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Estradas levam pra longe das

memórias

Ato I: Curiosidade

Numa cidade beira-mar que muito sofreu em seu passado pelas mãos de clãs nobres e
realezas, foram detidos por uma revolucionária de um desses clãs, que ergueu uma ordem
de cavaleiros para acabar com a tirania, e agora os clãs tiranos foram banidos da cidade
por um tempo, até que um acordo de paz cedeu acesso a um desses clãs de volta a cidade,
mas o povo continua desprezando e repudiando o passado, é impossível esquecer, a
discriminação é avassaladora e raramente se veem pessoas da nobreza que não sejam os
fundadores da ordem de cavaleiros. Hoje conhecida como a Cidade dos Ventos ou a
Cidade da Liberdade, é muito apreciada por sua cultura do vinho, e o povo acolhedor a
estrangeiros, desde que você não faça parte de uma linhagem de ditadores cruéis. Mas não
é da cidade que essa história é sobre, dentro de uma taverna nomeada Vinheiro do
Alvorecer, se ouve uma voz jovial e suave cantando e o som de um violão tocando uma
música cativante, o Vinheiro é uma das tavernas mais famosas da cidade, então o local é
bem lotado quase toda hora.

O barman é um homem ruivo, com cabelos longos amarrados num rabo de cavalo e uma
barbicha no queixo, Ele serve cada vez mais drinks enquanto as pessoas cantam e dançam
bêbadas ao som de um jovem bardo em um pequeno palco, com os cabelos curtos e pretos
com a pele um pouco morena, seus olhos amarelos brilhosos chamam bastante atenção,
ele canta e toca suas músicas animando seu público até se cansar, a taverna é grande, ela
tem um tipo de varanda interna que conta como seu segundo andar,
E quando o cansaço não só do jovem músico mas dos próprios bêbados começa a bater,
ele passa a prestar mais atenção nos seus arredores, e é possível avistar uma figura de
uma mulher sentada em uma mesa no segundo andar, aproveitando a música enquanto
bebe um grande copo de cerveja, mas que curiosamente está sendo evitada por todos na
taverna.

Quando a hora da pausa chega e outros músicos tomam o lugar do jovem, com certeza
não tão bons quanto, ele guarda o violão de volta na caixa, e decide subir ao encontro da
figura curiosa. O jovem sobe na varanda interna, quando está chegando perto da mesa ele
finalmente discerne melhor a aparência da mulher, um rosto jovem de pele clara com sardas
e cabelos longos e castanhos. Ele percebe que ela estava olhando pra ele desde que
chegou no segundo andar com seus olhos castanhos claros penetrantes, o jovem continua
olhando pra ela curioso com um sorriso amistoso no rosto enquanto puxa a cadeira e se
senta com os braços em cima da mesa juntando as mãos, a moça veste uma camisa de
manga longa branca, com um tipo de vestimenta de couro nos ombros que cobrem até o
cotovelo também, é um tipo de proteção pra usar por baixo de armaduras, e um brinco de
rubi que parece bem valioso.
Ela dá um gole no copo de cerveja, abre um sorriso acolhedor e toma a iniciativa da
conversa:

“Espero que vosso senhorio não tenha vindo até minha mesa somente para tentar
truques românticos fúteis.”

Ela tem uma voz suave, mas fala em um tom meio arrogante logo após ele se sentar.

"Hahaha, sinto muito então que minha primeira impressão tenha sido ruim. Eu
apenas fiquei curioso do porque, em uma taverna lotada e animada, a senhorita está
sozinha." O tom sarcástico do jovem é tão perceptível quanto a escuridão é para o cego…
mas a moça não parece se incomodar, muito pelo contrário, ela solta uma risada.
"Existe uma diversidade bem grande de pessoas no Vinheiro, só o fato de eu estar
sentada sozinha numa mesa foi o suficiente para lhe intrigar?"

"Bem, o seu bom gosto em relação a música também é um fator importante! Mas
sério, uma bela moça sentada sozinha numa mesa, apesar de tentar parecer simples
suas roupas são de um tecido bem refinado e limpo considerando o local onde a
gente tá, quem conhece vê de longe. O que uma nobreza estaria fazendo numa
taverna afinal de contas, eu pensei isso até ver você mais de perto, o brinco de rubi
exuberante escondido atrás do cabelo, o modo como você fala e também… como
tenta esconder que tá bebendo vinho num copo de cerveja?" A cara de confuso dele
enquanto diz o último detalhe é de fato fascinante.

A cara de surpresa da mulher também é impagável, que é quebrada rapidamente por uma
expressão envergonhada desviando o olhar, enquanto ela dá um gole mais fundo no copo
com vinho.

"Não vejo como o último ponto se relaciona com o resto!" Ela diz tentando segurar a
risada.

"Muito interessante, eu me chamo Katarina, a quem eu estendo minhas saudações?"

"Eu sou Cairo, muito prazer Srta. Katarina."

"O senhor é de fato perspicaz, para quem parece ter chegado aqui recentemente.
Certamente tens tamanha aptidão na música, você demonstra bastante atenção aos
detalhes"
Ela vira o copo pensando ter mais vinho, mas acaba se decepcionando. Olhando com um
sorriso determinado ao jovem Cairo enquanto se inclina na mesa.

"Que tal um desafio Sr. Cairo? O perdedor paga a bebida pela noite, o que acha?"

"Qualé esse seu brinco deve valer o bar inteiro e você quer que eu pague?! Além do
mais, gente assim sempre escolhe um desafio que estão certos da vitória."
"Digamos que a sua perspicácia esteja correta e eu seja da nobreza, acontece que
minha situação financeira é um tanto questionável. Então que tal um desafio para
decidir o desafio?!"

