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doi: 10.5102/unijus.v23i2.

2031
O Simples Nacional e os princípios
constitucionais*
The “Simples Nacional” and the
constitutional principles

Resumo
Este artigo objetiva analisar o Simples Nacional e os princípios cons-
titucionais abalados com sua implantação, apoiando-se em estudo descritivo
e experimental. Para tanto, baseia-se em pesquisas bibliográfica, documental
Claudio Gonçalves Pacheco1 e experimental. O microssistema tributário do Super Simples, corporificado
normativamente na Lei Complementar Federal nº 123/2006 e consolidado
mediante política pública de minoração e simplificação tributária, trabalhis-
ta, previdenciária, creditícia e processual, destinada à Microempresa e à Em-
presa de Pequeno Porte, tem sede e substrato constitucional, posto fundar-se
no art. 146, III, “d”, e parágrafo único, bem assim nos arts. 170, IX e 179, todos
do Magno Texto. No primeiro capítulo introdutório, fez-se análise de como
se processa o conhecimento jurídico para demarcar o referencial teórico-
metodológico e fincar as âncoras conclusivas. No segundo capítulo, o estudo
circunscreveu-se em demonstrar a origem constitucional das políticas públi-
cas de fomento às microempresas e empresas de pequeno porte, evidencian-
do a sua decorrência dos direitos de segunda dimensão, os quais exigem uma
postura positiva, prestacional do poder estatal em face da sociedade, bem
como traçar as principais características do programa do Simples Nacional.

Palavras-chave: Direito constitucional. Direito tributário. Federalismo. Prin-


cípios. Simples.

Abstract
This objective of this paper is to analyze the “Simples Nacional” and
the Constitutional principles affected by its implantation through a descrip-
tive and experimental study. For that, it is based on bibliographic, documen-
tary and experimental research. The tributary microsystem of “Simples Na-
cional”, embodied lawfully on the Complementary Federal Law nº 123/2006
and consolidated by means of public policies of mitigation and simplification
of tributary, work, pension, credit and procedural laws destined to Micro
Companies and Small Businesses, is found within constitutional substra-
* Artigo recebido em setembro de 2012.
Aprovado em setembro de 2012. tum, based on article 146, III, “d”, single paragraph, as well as in the 170, IX
1
Possui graduação em Direito pela Universida- and 179 articles, all in the Magna Carta. In the first chapter of this paper, an
de Federal de Goiás (2001), Curso incompleto
analysis on how legal knowledge is processed takes place in order to delimit
em Ciências da Computação pela Universidade
Federal de Goiás (sobrestado no último ano - the theoretical-methodological references and ground the conclusion. In the
1996), pós-graduação em Direito Constitucio- second chapter, the study focuses on showing the constitutional origin of pu-
nal e Direito Administrativo pela Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, mestre minter blic policies that assist Micro Companies and Small Businesses, highlighting
em Direito UniCEUB/DF. Atualmente é Audi- the fact that they come from second dimension rights, which demand a po-
tor-Fiscal de Receita Estadual - Secretaria de
sitive posture of assistance from the state power towards society. The second
Estado da Fazenda de Goiás.
Claudio Gonçalves Pacheco

chapter also focuses on tracing the main features of the empresários o pleno acesso à livre-concorrência e à livre-
“Simples Nacional”. iniciativa.

Keywords: Constitutional Law. Tributary Law. Federa- Se tais microssistemas tributários dos entes fede-
lism. Principles. Simple. rados deram ensejo a celeumas jurídicas de todo jaez,
com o Simples Nacional não poderia ser diferente, posto
avançar muito mais na materialização desse desiderato
1 Considerações iniciais constitucional, esbarrando, para sua implementação, em
O Estatuto do Simples Nacional, corporifica- princípios caros de nossa ordem constitucional, como o
do normativamente na Lei Complementar Federal nº princípio da igualdade, da isonomia tributária, da regra
123/2006 e consolidado mediante política pública de mi- da não cumulatividade, no princípio da estrita legalida-
noração e simplificação tributária, trabalhista, previden- de, da seletividade e talvez, o que mais polêmica suscitou
ciária, creditícia e processual, destinada à Microempresa no meio jurídico, o princípio federativo, dentre outros
e à Empresa de Pequeno Porte, tem sede e substrato cons- levantados nas ações interpostas no Supremo Tribunal
titucional, posto fundar-se no art. 146, III, “d”, e parágrafo Federal.
único, bem assim nos arts. 170, IX e 179, todos do Magno Buscando discorrer acerca de temas envolvendo a
Texto. Seus institutos legais espargem influência por vá- sistemática de tributação do Simples Nacional, este estu-
rios ramos do Direito, mormente, no Direito Trabalhista, do objetiva analisar e discutir o microssistema tributário
Empresarial, Administrativo, Econômico, Tributário e e os princípios constitucionais possivelmente afetados e
Constitucional. Todavia, para os propósitos deste arti- que tiveram seu alcance normativo coarctado em prol
culado, os estudos empreendidos restringir-se-ão às suas da promoção de uma política pública que dispensasse
repercussões tributário-constitucionais. às micros e pequenas empresas tratamento jurídico dife-
Antes de sua implantação, o Simples Federal (Lei renciado e favorecido na seara administrativa, tributária,
nº 9.317/1996) tinha essa atribuição em visar materiali- previdenciária e creditícia, bem como analisar o compor-
zar tal diretriz constitucional no que toca aos tributos da tamento da arrecadação do imposto sobre operações re-
União, bem como os Estados-membros também, como lativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
reflexo de sua competência legislativa tributária e visando serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de
a se resguardarem para não verem mutiladas suas plenas comunicação (ICMS), no Estado de Goiás, com a implan-
autonomias político-administrativo-financeiras, busca- tação desse novo regime simplificado de tributação, apli-
ram instituir programas de simplificação e redução da cável às Microempresas (ME) e às Empresas de Pequeno
carga tributária no âmbito de seu espaço territorial, que, Porte (EPP), estabelecida pela Lei Complementar nº 123,
no caso do Estado de Goiás, fora substancializado pela de 14 de dezembro de 2006 (LC nº 123/06), com vigência

Lei Estadual nº 13.270/1998, no que tange ao ICMS. a partir de 1º de julho de 2007.


Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

Em que pese a União e os Estados-membros terem Nessa perspectiva, por este capítulo, nesta in-

envidado esforços para criarem sistemas simplificados e trodução, a preocupação primacial foi precisar o corte
epistemológico. Para tanto, fez-se brevíssima análise do
favorecidos de tributação voltados para tais segmentos
conhecimento jurídico, posto que esse trabalho utilizar-
empresariais, as iniciativas estiveram aquém das expec-
se-á de tais referenciais teórico-metodológicos para dar
tativas esperadas pela sociedade brasileira, bem como o
coerência às teses sustentadas e fincará suas âncoras con-
desafio hercúleo que se consistiu em desenvolver uma
clusivas nas premissas ali encontradas.
política pública que contemplasse os legítimos anseios da
classe empresarial menos favorecida nas últimas décadas No segundo capítulo, o mote que orientou o es-
pelos reiterados planos socioeconômicos dos governos tudo circunscreveu-se em demonstrar a origem consti-
federal, estadual e municipal, com vista a implementar tucional das políticas públicas de fomento às microem-
a densa carga axiológico-normativo-constitucional do presas e empresas de pequeno porte, evidenciando a sua
princípio do fomento à microempresa e à empresa de decorrência dos direitos de segunda dimensão, os quais
66 pequeno porte, que assegurasse aos micros e pequenos exigem uma postura positiva, prestacional do poder esta-
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

tal em face da sociedade, bem como traçar as principais mento científico, o qual visa expressar suas constatações
características do programa do Simples Nacional. genéricas, extraídas da observação dos fatos comprova-
dos, por meio de uma linguagem objetiva, neutra, descri-
Espera-se que, com os estudos desenvolvidos e
tiva e sistematicamente estruturada. Este trabalho descre-
com os resultados acadêmicos da pesquisa levantados,
verá suas constatações em linguagem científica.
seja possível compreender adequadamente o modelo tri-
butário do Simples Nacional. No que toca ao objetivo desse estudo, o objeto que
se almeja conhecer e obter certo conhecimento consiste
na sistemática de arrecadação do imposto sobre opera-
2 Conhecimento ções relativas à circulação de mercadorias e sobre pres-
tações de serviços de transporte interestadual e intermu-
Conhecer é o ato pelo qual o sujeito cognoscen-
nicipal e de comunicação (ICMS), no Estado de Goiás,
te (sujeito pensante) dirige sua atenção e seu intelecto
com a implantação da nova forma de tributação do Sim-
para apreender certas propriedades do objeto cognoscí-
ples Nacional, aplicável às ME e às EPP, estabelecida pela
vel, posto que objeto em si, em oposição à imagem ou
Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006
às características dele capturadas pela mente, continuará
(LC nº 123/2006), com vigência a partir de 1º de julho
sempre incognoscível em sua essência, dando a conhecer
de 2007, e as implicações aos princípios constitucionais
apenas as suas manifestações fenomênicas, como aparên-
envolvidos.
cias. Assim, conhecer “[...] é representar-se uma cousa. É
a operação imanente pela qual um sujeito pensante se re- Contudo, antes de adentrar diretamente nesse es-
presenta um objeto. É o ato de tornar um objeto presente tudo, buscar-se-á traçar, nos subitens seguintes, o enca-
à imaginação ou à inteligência. É o ato de sentir, perceber, deamento lógico que se quer seguir neste trabalho, neces-
imaginar ou pensar um objeto”.2 sitando, primeiramente, para tanto, discorrer acerca do
conhecimento jurídico, para só depois sublinhar qual o
Nessa senda, o processo interativo dialético entre
referencial epistemológico, ou seja, teórico-metodológi-
sujeito/objeto conduz à formação do conhecimento, o
co, a ser adotado com vista a uma melhor delimitação do
qual imprescinde da união e atuação conjunta de três ele-
tema que se quer desenvolver.
mentos, a saber, do “eu”, isto é, daquele que se dispõe a co-
nhecer algo, do exercício da atividade intelectiva por esse 2.1 Conhecimento jurídico
“eu” pensante e o objeto a ser pensado, para que ocorra
Logo de início, cumpre diferenciar a metodologia
e possa esse conhecimento ser traduzido em linguagem.
do Conhecimento Científico em relação à metodologia
Sentencia Goffredo Telles Jr. que:
empregada no Conhecimento Jurídico, tendo em vista
Pelo conhecimento, a cousa como que renasce, que não são raras as invectivas de muitos pesquisadores
em novas condições de existência, dentro do su-
jeito conhecedor. Eis por que a ideia se chama na área das ciências da natureza, ligadas àquele conheci-
também conceito, produto de uma concepção mento, que não consideram os métodos empregados pe-
ou geração. E o sujeito conhecedor, assimilando Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
las ciências humanas como um todo, nas quais se insere a
a forma da cousa conhecida, deixa-se assimilar,
em parte, por ela, como o lacre que, recebendo ciência jurídica, o status de cientificidade.
em si a forma do sinete, se assemelha ao sinete.
Por força do conhecimento, o sujeito como que Constata-se que, nas ciências naturais, têm-se
renasce também, porque se transforma, e toda os fatos; por meio do método de abordagem, fazem-se
transformação, de certa maneira, é um nasci-
as observações, formulam-se enunciados extraídos da
mento numa nova forma de se.3
existência de ligações constantes entre os fatos e os fenô-
Certo é que há o conhecimento vulgar, expresso menos naturais deles decorrentes; daí, em um processo
em linguagem cotidiana, em estilo coloquial, e o conheci- elaborativo e abstracional, por meio de construções ló-
gicas rigorosas, formulam-se hipóteses a que a realidade
empírica deve se adequar, criando-se a teoria científica.
2
TELLES JÚNIOR, Goffredo. Tratado da consequência. 2. ed. Vale ressaltar que o cientista não quer mudar a realidade,
rev. aum. São Paulo: José Bushatsky, 1962. p. 7. quer explicá-la, prová-la, submetê-la a teste, buscar a con-
3
TELLES JÚNIOR, Goffredo. Tratado da consequência. 2. ed.
rev. aum. São Paulo: José Bushatsky, 1962. p. 35. firmação da teoria que elaborara. 67
Claudio Gonçalves Pacheco

Quanto à Ciência do Direito, nos fenômenos hu- Enquanto o objeto das Ciências Naturais apresen-
manos, o cientista do direito não se contenta em explicá- ta-se imutável ao querer humano, o objeto de estudo da
-los, vai mais longe e procura compreendê-los. Quando Ciência do Direito, qual seja, o Direito Positivo, transfor-
assim dispõe o seu espírito investigativo, ou melhor, ma-se para atender às necessidades humanas de um dado
aplicativo, o cientista interfere intuitivamente no sentido tempo e lugar. Segue-se daí que, tanto o legislador pode
dos fenômenos, pois os valora. Nessa medida, é neces- mudar a lei, segundo conveniências históricas, políticas
sário que haja um método próprio que seja ele mesmo e sociais, muitas vezes até atendendo a pauta do clamor
validado pelo referencial axiológico e que lhe dê sentido, popular, quanto o juiz, na solução do caso concreto, in-
validando-o segundo valores individuais, sociais, cultu- terpreta e aplica a norma segundo certas contingências
rais, ideológicos e históricos. contextuais, levado, não raras vezes, pela repercussão
de fatos sociais. Ou seja, tendo em vista que o objeto da
Aqui, nesse ponto, é oportuno fazer a distinção
ciência jurídica, qual seja, o direito e as normas jurídi-
entre Direito Positivo e Ciência do Direito ou Ciência
cas, modifica-se constantemente no tempo e no espaço,
Jurídica, tendo em vista o emprego errôneo e indiscri-
levando alguns juristas a contrapor o caráter científico da
minado de um e de outro, como se tratasse da mesma
Ciência Jurídica, posto não haver exatidão na construção
linguagem. Na perspectiva de Hans Kelsen, a Ciência do
do saber científico.
Direito busca conhecer e compreender o seu objeto de
estudo, qual seja, a norma jurídica, o ordenamento jurí- Há também o questionamento que procura saber
dico, ou seja, o Direito Posto. Nessa medida, a Ciência se o método compreensivo é acentuadamente valorativo
do Direito tem seu próprio paradigma, o qual se vale de ou se é possível optar por uma neutralidade axiológica,
uma linguagem descritiva e predicativa para enunciar as ainda mais quando também se questiona se a doutrina
constatações encontradas ou expressar o significado de jurídica é uma das fontes do próprio Direito. Nesse parti-
seu objeto. De tais enunciados extraem-se proposições, cular Tércio Sampaio Ferraz Jr. observa que:
as quais se submetem ao crivo da verificabilidade, da tes- A Ciência do Direito, nestes termos, não ape-
tabilidade, do falso/verdadeiro, em relação ao paradigma nas se debate entre ser compreensivo-valorativa
ou axiologicamente neutra, mas também, para
metodológico adotado. A Ciência Jurídica vale-se da ló- além disso, uma ciência normativo-descritiva,
gica apofântica ou alética ou formal, que se opera sob o que conhece e/ou estabelece normas para o
mundo do ser, sendo, repise-se, descritiva e predicativa. comportamento.5

