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Tributação

e Desigualdade

ORGANIZADORES
JOSÉ ROBERTO AFONSO
MELINA ROCHA LUKIC
RODRIGO OCTÁVIO ORAIR
FERNANDO GAIGER SILVEIRA

Q
~ I• pea
\
\ CASA DO
DIREITO
IMtituto de Pesquiso
EconOmlQ Aplkad. ,.,FGV DIREITO RIO
LE'I'RAMENTO
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17 EQUIDADE NA TRIBUTAÇÃO
Bruno Miragem; Carlos Maria Cárcova; Cássio Augusto de Barros Brant; Cristian Maria Helena Zockun
Kiefer da Silva; Cristiane Oupret; Edson Nakata Jr; Georges Abboud; Henderson
Fürst; Henrique Garbellini Camio; Henrique Júdice Magalhães; Leonardo Isaac
Yarochewsky; Lucas Moraes Martins; Luiz Fernando do Vale de Almeida Guilherme;
Nuno Miguel Branco de Sá Viana Rebelo; Renata de Lima Rodrigues; Rubens
43 DESIGUALDADE, CONCENTRAÇÃO DE RENDA E ELITES
Casara; Salah H. Khaled Jr; Willis Santiago Guerra Filho.
ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA: OPAPEL DA POLÍTICA FISCAL
Juan Pablo Jiménez

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Não é permitida a reprodução desta obra sem
aprovação do Grupo Editorial Letramento. COMPARATIVA DO BRASIL EM RELAÇÃO À AMÉRICA LATINA
Nelson Leitão Paes
Referência para citação
AFONSO. J.R. (et.al)... (org.). Tributação e desigualdade. 107 IMPOSTO DE RENDA DAS PESSOAS FÍSICAS NO
Belo Horizonte(MG): Letramento, 2017.
BRASIL: A DESIGUALDADE ESCANCARADA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Marcelo Lettieri
Bibliotecária Juliana Farias Motta CR87· 5880

159 TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE DE RENDA NO


T822
Tributação e desigualdade/ Organizadores José Roberto Afonso (et ai.)... BRASIL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA DIRPF
- Belo Horizonte(MG): Letramento: Casa do Direito: FGV Direito Rio, 2017,
800 p.; 23 cm. Sérgio Wulff Gobetti
ISBN: 978·85-9530-041 ·5 Rodrigo Octávio Orair
1. Direito tributário.2. Pessoa jurídica - lmpostos.3.Empresas
- Impostos.!. Afonso, José Roberto (et al)...I1. Tftulo.
193 A CONCENTRAÇÃO DE RENDA ENTRE OS
CDD 342.1191
RICOS NO BRASIL, 2006/2014
Belo Horizonte - MG Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza
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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

VELÁZQUEZ, Socorro. Princípios de la Tributación, Equidad e


Igualdad. Centro lnteramericano de Administraciones Tributarias -
C IAT, fevereiro de 2017. Disponível em: <http://bit.ly/2nKnzRN>.
Acesso em: 07 ago. 2017.
UHY. The cost of'taxes' on jobs around the world. Report, February 2016.
Disponível em: <http://bit.ly/lMxUCtX>. Acesso em: 07 ago. 2017.
WORLD ECONOMIC FORUM, The G lobal Competitiveness Report
2016-2017, Geneva, 2016. Disponível em:< https://goo.gl/k2M4tL>. IMPOSTO DE RENDA NO BRASIL:
Acesso em: 7 Ago. 2017.
DISTORÇÕES E RENÚNCIAS
NA DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS
DAS EMPRESAS
Antonio Jose Praga de Souza '

INTRODUÇÃO
O Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (Imposto de
Renda - IR) está entre os mais adequados tributos instituídos no Brasil, pois:

• é de competência da União, o que facilita sua adm inistração,


sendo que o montante arrecadado deve ser repartido com os
Estados e Municípios;
• sua incidência deve observar critérios de generalidade, da universa-
lidade e da progressividade estabelecidos na Constituição Federal
(CF/88), ou seja, incide sobre os ganhos de todas as Pessoas Físicas
e Jurídicas; sobre quaisquer proventos ou acréscimos patrimoniais,
independentemente da forma de percepção, da denominação da
receita ou do rendimento, ela localização, condição jurídica ou
nacionalidade da fonte, tampouco de sua origem; mas de forma
progressiva e levando-se em conta a capacidade contributiva;

Auditor-Fiscal da Receita Federal, desde 1993; Mestre em Políticas Públicas


e Desenvolvimento - Ipea (2016); MBA em Gestão Tributária - Funclace
(2015); Especialista em Administração Fazendária e Tributária pela ESAF
(2010); pós-graduado em Direito Processual Tributário - UNB (2008);
\ pós-graduado em Direito Tributário - UCB (2002), Bacharel em Direito
na Faculdade ele Direito do Sul de Minas (1991 ).

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• trata-se de um tributo direto, haja vista que o ônus fi nanceiro é i) isenção cios tributos incidentes sobre o lucro contábil, em especial
arcado pelo próprio contribuinte que obtém o acréscimo patri- o apurado pelas empresas optantes pelo regime do Lucro Presumido
monial, sendo exigido à medida da percepção dos rendimentos, e pela sistemática do Simples Nacion al,5 quando do paga m ento desse
ganhos ou lucros. a título de dividendos ou na distribu ição de lu cros aos sócios, ou seja,
isen ção do IR sobre lucros que não foram tributados pela e mpresa;
No ano de 2014, a arrecadação total do IR foi de 322,5 bilhões de
Reais, correspondente a 27,4% das receitas administradas pela Receita ii) isenção da incidência de Imposto de Renda na distribuição de lu -
Federal do Brasil (RFB). Todavia, o montante arrecadado poderia ter sido cros e pagamento de divide ndos pelas empresas aos sócios e acionistas,
bem maior, caso fossem expurgadas diversas distorções nas normas ele inclu sive do exterior. Trata-se aqui dos lucros que foram efetivamente
incidên cia, bem como renúncias tributárias incoerentes, especialmente tributados pelas empresas;
aquelas relacionadas à tributação e distribuição ele lucros das empresas. iii) inexistência de limite para empresas de um mesmo grupo em-
É importante registrar que na arrecadação do IR são agregados os va- presa rial (controladas ou coligadas) optare m pelo regi me do Lucro
lores relativos às receitas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido Presumido, ainda que algumas empresas desse mesmo grupo optem
(CSLL). Isso porque as hipóteses de incidência e as bases ele cálculo da pela tributação cios resu ltados no regime do Lucro Real. Essa brecha
CSLL são praticamente as mesmas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica legal permite que grupos empresariais transfiram grande pa rte de seus
(IRPJ). Em verdade, a CSLL foi instituída para destinar exclusivamente lucros para serem tributados no regime elo Lucro Presumido, e assim
à União parte da arrecadação ele tributos sobre o lucro elas empresas, haja ta mbém conseguir o benefício ele isen ção d escrito no item "i" anterior;
vista que a arrecadação cio IRPJ é repartida com Estados e Municípios
iv) n ormas legais que permitem a "pejotização" elas Pessoas Físicas,
por meio cios Fundos de Participação. com baixa incidência do IR na tributação dos ganhos e resultados obtidos
Este artigo, elaborado em janeiro ele 2017, deriva de pesquisa, inicia- na remuneração de atividades personalíssimas, bem como na cessão elo
da em junho de 2015, visando a conclusão do Mestrado em Políticas direito ele imagem , explorad os na forma de pessoa jurídica.
Públicas e D esenvolvimento do Instituto ele Pesquisas Econômicas
v) distorções entre alíquotas aplicáveis a Pessoas Físicas e Jurídicas
Aplicado - lpea (Turma 2014 a 20 16).2 Aludida pesquisa teve por esco-
e m hipóteses ele incidência semelhantes, a exemplo cio ganho ele ca-
po analisar algumas distorções 3 e renúncias 4 do Imposto de Renda, que
pit al na alienação ele bens e direitos, que é tributado a 34% no IRPJ e
implicam na redução ou até mesmo na total isenção deste tributo e m
15% no Imposto de Ren da Pessoa F ísica (IRPF) para ganhos ele até R$
benefício dos mais ricos, a saber:
1.000.000,00;
2 SOUZA, Antonio Jose Praga. Imposto de renda no Brasil: estudo de dis- vi) isenção dos tributos in cidentes sobre a devolu ção ele capital de
torções, em especial algumas relacionadas à distribuição de lucros das empresas aos sócios, n a fo rma ele bens, que pode ser feita pelo valor
empresas. IPEA, Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.mestradopro-
contábil, ainda que o valor atual ele mercado seja notóri o e comprova-
fissional.gov.br/sites/images/mestrado/turma2/antonio-jose-praga-de-souza.
damente maior (distribuição disfarçada ele lucros - DDL);
pdf>. Acesso em: 14 dez. 2016.
3 Considera-se "distorções" nesses estudos as normas do Imposto de Renda vii) possibilidade ele dedução dos pagamentos de " juros sobre o ca-
que implicam em tratamentos disti ntos entre Pessoas Físicas (PF) e Pessoas pital próprio" (JCP) na base de cálculo do IRPJ e ela CSLL, a títu lo
Jurídicas (PJ), ou entre PJ que optam por diferentes regimes de tributação, de despesas; enquanto o JCP recebido é tributado a 15% pelas Pessoas
sem justificativa econômica, muito menos social, pois beneficiam os que Físicas. Essa dedução implica num a economi a tributária de até 34%
auferem maiores ganhos, ou sejam, deveriam pagar uma parcela maior para a empresa pagadora cio JCP.
de tributo considerando o princípio da progressividade. As distorções
estão muitas vezes "camufladas" nas normas, sendo necessário um certo
conhecimento técnico para identificá-las. 5 Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições
4 Renúncias fikais são isenções, ou exclusões de incidências (inclusive devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte -
imunidades), claramente expressas nas normas legais. Simples Nacional.

