Você está na página 1de 10

Sistema do perímetro irrigado de Canudos é feito por alagamento, método obsoleto que empobrece o solo

O perímetro irrigado Vaza Barris

Projeto criado com o represamento do rio de Canudos é obsoleto

Setenta por cento da água liberada pelo açude de Cocorobó para irrigar,
principalmente, as plantações de banana na jusante do rio se perde, saliniza e
empobrece o solo. A irrigação por alagamento é ultrapassada. Há muito tempo os
agricultores familiares defendem o sistema por aspersão, mas o governo diz que
não há dinheiro.

O projeto de irrigação, implantado entre 1971 e 1973 para fixar o sertanejo “em seu
histórico rincão”, tem 12 km de canais e 57,6 km de acéquias (canais artificiais
estreitos para águas correntes). Serpenteia os bananais, alagando-os, e também é
utilizado para produzir pequenas quantidades de tomate, feijão, coentro, quiabo,
couve, melão, manga e melancia, além de matar a sede de cerca de 300 cabeças de
gado criados ali. Antes, os humanos bebiam a mesma água, mas agora usam um
poço com tratamento adequado.
Assim que ultrapassa a parede da barragem, o canal vira uma piscina para moradores de Canudos

O canal que sai do açude ganhou uma função não esperada por seus criadores. Ele
se transformou numa piscina, onde os moradores de Canudos se divertem.

Chuveiros e um barzinho, que serve peixe frito e bode assado, são outros atrativos
do local que fica lotado aos finais de semana.

Quando o perímetro irrigado foi criado, técnicos do DNOCS dividiram a área em


cinco setores. Cadastraram os interessados e distribuíram lotes de cinco hectares,
em média, além de uma casa para cada contemplado. A quantidade de moradias
definiu o nome de algumas localidades. Uma delas é a 50 e a outra, 150.

Das áreas planejadas, quatro ficaram prontas (1, 2, 3 e 5). E as outras surgiram
clandestinamente (4, 6, 7 e 8, conhecida como Cranché). A zona central do
perímetro tem escola, igreja e posto de saúde. Uma unidade de pronto atendimento
mais moderna e uma quadra poliesportiva foram construídas, mas esperam a
inauguração.

Nem todos os pioneiros mantiveram o que ganharam. Terras e casas foram


vendidas para vizinhos ou pessoas de fora. Antônio Balbino, presidente da
Cooperativa dos Irrigantes do Vaza Barris disse que o governo federal nunca passou
títulos de terra para os agricultores que, na verdade, negociam a concessão de uso e
não a propriedade.

- Com isso, o que vale R$ 400 mil é repassado por R$ 75 mil-, revelou.
O sistema de irrigação inclui 12 km de canais e 57,6 km de acéquias. Na região, são produzidas 8 milhões de
bananas prata por mês

No início do projeto, a única estrutura para administrar o perímetro era a


cooperativa. Ela era responsável pela produção e comercialização das bananas, pela
manutenção das acéquias, das vias de chão batido e pela distribuição da água, que
corria pelas calhas 24 horas por dia, aumentando o desperdício.

Em 2005, com a criação da Associação do Distrito de Irrigação do Vaza Barris, ou


simplesmente Distrito, a funções da cooperativa, relacionadas com o fornecimento
de água, passaram para a nova entidade.
Foi difícil, mas conseguimos convencer os agricultores a reduzir o horário de
fornecimento para 12 horas diárias. Depois, aumentamos o tempo. Atualmente, são 14
horas de fornecimento, das 4 da manhã até às 18 horas-, disse o presidente do Distrito,
José Alves da Paixão, o Neném do Nilo.

Neném é colono, vereador de Canudos e pela terceira vez está à frente da


associação. Ele tem a posse de 11 hectares de terra. Em quatro deles, cultiva
bananas. Nos demais, analisa a possibilidade de plantar coco.

O regulamento criado pelo DNOCS há 50 anos prevê que só as famílias de colonos


originais podem se associar às entidades da região. Cerca de 600
(aproximadamente três mil pessoas) vivem nos oito trechos.

Para atrair mais associados, o Distrito criou uma nova categoria: os “encostados”.
Assim são definidos quem vive nas áreas não reconhecidas pelos DNOCS.