A seu turno, o Direito Positivo consiste em um conjunto Em que pesem as vozes discrepantes, para maio-
de normas jurídicas, que se caracterizam por proposições ria dos juristas, a ciência jurídica é uma ciência, posto
acentuadamente prescritivas e relacionais, dotadas de im- que detém as especificidades que a individualiza, bem
peratividade e autorizamento. Imperativa no sentido de como compreende em si todos os caracteres necessários a
dar um norte, uma direção à conduta humana, seja uma revelar-se como autêntico conhecimento científico. Vale
permissão, proibição ou obrigação, segundo os anseios dizer, apresenta-se como um conhecimento sistemático,
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sociopolíticos de uma sociedade organizada de um deter- construído e demonstrado por um método próprio, o
minado tempo e lugar. Nesse sentido, o Direito Posto está qual se dirige a um determinado objeto individualizado
submetido à lógica deôntica, a qual opera sobre o mun- por abstração dos demais fenômenos. A sistematicidade
do do dever ser. De seus enunciados, colhem-se também do discurso jurídico é um insofismável argumento para
proposições, as quais não mais são verificadas segundo sustentar o caráter científico do conhecimento jurídico.
o binômio do verdadeiro/falso, mas segundo os critérios Sistemático, no sentido de tratar de uma atividade orde-
da validade ou invalidade em relação à conformação ao nada, segundo seus próprios princípios e específicas re-
ordenamento jurídico em referência.4 gras, levando o jurista a cuidar e conduzir-se, não raras
vezes, pelo modelo das ciências naturais, mormente, no
que toca às relações lógico-formais dos fenômenos ju-

4
TEIXEIRA, António Braz. A razão jurídica I: apontamentos
de filosofia do direito e metodologia jurídica. Lisboa: Facul-
5
dade de Direito da Universidade Lusófona de Humanidades e FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do direito. 2. ed.
68 Tecnologia, 2010. p. 9. 16. reimp. São Paulo: Atlas, 2009. p. 12.
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

rídicos, desvencilhando-se de seu conteúdo empírico e da validade ou invalidade. Os critérios de validade devem
axiológico.6 ser aferidos ao investigar se aludidas normas observaram
a forma, o rito, o momento, o modo, a hierarquia, a es-
No que tange a ser ou não ciência o saber jurídico,
trutura, a lógica de criação, previamente, previstos, para
cabe consignar que esse debate é de somenos importân-
integrarem ao ordenamento jurídico. Em suma, a lógica
cia, haja vista que, para a ciência jurídica, a decidibilidade
das normas jurídicas é a lógica deôntica, do dever ser,
passou hoje a configurar o seu problema central e não o
submetidas ao crivo do válido ou inválido em relação a
valor verdade, ou se os enunciados científico-jurídicos,
um dado ordenamento jurídico.
próprios das teorias jurídicas, são verificáveis ou refutá-
veis segundo o critério de cientificidade das ciências na- As normas jurídicas podem veicular uma permis-
turais, vez que a validade dos enunciados deve ser aferida são, proibição ou obrigação, cuja finalidade é manter a
segundo a sua relevância prática, no sentido de serem eles ordem pública e evitar a perturbação da ordem social.
utilizados como instrumentos que possibilitem obter de- Nessa perspectiva, não são normas de bons conselhos, de
cisões, sejam legislativas, judiciais, administrativa, con- meras recomendações, mas são dotadas de imperativida-
tratuais etc. Tércio Sampaio Ferraz Jr. leciona que: de e autorizamento. Imperativas, no sentido de fixarem
Ao envolver uma questão de decidibilidade, a uma direção para a conduta humana. Autorizativas, por
Ciência do Direito manifesta-se como pensa- possibilitarem a legitimação por parte do lesado em exi-
mento tecnológico. Este possui algumas carac-
terísticas do pensamento científico stricto sensu, gir do Poder Estatal a satisfação ou a reparação do seu
à medida que parte das mesmas premissas que direito violado.8
este. Os seus problemas, porém, têm uma rele-
vância prática (possibilitar decisões: legislativas, 2.3 Considerações parciais: - referencial epistemo-
judiciárias, administrativas, contratuais etc.) lógico (teórico-metodológico) adotado
que exige uma interrupção na possibilidade de
indagação das ciências em geral, no sentido de Até este ponto, buscou-se discorrer acerca das
que a tecnologia dogmatiza os seus pontos de
características de um discurso jurídico, posto que o pro-
partida e problematiza apenas a sua aplicabili-
dade na solução de conflitos.7 pósito não foi outro senão o de sinalizar que esse estudo
pautou-se por uma argumentação que visasse demons-
2.2 Direito trar e desenvolver um raciocínio lógico, na forma disser-
O Direito, diferentemente das ciências naturais, tativa para solução do problema proposto. Este trabalho
não busca a verdade. Essa não é a sua preocupação. utiliza-se de vários modos para levantamento dos fatos,
Quando se incrimina o aborto ou o adultério, não se tra- da coleta de dados, da reprodução e articulação de ideias,
ta de verdade ou falsidade das proposições que veiculam empregando procedimento técnico e lógico do raciocínio
essas proibições. É que, em um determinado período jurídico, sempre buscando fazer uma ponte entre o lógico
histórico, convém a uma sociedade não transigir com as com o real, bem como articulando a teoria com a realida-
objetividades jurídicas contidas nessas normas. Mas, em de; do contrário, este trabalho não teria qualquer senti-
outro contexto histórico-social, pode-se dispensar o rigor do, consistiria em mero esforço intelectual sem qualquer Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
que se atribuía a esses valores, ou assumir-se uma postura repercussão prática. Portanto, prima-se por uma funda-
mais liberal. mentação epistemológica que dê suporte e justifique a
própria metodologia adotada.
O Direito é uma ordem prática na medida em que
nos informa e orienta o que deve ser feito em determi- Nessa perspectiva metodológica, no tocante à lin-
nadas condições. Em seu domínio, não há verdade ou guagem científica, dita pura, valer-se-á tanto do raciocí-
falsidade, mas um plexo de normas impositivas ou co- nio indutivo como do dedutivo para o estudo dos dados
ativas, as quais prescrevem condutas que disciplinam as colacionados, sejam de pesquisas experimental ou do-
relações interpessoais. Tais normas sujeitam-se ao crivo cumental, secundárias ou primárias, haja vista que só a
teoria é capaz de dar cientificidade aos dados empíricos

6
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do direito. 2. ed.
16. reimp. São Paulo: Atlas, 2009. p. 13.
7 8
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do direito. 2. ed. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do
16. reimp. São Paulo: Atlas, 2009. p. 44. direito. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 154. 69
Claudio Gonçalves Pacheco

levantados e rigorosamente interpretados. Todavia, uma e administrativa, os quais são reconhecidos e considera-
teoria que não finca seus fundamentos na realidade dos dos como exponenciais na comunidade científica a que
dados não gera conhecimento científico. pertencem. Também, as obras levantadas e consultadas,
relacionadas às ciências sociais, econômicas e históricas,
Por seu turno, a linguagem jurídica empregada é
abordaram o tema ora em tela, as quais foram desenvol-
a do positivismo jurídico, referendada pelo ordenamen-
vidas por cientistas do mesmo jaez, contribuindo assaz-
to jurídico, mesmo porque a interpretação conforme a
Constituição não pode opor-se à literalidade da norma. mente para a compreensão desse fenômeno.
Todavia, não se trata de uma adesão cega a essa perspecti- Por último, cotejaram-se os levantamentos reali-
va metodológico-epistemológica, tendo em vista que fiar- zados com rigor técnico-científico esperado para inferir
-se em fatos, dados e documentos e, sobretudo dispositi- se as limitações impostas à autonomia do Estado de Goiás
vos normativos, sem qualquer referência à realidade, ver- de legislar e arrecadar sua principal fonte de receita, isto
dadeiro valor não lógico-jurídico, significaria declarada é, o ICMS, por conta da vigência da LC nº 123/2006, con-
afronta ao Estado democrático de direito, o qual tem no figuraram óbices significativos à fiscalização e à cobrança
princípio da dignidade da pessoa humana o seu princípio do ICMS, de sorte a sobrelevar aplicar um princípio em
mor. Nesse sentido, admiti-los como valores agnóstico- detrimento de outro, isto é, quiçá o princípio da livre ini-
-jurídicos, isto é, não empiricamente demonstráveis pe- ciativa e do desenvolvimento nacional versus o princípio
las ciências humanas e sociais, demonstraria uma postu- federativo.
ra intelectual irresponsável e de trabalho de dissertação
totalmente desprezível. Ou melhor, uma teoria do dever
ser que não tenha a menor correspondência com o ser da
3 O Simples Nacional como política pública –
realidade subjacente afigura-se artificial, sem qualquer definição e características
emprego ou proveito. Todo sistema ou programa, jurídico
ou não, deve abstrair certos dados do ser, como condição 3.1 Considerações iniciais - o Simples Nacional
indispensável para seu objetivo e sucesso, do contrário, Neste capítulo, analisar-se-á se o programa de
configurar-se-ia em um esforço, em um exercício intelec- governo denominado Simples Nacional, instituído pela
tual infrutífero, sem resultados práticos imediatos. Nessa Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006
senda, em situações de mal-estar jurídico, em que se veri- (LC nº 123/2006), com vigência a partir de 1º de julho de
fique a completa dissintonia entre o ordenamento jurídico 2007, entendido como uma política pública destinada ao
e a realidade social subjacente, este trabalho também lan- desenvolvimento das microempresas e das empresas de
çará mão da linguagem baseada na compreensão tópica pequeno porte, posto que, além dessa lei complementar
do raciocínio jurídico, na concepção teórica dos princí- federal instituir e dispensar a tais empresas um regime
pios gerais do direito e na dialética jurídica como discurso simplificado de tributação, também traz importantes
de persuasão, bem assim no bom senso, na prudência e regramentos diferenciados que as prestigiam e as dis-
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

na razoabilidade, desde que intersubjetivamente aceitos. criminam positivamente, precipuamente no que toca às
Nessa medida, este trabalho apoia-se em estudo licitações públicas, às relações de trabalho, ao estímulo
descritivo e experimental. Para tanto, baseia-se em pes- ao crédito, à capitalização e à inovação tecnológica, ao
quisas bibliográfica, documental e experimental. associativismo, às regras de inclusão, ao acesso à justiça,
dentre outras disciplinas, encontrando-se esses benefí-
Da pesquisa bibliográfica utilizada, registraram-
cios disciplinados nos Capítulos III a XIII, arts. 4º a 76,
se e interpretaram-se as categorias teóricas, como teses,
da LC nº 123/2006.
artigos, livros etc., já produzidos, desenvolvidos por pes-
quisadores no tocante à sistemática de tributação do Sim- Ressalta-se que essa política pública faz parte de
ples Nacional, aplicável às microempresas e às empresas um programa bem maior de atuação e de intervenção no
de pequeno porte, antes e depois da promulgação da LC domínio econômico e social a que os órgãos legislativos,
nº 123/2006. As teses, os artigos e os livros científicos executivos e jurisdicionais estão impelidos a cumprir por
pesquisados, foram elaborados por estudiosos e doutri- força de diretriz constante em nossa Lei Maior. Direção
70 nadores, selecionados na área constitucional, tributária política esta exteriorizada nas normas constitucionais
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

programáticas traçadas pelo legislador constituinte para Em tempo, consigna-se que esta dissertação res-
que o Estado realize seu fim social, as quais, para o caso tringir-se-á à análise do regime simplificado de tributação
em tela, encontram-se sistematizadas no Título VII, arts. dispensado às microempresas e às empresas de pequeno
170 a 192, ao tratarem da Ordem Econômica e Financei- porte de que se ocupa a Lei do Simples Nacional, vale
ra, e, no Título VIII, arts. 193 a 232, ao cuidarem da Or- dizer, da LC nº 123/2006, mormente, no que tange aos
dem Social. reflexos e ao comportamento da arrecadação do imposto
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
A LC nº 123/2006, que instituiu o Estatuto da Mi-
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e
croempresa e da Empresa de Pequeno Porte, compõe-se
intermunicipal e de comunicação (ICMS), no Estado de
de 14 capítulos, os quais reúnem toda uma vasta disposi-
Goiás, com a implantação da nova sistemática de tributa-
ção voltada para tutelar as empresas de menor capacidade
ção, aplicável às ME e às EPP, e as implicações aos princí-
econômica, disciplinando acerca de diversos assuntos dos
pios constitucionais envolvidos, não abordando, a não ser
mais variados ramos do direito, em que o Simples Nacional,
de forma tangencial, aqueloutros temas disciplinados no
que vem disciplinado no Capítulo IV (arts. 12 a 41) desta
aludido diploma legal.
lei complementar, representa apenas a seção desse diploma
jurídico que visa estabelecer o Regime Especial Unificado de Outrossim, para que se possa compreender o con-
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos por tais texto em que culminou com a implantação do Simples
empresas, ou seja, estabelece normas tributárias especiais Nacional, faz-se mister, ainda que em parcas linhas, esbo-
para esse segmento empresarial. Nesse particular, Carlos Re- çar os movimentos constitucionalistas que o precederam
nato Cunha,9 em sua dissertação de mestrado, sublinha que: e o instituíram, mesmo porque todo atuar do Governo
São regimes que se relacionam, mas não se im- não surge de forma desinteressada e de neutralidade va-
plicam necessariamente. Um contribuinte pode lorativa às transformações políticas que o envolvem, mas,
enquadrar-se como microempresa para os fins
de beneficiar-se com parcela dos incentivos pelo contrário, está imerso em um movimento histórico-
previstos no Estatuto, nas áreas trabalhistas ou -econômico-social de seu tempo que o justifique, para,
de licitação, por exemplo. Mas pode não ter os
logo em seguida, ocupar-se desse programa em si.
requisitos necessários para enquadrar-se no
SIMPLES, como, por exemplo, não ter feito a
opção, deixando de beneficiar-se do tratamento 3.1.1 Precedentes históricos para o surgimento da
favorecido no âmbito tributário. Constituição Econômica

