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Alguns apontamentos da História de Israel

I
 A Bíblia não tem, objetivamente, a pretensão de se considerar um livro de história, mas antes um livro que
transmite uma verdade de ordem salvífica. Contudo, não se pode menosprezar o seu valor histórico na
composição de uma história de Israel. Com efeito, de algumas partes da história de Israel, a Bíblia é a única
fonte conhecida, pelo que é um dos elementos que concorre para o seu estudo, para além das fontes extra
bíblicas e dos dados arqueológicos.
Ao tomar como referência a Sagrada Escritura, como fonte histórica, é preciso ter em conta algumas
características próprias dos textos bíblicos, a começar pela existência de uma enorme distância entre os factos
narrados e os factos acontecidos, o que dificulta uma verdadeira reconstrução histórica. O autor bíblico relê os
acontecimentos à luz do contexto social, político e religioso do seu tempo. Além disso, os textos refletem as
vivências de um povo a partir de uma perspetiva de fé: a finalidade é a mensagem teológica do acontecimento,
ou seja, o autor sagrado, ao apresentar personagens, narrar eventos e descrever lugares, tem por objetivo
expressar a significação religiosa que tudo isso teve para Israel. Daí o caráter seletivo dos textos bíblicos:
omitem-se factos importantes na história de Israel e referem-se outros, com pouca relevância neste âmbito,
mas importantes para o sentido religioso do povo.
A Bíblia expõe, pois, uma história interpretada e não é de estranhar que a interpretação nem sempre
corresponda à realidade dos factos. Ainda que o estudo destes aspetos pertença à crítica literária, a sua
amplitude é tal que incide na própria forma de abordar e conceber a história de Israel. Ignorá-los levaria a uma
distorção da história.
Na evolução destas considerações sobre o conteúdo bíblico, encontramos duas posturas divergentes: uma que
determina a sua qualidade histórica, na linha de Ricciotti que em 1932 publicou a conhecida “História de
Israel”, na qual comentava os textos bíblicos, enriquecendo-os com outros materiais históricos e
comprovando-os com material arqueológico. Esta tendência, defendida pela escola americana do pós-guerra,
onde ressaltam alguns nomes como o do arqueólogo W. F. Albright e obras como “A História de Israel” de J.
Bright, publicada em 1959, considerava os textos bíblicos, fundamentalmente, históricos.
Uma outra posição, diametralmente oposta, adotou uma atitude cética em relação à hipótese de construir a
história a partir da Bíblia. É o caso de G. Garbini que afirma: “é inútil procurar nela [Bíblia] uma ideia
histórica”.
Hoje, buscam-se posições mais moderadas que encontrem pontos de equilíbrio, isto é, que compreendam o
valor fundamentalmente teológico dos textos sagrados, mas que reconheçam a complementaridade do seu
conteúdo no estudo da história de Israel.

 A Bíblia, tendo sido escrita por diversos autores e num período de tempo que se alongou durante séculos,
remete-nos para contextos e percursos diversos e complexos, até ao momento da sua redação. Assim, cada
livro da Bíblia apresenta uma história de composição própria e esta peculiaridade é fundamental na análise
dos textos. Nem sempre o que conhecemos pelos textos bíblicos é verificável por meio de outras fontes, pelo
que não podemos descurar a história de composição dos livros sagrados, uma vez que existe uma enorme
distância cronológica entre os factos e a sua narração. Se o facto de narrar frequentemente eventos acontecidos
há séculos não for tomado em conta, sobrevém o perigo de deturpar os eventos históricos, impossibilitando
uma verdadeira reconstrução histórica dos acontecimentos. Deste modo, é fulcral atentar na história de
composição de cada livro no sentido de aclarar o contexto dos factos narrados, mas também o meio em que foi
escrito e o objetivo do autor sagrado. É esta a grande contribuição da história da composição: apresenta os
traços históricos dos livros bíblicos, filtrados pela reinterpretação do autor que, à luz das condições sociais,
políticas, culturais e religiosas do seu tempo, tem como principal objetivo a transmissão de uma mensagem na
perspetiva da fé religiosa de um povo.
É no cruzamento destes dados com outras fontes extra bíblicas (que correspondem a todos os documentos
escritos, provenientes de fontes estranhas à Bíblia e relativas à história de Israel como papiros e inscrições) e
com os resultados das descobertas arqueológicas (que permitem reconstituir e compreender melhor a Bíblia,
facilitando a sua interpretação, apesar de alguns casos a contradizerem), que se torna possível decifrar os
verdadeiros factos da história de Israel.
Além disso, o surgimento do Povo de Israel está enraizado na história e os factos históricos resultam dos
próprios conteúdos e da vivência da religião, pelo que não se deve perder de vista que a Bíblia apresenta Israel
celebrando factos da sua história de encontro com Deus, sendo esta a sua pretensão religiosa, que está na base
da composição dos diferentes livros, e que tem de ser procurada e contextualizada pelas ciências atuais de
forma a proceder a uma moderna clarificação e definição da história de Israel.