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É possível corrigir ou eliminar essas discrepâncias com leis ordinárias,6 física, simplesmente. É o ser humano, com capacidade de agir, de ad-
podendo ser inclusive objeto de Medidas Provisórias, para acelerar a quirir, de exercerem direitos e de contrair obrigações. É assim, dentro
implementação. deste conceito que se deve entender o ser humano, pessoa natural, na
concepção jurídica.
No desenvolvimento deste artigo, discorre-se ainda sobre planejamentos
tributários adotados pelos contribuintes na seara do IR e CSLL para esse O nosso Código Civil em vigor (artigos 1º a 10) adota a expressão
fim, bem como são apontados os danos que essas distorções e renúncias pessoa natural. A legislação tributária se refere à pessoa física (vide Artigo
acarretam e, ao final, propor ajustes na legislação visando mitigá-las. 2º. do Regulamento do Imposto de Renda - RIR/99).
Por sua vez, a expressão pessoa jurídica tem várias conotações, entre as
SEÇÃO 1 quais pessoa fictícia, pessoa incorpórea, pessoa social, pessoa civil e outras.
Quando vários indivíduos juntam seus esforços, bens, direitos e obri-
gações, a fim ele realizarem finalidade comum, agindo em unidade
1.1. OIMPOSTO DE RENDA NO BRASIL E A DISTINÇÃO DA e não em nome ele cada um ele seus integrantes, qualquer que seja a
PERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA COM A DAS denominação, é uma entidade que existe como realidades criadas por
PESSOAS FÍSICAS DOS SÓCIOS: OPRINCÍPIO DA ENTIDADE. interesses que transcendem os interesses individuais de seus criadores, e
por isso têm direitos e obrigações autônomos e se conduzem por vontade
Um dos institutos jurídicos vigentes, no Brasil, observado na legisla- própria. Daí a regra segundo a qual a personalidade da pessoa jurídica
ção tributária por força do artigo 11 Odo CTN, que acarreta relevantes ela empresa não se confunde com a ele seus integrantes.
efeitos nas incidências do Imposto de Renda, é o princípio da entidade.
Em síntese: é clara a distinção formal entre Pessoas Físicas e Pessoas No Código C ivil (disposições gerais), a pessoa jurídica é tratada nos
Jurídicas, sendo que a personalidade da pessoa jurídica está intimamente artigos 40 a 52. Já no Imposto de Renda, a definição en contra-se no
relacionada à sua finalidade e a seus atos constitutivos. artigo 147 do RIR/99.

A legislação tributária determina critérios para a desconsideração da Os operadores do direito tributário e societário, no Brasil, aproveitam
personalidade jurídica, tanto de empresas, quanto de Pessoas F ísicas. a distinção da personalidade jurídica elas Pessoas Físicas com a das em-
O u seja, apenas a observância dos aspectos formais não assegura que os presas de que são sócios, bem como a própria distinção da personalidade
critérios de tributação adotados pelo contribuinte sejam hom ologados de empresas coligadas e, mediante verdadeira "engenharia empresarial",
pela administração tributária (artigo 116 do CTN). Corroborando essa realizam complexas operações societárias para obter apenas economias
possibilidade, o artigo 50 do Código C ivil Brasileiro, Lei 10.406 de 1O ou ganhos tributários. Assim, cumpre às administrações tributárias mo-
ele janeiro ele 2002, estabelece que, no "caso de abuso da personalidade nitorar essas operações e coibir os planejamentos indesejados, abusivos e
jurídica, caracterizado pelo desvio ele finalidade, ou pela confusão patri- irregulares, seja median te alterações na legislação em vigor, quando se
monial, o juiz pode decidir que os efeitos de certas e determinadas relações tratar de elisões tributárias, seja m ediante fiscalizações e lavratura de au-
ele obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores tos de infração, quando verificadas irregularidades, abusos e até fra udes.
ou sócios da pessoa jurídica". Porém, essas situações são excepcionais, ou
seja, duas Pessoas Jurídicas, constituídas regularmente, com finalidades 1.2. O IMPOSTO DE RENDA NO BRASIL: ASPECTOS
e instalações próprias, são consideradas empresas distintas para todos os RELEVANTES DA LEGISLAÇÃO EM VIGOR
fins, inclusive para os tributários, ainda que possuam os mesmos sócios.
A pessoa física (PF) é o ser humano, considerado como su jeito ele No final cios anos ele 1980, durante a década ele 1990 e no início
direito e deveres, dentro da ordem jurídica, e não na sua constituição d os anos de 2000, foram editadas as principais leis que disciplinam
\ as atuais hipóteses de incidência (fatos geradores) e clesonerações cio
6 Exceto alterações no Simples, que dependem de Lei Complementar. Imposto ele Renda.

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As normas que mais importam às atuais hipóteses de incidências cio 2.1. ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA NA DISTRIBUIÇÃO DE
Imposto de Renda são, sem dúvidas, os artigos 43 a 45 do CTN, isso LUCRO CONTÁBIL (NÃO TRIBUTADO), ESPECIALMENTE
porque, nos termos do art. 146, inciso III da CF/88 cabe à lei comple- NO REGIME DO LUCRO PRESUMIDO E NO SIMPLES
mentar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre "definição de tributos e de suas espécies, bem O regime de tributação normal (padrão) do Imposto de Renda aplicá-
como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos vel às Pessoas Jurídicas tributadas, no Brasil, é o Lucro Real trimestral,
respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes". disciplinado nos artigos 218 e seguintes do RIR/99. O IR incide sobre
É importante registrar que o CTN foi alterado pela Lei Complementar o "Lucro Real", que é o lucro contábil elo período (receitas - despesas)
nº 104 de 1Oele janeiro de 2001, a qual, dentre outras modificações, com certas adições e exclusões estabelecidas na legislação do imposto. A
incluiu os parágrafos 2º e 3º no artigo 43 do Código para legitimar a CSLL, por sua vez, incide sobre o lucro líquido contábil ajustado, qu e
"Tributação em Bases Universais" (TBU), que havia sido instituída pela em verdade tem pouquíssimas diferenças cio Lucro Real, na legislação
Lei nº 9.249/1995, art. 25.; Após iniciada a vigência da LC nº 104/200 1, atualmente em vigor.
foi editada a M edida Provisória nº 2.158-35, em 24 de agosto de 2001, Em 2013, apenas 155.312 empresas optaram pelo regime do Lucro
que deu nova redação ao art. 25 da Lei nº 9.249/1995, aprimorando a Real e efetuaram recolhimentos nessa modalidade, algumas delas por
sistemática da TBU. expressa vedação legal para aderir ao regime elo Lucro Presumido .
Porém , constata-se que as leis ordinárias que regem o Imposto d e Evidencia-se que a exigência ele escrituração contábil e fiscal específica
Renda ainda possuem várias distorções e incoerências, dentre as quais, para apuração cio Lucro Real não é o principal fator dessa baixa adesão
algumas são objeto deste estudo. e sim a redução da carga tributária obtida pelas empresas com a adesão
ao Lucro Presumido e ao Simples.

SEÇÃO 2 O regime do Lucro Presumido é uma opção ele tributação simplificada


elo IRPJ e CSLL, que a maioria elas empresas podem adotar, conforme
artigos 516 e seguintes cio RIR/99, desde que sua receita anual seja de
2. ANÁLISE DE DISTORÇÕES E RENÚNCIAS até R$ 78 milhões, dentre outros critérios ele enquadramento.
TRIBUTÁRIAS INCOERENTES NO O Lucro Presumido é apurado mediante aplicação de determina-
IMPOSTO DE RENDA NO BRASIL dos percentuais sobre as receitas tributáveis da empresa, os principais
multiplicadores são os seguintes: i) 8% sobre as receitas ele revenda
Segue-se à análise das distorções e renúncias tributárias no âmbito do de mercadorias (comércio e indústria); ii) 32% para as atividades de
Imposto de Renda no Brasil, selecionadas para este estudo, especialmente prestação ele serviços em geral (inclusive de profissionais liberais que
e m relação às empresas optantes pelo regime do Lucro Presumido e constituem empresas).
pela sistemática de tributação elo Simples Nacional.
No ano de 2013, 1.092.684 empresas ativas enquadraram-se no regime
7 T BU: sistema de tributação em bases universais, pressupõe que todos do Lucro Presumido e efetuaram recolhimentos por este regime, que além
os rendimentos e ganhos de capital obtidos por pessoas ou empresas do- da possibilidade de menor tributação, possui menos obrigações acessórias.
miciliadas no Brasil submetem-se a incidência do Imposto de Renda, Pois bem, em relação à distribuição de lucros das PJ optantes pelo
independentemente de onde foram gerados, não importa se sua geração Lucro Presumido, o artigo 20 da Lei 8 . 541/1992 de terminava que os
ocorreu no país ou no exterior. Representa a ampliação da imposição
rendimentos, efetivamente pagos a sócios ou titular de empresa individual
tributária da legislação de um país sobre fatos que venham a ocorrer em
e escriturados nos livros contábeis e fiscais, que ultrapassassem o valor
qualquer parte do mundo. A legislação do Imposto de Renda brasileiro
busca trib\)tar também os lucros de coligadas e controladas de forma elo Lucro Presumido deduzido do imposto sobre a renda correspondente
global, sob?e a matriz brasileira, descontados os eventuais tributos pagos deveriam ser tributados na fonte e na declaração ele ajuste anual dos
no país de origem, no exterior. referidos beneficiários.

