Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN 2319-0485 e13834
A LEGITIMAÇÃO DO MODELO
DE NEGÓCIO DAS FINTECHS NO
PÓS-PANDEMIA, SOB A PERSPECTIVA
DA NOVA TEORIA INSTITUCIONAL
THE LEGITIMATION OF THE FINTECHS BUSINESS MODEL
IN THE POST-PANDEMIA, UNDER THE PERSPECTIVE OF THE
NEW INSTITUTIONAL THEORY
Recebido em 31.7.2020
Aprovado em 16.10.2020
RESUMO
O principal objetivo deste artigo foi analisar a abordagem das fintechs mediante o cenário atual e como
a sua estratégia contribui para sua institucionalização no cenário pós-pandemia. Tendo como base o
arcabouço teórico de autores seminais da New Institucional Sociology (NIS), o estudo pretende contri-
buir, por meio de dois estudos de caso representativos nesse segmento, com o conhecimento da estraté-
gia de atendimento às necessidades das famílias, dos “desbancarizados” e dos micro e médio empresá-
rios, que se depararam com um contexto de falta de crédito e de perda de renda em virtude da pandemia
da Covid-19. A partir da análise de conteúdo de dados documentais das plataformas digitais, publica-
ções de jornais, sites especializados e governamentais, foi possível evidenciar como a estratégia de ado-
ção de soluções inovadoras e de tradução das necessidades do mercado conduzem para a legitimação do
modelo de negócios das fintechs.
PALAVRAS-CHAVE
Fintech. Teoria Institucional. Estratégia. Pós-Pandemia.
ABSTRACT
The goal of this research is to analyze the approach of fintechs through the Brazilian current scenario
and how their strategy contributes to its institutionalization of the post-pandemic panorama. Based on
the theoretical framework of New Institutional Sociology (NIS) authors, this study intends to contribute
to attendance strategy knowledge of family needs, for those people without a bank account, as well as
small and mid-sized businesses. A study case was conducted in two significant fintechs and through
content analysis from websites and digital platforms, it was possible to underline how a strategy of inno-
vative solutions adoption and market’s needs translation drives to the legitimization of fintechs business
model.
KEYWORDS
Fintech. Institutional Theory. Strategy. Post-Pandemic.
2
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
INTRODUÇÃO
4
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
de três mil empresas, com desembolso total de R$ 50 milhões. Todo o processo de solici-
tação do empréstimo é feito on-line, sem burocracia e sem exigências de bens ou imóveis
como garantias (MOREIRA, 2020).
Em economias emergentes ou em desenvolvimento, entre elas a do Brasil, são as es-
tratégias que moldam o desempenho das empresas, que são apresentadas pelas institui-
ções formais e informais dos países, pois são as instituições que ditam as regras de com-
petição nos mercados (PENG; WANG; JIANG, 2008). North (1992) complementa que as
instituições apresentam as restrições de comportamento dentro de uma sociedade. Con-
sequentemente, diminuem as incertezas, ambiguidades do ambiente, por apresentarem
uma estrutura, um guia para as atividades (NORTH, 1992).
Segundo Burns e Scapens (2000, p. 4), a teoria institucional tem possibilitado diver-
sas abordagens em estudos organizacionais, ampliando o conhecimento no que tange à
gestão das organizações, na medida em que um empreendimento é o resultado da ação
humana planejada, das suas interações no contexto cultural e político, além de processos
cognitivos, simbólicos e sociais. A abordagem institucional busca explicar os fenômenos
organizacionais, por meio do entendimento da legitimação de estruturas e processos or-
ganizacionais, e quais as suas consequências nos resultados planejados para as organiza-
ções (FACHIN; MENDONÇA, 2003).
Assumindo o pressuposto de que a institucionalização das fintechs passa pela sua
legitimação e as estratégias adotadas em países em desenvolvimento, que são apresenta-
das pelas instituições, ditam as regras de competição nos mercados, este artigo objetiva
verificar, a partir dos elementos teóricos contidos na New Institutional Sociology (NIS),
os elementos que favorecem a sua institucionalização e identificar os pontos críticos e os
benefícios. Nesse contexto, busca-se responder ao seguinte problema de pesquisa: como
a abordagem das fintechs contribui para a institucionalização do seu modelo e para a
transformação do mercado no mundo pós-pandemia?