Cafarnaum

Carmelo Lago Tiberíades


Galileia

Samaria
Siquém
Betel

Jerusalém

Os locais selecionados na questão têm, todos eles, uma importância histórica no contexto bíblico:
Carmelo – 1Rs.18,20-40 – Foi ali que Elias desconcertou os profetas de Baal, levando de novo o povo de
Israel à obediência ao Senhor. 2Rs.1,9-14 – Foi também no Monte Carmelo que, Elias fez descer fogo do céu,
que consumiu, por duas vezes, os 50 soldados com o seu capitão, que o Rei Ocozias tinha mandado ali para
prender o profeta, em virtude de este ter detido os seus mensageiros que iam consultar Baal.
Galileia – Mt.2,22b-23 – Foi na Galileia que Jesus viveu a infância, a juventude e a maior parte da sua vida
adulta. Mt.4,12-25; Mc.1,14ss; Lc.4,14ss – Foi também aqui que iniciou o seu ministério. Os três primeiros
evangelhos são principalmente um relato do ministério público de Jesus na província, particularmente nas
cidades de Nazaré e Cafarnaum.
Lago de Tiberíade – Mc.1,14-20; Mt.4,18-22 – Jesus recrutou quatro dos seus apóstolos nas margens deste
lago: Pedro e seu irmão André, e os irmãos João e Tiago. Mc.3,7-9 – Jesus afasta-se, a fim de não ser
oprimido pela multidão. Lc.8,22-25; Mc.4,35-41 – Jesus acalma a tempestade. Mc.6,45-52 – Jesus caminha
sobre as águas.
Siquém – Gn.12,6-7 – É onde o patriarca Abraão ergueu o primeiro altar quando chegou à Terra Prometida de
Canaã, junto ao carvalho de Moré. Js.24,1-2.16.21.24-25 – É na grande assembleia de Siquém que Israel se
compromete oficialmente a ser o povo de Adonai. Reunidos em Siquém, no centro da Terra Prometida, lugar
de muitas evocações históricas, os representantes das tribos e o povo renovaram, diante da Arca da Aliança, o
seu compromisso com Deus, consolidando a promessa de o servir apenas a ele, recusando idolatrias, seguindo
a sua lei e obedecendo à sua voz.
Jerusalém – Jo.12,12ss; Lc.19,29ss – Foi em Jerusalém que Jesus entrou triunfalmente. Lc.22,47ss;
Jo.18,1ss; Mc14,43ss; Mt.26,47ss – Foi também aqui que Jesus foi preso, condenado à morte, crucificado e
onde ressuscitou e apareceu aos apóstolos.
Samaria – Lc.9,51-56 – A Samaria foi atravessada por Jesus Cristo no seu caminho para Jerusalém. Jo.4,4-43
– Foi também lá que se deu o episódio da samaritana.
Cafarnaum – Mt.8,5-17; Mc.1,21-28; Mc.2,1-13; Jo.4,46-54; etc. – Jesus realizou vários milagres em
Cafarnaum.
Betel – IRs.12,29 – Após a divisão do Reino de Israel, Jeroboão I, Rei de Israel Setentrional, mandou erguer
um Bezerro de Ouro em Betel.