Cumpre assinalar que o art. 18-A da LC nº Os movimentos liberais burgueses dos séculos
123/2006, inserido pela LC nº 128/08, criou a figura do XVII e XVIII, deflagrados inicialmente pela Revolução
microempreendedor individual – MEI, com objetivo de Gloriosa, no Reino Unido, em 1688-1689, pela Revolução
proporcionar melhores condições ainda para certa cate- Francesa de 1789 e pela Independência Americana em
goria de microempresário, qual seja, o pequeno empresá- 1776, representaram a submissão da Coroa às delibera-
rio representado pelo empresário individual, o qual deve ções do Parlamento ou, então, como na França, apearam
ser caracterizado como uma microempresa, conforme es- os monarcas absolutistas de seus poderes reais, depuse- Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
tabelece o art. 68 da LC nº 123/2006. O microempreende- ram a nobreza de seu já debilitado poder, puseram um
dor individual, optante pelo Simples Nacional, recolherá fim na insegurança jurídica e na centralização dos pode-
impostos em valores fixos mensais, independentemente res executivo, judiciário e legislativo, os quais se encon-
da receita bruta auferida e terá singelas obrigações tribu- travam enfeixados nas mãos do soberano. Aludidas ma-
tárias acessórias a cumprir. O desiderato político do Sim- nifestações sociais lograram-se vitoriosas ao darem um
ples Nacional para esses microempresários não é outro basta na censura à liberdade de expressão e na ausência
senão o de incentivar o empreendedorismo e combater a de participação dos cidadãos na vida política e social de
informalidade, ao lhes dispensar um tratamento digno e seus países, vigentes no Ancien Regime. Conforme se ex-
lhes resgatar a cidadania empresarial. trai da doutrina, essas conquistas constituíram os direitos
fundamentais de primeira dimensão. Tais direitos e prin-
cípios passaram a constar em todas as Constituições es-
9
CUNHA, Carlos Renato. O simples nacional, a norma tributá-
ria e o princípio federativo: limites da praticabilidade tributá- critas das sociedades livres, tendo cunho assinaladamente
ria. Curitiba: [s.n], 2010. p. 239-240. individualista, representando direitos dos indivíduos em 71
Claudio Gonçalves Pacheco

relação e em oposição ao Estado. São considerados direi- assim como toda uma gama de recursos econômicos para
tos de defesa, pois impuseram uma postura negativa para manter em bom funcionamento a máquina administrati-
o Estado em face do indivíduo, isto é, pugnaram e demar- va para salvaguardar tais direitos. Em suma, todo direito
caram uma zona de não intervenção governamental na tem um custo social e financeiro para a sociedade. Nessa
vida das pessoas, uma esfera de autonomia individual em medida, cabe registrar a importância de também se cul-
face do Poder Público10. tuar o dever fundamental de pagar impostos, pois ele se
legitima e se justifica como conditio sine qua non para
Nessa perspectiva, os direitos fundamentais de
manutenção dos demais direitos.11
primeira dimensão sinalizaram um elenco extenso de li-
berdades que repousa suas raízes na doutrina iluminista e Não obstante a importância desse salto de cons-
jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, destacando, den- ciência crítica e do progresso social e político das socie-
tre outros, os direitos à vida, à liberdade, à propriedade e dades organizadas atuais, o movimento liberal burguês
à igualdade perante a lei, ao devido processo legal, ao ha- passou ao largo e insensível às mazelas sociais provocadas
beas corpus, ao direito de petição, sendo, posteriormente, pela Revolução Industrial, que, em pleno século XVIII,
acrescidos pelas liberdades de expressão coletiva, isto é, exibiu sua verdadeira face, qual seja, a face do descaso,
liberdade de imprensa, de manifestação, reunião, associa- da desumanidade para com o sofrimento e miséria in-
ção, bem como pelos direitos de participação política, a fligidos a milhares de homens, mulheres e crianças, ao
exemplo do direito de votar (capacidade eleitoral ativa) e submeterem a trabalhos infindos, por horas a fio, em am-
ser votado (capacidade eleitoral passiva). bientes insalubres, sem descanso, com ínfimos salários,
verdadeiros farrapos humanos, cujas remunerações mal
Nesse contexto, a despeito de a doutrina observar
supriam suas necessidades de subsistência.
que esses direitos têm viés negativo, isto é, exigem uma
postura de não fazer, uma conduta absenteísta do poder Em virtude desse agudo sofrimento humano, na
público em face do cidadão, ou seja, de não intervenção segunda metade do século XIX, desencadearam-se san-
do Estado na vida privada das pessoas, Stephen Holmes grentos movimentos sociais da classe proletária. Esses
e Cass Sunstein, na obra The Cost of Rights – Why Liberty levantes sociais foram insuflados pelas ideologias socia-
Depends on Taxes, advogam a tese que todos os direitos listas, as quais contrapunham à mentalidade burguesa da
fundamentais, de todas as dimensões, têm caráter posi- época, condenando a extenuante exploração que a ideo-
tivo, ou seja, exigem uma participação efetiva do poder logia do Capitalismo Industrial infligia à classe operária.
público mediante políticas públicas para consumar tais Os pensadores revolucionários desse período, desde os
direitos. Isto é, necessitam da alocação de vultosa soma utópicos como Moses Hess, Weitling e Heine, na Alema-
de recursos públicos para serem implementados e man- nha, e Fourier, Saint-Simon e Proudhom, na França, e de-
tidos. Assim, para que toda e qualquer sociedade demo- pois com Karl Marx e Friedrich Engels, considerados eles
crática faça acontecer o direito à vida, à propriedade e socialistas científicos, por irem à raiz do problema e en-
à liberdade, para ficar só nesses direitos de primeira di- contrarem no sistema capitalista as verdadeiras causas da
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

mensão, é necessário que os governos invistam elevada exploração do homem pelo homem, forneceram os ideais
soma financeira em segurança pública (boa polícia ju- de contestação e repúdio à opressão reinante. Seus pontos
diciária e ostensiva, sistema penitenciário eficiente etc.) de vista, suas teorias político-social-filosóficas conscien-
para defender os cidadãos e os seus bens de ataques de tizaram, uniram e engajaram os proletariados contra a
criminosos e da própria máquina estatal que pode desviar classe burguesa que os espoliava, em busca de melhores
dos ditames da lei e incorrer em abusos contra as pessoas, condições de trabalho e remuneração, nesse novo estágio
bem como requer a estruturação de um sistema judiciário do capitalismo.12
eficiente, imparcial, com dispendiosas garantias jurisdi-
cionais, processos céleres e insuscetíveis de corrupção,

11
HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass R. The cost of rights:
why liberty depends on taxes. New York: Lightning Source,
10
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2000. p. 37-83.
12
9. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 23. ed. rev. e atual. São
72 2008. p. 54. Paulo: Saraiva, 1995. p. 129.
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

Esses novos direitos agora reclamados caracteri- na manutenção do mínimo existencial e dão substanciali-
zam-se por serem prestacionais, pois buscam outorgar dade ao princípio da dignidade da pessoa humana.15
aos cidadãos direitos a prestações sociais estatais. São
Assim, é nessa perspectiva da ideologia constitucio-
designados pela doutrina por direitos fundamentais de
nal, de formatação de um novo Estado, isto é, visando esta-
segunda dimensão, tendo conotação complementar em
belecer uma ordem política estatal que se comprometa eti-
relação aos direitos de primeira dimensão e não de subs-
camente com a promoção da justiça social e do bem-estar
tituição deles, exigindo, assim, do Poder Público, políti-
da comunidade, que o Simples Nacional se insere. Ou seja,
cas públicas que proporcionem o direito à assistência so-
nada mais representa que uma das faces das várias políti-
cial, à ordem econômica, à saúde, à educação, à igualdade
cas públicas que o Estado prestacional brasileiro hodierno
material e não meramente formal, ao trabalho.13
quer implantar no domínio econômico e social do país.
Importa observar que esses direitos fizeram-se
Deixa-se de registrar os direitos de terceira dimen-
constar, não obstante de forma embrionária e sem a me-
são, como o direito à paz, ao meio ambiente equilibrado,
nor efetividade, nas Constituições Francesas de 1793 e
à democracia etc., ou mesmo para alguns aos direitos de
1848; na Constituição Alemã de 1849; e, até mesmo, na
quarta dimensão como a defesa do patrimônio genético,
Constituição Brasileira de 1824. Todavia, é somente na
à informação, em especial às redes mundiais de compu-
segunda década do século XX, já num ambiente do cons-
tadores, por não estarem diretamente relacionados com o
titucionalismo social, que surgem as primeiras constitui-
objeto de estudo desse trabalho.
ções que consignam os direitos econômicos, os direitos
sociais e a função social da propriedade, onde o Poder 3.1.2 A trajetória da constituição econômica no Brasil
Estatal agora terá uma atuação positiva e participativa na e o Simples Nacional
consecução da justiça social e do bem-estar de toda so- A Constituição de 1934, sob forte influência da
ciedade. Nessa perspectiva, registra-se a notável Consti- Constituição de Weimar, foi a primeira do Brasil a de-
tuição Mexicana de 1917, que, a despeito de disciplinar os dicar um capítulo exclusivo para a Ordem Econômica e
direitos dos trabalhadores, a função social da propriedade Social (Título IV, arts. 115 a 143). Constitucionalmente
e cuidar da reforma agrária, teve pouca repercussão inter- falando, inicia-se com esta Lei Fundamental do país o Es-
nacional. Também, nesse mesmo contexto, sublinha-se a tado do bem-estar social brasileiro, pois nenhuma outra
Constituição de Weimar, de 1919, da Alemanha, na qual havia consignado os direitos econômicos e sociais, da se-
se encontram constitucionalizados os direitos individuais gunda dimensão. Destaca-se que leis infraconstitucionais
e os direitos sociais, entre os quais se destacam os direitos já cuidavam desses direitos, mormente, os inerentes ao
à educação e à cultura.14 trabalho, como o Decreto nº 21.175/32, que instituiu a
Assinala-se que os direitos fundamentais da se- carteira profissional, o Decreto nº 19.770/31, que regula-
gunda dimensão não se restringiram apenas aos direitos va a sindicalização das classes patronais e dos operários.
de cunho positivo, pois constata-se no rol desses direitos No que tange aos direitos econômicos, o art. 115,
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
as conhecidas liberdades sociais, consistentes na liberda- da Carta de 1934, estabelecia que a ordem econômica
de de sindicalização, do direito de greve, bem assim no fosse organizada pelos princípios da Justiça e das neces-
reconhecimento de direitos fundamentais dos trabalha- sidades da vida nacional, visando possibilitar existência
dores, a exemplo do direito a férias, ao repouso semanal digna a todos. O art. 116 rezava que, por motivo de inte-
remunerado, à garantia de um salário mínimo e à limita- resse público, a União poderia monopolizar determinada
ção da jornada de trabalho, dentre outros que importam indústria ou atividade econômica. Também, à guisa de
exemplo, o art. 121 dispunha que a lei promoveria o am-
paro à produção, bem como estabeleceria as condições do
trabalho na área urbana e rural.
13
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais.
9. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2008. p. 55.
14 15
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol- SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais.
vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São 9. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
Paulo: Malheiros, 2005. p. 13. 2008. p. 56. 73
Claudio Gonçalves Pacheco

