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José Hable
Auditor Fiscal da Secretaria de Estado de Fazenda do Distrito Federal. Conselheiro e
Presidente do Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais. Mestre em Direito Internacional
Econômico. Pós-Graduado em Direito Tributário. Graduado em Direito, Administração de
Empresas e Agronomia. Professor de Pós-Graduação e Graduação. Autor de Livros.
1 Introdução
O Brasil é conhecido, no mundo todo, como um país de grandes desigualdades
sociais. E, nas palavras de Victor Barau,1 um dos principais motivos desse fato está
no seu “ineficiente e injusto sistema tributário, o qual está para ser reformado desde
que me entendo por gente”.
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BARAU. (s.d.).
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MARANHÃO. 2010.
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FERREIRA. 2010.
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TEXTO PARA DISCUSSÃO nº 583. 1998.
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CRECI-SE. (s.d.).
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PAUSEN. 2014, p. 100.
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3. Lei nº 9.317/1996, conforme art. 179 da CF/88, que instituiu o Sistema Inte
grado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte, chamado de Simples Federal ou só Simples.
4. Lei nº 9.841/1999, que instituiu o Estatuto da ME e da EPP, regulamentando
os artigos 170 e 179 da CF/88, e deixou de cuidar das questões tributárias, tendo
expressamente preservado o Simples.
5. LC nº 123/2006, que institui o Estatuto da ME e EPP, estabelecendo normas
gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado à ME e EPP,
com entrada em vigor em 1º.6.2007.
6. LC nº 128/2008, que institui, para fins de enquadramento no Simples
Nacional, nova redação e revoga alguns preceitos da LC nº 123/06, criando a figu-
ra do microempreendedor individual (MEI) e incluindo dentro do Simples Nacional o
Estatuto do ME, que passou a dar um tratamento diferenciado voltado para o micro-
empreendedor individual.
7. LC nº 147/2014, que, buscando melhorar as condições das micro e peque-
nas empresas e beneficiar outras, ampliando assim o rol de beneficiários do Simples
Nacional, alterou a LC nº 123/2006 e trouxe uma nova sistemática ao estabelecer
novos procedimentos.
Observe-se que, desde 1984, sem qualquer previsão constitucional, já era pre-
ocupação do Governo Federal incentivar as microempresas, proporcionando-lhes um
tratamento diferenciado e mais simplificado em busca do crescimento econômico.
Paulatinamente, acompanhando o crescimento do país e da economia e as con-
sequentes necessidades de seu fomento, com uma participação cada vez maior das
ME e EPP na geração de empregos, o Estatuto da Microempresa inicialmente existen-
te foi criando corpo até chegar no atual Estatuto, instituído pela LC nº 123/2006, o
qual contempla atualmente a ME, a EPP e, ainda, mais recentemente, o MEI.
De acordo com o SEBRAE, as ME, EPP e MEI congregam 99,2% das empresas
do país e são responsáveis por cerca de 60% dos empregos gerados e por 20% da
composição do PIB, motivo indiscutivelmente suficiente para justificar o tratamento
favorecido como forma de fomentar a economia em busca de maior equilíbrio fiscal.
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CF/88. “Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às
empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las
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3 Simples Nacional
Simples Nacional é o regime de tributação opcional, favorecido e especial, insti-
tuído pela LC nº 123/2006, por força do art. 146, III, “d”, parágrafo único da CF/88.
É destinado exclusivamente às ME e EPP que não incorrerem nas vedações previstas
na mesma lei.
É oficialmente denominado de Regime Especial Unificado de Arrecadação de
Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte. Foi assim apelidado de SUPERSIMPLES.
Marins e Bertoldi (2007) entendem que o Simples Nacional é “a mais impor-
tante iniciativa de ‘reforma tributária’ ocorrida no Brasil desde a promulgação da
Constituição de 1988”. Defendem que o exame do Simples Nacional e a experiência
decorrente de sua aplicação prática “podem significar novas balizas conceituais e
técnicas para o Sistema Tributário Nacional, inclusive do ponto de vista constitucio-
nal” em virtude de sua influência direta sobre todas as esferas de Governo – federal,
estadual, distrital e municipal.
Questão interessante é que uma empresa pode ser enquadrada como ME e EPP
no Estatuto, de acordo com os limites estabelecidos no art. 3º da LC nº 123/2006,
sem ser optante pelo Simples Nacional, ou seja, pode usufruir dos demais benefícios
da lei e ter um regime normal de tributação.