 Israel tem uma área relativamente pequena, na qual se podem distinguir quatro zonas:
A planície costeira, paralela ao Mediterrâneo, é formada por uma faixa arenosa junto ao mar, flanqueada por
terrenos férteis que avançam até 40 km em direção ao interior do país. No norte, extensões de praia arenosa
são às vezes pontuadas por calcário entalhado e rochedos de arenito, como é o caso do monte Carmelo, que
forma o único porto natural do país.
A região central compreende várias cadeias de montanhas que acompanham o comprimento do país. No
nordeste encontra-se o Planalto do Golan, com as suas rochas de basalto, testemunhas de erupções vulcânicas
no passado distante, que se ergue como uma parede íngreme a contemplar o Vale do Hula. Nas montanhas da
Galileia, que atingem altitudes entre 500 e 1.200 m acima do nível do mar, existem pequenos regatos perenes
e um índice pluviométrico relativamente elevado que mantem a cor verde da região durante todo o ano. O
Vale do Yezreel, entre as montanhas da Galileia e da Samaria, é a região agrícola mais rica de Israel. As
colinas arredondadas da Samaria e Judeia – esta com mais de mil metros de altitude na zona do Hebron –
apresentam um mosaico de cumes rochosos e vales férteis que terminam no vasto deserto do Negueb, que
constitui cerca da metade da superfície de Israel e é habitado apenas por 8% da população, concentrada na sua
região setentrional. Mais para o sul, o Negueb torna-se uma zona árida, caracterizada por pequenas colinas e
planícies de arenito, cortadas por várias gargantas e wadis, nos quais as chuvas invernais causam
frequentemente súbitas torrentes. No centro, entre a Samaria e a Judeia, encontra-se a cidade de Jerusalém.
A terceira zona corresponde à fossa do Jordão. O Vale do Jordão, que acompanha o comprimento do país na
fronteira oriental, é parte da fenda Sírio-Africana, falha natural, que dividiu a crosta terrestre há milhões de
anos. A sua área setentrional é extremamente fértil, ao passo que o sul é semiárido. O rio Jordão, que corre de
norte a sul através desta fenda, desce mais de 700 m no seu curso de 300 km. Alimentado por regatos que
descem do Monte Hermon, atravessa o fértil vale do Hula até ao Lago de Tiberíades, já 120 m abaixo do nível
do Mediterrâneo, continuando a serpentear através do tortuoso vale do Jordão até desembocar no Mar Morto.
Embora se avolume durante a estação chuvosa, no inverno, é um rio de modo geral, estreito e pouco profundo.
O ponto mais baixo da Terra, o Mar Morto, cerca de 400 m abaixo do nível do mar, situa-se ao sul do Vale do
Jordão. As suas águas, que têm o mais alto grau de salinidade e densidade do mundo, seis vezes superior ao
do Mediterrâneo, são ricas em potássio, magnésio e bromo, assim como em sal de cozinha e sais industriais.
Finalmente, a quarta zona que corresponde ao planalto da Transjordânia, uma região muito fértil na parte
setentrional que se vai tornando árida e desértica à medida que se avança para sul. Na parte central, a Sul do
rio Yaboc é a região dos amonitas e mais a Sul temos a terra de Moab e o território de Edon, este já quase no
deserto, onde se situa a cidade de Petra.