A fim de avaliar empiricamente as fintechs, foram realizados estudos de caso das
fintechs Nubank e Banco Inter por meio da análise de documentos e sites. Como método
de tratamento das evidências, foram aplicadas técnicas de análise de conteúdo (BARDIN,
2006), permitindo a identificação de categorias e questões investigativas, com base nos
5
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Fintechs
6
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
7
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
As fintechs estão regulamentadas desde abril de 2018 pelo Conselho Monetário Nacional
(CMN) – Resoluções n. 4.656 e 4.657. O Banco Central do Brasil (2020) afirma que as
fintechs são empresas que introduzem inovações nos mercados financeiros por meio do
uso intenso de tecnologia com potencial para criação de modelos de negócios. O Bacen
(2020) apresenta em seu site institucional as seguintes categorias de fintechs: de crédito,
de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, ne-
gociação de dívidas, câmbio e multisserviços. Os benefícios das fintechs são: aumento da
eficiência e concorrência no mercado de crédito, rapidez e celeridade nas transações, di-
minuição da burocracia no acesso ao crédito, criação de condições para redução do custo
do crédito, inovação e acesso ao Sistema Financeiro Nacional (BACEN, 2020).
As fintechs brasileiras são, na sua maioria, startups que trabalham para inovar e
otimizar serviços do sistema financeiro, sendo apresentadas em várias categorias. As
fintechs que apresentam maior representatividade são as que permitem pagamentos di-
gitais e móveis, em qualquer plataforma e por meio de qualquer dispositivo, podendo
efetuar pagamentos e recebimentos sem tarifas, como também as fintechs de crédito, que
têm como objetivo oferecer crédito de modo fácil e rápido, além de serem menos buro-
cráticas em relação às instituições financeiras. Essa é a saída para aquelas pessoas sem
conta em banco que necessitam da aprovação para realizar empréstimos de dinheiro ou,
simplesmente, possibilitar o acesso a crédito para as pequenas, médias e micro empresas
(SEBRAE, 2018).
A partir de uma amostra de 295 fintechs, uma pesquisa foi realizada pelo Sebrae, em
2018, em parceria com a Associação Brasileira de Fintechs, a ABFintechs, e 84% das em-
presas pesquisadas apresentaram interesse em desenvolver produtos e serviços específi-
cos, voltados às necessidades das micro e pequenas empresas. A maioria das fintechs foca
em produtos e serviços que são justamente as maiores demandas não atendidas dos pe-
8
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
quenos negócios no sistema financeiro. Segundo essa pesquisa de 2018, os segmentos que
as fintechs atuam no Brasil são os demonstrados na Figura 1 e, por essa classificação,
banco digital é uma modalidade de fintech.
Câmbio
Crowdfunding
Seguros
Moedas digitais & blockchain
Bancos digitais
Gestão de investimentos
Gestão financeira
Eficiência financeira
Créditos e negociação de dívidas
Meios de pagamento
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Teoria Institucional
11
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Foi demonstrado por Meyer e Rowan (1977) que, à medida que Estados e outras
grandes organizações racionalizadas expandem seus domínios a outras áreas da vida so-
cial, as estruturas organizacionais refletem cada vez mais regras institucionalizadas e le-
gitimadas pelo Estado e dentro do Estado. Dessa forma, as organizações se tornam cada
vez mais homogêneas dentro de determinados domínios e mais organizadas em torno de
rituais, em conformidade com as instituições maiores.
O isomorfismo mimético resulta de respostas padronizadas à incerteza, pois, quan-
do as tecnologias organizacionais não são compreendidas (MARCH; OLSEN, 1976), as
metas são ambíguas ou o ambiente cria uma dúvida simbólica, as organizações podem
tomar outras como modelo. Como resposta à essa incerteza, referenciam-se em outras
organizações, resultando até em inovações conscientes, por conta de imitações, ou in-
conscientes, em virtude da busca por atributos inesperados (ALCHIAN, 1950).