"Você é insistente hein muié? Tá ok, vamos escolher o desafio de cada um primeiro,
eu escolho tocar algo no violão"

"E você ainda ousa falar de mim!!"

"É lógico!! Eu duvido que minha frase tenha feito você mudar de ideia! E eu nunca disse
que eu era diferente"

O povo ao redor olha com estranheza no que antes era uma conversa casual entre
estranhos, virar uma discussão bem rápido.

"Eu!... escolho dança…"

Cairo encara ela com um olhar de "Eu sabia!" Enquanto a jovem Katarina abaixa o volume
da voz durante sua escolha.

"Você nunca vai saber se foi o que disse que não me fez mudar de ideia mesmo."

"Claro, com certeza."

"E então como vamos decidir?"

"Que tal jokenpo?"

"Joki… o que?"

"Isso é sério?"

"Eu não entendo, eu deveria saber o que é?"

"Sim?"

"Pois, eu não sei."

Cairo coloca a mão no rosto e dá um longo suspiro, e então começa a explicar como
funciona o jokenpo enquanto pensa: Porque eu to fazendo isso? De fato, porque?

"Tendeu?"

"Talvez… vamos tentar."

Os dois então se preparam, e lançam suas jogadas…

"HAHAHA Ganhei!! Faremos do meu jeito então."


"Pera, já tava valendo?! AAAAAA PORRA COMO PORQUE EU NÃO PENSEI EM UM
PLANO B?!"

"Maldita seja sua sorte de principiante…"

"Maldito seja seu azar de veterano."

Katarina sorri com orgulho de ter ganhado pela primeira vez no jokenpô como se fosse algo
grandioso. O jovem Cairo chega a perceber também que o tom de voz arrogante da moça
tende a continuar, não importa o que ela esteja falando, seja um elogio, ou alguma reação
embaraçosa, o que dificulta um pouco o real entendimento das coisas que ela diz… mas
mesmo confuso ele se dirige a saída junto com ela.

"Venha vamos a um lugar mais apropriado, e espaçoso também, as colinas ao lado


da cidade são ótimas e tem uma bela visão da cidade também"

“Dá tempo de desistir?”

“O que há? Você tem alguma fobia de dança?” Ela diz dando uma risadinha.

Um tempo se passa enquanto eles saem por um dos portões da cidade, Katarina pede para
Cairo esperar um pouco enquanto ela conversa e assina alguma coisa com os guardas.
Porque só ela precisa fazer isso? Os outros entram e saem tranquilamente. Talvez
seja algo mais específico? Os guardas parecem estar acostumados com ela vindo
aqui, talvez estivessem esperando ela pra algo? Porque eu to tão preocupado? Ela é
suspeita com certeza, mas é pra tanto? Diversas perguntas surgiam cada vez mais na
mente do jovem, mas mesmo assim ele não parecia querer perguntar nada disso, e então
ela retorna e confirma que eles já podem ir. Os dois atravessam uma mata, subindo um
morro e chegam no topo da colina finalmente.
A vista é de fato fabulosa, uma visão alta da cidade à noite e bem iluminada juntamente do
céu estrelado acima, é de tirar o fôlego.

“Então, como você foi o perdedor irá começar.”

“Você precisava mesmo quebrar o clima assim?”

“Quanto mais rápido começar, mais rápido terminará sua vergonha, não acha?”

De algum jeito, com as luzes da cidade batendo de outro ângulo no rosto dela e a brisa
suave do vento, talvez o fundo do céu estrelado, de várias formas, o cenário faz com que o
sorriso dela se torne mais aconchegante quanto mais Cairo parava para olhar, tornando o
clima bem mais agradável.

“Os perdedores primeiro então.”

Que é quebrado rapidamente…


Indignado mas sem pestanejar muito, ele dança porcamente com uma expressão vazia de
“porque?”, enquanto Katarina fica com a mão na boca tentando disfarçar a risada.

Vendo que a moça parece estar tentando se segurar, ele prefere só deixar a vida levar,
fazendo a dança cada vez mais idiota pra pelo menos tirar algumas gargalhadas dela.
O que funciona, ao terminar do espetáculo, de joelhos e braços abertos com o pescoço bem
inclinado para trás, tanto o jovem quanto a moça não se seguram e começam a gargalhar
como se fossem crianças brincando.
Após a sessão de risos incontroláveis, Cairo se levanta e senta em cima da caixa do violão
numa árvore próxima para descansar.

"Sua vez então Srta. Nobreza, não espero que você possa superar meus passos
encantadores, mas gostaria de ver o porquê de ter escolhido este desafio infame." Ele
diz com um tom pomposo e o peito estufado.

"De fato sua demonstração foi insuperável, mas rogo que aprecie minha humilde
habilidade meu senhor!"

Ela respira fundo entrando em posição, e começa a dançar de forma bela e elegante, um
tipo de dança cerimonial que provavelmente só seria demonstrada em grandes eventos.
Elegante e agitada, Cairo apreciava cada movimento, era como se ele pudesse ouvir uma
melodia tocar enquanto ela dançava apesar da quietude da colina.
A cada passo e giro que Katarina dava em sua performance era como se um vento gélido
batesse de leve contra o jovem, pela primeira vez em anos, era como se a dor de seu braço
direito tivesse cessado enquanto ele se perdia em seus pensamentos…
Até que Katarina termina sua dança, e ofegante ela olha em sua direção.

“Então? Como foi?”

