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Licitações, Microempresas, EPPs e o

Tratamento Diferenciado da LC 123

O artigo desta semana foge dos textos habituais de contratos, direito


de família, posse e propriedade, além de outras mazelas do cotidiano
da vida em sociedade.

Ao contrário de nós meros mortais, que podemos comprar o que


quisermos (ou pudermos), de quem escolhemos e pelo preço que
combinamos (sem grandes formalidades), a Administração Pública
(União, Estados, Municípios, dentre outros), em regra, só podem
contratar (comprar produtos e tomar serviços) através de prévio
processo de licitação.

Aliás, saliento que a Lei 8.666/93 foi recentemente prorrogada até 29


de dezembro de 2023, por pura pressão dos Municípios.

E falando em Municípios, eis que o cliente procura o advogado pois


participou de licitação para fornecer produtos para determinada
municipalidade, em lote exclusivo destinado a microempresas e
empresas de pequeno porte, conforme inteligência da Lei
Complementar 123/2006.

Ocorre que, pela falta de uma certidão negativa, ele não pode
competir e pior, tendo sido negada a juntada posterior do
documento, contrariando a previsão da Lei e do Edital do Pregão.
Destaca-se que o tratamento diferenciado das MEs e EPPs encontra
suporte nos artigos 170, inciso IX e 179 da CF/88, respectivamente,
in verbis:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização


do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: [...]

IX - tratamento favorecido para as empresas de


pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e
que tenham sua sede e administração no País.

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios dispensarão às microempresas e às
empresas de pequeno porte, assim definidas em lei,
tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-
las pela simplificação de suas obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e
creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por
meio de lei.

Com a criação da lei complementar n° 123/2006, tornou-se


obrigatória a adoção, pela administração pública, de uma destinação
exclusiva das licitações às ME e EPP nos itens de contratação cujo o
valor deve ser de até R$ 80.000,00:

“Nas contratações públicas da União, dos Estados e


dos Municípios, poderá ser concedido tratamento
diferenciado e simplificado para as microempresas e
empresas de pequeno porte objetivando a promoção
do desenvolvimento econômico e social no âmbito
municipal e regional, a ampliação da eficiência das
políticas públicas e o incentivo à inovação tecnológica,
desde que previsto e regulamentado na legislação do
respectivo ente.”

Entretanto, em 2014, com a Lei Complementar nº 147/2014,


algumas modificações foram feitas:

“Nas contratações públicas da administração direta e


indireta, autárquica e fundacional, federal, estadual e
municipal, deverá ser concedido tratamento
diferenciado e simplificado para as microempresas e
empresas de pequeno porte objetivando a promoção
do desenvolvimento econômico e social no âmbito
municipal e regional, a ampliação da eficiência das
políticas públicas e o incentivo à inovação
tecnológica.”

Convergente, e mais especificamente sobre a concessão de prazo


para regularização de documentos, está o comentário do advogado
especialista Giovani Duarte Olveira:

O tratamento diferenciado concedido às ME e EPP


visou incentivar o desenvolvimento econômico, com
foco na distribuição de renda, na ampliação da
arrecadação estatal e principalmente na geração de
empregos, pois, a norma jurídica é utilizada
justamente com o intuito de fomentar a criação de
empresas dessa natureza, como verdadeiro
mecanismo de indução e de desenvolvimento desse
importante extrato da economia nacional.

No momento do certame licitatório, a comprovação de


que sua empresa está enquadrada como ME ou EPP, e
está apta a usufruir do tratamento diferenciado
estabelecido pela Lei supramencionada, dará-se
através da apresentação da certidão expedida pela
Junta Comercial e/ou declaração de que a empresa
cumpre os requisitos necessários legais para a
qualificação como microempresa ou empresa de
pequeno porte.

Dentre as condições favorecidas às micro e pequenas


empresas para contratações com a Administração
Pública, por intermédio de licitações públicas, uma
delas é no próprio certame licitatório, onde se caso
haja restrições fiscais, será assegurado o prazo de 05
(cinco) dias úteis, prorrogáveis por igual período, para
a regularização da documentação fiscal exigida.

http://duarteoliveira.adv.br/o-tratamento-
diferenciado-das-micro-e-pequenas-empresas-me-e-
empresas-de-pequeno-porte-epp-no-certame-
licitatorio/

Mas atenção: mesmo para as MEs e EPPs não há possibilidade de


juntada posterior de todo e qualquer documento em uma licitação!
Há uma taxatividade de permissão de regularização da documentação
trabalhista e fiscal apenas! Logo, a certidão negativa que faltava para
o conjunto documental do licitante prejudicado, é exemplo típico da
possibilidade de saneamento. Negado o direito a juntada a posteriori
poderá o prejudicado apresentar recurso administrativo e na
manutenção da ofensa, caberá denúncia ao Tribunal de Contas, não
obstante Mandado de Segurança junto ao Poder Judiciário.

NOTA DE REDAÇÃO: Cícero Mouteira é advogado, professor


universitário e de cursos preparatórios, Assessor Jurídico da PMMG,
lidando diariamente como processos licitatórios, muitos deles com a
participação de microempresas e empresas de pequeno porte.

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