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LIVROS

Impactos da
informalidade no Brasil
Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O processo de redução da informali- que ainda é de primeira ordem”, diz


dade da economia observado a par- Ulyssea. São 15 artigos produzidos
tir do início deste milênio foi uma por 23 economistas de diferentes
das peças que colaboraram para a instituições – aos que se incluem os
expressiva redução da desigualdade organizadores – que buscam analisar
no Brasil verificada desde então. A os principais motivos que levam a
entrada de trabalhadores e empreen- informalidade a permanecer tão alta rísticas relativas à menor produti-
dedores ao sistema formal fez parte no país, as consequências desse ele- vidade, como a baixa escolaridade,
do processo de crescimento da renda vado nível e o impacto das políticas atividades econômicas de menor
do trabalho que, por sua vez, foi cor- públicas voltadas para o tema. valor agregado por trabalhador e a
responsável pelo impulso que elevou A obra é dividida em três partes. presença em regiões menos desen-
milhões de pobres à classe média. Na primeira, os pesquisadores se volvidas. Esses três fatores são os
Mesmo com avanços importan- debruçam sobre as características de maior impacto na probabilidade
tes, entretanto, ainda há muita infor- da informalidade no Brasil. Entre de um trabalhador por conta pró-
malidade no Brasil. Dados da Pnad as várias análises reunidas, Barbosa pria, por exemplo, ter ou não CNPJ,
de 2013 apontam que esta responde Filho e Veloso apontam a correla- dizem os pesquisadores. Marta
por 38% das relações de trabalho e ção da informalidade com caracte- Tanuri-Pianto e Donald Pianto, da
66,7% dos empreendimentos, man-
tendo-se como um tema de destaque
na agenda do país, principalmente Dimensão da informalidade no mercado de
em momento de forte recessão da trabalho na América Latina
atividade econômica, que tende a 70 65,5
61,8
ameaçar o que já foi conquistado. 60 53,9 53,9
52,5
Esse contexto motivou o lança- 50 45,7
mento da mais recente publicação da 38,0 39,2 39,4
40 34,2
FGV/IBRE, Causas e consequências 28,7 29,3
30
da informalidade no Brasil, organi-
20 15,5
zado pelos pesquisadores da Econo- 13,0
mia Aplicada do IBRE Fernando de 10

Holanda Barbosa Filho e Fernando 0


Uruguai

Chile

Costa Rica

Rep. Dominicana

Argentina

Brasil

Colômbia

Venezuela

Equador

El Salvador

Bolívia

Peru

Paraguai

México

Veloso, juntamente com Gabriel


Ulyssea, da PUC-Rio. “Buscamos
sistematizar o conhecimento produ-
zido sobre o tema para entender com
Fonte: Livro Causas e consequências da informalidade no Brasil a partir dos dados da Sedlac/Cedlas, disponíveis em
mais profundidade esse problema, http://sedlac.econo.unlp.edu.ar/eng/.

3 6 C o n j u n t u r a E c o n ô m i c a | M a r ç o 2 016
CONJUNTURA LIVROS

Universidade de Brasília, destacam Proporção de trabalhadores por conta própria e


a heterogeneidade presente no seg- empregadores sem CNPJ (%)
mento de trabalho informal, que faz
com que nem sempre o trabalhador 86 84,4 83,2 82,2
informal seja prejudicado por estar
nessa situação. Em seu capítulo, eles
mostram que, enquanto nos quantis
superiores de distribuição de salário 31,6
não se identifica que os trabalhado- 24,5 23,8 21,4
res sejam prejudicados por estarem
fora do setor formal, nos quantis 2009 2010 2011 2012
de mais baixa renda do trabalho os Conta própria Empregador
descontos na remuneração podem
chegar a até 55% se comparados Fonte: Livro Causas e consequências da informalidade no Brasil a partir de dados da Pnad.
ao salário de um trabalhador com
as mesmas características atuando
na formalidade. Quando se trata da entrada e operação na formalidade, si mesmo caso seu objetivo seja a
informalidade nas empresas, por sua como o Simples e o MEI, lançando melhora do desempenho econômico
vez, Ulyssea, Dimitri Szerman (PUC- um importante alerta sobre o custo do país como um todo.
Rio) e Fernanda Cabral (Petrobras) dessas políticas frente aos resultados No prefácio do livro, o economista
indicam que as firmas informais têm que apresentam. Ricardo Paes de Barros ressalta que a
um desempenho médio 57% inferior A terceira e última parte do li- continuidade da redução da informa-
ao das formais, e que empresas mais vro concentra artigos que analisam lidade “depende de políticas públicas
longevas, com proprietários mais es- as consequências da informalidade baseadas numa adequada compre-
colarizados, em geral são as de me- para a economia brasileira, com ensão das causas, dos acertos e dos
lhor desempenho. destaque para sua contribuição à erros que cometemos ao longo da
Para a segunda parte do livro, elevação da produtividade do tra- última década”, e que estudos como
os organizadores reuniram capítu- balho. Sobre esse tema, Veloso e os reunidos no livro do IBRE reúnem
los que analisam as determinantes Barbosa Filho demonstram que no evidências da necessidade de se mudar
da informalidade. Carlos Henrique período de 2003 a 2009, caracteri- a direção do que tem sido feito para
Corseuil e Miguel Foguel, do Ipea, zado pela aceleração do crescimen- essa finalidade. “Este livro é uma obra
relacionam a evolução da formalida- to da produtividade no Brasil, a for- de leitura indispensável a todos que,
de à expansão do ciclo econômico, malização contribuiu com 58% da ao longo da próxima década, irão de-
demonstrando que a redução da in- expansão da produtividade do tra- senhar, apoiar ou criticar as políticas
formalidade acompanha a queda da balho. Mas destacam que esse resul- púbicas brasileiras na sua relação com
taxa de desemprego. Nessa parte da tado deveu-se ao deslocamento da a informalidade”, conclui. 
obra, também são avaliados os resul- força de trabalho de segmentos de
tados de algumas políticas de incen- mais baixa produtividade para ou-
tivo à migração para a formalidade, tros formais de produtividade mais
Ficha técnica: Causas e consequências da
entre elas, o impacto de medidas de elevada. Em outro capítulo, Ulyssea informalidade no Brasil.
acesso ao crédito como o uso do Car- ressalta que parte das empresas que Realização: FGV/IBRE.
tão BNDES – criado em 2003 para atuam na informalidade se caracte-
Organizadores: Fernando de Holanda
atender a micro, pequenas e médias riza por baixa produtividade, e que, Barbosa Filho, Gabriel Ulyssea e Fernan-
empresas –; de aumento da inspeção por isso, políticas de redução do do Veloso.
do trabalho; bem como de políticas grau de informalidade não devem Editora: Elsevier.
de facilitação e redução de custo de ver a formalização como um fim em Previsão de lançamento: março.

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