Cairo é tirado desse transe enquanto uma dor aguda de queimadura volta a tomar conta de
seu braço direito, e instintivamente ele dá um grunhido de dor, como se não estivesse mais
acostumado a dor, mas ele tenta disfarçar enquanto fala com ela.

“Claro, foi impressionante! Eu não imaginava que a sua técnica fosse tão
requintada.”

“Você está bem? Está sentindo dor?” Katarina tenta se aproximar dele um pouco
preocupada.

“Tá tudo bem! Eu to acostumado… acontece de vez em quando” Ele diz sorrindo
tentando disfarçar.
“Esqueça isso, tudo bem? Eu fiquei bem impressionado com você, o que acha da
gente tentar mais alguma coisa antes de voltar?” Cairo levanta de cima da caixa e puxa
o violão.
“Tem energia sobrando nas pernas?”
Ela percebe que ele não quer entrar no assunto, observa ainda um pouco preocupada e
acena positivamente, concordando com sua pergunta anterior.
“Então, o que tem em mente agora?”

“Eu posso improvisar alguns acordes, e você improvisar alguns passos, e aí tá


afim?”

“Bem… parece interessante, porque não?”

O jovem puxa então o violão, aperta a mão direita com força e então abre, tentando relaxar
um pouco e então começa a tocar um flamenco cativante, Katarina lentamente começa a
dançar, sendo pega pelo ritmo da música, tendo uma sensação similar a de Cairo, se
perdendo em pensamentos a cada acorde tocado. Os dois aproveitam o momento de paz
por um tempo, trocando olhares e risadas entre si, esquecendo seus problemas individuais
como se fossem amigos por bastante tempo. O pequeno desafio que iniciou tudo isso,
acabou se tornando nada mais que uma brincadeira para os dois e logo foi esquecido.

A madrugada cai sem perceber, Cairo e Katarina continuaram dançando, tocando música e
conversando até cansarem, até que decidem encerrar o dia, e voltar para suas residências.
No caminho, o jovem vê ao longe ela entrando pelo mesmo portão da cidade, enquanto ele
dá a volta nos muros em busca da sua carroça, e nesse portão a moça parece estar
levando uma bronca dos guardas enquanto entrega o documento de volta, o guarda grita e
rasga o papel com tudo, só Deus sabe o que pode estar saindo da boca daquele homem.

Cairo segue seu caminho e chega em sua carroça que estava meio camuflada no matagal,
seu fiel e único companheiro foi deixado em um estábulo dentro da cidade, ele arruma seu
acampamento e deita no seu colchonete, olhando as estrelas ele põe o braço sobre a testa,
pensando sobre como tudo aconteceu rápido demais em um único dia.

“Que porra foi essa…”

Vários dias se passam, Cairo vai e vem tocando na taberna e nas ruas, tentando juntar
uma boa quantia para retomar sua viagem, ocasionalmente encontrando e conversando
com Katarina, os dois já eram amigos e se ajudavam sempre que podiam.
As trocas de olhares estranhas em silêncio se tornavam cada vez mais frequentes, nenhum
deles entendia muito desse sentimento, principalmente o jovem Cairo, alguém que tem
vivido sob a faceta do pai, que quando caiu percebeu que não tinha uma própria, alguém
que não quer morrer mas não sabe porque está vivendo, todas as sensações, até as mais
simples, parecem interessantes para ele que não usufruiu desses sentimentos mais cedo.
Mas todo mundo tem segredos, alguns mais obscuros que outros, e o poder que esses
segredos têm sobre você, até onde eles afetam quem você é? Até onde eles afetam a
relação que você tem com aqueles quais você tem apreço?
Ato II: Segredos

A visão dos olhos de alguém, veem flechas em chamas voando pelos céus, caindo sobre os
telhados de madeira e palha das casas de um vilarejo, junto de outros guerreiros a cavalo
passam matando as pessoas que tentam fugir, um dos homens mais velhos montado em
um chocobo armadurado grita

"O que tá rolando? Porque eles não revidam?!!" A voz faz um eco ensurdecedor.

As chamas se alimentam das casas e a luz alaranjada ilumina a noite, a pessoa desce do
cavalo indo em direção a mais um aldeão no chão implorando por sua vida, ele se aproxima
cada vez mais e perfura o aldeão com uma lança, e então o fogo cessa, e a escuridão toma
a vila…

“Assassino… Assassino… Assassino…”

As vozes ecoam cada vez mais alto.

“ASSASSINO…”

“ASSASSINO!!”

“ASSASSINO!!”

“ASSASSINO!!”

Um brilho começa a aparecer, as chamas se reacenderam no horizonte enquanto 3 figuras


armaduradas apareciam na colina, armaduras essas de prata que reluzem com a luz, um
deles carrega um grande martelo, o outro carrega duas espadas curtas, e o último parece
desarmado e tem grandes asas de fogo e não tem capacete, mas tem um capuz que faz
sombras em seu rosto por conta do fogo vindo de trás.
Tudo que é visto com a escuridão é o brilho nos olhos das armaduras e as chamas na mão
do encapuzado. As asas se abrem e num piscar de olhos ele voa em direção a pessoa, os
braços se levantam instintivamente como forma de proteção e o encapuzado agarra o braço
direito enquanto a voz do homem mais velho ecoa mais uma vez

"CAIRO!!!!"

O jovem acorda num susto, com um livro na cara e as pernas em cima da mesa, quase
caindo da cadeira, logo percebendo que havia adormecido lendo um livro numa biblioteca,
com o coração acelerado, os ouvidos zunindo e as vozes ainda o chamando de assassino…
Até serem quebradas por outra voz
“Cairo?”