As organizações podem desenvolver novas práticas, novas corporações podem ser
introduzidas e, a longo prazo, atores organizacionais, que tomam decisões racionais, pa-
vimentam um ambiente que restringe sua capacidade de continuar mudando nos anos
seguintes. Quando uma inovação é disseminada, a sua adoção proporciona legitimidade
em vez de melhorar o desempenho (MEYER; ROWAN, 1977). Estratégias podem ser
“normativamente sancionadas aumentando a probabilidade de sua adoção, porém a par-
tir de certo ponto na estruturação de um campo organizacional, o efeito agregado de
mudança individual diminui a diversidade no campo” (DIMAGGIO; POWELL, 1983).
O isomorfismo normativo é associado à profissionalização, a qual é interpretada por
DiMaggio e Powell (1983) como “a luta coletiva de membros de uma profissão para defi-
nir as condições e os métodos de seu trabalho e para estabelecer uma base cognitiva e
legitimação para a autonomia de sua profissão”. Eles enfatizam que, mesmo que haja dis-
tinção entre os diversos tipos de profissionais dentro de uma instituição, estes apresen-
tam semelhança com seus pares profissionais em outras organizações.
Relacionado no Quadro 1, o enfoque de Scott (1995) foi apresentar os pilares que
sustentam as instituições, ampliando, em 2001, os mecanismos de isomorfismo de
DiMaggio e Powell (1983).
12
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Base da Expectativas de
Regras regulatórias. Esquema constitutivo.
demanda sustentação.
13
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Estabilidade;
Desvinculação da parte técnica;
Resultado eficiência contingente em termos
ineficiência.
de alternativas.
Fonte: Zucker (1987, p. 445).
14
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Inovação
METODOLOGIA
16
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Processo de
institucionalização
A principal fintech startup da de DiMaggio
Inovação; Pré
América Latina é a Nubank, e Powell (1983),
criação de ‑Institucionalização;
fundada em 2013 (NUBANK, Zucker (1987),
elementos culturais. habitualização.
2020). Tolbert e Zucker
(1999), e Scott
(2001).
(continua)
17
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Processo de
Desde seu início, a startup pioneira institucionalização
de serviços financeiros atua como de DiMaggio
Inovação;
uma operadora de cartão de Pré- e Powell (1983),
criação de
crédito, oferecendo um serviço ‑Institucionalização; Zucker (1987),
elementos culturais.
digital, internacional e sem habitualização. Tolbert e Zucker
anuidades. (1999), e Scott
(2001).
Processo de
Conta gratuita e digital, sendo que
institucionalização
na abertura não é necessário
de DiMaggio
passar por uma análise de perfil e Inovação; Pré
e Powell (1983),
crédito – basta ter, no mínimo, 18 criação de ‑Institucionalização;
Zucker (1987),
anos, ser residente do Brasil e ter elementos culturais. habitualização.
Tolbert e Zucker
um smartphone compatível com
(1999), e Scott
os aplicativos Nubank.
(2001).
(continua)
18
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Semi
Processo de
Imposição dos órgãos reguladores, ‑institucionalização;
institucionalização
no caso das fintechs, pelo Conselho Processo de objetificação;
de DiMaggio
Monetário Nacional (BACEN, institucionalização. Isomorfismo;
e Powell (1983), e
2020). mecanismo
Scott (2001).
coercitivo.
Processo de
Institucionalização;
Em março de 2015, a empresa institucionalização
mecanismo
recebeu o prêmio Latam Founders de Meyer e Rowan
Legitimação. mimético;
de “Empresa Mais Inovadora” (1977), DiMaggio
ritualização;
(SANTOS, 2016). E Powell (1983), e
sedimentação.
Scott (2001).
Processo de
Institucionalização;
Em julho de 2016 foi indicado pela institucionalização
mecanismo
Interbrand para a lista de Meyer e Rowan
Legitimação. mimético;
Breakthrough Brand. (1977), DiMaggio
ritualização;
(INTERBRAND, 2016). e Powell (1983), e
sedimentação.
Scott (2001).
(continua)
19
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Processo de
Em agosto de 2016, foi eleita como Institucionalização;
institucionalização
uma das “Melhores Empresas Para mecanismo
de Meyer e Rowan
Trabalhar” pelo Great Places to Legitimação. mimético;
(1977), DiMaggio
Work Brasil (GREAT PLACE TO ritualização;
e Powell (1983), e
WORK BRASIL, 2020). sedimentação.
