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2 TELETRABALHO: EFEITOS E DESAFIOS PÓS-PANDEMIA DO COVID-19

Além da perda imensurável de vidas humanas, a pandemia do COVID-


19 também afetou profundamente o mundo corporativo. De acordo com
estatísticas experimentais publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, até a primeira quinzena de junho de 2020, mais de 1,3 milhão de
empresas fecharam suas operações temporária ou permanentemente, sendo
as PMEs as mais afetadas. No entanto, grandes empresas também adotaram
ajustes rápidos e necessários para evitar a contaminação dos funcionários e
prejuízos financeiros (IBGE, 2020).
Dessa forma, a experiência de distanciamento social imposta pela
pandemia incentivou o trabalho remoto. Essa prática não é nova no país, como
evidenciam Barros e Silva (2010, p. 72), que explicam que, há mais de duas
décadas, "o avanço das tecnologias de informação e comunicação e as
mudanças na sociedade" levaram a "novas formas de flexibilização das
relações de trabalho, incluindo o teletrabalho." No entanto, a experiência
internacional tem demonstrado que o trabalho remoto tem funcionado como
alternativa para reduzir o risco de contrair o novo coronavírus, o que tem feito
cada vez mais empresas recorrerem a esta modalidade (FADINGER;
SCHYMIK, 2020).
Após os argumentos discutidos nos parágrafos acima, podemos agora
incluir que os resultados obtidos com a busca realizada na base de dados
SciELO com as palavras-chave teletrabalho e teletrabalho, seguindo os
critérios metodológicos indicados acima, revelam que apenas 10 trabalhos
atendem a esse critério. Ressalta-se que nos últimos cinco anos foram
publicados quatro trabalhos, o que pode indicar um maior interesse pelo tema
como tema de pesquisa nos últimos tempos.
No Brasil, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
constatou que:
22,7% dos empregos no Brasil podem ser feitos inteiramente de casa,
com variações significativas entre as diferentes unidades da
Federação e os tipos de atividades profissionais, correspondendo a
aproximadamente 20,8 milhões de pessoas.
Mais adiante disso, a pesquisa do IPEA (2020, p.7) comprovou uma
“ligação positiva em meio a taxa de teletrabalho e renda per capita”, ou seja, ao
grau que a renda média é abrangida, também se desenvolve a porcentagem de
profissionais em home Office e verificou ainda que “Federações e tipos de
atividades profissionais” Assim, as desigualdades observadas na sociedade
são replicadas no contexto do teletrabalho.
Em estudo realizado em uma repartição pública que programa o home
Office, Filardi, Castro e Zanini (2020, p. 43-44) apontam que os
teletrabalhadores consideram como principais vantagens desse método “o
custo de transporte e alimentação, maior segurança, menor exposição à
violência e poluição, maior privacidade, convívio familiar, mais interação e
melhor qualidade de vida, forte aposta na sua individualidade” e “autonomia,
motivação”, produtividade, flexibilidade de horários, menos interrupções e
qualidade de trabalho nos aspetos relacionados com a atividade profissional
foram reconhecidos como ganhos. Aliás, eles destacam como desvantagens.

Problema de infraestrutura tecnológica principalmente falta de


treinamento específico, não adaptação ao trabalho remoto, perda de
vínculo com a empresa, isolamento profissional, falta de comunicação
imediata, perda de cargo Medo de ser julgado mal e não ter
reconhecimento (FILARDI, CASTRO E ZANINI, 2020. P. 43-44).