Ele se recompõe rapidamente e olha pra cima vendo Katarina com um vestido claro com
alguns bordados e um sorriso acolhedor.

“Está tudo bem com você? Parece que saiu de uma maratona, até mesmo o livro
ficou encharcado. Não pensei que você era do tipo leitor.” Ela dá uma risada, enquanto
puxa de leve o livro que estava com ele.

“Eu… eu to legal, é só… foi só um pesadelo. Dá pra achar inspiração pra músicas em
todo lugar, não é?” Ele começa a apertar e esfregar um pouco o braço direito, como se
tivesse uma coceira incomodando-o.

“Inspiração em ruínas antigas?” Katarina começa a passar as páginas, enquanto Cairo


faz uma cara de confuso, ele puxa o livro de novo e começa a ler de novo.

“É, as músicas eram o objetivo principal, mas os conteúdo desse aqui era tão chato
que eu nem lembrei que tava lendo. Mas eai, o que você veio procurar aqui?”

“Eu vim devolver um livro, e depois ir atrás de você, eu… estou com o dia livre e
queria saber se você não ia querer… dar uma volta?”

“Olha só! Deu um tempo na sua tentativa de entrar pra Ordem de Cavaleiros?”

Katarina fica um pouco surpresa e as bochechas avermelharam um pouco


“Como você ficou sabendo disso?!”

“Não é como se você estivesse escondendo, e convenhamos, Dona Marlina é uma


fofoqueira danada.”

Ela bota a mão na testa por um momento


“Ah… claro, acontece que eu consegui, estou tentando entrar a tanto tempo, acho
que eles perderam a paciência comigo, e hoje eu queria comemorar um pouco… com
você que é o único que eu posso chamar de amigo.”

“E quem sou eu pra negar um convite desses! Vamo nessa, bem que eu queria te
mostrar uma música nova também. E sem tristeza hein! Você vai ter 2 amigos quando
conhecer o ChoCho.”

Cairo começa a se levantar e pegar a caixa do violão que estava largada, enquanto a moça
esboça um sorriso feliz e animada.
“Música nova?” Ela se levanta e os dois saem da biblioteca.
“Tem um festival acontecendo, que tal darmos uma volta?”

A cidade está agitada, com diversas pessoas aproveitando, acima de tudo parece ser um
festival de cerveja, mas tem diversas barracas de comida também. A dupla sai pelas ruas
cheias, comendo de tudo. Katarina até começa a explicar um pouco da história local da
cidade, como as receitas foram criadas, um pouco sobre as estruturas. De fato uma nobre
diligente na cultura. O sol começa a se pôr, a luz alaranjada do sol e dos postes de luz deixa
o ambiente mais acolhedor, e no centro desse festival, em uma área mais aberta, tem uma
banda tocando uma música mais lenta, Cairo para pra aproveitar um pouco a música
enquanto Katarina havia saído, ele senta na caixa do violão em um canto, balançando a
cabeça com o ritmo algumas vezes, comentando erros de tempo, acordes mal tocados e
estruturas musicais que ele faria diferente. Katarina volta, olha na direção da banda, depois
na direção do jovem, ela se aproxima dele, pega em sua mão e o puxa pro centro
agarrando ele pela cintura, pego de surpresa Cairo não consegue reagir e só aceita a
iniciativa da moça, e começa a dançar junto com ela.

“Não sabia que você era do tipo romântica.”

“Tem muitas coisas que não sabe sobre mim, assim como tem muitas coisas que não
sei sobre você também.”

“Ah! Sobre isso eu sei tudo, se quiser uma aula de história a gente pode marcar.”

“Que tal marcar para agora? É um bom momento, não acha? Calmo e tranquilo,
claro, desde que isso não te distraia da dança."

Ela faz um giro meio brusco com ele, claramente ela está comandando a dança.

“Okay, okay, a senhorita que manda. Se tá tão curiosa pode começar.”

“Já que é assim… o que houve com o seu braço?”

Cairo gela por um segundo, e aperta um pouco a mão dela que está segurando a mão
direita.

“Desde que você chegou na cidade eu vi você com o braço enfaixado, eu pensava
que você estava ferido, mas faz um bom tempo que está com elas e você parece
mexer o braço normalmente...”

“É… foi um acidente.”

O desconforto é visível no olhar quando ela faz a pergunta, mas ele não aprofunda mais
sobre o assunto. Ela percebe que ele não quer responder e deixa pra lá.
“E você, porque todo mundo te odeia?”

“Você é bem direto, não é? Bem... Eu sou de uma família antiga com uma história
longa e sombria, e muitas pessoas na Cidade dos Ventos ainda guardam rancores
contra meus parentes. Então eu não sou exatamente a pessoa mais popular da
cidade.”

Ela é honesta com ele, mas ainda escolhe fazer suas palavras parecerem tão gentis quanto
possível enquanto fala sobre um tópico controverso, e ela olha para ele um pouco,
esperando para ver como ele responderá…

“E porque você não foi embora ainda?”

“...Eu não posso, é complicado… essa cidade é quase como uma prisão, uma que eu
não posso fugir… principalmente agora… e mesmo se eu pudesse sair, para onde eu
iria? Não tem nada lá fora pra mim.”

“E você sabe o que tem lá fora?”

“...Não.”

“Eu vim ‘lá de fora’ então pensando assim, ainda acha que não tem nada lá pra
você?” O jovem esboça um sorriso ousado.

As bochechas dela avermelham um pouco e logo depois solta uma risadinha, enquanto
observa Cairo com um sorriso estampado mas olhos um pouco tristes.

