Você está na página 1de 77

PCC3101

GEOMETRIA
GRÁFICA PARA
ENGENHARIA
REVISÃO:
BRENDA CHAVES COELHO LEITE
CHENG LIANG YEE
EDUARDO TOLEDO SANTOS
ELSA VÁSQUEZ ALVAREZ (ED.)
FABIANO ROGERIO CORRÊA
FERNANDO AKIRA KUROKAWA
JOÃO ROBERTO DIEGO PETRECHE
SÉRGIO LEAL FERREIRA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


ESCOLA POLITÉCNICA
DEPTO. DE ENG. DE CONSTRUÇÃO CIVIL (PCC)

2022
TEORIA
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Índice

1 DESENHO GEOMÉTRICO .................................................................................................. 3

1.1 Objetivos............................................................................................................................... 3

1.2 Introdução ............................................................................................................................ 3

1.3 Lugar geométrico .................................................................................................................. 5


1.3.1 Método dos Lugares Geométricos .................................................................................... 6

1.4 Alguns Lugares Geométricos ................................................................................................. 7


1.4.1 A circunferência................................................................................................................. 7
1.4.2 A mediatriz ........................................................................................................................ 9
1.4.3 O arco capaz .................................................................................................................... 10
1.4.4 Par de retas paralelas ...................................................................................................... 12
1.4.5 Par de bissetrizes ............................................................................................................ 13
1.4.6 Eixo radical ...................................................................................................................... 14

2 GEOMETRIA DESCRITIVA............................................................................................. 18

2.1 Objetivos............................................................................................................................. 18

2.2 Sistemas de Projeção .......................................................................................................... 18

2.3 Sistema Mongeano de Projeção .......................................................................................... 21

2.4 Pontos e Retas .................................................................................................................... 24


2.4.1 Objetivos ......................................................................................................................... 24
2.4.2 Estudo do ponto .............................................................................................................. 24
2.4.3 Estudo da reta: elementos principais.............................................................................. 24

2.5 Planos ................................................................................................................................. 27


2.5.1 Objetivos ......................................................................................................................... 27
2.5.2 Interseção de plano com os Quadros de Projeção ......................................................... 27
2.5.3 Pertinência de reta a plano ............................................................................................. 29
2.5.4 Pertinência de ponto a plano .......................................................................................... 30
2.5.5 Interseção de plano com plano ....................................................................................... 31
2.5.6 Interseção de reta com plano ......................................................................................... 31
2.5.7 Posições Particulares de Planos ...................................................................................... 32

2.6 Métodos ............................................................................................................................. 35


2.6.1 Objetivos ......................................................................................................................... 35
2.6.2 Rotações .......................................................................................................................... 35
2.6.3 Mudança de Plano de Projeção ...................................................................................... 38

2.7 GEOMETRIA COTADA .......................................................................................................... 42

2.8 Objetivos............................................................................................................................. 42

2.9 Introdução .......................................................................................................................... 42

2.10 Elementos de Representação de Projeções Cotadas ....................................................... 43

1
DESENHO GEOMÉTRICO

2.10.1 Escala e unidade .............................................................................................................. 43


2.10.2 Plano horizontal de projeção ........................................................................................... 43
2.10.3 Posição relativa de dois pontos ....................................................................................... 44

2.11 Estudo de Retas .............................................................................................................. 45


2.11.1 Inclinação de retas: declividade ....................................................................................... 46
2.11.2 Intervalo de uma reta ...................................................................................................... 48
2.11.3 Coeficiente de redução .................................................................................................... 48
2.11.4 Pertinência ponto-reta .................................................................................................... 49
2.11.5 Graduação de retas.......................................................................................................... 50
2.11.6 Retas concorrentes .......................................................................................................... 53
2.11.7 Retas paralelas ................................................................................................................. 54
2.11.8 Retas perpendiculares ou ortogonais .............................................................................. 54

2.12 Estudo de Planos ............................................................................................................. 55


2.12.1 Retas horizontais de um plano ........................................................................................ 56
2.12.2 Retas de maior declive de um plano................................................................................ 56
2.12.3 Inclinação, declividade e intervalo de planos .................................................................. 58
2.12.4 Graduação de planos ....................................................................................................... 58
2.12.5 Planos em posições particulares ...................................................................................... 59
2.12.6 Posições relativas de dois planos entre si ........................................................................ 60
2.12.7 Pertinência ponto-plano .................................................................................................. 61
2.12.8 Pertinência reta-plano ..................................................................................................... 62
2.12.9 Interseção plano-plano .................................................................................................... 62
2.12.10 Interseção reta-plano .................................................................................................... 62

3 SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS .................................................................................... 65

3.1 Objetivos ............................................................................................................................. 65

3.2 Introdução ........................................................................................................................... 65

3.3 As Superfícies Topográficas ................................................................................................. 66


3.3.1 Curvas de nível ................................................................................................................. 66
3.3.2 Pontos pertencentes a uma superfície topográfica ......................................................... 68
3.3.3 Linhas hidrodinâmicas de um terreno ............................................................................. 69

3.4 Perfil de um Terreno Segundo um Caminhamento .............................................................. 70


3.4.1 Caminhamento de declividade constante ....................................................................... 71

3.5 Corte plano de terrenos....................................................................................................... 72

3.6 Glossário de Termos ............................................................................................................ 75

2
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

1 DESENHO GEOMÉTRICO
1.1 OBJETIVOS
▪ Entender o conceito de lugar geométrico (LG), e ser capaz de identificar e construir
alguns dos principais lugares geométricos usados no desenho geométrico.
▪ Aprender o Método dos Lugares Geométricos.
▪ Adquirir habilidades na resolução dos problemas geométricos bidimensionais
(geometria plana).

1.2 INTRODUÇÃO
Nesta parte do curso nos preocuparemos com os elementos geométricos
bidimensionais, e o objetivo será o aprendizado da construção de alguns deles, enfatizando
problemas de tangência. O conceito de tangência é intuitivo e dois casos típicos são
mostrados na Figura 1.1.

Figura 1.1: Tangência entre reta e circunferência e tangência entre circunferências.

Os problemas de tangência estão intimamente relacionados com problemas de


concordância, que pode ser entendida como “tangência mais suavidade”.
Você pode questionar: “Há tangência sem suavidade?” Para responder essa
pergunta, pense em dois arcos tangentes. Mostraremos agora duas possibilidades na Figura
1.2. Não deve haver dúvida quanto à tangência. Em ambos os casos mostrados, os arcos são
tangentes, mas os arcos da direita não são concordantes!

Figura 1.2: Tangência e Suavidade.

3
DESENHO GEOMÉTRICO

Iniciaremos nosso estudo assumindo algum tipo de conhecimento prévio.


Certamente você sabe o que é um ponto, uma reta e um ângulo. Assumiremos que também
já são do seu conhecimento os seguintes tópicos:
• o que é semelhança de triângulos e as relações métricas envolvidas. Os
triângulos semelhantes têm os ângulos iguais e os lados proporcionais,
não necessariamente iguais (lembre dos casos de congruência de
triângulos).
• o que são ângulos central (), inscrito () e secante () (Figura 1.3);
• o traçado de retas paralelas e perpendiculares com um par de esquadros1.

Figura 1.3: Exemplos de ângulos central (), inscrito () e secante ()

Para se ter uma idéia dos tipos de problemas que trataremos, apresentam-se a seguir
dois exemplos:
Exemplo 1: Dados uma circunferência de raio r, uma reta t e uma distância s,
traçar as circunferências de raio s que são tangentes externamente à circunferência dada e à
reta t (Figura 1.4).

Figura 1.4: Exemplo 1

1
Veja um exemplo em http://www.mathsisfun.com/geometry/construct-ruler-triangle.html

4
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Exemplo 2: Dadas três circunferências de raios diferentes, traçar uma


circunferência tangente a elas (Figura 1.5).

Figura 1.5: Exemplo 2

Ambos são problemas que têm aplicações práticas interessantes. Basta pensar em
um sistema de engrenagens ou polias, por exemplo. Pare e pense um pouco se você é capaz
de resolvê-los. De fato, são problemas complexos, que são muito difíceis de serem
resolvidos sem o auxílio de um método. A seguir apresentaremos um método para solução
de diversos problemas planos semelhantes a estes, e cujo raciocínio pode ser usado
inclusive para resolução de problemas espaciais (como veremos no Capítulo 2 sobre
Geometria Descritiva).

1.3 LUGAR GEOMÉTRICO


O método a ser usado neste curso será baseado no reconhecimento e na aplicação de
lugares geométricos.

Lugar Geométrico: é um conjunto de pontos que possuem uma propriedade em


comum, e que somente eles a têm.

Faça o exercício 1-1.


Antes de tratarmos da definição e da construção dos principais lugares geométricos,
é conveniente discutirmos como estes LGs são usados na solução dos problemas de
Desenho Geométrico.
O método apresentado a seguir baseia-se no LIVRO 2 do CURSO DE DESENHO
do Prof. Carlos Marmo2.

2
Este livro pode ser encontrado nas bibliotecas central da Poli e da eng. Civil (localização: EPBC
/744 - M345c - v.2 ou EPEC /744 - M345c - v.2)

5
DESENHO GEOMÉTRICO

1.3.1 Método dos Lugares Geométricos


O Método dos Lugares Geométricos baseia-se na obtenção de pontos.
A maioria dos problemas pode ser resolvida obtendo-se apenas um único ponto!
I - Como obter Pontos:
a) A posição (no plano do desenho) de um ponto fica determinada quando
se conhece duas propriedades geométricas do ponto.
b) Quando a incógnita é uma figura qualquer, descobre-se qual ponto deve
ser obtido procurando um ponto do qual são conhecidas duas
propriedades geométricas, sendo estas dadas ou então podendo ser
obtidas antes da obtenção da figura.
c) Caso nenhum ponto da solução (reta, curva ou figura plana) procurada
possa ser obtido diretamente, deve-se encontrar um ponto auxiliar que,
uma vez obtido, permita resolver o problema.
Após ler cuidadosamente o enunciado do problema, você deve-se reformulá-lo como:

Obter um ponto, tal que:


O ponto pertence ao LG1 (possui uma 1a propriedade);
O ponto pertence ao LG2 (possui uma 2a propriedade).

Os pontos que satisfazem simultaneamente a estas duas propriedades ficam


determinados no plano (e o problema terá tantas soluções quanto forem os pontos). Você
deve inicialmente procurar obter apenas um destes pontos, e é obvio que o ponto
procurado, devendo ter simultaneamente as duas propriedades, deve pertencer aos dois LGs
acima simultaneamente, sendo, pois, a sua interseção.
Em Desenho Geométrico, as duas únicas linhas que podem ser traçadas (traço
contínuo) são: os segmentos de reta (com a régua ou os esquadros) e os arcos de
circunferência (com o compasso), sendo possível obter pontos graficamente somente
quando as duas propriedades determinam LGs que são retas ou circunferências. Nesta
primeira parte do curso, não serão considerados problemas onde os lugares geométricos são
curvas cônicas (elipse, hipérbole ou parábola).

II - Como obter as Propriedades (LGs) do ponto:

Após compreender bem o enunciado do problema, siga os seguintes passos:


1. Em uma folha de rascunho, desenhe um esboço (“à mão livre”) com todos os
dados;
2. Imagine uma (só uma, mesmo que haja mais do que uma) resposta para o problema
e esboce-a no papel (só a resposta, não as construções para chegar nela);
3. Pesquise qual ponto deve ser obtido para resolver o problema, identificando os LGs
a que ele pertence (lembre dos itens a, b e c do quadro I acima sobre como obter
pontos);
4. Verifique se os LGs identificados podem ser desenhados a partir dos dados do
problema na folha original do enunciado. Caso contrário, volte ao passo 3.

6
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Agora, que você já viu o Método dos Lugares Geométricos, vamos começar a tratar
dos principais lugares geométricos. Não se iluda com a aparente simplicidade deles.
Leve o estudo com seriedade! Entenda bem tanto suas definições como as construções.

1.4 ALGUNS LUGARES GEOMÉTRICOS

1.4.1 A circunferência

Circunferência: dados um ponto (o centro) e uma distância (o raio), o LG


circunferência é o conjunto de pontos que distam o raio do centro.

O primeiro Lugar Geométrico que iremos estudar é a circunferência. Uma


circunferência de raio r e centro C é o Lugar Geométrico dos pontos que distam r de C, e a
denotaremos por (C, r). Quando não houver perigo de confusão, a circunferência (C, r) será
referida simplesmente por C. Esse Lugar Geométrico pode aparecer disfarçado de várias
formas, como você perceberá nos seguintes exercícios.
Faça os exercícios 1-2 e 1-3
Mais adiante nos aprofundaremos em vários casos de tangência. Nesse momento é
bom ressaltar que a propriedade mais importante (ou a mais usada na resolução de
problemas geométricos) é que uma reta tangente a uma circunferência é perpendicular ao
raio no ponto de tangência, conforme ilustrado na Figura 1.6.

