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Alvaro Bianchi
Uma das consequências menos notadas da ascensão e queda do stalinismo foi uma
alteração profunda na literatura do socialismo. A prosa rude e deselegante da burocracia
soviética desafiou o estilo literário que se encontrava impresso nos principais
documentos do movimento operário do século XIX e do início do século XX. Uma
contrarrevolução estilística teve lugar. A prosa direta e eficaz de Lenin, a forte e
entusiasmada retórica de Trotsky e a altiva simplicidade de Bukharin cederam lugar às
frases curtas e truncadas de Stalin, aos ameaçadores parágrafos de Vizhinsky, aos
contorcionismos de Molotov.
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primeiros debates constitucionais na Assembleia Nacional. Aqueles que se opunham ao
direito de veto real se reagrupavam à esquerda no plenário, enquanto os partidários do
poder real estavam à direita.
A origem do termo já define seus limites. Tendo nascido no âmbito dos debates
parlamentares para expressar uma posição política, ele passou a carregar consigo os
limites impostos pela regras do jogo próprias da política parlamentar. Este é um dilema a
respeito do qual Norberto Bobbio muito argumenta sem conseguir, entretanto, sair
desses limites. Quando, por exemplo, define o conceito de esquerda como uma posição
política positiva que “os homens organizados em sociedade assumem diante do ideal da
igualdade”, Bobbio (1995, p. 95) faz questão de diferenciar esse ideal de igualdade do
princípio igualitarista: “A todos a mesma coisa” (idem, p. 97).
Ora, razoável é apenas aquilo determinado pelas regras do jogo. Como base nas
alternativas aceitáveis nesse jogo seria possível assumir posições de direita e de
esquerda. Seriam de direita aqueles que se mostram mais insensíveis à diminuição das
desigualdades, enquanto seriam de esquerda aqueles mais sensíveis a tal. O argumento
de Bobbio é, a meu ver, logicamente falho. Uma vez que considera que a igualdade não
é um conceito absoluto e sim relativo (idem, p. 96), ele necessita do princípio
igualitarista, ou seja, a igualdade absoluta, como uma medida de igualdade. De acordo
com as regras do jogo são razoavelmente de esquerda aqueles que respeitosamente se
aproximaram mais do que outros do princípio igualitarista, por mais distantes que dele se
posicionem, sem o desejarem de fato. Vemos, então, quão limitado é o conceito de
esquerda se desejamos criar um que designe um projeto político orientado pelo princípio
igualitarista.
Deixemos o substantivo de lado e passemos aos adjetivos velha e nova. Assim como
considero o substantivo esquerda como não perfeitamente adequado para expressar um
projeto igualitarista, considero que os adjetivos velha e nova são igualmente
inadequados para qualificar as diferentes formas que esse projeto possa assumir. Assim
como direita e esquerda, velho e novo também podem ser concebidos como conceitos
axiologicamente construídos. É-se novo com relação a algo que ocorreu antes, assim
como se é velho com relação ao que veio depois. Mas ao contrário de esquerda e direita
falta a esses conceitos uma medida absoluta. O tempo é sempre relativo. O risco óbvio é
que na ausência de um referencial absoluto o presente se autodenomine o último novo.
O último novo seria, assim, o limite inamovível da política. Mas, afinal, depois da nova
esquerda viria a novíssima esquerda? E depois da novíssima esquerda, viria o quê?
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Isso não impede que por razões de comodidade ou mesmo de respeito às tradições do
pensamento político continuemos utilizando expressões como esquerda e direita. O
caráter axiológico da definição é limitado, mas não é de todo modo inútil para a análise
política. Saber quem está à direita ou à esquerda de um determinado ponto é sempre
útil. Mas também é útil saber o quão distante se está do igualitarismo que deveria servir
como ponto de referência. Do mesmo modo o uso dos adjetivos velho e novo pode
evidenciar uma concepção linear e homogênea do tempo. Os ciclos e contratempos
próprios da política dificilmente poderiam ser explicados por essa concepção linear. A
insistência na dicotomia velho/novo implica assumir que o novo ultrapassa
definitivamente tudo o que ficou para trás, sem possibilidade nenhuma seja de
reapropriação, seja de retorno ao próprio passado.
Referência bibliográfica:
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