O Simples Nacional não é um novo tributo, mas, sim, um regime de tributação
que permite ao optante recolher até oito tributos já existentes em um único cálculo
e guia, que são: IRPJ, CSLL, PIS, COFINS, IPI, Contribuição Patronal Previdenciária
(CPP), ICMS e ISS. Cumpre salientar, contudo, que muitas das hipóteses de incidên-
cia desses tributos estão fora do Simples, a exemplo do IR incidente no ganho de
capital, aplicações financeiras, tributação definitiva; ICMS, na ST e na importação;
PIS, COFINS e IPI, na importação; contribuição previdenciária do empregado, do sócio
ou titular, etc.
LC nº 123/2006. “Art. 86. As matérias tratadas nesta Lei Complementar que não sejam reservadas cons
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titucionalmente a lei complementar poderão ser objeto de alteração por lei ordinária.”
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Dados do “relatório cadastro fiscal”, elaborado pelo Núcleo de Administração do Cadastro Fiscal (NUCAD), da
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FÓRUM DOS ESTADOS FFEB 2014. O impacto da implementação do Simples Nacional na Arrecadação dos
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5 Conclusões
Diante de todo o exposto, pode-se concluir que:
1. O sistema diferenciado e favorecido à ME e à EPP é uma necessidade nacio-
nal, e não fere o princípio da isonomia, o que, por si só, já bastaria para justificar o
regime amparado na CF/88.
2. A universalização das atividades para adesão ao Simples Nacional, sem um
estudo conjunto com Estados, DF e Municípios que vise à renúncia de receita, pode
ferir o pacto federativo na medida em que impacta na arrecadação do ICMS e do ISS,
de controle autônomo de Estados, DF e Municípios, respectivamente, e por consequ-
ência nas finanças destes entes federados.
3. A alteração relativa à ST-ICMS no Simples Nacional, com a imposição de
lista taxativa de produtos que poderão estar sujeitos à ST, fere o pacto federativo na
medida em que cerceia a autonomia e a discricionariedade de Estados e DF quanto
aos critérios de formação da política tributária relativa ao ICMS, imposto de sua
competência, e da política fiscal, visto o impacto na arrecadação e consequente
interferência nas finanças desses entes políticos.
4. De acordo com o estudo apresentado no Fórum Fiscal dos Estados 2014, ci-
tado neste trabalho, a alteração relativa à ST-ICMS poderá gerar os seguintes efeitos
negativos:
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Referências
BARAU, Victor. Artigo: O Sistema Tributário Nacional: premissas para uma reforma que respeite os
direitos humanos e a democracia. Disponível em: <http://www.escoladegoverno.org.br/artigos/1734-
o-sistema-tributario-nacional>. Acesso em: 20 maio 2015.
BRASIL. Lei nº 7.256, de 1984. Estabelece normas integrantes do estatuto da microempresa,
relativas ao tratamento diferenciado, simplificado e favorecido, nos campos administrativo, tributário,
previdenciário, trabalhista, creditício e de desenvolvimento empresarial. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7256.htm>. Acesso em: 20 maio 2015.
BRASIL. Lei nº 8.864, de 1994. Estabelece normas para as microempresas (ME), e Empresas de
Pequeno Porte (EPP), relativas ao tratamento diferenciado e simplificado, nos campos administrativo,
fiscal, previdenciário, trabalhista; creditício e de desenvolvimento empresarial (art. 179 da Constituição
Federal). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8864.htm>. Acesso em:
20 maio 2015.
BRASIL. Lei nº 9.317, de 1996. Dispõe sobre o regime tributário das microempresas e das empresas
de pequeno porte, institui o sistema integrado de pagamento de impostos e contribuições das
microempresas e das empresas de pequeno porte - simples e dá outras providências. Disponível em:
<http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/8b6939f8b38f377a03256ca200686171/
4bbaabfebdacbc16032569fa006a8e5d?OpenDocument>. Acesso em: 20 maio 2015.
BRASIL. Lei nº 9.841, de 1999. Institui o estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte,
dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos arts. 170 e
179 da Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 20 maio 2015.
BRASIL. LC nº 123, de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte; altera dispositivos das Leis nºs 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº
10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga
as Leis nºs 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/leicom/2006/leicomplementar-123-14-dezembro-2006-
548099-publicacaooriginal-63080-pl.html>. Acesso em: 20 maio 2015.
BRASIL. LC nº 128, de 2008. Altera a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 ,
altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 – Código Civil , 8.029, de 12 de abril de 1990, e dá outras providências. Disponível
em: <https://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LeisComplementares/2008/leicp128.htm>.
Acesso em: 20 maio 2015.
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HABLE, José et al. Simples Nacional: noções gerais e aspectos relevantes. Revista
Fórum De Direito Tributário – RFDT, Belo Horizonte, Ano 13, n. 77, p. 15-32,
set./out. 2015.
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