Figura 1.6: a reta s é tangente à circunferência C e o raio r é perpendicular a ela no


ponto de tangência T

O Lugar Geométrico dos pontos que “enxergam” uma circunferência sob um ângulo
dado também é uma circunferência. Acompanhemos a construção:
Dada a circunferência de centro C e o ângulo α, traça-se uma reta s de T1 a C e a
reta t1 que sai de T1 e é perpendicular a s. Traça-se uma reta a partir de C formando α com
s e obtém-se T2 (ponto da circunferência). A partir de T2 traça-se uma reta t2 perpendicular
que, por isso, será tangente à circunferência. As retas t1 e t2 se cruzarão no ponto A que é
um dos infinitos pontos que “enxergam” a circunferência segundo o ângulo α O Lugar
Geométrico procurado é uma circunferência de centro C e raio CA (Figura 1.7).

7
DESENHO GEOMÉTRICO

Figura 1.7: Construção dos pontos que “enxergam” a circunferência C sob o ângulo α.

Faça o exercício 1-4.


Tangências entre circunferências são determinadas com base nos seus centros. Por
exemplo, para determinar uma circunferência (C, rC) tangente às circunferências (A, rA) e
(B, rB), de modo que todas as circunferências sejam externas umas às outras, temos que o
centro da circunferência pedida dista (rC + rA) de A e (rC + rB) de B (Figura 1.8). Acha-se o
centro C na interseção de dois arcos das circunferências (A, rC + rA) e (B, rC + rB).

Figura 1.8: Circunferência tangente a outras duas.

Este exercício resolvido pode nos servir também como um exemplo de como usar o
Método dos Lugares Geométricos: (1) Esboçamos (à mão livre) num rascunho os dados do
problema, as circunferências (A, rA) e (B, rB) (2) Esboçamos apenas uma solução, a
circunferência (C, rC) (3) Obtemos as propriedades geométricas de dois LGs de um único
ponto, o centro C (4) Desenhamos na folha original do enunciado os dois LGs, as
circunferências (A , rC + rA) e (B , rC + rB) completas (e não apenas dois arcos passando
por C); (5) Encontramos nas suas interseções todos os pontos que (somente eles) são os
centros das circunferências solução do problema.
Encontre agora na figura 1.9 o centro da outra circunferência solução, e depois
releia com atenção o quadro II – Como obter as Propriedades (LGs) do ponto.
Faça o exercício 1-5.

8
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

1.4.2 A mediatriz

Mediatriz: dados dois pontos, o LG mediatriz é o conjunto de pontos que equidistam


dos dois pontos dados. (Figura 1.10)

Figura 1.10: Mediatriz do segmento AB

Como os dois pontos fixos dados definem um segmento, diz-se que a mediatriz de
dois pontos A e B é a mediatriz do segmento AB. Como conseqüência óbvia a mediatriz
cruza com o segmento AB no seu ponto médio.
Para construí-la com compasso obtemos dois de seus pontos e os ligamos (ver P1 e
P2 na Figura 1.11 abaixo). Para obter o ponto P1 abre-se o compasso com uma abertura
qualquer ligeiramente maior que a metade do segmento AB, com a ponta seca no ponto A
risca-se um arco. Depois, com a mesma abertura de compasso e ponta seca no ponto B
risca-se outro arco cruzando com o primeiro. Para encontrar o ponto P2 faz-se a mesma
coisa com a mesma ou outra abertura, de preferência para o outro lado do segmento AB.

Figura 1.11: A construção da mediatriz

Para se obter P1 (ou P2, já que o processo é o mesmo), pense em termos de lugares
geométricos: o ponto P1 dista igualmente de A e de B. Seja esta distância comum igual à d1,

9
DESENHO GEOMÉTRICO

então o ponto P1 dista d1 de A. Qual o Lugar Geométrico dos pontos que distam d1 de A?
(você já deve saber que é uma circunferência). O ponto P1 também dista d1 de B. Qual o
Lugar Geométrico associado? O ponto P1 fica definido pela interseção dos dois arcos
obtidos. O mesmo processo é usado para se achar o ponto P2.
Podemos agora provar que a reta obtida é de fato o Lugar Geométrico dos pontos
equidistantes de A e B. Por construção (Figura 1.10), os triângulos P1AP3 e P1BP3 são
congruentes (P1P3 comum, P1A ≡ P1B, P3A ≡ P3B). Assim, a reta P1P3 é bissetriz do ângulo
P1. Daí, os triângulos P1AM e P1BM são congruentes e AM ≡ MB. Logo, o ângulo em M é
reto, o que significa que AB e P1P3 são perpendiculares. Tomando-se um ponto qualquer P2
em P1P3, por congruência de triângulos (P2MA ≡P2MB, P2M comum, AM ≡ MB, M
reto) sai que os segmentos P2A e P2B têm o mesmo comprimento. Logo, qualquer ponto
pertencente à reta P1P3 dista igualmente de A e B.
Faça os exercícios 1-6 e 1-7

1.4.3 O arco capaz

Arco Capaz: dados um segmento de reta e um ângulo, o LG arco capaz é o conjunto


de pontos que formam o ângulo dado quando ligados às extremidades do segmento.

O conjunto de todos os pontos que “enxergam” um segmento AB dado sob um


ângulo α são dois arcos de circunferência, denominados arcos capazes de α do segmento
AB. Isso pode ser entendido olhando-se a Figura1.12, e percebendo que o ângulo APB é
um ângulo inscrito que mede a metade do ângulo central ACB.

Figura 1.13: à esquerda a relação entre os ângulos inscritos e central da


circunferência e à direita o LG arco capaz de α do segmento AB

A construção de um arco capaz é feita imaginando uma situação limite em que um


dos lados do ângulo inscrito é tangente à circunferência, como ilustrado na Figura 1.14.

10
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 1.14: Elementos do arco capaz

Para se construir o LG arco capaz (acompanhe a Figura 1.15) deve-se, naturalmente,


achar os seus centros C e C´. Isso se faz da seguinte forma: sabe-se que o centro C do arco
capaz dista igualmente de A e de B, isto é, está sobre a mediatriz r do segmento AB. Sabe-
se também que a tangente t é perpendicular ao raio CA. Assim, o centro C deve estar sobre
uma reta s perpendicular a t e que passa por A. Tendo-se r e s, pode-se achar C na
interseção. O centro C´ é simétrico ao centro C em relação ao segmento AB.

Figura 1.15: Construção do arco capaz de α do segmento AB


B
A
Faça os exercícios 1-8 a 1-10
Vimos nos exercícios anteriores sobre o LG mediatriz como construir a média
aritmética entre dois segmentos. Vamos agora determinar a média geométrica. A média
geométrica c entre dois números a e b é dada por c = a  b . Existem pelo menos duas
maneiras de se fazer isso com o auxílio do desenho. A primeira é fazendo a construção
indicada na Figura 1.16. Notando que o triângulo é retângulo, e usando as relações métricas
de proproção, temos que c/a = b/c, ou seja, c2 = a × b. Outra maneira, ainda usando as
relações de semelhança de triângulos, é indicada na Figura 1.17. Novamente, c2 = a × b.

11
DESENHO GEOMÉTRICO

Figura 1.16: Média geométrica de a e b - método 1

Figura 1.17: Média geométrica de a e b - método 2

Faça os exercícios 1-11 e 1-12

1.4.4 Par de retas paralelas

Par de paralelas: dadas uma reta e uma distância, o LG par de paralelas é o conjunto
de pontos que estão à distância dada da reta.

Sua construção pode ser feita por meio de esquadros (Figura 1.18).
A partir de um ponto P qualquer da reta dada trace uma perpendicular (com
esquadros ou régua e compasso) e sobre ela marque os pontos P´ e P´´ à uma distância d da
reta. Pelos pontos P´ e P´´ trace o par de paralelas com os esquadros.

12
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 1.18: Par de paralelas

Faça os exercícios 1-13 a 1-16

1.4.5 Par de bissetrizes

Par de bissetrizes: dadas duas retas concorrentes, o LG par de bissetrizes é o conjunto


de pontos que equidistam das duas retas (Figura 1.19).

Figura 1.19: Par de bissetrizes

Dadas duas retas concorrentes r e s (Figura 1.20), a construção deste Lugar


Geométrico se faz assim:

• com a ponta seca do compasso na interseção r ∩ s (ponto Q), e


usando uma abertura conveniente (“quanto maior melhor”), trace um
arco que intercepte r e s nos pontos A e B;
• por A e B trace arcos de raios iguais. A interseção dos arcos define
um ponto P;
• uma bissetriz do par é a reta PQ. A outra é perpendicular à PQ em Q,
e pode ser obtida usando o mesmo processo.

13
DESENHO GEOMÉTRICO

Figura 1.20: Construção do par de bissetrizes

Faça os exercícios 1-17 a 1-19

1.4.6 Eixo radical


Antes de definirmos o LG conhecido como eixo radical, vamos ver algumas
propriedades geométricas associadas a ele. Seja o segmento AB mostrado na Figura 1.21 e
uma perpendicular p qualquer à AB. Analisemos qual é a propriedade dos pontos
pertencentes à p. Seja um ponto qualquer Pp. Seja x a distância de P a A e y a distância de
P a B. Observando ainda a Figura 1.21, usando o teorema de Pitágoras nos triângulos PAN
e PBN , vemos que x2 − m2 = y2 − n2 (= PN2), ou seja, x2 − y2 = m2 − n2 = cte (m= cte =AN
e n= cte =BN, qualquer que seja Pp). Concluímos então que todos os pontos de uma
perpendicular qualquer a um segmento AB têm a propriedade de que a diferença dos
quadrados das distâncias ao ponto A e ao ponto B é constante.

Figura 1.21: Reta Perpendicular

Considere agora a circunferência da Figura 1.22 (tanto faz a da direita ou a da


esquerda). A reta t intercepta a circunferência nos pontos A e B. Recordando o conceito de
potência de ponto, tem-se que PA×PB = PA’×PB’. Como PA’×PB’ = cte, mudando-se a
posição da reta secante t obtemos novas interseções com a circunferência, mas PA×PB
continua tendo o mesmo valor. Tal valor é chamado de potência do ponto P com relação à
circunferência C dada, e é designada por Pot(P,C).

14
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 1.22: Potência de ponto

Faça o exercício 1-20.


Em particular, considere o caso limite onde a reta secante t fica tangente à
circunferência (Figura 1.23). Neste caso, PA = PA  PB  , ou seja, PA é a média
geométrica de PA’ e PB’.

Figura 1.23: Potência de ponto no caso da reta tangente

Faça o exercício 1-21.


Agora estamos em condições de apresentar o Lugar Geométrico dos pontos
equipotentes a duas circunferências dadas. Sejam dadas duas circunferências (A, a) e (B, b),
conforme mostradas na Figura 1.24. Inicialmente, traçamos a reta AB ligando os seus
centros.

15
DESENHO GEOMÉTRICO

Seja um ponto P em uma posição tal que Pot(P, A) = Pot(P, B) e um ponto N sobre
AB tal que Pot(N, A) = Pot(N, B).

Figura 1.24: Eixo radical: pontos eqüipotentes a duas circunferências dadas

Observando a Figura 1.24, temos:


Pot(P, A) = x2 − a2 Pot(P, B) = y2 − b2 Pot(N, A) = m2 − a2 Pot(N, B) = n2 − b2
x2 − a2 = y2 − b2 m2 − a2 = n2 − b2
x2 − y2 = a2 − b2 m2 − n2 = a2 − b2
x2 − y2 = m2 − n2 (como na Figura 1.21)
Assim, o conjunto de todos os pontos equipotentes as circunferências A e a B é uma reta
perpendicular ao segmento AB, conforme vimos no início desta seção. Tal Lugar
Geométrico é chamado de eixo radical.

Eixo radical: dadas duas circunferências, o LG eixo radical é o conjunto de pontos de


mesma potência com relação às duas circunferências.

Sejam dados dois pontos A e B e uma circunferência (C, r), conforme ilustrado na Figura
1.25. O problema é achar as circunferências que passam por A e B e são tangentes (interna
ou externamente) à circunferência (C, r).

Figura 1.25: Problema da circunferência tangente usando o LG eixo radical

16
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Para entender como resolver esse problema usando o LG eixo radical, desenhe uma
circunferência D qualquer que passe por A e B, e que seja secante à (C, r). O centro desta
circunferência deve estar sobre a mediatriz do segmento AB (acompanhe na Figura 1.26).
Desenhe outra circunferência E, diferente da primeira, e que também passe por A e B.
Trace os eixos radicais de C e D e de C e E. Eles se interceptam no ponto P sobre a reta
AB. O ponto P tem a mesma potência em relação à circunferência C e em relação a todas as
circunferências do feixe de circunferências que passam por A e B (qual é o eixo radical das
circunferências deste feixe?).