Leciona José Afonso da Silva que: sequilíbrios regionais, a despeito de aquela Constituição
No Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira erigir um poder federal forte, estimula-se a cooperação e
a consignar princípios e normas sobre a ordem integração nacional. É nesse contexto que a “Questão Re-
econômica, sob a influência da Constituição
alemã de Weimar.1 Isso não quer dizer que, gional”, tema bastante em voga no meio político nacional
nessa disciplina, se colhe necessariamente um na década de 1950, desperta a atenção e o debate em âm-
“sopro de socialização”. Não, aqui, como no bito nacional, resultando assente que o desenvolvimento
mundo ocidental em geral, a ordem econômica
consubstanciada na Constituição não é senão do país, no sentido de suprimir as desigualdades regio-
uma forma econômica capitalista,2 porque ela nais, só se realizaria mediante a atuação firme do poder
se apoia inteiramente na apropriação privada
dos meios de produção e na iniciativa privada
estatal por meio de investimentos materiais e, segundo
(art. 170). Isso caracteriza o modo de produção o planejamento estabelecido pela Comición Econômica
capitalista, que não deixa de ser tal por eventual para América Latina (CEPAL), órgão recém-fundado,
ingerência do Estado na economia nem por cir-
cunstancial exploração direta de atividade eco- para auxiliar os países latinos a desenvolverem-se econô-
nômica pelo Estado e possível monopolização mica e socialmente.
de alguma área econômica, porque essa atuação
estatal ainda se insere no princípio básico do Durante a Constituição de 1946, os trabalhos de-
capitalismo que é a apropriação exclusiva por
senvolvidos pela CEPAL tiveram forte influência no de-
uma classe dos meios de produção, e, como é
essa mesma classe que domina o aparelho esta- bate político do país, mormente, nos idos de 1949 a 1964,
tal, a participação deste na economia atende a período em que o Estado deixa de atuar como simples
interesses da classe dominante.
prestador de serviço e passa a ser a força propulsora e de
A atuação do Estado, assim, não é nada menos
transformação das estruturas econômicas, configurando
do que uma tentativa de pôr ordem na vida eco-
nômica e social, de arrumar a desordem que no principal catalisador da industrialização. Todavia, o
provinha do liberalismo.16 processo de industrialização pelo qual passaram os países
Assim, a partir da Constituição de 1934, as suces- latino-americanos não foi capaz de reduzir as desigualda-
sivas Leis Fundamentais do país dedicaram um capítulo des sociais, levando a CEPAL a rever seus projetos e re-
exclusivo para a Ordem Econômica e Social, prescreven- conhecer que essas duas plataformas políticas “[...] deve-
do a intervenção do Estado na economia e disciplinando riam ser executadas conjuntamente, ou seja, o desenvol-
os direitos trabalhistas. A Carta outorgada de 1937 cui- vimento econômico não viria antes do desenvolvimento
dou da ordem econômica e social nos arts. 135 a 155. A social, mas seriam interdependentes”.18
Constituição democrática de 1946, por sua vez, normati- Já a política econômica e social implementada pe-
zou essa matéria no Título V, nos arts. 145 a 162. Por seu los governos militares, autodenominados salvaguardas da
turno, a Constituição de 1967 regrou tal disciplina no Tí- pátria, sob a égide da Constituição de 1967, não foi capaz
tulo III, nos arts. 157 a 166. A Constituição de 1988 rom- de alavancar o tão esperado desenvolvimento econômico
peu com essa sistemática, apartando, em títulos distintos, e social. Ao contrário, a política econômica do presidente
a atuação estatal nesses dois setores, estabelecendo, no Castelo Branco, posta em execução por Roberto Campos,
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

Título VII, nos arts. 170 a 192, a Ordem Econômica e Fi- seu Ministro do Planejamento, e por Octávio Gouveia de
nanceira, e, no Título VIII, nos arts. 193 a 232, cuidou da Bulhões, seu então Ministro da Fazenda, provocou gran-
Ordem Social. de concentração de capital, bem como a política de con-
Observa Gilberto Bercovici17 que coube à Cons- gelamento de salários desencadeou a maior crise de re-
tituição de 1946 a consolidação da estrutura cooperativa cessão que o país já enfrentou. Não menos desastrosa, foi
do federalismo brasileiro, vez que a de 1934 já a estabele- a política de crédito desse governo, vez que “[...] sacrifi-
cia. Nessa perspectiva, torna-se imperativo reduzir os de- cou as pequenas, médias e até parte das grandes empresas
brasileiras. A maioria das empresas nacionais associou-se
ou foi absorvida/incorporada pelos grandes grupos na-

16
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positi-
vo. 30. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 786.
17 18
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol- BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol-
vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São
74 Paulo: Malheiros, 2005. p. 25. Paulo: Malheiros, 2005. p. 27.
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

cionais ou transnacionais. A alternativa para grande parte Nos governos militares, a participação do Estado
das restantes era a falência”.19 brasileiro na economia foi em um contínuo crescimen-
to, propiciando as condições ideais para aumentar e de-
Todavia, seria leviano deixar de consignar os di-
senvolver o setor privado, principalmente beneficiando a
versos diplomas legais editados nos governos militares,
classe empresarial estrangeira ao lhe facilitar o acesso ao
com nítido viés de intervenção do Estado brasileiro dessa
crédito para que pudesse expandir-se no país. O quadro
época na ordem econômica e social do país, com vistas a
empresarial da sociedade brasileira transforma-se, no Re-
implementar políticas públicas de promoção e fomento
gime Militar, posto encontrar-se sob o domínio de gran-
das micro e pequenas empresas, as quais, se não produzi-
des conglomerados transnacionais, o que intensificou a
ram os resultados almejados, demonstraram o inequívo-
dependência da economia brasileira de investimentos ex-
co propósito político do governo de beneficiar esse seg-
ternos e, novamente, está o Governo tendo que se sujeitar
mento empresarial, ainda que se deram no ocaso desse
às ingerências em sua economia, vez que os poderes de
regime ditatorial. Aliás, como auxílio dessa sustentação,
direção e decisão da política econômica encontram-se ao
valem-se da legislação compendiada e das ponderações
sabor e a reboque de grupos internacionais.21
vertidas na dissertação de mestrado de Carlos Renato
Cunha.20 Já com a Constituição cidadã de 1988, a ordem
econômica assenta-se na valorização do trabalho huma-
no e na livre iniciativa, bem como tem por fim garantir
existência digna a todos, mediante a consecução da jus-
19
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol- tiça social, norteando-se pelos princípios elencados no
vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 28. art. 170. Entre esses princípios, sublinhem-se a soberania
20
“[...] No entanto, os primeiros passos de maior relevância nacional, a propriedade privada e sua decorrente função
deram-se com propostas do Ministério da Desburocratiza- social, a livre concorrência, a redução das desigualdades
ção, por volta de 1979, que redundaram em algumas medi-
das. Dentre elas, o que nos interessa mais proximamente é o regionais e sociais, a busca do pleno emprego e, mormen-
Decreto-Lei n. 1.780, de 14 de abril de 1980, que previu isen- te para os propósitos desse trabalho, o tratamento favo-
ção de imposto sobre a renda para pequenas empresas, assim
como dispensa de “obrigações acessórias”, - com posteriores
recido para as empresas brasileiras de capital nacional de
modificações e implicações dos Decretos-Lei n. 1.973, de 30 pequeno porte. Os arts. 172 a 181 dispõem sobre a orga-
de novembro de 1982, n. 2.064 de 19 de outubro de 1983 e nização da ordem econômica e sobre a atuação do Estado
2.065, de 26 de outubro de 1983.
A Lei Federal n. 6.939, de 9 de setembro de 1981, estabeleceu no domínio econômico, estabelecendo a estruturação de
o regime sumário de registro e arquivamento no Registro do uma ordem econômica aberta para a edificação de uma
Comércio para as firmas individuais e sociedades mercantis,
sociedade de bem-estar social.
sob determinadas condições.
Em 1984 foi promulgada a Lei Federal n. 7.256, de 27 de no-
Conquanto o nosso atual ordenamento constitu-
vembro de 1984, que instituiu o Estatuto da Microempresa,
prevendo um tratamento jurídico diferençado, e “[...] que se cional juridicamente bem sistematizar a política de in-
notabilizou como o mais importante texto legislativo sobre o tervenção do Estado brasileiro no domínio econômico e
tema, no período anterior à Constituição de 1988”. Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
O referido texto legal previa, além da definição de microem- social, observa José Afonso da Silva que os princípios do
presa, benefícios tributários em relação a tributos federais e art. 170 e o próprio discurso constitucional visam mate-
em relação a deveres instrumentais, assim como nos campos rializar a ordem capitalista, sentenciando que:
administrativo, trabalhista, previdenciário, creditício e de de-
senvolvimento empresarial, “[...] sem revogar os dispositivos Não nos enganemos, contudo, com a retórica
anteriores concedendo isenções e estímulos nos aspectos es- constitucional. A declaração de que a ordem
pecificamente não cogitados no texto respectivo”. econômica tem por fim assegurar a todos exis-
    À época, vigente a Constituição de 1967, com a Emenda n. tência digna, só por si, não tem significado
1, de 17 de outubro de 1969, podia a União instituir isen- substancial, já que a análise dos princípios que
ção heterônoma, nos termos de seu artigo 19, § 2º. E o fez,
através da Lei Complementar n. 48, de 10 de dezembro de
1984, isentando do Imposto sobre Circulação de Mercadorias
- ICM e do Imposto sobre Serviços - ISS, de competência dos
Estados-membros e do Município, respectivamente; - que foi
posteriormente modificada pela Lei Complementar n. 57, de
21
18 de dezembro de 1987.” CUNHA, Carlos Renato. O simples BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol-
nacional, a norma tributária e o princípio federativo: limites da vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São
praticabilidade tributária. Curitiba: [s.n], 2010. Paulo: Malheiros, 2005. p. 29. 75
Claudio Gonçalves Pacheco

informam essa mesma ordem não garante a efe- de apoio à classe empresarial brasileira menos abastada,
tividade daquele fim.22 visto que, até aqui, o que se viu foi favorecimento do capi-
Eros Roberto Grau também pontua que a repre- tal estrangeiro, como ocorreu no processo da privatização
sentação política da classe proprietária no Poder Legisla- das estatais. Aliás, nesse particular, oportuna a observa-
tivo, e, em especial, na estrutura administrativa do Execu- ção de Gilberto Bercovici, in verbis:
tivo, busca a defesa de seus próprios interesses e organiza As empresas públicas e privadas foram estimu-
ladas a captar recursos no exterior, com o Esta-
a distribuição de favores, arrematando que:
do assumindo a responsabilidade cambial. Boa
É nesse quadro que se insere a questão da esta- parte das deformações atuais do Estado brasi-
tização. O Estado brasileiro, como produto his- leiro são consequência da sua subordinação a
tórico, cumpriu sua tarefa com grande brilhan- um desenvolvimento que patrocinou transna-
tismo, dentro dos limites impostos pelas formas cionais e serviu a uma minoria, reforçando a
de estratificação e de dominação social que o exclusão da maioria da população.24
engendraram. Em seu trabalho de impulsionar
o capitalismo e a industrialização, o Estado bra- 3.1.3 A Constituição econômica na atualidade
sileiro assumiu uma postura escancaradamente
oligárquico-privatista. Esmerou-se na conces- Com o advento do constitucionalismo social, cujas
são de favores, incentivos, estímulos, sem exi-
aspirações por justiça social e por maior intervenção no
gir contrapartida. A seleção dos beneficiários
dependeu sempre de critérios pessoais, estra- domínio econômico e social são mais bem sistematizadas
nhos às regras da competição e da igualdade de nas constituições do pós-guerra, seja na Europa, seja nos
oportunidades. ‘Para os amigos, tudo, para os
inimigos, a lei’ — é uma frase de conteúdo pro- países da América Latina, o debate em torno da Consti-
fundamente antiliberal e também, de passagem, tuição Econômica cingiu-se em reconhecer que as Leis
antidemocrático.
Fundamentais atuais não se conformam com a estrutu-
A intervenção do Estado na economia foi a ra econômica e social herdada, mas procuram imprimir
marca comum da industrialização dos países
retardatários europeus e asiáticos e desta sina mudanças que as possibilitem criar as condições para
não escapou nenhum dos retardatários de se- promoção do bem-estar social. Nesse sentido, as aludi-
gunda geração, como Brasil, México, Coreia,
das Constituições, ao visarem determinados objetivos na
Taiwan. Cada Estado, à sua moda.23
ordem econômica, como um programa a ser cumprido,
Contudo, nesse evoluir da história político-eco- denotam o seu viés de acentuado dirigismo estatal, não
nômica do Brasil, e, em especial, no que toca e se insere aceitando mais a máxima liberal que apregoa a não inter-
a política pública do Simples Nacional, no quadro dos venção do Estado no domínio econômico, vez que para
pressupostos princípios constitucionais de fomento ao esta política o mercado se autorregula.
setor econômico, pode-se sustentar que, dado o seu cará-
Nessa perspectiva, ensina Gilberto Bercovici que:
ter de inegável inclusão social, abarcando a maior parcela
As Constituições Econômicas do século XX
da classe empresarial brasileira, qual seja, a dos micro e
buscam a configuração política do Econômico
pequenos empresários, tal política constitui o resgate de pelo Estado. Deste modo, a característica es-
um compromisso ético do Estado brasileiro para com sencial da atual Constituição Econômica, uma
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

vez que as disposições Econômicas sempre


seus cidadãos, tornando menos abstrato o sonho de uma existiram nos textos, é a previsão de uma ordem
justiça social. Isto porque o Simples Nacional represen- Econômica programática, estabelecendo uma
Constituição Econômica diretiva, no bojo de
ta a reorientação ou retomada da intervenção do Poder
uma Constituição Dirigente.25
Público na atividade econômica com o propósito de de-
senvolvimento das micro e pequenas empresas, mediante Desse modo, conforme se infere da doutrina da
a simplificação de suas obrigações administrativas, tribu- Constituição Dirigente, a Constituição não consiste na
tárias, previdenciárias e creditícias, se é que na história do mera garantia da situação existente, mas almeja estabele-
país é possível constatar tão claro e deliberado programa

