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2.2 ESTIMATIVA DA FORÇA E TRABALHO NO FORJAMENTO

Com relação a estimativa de força e trabalho (= energia) requeridas ao processo de


forjamento é importante destacar que as principais metodologias analíticas e/ou técnicas gráficas
– utilizadas para obter estas grandezas, apresentam inúmeras hipóteses simplificadoras, (ex.:
considerações a respeito de atrito e temperatura constante, material isotrópico e incompressível,
etc.), que são necessárias para viabilizar os cálculos. Assim, o valor verdadeira destas grandezas
se torna algo impossível de se obter, sendo apenas possível obter estimativas tão próximas
quanto ao número de variáveis de influência consideradas (ex.: atrito, velocidade de
deformação, maquinário, material, temperatura, modo de escoamento, etc.).
Nesse sentido, é apresentado na Fig. 2.17 um gráfico que retrata o comportamento da
força envolvida em diferentes maquinários – martelos de queda e prensas. Onde, para os
martelos tem-se ciclos de carga que, devido ao encruamento do material a cada pancada e o
deslocamento (curso) da massa cadente, apresentam um nível de força cada vez maior, enquanto
que nas prensas temos um comportamento contínuo e crescente da força ao longo do processo.

Fig. 2.17 – Comparativo entre a força de forjamento por martelo de queda e prensa.

Visando obter uma estimativa de força e energia mais condizente ao processo de


forjamento, diversas metodologias foram desenvolvidas ao longo das décadas, destacando:
a) Método da Teoria da Semelhança: Baseia-se em conhecimentos práticos de processos
já existentes, visando o desenvolvimento de peças semelhantes. Logo, apresentada pouco
embasamento teórico, sendo ainda muito encontrado em forjarias de pequeno a médio
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porte, ou até mesmo aquelas de grande porte, através da adoção das técnicas de “tentativa
e erro” ou “empirismo”, visando o projeto e fabricação de componentes forjados;
b) Método das Grandezas Equivalentes: Possui maior embasamento teórico-científico,
além de considerar algumas variáveis atuantes no processo, porém devido a sua
formulação simples – em decorrências das hipóteses simplificadoras consideradas, muitas
vezes há comprometimento da exatidão dos resultados, apresentando valores distorcidos
que devem ser verificados através de ensaios e testes práticos.
c) Métodos Numérico-Computacionais: Desenvolvidos nas últimas décadas visando a
discretização e a solução das equações que regem o fenômeno físico da deformação,
neste caso, o forjamento. Em geral, os problemas de engenharia apresentam um nível de
complexidade considerável devido as variações das grandezas envolvidas. Por isso, são
utilizados softwares específicos, cuja resposta convergirá com o processo real se os dados
de entrada (parâmetros) tiverem sido corretamente definidos.

Fig. 2.18 – Simulação de forjamento via software. a) Análise da deformação efetiva. b) Análise
do fluxo de material. Fonte: [www.simufact-americas.com].

Na seqüencia, é apresentado com maior destaque o Método das Grandezas


Equivalentes, através de equações e formulações analíticas simples, embora existam técnicas
gráficas resultantes da aplicação de diagramas amplamente difundidos na indústria de forjados.
Tais métodos possuem respostas rápidas, e exigem poucos recursos em hardwares, softwares e
em treinamento de pessoal (ex.: Método de Lange, Método de Makelt, Método dos Blocos, etc.).

2.2.1 Método das Grandezas Equivalentes

Neste método as condições geometria e volume da geratriz e peça, entre outros


parâmetros, são amplamente considerados. Sendo possível obter, além da estimativa de força e
energia, a estimativa da taxa de deformação (velocidade de deformação) do processo, conforme a
velocidade do maquinário utilizado.
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Para a estimativa da força e energia é fundamental prever a tensão de escoamento

“ σ e ” do material em conformidade ao processo e ao estado de deformação pré-existente do

mesmo. Nesse sentido, para os processos de conformação à quente, inclusive o forjamento,


considera-se σ e = constante e independente da deformação plástica produzida. Porém, para
processos de conformação a frio e a morno para metais e ligas utiliza-se a Equação de
Hollomann – ver equação (2.4), visando definir a relação entre a tensão de escoamento e a
deformação do material, já que o material apresenta encruamento parabólico ou potencial.