Figura 1.26: Resolução do problema de tangência

Vemos então que todas as circunferências que passam por A e B e são secantes à
circunferência C definem eixos radicais que passam por um ponto P. Este ponto é
denominado centro radical. Veja que essa propriedade vale também para o caso limite da
circunferência ser tangente à C. Pense então neste caso limite, quando a circunferência
secante passa a ser tangente à C, e desenhe o eixo radical correspondente.
Você deve perceber que, antes de encontrar os centros das circunferências
tangentes, deverá achar os seus pontos de tangência com C. Para isto usamos um ponto
auxiliar, o centro radical P, desenhando dois LGs (dois eixos radicais). Então, a partir de
P, achamos os pontos de tangência e os unimos ao centro de C. Teremos assim retas que
são outros LGs dos centros, além do LG mediatriz de AB (lembrando: o ponto de
tangência entre duas circunferências está na reta que une os seus centros).

Faça os exercícios 1-22 a 1-30

Na apostila de exercícios, além dos 30 exercícios propostos, que você deve procurar
resolver usando o método dos lugares geométricos, apresentamos mais alguns exercícios
complementares. Alguns fáceis, alguns verdadeiros desafios para que você exercite as
idéias. Você deve prestar atenção no “uso de simetrias” e “na contração e dilatação de
circunferências” usados na resolução de alguns destes problemas3.

3
Como bibliografia complementar, sugerimos o livro Desenho Geométrico de Benjamin de A.
Carvalho disponível na biblioteca da Civil (localização: EPEC /744 - C253d3)

17
GEOMETRIA DESCRITIVA

2 GEOMETRIA DESCRITIVA
2.1 OBJETIVOS
O objetivo principal é apresentar ao leitor os fundamentos da Geometria Descritiva
(GD), que é uma ferramenta gráfica bidimensional para a representação e solução de
problemas geométricos do espaço tridimensional. Nossa experiência indica que o tema,
apesar de ser de fácil leitura e compreensão, é de difícil aplicação para os iniciantes. A
melhor forma de se dominar a aplicação da Geometria Descritiva é complementar o esforço
de compreensão dos conceitos com exercícios. Estes servem tanto para praticar a
representação dos elementos geométricos usando uma notação adequada quanto para fixar a
utilização das estratégias de solução de problemas geométricos que se aprendeu em
exercícios anteriores, em geral mais simples.

2.2 SISTEMAS DE PROJEÇÃO


Nos objetivos acima, dissemos que a GD era uma ferramenta 2D para representar e
resolver problemas 3D. Para representar um elemento espacial num plano é necessário que
ele seja projetado neste plano.
Apresentamos, a seguir, dois Sistemas de Projeção, o Cilíndrico Ortogonal e o
Cônico. Em ambos os sistemas, há três elementos principais: o Objeto a ser projetado, o
Quadro (ou plano) de Projeção e o Centro de Projeção, mostrados na Figura 2.1.

Figura 2.1: Elementos principais dos Sistemas de Projeção.

Um Raio Visual (ou projetante) parte do Centro de Projeção, passa por um ponto
genérico P do objeto, e atinge o Quadro de Projeção  em P’. Dizemos que o ponto P’ é a
projeção de P em . Projetando-se todos os pontos do objeto, obtém-se a sua projeção.
Quando o Centro de Projeção está a uma distância finita (cuidado com os
conceitos de finito e infinito 4), aqueles objetos que estão mais próximos do Centro de
Projeção têm projeção maior do que aqueles mais distantes, como mostrado na Figura 2.2.

4
Se você consegue dar um valor limitante para distância, por maior que seja, ela é finita. Por
exemplo, se digo que a distância entre você e a Praça do Relógio é menor que um milhão de anos luz, então
essa distância é finita.

18
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.2: Efeito da proximidade do Objeto a ser Projetado ao Centro de Projeção.

Usando agora uma abstração, coloque o Centro de Projeção a uma distância


infinita do Quadro de Projeção, mantendo o Objeto a uma distância finita. O resultado é
que a distância do Objeto ao Quadro de Projeção não influencia mais o tamanho da
Projeção com relação ao Objeto a ser Projetado (ver Figura 2.3). Note que agora, devido
ao conceito de infinito, não há sentido em falarmos de distância ao Centro de Projeção.

Figura 2.3: Centro de Projeção no infinito.

Quando o Centro de Projeção está a uma distância finita, temos o Sistema Cônico
de Projeção (Figura 2.1 e 2.2), e quando está a uma distância infinita, temos o Sistema
Cilíndrico de Projeção (Figura 2.4)5.

Figura 2.4: Sistema Cilíndrico de Projeção.

5
Trata-se então de uma abstração, certo?

19
GEOMETRIA DESCRITIVA

Continuando com a especialização, se os Raios Visuais são perpendiculares ao


Quadro de Projeção, ou seja, o ângulo  da Figura 2.4 é igual a 90 graus, e o Centro de
Projeção está a uma distância infinita do Quadro de Projeção , então temos o chamado
Sistema de Projeção Cilíndrico Ortogonal (Figura 2.5).

Figura 2.5: Sistema Cilíndrico Ortogonal de Projeção.

Destacam-se duas propriedades importantes no Sistema Cilíndrico Ortogonal:


• Um segmento de reta (ou ângulo) paralelo ao Quadro de Projeção é projetado
em Verdadeira Grandeza (V.G.), isto é, o tamanho da projeção (ou do ângulo
projetado) é igual ao tamanho do próprio segmento (ângulo) no espaço.
• Sejam duas retas ortogonais entre si (no espaço). Se pelo menos uma delas é
paralela ao Quadro de Projeção, então as projeções em  das duas retas são
perpendiculares entre si. Veja a Figura 2.6 e a Figura 2.7.

Figura 2.6: Quando o perpendicularismo se mantém.

20
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.7: Quando o perpendicularismo não se mantém.

Faça o exercício 2.0


Passaremos agora a estudar os elementos principais da Geometria Descritiva que
são: Pontos, Retas e Planos.

2.3 SISTEMA MONGEANO DE PROJEÇÃO


A Geometria Descritiva foi criada por Gaspard Monge (1746 - 1818), um
matemático francês que serviu a Napoleão em sua campanha pelo Egito, foi seu Ministro da
Marinha, e tinha vários interesses tanto na Matemática quanto na Física e Química. Foi
amigo de Lavoisier e professor de Fourier. Para termos uma idéia do avanço científico da
época, no ano 1800, Volta inventou a pilha elétrica!
A motivação para a criação da Geometria Descritiva foi o projeto de fortes
militares, que naturalmente envolvia problemas geométricos tridimensionais complexos.
Após sua invenção, ela foi conservada como segredo militar por vários anos pelo próprio
Napoleão. Certamente, a Geometria Descritiva não era “óbvia”, como hoje pode parecer.
Afinal, qual era o grande “segredo” de Gaspard Monge? Era o uso simultâneo de
dois Sistemas de Projeção Cilíndricos Ortogonais, perpendiculares entre si, como
mostrados na Figura 2.8. Esse conjunto é denominado Sistema Mongeano de Projeção.

Figura 2.8: Sistema de Monge (dois quadros de projeção perpendiculares entre si).

21
GEOMETRIA DESCRITIVA

Como você já deve ser capaz de intuir, um ponto no espaço é representado no


sistema mongeano como na Figura 2.9.

Figura 2.9: Projeção de um ponto em dois planos perpendiculares entre si.

Falando um pouco mais formalmente, um ponto P no espaço tridimensional é


localizado por três coordenadas, x, y e z. Através da projeção em dois planos  e , é
possível representar graficamente, nos planos, as três coordenadas de P.
A reta resultante da interseção dos planos  e  é denominada Linha de Terra (L.
T.).
Para ter o resultado da representação num único plano (representação
bidimensional) - por exemplo, numa folha de papel - o plano  (com as projeções nele
resultantes) é rotacionado 90º em torno da L.T., de modo a ficar coplanar com , como é
indicado na Figura 2.10.

Figura 2.10: Rotação (rebatimento) do plano  em torno da Linha de Terra (L.T.).

Assim, a posição de um dado ponto P pode ser totalmente descrita por suas
projeções em  e , dispostos em um único plano denominado épura. Na Figura 2.11, a
representação da épura é a que está do lado direito. Na épura, logo acima e abaixo da Linha

22
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

de Terra normalmente são identificadas as regiões positivas6 dos planos que dão origem a
ela (com os nomes  e , ou simplesmente com os algarismos 1 e 2).

Figura 2.11: Épura.

Ainda na Figura 2.11, o segmento que une as duas projeções do ponto P ( P1 e P2) é
denominado Linha de Chamada. Perceba que ela deve ser perpendicular à Linha de Terra.
Convencionaremos neste curso designar o plano 1, que contém os eixos x e y, de Plano
Horizontal de Projeção, e o plano 2, que contém os eixos x e z, de Plano Vertical de
Projeção. A projeção de um ponto no Plano Horizontal de Projeção é usualmente
denominada Projeção Horizontal (P1), e a projeção sobre o Plano Vertical de Projeção,
de Projeção Vertical (P2).
Em resumo, um ponto no espaço pode ser completamente especificado dadas as
suas projeções ortogonais em dois planos perpendiculares, uma vez que temos, no conjunto
das projeções, as três coordenadas x, y, z de cada ponto.
Os planos vertical e horizontal de projeção dividem o espaço em quatro espaços
chamados Diedros como é mostrado na Figura 2.12.

Figura 2.12: Divisão do espaço em quatro diedros.

Faça os exercícios 2.1 e 2.2

6
Veremos mais adiante as partes positivas e negativas dos Planos de Projeção.

23
GEOMETRIA DESCRITIVA

2.4 PONTOS E RETAS

2.4.1 Objetivos
Os elementos geométricos principais para a resolução de qualquer problema
espacial são pontos e retas. Nesta seção, examinaremos esses entes procurando fomentar o
amadurecimento de idéias relacionadas ao espaço geométrico, como representado no
Sistema de Monge.

2.4.2 Estudo do ponto


A distância z de um ponto P ao Plano Horizontal de Projeção é denominada Cota.
Na épura, a cota é a distância da Linha de Terra até a Projeção Vertical do ponto, como é
mostrado na Figura 2.13. Um ponto pertencente ao Plano Horizontal de Projeção tem cota
nula e, portanto, na épura a sua Projeção Vertical deve estar na Linha de Terra. A distância
correspondente à coordenada y de um ponto P é denominada Afastamento. Na épura, o
Afastamento é a distância da Linha de Terra até a Projeção Horizontal do ponto. A
coordenada x, fixada a partir de uma origem arbitrária, é denominada Abscissa.

Figura 2.13: Cota, afastamento e abscissa de um ponto.

Um ponto pertencente ao Plano Vertical de Projeção tem coordenada y nula


(afastamento zero) e, portanto, a sua Projeção Horizontal deve estar sobre a Linha de Terra.
É importante notar que é possível a existência de abscissas, cotas e afastamentos negativos.
Por exemplo, um ponto no segundo diedro tem cota positiva, mas afastamento negativo.
Um ponto no terceiro diedro tem cota e afastamento negativos.
Faça o exercício 2.3

2.4.3 Estudo da reta: elementos principais


Uma forma de se especificar uma reta qualquer em GD é fornecendo dois pontos
(por suas projeções) por onde ela passa, como mostrado na Figura 2.14. Outra forma é
fornecendo diretamente suas projeções em  e .

24
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

r2

r1 A1

B1

Figura 2.14: Projeções de uma reta na épura.

Na designação das projeções da reta, usa-se como índice o número do Plano de


Projeção correspondente. Assim, por exemplo, a projeção da reta r em  é designada por
r2 .
Perceba que já estamos usando a nova ferramenta (épura) que acabamos de
apresentar. Há quatro projeções de pontos e duas projeções de segmentos de reta na épura,
mas eles representam apenas um segmento de reta e dois pontos.
Faça o exercício 2.4
Os Traços de uma reta são pontos resultantes das interseções da reta com os
Planos de Projeção. Exemplos são mostrados nas Figura 2.15 e Figura 2.16. É muito
importante compreender as épuras associadas.
O Traço de uma reta r no plano  é designado por r e no plano  por r

Figura 2.15: Perspectiva e épura dos Traços Horizontal (T) e Vertical (Q) de uma
reta qualquer.

25
GEOMETRIA DESCRITIVA

Figura 2.16: Perspectiva e épura dos Traços de uma reta que intercepta a Linha de
Terra.

Veja que o Traço no Plano Horizontal (ponto T) tem cota nula e, portanto, na épura,
a Projeção Vertical de tal Traço deve estar sobre a Linha de Terra. Raciocínio análogo
pode ser feito para o Traço no Plano Vertical. Note também que as Linhas de Chamada são
sempre perpendiculares à Linha de Terra. Na figura abaixo, temos a representação de retas
em posições particulares. Você conseguiria encontrar os traços destas retas?

26
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.17: Perspectiva e épura de retas em posições particulares.

Faça os exercícios 2.5 e 2.6

2.5 PLANOS

2.5.1 Objetivos
Prosseguiremos analisando os principais elementos da Geometria Descritiva.
Veremos agora os planos e suas relações com pontos e retas, elementos que já vimos no
item 2.4. Vamos ter agora três elementos; assim o número de combinações e inter-relações
entre eles é necessariamente maior que quando tínhamos apenas pontos e retas para estudar.
Concretamente, algumas das relações a serem estudadas são:
• Interseção de plano com os Quadros de Projeção  e 
• Pertinência de ponto a plano;
• Interseção de plano com plano;
• Interseção entre reta e plano.