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E ssa regra, que segundo a Receita Federal foi revogada tacitamente, Quanto às empresas tributadas no regime do Lucro Real, que nada
era óbvia e coerente, isso porque a parcela do lucro efetivo da empresa, mais é que o lucro líquido (contábil) ajustado, caso as exclusões sejam
que ultrapassa o Lucro Presumido ou o percentual de incidência do maiores que as adições, fazendo com que o lucro contábil seja maior
Simples, sempre foi e continua isenta de tributação tanto do IRPJ quanto que o Lucro Real, o entendimento da RFB é que essa distribuição acima
da CSLL. Portanto, deve ao menos sofrer a incidência d o Imposto de do valor Lucro Real (tributado) tam bém é isenta.8
Renda quando distribuída aos sócios e acionistas. Ora, não é razoável que lucros e ganhos não tributados pela pes-
Vejamos um exemplo básico do mecanismo de tributação dos lucros soa jurídica, qualquer que seja o regime de tributação, possam ser
contábeis das empresas optantes pelo regime do Lucro Presumido antes distribuídos para os sócios ou acionistas com isenção de Imposto de
da vigência da Lei 9.249/1995: Renda. Trata-se de verdadeira hipótese de dupla desoneração, que vai
• uma empresa de prestação de serviços de consultoria que faturou contra a equidade horizontal e jamais foi adequadamente justificada
R$ 1Omilhões ao ano em 1995, fez opção pelo Lucro Presumido, na legislação.
assim apurou um lucro fiscal tributável de R$ 3,2 milhões (32% Pois bem, a correta apuração da parcela do lucro contábil distribuí-
da receita); do pelas empresas, qu e não foi objeto de tributação pelo IRPJ/CSLL,
• essa mesma empresa teve poucas despesas, por isso apurou um somente é possível mediante extração de val ores na Declaração de
lucro contábil de R$ 8,2 milhões; Informações das Pessoas Jurídicas (DIPJ) e na Declaração An ual do
Simples Nacional (DASN).
• a diferença entre o lucro contábil e o Lucro Presumido, no caso
R$ 5 milhões, que estava isenta do IRPJ e da CSLL, foi tributada Ocorre que a RFB deixou de divulgar as Consolidações das Declarações
quando distribuída aos sócios durante o ano-calendário de 1995. de Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, publicação comparável à dos
O entendimento da Receita Federal é de que essa regra foi revogada Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas
pelo artigo 10 da Lei 9.249/1995, que estabeleceu: F ísicas. A últim a consolidação das PJ disponível no Receita Data é
relativa ao ano-calendário de 200 5 (Anexo 4, Figura B), feita a parti r
i) isenção integral dos lucros ou dividendos, calculados com base
das DIPJ e DASN apresentadas no ano de 2006.
nos resultados contábeis, apurados a partir do m ês de janeiro de 1996;
Porém, a partir dos percentuais de distribuição de lucros dessa natu-
ii) a isenção alcança os lucros das Pessoas Jurídicas tributadas com
reza (não tributados), foi possível apurar a grandeza dessa distorção, no
base no Lucro Real, presumido ou arbitrado, efetivamente pagos ou
ano-calendário de 20 13, em consultas no Data Warehouse da Receita
simplesmente creditados contabilmente;
Federal (DW-RFB).9
iii) para não deixar dúvidas, ao final do artigo consta que esses lucros
e dividendos "não ficarão sujeitos à incidência do Imposto de Renda na O resultado obtido em relação ao Lucro Real foi um indicador nega-
fonte, nem integrarão a base de cálculo do Imposto de Renda do bene- tivo, reveland o que os valores dos lucros distribuídos são inferiores aos
ficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior". efetivam ente tributados. Isso já era esperado, pois a legislação cio IRPJ
estabelece uma série ele adições a serem feitas do lucro líqu ido contábil
A Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal nº 93 de 24 de
da empresa para determinação do Lucro Real. Uma vez que o valor do
dezembro de 1997, confirmou textualmente essa isenção em seu artigo
lucro real (base de cálculo do IR) é via de regra maior que o lucro con-
48. O artigo 141 da Instrução Normativa da Receita Federal nº 1.515 de
tábil (passível de distribuição) constata-se que ao menos nesse regime
24 de novembro de 20 14, que atualmente dispõe sobre essa matéria, traz
a totalidade dos lucros das empresas tem sido tributada, diferentemente
o mesmo disciplinamento, ou seja, em 20 (vinte) anos, nada mudou.
do que ocorre no Lucro Presumido e no Simples.
Em relação ao Simples, a RFB professa o mesmo entendimento apli-
cado ao Lucro Presumido, ou seja, tendo escrituração contábil pode-se 8 Art. 654 e seguintes do RIR/99.
distribuir a totalklade do lucro com isenção do Imposto de Renda, nos 9 Consultas autorizadas em 4/4/2016, mediante requerimento em processo
termos do art. 14 S 2o. da LC 12 3/2006. administrativo.

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No que se refere ao Lucro Presumido, o percentual m édio apurado Receita Total Total Percentual
Regime de Quantidade
da receita bruta que não sofreu tributação foi de 5,86% . Já no Simples Ano Bruta Total IRPJ (RS CSLL (R$ IRPJ/CSLL s/
Tributação de Empresas
esse percentual foi d e 6, 56%. (R$ bilhões) bilhões) bilhões) Receita Total

Passe-se ao cálculo da estimativa dos lucros distribuídos sobre a parcela Presumido 201 0 1.003.431 788,95 18,85 104,65 4,0112%
ela receita bruta não tributadas no Lucro Presumido e no Simples no Presumido 2011 1 045 245 1.108,12 22,47 123,84 3,4107%
ano ele 20 13.
Presumido 2012 1.059.574 1.014,60 24,87 135,22 4,1255%
Tabela 1 - Lucro distribuído correspondente a receitas não tributadas (2013)
Presumido 2013 1.092684 1.114,62 27,42 147,73 4,1522%
Base de Cálculo Lucros Simples 2009 2.984.079 412,87 1,17 12,50 0,5866%
Regime/ Receita Distribuídos não
Ano- dos lucros não
sistemática Bruta Total tributados na PJ Simples 2010 3.253.070 524,52 1,59 16,49 0,6171%
calendário lucros tributados
de Tributação (R$ bilhões)
(RS bilhões) (alíquota de 15%)
Simples 2011 3.390.147 606,25 1,99 20,28 0,6623%
Lucro 832,08 48,76 7,31
2013 Simples 2012 3.526.251 732,30 2,1 O 21,91 0,5858%
Presumido
1.11 4,62 73,12 10,97 Simples 2013 3.600.574 832,08 2.49 25,78 0,6090%
Simples 2013

Total 1.946,70 121,88 18,28 Fonte: Elaboração própria.

Font e: Elaboração própria. A tabela acima revela que, nos últimos anos, enquanto o percentual elo
IRPJ/CSLL sobre a receita bruta vem diminuindo nas empresas optantes
A seguir um quadro comparativo referente aos anos de 2009-2013: 10 pelo Lucro Real, 3,02%, em 2009, para 2,66%, em 20 13, observa-se um
Tabela 2 - IRPJ/CSLL devido pelas empresas comparado aumento nesse mesmo indicador em relação ao Lucro Presumido (3,96%
a receita total (anos 2009 a 2013) para 4, 15% ). Já em relação ao Simples o que se observa é a elevação gra-
dativa da receita bruta das empresas em 1O1,54% de 2009 para 20 13, isso
Receita Total Total Percentual
Regime de Quantidade se explica pelo aumento do limite para adesão ao Simples que, em 2009,
Ano Bruta Total IRPJ (R$ CSLL(R$ IRPJ/CSLL s/
Tributação de Empresas bilhões) bilhões) Receita Total era ele R$ 2,4 milhões e, em 20 12, foi elevado para R$ 3,6 milhões, m as
(RS bilhões)
mantendo-se o mesmo percentual médio de incidência elo IRPJ /CSLL.
Lucro Real 2009 147.692 4.742,14 54,01 275,59 3,0200%
Outra constatação: apesar ela tributação mais elevada d o Lucro
Lucro Real 2010 151.560 5.543,85 62,85 311,84 3,0096%
Presumido em relação cio Lucro Real (IRPJ/CSLL), entre 2009 e 20 I 3
Lucro Real 2011 154.809 6.394,86 69,44 326,95 3,0039% observa-se um crescimento ele 10% no quantitativo ele empresas nesse
Lucro Real 6.770,40 69,33 324,20 2,8941% regime, enquanto no L ucro Real foi ele apenas 5,1%. U ma vez que as
2012 152.490
diferenças entre as ob rigações acessórias dos regimes do Lucro Presumido
Lucro Real 2013 155.312 7.718,76 73,34 341,67 2,6624%
e Real atualmente são mínimas, evidencia-se que há outras m otivações
Presumido 2009 993.387 631,07 14,77 83,19 3,9661% para que as empresas sejam atraídas para o regime cio Lucro Presumido.
Q uan to às form as de cancela r essa isenção, tem -se as seguintes
10 Elaborado pelo autor. Fonte: RECEITA FEDERAL. Receita Federal proposições:
e Carga T ri butaria no Brasil em 20 13. D ispo nível em : <http://idg.
recei ta . faze nda. gov. b r/dados/receitada ta/estudos-e-tributa ri os-e- i) restabelecer a incidência exclusiva na fonte, à alíquota ele 15%, tal
acluaneirosl,estuclos-e-estatisticas/estuclos-cliversos/clados-informacoes- qual disposto no art. 655 do RIR/99 (última sistemática ele tributação ela
e-graficos-setoriais-2008-a-20 12)>. distribuição de lucros vigente até 1995, ou seja, antes da isenção total); ou