Scott (2001).
Processo de
Institucionalização;
Em janeiro de 2017, foi eleito pelos institucionalização
mecanismo
clientes como o melhor cartão, em de Meyer e Rowan
Legitimação. mimético;
um estudo realizado pela CVA (1977), DiMaggio
ritualização;
Solution (LEWGOY, 2017). e Powell (1983), e
sedimentação.
Scott (2001, p. 52).
Processo de
Institucionalização;
Em março de 2017, foi eleita, pelo institucionalização
mecanismo
segundo ano consecutivo, como a de Meyer e Rowan
Legitimação. mimético;
melhor empresa B2C pela Latam (1977), DiMaggio
ritualização;
Founders (STARTUPI, 2017). e Powell (1983), e
sedimentação.
Scott (2001).
Em fevereiro de 2018, no
16° Fórum Brasileiro de Processo de
Institucionalização;
relacionamento com o Cliente institucionalização
mecanismo
(FBRC) - Prêmio Experiência do de Meyer e Rowan
Legitimação. mimético;
Consumidor/IBRC, ficou em 3º (1977), DiMaggio
ritualização;
lugar no ranking geral e em 1º na e Powell (1983), e
sedimentação.
categoria cartão de crédito Scott (2001).
(NUBANK, 2020).
Processo de
Uma entre três que se tornou um Institucionalização;
institucionalização
unicórnio em 2018, apelido dado mecanismo
de Meyer e Rowan
às startups que conseguem atingir Legitimação. mimético;
(1977), DiMaggio
a marca de US$ 1 bilhão em ritualização;
e Powell (1983), e
avaliação de mercado. sedimentação.
Scott (2001).
(continua)
20
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Processo de
Em setembro de 2018, foi eleita Institucionalização;
institucionalização
como a empresa mais desejada mecanismo
de Meyer e Rowan
para se trabalhar no prêmio Legitimação. mimético;
(1977), DiMaggio
Linkedin Top Startups ritualização;
e Powell (1983), e
(GASPARINA, 2018). sedimentação.
Scott (2001).
Processo de
Em 2019, foi eleita como a Institucionalização;
institucionalização
empresa mais inovadora da mecanismo
de Meyer e Rowan
América Latina pela revista Fast Legitimação. mimético;
(1977), DiMaggio
Company (FAST COMPANY, ritualização;
e Powell (1983), e
2019). sedimentação.
Scott (2001).
Processo de
Institucionalização;
institucionalização
Em março de 2019, foi eleito como mecanismo
de Meyer e Rowan
o melhor banco do Brasil, segundo Legitimação. mimético;
(1977), DiMaggio
a revista Forbes (SUTTO, 2019). ritualização;
e Powell (1983), e
sedimentação.
Scott (2001).
(continua)
21
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Processo de
institucionalização
Em janeiro de 2020, alcançou a
Institucionalização; de Meyer e Rowan
marca de 20 milhões de clientes,
mecanismo (1977), DiMaggio
entre usuários do cartão de crédito Legitimação.
mimético; e Powell (1983),
e da conta digital NuConta
sedimentação. Tolbert e Zucker
(ROVAROTO, 2020).
(1999), e Scott
(2001).
Processo de
Em 2020, o Nubank torna-se o institucionalização
líder de acessos, com 58,03% do Institucionalização; de Meyer e Rowan
traffic share entre as fintechs. O mecanismo (1977), DiMaggio
Legitimação.
segundo lugar é do Banco Inter, mimético; e Powell (1983),
com 22,59%. sedimentação. Tolbert e Zucker
(1999), e Scott
(2001).
22
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Processo de
Ao longo de 25 anos, o Banco Inter
institucionalização
passou por uma transformação
de DiMaggio
expressiva, de um banco Inovação;
Pré e Powell (1983)
tradicional, uma financeira, para criação de
‑institucionalização. Zucker (1987),
100% digital, um banco múltiplo elementos culturais.
Tolbert e Zucker
com capital aberto (BANCO
(1999), e Scott
INTER, 2020).
(2001).