σe =σo ⋅ ϕ
n
(2.4)

A equação proposta por Hollomann apresenta constantes relacionadas às


propriedades dos materiais, que são: “σo” e “n”. Onde, “σo”consiste na tensão de escoamento
do material conforme o nível de encruamento que este apresenta, ou também chamada de
constante plástica de resistência. Observa-se que, se |φ|=1 tem-se σe = σo para qualquer valor
atribuído à constante “n”. Assim, “σo” pode ser definida como a tensão de escoamento que
qualquer metal ou liga apresenta quando submetido ao encruamento unitário, ou seja, quando há
deformação do material em 100%, tanto em tração quanto em compressão.
O coeficiente de encruamento “n” representa a máxima deformação homogênea
possível numa única etapa de tração ou compressão, sendo que qualquer deformação superior
necessitará mais de uma etapa e/ou recozimentos intermediários, visando homogeneizar a
microestrutura do encruamento por recristalização. Logo, este coeficiente serve de parâmetro
(referência) para a definição das etapas do processo e ciclos de recozimento.
Os valores dos “σo” e “n", são obtidos através de ensaios de tração simples, plotando
os resultados de tensão e deformação verdadeiras num gráfico log-log, ver Fig. 2.19, de onde é
possível elaborar tabelas destes valores para os diversos materiais, conforme Tab. 2.5.

Fig. 2.19 – Gráficos de tensão e deformação utilizados para obtenção das constantes “σo” e “n”.
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Tab. 2.5 – Constantes “σo” e “n” conforme o tipo de material.


Material “σo” [MPa] “n”
SAE 1010/1020 800 0,2
SAE 1035 902 0,2
SAE 4340 640 0,15
Aço inox - AISI 304 1400 0,44
Cobre 530 0,44
Latão 260 0,5
Liga de alumínio (2024 T3) 780 0,17
Liga de magnésio (AZ-31B) 450 0,16

É fundamental destacar que se “n” = 0 isto indica que o material apresenta um


comportamento plástico ideal, enquanto que se “n” = 1, significa que o material possui
comportamento elástico ideal. Em geral, os materiais apresentam valores de “n” entre 0,1 e 0,5,
sendo possível ainda existir grande variação desta constante para um mesmo material, devido aos
tratamentos térmicos envolvidos, que alteram suas propriedades à deformação.
A partir destas definições, e visando obter uma estimativa da força e energia deve-se
utilizar as equações descritas na Tab. 2.6, em conformidade ao tipo de processo, onde:
ϕ eq = Deformação equivalente, que considera as alturas médias ou áreas da peça, geratriz e/ou pré-forma;
hmg = Altura média da geratriz ou pré-forma no plano da rebarba;
hmp = Altura média das cavidades da matriz visando a obtenção da peça;
Ap* = Área projetada no plano da rebarba considerando a rebarba;
Ag = Área da geratriz ou pré-forma no plano da rebarba, s/ considerar a rebarba;
V = Vg = Volume de material (geratriz ou pré-forma).

Tab. 2.6 – Equações utilizadas no Método das Grandezas Equivalentes.


Processo a frio ou morno Processo a quente
Força Força
F = Amáx .(σ e (máx ) ) F = Amáx .(σ e (máx ) )
Área máxima Área máxima
Amáx = Ap * Amáx = Ap *
Tensão de escoamento máx. Tensão de escoamento máx.
σ e ( máx ) = σ e = σ 0 = cte
n
σ e ( máx ) = σ o ⋅ ϕ eq
Trabalho (= energia) Trabalho (= energia)

T = Vg .(σ e ( máx ) ).ϕ eq

Deformação equivalente Deformação equivalente


 hmg   hmg 
ϕeq = ln  ∴ϕeq = ln Ap*  ϕeq = ln  ∴ϕeq = ln Ap* 
  Ag    Ag 
 hmp     hmp   

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