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O PRINCÍPIO DO NÃO-CONFISCO NO
DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO
NOVA LIMA
2007
1
O PRINCÍPIO DO NÃO-CONFISCO NO
DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO
NOVA LIMA
2007
2
136 f. enc.
CDU 336.2:342.4
__________________________________________________________________
Ficha catalográfica elaborada por Emilce Maria Diniz – CRB – 6 / 1206
3
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
____________________________________________
Prof. Dr. Sacha Calmon Navarro Coêlho (Orientador)
____________________________________________
(Membro Efetivo)
____________________________________________
(Membro Efetivo)
1. AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
ABREVIATURAS
CF – Constituição Federal
RE – Recurso Extraordinário
AC – Acórdão
2. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 11
BRASILEIRO ........................................................................................... 31
............................................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS................................................................................................. 128
11
INTRODUÇÃO
1
ATALIBA, Geraldo. Lei Complementar na Constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971, p.18.
12
2
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 16. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 263.
16
3
HART, Hebert L. A. O Conceito de Direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbernkian, 2001, p. 51.
18
4
HART, Hebert L. A. Op cit., p. 51.
19
5
DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípios. Tradução Luis Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes,
2002, p. 36.
20
6
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., 263.
7
BERNARDES, Juliano Taveira. Controle Abstrato de Constitucionalidade. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 318.
21
8
ALEXY, Robert. Sobre a Estrutura dos Princípios Jurídicos. Revista Internacional de Direito Tributário. Belo
Horizonte: ABRADT, v. 3, p. 157, jan./jun. 2005.
22
somente perderá sua eficácia naquilo que for manifestamente incompatível com
relação à específica.
Quando, no entanto, nenhum dos critérios aqui mencionados for apto ou
capaz de solucionar o conflito existente, o intérprete ou aplicador do Direito deverá
valer-se de outros métodos, tais quais os enumerados pelo ilustre autor Norberto
Bobbio.
O jurista expõe em seu livro “Teoria do Ordenamento Jurídico” a
existência de três possibilidades: eliminar uma das regras; eliminar as duas; ou
conservar as duas, eliminando ou corrigindo, neste caso, a incompatibilidade que
existe entre elas.
Assim dizendo conclui o autor Norberto Bobbio (1999, p. 104):
9
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10. ed. Brasília: Editora UNB, 1999, p. 104.
23
10
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução e notas Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes,
2002, p. 40.
11
BOBBIO, op. cit., p.106.
24
certas condições, revogar uma lei especial anterior, isto é, a regra da lex speciais
não possui caráter definitivo, como bem dissertou o jurista Igor Mauler Santiago
(2004, p. 256/265):
12
SANTIAGO, Igor Mauler. Subsistência da Tributação Per Capita dos Profissionais Liberais e de suas
Sociedades Após a Lei Complementar n. 116/03, in ISS - LC 116/2003, org. Marcelo Magalhães Peixoto e Ives
Gandra da Silva Martins. Curitiba: Juruá, 2004, p. 253/265.
13
BOBBIO, op. cit., 1999, p. 90.
25
14
LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouse Gulbenkian, 1983, p. 575.
15
LARENZ, op. cit., p. 587.
26
nos diferentes graus de concretização, assim definidos pelo autor alemão Karl
Larenz (1983, p. 677):
16
LARENZ, op. cit., p. 677.
28
17
BONAVIDES, op. cit., p. 290.
29
posta ou estabelecida pelo juiz, e não unicamente por ele aplicada ao caso
específico.
Ao analisarmos a questão do papel que as regras e os princípios
possuem e exercem dentro do ordenamento jurídico, não poderíamos deixar de
mencionar o posicionamento doutrinário de Canotilho, segundo o qual as normas de
um sistema jurídico podem revelar-se tanto sob a forma de princípios, quanto sob a
forma de regras. Assim, a distinção existente entre regras e princípios é feita entre
duas espécies de normas, sugerindo o autor, em seguida, alguns critérios a serem
utilizados para se fazer aludida diferenciação.
O primeiro deles seria diferenciar essas espécies normativas em função
de seu grau de abstração, concluindo-se que os princípios são normas dotadas de
grau de abstração elevado e superior se comparado à abstração das regras.
Prossegue o autor afirmando que há diferenças também quando se
analisa o grau de sua determinabilidade na aplicação do caso em concreto,
possuindo as regras aplicação direta, ao passo que os princípios necessitariam de
mediações concretizadoras do juiz ou do legislador, por serem vagos e
indeterminados.