Processo de
Em 2016, iniciou as operações de
Semi institucionalização
câmbio e de cartão de crédito com Processo de
‑institucionalização; de Zucker (1987),
a empresa MasterCard (BANCO institucionalização.
habitualização. e de Tolbert e
INTER, 2020).
Zucker (1999).
(continua)
23
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Processo de
Em 8 de junho de 2017, institucionalização
Institucionalização;
ultrapassando a marca de 370 mil de Meyer e Rowan
isomorfismo;
clientes, o Banco Intermedium (1977), DiMaggio
Legitimação. mecanismo
ganhou uma nova marca, Banco e Powell (1983),
mimético;
Inter, que promoveu uma total Tolbert e Zucker
sedimentação.
renovação da sua imagem. (1999), e Scott
(2001).
Processo de
Institucionalização;
Registrou lucro líquido de R$ 24,7 institucionalização
isomorfismo;
milhões no 2º trimestre, de Meyer e Rowan
mecanismo
crescimento de 16,8% frente a (1977), DiMaggio
Legitimação. mimético;
2018 e 109,1% em relação ao 3T19 e Powell (1983),
sedimentação.
(BANCO INTER, Rel. de Tolbert e Zucker
Demonstr. Financeiras 2019). (1999), e Scott
(2001).
(continua)
24
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Processo de
Institucionalização; institucionalização
Lançamento do Super App em isomorfismo; de Meyer e Rowan
novembro de 2019 (BANCO mecanismo (1977), DiMaggio
Legitimação.
INTER, Rel. de Demonstr. mimético; e Powell (1983),
Financeiras 2019). sedimentação. Tolbert e Zucker
(1999), e Scott
(2001).
Processo de
Até o final do ano de 2019, somou Institucionalização; institucionalização
R$ 34 milhões em transações de isomorfismo; de Meyer e Rowan
serviços e produtos não mecanismo (1977), DiMaggio
Legitimação.
financeiros na plataforma digital mimético; e Powell (1983),
(BANCO INTER, Rel. de sedimentação. Tolbert e Zucker
Demonstr. Financeiras 2019). (1999), e Scott
(2001).
Processo de
Institucionalização; institucionalização
Registrou um crescimento de
isomorfismo; de Meyer e Rowan
180% e lucro líquido de 81,6
mecanismo (1977), DiMaggio
milhões em 2019 (BANCO Legitimação.
mimético; e Powell (1983),
INTER, Rel. de Demonstr.
sedimentação. Tolbert e Zucker
Financeiras 2019).
(1999), e Scott
(2001).
(continua)
25
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
Processo de
institucionalização
Institucionalização;
de Meyer e Rowan
Em julho de 2020, o banco isomorfismo;
(1977), DiMaggio
alcançou a marca de 6 milhões de Legitimação. mecanismo
e Powell (1983),
clientes (CAMPOS, 2020). mimético;
Tolbert e Zucker
sedimentação.
(1999), e Scott
(2001).
Processo de
Em 2020, o Nubank torna-se o
institucionalização
líder de acessos, com 58,03% do Institucionalização;
de Meyer e Rowan
traffic share entre as fintechs. O isomorfismo;
(1977), DiMaggio
segundo lugar em acessos de Legitimação. mecanismo
e Powell (1983),
aplicativos é do o Banco Inter, com mimético;
Tolbert e Zucker
22,59% (FINTECH, 2019). sedimentação.
(1999), e Scott
(2001).
26
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Nubank
Inovação e criação de
Pré-institucionalização. 4 17
elementos culturais.
Legitimação. Institucionalização. 17 70
Total 24 100
Banco Inter
Inovação e criação de
Pré-institucionalização. 1 7
elementos culturais.
Legitimação. Institucionalização. 11 68
Total 16 100
Fonte: Elaborada pela autora.
20 milhões
Volume de Clientes1. 6 milhões
(sexto maior do país)
(continua)
27
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
(continua)
28
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
Auto completo X
Viagem X
Residencial X
Odontológico X
Outros recursos
Recarga de celular. X X
Planos de celular3. X
1
Volume de Clientes Nubank – (Jan. 2020)/Volume de Clientes Inter – (Junho de 2020).
2
Taxas são a partir de 7,7% ao ano + TR ou 5% ao ano + IPCA. Imóvel em garantia.