“Você não gosta de ser sutil, não é?”

Katarina fecha os olhos e encosta a testa na dele, Cairo fecha os olhos também, e os dois
continuam dançando lentamente por mais alguns minutos, minutos esses que pareciam
durar umas boas horas.
A noite começa a cair enquanto os dois parecem em paz dançando, mas o jovem com o
tempo demonstrava um incômodo em sua expressão, como se estivesse se segurando para
não fazer alguma coisa. Seus lábios se abrem prestes a dizer alguma coisa, mas nada sai,
e então ele só desiste e se mantém calado.

A paz desse momento é tanta, que nenhum deles sequer se esforça em perceber, um
homem ao longe, vestido de forma elegante e acompanhado por 2 guardas, observando o
casal, ele então se afasta e vai embora. Uma fonte de problemas prestes a transbordar para
aqueles que buscam a tranquilidade em suas vidas…

“Agora que eu lembrei, você não disse que tinha uma música nova que queria me
mostrar?”
“Sim, verdade! Eu preferiria tocar naquela colina onde a gente foi da outra vez, mas
acho que a essa hora, você não consegue permissão pra sair né?”

“Com certeza não… mas acho que conheço um lugar onde podemos ir, tem um farol
abandonado perto da costa, é um bom lugar.”

“Perfeito, então vamos.”

O casal então se dirige ao farol, caminhando pelas ruas noturnas e silenciosas.

“É meio estranho dizer isso, mas na vez que vi você dançar, eu sentia a melodia
tocando na minha cabeça eu só não conseguia expressar ela em palavras, então eu
joguei a letra fora e me mantive focado só no violão.”

“Eu acho interessante a forma como você trabalha com a música. Porque escolheu
ela para guiar sua vida?”

“... Cantar era uma forma de me distrair das coisas ruins quando eu era criança… e
também pra abafar o som dos gritos da minha mãe… meu pai chegava em casa igual
um touro desgovernado, se não conseguisse o que queria na hora, era a gente que
sofria as consequências. Depois que ela e minha irmã morreram, eu só tinha a música
restando comigo."

“Eu…”

“Sente muito? Isso já é passado, fica tranquila. Eu sou uma pessoa rancorosa, mas
não tenho coragem de desperdiçar minha vida caçando aquele velho cachaceiro, mas
se eu tiver uma única chance… eu daria quase tudo pra ver ele sofrer.”

Katarina prefere se manter em silêncio enquanto escuta Cairo falar sobre sua vida, ela não
sabe muito bem como responder a isso, e é a primeira vez que ele fala tanto sobre si
mesmo desde que eles se conheceram.

Eles chegam no farol ao som das ondas noturnas que batem contra a costa e a luz da lua
que ilumina o caminho, o lugar é vazio e tranquilo. O topo do farol parece quebrado e aberto
e as escadas rangem um pouco enquanto os dois sobem, não é como se o farol fosse tão
velho assim.

“Essa cidade sofreu muitos ataques de piratas no passado, e o topo do farol foi
atingido por uma bala de canhão que acabou destruindo a lâmpada que tinha lá.”

“Tenso…”

“Okay, okay, já percebi seu desinteresse.”

A brisa leve que bate no topo, é de dar leves arrepios, Cairo respira fundo e solta o ar, puxa
o violão, e senta na caixa.
“Não é algo grandioso nem nada, mas é de coração.”

Katarina faz uma postura mais nobre, enquanto se curva levemente para ele.

“Já que você fez pensando naquela performance, se importa se eu o acompanhar


dessa vez também meu senhor?”

E Cairo responde rindo.

“Se o chão do farol não quebrar, fique à vontade."

“Sua falta de educação não deixa de me impressionar, sabia?"

O jovem então começa a tocar uma curta melodia, animada e energética, mas em certos
pontos transmitindo uma melancolia inexplicável, mas trazendo de volta o ânimo como se
durante a música algo fosse se reacendendo. E sem pestanejar, a nobre mulher demonstra
sua habilidade… Da mesma forma que da primeira vez, Cairo parece sentir uma brisa
gélida passando pelo corpo enquanto ela dança, algo que ele consegue diferenciar dos
ventos naturais que batem no topo do farol. Até que a melodia finalmente termina, e como
uma criança animada com um presente novo, Katarina se apoia nos ombros de Cairo,
ofegante e com um grande sorriso no rosto

“O que foi isso?! Quando disse que tinha feito para mim, não achei que fosse me
sentir assim! É como se eu soubesse a música inteira enquanto dançava, cada
acorde parecia ressoar no meu corpo da forma certa, sempre se alinhando com os
meus passos.”

Cairo parecia feliz, um sorriso genuíno de felicidade enquanto ela continua falando, que
aos poucos foi se quebrando em algo triste e incomodado, enquanto agarra com força o
braço direito, que parecia formigar intensamente…
Como se esconde isso?
Como se abandona isso?
Assassino…
O passado não era só passado?
Monstro!
Assassino…
Então porque eu não consigo abandonar ele?
Porque as vozes continuam me atormentando?
Monstro…
A culpa não foi minha… eu continuo repetindo isso pra mim mesmo,
mas essa é realmente a verdade?
ASSASSINO!!
Por que eu me sinto tão mal por esconder a verdade dela?
Por que eu–

“Cairo? O que houve? Você está pálido, está se sentindo mal?”


