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DIREITO EMPRESARIAL

Módulo: Teoria Geral do Direito Empresarial

TEMA 04 – Regime Jurídico do MEI, ME e EPP

Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno


Porte

O constituinte elegeu como fundamento da República os valores sociais da


livre iniciativa no sistema jurídico econômico brasileiro, evidenciando um modelo
capitalista, conforme se depreende da leitura do inciso IV do artigo 1º da Constituição
Federal.
Fábio Ulhoa Coelho esclarece:

Na ordem capitalista constitucionalmente estabelecida, as


necessidades e querências das pessoas em geral só serão atendidas
se algumas delas (os empresários) tomarem a iniciativa de montar
empresas que produzam ou comercializem as correspondentes
mercadorias e serviços.(COELHO, 2022)1

Esse ciclo de desenvolvimento econômico se resume em um sistema de


retroalimentação, no qual, a produção e circulação de bens e serviços gera trabalho,
que por sua vez gera renda a população, resultando em maior consumo, que também
implicará em maior produção.

1 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 33ª Edição
revisada, atualizada e ampliada. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022. Cit. p. 32.

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Garantir esse desenvolvimento nacional, econômico, é um dos objetivos
fundamentais previstos na Carta Magna, conforme prevê o artigo 3º, inciso II, e esse
objetivo vem justificando os diversos programas governamentais.2
E um dos principais agentes do desenvolvimento são as empresas de
pequeno porte, de grande relevância para economia brasileira. Segundo estudos os
pequenos negócios geram renda em torno de R$ 420 bilhões por ano, o equivalente
a cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços
produzidos) brasileiro.3
Diante da importância dos pequenos negócios, há dois princípios da ordem
econômica devem ser destacados:

Art. 170, CF. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
(...)
IV - livre concorrência;
(...)
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 6, de 1995)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei. (Vide Lei nº 13.874,
de 2019)

A livre iniciativa permite o ingresso de muitas empresas dentro no mercado.


No entanto, a existência de empresas com poderes econômicos diversos,
multinacionais, grandes empresas nacionais, de médio porte e empresa de pequeno
porte no ordenamento, necessário mecanismos de proteção para a coexistência de
todas.

2 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20ª edição, revisada, atualizada e

ampliada. São Paulo: Saraiva, 2016. Cit. p. 1536.

3Agência Brasil. Pequenos negócios geram renda de R$ 420 bi por ano, aponta levantamento
do Sebrae. 6 de julho de 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/pequenos-
negocios-geram-renda-de-r-420-bi-por-ano-aponta-levantamento-do-sebrae/

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Neste ponto, o princípio da Livre Concorrência se destaca. André Santa Cruz
apresenta duas formas de concretizar esse princípio: coibições das práticas de
concorrência desleal, inclusive tipificando-as como crimes, e repressão ao abuso do
poder econômico, caracterizando-os como infração contra a ordem econômica.4 Neste
ponto, foi criada a lei 12.529/2011, também conhecida como lei antitruste, que
regulamenta a livre concorrência dento do Brasil.
O segundo princípio ressaltado, princípio do tratamento favorecido para
empresas de pequeno porte, também pode ser visto como um desdobramento da livre
concorrência. Aqui, entende-se empresa de pequeno porte como gênero, sendo
espécies a microempresa, empresa de pequeno porte e o microempreendedor
individual, que recebem atenção novamente no artigo 179 da Constituição Federal:

Art. 179, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte,
assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a
incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas,
tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução
destas por meio de lei.

A lei que criou esse regime jurídico é a lei complementar 123/2006, instituindo
o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

Art. 1º, LC 123/2006. Esta Lei Complementar estabelece normas


gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser
dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no
âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, especialmente no que se refere:

Quando o estatuto foi criado, em 2006, ainda não havia previsão do MEI,
posteriormente previsto no estatuto em 2008, foi incluído os artigos 18-A a 18-E para
a regulamentação da figura do microempreendedor individual

4 CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial – Volume Único. 11ª edição, revisada,
atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm, 2021. Cit. p. 85.