680 681
TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

ii) editar norma legal, restabelecendo o disposto no art. 20 da Lei A RFB posiciona-se contrária à elevação cios limites cio Simples e
8.541/1992. Assim, independentemente do regime ou sistemática de também contra disseminação indiscriminada dos benefícios a todos os
tributação da empresa, o lucro não tributado pela pessoa jurídica que ramos de atividade. Após justificativas, o alucliclo estudo conclui que
for distribuído aos sócios, sofreria incidência elo Imposto de Renda "adoção aleatória ele alíquotas reduzidas combinada com tetos limites
pela tabela progressiva do IRPF, garantindo inclusive que o montante elevados provocam distorções e assimetrias no setor numa proporção
distribuído até o valor R$ 26,8 mil ao ano seja alcançado pela isenção maior que os próprios benefícios econômicos". Todavia, o estudo ela RFB
em 2016. 11 No caso ele lucros distribuídos a PJ, além de sujeitos à inci- não discorre sobre efeitos danosos ela isenção total elos lucros distribu-
dência na fonte (antecipação), seriam tributados conjuntamente com ídos aos sócios elas empresas enquadradas no Simples, especialmente
os demais resultados próprios ela empresa. No caso ele beneficiários no naquelas de faixas mais elevadas de receita bruta.
exterior, a tributação seria excl usiva na fonte. Por certo, a tributação desses valores na pessoa física dos sócios, apli-
No que tange ao Simples Nacional, ele acordo com estudo ela Receita cando-se a tabela progressiva do IRPF, mitigaria as distorções e assi-
Federal, tz "o tratamento dado pelo Brasil é um dos mais amplos dentre metrias setoriais apontadas pela própria RFB. Cabe aqui lembrar que
os países pesquisados, com destaque para a redução da carga tributária rendimentos tributáveis anuais de Pessoas Físicas até R$ 27.41 7,32 são
e a abrangência elos tributos envolvidos[ .. . ]". Isso está claro no quadro isentos no Modelo ele Declaração Simplificada cio IRPF (R$ 22.847,77
comparativo da RFB que integra o aludido estudo, destacando os países + 20% do desconto simplificado).
com regimes favorecidos e diferenciados ele tributação.
o estudo "Grandes Números cio IRPF", ano-calendário 2013, Tabela
Aliás, ainda em relação ao Simples Nacional, a Receita Federal cons- 1O, 13 apurou-se que 66, 5% cios titulares de empresas e beneficiários ele
tatou nesse mesmo estudo que "o Brasil apresenta o segundo limite lucros/dividendos obtiveram rendimentos ele até 20 salários-mínimos por
mais alto entre os países em desenvolvimento (México, Chile, África ano. Outros 16,7% declararam rendimen tos entre 20 e 40 salários-mí-
do Sul, Argentina ) e maior que alguns países desenvolvidos (Japão,
nimos. Logo, 83,2% dos contribuintes nesta condição sofreriam pouco
Canadá, Itália) [ ... ]".
ou nenhum impacto com o restabelecimento dessa tributação, cujo
Também foi constatado pela Receita Federal que o tratamento dife- total não foi mensurado na pesquisa que em basou o presente artigo.
renciado à micro e pequena empresa nos 12 (doze) países comparados
têm em comum os seguintes benefícios: i) simplificação do pagamento
cios tributos, ii) eliminação ele obrigações acessórias, iii) redução da 2.2. INEXISTÊNCIA DE LIMITE PARA EMPRESAS DE UM
carga tributária, iv) linhas de crédito preferenciais, v) simplificação das MESMOGRUPO EMPRESARIAL OPTAREM PELO REGIME
demonstrações contábeis e vi) facilitação ele registros burocráticos de DO LUCRO PRESUMIDO (FRAGMENTAÇÃO DE PJ).
constituição e encerramento elas empresas.
O artigo 29 ela Lei 9.249/1995 estabeleceu em R$ 12 milh ões o li-
A grande maioria elas empresas elo Brasil, no ano de 20 13, 4.576.694
mite anual cio faturamento para adesão ao Lucro Presumido (a partir
(78,3% ), optaram pela sistemática de apuração ele tributos do Simples.
ele l º /O l/1996).
D essas, 3.600.574 efetuaram recolhimentos.
Na última alteração, vigente partir ele 1º/01/2014, o limite para adesão
11 RECEITA FEDERAL. Limite de isenção anual de rendimentos tributáveis ao Lucro Presumido passou a ser ele R$ 78 m ilh ões (artigo 7° ela Lei
da pessoa física . Disponível em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/noticias/ 12.814/2013).
ascom/20 l 5/fevereiro/confira-as-novidades-do-ir-2015>. Acessado em 02
ago. 20 17.
12 RECEITA FEDERAL: Simples Nacional - Inclusão de Novos Setores e 13 RECEITA FEDERAL. Grandes Números das Declarações do Imposto de
Efeitos no Lucro Real e Presumido. Disponível em: <http:// http://idg.re- Renda das Pessoas Físicas. Disponível em : < http://idg.receita.fazenda.
ceita.fazen,da.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e-aduaneiros/ gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tri butarios-e-aduaneiros/esh1dos-e-esta-
estudos-e-e~tatisticas/estudos-diversos/estudos-diversos-pagina>. Acessado tisticas/1 1-08-2014-grandes-numeros-dirpf/grandes-numeros-dirpf-capa>.
em 02 ago. 20 17. Acessado em 02 ago. 2017.

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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

Verifica-se, pois, que o limite do Lucro Presumido foi elevado em empresas, também com faturamento superior a R$ 3,6 milhões faziam
550% nesse período, já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor parte de grupos empresarias, cujo faturamento total superou o limite cio
(IPCA), 14 ac umulado nesse mesmo período, foi de 208,34%. Lucro Presumido, embora nenhuma das empresas desses grupos tenha
optado pelo regime elo Lucro Real. O faturamento total dessas 32.185
Essa elevação do limite, aliado ao fato de inexistir vedação em lei
empresas, enquadradas no Lucro Presumido ano ele 2013, superou R$
para que empresas de um mesmo grupo empresarial (controladas ou
647 bilhões, sendo que distribuíram o montante ele R$ 91,4 bilhões em
coligadas) possam optar pelo regime do Lucro Presumido, abre a pos-
lucros totalmente isentos elo Imposto ele Renda.
sibilidade para um planejamento tributário que tem sido cada vez mais
utilizado: cindir as empresas em vários estabelecimentos autônomos ou, Em pesquisa junto ao CARF, constatou-se dezenas ele processos que
sem pre que possível, criar novas empresas ao invés de abrir filiais. Tais tratam ele autuações da Receita Federal em procedimentos de "fragm en-
procedimentos são permitidos na legislação tributária brasileira, com tação" ou "segregação ele Pessoas Jurídicas" considerados irregulares. O
mínimas vedações. mais conhecido é o "Caso Grenclene", 1; julgado e mantido no CARF,
em 1983, e também no judiciário, considerado fraude, haja vista que,
Um procedimento comum adotado pelas empresas industriais eco-
ao invés efetivamente constituir as empresas distribuidoras, simulou-se
merciais é criar vários centros de distribuição e pontos de vendas em
a criação ele 8 (oito) empresas fictas sem qualquer estrutura ou funcio-
localidades diferentes, todos com razão social própria para que possam
n ários para operar, visando apenas fracionar resultado ela indústria para
optar pelo regime elo Lucro Presumido. Nesse tipo ele planejame nto
ser tributado no regime cio Lucro Presumido.
tributário, as unidades industriais, bem como os centros ele compra,
no caso ele grupos comerciais, permanecem no regime elo Lucro Real Outros exemplos recentes no CARF:
e repassam os produtos e mercadorias para as empresas controlados ou • "Caso Unilever", 16 cuja fragmentação foi julgado irregular na
coligadas com pequenas margens ele lucro. Assim, as empresas desses 1ª instância, tendo a empresa obtido êxito provisório n o CARF
grupos empresariais, optantes pelo Lucro Real, passam a pagar um (ainda depende de julgamento definitivo na Câmara Superior
valor mínimo ele IRPJ/CSLL e também PIS/Cofins. Enquanto isso, as de Recursos Fiscais).
empresas do grupo optantes pelo Lucro Presumido passam a ter ganhos
• "Caso Avon" 17, empresa que realizou uma segregação julgada
mais elevados e pagam menos IRPJ/CSLL em virtude dessa opção. Em
regular em l ª. instância administrativa, na própria Receita Federal,
relação às empresas optantes pelo Simples Nacional, tal prática não
pode ocorrer em face ele vedação expressa contida no art. 3º, parágrafo mas que foi objeto de recurso de ofício ao CARF em face cio valor
milionário da autuação.
4º. ela Lei Complementar 123/2006.
Nas publicações ela Receita Federal, antigas e recentes, constata-se Os ganhos em economia de tributo com esse procedimento são pa-
inexistir divulgação ele quantitativos ele empresas controladas ou coli- tentes: para cada R$1.000.000,00 (um milhão de reais) de lucros ao
gadas a outras, cujo somatório ela receita bruta cio grupo empresarial ano, transferido da tributação do Lucro Real para o presumido por um
ultrapassava o limite cio Lucro Presumido. Todavia, mediante consul- grupo industrial/comercial, a economia somente no IRPJ/CSLL é ele
ta ao DW-RFB foi apurado que, no ano-calendário de 2013, 24.297
15 Vide Acórdão CARF 103-05.942 de 12/12/1983. Disponível em: <https://
(vinte e quatro mil duzentas e noventa e sete) empresas, enquadradas
carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/consul-
no Lucro Presumido, com faturamento superior a R$ 3,6 milhões, tarJurisprudenciaCarf.jsf>. Acesso em 31 ago. 2017.
faziam parte ele grupos empresariais com alguma empresa no Lucro
16 Vide Acórdão CARF 3402-001.908 de 26/12/2012. Disponível em: <ht-
Real. Além dessas, outras 7.888 (sete mil oitocentas e oitenta e oito) tps://ca rf. fazenda.gov. br/sincon /pu 61 ic/pages/ConsultarJu risp rudencia/
14 IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA e Índice consultarJurisprudenciaCarf.jsf>. Acesso em 31 ago. 2017.
Nacional d~ Preços ao Consumidor- INPC. Disponível em: < http://www. 17 Vide Acórdão CARF nº 3402-002.854 de 26/3/2014 .. Disponível em:
ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/ inpc_ipca/defaultinpc. <https://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/
shtrn>. Acessado em: 02 ago. 2017. consultarJurisprudenciaCarf. jsf>.