Ela está ajoelhada na sua frente com as mãos no rosto dele, e o jovem não consegue mais
esconder, um rosto cansado, atormentado e caçado pelas próprias memórias.
“Eu sinto muito Katarina, o tempo que eu tenho tido com você tem sido muito
confuso, eu adoro a sua companhia, como eu nunca… como eu nunca apreciei com
os outros antes. Eu- Eu tinha medo… de contar isso aos outros, mas eu me sinto mal
por tentar esconder isso de você…”

Cairo começa a tirar as bandagens do braço direito, revelando um braço carbonizado e


meio rachado, Katarina não tira as mãos do rosto dele preocupada.

"Eu tinha 17, fazia parte de um grupo de mercenários, eu entrei logo depois que
minha mãe e minha irmã morreram em uma tempestade que devastou nossa aldeia.
Nosso chefe disse que havia um novo trabalho na mesa. Fomos mandados pra matar
pessoas em um vilarejo remoto, o contrato dizia que eram loucos que faziam
sacrifícios e coisas assim... E assim fizemos, mas as pessoas não revidaram…
estávamos a cavalo e as casas já estavam queimando, eu era uma casca que só
seguia ordens, eu não questionava, eu obedecia. Quando nosso chefe deixou a
adrenalina da invasão passar e percebeu que tinha algo errado, era tarde demais, a
gente conseguia ver figuras surgindo da colina um exército de um reino próximo
sendo liderados por grandes figuras, os grandes 'heróis' que estavam chegando, um
deles era o nosso contratante. Ele nos enganou!! Ele nos usou pra aumentar sua
fama e respeito, usaram da nossa falta de informação para parecermos os vilões!”

Cairo começa a tremer e a ficar ofegante, seus olhos não demonstraram nada além de
puro medo. Katarina tira as mãos do rosto dele e continua ajoelhada escutando.

“Tudo que eu me lembro depois disso, foi do encapuzado voando pra cima de mim e
agarrando meu braço, depois eu apaguei. Quando acordei, eu não sei como mas o
chefe tinha me salvado, ele estava quase morto mas cavalgou longe comigo, ele
disse que eu era jovem demais pra desperdiçar minha vida daquele jeito, queria que
eu tivesse uma chance de escolher o que fazer com a minha vida. Quando ele se foi
eu não tive nem tempo de enterrá-lo, eu só continuei cavalgando eu terminei sozinho
de novo. Eu sempre disse pra mim mesmo que não foi minha culpa, eles me usaram
afinal de contas, mas dizer isso o tempo todo não muda os fatos, aqueles inocentes,
eu os matei sem motivo algum.”
Ele põe as mãos na cabeça.

“As vozes ainda me atormentam… elas continuam falando…


Porra, por que eu falei tudo isso… Eu sinto muito, eu vou embora.”

Quando ele tenta sair, Katarina se levanta bloqueando o caminho, ela tem estado
estranhamente quieta durante todo esse tempo.
Cairo mantém a cabeça baixa sem coragem de olhar ela nos olhos. E pela primeira vez em
muito tempo a jovem consegue falar sem o tom arrogante natural.
“Bem, você não está mais sozinho.”

Ele olha pra cima lentamente, confuso e com medo. Em vez de um olhar de desgosto que
ele esperava, Katarina esboça uma expressão triste. Ela coloca as mãos nos ombros dele e
vai subindo, gentilmente segurando o rosto dele por baixo, ela entende que ele carrega
esse fardo por todo esse tempo não sendo capaz de buscar conforto em outras pessoas…

“Os que te julgam não pararam para te conhecer e te entender, eu entendo o porquê
do seu medo, não deve ter sido fácil carregar isso para si próprio durante tanto
tempo. Você não é uma pessoa má... Você é uma vítima... E precisa de outra chance
na vida... não somos santos, ninguém é, nós fazemos de tudo quando precisamos
proteger alguma coisa, seja algo ou alguém... eu perdoo você.
Katarina continua segurando seu rosto enquanto faz um carinho no cabelo dele com a
outra.

Cairo, com os olhos já marejados, o limite dele já chegou a muito tempo… as lágrimas
começam a transbordar como um rio, sem parar. O jovem encosta os dedos no rosto sem
saber bem como reagir ao choro, ele nunca se permitiu chorar.

“Eu… que? Eu não consigo… Eu não consigo parar de chorar, porra…” Era
impossivel terminar uma frase sem soluçar e chorar sem parar. “Katarina, eu não sei…
porque eu…”

Ela o abraça colocando seu rosto no ombro dela, deixando que ele chore.
“Está tudo bem, Cairo, você tem que parar de negar a dor e a tristeza. Tudo bem,
tudo bem, você está seguro comigo, eu nunca vou virar as costas pra você…”

O jovem continua chorando sem pensar sobre mais nada, apenas deixando tudo pra fora…
e quando ele menos percebe o cansaço, o peso da culpa, a dor de seu braço, tudo sumiu.
Até seus olhos se fecharem e ele adormecer no abraço de Katarina.

Ato III: Andarilho

Katarina se assusta com ele ficando adormecido nos braços dela, mas quando ela percebe
que o jovem está bem, ela o coloca gentilmente no chão, guarda seu violão e coloca a caixa
nas costas, e carrega Cairo nos braços descendo o farol.
A jovem caminha de volta à cidade, mas é interrompida no meio do caminho por um
homem, vestido de forma elegante com um terno escuro, com cabelos médios e pretos com
uma barba no queixo, ele vem acompanhado de dois guardas pessoais.
“Que fofo não? Nem parece fazer jus à sua fama dormindo desse jeito. Acho que
somos todos humanos afinal de contas não é?”

Katarina olha com desgosto ao homem, já reconhecendo a figura, e dá um suspiro.

