Você está na página 1de 5

Trecho da Musica: Kill the Poor

Unsightly slums gone up in a flashing light

Favelas desagradáveis desaparecem em um brilho de luz

Jobless millions whisked away

At last we have more room to play

All systems go to kill the poor tonight

Milhões de desempregados são varridos longe

Pelo menos agora temos mais espaço para brincar

Todos os sistemas vão matar os pobres essa noite

Trecho da Musica: Rambozo The Clown

Got a deadly toy

To brainwash your boy

Tem um brinquedo mortal

Para fazer uma lavagem cerebral no seu garoto

Who rewrites history with a machine gun

Don't think about it-kill it

That's what we teach your child

Rambozo

Rambozo

Rambozo the clown


Quem reescreve a história com uma metralhadora

Não pense nisso, mate-o

Isso é o que ensinamos ao seu filho

Rambozo

Rambozo

Rambozo o palhaço

Hoje, ao olhar para trás, o ilustrador de 32 anos entende que a localização


geográfica que o pariu tem tudo a ver com as influências que o tornaram um
profissional requisitado entre bandas que precisam de um capista.

Tudo que Suarez consumia culturalmente vinha com o delay do terceiro


mundo. Nos anos 1990, foi inundado pelos filmes americanos que a rede
Globo exibia direto dos anos 1970 e 1980, assim como os quadrinhos da
mesma época que o pai trazia de Maceió. Esses eram os portais que trouxeram
elementos da estética visual que o artista desenvolveu.

Os pôsteres dos filmes exploitation de vídeo locadoras com as cores vibrantes


de gibis desenhados por Jack Kirby fisgaram os neurônios de Suarez. Depois
veio a adolescência regada a punk rock, ilustras de Jimbo Phillips para o
universo do skate e referências da custom culture, sci-fi e a low brow art
de Robert Williams.
Todo esse amálgama passou por um liquidificador cerebral. Contribuiu para
dar vida ao estilo de paleta fluorescente californiano-tropical, com excesso de
elementos, presente nas imagens do nordestino que se viu no centro de uma
tempestade de merda recentemente. Um ciclone virtual no qual uma famosa
banda punk renegou o pôster de divulgação de shows pelo qual pagou por
medo de reações negativas. Isso resultou na quebra da internet quando vários
meios de comunicação apostaram em polêmica em vez do real significado na
obra.

O caso Suarez/Kennedy não só mostra a obsessão em torno do presidente do


Brasil, como se de fato ele fosse responsável por todos os problemas da nação
(seguindo a mesma lógica de quando tudo era culpa de um barbudo
sindicalista e uma senhora trajando tailleur vermelho), mas também ressalta
como a arte consegue provocar ataques epiléticos no tecido social.
O que passou batido foi o real propósito da crítica. Algo mais profundo,
alojado nas entranhas do Brasil. “Seria muito fácil falar do Bolsonaro.
Bastaria fazer uma figura caricata com uma faixa presidencial ou algo assim.
Fiz uma série de alusões às músicas do DK, como Rambozo The Clown e um
cifrão imitando a suástica, mas se a carapuça serviu… Juntou o útil ao
agradável”, disse Cristiano Suarez.
Suarez fez o primeiro trabalho profissional em 2012. Um selo internacional o
convidou para fazer a capa de um vinil da banda maceiocense Necronomicon.
Isso abriu portas para outros trabalhos e logo o artista se viu desenhando para
grupos musicais do exterior. Anos no futuro, a banda Dead Kennedys o
procurou para divulgar datas de uma turnê pelo Brasil em maio que foi
cancelada.

Você imaginava que a decisão do Dead Kennedys renegar o pôster teria o


efeito contrário, o de impulsionar ainda mais a arte e, por consequência,
seu trabalho?

Jamais imaginei que fossem recusar meu trabalho porque fiz o pôster com
base nas letras deles. Como gosto da banda desde moleque, comecei a adaptar
as letras para um contexto brasileiro e o pessoal da produtora adorou. A banda
aprovou, tanto que foi publicado nas páginas e perfil da banda, diferente do
que muitos dizem por aí. Eu inclusive publiquei nos meus stories uma
reprodução da publicação do pôster na página deles.

A coisa assumiu uma proporção gigantesca. O assunto foi trending topic


no twitter.

Foi aí que eles apagaram a arte e fiquei muito chateado com a reviravolta,
ainda mais quando emitiram nota dizendo que não tinham nada a ver com
aquele desenho. Ache péssimo para a imagem da banda. Até onde eu sei, eles
ficaram com medo da repercussão. Mas as pessoas tinham prints e fizeram de
conta que nada aconteceu.
Você foi abraçado por outras bandas que incorporaram o pôster.

A ideia inicial foi do João Gordo [Ratos de Porão]. Ele me marcou numa
postagem e disse: “Já que o Dead Kennedys não quer, a gente quer,
Cristiano”, mas não fiz a modificação porque a produtora tinha direitos sobre
a imagem, mas nem ela se importou com a apropriação. Banda que eu ouvia
na minha adolescência adotou minha arte como Gritando HC, Garotos Podres,
Cólera e etc. Foi muito recompensador.

Você foi abraçado por outras bandas que incorporaram o pôster.

A ideia inicial foi do João Gordo [Ratos de Porão]. Ele me marcou numa
postagem e disse: “Já que o Dead Kennedys não quer, a gente quer,
Cristiano”, mas não fiz a modificação porque a produtora tinha direitos sobre
a imagem, mas nem ela se importou com a apropriação. Banda que eu ouvia
na minha adolescência adotou minha arte como Gritando HC, Garotos Podres,
Cólera e etc. Foi muito recompensador.

A essa altura a mídia já estava em polvorosa, certo?

O Roger do Ultraje a Rigor me chamou de babaca nas redes sociais, Caio


Coppola da Jovem Pan e outros jornais começaram a dizer que eu estava
criticando Bolsonaro. O que eu disse aos meio de comunicação é que eu não
limitava minha critica ao presidente. Meu desenho era mais sobre a sociedade
porque, quando ele sair do cargo, o estereótipo que eu estou contestando vai
continuar. Faz parte do Brasil. Aí começaram a dizer que eu estava arregando.

O alvo da crítica é a própria família brasileira que colocou o Bolsonaro


em Brasília.

Alagoas é um dos estados mais desaguais do país. Vejo essas pessoas


retratadas no cartaz com frequência por aqui. Acham que são milionárias
mesmo sendo de classe média e tratam pobres de forma inferior, de modo
depreciativo e isso ocorre em todo o Brasil. São os que vestem a camisa da
seleção e do Bolsonaro na eleição. Minha crítica é a eles.

Fonte: site http://www.ideafixa.com/posts/polemicas-a-parte-cristiano-suarez-detona


Matéria Realizada por: Caio Luiz

Você também pode gostar