 Todos os povos já se perguntaram alguma vez: donde viemos? Qual foi a nossa origem? Quem foi o fundador
do nosso povo? Qual o nosso destino? O povo de Israel, na sua reflexão interna ou no confronto com outros
povos, religiões e culturas, colocou a si próprio estas e outras questões semelhantes. O Génesis surge, para o
povo de Deus, como o livro das grandes interrogações e das grandes respostas.
Temos poucos dados sobre estas personagens. Como em todas as questões referentes a esta época, o
tratamento da religião é mais etnológico do que histórico. Há tão poucos elementos históricos que alguns
historiadores consideram os patriarcas personagens míticas, inventadas na época do desterro.
A História Patriarcal (Gn.12-50) acolheu lendas antigas e referências a El, que faziam parte do espólio cultural
dos santuários cananeus. No que se refere à origem dos Patriarcas, há relatos sobre os antepassados tribais,
heróis antigos, genealogias ou listas de patriarcas (Gn.5) e de povos (Gn.10), e outras histórias que pretendiam
explicar a origem dos povos em geral e de Israel em particular.
É muito difícil determinar datas para o período patriarcal, tanto no que se refere ao seu princípio como ao seu
fim. Este período inicia-se com Abraão e continua com os seus descendentes Isaac e Jacob. Os patriarcas eram
um povo seminómada, pastores de gado miúdo e ocasionalmente pequenos agricultores, sem morada fixa.
Fora dos textos bíblicos não possuímos qualquer testemunho sobre a existência dos patriarcas, por isso hoje há
quem relacione as emigrações patriarcais com os chamados habiru, grupos nómadas, que faziam incursões
pelo Médio Oriente em meados do 2º milénio a.C. Também se tentou identificar os hebreus com um grupo de
seminómadas de origem semítica, os Shashu, testemunhados no Egipto entre os séculos XV e XIII a.C.
Alguns historiadores consideram que certos costumes, referidos no Génesis e atribuídos aos patriarcas, se
podem relacionar com tradições análogas do princípio do 2º milénio, de que temos conhecimento, pelos textos
encontrados nos arquivos das cidades Estado do Médio Oriente.
A religião dos patriarcas era de tradição javista: a fé em Javé. A redação javista do livro do Génesis (X-IX
a.C.) vê as promessas feitas a Abraão realizadas na monarquia davídica. Por outro lado a redacção sacerdotal
– composta na época do desterro babilónico – apresenta o itinerário de Abraão, como o mesmo percorrido
pelos desterrados da Babilónia, durante o retorno à Pátria. Deste modo a história patriarcal adquire um valor
simbólico no texto bíblico.
Em conclusão, podemos situar os patriarcas entre os seminómadas que percorriam a terra de Canaã no século
XVIII a.C. Os relatos bíblicos do Génesis, apresentam uma história de família – Abraão, Isaac e Jacob – ao
longo de três séculos, numa releitura realizada no tempo da monarquia davídica (javista), ou perante a
experiência do desterro (sacerdotal). Relativamente a estes três chefes de família, o texto bíblico faz uma
releitura e atualização permanente da história patriarcal, indo para além da historicidade objetiva e concreta
que se pode encontrar nos relatos acerca deles.

 No livro do Êxodo é narrada a saída do Egito, da qual os conflitos entre os hebreus e as autoridades egípcias
constituem a base e o ponto de partida. A razão para esse conflito aparece clara nos textos: os egípcios
obrigam os hebreus a trabalhar em condições insuportáveis (Ex.1,11-14) na construção das cidades de Pi-Tom
e Ramsés. Este facto, não podendo ser comprovado, tem grandes semelhanças com outros relatos que referem
as autoridades egípcias a recrutarem à força as tribos seminómadas provenientes do Médio Oriente.
Contudo o livro do Génesis, com a história de José, parece fazer uma introdução para este facto, mas referindo
características um pouco diferentes, nomeadamente, aquando da chegada da tribo de Jacob ao Egipto,
resultado do cargo político alcançado por José (grão-vizir do Faraó).
A verdade é que não temos elementos históricos que nos permitam afirmar qualquer facto dos descritos em
Gn.37-50, já que as fontes egípcias não os referem, permanecendo no campo do verosímil com base no
anteriormente exposto.
Segundo o relato de Ex.1,8ss, a opressão surge com a mudança de dinastia, mas, mais uma vez, as fontes
egípcias nada referem e, mesmo o texto bíblico, se divide entre a lembrança dos trabalhos forçados (Ex.1,8-
14) e o decreto do Faraó a decidir a morte de todos os filhos varões (Ex.1,15-22). Desconhecemos o motivo da
verdadeira opressão mas existem registos que atestam os trabalhos forçados a que eram sujeitos no Egipto,
quer estrangeiros, quer prisioneiros de guerra, quer escravos, em que se fixa a ração diária a atribuir. Esta
situação era difícil de suportar, principalmente para gentes habituadas à liberdade, própria de seminómadas e
poderá ter sido uma das razões do êxodo. Outro motivo para a saída, poderá ter sido a celebração de um ato de
culto no deserto (Ex.5,1) – o sacrifício pascal da primavera – e a resposta negativa das autoridades terá
provocado a fuga. Temos assim dois elementos constitutivos do ponto de partida do êxodo: a opressão e o
culto.
Há outra tradição que apresenta o êxodo como consequência da expulsão decretada pelo Faraó, ainda que
ambas as versões – fuga ou expulsão – surjam frequentemente misturadas.