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Art. 1º, § 6º, LC 123/2006. A ausência de especificação do
tratamento diferenciado, simplificado e favorecido ou da
determinação de prazos máximos, de acordo com os §§ 3o e 4o,
tornará a nova obrigação inexigível para as microempresas e
empresas de pequeno porte. (Incluído pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)

.
Estrutura do Estatuto da ME/EPP – LC 123/2006

A Lei Complementar 123/2006 regulamenta:


• Microempreendedor individual
• Micro Empresa
• Empresa de Pequeno Porte
• Enquadramento como Startup

Benefícios – artigo 1º do Estatuto Nacional da Microempresa e


da Empresa de Pequeno Porte

O artigo 1ª da LC 123/2006 prevê tratamento diferenciado e favorecido a ser


dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte, trazendo como
benefício:

• Tratamento tributário simplificado


Art. 1º, LC 123/2006. I - à apuração e recolhimento dos impostos e
contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive
obrigações acessórias;

Aquele que está no enquadramento com empresa de pequeno porte ou


microempresa pode optar pelo SIMPLES Nacional.

O SIMPLES Nacional (Lei Complementar n. 123/2006, art. 13) envolve


a arrecadação conjunta em um único documento dos valores que
seriam devidos a título de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ),
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição Social
sobre Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (COFINS), PIS/PASEP, Imposto sobre Operações

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Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de serviços
de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação
(ICMS), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e a
contribuição previdenciária patronal com ressalva em relação a
algumas prestadoras de serviço.
A reunião de todos esses recolhimentos em um único documento
realmente representa uma simplificação das obrigações.5

Do mesmo modo, o microempreendedor individual pode optar pelo SIMEI:

SIMEI é o sistema de recolhimento em valores fixos mensais dos


tributos abrangidos pelo Simples Nacional, devidos pelo
Microempreendedor Individual, conforme previsto no artigo 18-A da
Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
Em resumo, é um sistema de pagamento de tributos unificados em
valores fixos mensais.6

• Redução de obrigações trabalhista


Art. 1º, II LC 123/06, - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e
previdenciárias, inclusive obrigações acessórias;

Art. 51, LC 123/2006. As microempresas e as empresas de pequeno


porte são dispensadas:
I - da afixação de Quadro de Trabalho em suas dependências;
II - da anotação das férias dos empregados nos respectivos livros ou
fichas de registro;
III - de empregar e matricular seus aprendizes nos cursos dos Serviços
Nacionais de Aprendizagem;
IV - da posse do livro intitulado “Inspeção do Trabalho”; e
V - de comunicar ao Ministério do Trabalho e Emprego a concessão
de férias coletivas.

• Redução de obrigações fiscais


As empresas de modo geral se submetem a uma série de burocracias que
devem cumprir para regularização do ponto de vista fiscal, que exige gastos com
assessoria especializada. Como o MEI, a Empresa de Pequeno Porte e a

5 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria Geral e direito societário – volume

1. 13ª edição: São Paulo, SaraivaJur, 2022. Cit. p. 680.

6 SIMPLES NACIONAL. Disponível em: <


http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/Documentos/Pagina.aspx?id=4>. Acesso: 07 de
agosto de 2022.

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Microempresa não possuem tanta estrutura nem capacidade financeira, o legislador
optou pela redução de burocracia documental, implicando em redução de custo

• Redução de obrigações previdenciárias


Art. 1º, II LC 123/06, II - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e
previdenciárias, inclusive obrigações acessórias;
Tomazette discorre sobre esse tratamento previdenciário:

O empresário individual (que se enquadre como pequeno empresário),


bem como os sócios da sociedade empresária (que se enquadrem no
conceito de pequeno empresário), podem recolher 11% (onze por
cento) sobre o valor correspondente ao limite mínimo mensal do
salário de contribuição, em vez dos 20% estipulados como regra
geral.7

• Acesso a crédito

Art. 1º, III, LC 123/2006. - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive


quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes
Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão.

O legislador estabeleceu um regime permanente de crédito específico para as


microempresas e empresa de pequeno porte, o PRONAMPRE (Programa Nacional
de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte).

As empresas poderão utilizar os recursos obtidos em investimentos


(adquirir máquinas e equipamentos, realizar reformas) e/ou para
despesas operacionais (salário dos funcionários, pagamento de
contas como água, luz, aluguel, compra de matérias primas,
mercadorias, entre outras).
É proibido o uso dos recursos para distribuição de lucros e dividendos
entre os sócios do negócio.8

7
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria Geral e direito societário – volume
1. 13ª edição: São Paulo, SaraivaJur, 2022. Cit. p. 682.

8 Equipe da Unidade de Capitalização e Serviços Financeiros. Saiba tudo sobre o

PRONAMPE. Sebrae, 2020. Disponível em: <


https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/saiba-tudo-sobre-o-
pronampe,90300604aa332710VgnVCM1000004c00210aRCRD#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20
o%20PRONAMPE,linha%20de%20cr%C3%A9dito%20para%20empr%C3%A9stimos.>. Acesso em: 07
de agosto de 2022.