2.5.2 Interseção de plano com os Quadros de Projeção


A interseção de um plano qualquer com um Quadro de Projeção também se chama
Traço, porém o traço de um plano é uma reta. Assim, a interseção de um plano  com 
chama-se Traço de  em  e é simbolizado por  ou, simplesmente, . Um caso
análogo acontece com a interseção com  (veja Figura 2.18).

27
GEOMETRIA DESCRITIVA

Figura 2.18: Traços de um plano  qualquer nos quadros de projeção.

Se você atentar bem,  e , que são retas e estão contidas respectivamente
em  e , se interceptam em um ponto A pertencente à Linha de Terra. Isso deveria
realmente acontecer, pois a Linha de Terra é resultado da interseção , e a interseção
de uma reta e um plano é um ponto. Daí:
() =A ()() =A
A épura fica então como a Figura 2.19.
A Figura 2.19 é realmente importante. Note que cada Traço do plano , que são
retas, tem duas projeções. Por exemplo, a reta  tem as projeções ()1 e ()2.
Ocorre que a projeção ()1 está exatamente sobre o plano  e a projeção ()2,
exatamente sobre a Linha de Terra. Então, para evitarmos confusão de linhas, símbolos e
índices, podemos convencionar representar apenas a projeção mais significativa do Traço,
ou seja, aquela que não coincidir com a Linha de Terra. Deste modo, com essa
simplificação, a épura da Figura 2.19 fica sendo como mostrada na Figura 2.20. Simplifica-
se também a notação: de  para , por exemplo.

Figura 2.19: Épura dos Traços de um plano.

28
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.20: Épura simplificada dos Traços de um plano.

Um plano no espaço fica definido de várias maneiras: a) quando são dados três de
seus pontos (distintos); b) quando são definidas uma reta e um ponto fora dela, ambos
pertencentes ao plano; c) dadas duas retas paralelas ou concorrentes; d) sua normal (reta
perpendicular ao plano) e um ponto do plano; e) uma reta contida no plano e o requisito de
que o plano deve ser paralelo a uma outra reta, etc.
Realmente, existem várias formas de se especificar um plano no espaço, mas
convencionaremos que um plano somente é conhecido em Épura se os Traços nos Planos
de Projeção são dados.
Como exemplo, suponha que são dados três pontos A, B e C pertencentes a um
plano , e pede-se determinar os Traços de . Para achar um ponto pertencente ao Traço de
 em , basta unir dois pontos dados, digamos A e B, e determinar o Traço da reta AB em
. Determinando-se os Traços de, digamos, AB e AC, nos Planos de Projeção, e ligando
pontos correspondentes, pode-se determinar os Traços do plano  . A situação toda está
ilustrada na Figura 2.21 Isso acontece porque os traços (horizontal / vertical) de um plano
contêm os traços (horizontais / verticais) de todas as retas contidas nesse plano.

2.5.3 Pertinência de reta a plano


Da Figura 2.21 fica claro que se uma reta r está contida no plano , então os Traços
da reta r pertencem aos Traços do plano . Esta propriedade pode ser usada como a
condição de pertinência de uma reta ao um plano, e é frequentemente utilizada na solução
dos problemas geométricos. Serve para testar a pertinência de uma reta a um plano ou
forçar essa pertinência na construção de uma reta.

29
GEOMETRIA DESCRITIVA

Figura 2.21: Traços de um plano a partir dos Traços de retas que passam por 3 pontos contidos no
plano.

Faça o exercício 2.7

Figura 2.22: Traços (retas AB e CD) de um plano  e Traços (pontos A, B, C e D) de retas nele
contidas.

2.5.4 Pertinência de ponto a plano


Para determinar se um ponto P pertence a um plano , deve-se recair primeiro no
problema da pertinência de ponto a reta. Se r   e P  r, então P  
Faça os exercícios 2.8 e 2.9
Um problema natural que pode surgir para você é a determinação do ponto de uma
determinada reta que tem distância zero a um plano, ou seja, a interseção de uma reta com
um plano. Para se resolver esse problema, é necessário primeiro atacar outro, que é a
interseção entre dois planos.

30
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

2.5.5 Interseção de plano com plano


Partimos do fato que a interseção entre dois planos é uma reta. Ora, se é uma reta,
basta encontrar dois pontos dela para determiná-la. Seja a épura na Figura 2.21 onde estão
representados por seus traços dois planos  e .

Figura 2.21: Interseção de dois planos.

Uma conjectura plausível é afirmar que os pontos E e F pertencem à interseção


  . E realmente pertencem? A resposta é sim, pelo seguinte argumento:
E= (  )  (  )  E  (  )
F= (  )  (  )  F  (  )
Faça o exercício 2.10
No último exercício, você deve ter concluído que, considerando um plano 𝛽 ⊃ 𝑟 a
interseção r   é dada por r  (  ).
A grande lição é que para se determinar a interseção de uma reta com um plano, é
fundamental ter à disposição um plano que passe pela reta (isto é, que a contém). Se esse
plano não é dado, criamos um em uma posição arbitrária7.

2.5.6 Interseção de reta com plano


Da última seção, tiramos que para se determinar a interseção de reta com plano é
necessário primeiro criarmos um plano que contenha a reta. Existem infinitos planos, basta
escolher um!
Suponha que seja dada uma reta no espaço e seja pedido que se passe um plano
qualquer por ela. Pensando em termos de épura, a única restrição é que os Traços do plano
passem pelos Traços da reta nos Planos de Projeção. Existem infinitos planos, certo?
Faça o exercício 2.11
Agora, suponha que no exercício anterior seja acrescido um plano , e que seja
pedida a interseção de  com r. Sei que você sabe resolver?
Faça o exercício 2.12

7
Arbitrária, e não “aleatória” como muitos estudantes dizem. Esse erro dá até arrepios!

31
GEOMETRIA DESCRITIVA

2.5.7 Posições Particulares de Planos


Planos em posições particulares recebem nomes especiais. Veja a seguir seus nomes
e definições.
Tabela 1 - Planos em posições particulares

Plano  Definição
Horizontal   
Frontal   
Vertical  ⊥ 
De Topo  ⊥ 
De Perfil    ou  ⊥ L.T.
Paralelo à Linha de Terra  ⊥  ou   L.T.
Contém a Linha de Terra  ⊃ L. T.

Onde:
 plano particular;
 plano de projeção horizontal;
 plano de projeção vertical;
 plano de projeção lateral ( ⊥  e  ⊥ ).

A Figura 2.22 e a Figura 2.23 ilustram esses planos e suas respectivas épuras.

Obs: as retas em posições particulares recebem os mesmos nomes que os


respectivos planos, exceto que a reta paralela à Linha de Terra é denominada reta fronto-
horizontal.

32
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.22: Posições particulares de planos no espaço e a nomenclatura usual.

33
GEOMETRIA DESCRITIVA

Figura 2.23: Posições particulares de planos no espaço e a nomenclatura usual


(continuação)

34
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

2.6 MÉTODOS

2.6.1 Objetivos
Veremos agora métodos geométricos poderosos para resolver problemas mais
difíceis. Se você realmente aprender este conteúdo, ficará bem claro que a resolução de
problemas em Geometria Descritiva não se baseia em um amontoado de regras arbitrárias,
mas sim em operações bem fundamentadas na geometria das projeções cilíndricas.
Concretamente, veremos dois métodos: Resolução de problemas na épura por Rotação de
Objetos e por Mudança de Planos de Projeção.

2.6.2 Rotações
Um problema clássico é a determinação da Verdadeira Grandeza (VG) de entes
geométricos, como segmentos de reta e áreas de polígonos, quando estes estão
representados na épura. Suponha que você deva obter o comprimento do segmento AB
representado na épura da Figura 2.24.

Figura 2.24: Segmento para achar V.G.

Naturalmente, você poderia usar o teorema de Pitágoras, mas queremos usar


métodos de desenho puramente (com auxílio de régua e compasso). Como fazer?

35
GEOMETRIA DESCRITIVA

Figura 2.25: Rotação de Segmento.

Uma saída seria rotacionar AB em torno de um eixo perpendicular à  (reta


e) passando por B, até que AB fique paralelo a . Daí é só medir com a régua a projeção de
AB na nova posição. A operação está apresentada na Figura 2.25, acima.
 Faça o exercício 2.13
Um problema mais sofisticado seria saber se dada uma figura plana, pode-se, de
alguma forma, rotacioná-la para obter a sua verdadeira grandeza. A resposta é afirmativa.
Precisamos apenas de duas rotações consecutivas. A operação é ilustrada na Figura 2.26.
Primeiramente, é necessário definir um eixo vertical de rotação (reta e) e escolher uma reta
horizontal h que servirá de referência para a magnitude da rotação. Fazemos uma rotação
de h e de toda a figura, de forma que h se posicione perpendicularmente à  Feito isso, a
figura também fica perpendicular à  (posição de topo). Observe que esta é uma posição
conveniente para visualizar a figura porque a projeção da figura no  vira uma reta. O
passo seguinte é rotacionar a figura em torno da nova posição de h.

36
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.26: Rotação de um triângulo no espaço.

37
GEOMETRIA DESCRITIVA

2.6.3 Mudança de Plano de Projeção


Vimos na seção 2.2 duas importantes propriedades do Sistema Cilíndrico de
Projeção: quando um segmento ou ângulo se projeta em V.G. e em que situação a
ortogonalidade de retas/segmentos se mantém na projeção. Ortogonalidade e Verdadeira
Grandeza são propriedades importantes, usadas na resolução de problemas espaciais.
Porém, se os elementos estudados não se encontram dentro das condições enunciadas, não
se pode tirar vantagem do conhecimento daquelas propriedades. O que fazer neste caso?
Pode-se fazer uma nova representação do projeto trocando-se um dos planos de projeção
(ou até os dois) por outro(s) em posição mais conveniente. Note que o problema em si não é
alterado, mas apenas a sua representação. É como se fosse tirada uma foto 8 do mesmo
arranjo espacial, porém por um outro ângulo.
Como trocar o plano vertical ou o plano horizontal de projeção (ou mesmo os dois)
por um novo plano, perpendicular ao que se mantém, é o que veremos a seguir.
A primeira coisa a ser feita é uma “mudança de mentalidade”. Desde que
começamos o nosso curso, a épura sempre foi representada com a Linha de Terra paralela à
borda inferior do papel. Mas nada impede que a Linha de Terra seja colocada de modo
inclinado.
De certa forma, podemos dizer que existem fundamentalmente dois tipos de
Mudança de Plano de Projeção: Mudança de Plano Vertical de Projeção (  ), ver
Figura 2.27, e Mudança de Plano Horizontal de Projeção (  ), ver a Figura 2.28. Essa
nomenclatura não é muito precisa, mas pode ajudar a entender o processo.

Plano
auxiliar
vertical

Figura 2.27 - Mudança de Plano Vertical de Projeção (  )

8
Uma foto é uma projeção, não é mesmo?

38
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.28 - Mudança de Plano Horizontal de Projeção (  )

Note que, no primeiro caso (Figura 2.27), a cota do ponto, ou a distância do ponto P
à  é constante, independente da posição do Plano Vertical (  ou outros).
Pode-se então colocar o Plano Vertical  onde quisermos, sendo que, na épura, a
cota dos pontos representada em  deve ser a mesma representada em .
Analogamente, se desejarmos substituir o Plano de Projeção Horizontal (1), nota-se
que o afastamento do ponto não se altera (Figura 2.30), e é a medida deste que deve ser
transportada para a projeção no novo plano horizontal, 3.
A essa operação de colocarmos Planos de Projeção adicionais na épura chamamos
de Mudança de Planos. Ela pode ser usada, por exemplo, para a obtenção da VG de figuras
no espaço.
Por exemplo, na Figura 2.27 é mostrada a obtenção da VG do segmento AB por
mudança de plano vertical. Será que a VG deste segmento poderia ser obtida por mudança
de plano horizontal? Experimente e veja se chega ao mesmo resultado.
Faça os exercícios 2.13 e 2.14

Como o exercício 2.14 é muito importante, sua resolução é mostrada na Figura 2.30.

39
GEOMETRIA DESCRITIVA

Figura 2.29: Obtenção da VG de um segmento de reta.

Figura 2.30 - Obtendo a projeção de uma figura num plano de projeção


perpendicular a ela

40
PCC3101 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Faça o exercício 2.15


Agora, a próxima questão natural é perguntar se podemos usar o método de
mudança de planos para se resolver o problema de determinar a VG de uma figura plana
colocada em uma posição qualquer do espaço. A resposta é afirmativa, e se você realmente
está entendendo a exposição, você já sabe qual é o procedimento. O procedimento de
solução pode ser resumido assim:
Mudar o Plano de Projeção de modo a fazer com que a figura plana fique
perpendicular ao novo Plano de Projeção. O resultado do passo anterior define um novo
problema, que é o de se determinar a VG de uma figura em uma posição particular.
Resolva agora o problema completo:
Faça o exercício 2.16
Agora você já está pronto para seguir em frente! Tente então fazer todos os demais
exercícios de GD da apostila. Você verá que pode sentir dificuldades, mas não desanime! O
importante é que, ao se esforçar, vai desenvolver a habilidade de visualizar espacialmente,
e isto é fundamental para os engenheiros.
Faça os exercícios 2.18 a 2.49

41
GEOMETRIA COTADA

2.7 GEOMETRIA COTADA

2.8 OBJETIVOS
▪ Aprender os conceitos básicos das projeções cotadas, uma maneira conveniente de
representar superfícies geométricas e topologicamente complexas;
▪ Adquirir capacidade de resolver problemas geométricos espaciais usando projeções
cotadas.