3
Intercel - o usuário tem internet sem cortes, consegue utilizar aplicativos sem consumir a franquia e
pode garantir cashbacks nas recargas.
Fonte: Elaborado pela autora baseado em informações do Nubank (https://nubank.com.br/) e do Banco
Inter (https://ri.bancointer.com.br/).
29
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
30
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
como o processo que leva organizações em determinado setor a parecer-se com as outras
que partilham as mesmas condições ambientais (DIMAGGIO; POWELL, 2005). Ao
estudarmos o meio ambiente organizacional das empresas do segmento, visualizamos
que o Nubank, por ter sido disruptivo como negócio “modelo”, fez com que outras fin-
techs surgissem procurando imitá-la, com suas políticas e estruturas reproduzidas de
acordo com as pressões existentes nesse ambiente, sejam elas coercitivas, miméticas ou
normativas. O Nubank e o Banco Inter, em seus estágios iniciais de institucionalização
apresentaram grande diversidade quanto à forma, como pode ser constatado nos Qua-
dros 3 e 4, porém, uma vez passado por esse processo, ocorreu uma tendência para a
homogeneização.
Diferentemente de outras fintechs como o Nubank, que oferece a NuConta, uma
conta de pagamentos, o Banco Inter funciona efetivamente como uma conta-corrente.
Ou seja, com ela os clientes podem fazer todas as transações características de uma conta
aberta em um banco tradicional, mas com a vantagem de ser tudo gratuito e via web.
Ambos os bancos trabalham com conta digital para pessoa física, pessoa jurídica e MEI
(vide Quadro 5). Neste requisito, depreendemos que o Banco Inter procura se igualar
criando alternativas similares ao Nubank. O atendimento ininterrupto é um fator que
favorece o modelo de negócios das fintechs. O Banco Inter ao passar pela transformação
de tradicional para 100% digital, ratificou a legitimidade do modelo. Apesar dessa forma
apresentar desafios, pois a falta de contato pessoal pode incorrer em atrasos na percepção
das necessidades e desejos dos clientes, verificamos pelo Quadro 6 a sua institucionaliza-
ção nos bancos objetos de análise.
Ao nos debruçarmos nas unidades de análise (veja Quadros 3 e 4), sob a luz do pro-
cesso de institucionalização isomórfico baseado em DiMaggio e Powell (1983), Tolbert e
Zucker (1999), e em Scott (2001, p. 52), é verificado que o campo organizacional neste
segmento conduziu as organizações a se tornarem mais similares entre si. Isso porque as
forças emergentes relacionam-se com as definições institucionais das formas estruturais
legítimas. O ambiente institucional nos três mecanismos elencados por DiMaggio e
Powell (1983) influenciam as organizações apresentando similaridades nas suas estrutu-
ras e processos, inseridos em um mesmo ambiente institucional. Conforme os dados
31
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
32
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
33
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
sos estudados, a inovação (primeira fase) ocorre a partir de fatores exógenos provocados
pelas mudanças tecnológicas, alavancadas pela utilização maciça de smartphones, e as
forças do mercado que a impulsionam. As fintechs representam um canal totalmente
digital, que propicia uma conta-corrente livre de tarifas e cartão de crédito sem anuida-
de, requisitos mandatórios para o atendimento das necessidades de grande parcela da
população.
Na segunda fase, a habitualização, do processo de Tolbert e Zucker (1999), como a
palavra sugere, ocorre a adoção de práticas ou soluções inovadoras que configuram um
pré-requisito para a empresa se manter competitiva. O Nubank inovou com recursos
impensáveis para os bancos tradicionais, e a estratégia do Banco Inter em adotar práticas
de startups demonstra isso consolidado. A terceira fase, a objetificação, é demonstrada no
surgimento de novas fintechs startups e outros bancos tradicionais, bem como no alinha-
mento às melhores práticas do mercado em questão, procurando imitar as ideias inova-
doras em termos de processos e tecnologia. O acompanhamento, as parcerias realizadas
e criação de espaços inovadores pelos bancos tradicionais personificam a objetificação.
Essa é uma maneira que retrata o caminho para a obtenção de legitimidade, incorrendo
em uma ampliação no grau de mimetismo do setor.