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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

R$ 309.200,00. Isso porque, no Lucro Real, a alíquota efetiva sobre esse jurídica, tem sido fazer distribuições de lucro ou redução de capital,
valor é de 31,6% (15% de IRPJ, 10% de adicional ele IRPJ acima de R$ representado por esses bens, antes da alienação. Isso quando possível.
240.000,00 e 9% de CSLL); por sua vez, no regime do Lucro Presumido Trata-se de mais uma incoerência na legislação para a qual não se
esse mesmo lucro terá tributação ele apenas 2,89%, a título de IRPJ/ encontra justificativas nas exposições de motivos elas Leis 8.981/1995
CSLL, em face da aplicação dos percentuais de presunção. Além disso, (IRPF) e 9.250/1995 (IRPJ).
a empresa pode obter economia tributária com o regime cumulativo elo
PIS/Cofins, no Lucro Presumido, cujas alíquotas também são menores. O ganho de capital na PJ é apurado pela diferença entre o valor de
aquisição e o valor de venda de bens do ativo não circulante da empresa
A estimativa do valor da perda com essa distorção, apenas elo IRPJ e
(receita não operacional). Na PF, a natureza é semelhante, ou seja,
CSLL dessas 24.297 empresas, no ano de 2013, foi R$ 26,3 bilhões. 18
trata-se de alienação eventual ele bens cio patrimônio ela pessoa; caso
Essa distorção já deveria ter sido corrigida. A solução depende de comprar e vender bens seja uma atividade ordinária e contumaz, haverá
norma em lei ordinária, cuja redação eleva ser semelhante à do citado equiparação da PF a PJ para fins de tributação (artigos 147 e seguintes
art. 3º da Lei. 123/2006. cio RIR/99). Portanto, tratando-se de operações eventuais, tanto para
Enquanto isso não ocorrer, observaremos cada vez mais a busca de uma PJ, quanto para urna PF, inexiste justificativa plausível para que
arranjos societários pelos grupos empresariais para viabilizar a adesão as alíquotas sejam tão díspares.
de parte de suas empresas ao regime cio Lucro Presumido (justamente Em verdade, na vigência do art. 18 da Lei 8.134/1990, os ganhos de
as mais lucrativas). capital obtidos pelas Pessoas Físicas eram tributados à alíquota de 25%,
Outra forma de neutralizar esse planejamento tributário é restabelecer sendo que já havia uma isenção mensal para operações ele baixo valor. Tal
a tributação na distribuição dos lucros, ao menos da parcela deste lucro alíquota era semelhante a aplicável às PJ (Lei 8.383/1991 ). Ocorre que
que não foi objeto de tributação pela empresa, conforme discorrido a Lei 8.981/1995, artigo 21, reduziu a alíquota do ganho de capital da
acima, no tópico 2. 1. pessoa física para 15%, mantendo todas os demais critérios de tributação.
Frise-se: o questionamento é quanto à falta de justificativa para essa
2.3. DISTORÇÕES ENTRE ALÍQUOTAS APLICÁVEIS A PESSOAS considerável diferença ele alíquotas ente PJ e PF.
FÍSICAS E JURÍDICAS EM HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA Cabe aqui as seguintes propostas de ajuste: elevar a alíquota cio ganho
SEMELHANTES: A TRIBUTAÇÃO DO GANHO DE CAPITAL de capital das Pessoas Físicas, mantendo a tributação exclusiva, ou
submeter os ganhos a tributação na tabela ele ajuste anual, juntamente
A legislação em vigor do Imposto ele Renda apresenta diversas distor-
aos demais rendimentos tributáveis.
ções de alíquotas, aplicáveis a Pessoas Físicas e jurídicas, em hipóteses
de incidência semelhantes, a exemplo do ganho de capital na alienação No ano de 2013, as PF declararam R$ 38,l bilhões de rendimentos
de bens e direitos, que é tributado a 34% na pessoa jurídica (somatório relativos a ganhos de capital na alienação de bens e direitos (valor efe-
das alíquotas cio lRPJ e CSLL para lucros acima de R$ 20 mil no mês), tivamente tributado). Tal montante implicou R$ 5,7 bilhões de IRPF
e 15% para as Pessoas Físicas (IRPF). (alíquota de 15%). Logo, caso a alíquota do ganho de capital na Pessoa
Física ainda fosse de 25%, ou se aplicável a tabela progressiva (em
No caso do ganho de capital, o procedimento comum dos empresários
separado), seria arrecadado aproximadamente R$ 3,8 bilhões a mais a
que possuem bens a serem alienados, integrantes do patrimônio na pessoa
título de IRPF cada ano.
18 Vide SOUZA, Antonio Jose Praga. Imposto de renda no Brasil: estudo
O Governo Federal sempre teve conhecimento dessa distorção, tanto
de distorções, em especial algumas relacionadas à distribuição de lucros
que, por meio da Medida Provisória nº 692 de 22 de setembro de 2015
das empre,sas. IPEA, Brasília, 2016 (Tabela 4, pag. 36). Disponível em:
<http://ww\v.mestradoprofissional.gov.br/sites/images/mestrado/turma2/ (MP 692/2015), mitigou seus efeitos elevando as alíquotas do ganho de
antonio-jose-praga-de-souza.pdf>.. Acesso em: 14 dez. 2016 capital na pessoa física.

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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

A Exposição de Motivos da MP 692/2015 19 não informa a estimativa precisamente a Pessoa Física da Pessoa Jurídica (princípio da entidade).
de aumento da arrecadação do IR com essas elevações de alíquota, mas Logo, não há que falar em "integração" dos sócios à empresa em nível
esclarece que "a tabela progressiva do imposto sobre a renda já prevê tributário.
alíquotas crescentes conforme os rendimentos se elevam, entretanto, tal Quanto à simplificação de controles, a própria incidência exclusiva na
mecanismo não é aplicado em relação ao ganho ele capital das Pessoas fonte já se encarregava disso, uma vez que as fontes pagadoras (empresas)
Físicas, que possui alíqu ota fixa de 15%". sempre eram obrigadas a registrar os pagamentos em suas contabilidades
Apesar de a MP 692/2015 ter sido convertida em Lei pelo seu texto e nas declarações apresentadas à Receita Federal. Aliás, 3 delas: DIPJ
original, espera-se que o quanto antes seja restabelecida a total equi- (Declaração de Informações das Pessoas Jurídicas), DCTF (Declaração
valência entre a tributação do ganho de capital nas Pessoas Físicas e ele Débitos e Créditos de Tributos Federais) e DIRF (D eclaração de
jurídicas, mediante nova alteração legal. Imposto de Re nda na Fo nte). Todas essas d eclarações continuaram
sendo exigidas até o ano ele 2014.

2.4. ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA NOS PAGAMENTOS Propugna-se, pois, seja restabelecida a tributação integral dos lucros e
DE DIVIDENDOS E NA DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS, dividendos distribuídos, não só com incidência na fonte, mas sujeitando-
QUE FORAM TRIBUTADOS PELAS EMPRESAS -se também a tabela progressiva anual do IRPF e, quanto as empresas,
os lucros devem ser tributados somando-se aos demais resultados.
Consoante discorrido no tópico 2.1 deste estudo, até a entrada em Gobetti e Orair (2015), na monografia vencedora do XX Prêmio
vigor do artigo 10 da Lei 9.249/1995, a totalidade dos lucros e dividendos Tesouro Nacional (Tema 3),2 1 divulgada em 13 ele novembro ele 2015, es-
distribuídos eram tributados à alíquota de 15%, inclusive nas remessas timaram que o restabelecimento ela tributação da distribuição dos lucros
d e lucro para o exterior. Desde então tais valores são totalmente isentos nas Pessoas Físicas deve gerar urna receita adicional ele R$ 59,0 bilhões.
elo Imposto de Renda no Brasil.
Por sua vez, a RFB apurou que no ano-calendário d e 2013 as Pessoas
A justificativa oficial para essa isenção, que foi proposta pelo Governo Físicas declararam o recebimento de R$ 286,29 bilhões e m rendimen-
Federal, encontra-se reproduzida na Exposição de Motivos, à fl. 98 do tos isentos, oriundos de distribuição de lucros e dividendos (Grandes
dossiê do Projeto de Lei nº 913/1995. 2º Números da Declaração de IRPF, página 49)22. Esse valor indica que
No item 12 dessa Exposição de Motivos, à fl. 100 do aludido clossiê, no ano de 2013 os beneficiários deixaram de recolher aproximadamente
afirma-se que com a isenção na distribuição de lucros "estabelece-se a R$ 63,6 bilhões, se aplicada a alíquota máxima atual do IRPF (27,5%,
completa integração entre a pessoa física e a pessoa jurídica, tributando-se considerando o limite de isenção). Este cálculo convalicla a apuração
esses rendimentos exclusivamente na empresa e isentando-os quando de Gobetti e Orair (20 15-6).
do recebimento pelos beneficiários[ ... ] esse procedimento estimula, Ao valor de R$ 59,0 bilhões deve ser acrescido a tributação da parcela
em razão ela equiparação de tratamento e das alíquotas aplicáveis, o dos lucros e dividendos efetivamente e nviado às empresas e Pessoas
investimento nas atividades produtivas". Físicas domiciliadas no exterior, que em 2013 atingiu o montante ele
Tais justificativas são questionáveis, isso porque tal qual exposto no
tópico 1.1 deste artigo, o ordenamento jurídico pátrio tratou de distinguir
21 MINISTÉRIO DA FAZENDA. Progressividade tributária: a agenda es-
19 BRASIL. EM nº 00125/2015 MF. Brasília, 21 de Setembro de 2015. quecida. Disponível em: <http://www.esaf.fazenda.gov.br/assuntos/prernios/
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/C C IVIL_03/_Ato20l 5- prernios-1 /premios-20 l 5/xx-premio-tesouro-nacional-2015-pagina-principal/
20l8/2015/Exm/Exm-MP%20692-l5.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017. monografias-premiadas-xx-premio-tesouro-nacional-2015 /tema-3-sergio-
•gobetti-e-rodrigo-ora ir/view>. Acesso em: 06 ago. 2017.
20 BRASIL. fL 913/1995. Câmara dos Deputados. Disponível em : <http://
www. camb ra .gov.b r/p roposi coesWe b/prop_mostrari n tegra ?cod te- 22 R$ 231,30 bilhões de lucros e dividendos em geral e R$ 55,99 bilhões
or= l l 34860&filename=Dossie+-PL+9 l 3/l 995>. Acesso em: 06 ago. 2017. recebidos por titulares de empresas enquadradas no Simples.