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• Redução de obrigações administrativas
Trata-se da redução de obrigação perante órgãos públicos.

Art. 6º, LC 123/2006. Os requisitos de segurança sanitária, metrologia,


controle ambiental e prevenção contra incêndios, para os fins de
registro e legalização de empresários e pessoas jurídicas, deverão ser
simplificados, racionalizados e uniformizados pelos órgãos envolvidos
na abertura e fechamento de empresas, no âmbito de suas
competências. (...)
Art. 7º, LC 123/2006. Exceto nos casos em que o grau de risco da
atividade seja considerado alto, os Municípios emitirão Alvará de
Funcionamento Provisório, que permitirá o início de operação do
estabelecimento imediatamente após o ato de registro.

• Facilitação para registro e fechamento


Por serem mais frágeis do ponto de vista econômico, as empresas enquadras
da LC 123/2006, nem sempre estão com as obrigações em dia, resolvendo o
legislador retirar algumas exigências:

Art. 9º, LC 123/2006. O registro dos atos constitutivos, de suas


alterações e extinções (baixas), referentes a empresários e pessoas
jurídicas em qualquer órgão dos 3 (três) âmbitos de governo ocorrerá
independentemente da regularidade de obrigações tributárias,
previdenciárias ou trabalhistas, principais ou acessórias, do
empresário, da sociedade, dos sócios, dos administradores ou de
empresas de que participem, sem prejuízo das responsabilidades do
empresário, dos titulares, dos sócios ou dos administradores por tais
obrigações, apuradas antes ou após o ato de extinção. (Redação dada
pela Lei Complementar nº 147, de 2014)

• Dispensa de publicação de atos


• Facilitação em licitação

Art. 42. Nas licitações públicas, a comprovação de regularidade fisca


l e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno
porte somente será exigida para efeito de assinatura do contrato.
Art. 44. Nas licitações será assegurada, como critério de
desempate, preferência de contratação para as microempresas e
empresas de pequeno porte. (...)

• Utilização dos juizados especiais cíveis

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Por fim, o legislador também possibilitou as empresas de pequeno porte o
acesso ao judiciário, podendo se valer do juizado especial na condição de autores
(artigo 8º, inciso II, lei 9.099/95).

Contexto da Criação do MEI

A figura jurídica foi Microempreendedor Individual só surge após dois anos da


criação do Estatuto, com a inclusão dos artigos 18-A a 18-E.

Art. 18-E, LC 123/2006. O instituto do MEI é uma política pública que


tem por objetivo a formalização de pequenos empreendimentos e a
inclusão social e previdenciária.

Em 2008 havia uma quantidade muito grandes pessoas na economia em


situação informal. Buscar a formalidade tinha um custo levado, envolvendo tanto com
contratação de contabilidade, gastos tributários e custos estatais de procedimentos
de regularização.
Ao praticar a atividade empresarial cladestinamente, o indivíduo não é
segurado da previdência social, sequer tem como comprovar um vínculo formal,
ficando a margem da sociedade, o que dificulta a contratação de um financiamento e
não garante direito a benefício previdenciário caso no exercício de sua atividade
precise parar de trabalhar, vez que não é segurado da previdência.
A ideia foi trazer os pequenos exercentes de atividade econômica para dentro
da formalidade e inclui-lo socialmente.

Características do Microempreendedor individual

O microempreendedor individual é um empresário individual, com limitação


econômica, que tem garantida a sua inscrição simplificada, mas que possui limitação
de atuação empresarial.

Art. 18-A, LC 123/2006 § 1º Para os efeitos desta Lei Complementar,


considera-se MEI quem tenha auferido receita bruta, no ano-
calendário anterior, de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), que

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seja optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar
pela sistemática prevista neste artigo, e seja empresário individual que
se enquadre na definição do art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 (Código Civil), ou o empreendedor que exerça.(...)

O microempreendimento pode envolver atividade realizadas com caráter


artesanal ou caráter pessoal.
Ao ultrapassar o rendimento bruto anual, com a mudança de status
econômico, somente perde o enquadramento como MEI, mas continua sendo
empresário individual, mudando suas condições de arcas com as burocracias e os
custos com a pratica da atividade.