“Acho que nosso último encontro não foi o suficiente para demonstrar meu
desinteresse na sua proposta?”

“Acho que seu desinteresse não importa mais, Madame.” O homem puxa de seu paletó
um papel, e o mostra a Katarina. “Seu pai de fato é um homem simpático, demonstrou
um interesse mútuo ao meu conhecimento tecnológico, disse que seria uma honra
me ter como um membro da família. Você entende não é? Você não tem escolha, não
tem para onde fugir, e se tentar, agora nós temos um refém, a senhorita não arriscaria
a vida desse homem para fugir desse matrimônio, arriscaria?”

Katarina olha assustada ao papel, se afastando dele lentamente, quando ele menciona o
refém.

“Hahahaha, não precisa se preocupar, você tem até amanhã para os documentos
oficiais saírem, aproveite essa última chance com o seu pequeno carniceiro. Ah! É
claro, não precisa se apresentar amanhã a ordem dos cavaleiros, seu pai já rejeitou a
entrada, a Madame não deveria se incomodar com esses trabalhos perigosos.”

O homem então começa a ir embora, enquanto a jovem desolada continua caminhando


pelas ruas frias da cidade…

O dia amanhece, Cairo começa a recobrar a consciência, com a mão no rosto ele começa
a se levantar lentamente, percebendo que estava deitado em uma cama, em um quarto
grande com uma porta de vidro levando a uma varando do lado de fora, e uma porta de
saída.

“Que dor de cabeça…”

O quarto é bem cuidado e com móveis caros, do lado de fora na varanda, ele vê uma figura
sentada numa mesinha, ela nota que ele acordou e se levanta caminhando em sua direção,
Katarina entra no quarto, ela está vestindo uma camisola branca de seda. Ela se senta na
cama ao lado dele.

“Então como você se sente? Você me assustou desmaiando daquele jeito.”

“Eu tô legal, só uma dorzinha de cabeça. Mas aí você não tinha trabalho hoje?”

“... Por conta do festival, eles não decidiram meu posto ainda, então não sei quando
vou começar.”
“É por causa da sua situação de novo né? Que complicação do caralho.”

“Eu vou fazer café da manhã, está com fome?”

“Mais ou menos, as comidas do festival não desceram bem.”


Cairo fala sendo dramático sobre a dor.

Katarina começa a dar uma risadinha, ela segura o rosto dele e lhe dá um beijo.

“Eu vou preparar algo leve, não se preocupe. Enquanto isso, vai tomar um banho
você tá fedendo."

Ela começa a sair do quarto, Cairo levanta da cama e fica sentado alguns segundos, ele
começa a rir para si mesmo durante um tempo e vai tomar banho. Ele começa a sentir o
cheiro do café da manhã, e terminando o banho ele desce, a casa é grande e bem elegante,
claro não é uma mansão mas com certeza não é uma casa feita para uma pessoa. Katarina
está terminando de servir a mesa enquanto ele chega se sentando e começando a comer.

"Então, sobre ontem… obrigado, eu precisava daquilo.”

“... Não se preocupe com isso, fico feliz que você tenha decidido me contar tudo
aquilo, não pareceu fácil, estou orgulhosa de você :)”

“:D”

Depois dos dois terem tomado café da manhã, Katarina parece um pouco pensativa sobre
a mesa, e começa a falar.

“Cairo… eu percebi que nós combinamos bastante musicalmente não acha?”

“Hm? Sim eu acho isso também, já toquei para outros dançarinos durante as
viagens, mas nunca me senti assim antes.”

“Você disse que deve haver algo lá fora para mim não é? Eu sempre… quis ter mais
gente pra conversar, pessoas que eu pudesse confiar. O que acha da gente procurar
mais pessoas assim? Que combinem com nós dois.”

“Mais gente? Olha eu disse que tinha coisa lá fora, mas como exatamente a gente vai
sair procurando gente que combine com a gente?”

“... Você tem bom olho quanto as pessoas, tudo que fez você falar comigo foi a sua
curiosidade no bar, existe muita gente lá fora, isso pode acontecer de novo. Ter uma
chance de recomeçar, não foi isso que ele te disse? Viver a vida sem poder
compartilhá-la com quem se preza é bem triste…”

“Bem eu já tenho você pra compartilhar a minha vida… Mas já que você quer
conhecer mais pessoas, a gente pode tentar.”
Cairo esboça um sorriso gentil depois de sua frase e Katarina retribui… Eles se trocam com
roupas mais casuais e ficam em casa, conversando sobre o mundo exterior por algum
tempo. Mas para aqueles que buscam a paz e a tranquilidade, a tormenta não deixa de
destruir suas paredes.

A porta da frente é arrombada com tudo, revelando figuras que entram na casa,
guarda-costas armadurados e um rosto desprezível de um homem, fingindo uma expressão
chateada.

“Mas que pena Madame, parece que o seu tempo acabou…”

“Mas que mer–”

“Você disse que eu tinha até o dia seguinte!!”


Katarina grita, confusa com essa situação.

“Como assim Madame? Já é amanhã… Vamos prepare-se, os documentos do nosso


casamento precisam ser assinados.”

Cairo parece perder a paciência instantaneamente quando houve ele mencionar


casamento, e cinzas começam a rodear o braço formando uma grande lança negra com
detalhes alaranjados em brasa e ele tenta atacar o homem, mas o grande homem
armadurado defende o ataque com um escudo e empurra com tudo o jovem contra as
paredes da casa que são despedaçadas até ele ser lançado para o lado de fora.

“NÃO!! JÁ CHEGA!!!”

O homem ri alto em desprezo ao esforço de Cairo.