24
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol-
vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São
22
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positi- Paulo: Malheiros, 2005. p. 30.
25
vo. 30. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 788. BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvi-
23
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 6. mento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São Pau-
76 ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 142. lo: Malheiros, 2005. p.34.
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

cer um programa para o futuro. Nessa medida, a Consti- Estado social de direito, o qual abarca traços do Estado
tuição, ao traçar o esboço das políticas no âmbito econô- de bem-estar que emergiu no século XX, resta saber, nes-
mico-social, promove a interação e a vinculação mútua sa medida, se o Simples Nacional é uma política pública.
entre Estado e sociedade, o que outra coisa não significa Aceitando que o seja, insta, então, conceituar o que seja
senão alteração da realidade pelo direito. Assim, a ordem política pública e demonstrar que esse amplo programa
jurídica constitucional materializa-se pelo contínuo pro- de favorecimento diferenciado dispensado às microem-
cesso de transformação social e, por consequência, de presas e empresas de pequeno porte enquadra-se nas ba-
mudança da sociedade. lizas desse conceito e que é matéria de interesse do Direi-
to Público. Para tal mister, valer-se-á ainda do magistério
Por esse encadeamento de raciocínio, é corre-
de Maria Paula Dallari Bucci, seja na conceituação, seja
to sustentar que a Constituição de 1988 consubstancia
apoiado em sua doutrina para inferir e sustentar que se
numa verdadeira Constituição Dirigente, o que pode ser
trate de uma política pública de alcance nacional. Assim,
facilmente demonstrado pelos objetivos fundamentais da
eis sua lição a respeito:
República insertos em seu art. 3º, in verbis:
Políticas públicas são programas de ação go-
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
vernamental visando a coordenar os meios à
República Federativa do Brasil:
disposição do Estado e as atividades privadas,
I - construir uma sociedade livre, justa e soli- para a realização de objetivos socialmente rele-
dária; vantes e politicamente determinados. Políticas
públicas são “metas coletivas conscientes” e,
II - garantir o desenvolvimento nacional; como tais, um problema de direito público, em
III - erradicar a pobreza e a marginalização e sentido lato.27
reduzir as desigualdades sociais e regionais;
Sentencia Gilberto Bercovici que, a despeito das
IV - promover o bem de todos, sem pre-
políticas públicas apresentarem-se de significativa im-
conceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação portância para a epistemologia individualista do Direito
Administrativo, não é razoável conceber a atividade do
3.1.4 O Simples Nacional como política pública Estado numa sistemática de desenvolvimento especifica-
Conceber a ideia de política pública como decor- mente sob a perspectiva das políticas públicas, tendo em
rente da instituição do Estado de bem-estar, o qual tem vista que elas circunscrevem em setores determinados de
como traço distintivo a intervenção no social e na eco- programação, concluindo que a colisão existente opera-
nomia para consecução do seu fim de promotor da justi- -se “[...] entre a visão global e a de territorialidade, que é
ça social, em um momento em que se tem como certa a a do desenvolvimento e do planejamento, com uma visão
proposição da exaustão desse Estado, constatável não só setorial e fragmentada, que é a das políticas públicas”.28
por autores neoliberais, torna-se tormentoso e pouco crí- Todavia, em sentido oposto à ideia de princípio, a
vel admitir o Estado contemporâneo como implementa- política pública quer significar um protótipo de conduta
dor de políticas públicas. Todavia, sentencia Maria Paula que visa atingir metas determinadas e de cunho coleti- Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
Dallari Bucci que: vo, em especial destinadas à melhoria na área econômica,
[...] a noção de política pública é válida no es- política, ou social da sociedade. Nesse sentido, observa-se
quema conceitual do Estado social de direito,
que absorve algumas das figuras criadas com o seu propósito de transcender a noção da norma geral e
o Estado de bem-estar, dando a elas um novo abstrata da qual se depreende da máquina administrativa
sentido, agora não mais de intervenção sobre a
do Estado, levando para o Direito Público a compreensão
atividade privada, mas de diretriz geral, tanto
para a ação de indivíduos e organizações, como de política pública como um plano, um projeto de ação.29
do próprio Estado.26

Admitindo, assim, que as políticas públicas confi-


27
BUCCI, Maria Paula Dallari. Políticas públicas: reflexões so-
guram diretrizes gerais decorrentes da sistemática de um
bre o conceitojurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 241.
28
BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvol-
vimento: uma leitura a partir da Constituição de 1988. São
Paulo: Malheiros, 2005. p. 62-63.
26 29
BUCCI, Maria Paula Dallari. Políticas públicas: reflexões so- BUCCI, Maria Paula Dallari. Políticas públicas: reflexões so-
bre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 247. bre o conceitojurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 252-3. 77
Claudio Gonçalves Pacheco

Tendo conceituado o instituto da política pública, um mesmo diploma legal. Antes não se tinha registro, a
cumpre agora demonstrar que o Simples Nacional apre- não ser a ocorrência de forma separada pelas instâncias
senta os caracteres que, uma vez exteriorizados, revele-o de governo federal, estadual e municipal, por meio de le-
como tal, de sorte a ser reconhecido e aferido pelo sistema gislações federal, estadual e municipal e não de uma lei
jurídico como uma legítima política pública. Maria Paula nacional, como a lei complementar do Simples Nacional,
Dallari Bucci30 observa que, quando se cria determinado que abarcasse espécies tributárias dos três entes tributan-
programa, este suscita o aparecimento de interessados, tes existentes em nossa federação. Todavia, com a promul-
titulares de direitos específicos, discriminados por medi- gação da LC nº 123/2006, a qual veio regulamentar aludi-
das a serem satisfeitas e estabelecidas pelo programa, an- do direito, instituindo a sistemática do Simples Nacional,
tes não contempladas ou estendidas por qualquer motivo, o legislador infraconstitucional deu existência material a
ou por lhes assistirem direitos apenas abstratamente, bem essa diretriz constitucional, pois essa lei determinou de-
como, pode-se acrescentar, surgem os destinatários da talhadamente os titulares do direito, quais sejam, as mi-
norma. Todas essas características denunciam, uma vez croempresas, nelas inclusos os microempreendedores
encontradas em um programa, a sua existência jurídica individuais, as empresas de pequeno porte, bem assim
como uma política pública. especificou os destinatários da norma, a saber, os Poderes
Públicos da União, dos Estados-Membros, do Distrito Fe-
Nessa perspectiva, é verdadeiro assegurar que o deral e dos Municípios, restando, assim, comprovado, nos
sistema simplificado de arrecadação denominado Simples moldes da doutrina adotada, que se trata de uma política
Nacional, instituído pela Lei Complementar nº 123/2006, pública de âmbito e projeção em todo território nacional,
é uma política pública, posto existirem titulares de direi- bem assim a própria LC nº 123/2006, em seus arts. 47 e 76,
tos e destinatários da norma concretos e determinados. faz referência ao Simples Nacional como política pública.
Nesse ponto, cabe assentar que se toma a ideia de titular
de direito e destinatário da norma na esteira da doutrina 3.2 O Simples Nacional em face da constituição
federal de 1988
de Ingo Sarlet, que leciona:
Titular do direito, notadamente na perspectiva A política pública de minoração e simplificação
da dimensão subjetiva dos direitos e garantias tributária, trabalhista, previdenciária e processual, des-
fundamentais, é quem figura como sujeito ativo tinada à Microempresa e à Empresa de Pequeno Porte,
da relação jurídico-subjetiva, ao passo que des-
tinatário é a pessoa (física, jurídica ou mesmo tem sede e substrato constitucional. Nessa medida, o Po-
ente despersonalizado) em face da qual o titular der Constituinte Derivado reformador, com vista a não
pode exigir o respeito, proteção ou promoção permitir que o princípio da isonomia tributária tivesse
do seu direito.31
existência puramente formal em nossa Lex Mater de
Portanto, uma vez que o legislador constituinte ha- 1988, introduziu novos dispositivos constitucionais com
via previsto no art. 146, parágrafo único, inciso III, letra o fito de fazer valer uma igualdade material, substancial,
“d”, bem como no art. 170, inciso IX e no art. 179, todos da a este preceito mor de nossa Carta Política, que, em úl-
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

Constituição Federal de 1988, a espécie normativa, isto é, tima instância, quer significar em tratar igualmente os
lei complementar, que estabeleceria o tratamento jurídico iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas
diferenciado e favorecido para as microempresas e empre- desigualdades.
sas de pequeno porte, com o objetivo de incentivá-las me-
Para tanto, através da Emenda Constitucional nº
diante a simplificação de suas obrigações administrativas, 6, de fevereiro de 1995, que alterou a redação do inciso
tributárias, previdenciárias e creditícias, tal direito tinha IX do art. 170 (EC nº 6/1995), e da Emenda Constitucio-
existência apenas abstratamente, pelo menos no sentido nal nº 42, de dezembro de 2003 (EC nº 42/2003), por sua
de abarcar as três esferas de governos, conjuntamente, em vez, incorporou a alínea “d” ao inciso III e um parágrafo
único ao art. 146 da Constituição Federal, buscaram-se
30
BUCCI, Maria Paula Dallari. Políticas públicas: reflexões so- favorecer as microempresas e as empresas de pequeno
bre o conceitojurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 256. porte, dotando-as de regimes especiais ou simplificados
31
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais.
9. ed. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, de arrecadação dos impostos e contribuições da União,
78 2008. p. 227. dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

A Exposição de Motivo Interministerial nº 37, regime único de arrecadação, restando revogadas, nesses
de 16 de fevereiro de 1995, dos Ministros de Estado da termos, todas as normas concernentes à tributação das
Justiça, da Fazenda, do Planejamento e Orçamento, da microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito
Previdência e Assistência Social, da Administração e Re- federal, estadual e municipal.
forma do Estado e de Minas e Energia (EMI nº 37/1995),
O mote de legitimação para promulgação desta
constante da Proposta de Emenda Constitucional nº 5 de
aludida LC nº 123/2006 encontra sua fundamentação
1995 (PEC nº 5/1995), que deu origem à Emenda Cons-
na Justificação do Projeto de Lei e Outras Proposições
titucional nº 6, de 1995 (EC nº 6/1995), apresentou nova
nº 123/2004, (PLP nº 123/2004), de autoria do Depu-
redação ao inciso IX do art. 170, da CF/1988, cuja justi- tado Federal Jutahy Júnior, do PSDB da Bahia, que, em
ficativa de motivação ateve-se a conferir às empresas de linhas gerais, sustenta que o sucesso do Simples Federal
pequeno porte, tratamento favorecido, como incentivos e (Lei nº 9.317/96) estimulou a reprodução legislativa des-
benefícios especiais por ser um setor estratégico da eco- sa sistemática simplificadora de arrecadação dos tributos
nomia nacional, bem como ser ela uma política que vá estaduais em 21 Estados-Membros. Todavia, os diversos
ao encontro do projeto de desenvolvimento econômico e limites de enquadramento e alíquotas de recolhimento
social de promoção de uma economia moderna, dinâmi- existentes são muito diferentes entre os entes federados.
ca e competitiva. Trouxe, também, como razão de persuasão, dados do
Contudo, já na Exposição de Motivo Intermi- BNDES que dão conta que as receitas das microempre-
nisterial nº 84, do Ministério da Fazenda e do Ministé- sas e empresas de pequeno porte, em 2001, totalizaram a
rio da Casa Civil (EMI nº 84/MF/C.Civil), constante da quantia de R$ 168 bilhões e 200 bilhões, respectivamente,
Proposta de Emenda Constitucional nº 41 de 2003 (PEC que cerca de 1 milhão e 100 mil dessas micros e peque-
nº 41/2003), que redundou na EC nº 42/2003, no tocante nas empresas tinham, em cada uma delas, pelo menos um
ao ICMS, encontram-se justificativas mais convincentes empregado registrado e as demais vagas existentes eram
para a promoção de políticas públicas voltadas para o ocupadas pelos próprios familiares do empresário ou só-
apoio às microempresas e às empresas de pequeno porte, cios das empresas, concluindo que 926 mil famílias esta-
consistentes na constatação da existência de um quadro vam diretamente envolvidas no negócio, na condição de
dantesco de complexas legislações, em que cada Estado proprietários ou sócios.
da federação tem a sua própria regulamentação, o que, Deixou também consignado na referida Justifica-
consequentemente, oportuniza uma colcha de retalhos de ção do PLP nº 123/2004 que, segundo dados do BNDES,
27 (vinte e sete) diferentes legislações a serem observadas 98% do total de empresas do país são constituídas de
pelos contribuintes, gerando transtornos para compreen- microempresas e empresas de pequeno porte, que repre-
dê-las e dissabores para encontrar-se atualizado em face sentam 93% dos estabelecimentos empregadores, confi-
das várias Casas legiferantes. Também é um dado que gurando a cerca de 60% dos empregos gerados no Brasil,
muito acirra tal situação o fato de existir grande diver- com participação de 43% da renda total dos setores in-
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
sidade de alíquotas e de benefícios fiscais, dando ensejo dustrial, comercial e de serviços.
a um constante estado de beligerância entre os Estados,
Por fim, conforme a Justificação citada, malgrado
configurando no famigerado e denominado quadro de
esses dados extremamente alentadores, as microempresas
“guerra fiscal”.
e as empresas de pequeno porte pouco têm sido assistidas
Nessa perspectiva, a LC nº 123/2006 veio regula- por políticas públicas que favoreçam o seu desenvolvimen-
mentar a letra “d”, do inciso III, o parágrafo único, ambos to, sejam em sede federal, estadual ou municipal à altura
do art. 146 e o inciso IX do art. 170, bem como o art. de sua importância para o desenvolvimento nacional, o
179, todos da CF/1988, atinentes ao tratamento diferen- que, por si só, fazem-nas merecedoras da implantação do
ciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e SUPERSIMPLES, que compreenda um regime único de
às empresas de pequeno porte, no âmbito dos Poderes da arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos
União, dos Estados-Membros, do Distrito Federal e dos Estados e Municípios e a unificação da legislação para des-
Municípios, no tocante à apuração e recolhimento dos burocratizar esse segmento e facilitar a fiscalização e o re-
impostos e contribuições de suas competências, mediante colhimento com a instituição desta sistemática unificadora. 79
Claudio Gonçalves Pacheco