Tratamento diferenciado

• Enquadramento por faturamento


Este limitado 81.000,00 (oitenta e um mil reais) anual.
• Dispensa de taxas
O MEI será não precisa pagar taxas para se registrar.
• Regime tributário próprio
• Ausência de obrigações acessórias
O poder público comumente impõe as todas as empresas, exceto MEI.
• Registro eletrônico simplificado
A fim de que esse empresário não necessite arcar com os custos de contratar
um contabilista, foi criado o registro eletrônico simplificado. O próprio empresário
acessa o Portal do Empreendedor9 e faz seu registro. Inexistindo impedimentos
vinculados ao seu CPF (como a ausência de ter outras empresas ou filiais) o próprio
sistema emite já emite certificado com o seu CNPJ. A informação já é diretamente
compartilhada com a Junta do seus Estado.

9
https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor

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Regime tributário diferenciado - SIMEI

A microempresa e a empresa de pequeno porte tem regime tributário


fundamentado no seu faturamento, por outro lado, o MEI, pode se beneficiar do SIMEI
(Simples Nacional, devidos pelo Microempreendedor Individual). Nesse regime
tributário do microempreendedor individual tem alíquota fixa, e será pago de acordo
com a sua faixa de enquadramento, independentemente de seu faturamento mensal.

Justiça Gratuita

Basta simples declaração de não possuir condições econômicas para arcar


com os custos de um processo, presume-se a condição precária.

Gratuidade de justiça para MEI e EI exige apenas declaração de


falta de recursos, decide Quarta Turma
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que,
para a concessão do benefício de justiça gratuita ao
Microempreendedor Individual (MEI) e ao Empresário Individual
(EI), basta a declaração de insuficiência financeira, ficando
reservada à parte contrária a possibilidade de impugnar o
deferimento da benesse.
Por unanimidade, o colegiado considerou que a caracterização do MEI
e do EI como pessoas jurídicas deve ser relativizada, pois não
constam no rol do artigo 44 do Código Civil.
Com esse entendimento, os ministros negaram provimento ao recurso
especial em que uma transportadora, ré em ação de cobrança,
impugnou a gratuidade concedida pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) aos autores, dois empresários individuais.
O juiz de primeiro grau havia indeferido a gratuidade, considerando
que os autores deveriam comprovar a necessidade, porque seriam
pessoas jurídicas. A corte paulista, ao contrário, entendeu que a
empresa individual e a pessoa física se confundem para tal fim.10
.

10
Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/28042022-Gratuidade-de-justica-
para-MEI-e-EI-exige-apenas-declaracao-de-falta-de-recursos--decide-Quarta-Turma.aspx Acesso: 07
de agosto de 2022.

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Enquadramento Econômico

A Microempresa e a Empresa de Pequeno Porte se submetem ao mesmo


regime jurídico, mudando apenas seu enquadramento. A Microempresa é exigido
faturamento bruto anual de até 360.000,00 e para a Empresa de Pequeno Porte o
limite de faturamento deve ser superior a R$360.000,00 até R$4.800.000, conforme
se depreende da LC 123/06:

Art. 3º. Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se


microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade
empresária, a sociedade simples, a empresa individual de
responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente
registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil
de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita
bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil
reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-
calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro
milhões e oitocentos mil reais).
(...)

Empresários individuais, sociedades empresárias e sociedades simples


podem se enquadrar, desde que dentro dos limites das faixas de faturamento bruto
anual (critério econômico), e que não exista impedimentos.

Impedimentos de enquadramento de ME’s e EPP’s

São excluídos do enquadramento:

• Pessoa jurídica sócia de outra pessoa jurídica


• Pessoa jurídica pertencente a pessoa jurídica estrangeira
• Pessoa jurídica que tenha sócio pessoa física participante de outra
pessoa jurídica beneficiada

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• Sócio com mais de 10% do capital em outra pessoa jurídica não
beneficiada
• Sócio administrador de pessoa jurídica com receita que ultrapasse limite
• Resultante de cisão nos últimos 5 anos
• Constituída sob regime da Lei 6.404/1976 (sociedade em comandita por
ações e a sociedade anônima)

Visualiza-se do artigo 3º do Estatuto em questão:

(...)
§4º Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado
previsto nesta Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art.
12 desta Lei Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa
jurídica:
I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica;
II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de
pessoa jurídica com sede no exterior;
III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como
empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento
jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que
a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do
caput deste artigo;
IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do
capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar,
desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o
inciso II do caput deste artigo;
V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra
pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global
ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo;
VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo;
VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica;
VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de
desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito,
financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou
de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa
de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou
de previdência complementar;
IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de
desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5
(cinco) anos-calendário anteriores;
X - constituída sob a forma de sociedade por ações.
XI - cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o
contratante do serviço, relação de pessoalidade, subordinação e
habitualidade. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
(...)