A associação Distrito tem 283 sócios e cerca de 617 “encostados”. O número sócios
extras não é revelado oficialmente, mas só assim seria possível para o Distrito
arrecadar os R$ 27 mil mensais que são usados para despesas de pessoal, escritória
e de manutenção do sistema de distribuição de água, repleto de vazamentos.

Para fazer a manutenção da rede, a associação compra o material como cimento e


ferro e a mão de obra é dos próprios moradores.
As comportas abertas em dias não autorizados podem ser fechadas com cadeados

Cada colono paga R$ 30 mensais para receber água nos dias definidos pela
associação. Existem várias comportas em toda extensão do sistema. Os agricultores
só têm autorização de abri-las nas datas combinadas. Caso descumpram o acordo,
os fiscais do Distrito podem trancar as portinholas com cadeados. O recurso
também é utilizado em caso de atraso de pagamento.
FONTE DE RECURSOS SECOU

O governo federal investiu R$ 1,4 milhões nos quatro primeiros anos do Distrito.
Depois, nunca mais enviou verbas. Embora num prospecto do Ministério da
Integração de 1998 anuncie que o projeto de irrigação de irrigação é prioritário e
está inserido no programa Brasil em Ação.

Aliás, a sede do Departamento de Obras Contra a Seca está em Fortaleza(CE), a 830


quilômetros de distância e a 10 horas de viagem de ônibus. Lá, a lonjura se alia à
burocracia e tudo fica mais difícil. Não há funcionários do DNOCS cuidando do
perímetro irrigado. Nunca houve.
O leito do Vaza Barris está coberto por taboa, planta que mantém suas raízes imersas,, costuma ser usada em
artesanato.e,na Ásia, serve para tratar lesões de pele.

PRODUÇÃO

Das plantações canudenses saem mensalmente 8 milhões de unidades,


aproximadamente 667 mil dúzias de banana prata. As bananas ocupam entre 95% e
98% da área plantada. O cento da fruta custa, atualmente, R$ 26 — a média anual
varia de R$ 18 a R$ 19. A alta se deve à seca em Pernambuco e no Ceará, segundo
Antônio Balbino, presidente da Cooperativa dos Irrigantes.

De cada milheiro de banana colhido, a cooperativa fica com R$ 3. Em troca, paga o


INSS dos produtores, busca recursos — nem sempre com êxito — e cuida da
manutenção das estradas do perímetro. Primeira associação da região, segue as
normas do DNOCS, e tem 226 sócios. No entanto, Balbino ressalva que tudo o que é
produzido nos oito setores acaba passando pela entidade, cuja movimentação
financeira é de R$ 2 milhões e 200 mil por mês.
Caminhões que transportam banana são pesados na sede da cooperativa para que seja calculado o valor a ser
pago à entidade, que movimenta R$ 2 milhões e 200 mil por mês.

Atualmente, os agricultores estão tentando fazer a transição da plantação da


banana prata, tipo pacovan, a preferida dos sergipanos, principais compradores das
frutas, para a pratinha, mais aceita nas cidades baianas e menos sujeita ao
tombamento pela ação dos ventos.

A pacovan é resultante de uma mutação e é a mais plantado nas regiões Norte e


Nordeste. Suas bananeiras atingem 7 metros de altura. Os cachos pesam 16 quilos e
os frutos, 122 gramas.
A pratinha é mais resistente aos ventos, tem sabor é mais agradável. Os cachos
chegam a ter, no máximo,12 quilos e os frutos, 100 gramas.

Outro objetivo é obter o certificado de produto orgânico, mas para isto os


agricultores precisam deixar de usar adubos químicos e fertilizantes. O solo da
região é classificado como terras cultiváveis sem problemas ou com problemas
simples de conservação.

As principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores do perímetro, segundo


Balbino, são a falta de assistência técnica por parte da secretaria estadual de
Desenvolvimento Rural, a falta de apoio da Embrapa, o modelo ultrapassado de
irrigação, dificuldades para a obtenção de financiamentos os títulos de propriedade
da terra.

Neném de Nilo e Antônio Balbino, presidentes da cooperativa e da associação do distrito de irrigação

Paulo Oliveira, Jornalista, Mar 30, 2016

https://paulooliveiragm.medium.com/o-per%C3%ADmetro-irrigado-de-
cocorob%C3%B3-5a99d6a4b680

Você também pode gostar