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Luz sobre a obra de Sierguéi


Tretiakóv
BORIS SCHNAIDERMAN

BORIS SCHNAIDERMAN, O Estado de S.Paulo


15 de setembro de 2012 | 04h29

O nome de Sierguéi Tretiakóv (1892-1939) soa bastante familiar para os que se dedicam ao teatro no
período imediatamente posterior à Revolução Russa. Ele aparece ao lado de Maiakóvski na autoria de
peças curtas de propaganda política, o famoso agitprop da época. Colaborou também com Eisenstein na
elaboração da teoria da "montagem de atrações" e escreveu para espetáculos dirigidos por Meyerhold.
Foi também a figura central da assim chamada literatura facta, isto é, a "literatura do fato real", que se
voltava contra a ficção e advogava a utilização de materiais da vida corrente. Neste sentido, chegou a
publicar livros baseados em acontecimentos do dia e que praticamente aboliam a distinção entre
literatura e jornalismo. Entre as obras inspiradas nesta corrente figuram Eu Mesmo, de Maiakóvski
(incluída por mim em A Poética de Maiakóvski Através de Sua Prosa, Perspectiva, 1971) e alguns livros
de Víctor Schklóvski. Aliás, isto vinha de mais longe e tinha relação com afirmações de Tolstói.
Poderiam se incluir entre as grandes realizações dessa tendência os contos de Isaac Bábel, certas obras
de Górki e alguns textos de Vladímir Korolenko sobre os progrons na Ucrânia.

Na realidade, Tretiakóv foi o elo de ligação entre os russos e Bertolt Brecht. Há um poema do alemão,
que só apareceu após a queda do Muro de Berlim, em que ele é referido como "Tretiakóv, meu mestre" e
se põe em dúvida a sua atuação contrarrevolucionária, acusação que lhe custou a vida.

Aliás, assim como foi a grande fonte de Brecht a respeito do mundo cultural soviético - inclusive no que
se refere à teorização de Víctor Schklóvski sobre o "efeito de estranhamento" (ostraniênie), cuja marca é
evidente na estética brechtiana -, Tretiakóv traduziu para o russo e prefaciou várias peças do alemão,
entre as quais a Ópera dos Três Vinténs, montada em Moscou na década de 30, com repercussão
negativa.

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Tendo cooperado com Maiakóvski nas revistas Lef e Nóvi Lef, foi autor de muitos poemas de
propaganda política e se dedicou particularmente à poesia para crianças. A propósito, no ano passado a
Cosac Naify publicou, numa edição bilíngue, seu poema para crianças Imitabichos, traduzido do russo
por Rubens Figueiredo.

Nos últimos anos seu nome tem vindo à baila na Rússia e também nos países em que há grande
interesse pelo acervo cultural russo. E eu pude me beneficiar dos materiais postos à minha disposição
pelo incrível pesquisador Gutemberg Medeiros.

Depois de tantos anos, o que permanece em sua obra?

Os textos críticos em defesa de suas posições extremadas conservam uma vibração e intensidade
envolventes, por menos que se aceitem as posições defendidas. Já as peças teatrais de tema político
declarado, muito ligadas a acontecimentos da época, certamente envelheceram. Com suas personagens
recortadas em branco e preto, com aquela defesa de posições de momento muito explícitas, elas têm
pouco a nos dizer hoje em dia. É o caso, entre outros, de Ruge, China!, embora ele tenha dedicado
alguns anos à experiência chinesa, chegando a lecionar numa universidade naquele país. Mas, ao
mesmo tempo, temos de reconhecer: Tretiakóv era essencialmente um homem de teatro e nisso
consiste a sua contribuição maior.

Sua peça Máscaras de Gás foi dirigida por Eisenstein, que trabalhava com Meyerhold e decidiu montá-
la no próprio gasômetro de Moscou. Inspirada numa ocorrência do cotidiano, é uma peça vibrante em
que se narra a tragédia do diretor do gasômetro, cujo filho morre intoxicado numa tentativa de tapar
um vazamento então ocorrido.