2.9 INTRODUÇÃO
Assim como a Geometria Descritiva (GD), a Geometria Cotada (baseada em
projeções cotadas) é uma poderosa ferramenta gráfica para a representação e resolução de
problemas geométricos espaciais. A Geometria Cotada é especialmente adequada quando
os problemas envolvem superfícies topográficas9 que são difíceis de representar utilizando
a GD.
Dessa forma, a Geometria Cotada (GC) encontra inúmeras aplicações no desenho
técnico, principalmente no caso de objetos que apresentam superfícies topologicamente
complexas como a superfície de um terreno ou o casco de um navio. Essa classe de
superfícies aparece mais comumente nas engenharias civil e de minas, na agronomia,
engenharia florestal, geologia e, em menor escala, nas engenharias naval, aeronáutica,
automobilística e mecânica.
Para representar elementos geométricos tridimensionais num plano bidimensional
(uma folha de papel, por exemplo), a Geometria Cotada utiliza um sistema de
representação denominado de Projeções Cotadas. Em essência, trata-se de uma
representação semelhante à GD, porém substitui-se a projeção no plano vertical pelo valor
da cota dos pontos, escritos numericamente junto às suas projeções no plano horizontal.

• A projeção no plano horizontal fornece a abscissa x e a ordenada y


do elemento geométrico;
• A cota z do elemento geométrico é definida através de seu valor
numérico.

Assim, as projeções cotadas utilizam o mesmo tipo de projeção (cilíndrica


ortogonal – direção de projeção sempre perpendicular ao plano de projeção) adotado na
Geometria Descritiva, a fim de obter uma projeção do elemento geométrico no plano
horizontal de projeção. Isso significa que todas as propriedades da projeção cilíndrica
ortogonal que você estudou na Geometria Descritiva continuam valendo para a Geometria
Cotada.
O potencial da Geometria Cotada vai ser mais completamente explorado no tema
que estudaremos depois deste (Superfícies Topográficas). No entanto, antes de estudar as
principais aplicações da GC é necessário dominar a sua forma de representação gráfica e a
resolução de problemas fundamentais com essa ferramenta (pertinências, intersecções,
determinação de pontos, retas e planos específicos, etc.). É o que veremos nas seções
seguintes.

9
Superfície Topográfica é qualquer superfície que apresente uma única cota (altura) para cada par
(abscissa, ordenada).

42
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

2.10 ELEMENTOS DE REPRESENTAÇÃO DE PROJEÇÕES COTADAS

2.10.1 Escala e unidade


Os desenhos resultantes de projeções no plano horizontal, que especificam as
abscissas e as ordenadas, devem ser feitos em uma escala de representação conveniente.
As normas brasileiras recomendam que se usem preferencialmente escalas representadas
como frações com numeradores unitários e denominadores múltiplos de dez dos dígitos 1,
2 e 5. Assim, são recomendadas as escalas de10 1:1, 1:2, 1:5, 1:10, 1:20, 1:50, 1:100, 1:200,
1:500, 1:1000, 1:2000, 1:5000, etc. São aceitas, ainda, as escalas com denominador
múltiplo de dez de 2,5. Assim, são aceitas as escalas 1:2,5 , 1:25, 1:250, 1:2500, etc. Além
disso, em certas condições, usam-se escalas gráficas que consistem de um segmento
graduado de modo que entre duas divisões o intervalo compreendido representa uma
unidade ou um múltiplo de dez desta.
Por outro lado, para se especificar as cotas dos pontos, dadas na forma de valores
numéricos anotados ao lado das projeções dos pontos (ver Figura 3.1), é necessário indicar
a unidade de medida utilizada que, no nosso curso, será normalmente o metro.

2.10.2 Plano horizontal de projeção


Tomaremos sempre o plano horizontal, que chamaremos de 1, como o plano de
projeção11 e de referência12, a partir do qual mediremos as cotas de todos os pontos. Esse
plano de projeção divide o espaço em 2 semi-espaços: um de cotas positivas e outro de
cotas negativas (Figura 2.31).
O plano de referência, sempre horizontal, é posicionado da forma mais conveniente
para cada aplicação. Muito freqüentemente, principalmente na cartografia, usa-se como
plano horizontal de referência um plano ao nível do mar. Esse plano tem a vantagem de ser
invariável. Já se estivermos representando um terreno onde será construída uma edificação,
é comum estabelecer-se o nível da rua como a referência para a cota zero.
Quando a cota (coordenada z) é positiva, diz-se que o ponto está em relevo e
quando a cota é negativa diz-se que o ponto está rebaixado. Além disso, chamaremos
altura à cota positiva e profundidade à cota negativa. Quando o plano de projeção é o nível
médio dos mares, a cota positiva é chamada altitude. Sempre que possível, devem ser
evitadas cotas positivas e negativas em um mesmo trabalho. Não havendo sinal, considera-
se o ponto em relevo a não ser que seja dado outro esclarecimento nesse sentido ou a
própria natureza do trabalho indique tratar-se de um rebaixamento.

10
Lê-se “um para um”, “um para dois”, etc.
11
Lembre-se que agora não usaremos mais o plano de projeção vertical para representar elementos,
como fazíamos na GD.
12
Todos os pontos do plano de referência têm cota zero.

43
GEOMETRIA COTADA

Figura 2.31: Plano horizontal de projeção como plano de referência

Na Figura 2.31, os pontos P1 e Q1 representam, respectivamente, as projeções dos


pontos P e Q. No lado direito da figura observam-se as projeções representadas no papel
com indicação de suas cotas. Note que o valor numérico da cota, que é escrito como um
expoente junto à letra que designa a projeção do ponto, não é influenciado pela escala, isto
é, anota-se o valor real da altura do ponto, na unidade especificada na folha, junto à sua
projeção.
A folha do papel que contém as projeções dos elementos representados, a escala e
unidade de medida, é denominada de folha cotada e representa o plano horizontal de
projeção.

2.10.3 Posição relativa de dois pontos


Observe a Figura 2.32. Nela estão representados os pontos A e B através de suas
projeções cotadas tendo-se como unidade o metro.

Figura 2.32: Projeção cotada de 2 pontos

O ponto A se projeta no plano horizontal em A1 e tem cota 1,7 m; da mesma forma, o


ponto B se projeta em B1 e tem cota 4,3 m. Com isso, definiremos as grandezas:

44
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

• Distância entre 2 pontos: Essa distância não é medida diretamente no desenho, mas
determinada algebricamente através de relações geométricas elementares (dAB na Figura
2.33).
• Distância horizontal entre 2 pontos: É o comprimento da projeção do segmento cujos
extremos são os pontos, ou seja, é a distância entre as projeções dos dois pontos. Numa
representação em folha cotada essa distância é medida diretamente sobre as projeções
dos pontos tomando-se o cuidado de considerar, entretanto, a escala na qual o desenho
está representado (DH na Figura 2.33).
• Distância vertical entre 2 pontos: É o valor absoluto da diferença de cotas entre os
pontos. Observe que o valor dessa distância é obtido algebricamente e, dessa forma, a
escala do desenho não afetará o seu resultado (DV na Figura 2.33).

Na Figura 2.32, percebe-se que distância vertical entre A e B é 2,6 m (4,3 m menos
1,7 m). Por outro lado, medindo-se no desenho o comprimento do segmento A1B1
encontra-se 38 mm; sabendo-se que esta folha cotada adota uma escala de 1:100 (isto é,
uma distância de 1 mm no desenho corresponde a 100 mm no objeto real) conclui-se que a
distância entre as projeções representadas em 1 é 3.800 mm ou 3,8 m. Essa é, também, a
distância horizontal entre os pontos A e B. Aplicando o Teorema de Pitágoras, a distância
efetiva entre os pontos A e B é:

dAB = ( DV ) 2 + ( DH ) 2 = 2,6 2 + 3,82  4,6 m

Figura 2.33: Distâncias vertical (DV), horizontal (DH) e efetiva (dAB) entre 2
pontos e a inclinação da reta AB ()

2.11 ESTUDO DE RETAS


Inicialmente estudaremos o caso de retas definidas por 2 pontos e, posteriormente,
estenderemos o estudo para o caso em que uma reta é definida pela interseção de dois
planos. Assim, dados 2 pontos A e B e suas projeções A1 e B1, cada ponto da reta AB tem
por projeção um ponto bem definido em A1B1.

45
GEOMETRIA COTADA

2.11.1 Inclinação de retas: declividade


Um parâmetro muito importante para descrever a posição relativa de uma reta AB,
com relação ao plano horizontal de referência, é a sua inclinação (ângulo  da Figura 2.33).

A inclinação de uma reta é o ângulo que essa reta faz com o plano de projeção, isto é,
o ângulo que ela faz com a sua projeção ortogonal nesse plano.

A inclinação da reta AB, denotada por , pode ser calculada através da expressão:
 = arctan (DV/DH).
Na Figura 3.3, o ângulo de inclinação da reta AB em relação ao plano 1 é:
 = arctan (DV/DH), onde DV = 2,6 m e DH = 3,8 m.
Então,
 = arctan (2,6/3,8)   = arctan (0,684)   z 34,4o.
Da mesma forma, define-se a declividade:

A declividade (indicada por p) de uma reta é a razão entre a distância vertical e a


distância horizontal entre os pontos que a definem.

Pode-se, alternativamente, exprimi-la como porcentagem ou por frações ordinárias.


Assim, para o exemplo da Figura 2.33 temos que a declividade da reta AB é:
DV 2,6m
p= = = 0,684 = 68,4%
DH 3,8m

Observa-se que a declividade de uma reta é igual à tangente trigonométrica de seu


ângulo de inclinação. É importante notar que, no caso de retas verticais, a sua inclinação é
90o e a sua declividade é infinita; por outro lado, retas horizontais têm inclinação igual a 0 o
e declividade zero.
p = tan 

Perceba que a declividade e a inclinação de uma reta são constantes,


independentemente de quais pontos usamos para calculá-las.
Também se pode determinar a inclinação de uma reta através de método gráfico,
mostrado a seguir.

46
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

MÉTODO GRÁFICO PARA DETERMINAR INCLINAÇÃO DE UMA RETA

Em uma folha cotada, onde está representada uma reta AB, podemos, por operações gráficas,
determinar a sua inclinação e a sua declividade. A idéia é relativamente simples: basta
desenhar o ângulo formado entre reta AB e sua projeção A1B1.
Como AB e A1B1 estão contidas no plano vertical que passa por A1B1, para desenhar o
ângulo no papel precisamos rotacionar este plano vertical de 90o, fazendo-o coincidir com o
plano horizontal (“deitar” o plano vertical sobre o plano horizontal). Para isso podemos
escolher A1B1 como eixo de rotação.
Na prática basta:
a. Traçar uma reta perpendicular à A1B1, passando por A1 (linha de chamada);
b. Marcar nesta linha de chamada a projeção A2 (“projeção de A num plano vertical
2”) cuja distância a partir de A1B1 (que está no plano horizontal – cota zero) é
igual à cota de A (altura do ponto A ou sua distância ao plano de projeção
horizontal 1), aplicando a escala do desenho.
c. Traçar uma reta perpendicular à A1B1 e passando por B1 (linha de chamada);
d. Marcar na reta o ponto B2 cuja distância a partir de A1B1 é igual a cota de B,
aplicando a escala do desenho (analogamente ao que foi feito para o ponto A).
Assim, o ângulo de inclinação da reta AB (ângulo entre A2B2 e A1B1) pode ser medido
diretamente, quando se aplicam nas cotas a escala do desenho.

Figura 2.34: Determinar graficamente o ângulo de inclinação da reta


OBS: Sempre que você representar graficamente uma medida numérica de comprimento é
importante não se esquecer de aplicar a escala adotada no desenho. Analogamente, se você
tomar uma medida diretamente do desenho, deve aplicar o fator de escala para conhecer
o correspondente valor numérico daquela medida.
No procedimento acima, representamos graficamente no desenho os valores
numéricos (as cotas de A e B), por isso foi aplicada a escala nestes valores para então traçar
as projeções A2 e B2 nas posições calculadas.
Repare que ângulos não são afetados pela escala do desenho, então não é necessário
usar qualquer fator para corrigir o valor medido com o transferidor.

47
GEOMETRIA COTADA

2.11.2 Intervalo de uma reta

Define-se intervalo de uma reta como a distância horizontal entre dois pontos
quaisquer dessa reta que apresentam diferença de cotas igual a 1 unidade
(normalmente 1 metro).