Ao considerar o caráter de fundamentalidade no sistema das fontes e do
direito, há que ser ressaltado o papel fundamental que os princípios exercem no
ordenamento jurídico em virtude de sua posição hierárquica, quando considerados
princípios constitucionais, bem como sua importância estrutural dentro do sistema
jurídico, como por exemplo, o princípio do Estado de Direito.
Em relação à proximidade da idéia de Direito, Canotilho considera que os
princípios são baseados nas exigências de justiça, aproximando-se da concepção
de Dworkin, ou na idéia de direito. Por outro lado, as regras podem ter um conteúdo
meramente funcional, sem que nelas estejam enraizados referidos ideais.
Por fim, o autor português sugere o critério da natureza normogenética,
segundo o qual os princípios são fundamentos das regras jurídicas, pois constituem
a base de todo o sistema normativo.
Percebe-se, sobretudo, que as idéias de Canotilho (2002, p.1145) em
muito se assemelham à teoria de Dworkin, o que poderá ser confirmado com a
leitura do trecho a seguir:
30
18
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5. ed. Lisboa: Almedina, 2002, p.
1145.
31
3.1 Introdução
19
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição 1988 – Sistema Tributário. 6. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1996, p. 333.
20
MENEZES, Sezinando Luiz. Alexandre de Gusmão (1695-1753) e a tributação das minas no Brasil. Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010190742006000200009&script=sci_arttext.> Acesso em:
03/10/2007).
21
MENEZES, op. cit., 2007.
32
22
MENEZES, op. cit., 2007.
23
MENEZES, op. cit., 2007.
33
24
MENEZES, op. cit., 2007.
25
MENEZES, op. cit., 2007.
26
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 7. ed., ver e compl. à luz da Constituição
de 1988 até a Emenda Constitucional nº 10/1996. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 52.
34
27
CASTILHO, Paulo César de Bária de. Confisco Tributário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 47.
28
BALEEIRO, op. cit., p. 566.
35
O art. 153, §§ 11 e 22, vale como escudo contra o confisco, porque este é
incompatível com o critério da graduação pela capacidade econômica do
contribuinte. O tributo que absorvesse todo o valor do patrimônio, destruísse
a empresa ou paralisasse a atividade não se afinaria pela capacidade
contributiva nem se ajustaria à proibição do confisco. Mataria a capacidade
econômica que a Constituição quer proteger na sua existência e atingir
progressivamente, na medida inversa da sua utilidade individual e social.
Extinguiria a propriedade, a iniciativa e o trabalho, que as Constituições
Federais de 1969 e 1946 garantem e advogam como atributo a ser
generalizado a todos os homens e mulheres, para a base do bem estar-
social. Justo ou injusto, errado ou certo do ponto de vista social, é o que
está naquelas Constituições.29 (BALEEIRO, 1997, p. 566)
29
BALEEIRO, op. cit., p. 566.
36
30
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Atualizada por DERZI, Misabel Abreu
Machado. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 576.
37
31
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Direitos Fundamentais do Contribuinte. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000, p. 93.
32
SILVA, de Plácito e. Vocabulário Jurídico. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 199.
33
GOLDSCHMIDT, Fábio Brun. O Princípio do Não-Confisco no Direito Tributário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 46.
34
AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. 5. ed. Rio de Janeiro: Delta, vol 1, 1987,
p. 428.
38
35
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral I. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.
679.
39
posse ou alienação não são proibidos de forma absoluta, por serem permitidos a
certas pessoas, em razão da sua qualidade ou função, ou mediante autorização da
autoridade competente. Destarte, percebe-se que, nesse caso, o legislador evitou
confiscar utensílios profissionais, de trabalho e de estudo, ou seja, os objetos de uso
lícito. Contudo, referida ressalva não se aplica ao produto auferido com o crime,
tendo em vista a obrigatoriedade do confisco nesse particular.
O penalista Damásio E. de Jesus (1997, p. 638) assim definiu a
permissão para o confisco previsto no Código Penal Brasileiro:
36
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 1º volume – Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 638.
37
GUIMARÂES, Deocleciano Torrieri. Dicionario Técnico Jurídico. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2004, p. 192.
40
Não é fácil definir o que seja confisco, entendo eu que sempre que a
tributação agregada retire a capacidade de o contribuinte se sustentar e se
desenvolver (ganhos para a suas necessidades essenciais e ganhos a mais
do que estas necessidades para reinvestir ou se desenvolver), estar-se-á
diante de confisco.40
38
BALEEIRO, op. cit., p. 566.