Na referência feita ao sucesso da Lei nº 9.317/96 3.2.1 Características e natureza jurídica do Simples
(Simples Federal), na qual o seu art. 4º previa a possibi- Nacional
lidade da inclusão do ICMS e do ISS, mediante convênio Antes da instituição do Simples Nacional, a União,
de adesão da unidade federada detentora da capacidade o Distrito Federal e os Estados-Membros, este, segundo
tributária ativa de seu respectivo tributo, nota-se que suas realidades socioeconômicas, buscaram dar materia-
houve baixa adesão ao Simples Federal por parte dos en- lidade jurídica infraconstitucional aos comandos conti-
tes federados, conforme atestam Silas Santiago32 e Sérgio dos no inciso IX, do art. 170 e na norma programática
Karkache.33 contida no art. 179, ambos da CF/1988.36 Nessa senda,
Silas Santiago observa que: tanto a União quanto os Estados-Membros já vinham
implementando políticas públicas norteadoras com este
Todavia, essa possibilidade de inclusão do
ICMS ou do ISS no Simples Federal não teve viés inclusivista de privilegiar esse segmento empresarial,
efetividade. Raríssimos Municípios fizeram tanto que em sede legislativa federal foram editadas as
a adesão — pouco mais do que uma centena.
Alguns Estados assinaram o convênio, mas ne- Leis nº 8.864/94 (Estatuto da Microempresa e Empresa
nhum permaneceu.34 de Pequeno Porte), nº 9.317/96 (Simples Federal) e nº
9.841/99 (Estatuto da Pequena Empresa). Já, em instância
Já em suas considerações, Sérgio Karkache pontua
estadual, no Estado de Goiás, instituiu-se a Lei nº 13.270,
que:
de 29 de maio de 1998, para dar um tratamento tributário
Não obstante inicialmente muitos Estados e
Municípios tenham aderido ao SIMPLES Fe- diferenciado aplicável às microempresas e às empresas de
deral, celebrando convênios e delegando a Ad- pequeno porte goianas, no que tange ao recolhimento do
ministração, com o passar dos anos esta ade- ICMS. Todavia, constatou-se que a previsão de sistemas
são reduziu significativamente [...]. Os autores
apontam como possíveis causas deste fenômeno simplificados de tributação estabelecidos pelos entes fe-
fatores como o desinteresse das entidades des- derados trouxe distorções no sistema tributário e um ple-
centralizadas em abrir mão de sua atividade fis-
cal (em especial do poder de legislar) e também
xo normativo federal e estadual confuso e que pecava pela
o receio de terem sua autonomia mutilada. É falta de uniformização. Nesse contexto, visando unificar
possível lembrar outros, tais como: a) falta de a legislação e simplificar a sistemática de tributação, bem
flexibilidade e de atualização dos critérios de
adesão no SIMPLES Federal. [sic] b) ausência como desatar os entraves burocráticos da microempresa
de sintonia com as diferenças sócio-econômicas e da empresa de pequeno porte, e, dessa forma, criar as
regionais no Brasil; c) ineficiência crescente do
condições necessárias para a existência de uma efetiva in-
SIMPLES Federal na tarefa de desonerar as pe-
quenas empresas, em especial em determinados tegração federativa no âmbito tributário, foi aprovada a
setores econômicos.35 EC nº 42/2003, a qual inseriu a letra “d” ao inciso III e um
De todo o arrazoado ostentado, tanto nas duas ex-
posições de motivos apresentadas quanto na justificação
do PLP nº 123/2004, restou comprovada a importância
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

das microempresas e das empresas de pequeno porte


para o desenvolvimento da sociedade brasileira como um
todo, configurando despiciendo levantar qualquer outro
36
dado de arrematação. “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
[...]
32
SANTIAGO, Silas. Simples nacional: o exemplo do federalis- IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno
mo fiscal brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 23. porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua
33
KARKACHI, Sérgio, 2009 apud CUNHA, Carlos Renato. O sim- sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda
ples nacional, a norma tributária e o princípio federativo: limites da pra- Constitucional n. 6, de 1995)
ticabilidade tributária. Curitiba: [s.n], 2010. Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
34
SANTIAGO, Silas. Simples nacional: o exemplo do federalis- nicípios dispensarão às microempresas e às empresas de
mo fiscal brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 23. pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico
35
KARKACHI, Sérgio, 2009 apud CUNHA, Carlos Renato. O sim- diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas
ples nacional, a norma tributária e o princípio federativo: limites da pra- obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e cred-
80 ticabilidade tributária. Curitiba: [s.n], 2010, p. 236. itícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.”
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

parágrafo único ao art. 14637, da CF/1988. Também, vi- ou vício de inconstitucionalidade que se possa alegar por
sando intensificar o desenvolvimento da política de apoio invasão de competência, ainda que tais revogações não
às micro e pequenas empresas, a EC nº 42/2003 inseriu o viessem determinadas no art. 94 do ADCT. Se haveria
inciso XXII, no art. 3738 da CF/1988. alguma inconstitucionalidade a ser arguida, esta deveria
circunscrever-se a questionar a constitucionalidade das ci-
Nessa perspectiva, o Congresso Nacional, ao ocu-
tadas emendas constitucionais, quais sejam, EC nº 6/1995
par-se da edição da LC nº 123/2006, atuou em prol da
e n. 42/2003, mas não a LC nº 123/2006, que seguiu a risca
Nação, em nome e na competência do Estado Federal, ao
e se ateve nos limites desses preceitos constitucionais.
produzir essa norma nacional, e não da União enquanto
ente federativo, como o fez na edição da Lei nº 9.317/96 Heleno Taveira Torres, ao tratar do alcance da
lei complementar e das diversas competências
(Simples Federal). A Lei Complementar do Simples Na- legislativa do Congresso Nacional, observa que:
cional consiste em genuína Lei Nacional, seja em razão Por determinação constitucional, no Brasil, o
da matéria, seja da forma, por expressa autorização cons- Congresso Nacional exerce três funções legis-
titucional, como se vê estampado nas retrocitadas normas lativas distintas: é i) constituinte derivado, ao
discutir e votar Emendas à Constituição, e é o
constitucionais, tendo seus arts. 88 e 89, plena efetividade legislador ordinário da União, sob duas moda-
para revogar as leis federais e todas dos Estados-Membros lidades: ii) legislador federal, exercer as compe-
tências típicas da União, na qualidade de pessoa
que tratassem do regramento tributário das microempre- de direito público interno, plenamente autôno-
sas e das empresas de pequeno porte, sem qualquer nódoa ma: e iii) legislador nacional, ao dispor sobre
normas gerais aplicáveis às quatro pessoas po-
líticas, nas matérias previstas no art. 24, da CF,
37 e em outras previstas no corpo da Constituição.
“ Art. 146. Cabe à lei complementar:
[...] Percebe-se, assim, que a Constituição atribuiu
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tribu- funções distintas a um mesmo órgão legislativo,
tária, especialmente sobre: sob a forma de competências típicas: ao exercer
[...] o poder de reforma, com poderes para alterar
d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as a fisionomia constitucional, criando ou modi-
microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclu- ficando inclusive suas próprias competências
sive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto e das demais pessoas políticas, desde que não
previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. afete as chamadas cláusulas pétreas do art. 60,
195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. IV, CF; e como legislador ordinário, a partir
(Incluído pela Emenda Constitucional n. 42, de 19.12.2003). das atribuições materiais de competência, esta-
[...] belecendo as tipificações das condutas, por lei
Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, específica, bipartindo-se em legislador federal e
d, também poderá instituir um regime único de arrecadação legislador nacional.39
dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Municípios, observado que: (Incluído pela A LC nº 123/2006, que instituiu o Simples Nacio-
Emenda Constitucional n. 42, de 19.12.2003)
nal, estabeleceu a unificação de toda legislação relativa às
I - será opcional para o contribuinte; (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 42, de 19.12.2003). referidas empresas, disciplinando, dentre outras matérias:
II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento
diferenciadas por Estado; (Incluído pela Emenda Constitu- a) definição de microempresa e de empresa Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
cional n. 42, de 19.12.2003). de pequeno porte (art. 3º);
III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distri-
buição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos b) os limites e as vedações para que tais em-
entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou
condicionamento; (Incluído pela Emenda Constitucional n.
presas possam ingressar no Simples Na-
42, de 19.12.2003). cional (arts. 3º e 17);
      IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser
compartilhadas pelos entes federados, adotado cadastro na- c) tratamento diferenciado e favorecido no
cional único de contribuintes. (Incluído pela Emenda Consti- que tange:
tucional n. 42, de 19.12.2003)”.
38
“[...] XXII - as administrações tributárias da União, dos Esta- c1) à abertura, ao registro, ao funciona-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essen-
ciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores mento e à baixa (arts. 4º a 11);
de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a rea-
lização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclu-
39
sive com o compartilhamento de cadastros e de informações TORRES, Heleno Taveira. Teoria geral da obrigação tributá-
fiscais, na forma da lei ou convênio. (Incluído pela Emenda ria: estudos em homenagem ao professor José Souto Maior
Constitucional n. 42, de 19.12.2003).” Borges. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 148. 81
Claudio Gonçalves Pacheco

c2) ao acesso ao crédito, aos mercados e • Contribuição Patronal Previdenciá-


às exportações (arts. 42 a 63); ria (CPP);

c3) à preferência de contratação nas aqui- • Imposto sobre Operações Relativas


sições de bens e serviços pelos Pode- à Circulação de Mercadorias e Sobre
res Públicos (art. 44); Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de
c4) à simplificação nas relações de traba-
Comunicação (ICMS); e
lho (arts. 50 a 52);
• Imposto sobre Serviços de Qualquer
c5) à fiscalização orientadora no tocante
Natureza (ISS).
aos aspectos trabalhistas, metrológi-
co, sanitário, ambiental e de seguran- - gestão compartilhada a cargo do Comitê
ça (art. 55); Gestor do Simples Nacional (CGSN),
órgão colegiado ligado ao Ministério
c6) ao associativismo (art. 56);
da Fazenda e composto por 8 (oito)
c7) ao incentivo à inovação tecnológica representantes, conforme estabelece o
(arts. 64 a 67); art. 2º, da LC nº 123/2006, quais sejam:
c8) ao acesso à Justiça do Trabalho, aos .4 (quatro) da Secretaria da Receita Federal do
Juizados Especiais, à conciliação pré- Brasil, sendo que um destes preside o aludido comitê;
via, à mediação e à arbitragem (arts.
.2 (dois) dos Estados-Membros e do Distrito Fede-
74 e 75).
ral, indicados pelo Conselho Nacional de Política Fazen-
d) a instituição do Regime Especial Unifica- dária – CONFAZ; e
do de Arrecadação de Tributos e Contri-
2 (dois) dos Municípios, indicados, um pela enti-
buições devidos pelas Microempresas e
dade representativa das Secretarias de Finanças das Capi-
Empresas de Pequeno Porte, ora denomi-
tais e outro pelas entidades de representação nacional dos
nado Simples Nacional (art. 12).
Municípios brasileiros.
Assim, o Simples Nacional, instituído pela LC nº
- autonomia das unidades parcelares para
123/2006, consiste num regime jurídico-tributário unifi-
operacionalizarem a arrecadação, fiscali-
cado dispensado às microempresas e às empresas de pe-
zação e cobrança de todas as espécies tri-
queno porte, que apresenta os caracteres abaixo:
butárias constantes do Simples Nacional,
- sistema unificado e compartilhado de relativas às microempresas e às empresas
apuração, de arrecadação, de fiscalização de pequeno porte sob suas respectivas
e de cobrança, que abrange 8 (oito) circunscrições.
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

espécies tributárias, conforme dispõe o


Como visto acima, o art. 13 da LC nº 123/2006
art. 13 da LC nº 123/2006, a saber: disciplina os tributos e os fatos jurídicos abrangidos pelo
• Imposto sobre a Renda da Pessoa Ju- Simples Nacional. Contudo, no que toca ao ICMS, o inci-
rídica (IRPJ); so XIII, do § 1º, desse artigo, traz os fatos jurídicos relati-
vos ao ICMS que estão fora da incidência da sistemática
• .Imposto sobre Produto Industriali-
de tributação do Supersimples, em relação aos quais será
zado (IPI);
observada a legislação aplicável aos Estados-Membros.
• Contribuição Social sobre o Lucro Eis abaixo os fatos jurídicos não abrangidos, in verbis:
Líquido (CSLL); § 1º O recolhimento na forma deste artigo não
exclui a incidência dos seguintes impostos ou
• Contribuição para o Financiamento contribuições, devidos na qualidade de con-
da Seguridade Social (COFINS); tribuinte ou responsável, em relação aos quais
será observada a legislação aplicável às demais
82 • Contribuição para o PIS/PASEP; pessoas jurídicas:
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

[...] Nunca é demais lembrar que havia esse proble-


ma no que tange ao ISS, nas hipóteses previstas
XIII - ICMS devido:
de retenção na fonte do tributo, quando estavam
a) nas operações ou prestações sujeitas ao regi- sujeitas às alíquotas de retenção determinadas
me de substituição tributária; pelo Município. Corrigiu-se o problema com a
edição da LC n. 128/2008, com vigência a par-
b) por terceiro, a que o contribuinte se ache tir de 1º de janeiro de 2009, modificando-se a
obrigado, por força da legislação estadual ou redação do § 4º do art. 21 da LC n. 123/2006. A
distrital vigente; alíquota de retenção na fonte passou a ser equi-
c) na entrada, no território do Estado ou do valente ao percentual do ISS ao qual a empresa
Distrito Federal, de petróleo, inclusive lubrifi- está sujeita no Simples Nacional. Deixou de ha-
cantes e combustíveis líquidos e gasosos dele ver, a partir daí, o prejuízo à empresa optante
derivados, bem como energia elétrica, quando prestadora de serviços. Até então ela podia so-
frer retenção de ISS em percentual superior ao
não destinados à comercialização ou industria-
lização; que estava sujeita no Simples Nacional.40

