejo uma voz! É você meu amor? Oh, Tisbe, você é como a flor mais horrorosa,
digo ODOROSA. Escuto passos de minha mãe. Encontre-me na tumba do menino...
FLAUTA: De Nino?! Sim, lá estarei em uma hora.
(Sai Fundilhos e entra Snout)
SNOUT: Com quem você estava conversando, filha? Já lhe disse que não deve se aproximar de ninguém da
casa de nossos inimigos.
FLAUTA: Sim senhora, só peço para receber a visita de uma freira.
SNOUT: Ah claro, uma freira. Pode entrar, freira.
(Snout sai e Botton entra)
FLAUTA: Ó freira o que será de mim?
BOTTON: Você deve beber este veneno, Tisbe.
FLAUTA: Mas isto não me matará?
BOTTON: Não, apenas te deixará desmaiada por 24 horas (muito alegre) desmaiada por 24 horas (muito
triste) desmaiada por 24 horas. (sai de cena)
FLAUTA: Bondoso muro, o que devo fazer? “Beber ou não beber, eis a questão.”
FOMINHA: (confusa) Eu não sei... Acabou a minha parte. Agora eu tenho que sair, Flauta...
(Flauta faz sinal para ela ir, ela sai. Tisbe se arruma ao centro.)
FLAUTA: Aqui está a tumba do velho Nino... Onde estará Píramo? Vou beber o veneno de mentira então.
(Quando vai beber percebe o Leão, ela está jogando os cabelos para o lado e rugindo de uma forma nada
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amedrontadora, Tisbe fala muito exagerada) Oh o que é isto? Que fera mais amedrontadora. (Leão
levantasse e vai até o elenco da nobreza) Onde você vai?
ACONCHEGO: Eu sei que muitas das senhoras tremem de pavor diante um simples camundongo... O que
não fariam se vissem de perto um leão rugir, né? Mas fiquem tranquilas, é apenas fruto da minha
interpretação, na verdade sou apenas uma atriz, vestida de leão (joga o cabelo) e a juba é natural.
(O leão volta a sua posição original e ruge)
EUGENIA: Eis um animal verdadeiramente cortês.
HÉRMIA: O mais gentil que já vi em minha vida.
TISBE- Oh como este leão me apavora. Melhor eu fugir e tomar cuidado para meu manto não cair, oh meu
manto caiu...
(Tisbe foge deixando cair o manto.)
LISANDRO: Muito bem rugido, Leão!
HELENA: Muito bem corrido, Tisbe!
HÉRMIA: Muito bem caído, manto!
(O Leão estraçalha o manto de Tisbe e sai.)
FUNDILHOS: Ó doce Lua. Só você me acompanha neste deserto onde nem árvores vejo. Ó Natureza, por
que permite que existam os leões? Um leão terrível devorou minha Tisbe! Nada irá me confortar! Ó
lâmina, corte-me o lado esquerdo do peito, onde havia um coração... (apunhala-se várias vezes
exageradamente) Adeus, minha alma... Morro, morro, morro...
(Volta Tisbe.)
TISBE- Está dormindo, meu querido? Acorde! Está ferido? Píramo? Está mudo? Píramo! (pega a espada)
Oh! Terminou tudo! A morte levou-o, deixando-me abandonada... Destino cruel, ponha fim à minha vida.
Venha, espada, transpasse meu peito... (apunhala-se) Aqui tudo se acaba: adeus, adeus, adeus...
(Morre. Termina a peça.)
HELENA: Oh... os amantes morreram de amor...
MARMELO: (entra correndo) Calma, calma, bela Helena, eles estão vivos, olhem... (levantando os atores) é
apenas uma encenação, estamos todos bem... entre Muro, venha Leão...
HIPÓLITA: Que boa notícia. Foi uma belíssima apresentação, Marmelo. Palmas para eles... (todos
aplaudem, os atores agradecem eufóricos). Aqui está o pagamento de vocês...
MARMELO: Obrigada rainha, obrigada a todos.
(eles saem felizes vendo as moedas)
HIPÓLITA: Agora já é quase meia-noite... hora das fadas! Hora de nos recolhermos. Nos divertimos
bastante com esta peça, mas ainda teremos quinze dias de festejos e celebrações. Amanhã dormiremos
até tarde... Boa noite a todos!
Todos: Boa noite!!
(Todos saem, entra Puck)
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CENA 10 - Final
PUCK- Nesta hora escura, em que apenas os leões rugem na mata, os lobos uivam para a lua e piam as
corujas agourentas, nós, os elfos, estamos alertas. Quando brilha o sol, nos escondemos. Na frente de
todos eles eu vim a este palácio para afastar todo o mal que puder rondar a casa.
(Entram Oberon, Titânia e fadas.)
OBERON- Espalhem luz por toda parte! Elfos e fadas, dancem e cantem, aproveitando o clarão!
TITÂNIA- Sigam a melodia e, dançando com graça, vamos abençoar esta casa!
PUCK- Caros espectadores! Espero que não tenhamos lhes causado nenhum enfado. Se por acaso não
acreditarem em tudo o que se viu nesta encenação, pensem que estiveram a sonhar
TITÂNIA - E que tudo não passou de um sonho estranho, de um sonho que apesar dos desencontros
termina cheio de felicidade... de um sonho...
TODOS: de uma noite de verão!
(a luz vai abaixando... e a musica cessa. Black-out)
FIM

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