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EXCEÇÃO – PRODUTOR RURAL

O artigo 971 do Código Civil não obriga o produtor rural necessariamente a se


registar na Junta Comercial, sem tratando de um praticante de atividade econômica
de natureza civil. Dado esse tratamento diferenciado, o produtor rural também poderá
se beneficiar do regime jurídico da Lei Complementar 123/2006.

Art. 3o-A. Aplica-se ao produtor rural pessoa física e ao agricultor


familiar conceituado na Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006, com
situação regular na Previdência Social e no Município que tenham
auferido receita bruta anual até o limite de que trata o inciso II do caput
do art. 3o o disposto nos arts. 6o e 7o, nos Capítulos V a X, na Seção
IV do Capítulo XI e no Capítulo XII desta Lei Complementar,
ressalvadas as disposições da Lei no 11.718, de 20 de junho de 2008.
Parágrafo único. A equiparação de que trata o caput não se aplica às
disposições do Capítulo IV desta Lei Complementar.

Regimes tributários

São regimes tributários previstos no ordenamento:


1. Regime de Lucro Real
2. Regime de Lucro Presumido
3. Regime do Simples Nacional

Os dois primeiros são regimes voltados a qualquer empresa, porém o


SIMPLES Nacional são exclusivos das Microempresa e Empresa de Pequena Porte.
No entanto tal não significa que o regime do SIMPLES Nacional será sempre
o de menos custo tributário, o ideal é realizar um planejamento tributário para
verificação de qual sistema seria o mais vantajoso a empresa. Mas geralmente é um
custo médio de 20% menor para o Simples.

Plano Especial de Recuperação Judicial

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Como qualquer empresa, as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
estão sujeitas a terem percalços econômicos, mas podem se beneficiarem do plano
especial de recuperação judicial. Esse sistema pode equacionamento de dívidas.

Art. 70, Lei 11.101. As pessoas de que trata o art. 1º desta Lei e que
se incluam nos conceitos de microempresa ou empresa de
pequeno porte, nos termos da legislação vigente, sujeitam-se às
normas deste Capítulo.
§1º As microempresas e as empresas de pequeno porte,
conforme definidas em lei, poderão apresentar plano especial de
recuperação judicial, desde que afirmem sua intenção de fazê-lo na
petição inicial de que trata o art. 51 desta Lei.
(...)

Porém, há situação que poderá excluir automaticamente deste plano especial:

Art. 3º, LC 123. § 6º. Na hipótese de a microempresa ou empresa


de pequeno porte incorrer em alguma das situações previstas
nos incisos do § 4o, será excluída do tratamento jurídico
diferenciado previsto nesta Lei Complementar, bem como do
regime de que trata o art. 12, com efeitos a partir do mês seguinte ao
que incorrida a situação impeditiva.
§ 9º A empresa de pequeno porte que, no ano-calendário, exceder o
limite de receita bruta anual previsto no inciso II do caput deste
artigo fica excluída, no mês subsequente à ocorrência do excesso, do
tratamento jurídico diferenciado previsto nesta Lei Complementar,
incluído o regime de que trata o art. 12, para todos os efeitos legais,
ressalvado o disposto nos §§ 9o-A, 10 e 12.
§ 9o-A. Os efeitos da exclusão prevista no § 9º dar-se-ão no ano-
calendário subsequente se o excesso verificado em relação à
receita bruta não for superior a 20% (vinte por cento) do limite
referido no inciso II do caput.
§ 10. A empresa de pequeno porte que no decurso do ano-calendário
de início de atividade ultrapassar o limite proporcional de receita
bruta de que trata o § 2º estará excluída do tratamento jurídico
diferenciado previsto nesta Lei Complementar, bem como do regime
de que trata o art. 12 desta Lei Complementar, com efeitos retroativos
ao início de suas atividades.

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Bibliografia

Agência Brasil. Pequenos negócios geram renda de R$ 420 bi por ano,


aponta levantamento do Sebrae. 6 de julho de 2022. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/business/pequenos-negocios-geram-renda-de-r-420-bi-
por-ano-aponta-levantamento-do-sebrae/. Acesso em: 07/08/2022.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,


DF. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em:
07/08/2022.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em:
07/08/2022.

BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação


judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília,
DF. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em: 07/08/2022.

BRASIL. Lei Complementar Nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o


Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Brasília, DF.
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COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa.


33ª Edição revisada, atualizada e ampliada. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2022.

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CRUZ, André Santa. Manual de Direito Empresarial – Volume Único. 11ª
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LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20ª edição, revisada,


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TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria Geral e direito


societário – volume 1. 13ª edição: São Paulo, SaraivaJur, 2022.

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