Numericamente, o intervalo de uma reta é o inverso da sua declividade ou ainda,


numericamente igual a cotg, sendo  o ângulo de inclinação da reta (veja Figura 2.35):
1 1 DH
i= = = = cotg 
p DV DV
DH

Figura 2.35: Intervalo de uma reta

Novamente, para o nosso exemplo (Figura 2.32 e Figura 2.33), temos:


N
i = cotan (34,4o) = 1,46 m,

Isso mostra que, partindo-se da projeção A1, ao deslocarmos 1,46 cm (lembre-se que o
desenho está representado em escala 1:100) sobre A1B1, estaremos num ponto M da reta
AB com cota 1 m acima de A1,7 (cota de M = 1,7 m + 1 m = 2,7 m).

2.11.3 Coeficiente de redução


O coeficiente de redução de uma reta é definido como a relação entre a distância
horizontal de dois pontos da reta e a distância efetiva entre esses pontos; é, portanto, igual
ao co-seno do ângulo de inclinação. Dessa maneira, o coeficiente de redução de uma reta
vertical é nulo, pois a sua inclinação é 90o. No caso de uma reta horizontal o ângulo de
inclinação é nulo e o coeficiente de redução é 1, ou seja, a reta se projeta em verdadeira
grandeza (mantendo sua forma e dimensão) no plano horizontal 1.
 Faça agora os exercícios 3.1 a 3.4

48
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

2.11.4 Pertinência ponto-reta


Conhecendo-se as projeções em 1 e as cotas de 2 pontos de uma reta pode-se
determinar o seu intervalo. Com isso podemos determinar a cota de qualquer ponto da reta.
Para exemplificar esse procedimento consideraremos a reta AB (Figura 2.36). Tomemos
sobre essa reta um ponto M de projeção M1. Desejamos determinar a sua cota. Chamando
de zM a cota do ponto M podemos escrever:
DV z − 1.7m
p= → 0,684 = M
DH A1 M 1

Figura 2.36: Determinação da cota do ponto M pertencente à reta AB

que é a expressão da declividade calculada com os pontos A e M. Como A1M1 pode ser
obtido por leitura direta na folha, medindo-se o segmento A1M1 e considerando a escala do
desenho, obtém-se como resultado A1M1 = 2,6 m. Assim, tem-se que:
ZM = 2,6 m * 0,684 + 1,7 m = 3,48 m, que é a cota do ponto M da reta AB.
Da mesma forma, poderemos resolver o problema inverso, isto é, determinar
a projeção N1 de um ponto da reta AB que tem uma cota dada, por exemplo, 3,0 m
(observe a Figura 2.37).
3,0m − 17. m 3,0m − 1,7m
= 0,684  A1N1 = = 1,90m
A1 N 1 0,684

Figura 2.37: Determinação de um ponto N da reta AB de cota conhecida

Como o desenho está representado na escala 1:100, é só marcar 19 mm sobre a


projeção A1B1 a partir de A1 e obteremos o ponto N1.

49
GEOMETRIA COTADA

Assim, para que um ponto pertença a uma reta são necessárias as seguintes
condições:

• A projeção do ponto pertença à projeção da reta.


• A cota do ponto seja igual à cota do ponto da reta cuja projeção
coincida com a projeção do ponto dado.

 Faça agora o exercício 3.5

2.11.5 Graduação de retas


Repetindo-se a operação anterior (determinar a posição de um ponto na reta cuja
cota conhecemos) poderemos marcar os pontos da reta AB cujas cotas são representadas
por números inteiros. Assim, poderemos marcar sobre a reta AB os pontos de cotas 2, 3, 4,
etc. Essa operação é chamada de graduação da reta AB (Figura 2.38). No nosso exemplo,
o ponto N (marcado na reta AB no item anterior) é um ponto de cota inteira (cota 3).
Marcando-se os pontos P e Q distantes 1,46 cm (i = 1,46 m aplicando a escala 1:100) de
N1 obteremos a reta AB graduada de metro em metro.

Figura 2.38: Reta AB graduada de metro em metro pelo Método Analítico

Graduar uma reta é um passo inicial importante na resolução da maioria dos


problemas geométricos espaciais através das projeções cotadas. Denomina-se graduação
de retas pelo método analítico graduar uma reta seguindo os passos mostrados
anteriormente, pois emprega cálculos algébricos para se determinar os pontos de cotas
inteiras. Há, entretanto, outros métodos empregados na graduação das retas. São métodos
gráficos que utilizaremos no nosso curso por serem simples, rápidos e precisos.
 Faça agora os exercícios 3.6 e 3.7

50
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

GRADUAÇÃO DE RETAS PELO MÉTODO GRÁFICO 1


Um dos métodos gráficos se baseia na idéia de utilizar o plano vertical que contém
a reta, conforme explicado no procedimento apresentado no “Método Gráfico para
Determinar Inclinação de uma Reta” e, a partir daí, traçar planos horizontais auxiliares
de cotas inteiras e determinar a sua interseção com a reta considerada. Na figura 3.9, o
segmento A1B1 é o referencial zero da cota, e os pontos A2 e B2 representam os pontos A e
B no plano vertical.

Figura 2.39: Reta AB graduada de metro em metro pelo Método Gráfico 1

51
GEOMETRIA COTADA

GRADUAÇÃO DE RETAS PELO MÉTODO GRÁFICO 2


Outro método gráfico largamente utilizado é baseado na divisão de um segmento de reta
em partes proporcionais aplicando-se o Teorema de Tales. Para isso, usa-se uma escala graduada.
a. Traçar uma reta i concorrente ao segmento em um de seus pontos cujo valor da cota é
conhecido (geralmente uma extremidade do segmento), em ângulo arbitrário;
b. Posicionar a régua ao longo da reta i de modo que, no ponto de interseção escolhido
(o ponto A, neste caso), o valor da graduação da escala coincida com o valor da cota
do ponto (2,3 cm da escala sobre a projeção A12,3, na Figura 2.40);
c. Marcar os pontos da reta i nos quais a graduação da escala apresenta valores inteiros
(2, 3, 4, 5... na Figura 2.40);
d. Marcar na reta i o outro ponto cujo valor da cota na projeção a ser graduada é
conhecido - geralmente a outra extremidade do segmento (a projeção B19.2, na Figura
3.10);
e. Ligar o ponto da reta i encontrado no item anterior ao ponto correspondente na
projeção da reta a ser graduada, resultando em uma linha de referência;
f. Traçar retas paralelas à linha de referência, passando pelos pontos marcados no
passo (c);
g. A interseção das retas paralelas a linha de referência com o segmento A1B1 resulta
em pontos da projeção cujos valores de cota são inteiros;
h. Anotando os valores nos respectivos pontos de interseção obtém-se o segmento
graduado.
OBS1: o mesmo procedimento pode ser usado para se determinar qualquer outro ponto de
cota conhecida na reta ou, fazendo-se a leitura da cota diretamente na escala, determina-se
a cota de qualquer ponto dado na projeção.
OBS2: sendo esse processo baseado em proporções, não importa a unidade da régua (mm,
cm, polegadas, etc.).
OBS3: Note que, ao contrário do Método 1, neste não é necessário realizar NENHUMA
conta, nem utilizar o valor da escala, evitando-se erros bastante comuns.

Figura 2.40: Reta AB graduada de metro em metro pelo Método Gráfico 2

52
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

2.11.6 Retas concorrentes


Duas retas são concorrentes quando atendem aos seguintes requisitos:

• Suas projeções no plano horizontal 1 têm um ponto comum.


• Nesse ponto, ambas as retas têm a mesma cota.

Quando a cota do ponto comum não é dada, pode ser facilmente determinada, algébrica
ou graficamente como referido anteriormente. Feita essa determinação para cada reta e
verificando-se que a cota do ponto comum é a mesma para ambas as retas, conclui-se que
essas retas são concorrentes naquele ponto. A Figura 2.41 mostra duas retas r e s
concorrentes num ponto de cota igual a 3,7.

Rr
r1 Ss
5
R13,7
4
3
4 3
s1 5
6
S13,7

Figura 2.41: Projeção cotada de duas retas r e s concorrentes

MÉTODO GRÁFICO DE VERIFICAÇÃO DE CONCORRÊNCIA DE 2 RETAS


Um método gráfico para se investigar a concorrência de duas retas é o seguinte:
traçam-se retas que contenham pontos de mesma cota de cada uma das retas dadas.
Somente se as retas traçadas forem paralelas, as retas dadas serão concorrentes (Figura
3.12). Esse processo é muito útil quando o ponto de concorrência das retas dadas está fora
dos limites do papel.

r1
5

4
3
4 3
s1 5
6

Retas paralelas

Figura 2.42: Método gráfico de verificação de concorrência de duas retas

53
GEOMETRIA COTADA

2.11.7 Retas paralelas


Duas retas são paralelas se, e somente se:

• Suas projeções são paralelas.


• Seus intervalos são iguais.
• Suas graduações são concordantes (têm mesmo sentido de
crescimento).

Consideremos duas retas, r e s, paralelas entre si. Como estamos empregando a


projeção cilíndrica, sabemos que as retas paralelas têm projeções paralelas. Por outro lado,
retas paralelas têm igual inclinação em relação ao plano horizontal 1. Dessa forma elas
apresentam a mesma declividade e, portanto, o mesmo intervalo (Figura 2.43). Você é
capaz de explicar o porquê da exigência do 3o critério acima (graduações em sentido
concordante)?

TEOREMA DA CONSERVAÇÃO DO PARALELISMO:


“NA PROJEÇÃO CILÍNDRICA, O PARALELISMO SE CONSERVA”.

Figura 2.43: Representação em projeção cotada de duas retas paralelas

 Faça agora os exercícios 3.8 e 3.9

2.11.8 Retas perpendiculares ou ortogonais

TEOREMA DA CONSERVAÇÃO DO PERPENDICULARISMO:


“NA PROJEÇÃO CILÍNDRICA, RETAS ORTOGONAIS / PERPENDICULARES SÓ
CONSERVAM O PERPENDICULARISMO QUANDO PELO MENOS UMA DELAS FOR
PARALELA AO PLANO DE PROJEÇÃO”.

54
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.44: Perpendicularismo e não perpendicularismo

Para verificar o ortogonalismo de duas retas cujas projeções não são


perpendiculares deve-se projetá-las num plano paralelo a uma delas, de modo a se verificar
a condição do teorema da conservação do perpendicularismo (Figura 2.45):

Figura 2.45: Verificação da ortogonalidade

2.12 ESTUDO DE PLANOS


Um plano pode ser determinado por:

• 3 pontos não-colineares.
• Uma reta e um ponto não pertencente a ela.
• Duas retas paralelas ou por duas retas concorrentes.

Analisaremos o caso em que o plano é determinado por 3 pontos, pois todos os


outros casos podem ser reduzidos a esse caso geral.

55
GEOMETRIA COTADA

2.12.1 Retas horizontais de um plano


Sejam os pontos A, B e C, representados na folha cotada com suas
respectivas cotas como mostrado na Figura 2.46.

Figura 2.46: Representação dos pontos A, B e C em projeção cotada.

Os três pontos determinam um plano . Vamos graduar (conforme o método


gráfico apresentado anteriormente) as retas AB e AC, obtendo os pontos de cotas inteiras
de 2 a 5 dessas duas retas. O ponto de cota 5 da reta AB ligado ao ponto de cota 5 da reta
AC gera uma reta horizontal h5 de cota 5 contida no plano . Da mesma forma, ao
ligarmos o ponto de cota 4 da reta AB ao ponto de cota 4 da reta AC obtemos a reta
horizontal h4 do plano . Repetindo-se esse procedimento, obteremos outras retas
horizontais de cota inteira contidas em  (h1, h2, h3, ...). Essas retas horizontais do plano
são paralelas e equidistantes entre si. Essas retas horizontais do plano  são paralelas entre
si e paralelas à interseção do plano  com o plano horizontal 1 (traço de  em 1). A
reta traço de  em 1 é a reta horizontal h0.

2.12.2 Retas de maior declive de um plano


Consideremos, novamente, um plano determinado de uma das formas mostradas
anteriormente. Observemos os seguintes fatos, acompanhando pela Figura 2.47:

Figura 2.47: Inclinação de retas contidas ao plano  mostrando o significado


geométrico da reta de maior declive.

56
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

(i) escolhemos arbitrariamente um ponto P do plano  que será mantido fixo durante
todo o processo. Para facilidade de demonstração, tomaremos um ponto P de cota
unitária;
(ii) escolhemos agora outro ponto de , muito longe de P, que referiremos como ponto
Q. Esse ponto Q pode ser qualquer, mas o tomaremos sobre a interseção de 
com 1. Medimos o ângulo de inclinação da reta PQ com o plano horizontal. Esse
ângulo é muito pequeno (no limite é nulo), pois a distância vertical é constante e a
distância horizontal tende a infinito (PQ = DVPQ/DHPQ=1/=0).