A última fase, a sedimentação, passa por vários obstáculos e reforços positivos, como
o da legislação que a regulamenta. Os obstáculos são os relativos à resistência e à defesa
de grupos de interesses, materializados por meio dos bancos tradicionais que procuram
manter seu posicionamento no mercado. Porém, o impacto da concorrência das fintechs
torna-se visível nos números dos grandes bancos, com fechamento de agências ao serem
lançadas plataformas digitais. Paralelamente, passam a atuar maciçamente por meio de
investimentos na área. Nessa fase, conforme exposto supracitado e por meio dos dados
dos Quadros 3 e 4, o Nubank se legitima por meio do recebimento de prêmios e aportes,
e o Banco Inter com a criação da marca, com sua entrada no mercado de capitais em
2018, registrando um crescimento de 180% e lucro líquido de R$ 81,6 milhões em 2019
(BANCO INTER, 2019).
34
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal objetivo deste artigo foi analisar a abordagem das fintechs, mediante o cená-
rio atual, e como a sua estratégia contribui para institucionalização de transformação do
mercado financeiro no cenário pós-pandemia. Tendo como base o arcabouço teórico de
autores seminais da New Institucional Sociology (NIS), o estudo pretende contribuir, por
meio da análise de duas fintechs que apresentam um papel destaque nesse segmento, com
o conhecimento da estratégia de atendimento às necessidades das famílias e dos micro e
médio empresários, que se depararam com um contexto de falta de crédito e de perda de
renda em virtude da pandemia do Covid-19.
O movimento do novo institucionalismo, apresentado com força na área de estudos
organizacionais, tem uma ênfase cognitivista de explicação dos fundamentos da ação
social (DIMAGGIO; POWELL, 1983; MEYER; ROWAN, 1977; ZUCKER, 1987), que é
afetada pela tradição contingencial de localizar no ambiente os elementos condicionantes
da ação. Ou seja, os casos do Nubank e do Banco Inter procuram ilustrar como a sobre-
vivência desse modelo de negócios depende da capacidade das orientações coletivamente
compartilhadas, que reforçam o mimetismo organizacional. Foi possível evidenciar como
a estratégia da fintech líder na categoria, bem como da representante de fintech que pas-
sou pela transformação de um banco tradicional para o banco totalmente digital, de ado-
ção de soluções inovadoras e de tradução das necessidades do mercado, contribuem para
a legitimação desse modelo de negócios.
Portanto, tendo em vista o atual panorama brasileiro, as fintechs podem ser a solu-
ção, no contexto de pós-pandemia, para aqueles que precisam de crédito rápido, como
os pequenos e médios negócios, por facilitar o acesso a recursos, e, principalmente, para os
“desbancarizados”, por representar um instrumento de inclusão financeira, ao contrário
das instituições financeiras tradicionais, que historicamente os excluem.
Como sugestão para futuras pesquisas, propõe-se utilizar a mesma abordagem de
análise em outras startups ou empreendimentos que apresentem os mesmos pressupostos
de inovação e diferenciação inerentes aos casos pesquisados, e que venham a contribuir
para o atual cenário brasileiro.
35
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
REFERÊNCIAS
ALCHIAN, A. Uncertainty, evolution and economic theory. Journal of Political Economy. Chi-
cago, v. 58, n. 3, p. 211-22, 1950. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1827159?-
seq=1. Acesso em: 7 dez. 2020.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE CARTÕES DE CRÉDITO E SERVIÇOS –
ABECS. Pesquisa sobre hábitos de consumo, 2013. Disponível em: https://api.abecs.org.br/
wp-content/uploads/2019/09/AbecsDatafolha-Mercado-de-Meios-Eletro%CC%82nicos-
-de-Pagamento-Apresentac%CC%A7a%CC%83o-2013.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020.
BADER, M. Banco virtual. Marketing. GV Executivo, São Paulo, v. 5, n. 3, 2006. Disponível em:
https://rae.fgv.br/gv-executivo/vol5-num3-2006/banco-virtual. Acesso em: 1º dez. 2020.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Conselho Monetário Nacional (CMN) – Resolu-
ções 4.656 e 4.657. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downlo-
adNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/50579/Res_4656_v1_O.pdf.
