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A Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado do Brasil, registrou crescimento do desmatamento de 66%

em 2021 em relação a 2020, somando 21.642 hectares de floresta indo ao chão. É a maior taxa em seis anos.
Quinze Estados derrubaram árvores, mas cinco acumularam 89% do desmatamento - Minas Gerais, Bahia, Mato
Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Os dados são do Atlas da Mata Atlântica, estudo que a Fundação SOS Mata Atlântica realiza
regularmente desde 1989 em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“É um aumento muito maior do que nós imaginávamos”, diz Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de
conhecimento da SOS Mata Atlântica e coordenador do Atlas. Dos 17 Estados que compõem o bioma, 15
registraram alta do desmatamento em relação ao período anterior.”
“Trata-se de um aumento muito expressivo para um
bioma superameaçado e que se localiza onde vive
70% da população brasileira e em região que
concentra 80% da economia brasileira”, segue
Guedes Pinto. “Tínhamos que estar falando agora de
restauração deste bioma e não de desmatamento”,
continua ele. O estudo chama atenção para os
Estados que puxam o mau desempenho. Minas
Gerais é o campeão do desmate, com mais de 9 mil
hectares desmatados, quase a metade do total
registrado. “Ali é um bloco contínuo entre Minas e a
Bahia, uma fronteira de desmatamento com interface
com o Cerrado. São grandes áreas abertas”, explica.

Também persiste alto o desmatamento registrado no Paraná e Santa Catarina. “Ali é uma realidade de
fronteira mais consolidada e a dinâmica é de muitos pequenos desmatamentos, pelas bordas, que vão comendo
o que sobrou, em total afronta à Lei da Mata Atlântica.”
O outro foco é Mato Grosso do Sul, em área de transição da soja. O terceiro aspecto do estudo é que
havia alguns Estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, que estavam próximos do desmatamento zero em anos
anteriores e agora a tendência inverteu. “São números pequenos, mas a tendência aciona um alerta sobre a
reversão da situação que era razoavelmente controlada”, segue o diretor da SOS Mata Atlântica.
O Atlas estima que o desmatamento da Mata Atlântica em 2021 resultou em uma emissão de 10,3
milhões de toneladas de CO2 equivalente. “Isso representa uma emissão maior da registrada por Luxemburgo,
pela Jamaica, pela Costa Rica, Brunei ou a Armênia”, diz.
“É uma emissão de gases-estufa razoável, com o Brasil saindo dos compromissos assumidos na conferência de
Glasgow, falando em desmatamento zero, em entrar na OCDE, em assinar o acordo UE-Mercosul”, continua. “O
governo acaba de dar um passo rumo aos mercados de carbono, mas o país está desmatando Amazônia e Mata
Atlântica. É como querer passar no vestibular estando reprovados no colégio. Estamos no século passado”, diz.
“O contexto é que estamos colhendo quatro anos de desmonte do sistema ambiental. Isso contamina os
Estados e atinge a Mata Atlântica”, diz Guedes Pinto. “Continuamos tendo despachos que atacam a Lei da Mata
Atlântica e o Código Florestal”, diz.
O atlas não aponta a legalidade ou ilegalidade dos desmatamentos. “Mas analisando junto a dados do
MapBiomas e do MapBiomas Alerta temos evidências de que grande parte destes desmatamentos é ilegal e não
é punida.”
Pela Lei da Mata Atlântica, desmatamentos no bioma só podem ser autorizados se for caso de utilidade
pública ou interesse social. “É difícil ver qualquer um destes argumentos em um condomínio ou um galpão”, diz
Guedes Pinto.

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