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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

US$ 26,0 bilhões23, que correspondia a R$ 61,31 bilhões em 31/12/2013, i) investidor "A" integraliza R$ 10 milhões em uma pessoa jurídica
totalizando R$120,31 bilhões. Quanto a esses lucros e dividendos re- (PJ), que usa os recursos para investimento em uma planta industrial;
metidos ao exterior, o cálculo do Imposto de Renda pode ser feito com ii) tempos depois, esse investimento valoriza para R$ 2 5 milhões e
a mesma alíquota ele 15% aplicada nas prestações de serviço, aluguéis outro investidor "B" propõe comprá-lo;
e pagamento de royalties, apurando-se R$ 9,2 bilhões de imposto.
iii) ao invés da PJ alienar diretamente esse ativo para o investidor "B"
Portanto, a tributação integral dos lucros e dividendos efetivamente e tributar o ganho (sujeito a 34% ele IRPJ + CSLL), a PJ pode reduzir
pagos, a domiciliados Brasil e no Exterior, pode elevar em pelo menos seu capital, restituindo ao investidor "A" o original (R$ 10 milhões), na
R$ 68,2 bilhões a arrecadação do Imposto de Renda. forma desse bem (pelo valor contábil), que poderá vendê-lo ao investidor
"B", e tributar o ganho em sua Pessoa Física com incidência tributária
2.5. ISENÇÃO DE TRIBUTOS INCIDENTES SOBRE menor (antes era ele 15%, em 2017 passou a no máximo 22,5%). 2;
A DEVOLUÇÃO DE CAPITAL AOS SÓCIOS, NA É preciso revogar o parágrafo 2º do artigo 22 ela Lei 9.249/1995, eli-
FORMA DE BENS, PELO VALOR CONTÁBIL minando essa grave distorção, em vigor há quase 20 (vinte) anos.

Trata-se de benefício tributário que também foi proposto pelo Poder Outrossim, a apuração do montante do IRPJ e CSLL que deixa de ser
Executivo no projeto de lei que originou a Lei 9.249/1995. pago anualmente em face do aproveitamento dessa distorção somente
é possível mediante apurações complexas nos sistemas de escrituração
Constata-se no dossiê cio Projeto de Lei nº 913/1995 (fl. 99) 24 que digital ou fiscalizações ín loco, tal qual as realizadas para apurar o ágio
justificativa do Sr. Ministro da Fazenda para essa desoneração é pouco interno (item 1.4 ). Todavia, pode-se estimar a perda em R$ 0,19 bilhão
razoável. Diz-se apenas que o artigo 22 da aludida Lei destinou-se apenas a R$ 0,34 bilhão, em cada R$ 1,00 bilhão de diferença entre o valor
adequar "a legislação às alterações promovidas pelo Projeto de Lei". contábil e o valor de mercado dos bens devolvido a sócios com uso
Em verdade, criou-se urna isenção dos tributos incidentes sobre a dessa faculdade. Isso porque a pessoa jurídica que devolve o bem ao
devolução de capital de empresas aos sócios, na forma de bens, quando sócio pelo valor contábil deixa de tributar o ganho a 34% (25% de IRPJ
feita pelo valor contábil, ainda que o valor atual de mercado seja notório e 9% ele CSLL), sendo que esses bens podem ou não sofrer tributação
e comprovadamente maior. Antes esse procedimento constituía fato na pessoa física. Em caso ele alienação na PF a alíquota cio ganho de
gerador do IR, pois configurava "distribuição disfarçada de lucros" (art. capital inicia-se em 15% e vai até 22,5%, daí a diferença de até 19%.
464 do RIR/99), sendo que a empresa teria que reconhecer o ganho e
tributar na própria PJ. 2.6. PEJOTIZAÇÃO DE PESSOAS FÍSICAS
Verifica-se, claramente, que essa alteração visou favorecer os capitalistas
e grandes grupos empresariais. Vejamos uma hipótese de aproveitamento A chamada "pejotização" das Pessoas Físicas consiste em permissivos
desse benefício: legais para que os rendimentos obtidos por Pessoas Físicas em atividades
personalíssimas ou intelectuais sejam tributadas, vantajosamente, na
forma de pessoa jurídica. Dentre tais normas destacam-se:
23 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <http://www.bcb.gov. i) tributação dos ganhos e resultados obtidos com o direito de imagem
br/htms/relinf/port/2014/12/ri201412b4p.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2017. elas Pessoas Físicas, tratada no artigo 129 ela Lei nº 11.196 de 21 de
24 "16. Os arts. 17, 18 e 21 a 23 adequam a legislação às alterações promovidas novembro de 1995, conhecida por "Lei da Globo";
pelo Projeto de Lei, dispondo, respectivamente, sobre a incorporação, fusão
e cisão de sociedades (art. 21 ); sobre a tributação de ganhos de capital e a
avaliação q_e bens entregues a sócio ou acionista como devolução de parti- 25 Vide art. l º . da Lei nº. 13.259/2016. Disponível em <http://www.planalto.
cipação no 'capital societário (arts. 17, 18 e 22); e sobre o tratamento das gov.br/cc ivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/Ll3259.htm> . Acesso em: 06
omissões de receita (art. 23 )." ago. 2017.

690 691
TRIBUTAÇÃO EDESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

ii) tributação de ganhos e resultados obtidos no exercício de profissões Veja-se na tabela abaixo os valores ele tributos federais devidos por um
regulamentadas, a exemplo de médicos, advogados, engenheiros. profissional liberal ou artista, em 2015, de acordo com seu nível de renda
e forma de tributação, excluindo-se as contribuições previdenciárias.
De fato, não há impedimentos para que duas ou mais pessoas se
organizem na forma de sociedades simples ou empresas, o que não se Tabela 3 - Comparativo de tributos federais incidentes, em 2015, sobre
pode permitir é que os rendimentos de seu trabalho individual sejam rendimentos de atividades personalíssimas, de acordo com a forma de tributação
considerados lucros da empresa para fins de tributação. Na vigência do
Tributos
Decreto-lei nº 2.397 d e 21 de dezembro de 1987 isso não era permitido, Tributos Federais Tributos Federais Tributos Federais
Regime/ Federais
sendo resolvido com uma regra muito simples: os resultados e ganhos (Rendimentos (Rendimentos (Rendimentos de
Sistemática (Rendimentos
de R$ 240.000 de R$ 2.400.000 R$ 24.000.000
líquidos dessas empresas deveriam ser integralmente tributados pelos de Tributação de R$ 120.000
p/ ano) p/ ano) p/ ano)
sócios em suas declarações de Pessoas Físicas na forma de rendimento p/ ano)
do trabalho não assalariado, inclusive sujeitos ao camê-leão. Pessoa Física
(somente 22.679,30 55.679,30 649.679,30 6.589.679,30
Todavia, a forma ele tributação determinada p elo D ecreto-Lei IRPF)
2.397/1987 foi revogada pela Lei 9.430/1996.
Simples* 2.500,00 9.000,00 230.400,00 (não se aplica)
O s rendimentos elas Pessoas F ísicas que exercem atividades liberais
Lucro
e de profissão regulamentada está sujeito a tributação no ajuste anual Presumido**
7.490,00 27.192,00 324.720,00 3.463.200,00
m ediante aplicação da tabela progressiva do IRPF (artigo 3º. da Le i
9.250/1995), cuja alíquota m áxima atual é 27,5% para rendime ntos Fonte: Elaboração própria.
líquidos superiores a R$ 55 .976,16 no ano. Por sua vez, as sociedades * Excluída as parcelas da alíquota referente ao ISS e da Contribuição Previdenciária.
simples ou empresariais que explorem essas mesmas atividades podem ** Somatório das alíquotas do IRPJ, CSLL, PIS e Cofins.
optar pe lo regime do Lucro Presumido, sendo que alíquota efetiva do
Observa-se que, além de todos os benefícios d e u ma e mpresa no
IRPJ/CSLL é de 10,88% ao ano, isso para faturamento acima de R$
Simples ou no Lucro Presumido, a incidência dos tributos federais é
240.000,00 no ano.
be m menor do que o Imposto de Renda das Pessoas Físicas. Logo, um
É certo que as empresas devem ainda recolher PIS e Cofins. Todavia, mesmo profissional (advogado, engenheiro) ou artista/atleta (ator, jogador
somando-se as alíquotas de todos os tributos, a carga tributária máxima de futebol) tem uma tributação federal bem m en or ao con stituir uma
no Regime do Lucro Presumido não chega a 16% ao a no. Diante desse empresa para tributar seus rendimentos.
contexto, é vanta joso aos profissionais autônomos com faturarnento
Essa abissal diferença, que na faixa ele R$ 120.000,00 ao an o c hega a
anual supe rior a R$ 100 mil constituir Pessoas Jurídicas apenas para
ser de 300% entre o IRPF e o Lucro Presumido e 900% e ntre o IRP F e
se suj eitare m a uma ca rga tributária menor. Caso possam optar pelo
o Simples, fere totalmen te os princípios da ison omia e da capacidade
Simples, a ca rga tributária redu z mais ainda.
contributiva.
Quanto a essa situação, identificam-se duas incoerên cias, quais sejam ,
A proposta ele ajuste aqui é bastante óbvia: corrigir essa distorção me-
a baixa correção da ta bela do IRPF a partir ele ja neiro/1996 (a defasa-
diante o restabelecimento cio que dispunha o Dec reto-Lei 2.397/1987
gem c hega a 256,60%);26 e o baixo percentual de presunção do Lucro
(tributação au tom ática d os lucros pessoa física dos sócios) ou elevar
Presumido para as a tividades de prestação de serviço profissional.
o percentual do Lucro Presumido para as atividades personalíssimas.
Registre-se que essa tributação integral dos lucros da empresa na pessoa
dos sócios, utilizando-se a tabela progressiva cio IRPF, é in compatível
26 SINDIFISCO. Conheça a minuta completa cio projeto ele lei. Projeto
ele Lei s/n 1 2013. Disponível em: <http://www.sinclifisconacional.org.br/ com a propost a de tributação geral dos lucros distribuídos (tópico 2.4),
impostojus\o/?saibamais=conheca-a-minuta-completa-clo-projeto-de-lei>. bem como anula os efeitos da distorção tratada no tópico 2.1 (isenção
Acesso em: 20 ago. 2017. ele lucros não tributados).