d) por ocasião do desembaraço aduaneiro; Todavia, colhem-se das lições de Carlos Renato
e) na aquisição ou manutenção em estoque de Cunha41 contra-argumentos jurídicos. Esse autor observa
mercadoria desacobertada de documento fiscal; que, os incisos XIII e XIV, do § 1º, do art. 13, da LC nº
f) na operação ou prestação desacobertada de 123/2006, respectivamente, para o ICMS e o ISS, cons-
documento fiscal; tituem irônicas “permissões”, autorizadas pelo legislador
g) nas operações com bens ou mercadorias su- nacional, para que Estados-Membros e os Municípios
jeitas ao regime de antecipação do recolhimen-
to do imposto, nas aquisições em outros Esta-
exerçam suas competências legislativas sobre seus pró-
dos e Distrito Federal: prios impostos fora da sistemática do Simples Nacional.
1. com encerramento da tributação, observado Competência esta, diga-se de passagem, estabelecida pelo
o disposto no inciso IV do § 4º do art. 18 desta legislador constituinte originário a tais pessoas políticas,
Lei Complementar;
vez que semelhantes generosidades, na realidade, antes
2. sem encerramento da tributação, hipótese em de constituir um ato de benevolência daquele, configura
que será cobrada a diferença entre a alíquota in-
terna e a interestadual, sendo vedada a agrega- uma deslavada ofensa à autonomia federativa das unida-
ção de qualquer valor; des parcelares, ainda que sustente que aludida prescrição
h) nas aquisições em outros Estados e no Distri- benevolente, contida na lei complementar do Simples
to Federal de bens ou mercadorias, não sujeitas Nacional, encontra-se amparada no art. 146, III, “d”, e
ao regime de antecipação do recolhimento do
imposto, relativo à diferença entre a alíquota in-
seu parágrafo único e nos arts. 170, IX, e 179, todos do
terna e a interestadual. Magno Texto. Ou então, que se argumente que referidas
pessoas políticas estejam representadas no Comitê Gestor
Tais fatos jurídicos têm causado grande celeuma
do Simples Nacional, não sana o vício de inconstituciona-
por parte da doutrina pela extensa abertura concedida
lidade, posto que essa instituição não passa de um órgão
pelo aludido inciso XIII aos Estados para legislarem no
administrativo, o qual não tem a menor legitimidade para
sentido de excepcionar o ICMS da sistemática simplifi- Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
substituir os poderes legislativos de vinte e sete Estados-
cada de tributação do Simples Nacional, mormente, na
-Membros, do Distrito Federal e dos mais de cinco mil
exceção prevista na letra “a”, ou seja, nas operações ou
Municípios.
prestações sujeitas ao regime de substituição tributária,
a qual, com certa frequência, vários Estados, inclusive o Realmente, a forma como o Estatuto do Simples
Estado de Goiás, têm lançado mão desse dispositivo para Nacional, instituído pela LC nº 123/2006, estabeleceu a
que o ICMS seja recolhido na sistemática do regime nor- restrição da competência legislativa dos Estados-Mem-
mal de tributação e diretamente para seu erário. Estas bros, do Distrito Federal e dos Municípios, bem assim a
permissões, uma vez levadas às últimas consequências, maneira como a capacidade tributária ativa de tais entes
estimuladas que são pela guerra fiscal reinante entre os
Estados, podem colocar em risco o almejado sucesso des- 40
SANTIAGO, Silas. Simples nacional: o exemplo do federalis-
sa política pública de integração e simplificação tributária mo fiscal brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 88.
41
CUNHA, Carlos Renato. O simples nacional, a norma tributá-
nacional. Nesse particular, eis a observação de Silas San- ria e o princípio federativo: limites da praticabilidade tributá-
tiago abaixo: ria. Curitiba: [s.n], 2010. p. 323-324. 83
Claudio Gonçalves Pacheco

federados foi delegada à União, sem atos legislativos des- dade tributária.” Não é nosso objeto a análise
da problemática aqui apenas localizada, mas,
ses delegando-a, de igual modo o poder regulamentar
recordemos que “[...] o sistema jurídico pátrio
atribuído ao Comitê-Gestor, configuram questões jurí- não admite essa espécie de regulamento [...]”,
dicas assaz delicadas por, à primeira vista, consistirem seja pela previsão do artigo 2º da CR/88, seja
pelo artigo 25 do ADCT.42
em violação ao pacto federativo e ao princípio da reserva
legal (arts. 1º e 150, I, da CF/1988), as quais serão melho- O § 4º, do art. 2º da LC nº 123/2006 dispõe que
res enfrentadas noutro estudo desenvolvido acerca desse “Os Comitês de que tratam os incisos I e III do caput des-
microssistema tributário, oportunidade em que se discu- te artigo elaborarão seus regimentos internos mediante
tirá “O Simples Nacional e os Princípios Constitucionais resolução”. Assim, as resoluções emanadas pelo Comitê
Denunciados no Supremo Tribunal Federal”. Gestor do Simples Nacional (CGSN) têm força impe-
rativa e coercitiva e, dessa forma, orientam, vinculam e
Para desfecho dessa subseção, assinala-se que a
obrigam os entes parcelares, União, Estados-Membros,
LC nº 123/2006, em seu art. 12, instituiu e definiu o Sim-
Distrito Federal e Municípios, e os contribuintes optan-
ples Nacional como “[...] o Regime Especial Unificado de
tes do Simples Nacional, no sentido de se conduzirem na
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas
conformidade das disposições nelas contidas. Todavia, a
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte”, comete-
resolução tem caráter regulamentar, o que significa dizer
-se dois erros de linguagem técnica jurídica. O primeiro
que uma resolução não pode extrapolar os ditames e li-
ao veicular “Tributos e Contribuições”, como se as con-
mites decorrentes da LC nº 123/2006, objeto de sua regu-
tribuições não se tratassem de uma espécie tributária. O
lamentação, sob pena de incorrer em execrável vício de
correto seria adotar uma de duas opções, vale dizer, ape-
ilegalidade. Ademais que tais resoluções somente regula-
nas tributos ou então impostos e contribuições. Contudo,
mentam os tributos que integram o Simples Nacional e,
tal impropriedade encontra-se retificada, nessa segunda
mesmos neles, há exceções quanto alguns fatos jurídicos,
opção, logo no art. 13 seguinte. O segundo, ao expressar
como os expressos, à guisa de exemplo, nos incisos XIII e
“regime especial unificado de arrecadação de tributos”,
XIV, do § 1º, do art. 13, da LC nº 123/2006, os quais, pelo
quando se observa que tal sistema tributário unificado
menos por ora em que não há lei complementar dispondo
tem alcance bem maior, isto é, trata-se de um “regime
em sentido contrário ou alterando esta lei complementar,
especial e compartilhado de arrecadação, fiscalização e
não podem ser normatizados por essas resoluções, em
cobrança de tributos”.
relação aos quais se observará a legislação aplicável da
3.2.2 A implementação do Simples Nacional pessoa jurídica que detém a competência de tributá-los.
Uma vez adequado o ordenamento jurídico cons- Observa Silas Santiago43 que vários foram os de-
titucional e infraconstitucional para que se implementas- safios enfrentados para efetivar a integração entre os
se o regime especial unificado de simplificação tributária entes federados, quais sejam, União, Estados-Membros,
dispensado às microempresas e às empresas de pequeno Distrito Federal e Municípios, destacando, entre eles, os
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

porte, a próxima fase agora é a de administrar e regula- concernentes à autonomia, à penetração territorial e ge-
mentar o Simples Nacional e, para tal mister, foi criado o ográfica, bem como à segurança e ao compartilhamento
Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN), art. 2º da dos dados cadastrais tributários declarados e recolhidos,
LC nº 123/2006. No tocante à atribuição regulamentar que agora passam a ser manejados por diversas adminis-
deste Comitê, a qual vem prevista no art. 2º, § 6º, da LC trações tributárias sem a necessidade de estabelecer con-
nº 123/2006, alguns doutrinadores têm destacado, como vênios, posto que aludidas administrações têm titulari-
assinalado acima, vício de inconstitucionalidade desse dade ativa, de suas respectivas espécies tributárias, para
dispositivo, sobretudo quanto ao princípio da reserva le- manuseá-los.
gal, esculpido no art. 150, I, da CF/1988. Eis o entendi-
mento a respeito de Carlos Renato Cunha, vertido em sua
dissertação de mestrado: 42
CUNHA, Carlos Renato. O simples nacional, a norma tributá-
... Para Débora Sotto, algumas de tais atribui- ria e o princípio federativo: limites da praticabilidade tributá-
ções são: [...] de duvidosa constitucionalidade, ria. Curitiba: [s.n], 2010. p. 257-8.
43
dada a violação do princípio da estrita legali- SANTIAGO, Silas. Simples nacional: o exemplo do federalis-
84 mo fiscal brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 24-6.
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

Nesse passo, uma oportuna digressão a ser con- {a, c}, {b,c}, {a, b, c}}.45 Logo, a República Federativa do
signada, mas que visa deixar claro as incorreções que al- Brasil, no plano interno, que constitui a união indissolú-
guns doutrinadores andam cometendo ao enumerar ou vel dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, é
elencar os entes federados, deixando de incluir a União um subconjunto dela mesmo, ou seja, um ente federado.
entre tais entes parcelares, dentre os quais se cita o pró-
Nessa perspectiva, o art. 1º de nossa atual Cons-
prio autor referenciado no parágrafo anterior. Admite-se
tituição instituiu uma federação onde se observa a coe-
que possa soar estranho para alguns, quando, proposita-
xistência harmônica de um conjunto maior de normas
damente, em dois parágrafos distintos acima, registrou-
nacionais hierarquicamente superiores às demais normas
-se a União como um ente subnacional. E assim procedeu
infraconstitucionais de nosso ordenamento, o qual con-
para espancar qualquer dúvida e que o faz com lídima
tém em seu interior um conjunto de normas federais ao
razão, para tanto, apoia-se nas lições da Teoria Pura do
lado de um conjunto de normas estaduais e de um con-
Direito de Hans Kelsen, em conformidade com o corte
junto de normas municipais, estando esses três conjuntos
epistemológico adotado, bem como se valendo do racio-
normativos no mesmo nível hierárquico, contudo, com
cínio lógico extraído da teoria dos conjuntos, da Álgebra.
âmbito de competência distintos, delineado nos arts. 22,
A República Federativa do Brasil é formada pela 24 e 30 de nossa Lei Maior. José Afonso da Silva46 enten-
união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distri- de que os Municípios não representam um ente federado,
to Federal, conforme caput art. 1º, da CF/1988. Kelsen44 sob o argumento de que eles não têm representação no
observa que a teoria tradicional, de forma equivocada, Congresso Nacional, não participando assim da forma-
confunde federação com Estado Federal total. A União ção da vontade nacional; não possuem território próprio,
que representa a comunidade jurídica central consiste vez que seu território encontra-se sob o domínio dos Es-
em uma das comunidades jurídicas existentes no Estado tados-Membros, sendo o território um traço distintivo da
federal total ao lado das comunidades jurídicas locais, autonomia federativa; a intervenção municipal está a car-
que, no nosso caso, as ordens jurídicas locais dos Esta- go dos Estados e não da União; bem como a criação, a in-
dos, Distrito Federal e Municípios. Ou seja, internamen- corporação, a fusão e o desmembramento de municípios
te, a União é um ente federado como as demais unidades far-se-ão por lei estadual e arremata que o sistema cons-
federativas, apenas, externamente, é que ela representa titucional ascendeu os Municípios ao status de entidades
o Estado federal total, isto é, a República Federativa do autônomas, ou seja, entidades portadoras de organização
Brasil. A Constituição de um Estado federal biparte-se e governo próprios e exclusivas competências.
em duas cartas distintas, total e da União. Kelsen observa
Em retorno ao que se tratava do Comitê Gestor e
que a coletividade central e as coletividades-membros são
valendo-se do magistério de Silas Santiago,47 ressalta-se,
iguais juridicamente, coexistindo numa relação de coor-
por oportuno, que tal entidade não tem atribuição ope-
denação, encontrando-se apenas subordinadas à comuni-
racional, ou seja, não age efetivamente, tendo apenas fun-
dade total, concluindo haver certa parcela de autonomia
ção deliberativa, cumprindo às administrações tributárias
constitucional aos Estados-Membros. Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
da Secretaria da Receita Federal do Brasil, das Secretarias
Da teoria dos conjuntos, extrai-se a lição de que o de Fazendas dos Estados-Membros, das Secretarias de Fi-
número de subconjuntos das partes de um conjunto, in- nanças do Distrito Federal e dos Municípios a competên-
dicado por IP (A), obtém-se da potência de 2n, onde “n” cia operacional, as quais, concorrentemente, destacam-se:
corresponde ao número de elementos de um determina- a) autorizam empresas a optar pelo regime, por
do conjunto. Assim, se um conjunto tem três elementos, meio do mecanismo de deferimento dos pedi-
dos de opção;
ele terá 8 subconjuntos e que tal conjunto é subconjunto
dele mesmo. Exemplo: se A = {a,b,c}, com três elementos,
o conjunto das partes de A terá IP(A) = 23 = 8, os quais 45
GIOVANNI, José Ruy; BONJORNO, José Roberto. Matemá-
seguem representados por IP(A) = {∅, {a}, {b}, {c}, {a,b}, tica 1 - 2º grau: conjuntos, funções, progressões. São Paulo:
FTD, 1992. p. 19.
46
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positi-
vo. 30. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 639-648.
44 47
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. Trad. Luís SANTIAGO, Silas. Simples nacional: o exemplo do federalis-
Carlos Borges. 2. ed. São Paulo: M. Fontes, 1992. p. 310. mo fiscal brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 27. 85
Claudio Gonçalves Pacheco

b) praticam atos de oficio de inclusão e de ex- Assim, a cobrança e fiscalização das espécies tributárias
clusão de empresas;
da União, constantes do Simples Nacional, em localidades
c) efetuam a cobrança administrativa dos valo- situadas fora da capital, na ausência dessa sistemática uni-
res declarados e não pagos;
ficada de arrecadação, ficariam na boa vontade do contri-
d) fiscalizam empresas para verificar o cumpri- buinte em pagá-las ou não. Com essa nova sistemática, a
mento das obrigações tributárias principais e
acessórias; União passa a ter autoridades fiscais, estaduais, distritais e
e) conduzem o contencioso administrativo re-
municipais, dispersas e instaladas nas mais remotas loca-
lativo aos processos de indeferimento de opção, lidades do país para arrecadá-las, fiscalizá-las e cobrá-las,
exclusão de empresas e de ações fiscais. e, repita-se, sem o menor custo. Ou seja, trata-se de uma
No que toca à integração entre os entes federados, parceria bastante lucrativa para União e não tão quanto
em que pese seja de elementar conhecimento que a forma para as demais unidades federativas, cujas representações
federativa de Estado constitui cláusula pétrea, não passível no CGSN ostentam um desequilíbrio a toda prova con-
de reforma constitucional, todavia, nunca é demais assina- denável, por favorecer em demasia União, com 50% dos
lar que aludidos entes têm plena autonomia, tanto adminis- representantes, além de possuir a presidência, bem como
trativa, financeira, tributária, judiciária, como legislativa, extremamente desfavorável para as demais unidades fe-
não havendo hierarquia entre os mesmos, mas rigorosa dis- deradas que sequer podem presidir esse comitê.

tribuição constitucional de competências. Nessa medida, Acresce-se ao fato de que ainda nem sequer tem
tendo a LC nº 123/2006 criado esse regime unificado de tri- notícia de quando CGSN irá dar os primeiros passos para
butação, consequentemente, instala-se uma administração implementar e fazer cumprir as disposições constantes do
conjunta indissociável de cobrança e fiscalização tributária, art. 37, XXII, da CF/1988, no sentido de dotar as admi-
vale dizer, quando qualquer administração tributária fede- nistrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito
ral, estadual ou municipal promove a arrecadação ou fisca- Federal e dos Municípios de recursos para a realização
lização de suas respectivas espécies tributárias constantes de atividades conjuntas de fiscalização, mediante sistema
do Simples Nacional, ela o faz em nome de todos, não se único de autuação, compartilhamento de cadastros e da-
limitando a arrecadar e fiscalizar o seu próprio tributo. dos fiscais, nos termos da lei.