Apesar de suas qualidades cênicas, a peça resultou num fracasso de público. Aliás, parecia algo em
contrafluxo e contrastava com a propaganda ufanista dos planos quinquenais. Ao mesmo tempo, ela
marca a passagem de Eisenstein do teatro para o cinema, pois um dos episódios era projetado em tela
no palco.

No entanto, a obra-prima de Tretiakóv é com certeza a peça Eu Quero um Filho, que não chegou a ser
encenada em vida do autor. Sua personagem central é uma jovem que fica repetindo: "Eu quero um
filho. Não quero marido, não quero namorado, só quero um filho!".

A ação se passa em grande parte nas assembleias de inquilinos de um prédio (não podemos chamá-los
de condôminos, pois os prédios eram propriedade do Estado). A moça apega-se a um dos inquilinos e
insiste em seu propósito. "Mas, por que logo eu?", indaga o eleito. Acontece, porém, que ele tinha todas
as características exigidas: o físico ideal, os antecedentes desejados e, sobretudo, era um proletário de
três gerações, pelo menos. O autor chamava assim a atenção para uma das pragas daquele tempo: o
surgimento de uma nova "aristocracia", os proletários por hereditariedade (assim, minha família
acabou emigrando para o Brasil depois que um primo foi expulso da Escola Politécnica de Odessa por
/
ser de origem burguesa - e os cursos universitários deviam reservar suas vagas para as famílias
proletárias).

O indivíduo em questão era casado, e isto resultou numa série de quiproquós com a esposa, uma jovem
que não tinha a qualificação operária da outra. O final é apoteótico: o público sobe ao palco, onde se
realiza uma exposição de robustez infantil e onde estão os dois pimpolhos, filhos do inquilino em
questão e de cada uma das duas mulheres.

A peça não foi aprovada para exibição e Tretiakóv acabou escrevendo uma versão mais leve, que
também não chegou a ser montada: na mesma época, ele foi julgado por traição após ser preso pelo
regime stalinista e condenado à morte.

Passada a reviravolta política na Rússia, a lcom elenco russo, dirigida por Robert Leach, professor da
Universidade de Birmingham, Inglaterra, onde encabeçava também um grupo teatral. No prefácio à
tradução britânica, ele lamenta o fato de sua apresentação russa ter sofrido cortes e conta que só pôde
montá-la na íntegra justamente nessa tradução inglesa e por aquele conjunto teatral.

Realmente, a radicalidade de Tretiakóv, o seu espírito desabusado continuaram criando problemas.


Nada mais característico do que a descrição caricata que faz do elevador da moradia de Brecht em
Berlim: sujo, trepidante, quase desconjuntado, e que, segundo ele, seria impossível em Moscou. Algo
desmentido por minha própria experiência, aliás bem posterior àqueles anos 20, isto é, depois dos
tempos da maior miséria.

A sua atitude iconoclasta e radical aparece na abordagem das mais diversas questões. É muito
conhecida, por exemplo, a importância que Eisenstein atribuía ao ideograma chinês e que foi decisiva
em sua teorização sobre montagem no cinema. Pois bem: para Tretiakóv tratava-se apenas de
manifestação do espírito aristocrático e conservador da classe superior chinesa. Em oposição a isso,
defendia a iconoclastia dos estudantes chineses, seus alunos, que renegavam toda aquela herança
cultural.

Realmente, considerando a situação da cultura naqueles dias, percebe-se que não havia lugar para
Tretiakóv na Rússia de Stálin. Passados tantos anos, resta-nos fruir sua vibrante e corajosa obra teatral
- e encarar com o devido desconto seus exageros teóricos.

Preso pelos stalinistas em 1937, acusado de ser contrarrevolucionário, ele acabaria morto pelo regime
dois anos depois

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