Acesso em: 15 jul. 2020.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Fintechs. Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/estabilidadefinanceira/fintechs. Acesso em: 28 jul. 2020.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Taxa Selic. Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/#!/n/SELIC. Acesso em: 10 set. 2020.
BANCO INTER. Relatório Gerencial e de Demonstrações Financeiras. 2019. Disponível em:
https://ri.bancointer.com.br/Download.aspx?Arquivo=qvHFcxXkGKmL68ine4bBew==.
Acesso em: 15 set. 2020.
BANCO INTER. Relatório institucional. Disponível em: https://ri.bancointer.com.br/Download.
aspx?Arquivo=MnvNB7THZFcck1Z7FI/uUA==&linguagem=pt. Acesso em: 15 ago. 2020.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2006.
BETTINGER, A. FINTECH: A series of 40 time shared models used at manufacturers Hano-
ver Trust Company. Interfaces, Ithaka, v. 2, n. 4, p. 62-63, Aug., 1972.
BURNS, J.; SCAPENS, R. W. Conceptualizing management accounting change: an institutio-
nal framework. Management Accounting Research, USA, v. 11, p. 3-25, 2000. Disponível
em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1044500599901191. Acesso em:
1 dez. 2020.
36
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
37
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
38
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
39
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
40
PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO ISSN 2319-0485
MOREIRA, T. Sebrae-SP firma parceria com fintechs para escoar crédito a pequena empresa.
Valor.globo.com, 16 de julho de 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/
noticia/2020/07/16/sebrae-sp-firma-parceria-com-fintechs-para-escoar-crdito-a-peque-
na-empresa.ghtml. Acesso em: 20 jul. 2020.
NORTH, D. C. Institutions and economic theory. The American Economist, EUA, v. 36, n. 1,
1992.
NUBANK. Relatório Institucional, 2020. Disponível em: https://nubank.com.br/. Acesso em:
20 jul. 2020.
PENG, M. W.; WANG, D. Y. L.; JIANG, Y. An institution-based view of international business
strategy: a focus on emerging economies. Journal of International Business Studies, Reino
Unido, v. 39, p. 920-936, 2008.
PWC. A nova fronteira de crédito no Brasil – Pesquisa Fintechs de Crédito de 2019. Dispo-
nível em: https://www.pwc.com.br/pt/estudos/setores-atividades/financeiro/2019/pes-
quisa-credito-digital-19-mobile.pdf. Acesso em: 19 jul. 2020.
ROMANO, R. T. Os números preocupantes quanto à falência e recuperação judicial na pan-
demia. Estadão.com.br, 16 de julho de 2020. Disponível em: https://politica.estadao.com.
br/blogs/fausto-macedo/253474-2/. Acesso em: 20 jul. 2020.
ROSA, N. Banco Inter é a primeira fintech a abrir capital na bolsa de valores brasileira. 2 de
maio de 2018. Disponível em: https://canaltech.com.br/bolsa-de-valores/banco-inter-e-a-
-primeira-fintech-a-abrir-capital-na-bolsa-de-valores-brasileira-112970/. Acesso em: 20
jul. 2020.
ROVAROTO, I. Nubank alcança 20 milhões de clientes no Brasil. Exame.com, 20 de janeiro
de 2020. Disponível em: https://exame.com/negocios/nubank-alcanca-20-milhoes-de-
-clientes-no-brasil/. Acesso em: 15 jul. 2020.
SANTOS, F. Veja os vencedores do Oscar das startups na América Latina. Exame.com, 12
maio 2016. Disponível em: https://exame.com/pme/veja-os-vencedores-do-oscar-das-s-
tartups-na-america-latina/. Acesso em: 18 jul. 2020.
SCOTT, W. R. Introduction: institutional theory and organizations. In: SCOTT, W. R.; CHRIS-
TENSEN, S. (eds.) The institutional construction of organizations. Thousand Oaks: SAGE
Publications, 1995. p. xixxiii.
41
ISSN 2319-0485 PRÁTICAS EM CONTABILIDADE E GESTÃO
42
© 2020. This work is published under
https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0 (the
“License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and
Conditions, you may use this content in accordance with the
terms of the License.