 Em primeiro lugar, é necessário referir que o texto bíblico não refere o Mar Vermelho mas sim o Mar das
Canas ou dos Juncos. Por outro lado, têm-se multiplicado as tentativas para definir o local exato da passagem:
pensou-se nos Lagos Amargos, na zona do Delta, por onde passa hoje o Canal do Suez e, também, na zona
costeira junto ao Mediterrâneo, zona pantanosa que explicaria a expressão “Mar das Canas”. Todavia, mais
uma vez, não saímos do campo das conjeturas.
No relato sacerdotal do Êxodo assiste-se à passagem do mar num cortejo triunfal entre duas muralhas de água
(Ex.14,22), enquanto na tradição mais antiga, o “milagre” é simplesmente o vento de Oriente, que seca a água
do mar, permitindo a passagem (Ex.14,21). Existe, pelo menos, mais outra versão que fala da fuga dos
egípcios, bloqueados pelo Senhor no seu acampamento e impossibilitados de perseguir os israelitas.
Na tentativa de explicar estas contradições, fruto das versões divergentes, nasceu a famosa teoria de R. De
Vaux, segundo a qual não houve um êxodo, mas sim dois: um êxodo-fuga e um êxodo-expulsão. Isto remete-
nos para a saída do Egito de dois grupos de israelitas em momentos distintos e de modo diverso, ainda que
ambos no tempo de Ramsés II. Segundo De Vaux, esta teoria resolveria o problema da pluralidade de relatos.
Porém, quer se aceite ou não esta teoria, as motivações teológicas subjacentes ao texto bíblico têm, também
neste caso, a vantagem sobre a exactidão histórica.

 A entrada de Israel em Canaã sempre suscitou muitas dúvidas, existindo, por isso, várias teorias para explicar
este acontecimento.
Numa primeira abordagem, seguindo o relato de Josué, Canaã é conquistada militarmente pelo exército de
Josué (Js.11,1-11). A teoria da invasão militar única é defendida pela escola americana, mas não é
consubstanciada pelos dados arqueológicos, que mostram como a maioria das cidades, que Josué haveria
destruído, foram dizimadas, mas pelas incursões dos filisteus e dos egípcios, assim como por fenómenos
naturais. Outras cidades, teoricamente conquistadas por Josué, encontravam-se ao tempo desabitadas, como é
o caso de Arad, AY e Jericó.
Surge então uma outra explicação que defende a ideia de uma infiltração gradual e pacífica, pelo menos
inicialmente, de pequenos grupos de israelitas, pequenas tribos seminómadas, que na idade do ferro se foram
instalando nas montanhas da região central. O estudioso alemão M. Noth vai mais longe e elaborou a teoria da
“Liga das Doze Tribos”, na qual defende que Israel teria nascido da união das doze tribos em torno de um
lugar único de culto, onde estaria a Arca da Aliança. No entanto, não há provas que corroborem qualquer
união sagrada deste tipo.
Um terceiro modelo é defendido por R. De Vaux e procura integrar as anteriores. Preferindo falar de
integração, refere que a instalação dos israelitas em Canaã terá acontecido, em parte, de modo gradual e
pacífico e, em parte, de modo violento.
Ainda uma outra visão é-nos apresentada por G. E. Menedenhall e N. K. Gottwald. Trata-se de uma teoria
sociológica que sustenta a presença constante de Israel em Canaã, ou seja, os povos que viviam em Canaã
sempre ali estiveram, pelo que não terá havido nem conquista nem infiltração, mas antes uma revolta das
classes campesinas contra o poder das cidades- Estado cananeias. Também esta teoria carece de provas
suficientes, ainda que tenha o mérito de destacar questões sociais.
Em jeito de conclusão, podemos afirmar que, partindo de todos os dados arqueológicos, as ilações apontam
para o facto de entre israelitas e cananeus não existirem diferenças étnicas, pelo que os israelitas não se
sobrepuseram aos cananeus, antes se uniram gradualmente, distinguindo-se apenas no plano religioso.

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