“O carniceiro parece realmente ter um pavio curto!! Hahahahaha!!!!


Vamos segurem ele, acho que ele merece uma explicação no mínimo."

Guardas menores pegam Cairo machucado depois da porrada. Seguram ele de joelhos e
com os braços esticados, prontos para quebrá-los caso ele tente alguma coisa. A casa está
cercada por mais guardas.

“Então esse é o Carniceiro de Blaviken? Que decepção, já que você foi o único que
saiu vivo de lá eu esperava mais… Bem jovenzinho, resumidamente a situação que a
Madame se meteu aqui, não favorece ninguém além de mim e da família dela, o pai
dela está usando uma prisioneira como moeda de troca para uma fortuna
inimaginável garoto, mas mesmo só com a permissão e autorização do pai não é
como se ela estivesse totalmente sob nosso controle, ela poderia muito bem fugir ou
fazer como você e tentar me matar. E é aí que você entrou em um ótimo momento,
nós tínhamos uma carta contra ela!! Incrível não é? Como você serviu de declínio a
única pessoa que se importa com você?”

Cairo em choque tentando se remexer nas mãos dos guardas, o braço direito parece brilhar
nas rachaduras com a brasa queimando de ódio, ele olha na direção de Katarina que está
observando tudo com uma expressão de medo olhando pra baixo.

“E sendo bem sincero Carniceiro, eu não me importo com você, principalmente


agora que sei que não é uma ameaça hahahahaha! Mas assim como você deve ter a
sua história, ela tem a dela também… uma que o pai dela não gosta muito.”

“Por favor, já chega!! Eu assino o que você quiser, só vamos esquecer isso, deixa ele
ir embora por favor…”
Katarina tenta interrompê-lo, mas o homem nem sequer olha para ela, e se vira de costas a
Cairo e começa a caminhar para longe.

“Ele não se importa com ela… ele tem os próprios rancores…”

Ele pára, olha para trás por cima do ombro com desprezo, e mais uma vez Cairo sentiu…
vindo da direção daquele homem, que não tinha um poder enorme, que possivelmente era
frágil como um palito comparado aos guardas ao redor… Medo… um medo indescritível de
morrer, por alguém como ele, que compra o poder…

“Matem ele…”

“NÃO!!!!”

Katarina solta um grito enquanto os homens iam finalizar o jovem, os olhos dela brilham em
uma cor meio branca azulada, enquanto uma grande nevasca começa a tomar conta do
local e duas montantes de gelo que perfuram o peitoral dos dois guarda-costas o vento
sopra empurrando o homem contra a parede, que continua rindo como louco.

“Olha só!! Os dois realmente foram feitos um para o outro!!!! HAHAHAHAHAHAHA!!!


Foi assim que matou seus irmãos também?!!?”

O jovem quase é jogado pela ventania que para por um momento ao redor dele, quando
ele abre os olhos de novo, Katarina está na sua frente, com um olhar triste ela chega perto
do rosto dele enquanto o segura pelos ombros.

“Você precisa fugir, agora!!”

“Vamos então!!”

“Você sabe que eu não posso fazer isso…”


“Não começa!! A gente lida com eles depois, juntos!!! Você não disse que queria
conhecer gente nova?! A gente acha eles, e lidamos isso com alguma ajuda!!”

“Eu não vou arriscar a sua vida com isso… se eu ficar, eles te deixam em paz, pelo
menos por algum tempo.” Ela começa derramar lágrimas enquanto se esforça pra
esboçar um último sorriso e entrega o brinco de rubi dela. “Obrigada… Eu nunca vou virar
minhas costas pra você, eu culparia o mundo inteiro só pra te salvar, eu te desejo
tudo de bom na vida.”

“Por favor, não faça isso, não faz isso, não faz isso, eu imploro por favor Katarina.”

A ventania empurra Cairo para fora do olho da tempestade junto com suas coisas, o jovem
cai no chão sem entender nada e tenta se aproximar novamente da nevasca e vê os
guardas se aproximando dele. Instintivamente, ele começa a correr.

“FUJA ENTÃO CARNICEIRO, É SÓ O QUE VOCÊ TEM FEITO A VIDA INTEIRA, NÃO
É!!?! CONTINUE FUGINDO DE QUEM VOCÊ É!!!”

Os cidadãos olham confusos pra tempestade que surgiu no meio da cidade enquanto Cairo
corre empurrando tudo e todos no caminho, ele entra no estábulo com tudo e pega seu fiel
e único companheiro de volta… Correndo o jovem amarra o chocobo na carroça e dispara
para longe…

O tempo passa, a noite cai… a carroça continua seguindo a trilha, mas não parece seguir
um caminho específico. Cairo continua em choque olhando para o céu estrelado… ele pega
seu violão, cheio de ranhuras depois de ser jogado longe, enquanto a carroça anda sem
rumo, tira as faixas do braço direito.

“Olho bom pra conhecer gente né?”


E começa a tocar o violão.

~O amor irá resistir


Pôr tudo em seu lugar
Parece um bom conselho
Mas não há ninguém ao meu lado

E que o tempo purifica as feridas


De amor que não se veem
É o que alguém me disse
Mas eu não sei o que isso significa

Pois eu fiz de tudo


Para tentar te tornar meu
E acho que vou te amar
Por muito, muito tempo–

é a música lá do episódio 3 de The Last Of Us 😢


As lágrimas começam a cair, a voz ficando trêmula não consegue mais cantar, os dedos
não conseguem mais tocar os acordes, tudo que ele consegue fazer é chorar… enquanto a
vida continua levando-o pra longe…

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