De fato, esses problemas inerentemente colocados têm inúmeras


dificuldades e limitações, mas também desafios alcançáveis. As regras usuais
que contribuem para a saúde e segurança do trabalho em ambiente tradicional
devem ser observadas do ponto de vista do teletrabalho. Lima reforça essa
ideia ao enfatizar a necessidade de se comportar adequadamente no contexto
do trabalho remoto com a adoção de medidas de proteção ao ambiente de
trabalho.
Esforços empreendidos para tomar medidas para evitar a superlotação
nas empresas parecem ser cruciais no cenário da pandemia de Covid-19.
Iniciativas como as apresentadas pelo Laboratório de Psicologia
Organizacional e do Trabalho da Universidade de São Paulo e publicadas por
Mishima-Santos, Sticca e Zerbini (2020, p. 9) podem contribuir para evitar o
aparecimento do estresse e outras consequências negativas para a saúde dos
trabalhadores. As estratégias de proteção incluem ações que promovam a
interação social; promover o apoio aos colaboradores dos gestores; e contam
com suporte técnico e operacional da organização.
Jackson Filho e col. (2020, p. 2) sublinhou que, para vencer os desafios
das organizações relacionados com as condições de trabalho durante a
pandemia, é necessário criar medidas e ações de saúde pública “no âmbito de
cada atividade laboral e práticas de saúde” capazes de assegurar os interesses
comuns da nação.
Embora existam algumas ressalvas quanto a isso, essa atitude vem
sendo adotada pelas empresas por meio das telecomunicações. Essa linha de
atuação corporativa não é irrelevante, pois se ressalta a importância de integrar
o conhecimento científico, a transparência e as ações nas dimensões do
negócio (JACKSON FILHO et al., 2020).
Enquanto as empresas pressionam por novas formas de recrutamento e
arranjos de trabalho mais flexíveis, o caminho para o teletrabalho parece
enfrentar os desafios das reestruturações da força de trabalho associadas ao
trabalho precário. O mundo do direito trabalhista foi duramente atingido pela
pandemia, exigindo adaptações visando à manutenção de empregos e grandes
ajustes na capacidade produtiva das indústrias e serviços não essenciais
(CARDOSO; LIMA, 2020).
A negociação coletiva tornou-se ainda mais importante do que aquela
definida pela revisão da CLT realizada em 2017, onde foi possível definir na
singularidade de determinado segmento medidas extraordinárias que alteraram
significativamente as regras de funcionamento, o pagamento de salários e a
implementação do horário de trabalho numa altura em que enfrentamos o
Covid-19.
O cenário de trabalho instável e incerto criado pela pandemia estão
afetando a negociação coletiva, como pode ser visto pelo crescente número de
acordos coletivos no Mediador, um módulo do Sistema Integrado de Relações
Trabalhistas do Ministério do Trabalho para registrar acordos e convenções
coletivas (BRIDI, 2020).
REFERENCIAS

BARROS, A. M.; SILVA, J. R. G. Percepções dos indivíduos sobre as


consequências do teletrabalho na configuração home-office: estudo de caso na
Shell Brasil. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 71-91, Mar.
2010. http://dx.doi.org/10.1590/S1679-39512010000100006.

BRIDI, M. A. A pandemia Covid-19: crise e deterioração do mercado de


trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2020

CARDOSO, A. C. M. LIMA, C. R. de. A negociação coletiva e as possibilidades


de intervenção nas situações de risco à saúde no trabalho. Rev Bras Saude
Ocup 45:e2, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbso/v45/2317-
6369-rbso-45-e2.pdf. Acesso em: 1 nov. 2022.

FADINGER, H.; SCHYMIK, J. The costs and benefits of home office during the
Covid-19 pandemic: Evidence from infections and an input-output model for
Germany. Covid Economics, v. 9, n. 24, abr. 2020, p. 107-134. Disponível em:
http://fadinger.vwl.unimannheim.de/Research_files/CovidEconomics9.pdf#page
=112. Acesso em: 1 nov. 2022.

FILARDI, F. et al. Vantagens e desvantagens do teletrabalho na administração


pública: análise das experiências do Serpro e da Receita Federal. Cad.
EBAPE.BR, v. 18, no 1, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/cebape/v18n1/1679-3951-cebape-18-01-28.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2022.

IBGE. INDICADORES CONJUNTURAIS – COVID-19. PRODUTOS


ADICIONAIS PARA APOIAR OS ESFORÇOS NO COMBATE À COVID-19.
Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/
548281f191c80ecbbb69846b0d745eb5.pdf. Acesso em: 1 nov. 2022.

IPEA. NOTA TÉCNICA. Potencial de teletrabalho na pandemia: um retrato no


Brasil e no mundo. Carta de Conjuntura, n. 47, 2º trimestre de 2020. Disponível
em:https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/200608_nt_c
c47_teletrabalho.PDF. Acesso em: 1 nov. 2022.

JACKSON FILHO, M. J; ASSUNÇÃO, A. A.; ALGRANTI, E; GARCIA, G. E;


SAITO, C. A.; MAENO, M. A saúde do trabalhador e o enfrentamento da
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https://doi.org/10.1590/2317-6369ed0000120.

MISHIMA-SANTOS, V.; STICCA, M. G.; ZERBINI, T. Teletrabalho e a


Pandemia da Covid-19: Um Guia para Organizações e Profissionais.
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https://www.ffclrp.usp.br/imagens_noticias/15_04_2020__18_23_45__108.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2022.

4.1 A Flexibilização do contrato de trabalho durante a pandemia do covid-19

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