692 693
TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

A Medida Provisória nº 690 de 31 de agosto de 2015 (MP 690/2015 ), nacional.29 Constata-se que o objetivo do Ministério da Fazenda ao criar
art. 8º, em tramitação no Congresso Nacional, buscou corrigir em parte a dedutibilidade para o JCP foi simplesmente reduzir a carga tributária
a distorção tratada neste tópico ao determinar que as receitas decorren- das grandes empresas e assim atrair investimentos estrangeiros.
tes ela cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, Todavia, uma análise atenta cio caput e parágrafo l º da citada norma,
marca ou voz de que seja detentor o titular ou o sócio da pessoa jurídica leva à conclusão de que os sócios, ou acionistas Pessoas Físicas de u ma
fossem adicionadas à base de cálculo sem a aplicação dos percentuais empresa, que realizam pagamento de JCP, acabam obtendo benefícios du-
ele presunção do lucro. plicados. Isso porque a economia de tributos gerada com o pagamento do
JCP reverte-se em lucro da em presa, cuja distribuição, repita-se, é isenta.
Na exposição ele motivos da aludida MP 690/2015 ,27 o Governo Federal
Enfim, ela m esma forma que a isenção total de lucros e dividendos,
reconhece expressamente que a forma de tributação dessas receitas
a dedução de JCP teve por finalidade privilegiar o capital, trazendo a
nas empresas optantes pelo regime do Lucro Presumido estava distor-
perversa consequência de aumentar a concentração de rendas n o Brasil.
cida, pois, trata-se ele rendimentos que remunera economicamente o
trabalho e não o capital. Todavia, o Congresso Nacional modificou o Na apuração da renúncia tributária em face desse benefício, constata-
texto da MP 690/2015, expurgando essa modificação para manter os -se n o DW-RFB que o montante das despesas com pagamento d e JCP,
atuais benefícios tributários desse seguimento da sociedade, composto deduzido pelas empresas foi ele R$ 118,70 Bilhões. Logo, a economia
por pessoas influentes e de renome nacional, ou seja, formadores de tributária das empresas foi de R$ 22,5 5 bilhões.
opinião. Espera-se que, o quanto antes, medidas legais semelhantes O Governo Federal buscou corrigir em parte essa distorção, recen-
ao texto original da MP 690/2015 sejam adotadas para restabelecer o temente, por meio da Medida Provisória nº 694 ele 30 ele setembro ele
equilíbrio na tributação de empresas que se dedicam a atividades de 2015 (MP 694/2015), red uzindo a alíquota de cálculo elo JCP para 5%,
profissões regulamentadas. bem como elevando a tributação na fonte do JCP pago à alíquota d e
18%. Aliás, na Exposição ele MP 694/20 15 3º , item 531, a distorção tra-
tada neste tópico foi expressam ente reconhecida. Todavia, essa Medida
2.7. DEDUÇÃO DE DESPESAS COM OPAGAMENTO DE JUROS Provisória teve seu prazo de vigência encerrado sem ter sido votada pelo
SOBRE OCAPITAL PRÓPRIO PELAS EMPRESAS Congresso Nacional, pelo que o benefício continua em pleno vigor.

A Lei 9.249/1995 (art. 9º) estabeleceu também possibilidade de de- 29 "11. A pennissão da dedução de juros pagos ao acionista, até o limite pro-
dução dos pagamentos de "Juros Sobre o Capital Próprio" (JCP) na posto, em especial, deverá provocar um incremento das aplicações produtivas
base de cálculo do IRPJ e da CSLL, a título de despesa. Enquanto o nas empresas brasileiras, capacitando-as a elevar o nível de i1111estimentos,
JCP recebido é tributado a 15% pelas PF, a dedução implica numa sem endividamento, com evidentes vantagens no que se refere à geração de
empregos e ao crescimento sustentado da economia. Objetivo a ser atingido
economia tributária de até 34% para a empresa pagadora. Logo, a eco-
mediante a adoção de política tributária moderna e compatível com aquela
nomia de tributo ou ganho do grupo empresarial que paga JCP para praticada pelos demais países emergentes, que competem com o Brasil na
seus controladores é de até 19%. captação de recursos internacionais para i1111estimento."
No dossiê do Projeto de Lei nº 913/1995 28, à fls. 98, também se encon- 30 BRASIL Ato. EM nº 00130/20 15 MF, Brasília, 22 de Setembro de 2015.
tra a justifica tiva cio Poder Executivo para mais essa inovação tributária Disponível em <http://www.planalto.gov. br/CCIVIL_0 3/_Ato20 l 5-
2018/20 l 5/Mpv/mpv694.htm>. Acesso em: 02 ago. 2017.
31 "5. Destaca-se que já se passaram quase vinte anos de vigência do benefício,
27 BRASIL Ato. EM nº 00117/2015 MF, Brasília, 30 de Agosto de 2015. embora hodíemamente a concessão de benefícios fiscais tem sido orientada por
Disponível em : <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015- períodos certos de tempo e não perenizada indetemiinadamente. Nesse contexto,
2018/2015/Exm/Exm-MP%20690-l 5.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2017. é que se propõe a alteração do S2º do art. 9º da Lei nº 9.249, de 1995, pela
28 BRASILPL 913/1995. Câmara dos Deputados. Disponível em: <http:// elevação do percentual de retenção do imposto de renda na fonte, para 18%,
www. cairia ra. gov. br/proposicoes \Veb /prop _mostra rin tegra?cod te- com a qual se espera que as distorções acima apontadas sejam mitigadas e que
or= l l 34860&filename=Dossie+-PL+91 3/l 995>. Acesso em: 06 ago. 2017. a arrecadação tributária seja impactada positivamente já a partir de 2016."

694 695
TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

buições ele lucro. Da m esma forma, a perda elo item 2.1 está em grande
SEÇÃO 3 parte incl uída no item 2.6, isso porque, no montante apurado relativo
à "pe jotização"(R$ 3 1,49 bilhões) foi considerada a tributação integral
dos resultados das empresas que exploram essas atividades. Logo, ao
3. QUADRO RESUMO DOS VALORES DAS mensurar as renúncias de receitas tributárias decorrentes dessas "bre-
DESONERAÇÕES E DISTORÇÕES NA chas legais" do Imposto ele Renda, chega-se ao montante estimado de
TRIBUTAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA R$ 63,8 bilhões ao ano, que pode chega r a R$ 120,5 bilhões, caso se ja
TRATADAS NESTE ESTUDO adotada a tributação integral dos lucros distribuídos.
Por sua vez, neste estudo não foi possível estimar os m ontantes anu-
E m síntese, os valores anuais estimad os das renúncias tributárias do
ais das perdas de arrecadação relativas ao tópico 2. 5 supra (isenção de
IRPJ e CSLL, tratadas neste estudo, cujos montantes são passiveis de
tributos incidentes sobre a distribuição disfarçada de lucros - D D L, em
serem determinados, são os seguintes:
face de devolução de capital aos sócios pelo valor contábil ao invés do
Tabela 4 - Estimativas das renúncias tributárias do IRPJ e CSLL neste estudo. valor de m ercado), em razão da inexistência de dados específicos no
DW-RFB. Registre-se, entretan to, que a perda de arrecadação é ele até
Valor Total Estimado 34% so bre esses ganhos.
Discriminação Item
(R$ bilhões)