Nota-se que tal fato constitui um negócio assaz 3.2.3 Critérios constitutivo e econômico para defini-
confortável e vantajoso para União por, no mínimo, dois ção de microempresa e de empresa de pequeno
porte
fortes argumentos. Primeiro, porque das 8 (oito) espécies
tributárias que integram a sistemática de arrecadação uni- Nesse ponto, cabe ressaltar que a LC nº 123/2006, em
ficada do Simples Nacional, a saber, IRPJ, IPI, CSLL, CO- seu art. 3º, estabeleceu definições distintas para microem-
FINS, PIS/PASEP, CPP, ICMS e ISS, conforme art. 13 da presa (ME) e empresa de pequeno porte (EPP), bem como
LC nº 123/2006, seis espécies tributárias são da competên- trouxe, em seu art. 17, as vedações de enquadramento no
cia da União, isto é, 75% das espécies tributárias. Nessas regime de tributação do Simples Nacional, ainda que deter-
Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012

circunstâncias, quando a administração tributária de um minadas empresas sejam legalmente ME e EPP. Ou melhor,
Estado-Membro promove a cobrança ou a fiscalização de uma empresa pode atender os requisitos legais de uma ME
seu ICMS no Simples Nacional, ele, de quebra, arrecada ou de uma EPP estabelecidos no referido art. 3º, todavia,
e fiscaliza as seis outras para União, não tendo a máquina pode encontrar-se impossibilitada de optar pelo Simples
administrativa tributária dela o menor dispêndio de custo Nacional, por apresentar qualquer das proibições constan-
para arrecadá-las ou fiscalizá-las. Segundo, que decorre tes do já citado art. 17. Ou então, mesmo que não apresente
do primeiro, uma vez que as Delegacias Fiscais da Receita qualquer óbice para enquadrar-se, prefere por razões pró-
Federal encontram-se instaladas nas capitais dos Estados, prias não fazer a opção, seja, por exemplo, porque no regime
ou quando muito nas cidades com densidade populacio- normal de tributação a carga tributária lhe seja mais favorá-
vel. Em suma, a opção ou não pelo Simples Nacional, não
nal considerável, isto é, sua administração tributária pa-
lhe retira a condição da empresa de ser ME ou EPP.
dece da falta de capilaridade social, o que não ocorre com
os Estados-Membros e os Municípios, os quais estão bem Assim colocado, observa-se agora o que estabelece
86 estruturados administrativamente em seus territórios. o art. 3º da LC nº 123/2006 para se constituir como ME
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

e EPP e ter a potencialidade normativa para optar para o nº 139/2011, ao alterar a redação do art. 6849 da LC nº
regime do Simples Nacional, in verbis: 123/2006, fez considerar o MEI como microempresa e
Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complemen- alargou a margem de receita bruta anual de R$ 36.000,00
tar, consideram-se microempresas ou empre- para R$ 60.000,00, possibilitando que um maior número
sas de pequeno porte, a sociedade empresária,
a sociedade simples, a empresa individual de de microempresários recolha mediante reduzidos valo-
responsabilidade limitada e o empresário a que res tributários fixos e com elementares obrigações tribu-
se refere o art. 966 da Lei n. 10.406, de 10 de tárias acessórias. Ambos os artigos, como se depreende
janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente
registrados no Registro de Empresas Mercantis da transcrição abaixo, dão à política pública do Simples
ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, con- Nacional um contorno nitidamente de inclusão social
forme o caso.
ao visar tirar da informalidade microempreendedores e
Primeiramente, destaca-se que o citado art. 3º, já proporcionar-lhes a cidadania empresarial.
no início expressa “Para os efeitos desta Lei Complemen-
O critério econômico para definição de ME e
tar”, deixando antever a possibilidade de existirem outras
EPP vem disposto nos incisos I e II, do art. 3º,50 da LC
definições legais de ME ou EPP para outras finalidades
nº 123/2006, os quais tiveram suas redações alteradas
não tratadas pela LC nº 123/2006. Contudo, para o Sim-
pela LC nº 139/2011, elevando as receitas brutas anuais
ples Nacional, consideram-se ME ou EPP: a) sociedade
máximas de R$ 240.000,00 para R$ 360.000,00 e de R$
empresária; b) a sociedade simples; c) a empresa indivi-
2.400.000,00 para R$ 3.600.000,00, respectivamente,
dual de responsabilidade limitada; e d) o empresário a
para as microempresas e empresas de pequeno porte,
que refere o art. 966 do Código Civil.
disciplinando os parâmetros de receitas brutas permiti-
A LC nº 139/2011 alterou o caput do art. 3º da LC das para poderem optar pela sistemática de tributação do
nº 123/2006, do Simples Nacional, para inserir a figura Simples Nacional.
da empresa individual de responsabilidade limitada, a
Acerca das possíveis situações que vedam as pes-
qual consiste na mais nova modalidade de pessoa jurí-
soas jurídicas de aderirem ao Supersimples, Marins e
dica de direito privado prevista pelo Código Civil (Lei nº
Bertoldi51 identificam quatro grupos de vedações, a sa-
10.406/2002), modalidade esta criada pela recente Lei nº
ber: a) por ramo de prestação de serviços; b) por tipo de
12.441, de 11 de julho de 2011, cujo traço peculiar deno-
ta-se pelo fato de ser constituída por um único integrante,
conservando a distinção do patrimônio da empresa como 49
“Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de
de exclusiva responsabilidade pelas obrigações contraídas aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei n. 10.406,
de 2002, o empresário individual caracterizado como micro-
decorrentes do exercício de suas atividades, protegendo o
empresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita
patrimônio pessoal do empresário, nos moldes do regime bruta anual até o limite previsto no § 1º do art. 18-A.”
50
das sociedades de responsabilidade limitada. “Art. 3º
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário,
No que toca ao empresário a que se refere o art. receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais); e Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
966 do Código Civil, a LC nº 128/2008 fez constar o II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-
art. 18-A48 da LC nº 123/2006, criando a figura do mi- calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e
croempreendedor individual – MEI, e, por sua vez, a LC sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três
milhões e seiscentos mil reais).
§ 1º Considera-se receita bruta, para fins do disposto no ca-
put deste artigo, o produto da venda de bens e serviços nas
operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e
48
“Art. 18-A. O Microempreendedor Individual - MEI poderá o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as
optar pelo recolhimento dos impostos e contribuições abran- vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.
gidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais, inde- § 2º No caso de início de atividade no próprio ano-calendário,
pendentemente da receita bruta por ele auferida no mês, na o limite a que se refere o caput deste artigo será proporcional
forma prevista neste artigo. ao número de meses em que a microempresa ou a empresa de
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI pequeno porte houver exercido atividade, inclusive as frações
o empresário individual a que se refere o art. 966 da Lei n. de meses.”
51
10.406, de 10 de janeiro de 2002, que tenha auferido receita MARINS, James; BERLTOLDI, Marcelo M. Simples nacional:
bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 60.000,00 (sessen- estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte co-
ta mil reais), optante pelo Simples Nacional e que não esteja mentado – LC 123, de 14.12.2006; LC 127, de 14.08.2007. São
impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo.” Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 112-114. 87
Claudio Gonçalves Pacheco

produto; c) por modelo societário ou por sócio impedido; Por fim, a LC nº 123/2006 traz, no art. 17,53 um rol
e d) por restrições no cadastro fiscal. de pessoas jurídicas que não poderão recolher impostos e
contribuições nos termos dispostos pelo Simples Nacio-
O § 4º, do art. 3º,52 da LC nº 123/2006, estabelece as
nal. As ME e EPP, aqui elencadas, sujeitam-se ao regime
vedações jurídicas plenas para usufruir dos benefícios do
normal de tributação, isto é, pagamento individualizado
Simples Nacional. Tais regras excludentes têm o claro ob-
jetivo de impedir que empresas que auferem receita bruta
superior ao limite estabelecido pela lei possam gozar dos 53
“[...] Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribui-
atrativos benefícios do Simples Nacional. Essas restrições ções na forma do Simples Nacional a microempresa ou a em-
não objetivam apenas impedir ao benefício tributário sim- presa de pequeno porte:
I - que explore atividade de prestação cumulativa e contínua
plificado, mas também aos demais benefícios disciplina- de serviços de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção
dos pelo novo sistema, tratando-se de uma vedação plena. e riscos, administração de contas a pagar e a receber, geren-
ciamento de ativos (assetmanagement), compras de direitos
creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de
prestação de serviços (factoring);
II - que tenha sócio domiciliado no exterior;
III - de cujo capital participe entidade da administração pú-
blica, direta ou indireta, federal, estadual ou municipal;
IV - (REVOGADO)
V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual
ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa;
VI - que preste serviço de transporte intermunicipal e interes-
tadual de passageiros;
VII - que seja geradora, transmissora, distribuidora ou co-
mercializadora de energia elétrica;
VIII - que exerça atividade de importação ou fabricação de
52
“Art.. 3º automóveis e motocicletas;
§ 4º Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferen- IX - que exerça atividade de importação de combustíveis;
ciado previsto nesta   Lei Complementar, incluído o regime X - que exerça atividade de produção ou venda no atacado de:
de que trata o art. 12 desta Lei Complementar, para nenhum a) cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas
efeito legal, a pessoa jurídica: de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes;
I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica; b) bebidas a seguir descritas:
II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, 1 - alcoólicas;
de pessoa jurídica com sede no exterior; 2 - refrigerantes, inclusive águas saborizadas gaseificadas;
III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita 3 - preparações compostas, não alcoólicas (extratos concen-
como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba trados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida
tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Com- refrigerante, com capacidade de diluição de até 10 (dez) par-
plementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite tes da bebida para cada parte do concentrado;
de que trata o inciso II do caput deste artigo; 4 - cervejas sem álcool;
IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por XI - que tenha por finalidade a prestação de serviços decor-
cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta rentes do exercício de atividade intelectual, de natureza técni-
Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultra- ca, científica, desportiva, artística ou cultural, que constitua
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passe o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; profissão regulamentada ou não, bem como a que preste ser-
V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de viços de instrutor, de corretor, de despachante ou de qualquer
outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita tipo de intermediação de negócios;
bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do ca- XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra;
put deste artigo; XIII - que realize atividade de consultoria;
VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de con- XIV - que se dedique ao loteamento e à incorporação de imó-
sumo; veis.”
VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica; XV - que realize atividade de locação de imóveis próprios, ex-
VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investi- ceto quando se referir a prestação de serviços tributados pelo
mentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de socie- ISS.
dade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito XVI - com ausência de inscrição ou com irregularidade em
imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, va- cadastro fiscal federal, municipal ou estadual, quando exigí-
lores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento vel.
mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previ- § 1º As vedações relativas a exercício de atividades previstas
dência complementar; no caput deste artigo não se aplicam às pessoas jurídicas que
IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra se dediquem exclusivamente às atividades referidas nos §§
forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha 5º-B a 5º-E do art. 18 desta Lei Complementar, ou as exerçam
ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores; em conjunto com outras atividades que não tenham sido ob-
88 X - constituída sob a forma de sociedade por ações.” jeto de vedação no caput deste artigo.”
O Simples Nacional e os princípios constitucionais

de tributos. Todavia, podem usufruir dos benefícios não BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e
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considerado um germe ou um projeto experimental que internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=113717>. Acesso
muito contribuirá na deflagração da tão esperada refor- em: 12 out. 2010.
ma tributária, que instituirá o imposto único nacional,
pelo fato da sistemática do Simples Nacional aproximar BRASIL. Lei Complementar nº. 128, de 22 de dezembro
de 2008. Altera a Lei Complementar nº123, de 14 de
dessa perspectiva de tributo, há décadas emperrada no dezembro de 2006. Brasília, 2006.
processo legislativo do Congresso Nacional.
BRASIL. Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de
Distorções e arestas, contudo, precisam ser apa- 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da
radas, como criar mecanismos que possibilitem efetiva- Empresa de Pequeno Porte. Brasília, 2006.
mente maior representação dos Estados-Membros, dos
Municípios e de representantes das microempresas e BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui
Código Civil. Brasília, 2002.
empresas de pequeno porte no Comitê Gestor do Sim-
ples Nacional, com vistas a reduzir a histórica sanha cen- BRASIL. Lei nº. 9.841, de 5 de outubro de 1999. Institui
tralizadora da União e aplacar sua voracidade tributária, o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte. Brasília, 1999. Universitas/JUS, v. 23, n. 2, p. 65-91, jul./dez. 2012
bem como que tal Comitê não se arvore em usurpar a
competência legislativa atribuída pelo Poder Constituinte BRASIL. Lei nº. 9.317, de 5 de dezembro de 1996.
Originário às pessoas políticas dos Estados-Membros, do Institui o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos
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Pequeno Porte – SIMPLES e dá outras providências.
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