(iii) escolhendo um ponto Q (ainda na reta de interseção de  com 1) cada vez mais
próximo ao ponto P, o ângulo de inclinação PQ da nova reta PQ aumentará
progressivamente, pois a distância horizontal diminui;
(iv) por outro lado, como já vimos, quando o ponto Q se afasta de P, caminhando
sobre a reta de interseção de  com 1, o ângulo de inclinação PQ da reta PQ
novamente decresce, tornando-se, no limite, zero;
(v) assim, pode-se concluir que a inclinação da reta PQ atingirá seu valor máximo
quando a distância horizontal (DHPQ) for mínima. Isso ocorre quando a reta
projetada P1Q1 for perpendicular à reta de interseção de  com 1. Como esta reta
de interseção de  com 1 é, obviamente13, uma reta horizontal de , tem-se que a
reta PQ é, também, perpendicular à reta de interseção de  com 1 (nesse caso, em
particular, o perpendicularismo entre as retas se mantém na projeção14).
Sendo assim, definimos:

Uma reta de maior declive (ou de maior inclinação) é uma reta do plano
perpendicular à reta de interseção do plano com 1

A reta de interseção é denominada de traço do plano.


Enunciando de outra forma:

Uma reta de maior declive é uma reta do plano perpendicular a qualquer reta
horizontal do plano.

Vale ressaltar que uma reta de maior declive de um plano define completamente o
plano, por isso nas projeções cotadas os planos geralmente são representados por uma de
suas retas de maior declive.
Note que um plano contém infinitas retas de maior declive. Todas são paralelas
entre si.
É interessante observar que a reta de maior declive indica a direção de mínima
energia desse plano: uma esfera (que pode rolar livremente num determinado plano) ao ser
abandonada descerá plano abaixo segundo sua reta de maior declive. Da mesma forma, a

13
Afinal, qualquer reta contida num plano horizontal ( 1) também é horizontal!
14
Isso ocorre, pois, pelo menos uma das retas é paralela ao plano de projeção, no caso a horizontal.

57
GEOMETRIA COTADA

água da chuva, ao cair num telhado plano, percorrerá a direção da sua reta de maior declive
(linhas hidrodinâmicas).

2.12.3 Inclinação, declividade e intervalo de planos

A inclinação de um plano é a mesma inclinação da sua reta de maior declive.

Pode-se afirmar ainda, que a declividade de um plano é a declividade de sua reta


de maior declive e o intervalo de um plano é o intervalo da sua reta de maior declive
(Figura 2.48).

Figura 2.48: Inclinação do plano e ângulo de inclinação de sua reta de maior declive

 Faça agora o exercício 3.10

2.12.4 Graduação de planos


A graduação de um plano pode ser feita com o traçado de suas retas
horizontais de cotas inteiras (h1, h2, h3,...) ou traçando-se sua reta de maior declive e
graduando-a. Uma vez determinada a reta de maior declive de um plano, podemos apagar
todos os outros elementos determinadores desse plano, pois a reta de maior declive do
plano graduada é suficiente para determiná-lo univocamente. Dizemos que um plano está
representado em projeção cotada quando conhecemos a sua reta de maior declive
devidamente graduada.
A graduação de um plano é o primeiro passo para se determinar a pertinência de
pontos e retas a planos, a interseção de retas e planos e a interseção de dois planos. Para se
distinguir uma reta de maior declive graduada de uma reta graduada qualquer,
convenciona-se representar as primeiras por um traço duplo sobre os quais se assinalam os
pontos de cota inteira (veja a Figura 2.49).
Dessa forma, pode-se utilizar o método gráfico mostrado na Figura 2.42 para
determinar se duas retas dadas numa folha cotada são concorrentes ou reversas.
Relembrando: se as retas forem concorrentes determinarão um plano, ou seja, graduando-
as e ligando os pares de pontos de mesma cota deveremos ter retas paralelas e eqüidistantes
que são as horizontais do plano definido por elas. Caso contrário, essas retas serão reversas
(não definem um plano).

58
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 2.49: Definição de planos (traçando as retas horizontais de cotas inteiras)


pelos pontos de cota inteira da retas de maior declive

 Faça agora o exercício 3.11

2.12.5 Planos em posições particulares


2.12.5.1 Plano paralelo ao plano de projeção
Nesse caso, tem-se que o plano considerado é horizontal, ou seja, todos os pontos a
ele pertencentes terão a mesma cota. Todas as suas retas são retas de maior declive. A sua
representação é feita por um segmento de reta (duplo, para se indicar uma reta de maior
declive), colocando-se em seus extremos o valor da cota do plano. A Figura 2.50 mostra
um plano horizontal de cota 2. Observe que qualquer figura pertencente a um plano
horizontal se projeta em verdadeira grandeza no plano de projeção 1.

Figura 2.50: Indicação da reta de maior declive de um plano horizontal de cota 2

2.12.5.2 Plano concorrente com o plano de projeção


Tem-se dois casos:
Plano Vertical: o ângulo de inclinação desse plano em relação ao plano 1 é 90o.
Todos os seus pontos têm projeções confundidas com o traço do plano. Todas as suas retas
de maior declive são retas verticais. Esse plano é representado por seu traço no plano
horizontal 1 e sem graduação, naturalmente, de suas retas. (Figura 2.51).

59
GEOMETRIA COTADA

Figura 2.51: Indicação de traço e reta de maior declive de planos verticais

Plano Qualquer: a representação é feita pela projeção de uma de suas retas de


maior declive, graduada.

Figura 2.52: Representação de um plano qualquer pela sua reta de maior declive

2.12.6 Posições relativas de dois planos entre si


2.12.6.1 Planos Paralelos
A interseção de dois planos paralelos entre si com o plano de projeção horizontal
resulta em 2 retas traço paralelas. Como as retas de maior declive são perpendiculares aos
traços dos planos, podemos estender esse conceito e concluir que planos paralelos entre si
têm todas as suas retas de maior declive paralelas. Portanto, a projeção dessas retas
características são paralelas, apresentando o mesmo intervalo e o mesmo sentido de
graduação. A Figura 2.53 mostra a representação, pelas suas retas de maior declive, de
dois planos paralelos entre si.

Figura 2.53: Representação de dois planos paralelos

60
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

2.12.6.2 Planos Concorrentes


Quando dois planos são concorrentes, verifica-se um dos seguintes casos:

• As suas retas de maior declive são concorrentes; ou


• As projeções das suas retas de maior declive são paralelas, mas o
sentido de graduação não é o mesmo; ou
• As projeções das suas retas de maior declive são paralelas, mas seus
intervalos não são iguais.

Isto é, as retas de maior declive dos planos não são paralelas (Figura 2.54).

Figura 2.54: Representações de planos concorrentes

2.12.7 Pertinência ponto-plano


Para um ponto pertencer a um plano é necessário que esse ponto pertença a uma
reta do plano que pode ser uma horizontal (não necessariamente de cota inteira). Dessa
forma, para se verificar se um ponto pertence a um plano, basta traçar a reta horizontal do
plano de cota igual à cota do ponto. Observe a Figura 2.55. Se o ponto P pertencer à reta
horizontal que passa por ele, então o ponto P pertence ao plano; caso contrário, o ponto
não pertence ao plano (por esse motivo, na Figura 2.55 o ponto A1,4 não pertence ao
plano).
Um ponto pertence a um plano vertical se sua projeção pertencer ao traço desse
plano no plano horizontal 1; um ponto pertence a um plano horizontal quando sua cota é
igual à cota desse plano. Por outro lado, sabendo que um ponto Q pertence a um plano ,
pode-se determinar a sua cota traçando-se uma horizontal do plano passando por Q e
determinando-se o valor de sua cota na reta de maior declive de .

61
GEOMETRIA COTADA

Figura 2.55: Pertinência de ponto a plano

2.12.8 Pertinência reta-plano


Genericamente, para determinar se uma reta pertence a um plano é necessário
demonstrar que ela possui 2 pontos contidos no plano. Em nosso caso específico, é mais
simples determinar se a reta se apóia em duas retas do plano. De outra forma, para que uma
reta pertença a um plano, é necessário que as horizontais do plano cruzem esta reta em
pontos com cotas coincidentes com as das respectivas horizontais (Figura 2.56).

Figura 2.56: Pertinência de reta a plano

2.12.9 Interseção plano-plano


Pode-se determinar a reta de interseção de dois planos se encontrarmos dois ou
mais pontos que sejam comuns aos dois planos. Se considerarmos as interseções das retas
horizontais de mesma cota dos dois planos, verificamos que são pontos que atendem à
condição especificada. Dessa forma, pode-se usar o método gráfico ilustrado a seguir para
determinar a reta de interseção entre dois planos concorrentes.
Note que se os dois planos forem paralelos as suas retas horizontais também o serão
e as intersecções não serão determinadas, pois não existem.

2.12.10 Interseção reta-plano


A interseção de uma reta com um plano é um ponto próprio, no caso geral, ou
impróprio (no infinito) quando a reta é paralela ao plano. Observa-se ainda que esse ponto
pertencerá à reta de interseção desse plano com qualquer plano que contenha a reta
considerada. Poderemos utilizar esse fato para determinar o ponto de interseção de uma
reta r com um plano  dado por sua reta de maior declive devidamente graduada:
• escolhemos arbitrariamente um plano  que contém a reta r dada: por facilidade,
escolhemos um plano cuja reta de maior declive é a própria reta r;
• determinamos a reta i =   , interseção entre os planos  e , como mostrado
anteriormente;

62
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

• encontramos o ponto I da reta r que pertence também à reta de interseção i. Esse


ponto I é a interseção da reta r com o plano  dado.

 Faça agora os exercícios 3.12 a 3.14

 Resolva os Problemas 3.1 a 3.14

MÉTODO GRÁFICO PARA DETERMINAR A RETA DE INTERSEÇÃO ENTRE DOIS


PLANOS CONCORRENTES

Sendo P um ponto de cota zp pertencente simultaneamente aos dois planos estando,


portanto, na reta interseção dos dois planos, para determinar a reta de interseção entre dois
planos quaisquer ( e ), procede-se do seguinte modo:
a. Determinar as retas de maior declive dos dois planos, graduadas.
b. Desenhar as retas horizontais dos dois planos (perpendiculares às retas de maior
declive).
c. Como as retas horizontais dos planos  e  passando por P serão representadas por
hzP e hzP respectivamente, a projeção de P estará na interseção das horizontais
hzP e hzP;
d. Repetindo-se esse procedimento para outro ponto Q também pertencente
simultaneamente aos planos  e  de cota zQ . Da mesma forma como ocorreu para
o ponto P, a projeção do ponto Q estará na interseção das retas horizontais hzQ e
hzQ.
e. Portanto, a reta de interseção dos planos  e  é o lugar geométrico de todos os
pontos que são interseção das retas horizontais de mesma cota desses planos.

63
GEOMETRIA COTADA

Figura 2.57: Determinação da reta interseção r entre os planos  e .

64
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

3 SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS
3.1 OBJETIVOS
▪ Aprender os conceitos básicos sobre as superfícies topográficas;
▪ Desenvolver algumas aplicações da Geometria Cotada em problemas típicos.

3.2 INTRODUÇÃO
Vimos anteriormente que os principais elementos geométricos (como ponto, reta ou
plano) podem ser representados por suas projeções cotadas num plano horizontal tomado
como referência. A projeção horizontal de um ponto é complementada com o valor de sua
cota definindo-o, dessa forma, univocamente. A Figura 3.1 mostra a projeção cotada de
uma reta AB e a reta de maior declive de um plano .

A 

Figura 3.1: Representação em projeção cotada de uma reta AB e a reta de maior


declive de um plano .

Entretanto, surge um novo problema no instante em que queremos representar uma


curva irregular. Nesse caso, estenderemos para as curvas o conceito de graduação de retas:
marcaremos os pontos dessa curva que são interceptados por planos horizontais de cotas
inteiras, ou seja, aproximaremos a curva dada por uma seqüência de segmentos de reta. Em
geral, isso será suficiente para as nossas aplicações.

Figura 3.2: Curva graduada de metro em metro e o seu perfil

65
SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS

Observe a Figura 3.2. Nela está representada uma parte de uma curva por meio da
‘discretização’, baseada nas marcações de suas cotas inteiras, e o seu perfil. O perfil da
curva é um diagrama que representa um sistema de projeção ortogonal, cujos planos
verticais têm como traço 15 no plano horizontal os segmentos retos (por exemplo, o
segmento L da figura) resultantes da curva discretizada. As cotas são lidas diretamente dos
pontos da curva. Nesse diagrama as abscissas e as cotas podem estar representadas em
escalas diferentes.

3.3 As Superfícies Topográficas

• SUPERFÍCIE TOPOGRÁFICA É UMA CLASSE DE SUPERFÍCIE QUE NÃO PODE SER


REPRESENTADA POR UMA EQUAÇÃO, ISTO É, SUA FORMA NÃO É
GEOMETRICAMENTE DETERMINADA.

Dessa forma, uma superfície topográfica não admite exatidão no seu estudo ou na
sua representação. As soluções dos problemas não são exatas e apenas darão orientação
básica para a resolução dos mesmos.