Isenção do Imposto de Renda sobre a parcela dos


lucros distribuídos que não foram tributados pelas 21 18,28 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
empresas no Lucro Presumido e do Simples Nacional.
O Brasil, m ais uma vez, atravessa período de grave crise econômica e
Inexistência de limite global para que empresas de um
mesmo grupo empresarial optem pelo regime do Lucro 2.2 28,50 elevado déficit fiscal, em que o próprio G overno Federal Brasileiro reco-
Presumido (o limite é o mesmo individual por empresa). nhece que o esforço voltado à estabilidade fiscal é essencial para equili-
Distorção entre alíquotas aplicáveis a Pessoas Físicas
brar a economia e criar as condições para a retomada do crescimento.
2.3 3,80
ejurídicas na incidência do IRsobre Ganhos de Capital É pouco provável que apenas sanear e otimizar os gastos públicos seja
Isenção do Imposto de Renda sobre o total suficiente: será necessário elevar a arrecadação de tributos.
dos lucros distribuídos às PFe domiciliados no 2.4 68,20
exterior, tributados ou não pelas empresas Por outro lado, o cenário da tributação no País é um dos fa tores m ais
im portantes na tomada ele decisões dos empresários e investidores, tanto
' Pejotização' de Pessoas Físicas 2.6 31,49
domésticos, quanto estrangeiros.
Dedução de despesas com o pagamento de JCPpelas
empresas a Pessoas Físicas domiciliadas no exterior.
2.7 22,55 É preciso aprim orar o sistema tributário nacional, eli minando dis-
torções, simplificando as incidências, au mentando a transparência, a
Total 1 - somatório dos itens 2.2, 2.3, 2.6 e 2.7 86,34 previsibilidade e a segurança jurídica . O ideal seria uma reforma tri-
Total 2 - somatório dos itens 2.2, 2.3, 2.4 e 2.7 123,05 bu tária profu nda. Porém, a última grande reforma tributária no Brasil
deu-se pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), há mais de 25 anos.
Fonte: elaboração própria. Após isso o País cresceu e mudou muito, especialmente a partir de 1994
com o Plano Real.
Justifica-se duas totalizações cios montantes an ua is mensuráveis nos
itens acima pelo fato de qu e as renúncias relativas aos itens 2.1 (isen- O Código Tributário Nacional (CT N) é uma lei de 1966 e deveria ter
ção do IR na distribuição ele lucros não tributados) e 2.6 (renúncia de sido reform ulado após a promulgação da C F/88, mas encontra-se em
incidência do\ IR pela "Pejotização") estão incluídos no item 2.4, no vigor, cheio de normas tacitamente revogadas e de "rem endos". Basta
qual foi apurada a renúncia total do IR em face da isenção nas distri- uma simples leitura no CT com as anotações dos dispositivos alterados,

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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

para constatar isso. Há vários proje tos de reforma tributária tramitando Sugere-se, ainda, que a Receita Federal cio Brasil, apure o montante
no Congresso Nacional, inclusive uma proposta de ementa à CF/88, anual que se deixa de arrecadar, relativo a cada uma das renúncias tribu-
e nviada pelo Governo Federal, de autoria do próprio Ministério da tárias do Imposto de Renda, atualmente vigentes, e leve ao conhecimento
Fazenda,32 que tramita desde 2008, 33 mas ainda não foi votada. Enquanto ela população em seu sítio na internet, na página d o Receita Data.
isso, o que efetivamente temos são constantes alterações nos tributos em Repita-se: o Imposto de Renda é um dos mais importantes tributos
cobrança, algumas delas muito mal explicadas, que via d e regra impli- do Brasil, sendo que os resultados de alterações de suas normas de inci-
cam em desonerações altamente questionáveis, a exemplo da isenção dência são imediatos e grandiosos, tanto fiscais quanto sociais, pelo que
do IR na distribuição do lucro contábil pelas empresas optantes pelo merece um cuidado maior por parte do Governo Federal e do Congresso
regime do Lucro Presumido e pela sistemática do Simples (Lucro esse Nacional. Exemplo de efeitos negativos de uma dessas alte rações foi a
que não é integralmente tributado pela empresa). O faturamento total vigência do art. 36 ela Lei 10.637/2002, que abriu brecha para amortiza-
de 32.185 empresas, e nquadradas n o Luc ro Presumido ano de 2013, ção do chamado "ágio interno", cujas despesas, aproveitadas por grandes
superou R$ 647 bilhões, sendo que distribuíram o montante de R$ 91,4 grupos empresariais, acarretaram perdas superiores a R$ 200 (duzentos)
bilhões de lucros contábeis, totalmente isentos do Imposto de Renda. bilhões no IRPJ/CSLL nos anos de 2004 à 2013. 34
Zelar pela qualidade das múltiplas incidências do Imposto de Renda
Ao término deste estudo, pode-se afirmar que é possível melhorar
é condição sine qua non ao saneamento e equilíbrio das contas públicas
muito o sistema tributário nacional, sem grandes alterações nas leis em
do Brasi l, ao tempo que também promove-se a justiça fiscal: exigindo
vigor; sequer é preciso alterar o CTN e a CF/88.
mais tributo, diretamente ele quem pode e deve contribuir com mais,
No caso específico do Imposto de Renda, as medidas aqui propostas em razão do volume ele seus ganhos.
devem não só aumentar as receitas tributárias federais em torno de R$ 86 Após o reequilíbrio das contas públicas, propõe-se que o acréscimo na
(oitenta e seis) bilhões ou 12 3 (cento e vinte e três) bilhões ao ano - de arrecadação cio Imposto ele Renda com essas medidas, fruto do conse-
acordo com a forma de incidência a ser adotada-, mas principalmente quente aumento da carga tributária, seja neutralizado com a redução elas
melhorar a tributação, cumprindo a de terminação constitucional de alíquotas ela CSLL, e assim reduzir na m esma proporção as incidências
que o IR deva ser progressivo, observando a capacidade contributiva, ou tributárias sobre o lucro das empresas.
seja, sobre os mais ricos (Pessoas F ísicas e controladores de empresas)
É certo que toda ação está sujeita a uma reação contrária. Logo, ao
deve have r incidências maiores, tal qual ocorre n os países mais desen- serem implementadas m edidas que elevem diretamente a carga tributária
volvidos do mundo. de Pessoas Físicas e empresas de alto capacidade econômica, certamente
Propugna-se, portanto, que toda a legislação do Imposto de Renda seja esses contribuintes buscarão "válvulas de escape", as cha madas práticas
minuciosamente revista, buscando apurar todas as distorções e incoe- de elisão tributária, ou m esmo repassar uma parte aos preços, visando
rências d essa natureza. Ato contínuo, promover as devidas revogações recompor as ma rgens líquidas de lucros e rendimentos, p elo que as esti-
e alterações dos dispositivos legais viciados. Faz n ecessá rio também mativas de elevação elas receitas tributárias federais calculadas na pesquisa
edita r um n ovo Regulamento do Imposto d e Renda, haja vista que o que apoia o presente artigo dificilmente realizar-se-ão integralmente.
a tual, RIR/99, apresenta uma série de dispositivos revogados tácita ou Contudo, h á outros ganhos diretos ao Imposto de Re nda, advindos
expressam ente e outros ta ntos não mais aplicáveis. com as correções propostas neste artigo, a exemplo cio pleno restabeleci-
m ento ela observân cia dos princípios ela gen eralidade, da universalidade,
da progressividade e cio respeito à capacidade con tributiva, conforme
32 MINISTÉRIO DA FAZENDA. Proposta de Reforma Tributária do estabelecidos na CF/88.
Ministério da Fazenda, divulgada em 28 de fevereiro de 2008. Disponível
em: <http://www.fazenda.gov.br/divulgacao/publicacoes/reforma-tributaria/ 34 SOUZA, Antonio Jose Praga. Imposto de renda no Brasil: estudo de dis-
cartilha.reforma.tributaria.pdf>.. Acesso em: 02 ago. 2017. torções, em especial algumas relacionadas à distribuição de lucros das
33 CÂMARA\ DOS DEPUTADOS. Proposta de Emenda a Constituição empresas. IPEA, Brasília, 2016, p. 16-18. Disponível em: < http://www.
- PEC 233/2008. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposico- mestradoprofiss ional .gov. br/sites/images/mestrado/tu rma2/a n tonio-jose-
esWeb/fichadetramitacao?idProposicao=384954>. Acesso em: 02 ago. 2017. -praga-de-souza.pdf>.. Acesso em: 14 dez. 2016.

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TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE TRIBUTAÇÃO E DESIGUALDADE

- - - . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema


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ga-de-souza.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2016. estimado por pesquisas domiciliares, como vimos nos capítulos anterio-
res) reabriu um debate hibernado, em torno de um tema interditado na
agencia cio nosso mainstream econômico e jurídico: qual o grau adequado
de progressividade do imposto de renda e como d evem ser tributados
os lucros e demais rendas do capital?
O modelo brasileiro, baseado em uma progressividade de baixo grau e
restrita às rendas do trabalho e na eliminação ela tributação ele lucros ao
nível das pessoas físicas, foi concebido na década de 90 sob influência de
propostas inovadoras e radicais - como o f{.at taxe as deduções relativas
ao rendimento normal do capital próprio - discutidas por acadêmicos e
policymakers dos Estados Unidos e da Europa. Essas propostas tinham
por objetivo resolver problemas concretos (como a falta de isonomia
no tratamento das diferentes rendas cio capital e os efeitos disso sobre
as decisões de investimento das firmas), mas também traduziam um
certo clamor teórico e ideológico por menor oneração do capital e dos
mais ricos, baseados na suposta ineficiência econômica da tributação
sobre eles.
\ Curiosamente, como veremos em detalhes adiante, essa agenda de
\
reformas nunca foi adotada na plenitude pelas grandes potências, que

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