3.3.1 Curvas de nível


O princípio básico da representação de superfícies topográficas consiste em se
considerar uma série de planos horizontais 1, 2, 3, ...de cotas z1, z2, z3, ... Assim, um
plano horizontal i seciona a superfície topográfica segundo uma linha que é o lugar
geométrico dos pontos dessa superfície que tem cotas zi iguais à desse plano. Todos os
pontos dessa linha apresentam a mesma cota, estando, portanto, no mesmo nível
horizontal; essas linhas são chamadas, pois, de curvas de nível.
Na Figura 3.3estão representados os planos horizontais i, a superfície topográfica
S e o plano de projeção 1. Observe que esses planos são eqüidistantes entre si e essa
diferença de cotas é o intervalo ou eqüidistância da folha cotada. Essa folha cotada é o
plano de projeção onde estão projetadas as curvas de nível e feitas as anotações dos valores
de suas cotas bem como a unidade e a escala utilizadas. Essa folha cotada também recebe o
nome de folha ou carta topográfica.
Fazendo uma analogia com as projeções cotadas, tem-se:

• Plano => retas horizontais.


• Superfícies topográficas => curvas de nível.

Recomenda-se a utilização de intervalos das folhas cotadas de 1m, 2m, 5m e seus


múltiplos de 10. Isso permite que, por inspeção visual da carta topográfica do terreno,
possam ser determinados trechos que apresentam declividades maiores que determinados
valores limites. Isso é particularmente importante para o planejamento de mecanização
agrícola e determinação do aproveitamento de regiões mais íngremes para certos tipos de
cultura.

15
Isto é, interseção.

66
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Figura 3.3: Representação de uma superfície S através de suas curvas de nível

A Figura 3.4 apresenta exemplo de uma superfície topográfica, com suas curvas de
nível sobrepostas à fotografia aérea.

Figura 3.4: Fotografia aérea e as curvas de nível

67
SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS

3.3.2 Pontos pertencentes a uma superfície topográfica


Em aulas anteriores aprendemos um método de verificar a pertinência de um ponto
a uma reta ou a um plano representados em Geometria Cotada. Agora, podemos estender
esse conceito e verificar se um ponto pertence ou não a uma superfície dada por suas
curvas de nível. O método é análogo ao aplicado no estudo de pertinência de ponto à reta:

• "um ponto pertence a uma superfície topográfica se pertencer à sua


curva de nível de mesma cota"

Observe a Figura 3.5 onde estão representados um terreno por suas curvas de nível
de metro em metro, e os pontos A, B e C. Vamos verificar inicialmente se os pontos A e B
pertencem à superfície desse terreno.

Figura 3.5: Folha topográfica mostrando as curvas de nível de um terreno e as


projeções cotadas dos pontos A, B e C.

Para tanto, vamos inicialmente determinar as cotas de pontos do terreno


(pontos P e Q) que apresentam projeções no plano horizontal coincidentes às projeções
dos pontos A e B (A1 e B1). Como, por definição, os pontos P e Q pertencem à superfície
do terreno, eles pertencem à alguma de suas curvas de nível. Verifiquemos. Tomemos o
ponto P do terreno cuja projeção P1 coincide com A1 e o ponto Q com Q1 coincidente com
B1. O ponto P pertence à curva de nível de cota 173,0 metros que é, também, a cota do
ponto A. Dessa forma, o ponto A pertence à superfície desse terreno, pois pertence à curva
de nível de igual cota.
Analisemos agora o ponto B. A projeção desse ponto coincide com a projeção do
ponto Q pertencente ao terreno. Observe que B1 e Q1 estão situados entre as curvas de
nível 171 e 172 e, dessa forma, a cota do ponto Q está compreendida entre 171 e 172m.
Não é possível determinar o valor exato de sua cota, pois essa projeção não pertence ao
traço de nenhuma curva de nível (de cota inteira). O valor da cota de Q é determinada por
interpolação linear entre as cotas de dois pontos X e Y pertencentes às curvas de nível 171
e 172, respectivamente. Os pontos X e Y são extremos do menor segmento de reta que
contém o ponto Q. O valor da cota do ponto Q obtida por interpolação linear não é exata,
pois não se tem nenhuma informação do comportamento do terreno na região entre as duas
curvas de nível. Se, por acaso, entre essas duas linhas o terreno for convexo, a cota de Q

68
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

determinada por interpolação é menor que o valor real; por outro lado, se o terreno for
côncavo, a cota de Q é maior que o seu valor real.
No nosso exemplo, por interpolação tem-se que a curva de nível da superfície que
passa pelo ponto Q tem cota 171,3 metros. Como o ponto B tem cota 171,7 m concluímos
que esse ponto não pertence à superfície desse terreno, situando-se 0,40 metros acima dela.
Por outro lado, sabendo que o ponto C pertence a esse terreno, podemos determinar
a sua cota. Usaremos, para isso, esse mesmo método: “desenhar” a curva de nível desse
terreno que contém o ponto C considerado. Visualmente constatamos que a cota do ponto
C está compreendida entre 170 e 171. Repetindo-se o mesmo processo de interpolação
linear aplicado anteriormente para o ponto Q determinamos que a cota de C é igual a 170,7
m.
 Faça agora o exercício 4.1.

3.3.3 Linhas hidrodinâmicas de um terreno


Tomemos uma superfície de um terreno dada através de suas curvas de nível como
mostrado na Figura 3.6.

Figura 3.6: Superfície topográfica de um terreno mostrando as suas Linhas


Hidrodinâmicas e as Linhas de Ravina e de Espigão

Partindo-se de um ponto A, posicionado em determinada curva de nível, podemos


caminhar sobre esse terreno de 3 maneiras distintas:
• caminhar sobre essa curva de nível: estaremos caminhando na superfície do
terreno sem, no entanto, alterar o valor de nossa cota (altura);
• caminhar em direção à curva de nível de cota maior: nesse caso estaremos
caminhando na superfície do terreno e subindo em relação ao plano horizontal;
• caminhar em direção à curva de nível de cota menor: nesse caso estaremos
descendo em relação ao plano horizontal.

69
SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS

Agora, consideraremos apenas o caminhamento em direção à curva de nível de cota


maior; entretanto, as conclusões obtidas independem do sentido do caminhamento e as
conceituações que faremos são genéricas. Partindo-se de um ponto A de cota zA subiremos
na superfície do terreno e atingiremos a curva de nível de cota zB (por facilidade de
demonstração e sem perda de generalidade consideraremos zB = zA+1m). A subida em
direção à curva de nível de cota zB pode ser realizada por diversos caminhos apresentando,
em conseqüência, diferentes deslocamentos, por exemplo, os percursos AB’ e AB” da
Figura 3.6. Nesse caso, a diferença de cotas está definida e é igual a 1 metro tendo-se,
portanto, a distância vertical constante (DV = 1m). Dessa maneira, a diferença de percurso
será função da distância horizontal entre o ponto de cota zB e o ponto A. Certamente
haverá um ponto (ponto B da Figura 3.6.) do terreno e de cota zB que estará à menor
distância do ponto A.
Da mesma forma, partindo-se do ponto B atingiremos o ponto do terreno de cota
zB+1. Seguindo-se pelo caminho mais curto alcançamos o ponto C naquela curva de nível
de cota zB+1. Repetindo-se esse procedimento obtemos os pontos D, E, ... mostrados na
Figura 3.6. A união desses segmentos é o lugar geométrico dos caminhos mais curtos entre
pontos situados em curvas de nível consecutivas de uma folha topográfica. Essa linha é o
caminhamento de máxima declividade pelo qual se pode percorrer o terreno a partir de um
ponto A. Ao mesmo tempo, esse será o caminho percorrido pelas águas das chuvas que
caem em qualquer A. Assim, ela é chamada de Linha Hidrodinâmica do terreno. É o
equivalente às retas de maior declive de um plano, estudadas anteriormente.
Fazendo analogia com a Geometria Cotada, tem-se:

• No plano → retas de maior declive.


• Em superfícies topográficas → linhas hidrodinâmicas.

Como acabamos de mencionar, as águas das chuvas escoam do ponto mais alto para
o ponto mais baixo do terreno, seguindo as Linhas Hidrodinâmicas, A curva formada por
pontos onde ocorrem o encontro das águas é denominada de ravina, e equivale o trajeto
dos rios . Por outro lado, A curva formada por pontos onde partem as linhas
hidrodinâmicas é denominada de espigão, e equivalem aos divisores das bacias
hidrográficas.

3.4 Perfil de um Terreno Segundo um Caminhamento


Um caminhamento sobre uma superfície topográfica corresponde a uma curva
irregular. O perfil desta curva irregular é representado num diagrama, conforme já
mencionamos anteriormente na Figura 3.2. Traçando uma curva AB que une as projeções
A1 e B1 de dois pontos sobre um terreno, podemos então obter o perfil do terreno segundo
aquele caminhamento, como mostrado na Figura 3.7. Este caminhamento pode representar,
por exemplo, uma estrada unindo os dois pontos.

70
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

240
Escala 1: 2.000

230
220
210
200
190
180
A Escala 1: 10.000 B

Figura 3.7: Perfil de um terreno segundo um caminhamento entre os pontos A e B.

3.4.1 Caminhamento de declividade constante


O traçado de um caminhamento com declividade constante sobre um terreno é um
problema encontrado com freqüência na construção de estradas. Para resolvê-lo podemos
usar a folha cotada do terreno e um compasso com uma abertura igual ao intervalo
correspondente à declividade dada. A Figura 3.8 mostra um caminhamento que une os
pontos A e B com declividade constante e igual a i.

71
SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS

Figura 3.8: Caminhamento entre os pontos A e B com declividade constante.

 Faça agora o exercício 4.2.

3.5 CORTE PLANO DE TERRENOS


Outro problema é encontrar a interseção de um plano com uma superfície
topográfica representada por suas curvas de nível. Começamos traçando as retas
horizontais do plano com cotas iguais às curvas de nível da superfície e definimos os
pontos onde estas horizontais encontram as curvas de nível correspondentes. Ligando estes
pontos, obtemos as linhas de encontro do plano com a superfície, conforme exemplificado
na Figura 3.9.
Na analogia com a Geometria Cotada, tem-se:

• Interseção de plano → interseção das retas horizontais.


• Interseção de superfícies topográficas → interseção das curvas de
nível.

Quando a superfície topográfica em estudo é um terreno, a região do espaço que


fica abaixo do plano e acima do terreno é chamada de aterro, e o plano é dito ser um plano
de aterro. O aterro corresponde a uma região que deve ser preenchida para que a superfície
do terreno fique plana.
A outra região do espaço que fica acima do plano e abaixo do terreno é chamada de
corte, e o plano é um plano de corte. Nesta região deve ser feita uma escavação para se
chegar da superfície do terreno até o plano dado. Devemos notar ainda que o limite físico
entre as regiões de corte e aterro corresponde justamente às linhas de encontro do plano
com o terreno.

72
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

Corte

Aterro

Aterro

Figura 3.9: Interseção de um plano com uma superfície - regiões de aterro e corte.

73
SUPERFÍCIES TOPOGRÁFICAS

Figura 3.10: Linhas de encontro das saias de aterro de uma barragem com a
superfície do terreno.

 Faça agora os exercícios 4.3 a 4.18.

74
PCC2121 GEOMETRIA GRÁFICA PARA ENGENHARIA

3.6 GLOSSÁRIO DE TERMOS

Como as superfícies topográficas são muito utilizadas nas áreas de Engenharia de


Minas e Engenharia Civil, vários exercícios são aplicações práticas simplificadas da teoria
apresentada nestas áreas de conhecimento. Para facilitar a compreensão dos termos usados
nos exercícios, apresenta-se a seguir uma breve explicação dos mesmos.

▪ Linha de afloramento: linha na superfície de um terreno que delimita a área onde


um determinado minério aparece à flor da terra. É a intersecção da capa de uma
jazida mineral com a superfície do terreno.

▪ Jazida: uma camada, filão ou veio de minério, usualmente considerado como sendo
um plano inclinado de espessura uniforme. As capas da jazida são as faces
(planos) superior e inferior da mesma.

▪ Barragem: uma obra civil destinada a represar água de um rio. Pode ter formato
prismático (usualmente com secção trapezoidal), em arco, etc. Pode ser de concreto,
terra, etc. O topo da barragem é denominado “crista”. Bordos laterais são as
bordas da crista.

▪ Saias de aterro: são taludes (inclinações) resultantes do aterro de uma certa área de
terreno, isto é, rampas que se formam em torno de uma área que sofreu trabalhos de
terraplenagem, e que tinham, originalmente, cotas mais baixas.

▪ Região inundável: área de um terreno que, depois de construída uma barragem


para represar água de um rio, pode ser inundada quando o volume de água
represada atinge seu nível máximo.

▪ Montante: nome dado à região rio acima, isto é, entre o ponto mencionado e a
cabeceira ou nascente de um rio. As águas do rio correm em sentido contrário à sua
montante.

▪ Jusante: nome dado à região rio abaixo, isto é, entre o ponto mencionado e a foz de
um rio. As águas correm em direção à jusante do rio.

75

Você também pode gostar