39
JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. Dicionário Jurídico Tributário. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 20.
40
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Sistema Tributário na Constituição de 1988. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1998,
p. 125/126.
41
Não há como negar que referido conceito traz consigo alto grau de
generalidade, eis que possui inúmeros conceitos vagos que necessitam de
interpretação do aplicador do direito, já que a lei não traz sua definição e limitação
objetiva.
No entanto, a conclusão do autor em comento justifica-se pela análise do
art. 3º do Código Tributário Nacional:
41
DÓRIA, Antônio R. Sampaio. Direito Constitucional Tributário e ‘due processo of law’. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1986, p. 195.
42
tributos irá tanto auxiliar no suporte e no custeio das despesas públicas dos entes
federados, representando, assim, meio fundamental para o próprio desenvolvimento
e manutenção da nação, quanto viabilizar o respeito aos direitos fundamentais do
indivíduo.
Sob a ótica da primeira perspectiva, o Estado fundamenta suas ações e,
na tentativa de equilibrar as despesas públicas com a sua receita, cria novos tributos
e majora os já existentes. No entanto, para que sejam respeitados as garantias e os
direitos reconhecidos ao cidadão pela atual Carta Política, é imprescindível que
referida atividade não se faça de maneira exagerada, excessiva e predatória, como
ver-se-á a seguir.
No Direito Tributário Brasileiro, o confisco aparece como limitação ao
poder de fixar ou majorar tributos que acarretem, sobretudo, a perda da propriedade
do contribuinte, já que todo tributo, a princípio, transfere parte da propriedade do
particular para o Estado. A despeito de não ter sido a intenção do legislador pátrio
expropriar o bem do contribuinte, o princípio do não-confisco veda o efeito prático da
referida exigência. É dirigido não apenas a um ente federativo, mas às esferas
políticas de nossa República, quais sejam: União, Estados, Distrito Federal e
Municípios. Assim sendo, de um lado, evita-se a prática de política arrecadatória
devastadora e, de outro, garante-se a cobrança de tributos em patamares
proporcionais e razoáveis em relação a todos os contribuintes. O princípio em
comento atua como garantia material desses contra o excesso de tributação,
constituindo fundamental instrumento de proteção aos direitos e às garantias
individuais dos cidadãos brasileiros.
A proibição expressa do tributo confiscatório foi introduzida na
Constituição Federal de 1988, em seu art. 150, IV, no capítulo I – Do Sistema
Tributário Nacional, da Seção II – Das Limitações ao Poder de Tributar,
representando limite explícito ao poder de tributar do Estado.
Art. 202. Os tributos têm caráter pessoal sempre que isso for possível, e
serão graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte.
Art. 185. Nenhum imposto poderá ser elevado além de vinte por cento do
seu valor ao tempo do aumento.
42
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional. 18. ed. re., ampl. e atual. até a Emenda
Constitucional nº 38/2002. São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 435.
43
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 158.
46
A teoria acima esposada confirma o que anteriormente foi dito, uma vez
que o efeito de confisco vedado expressamente pela Constituição Federal de 1988
não decorre da aplicação de sanção ao contribuinte faltoso, mas sim da imposição
de carga tributária excessiva que, por conseqüência, inviabiliza o direito de
propriedade do particular. Seria, então, o exercício da atividade de tributar por parte
do Estado, de maneira exagerada e desmedida, sem que o contribuinte receba, em
contrapartida, qualquer indenização ou contraprestação estatal por esta cobrança.
Complementa ainda Fábio Brun Goldschmidt (2003, p. 53): “O que
distingue, entretanto, a tributação legítima da confiscatória ou com efeito de confisco
é justamente o abuso do direito de tributar, que soa como penalização indevida
aos ouvidos do contribuinte” (Grifo do autor).45
Destarte, para o autor, a tributação com efeito de confisco configuraria a
repreensível figura do abuso da competência legislativa por parte do Estado, uma
vez que o mesmo, ao instituir ou majorar tributos de forma exagerada, age de forma
inconstitucional por flagrante desrespeito ao princípio contido no inciso IV, do art.
150, da atual Carta Constitucional brasileira.
O autor prossegue dissertando que se tem o tributo confiscatório pela
exagerada elevação de sua alíquota ou por ter extrapolado os limites constitucionais,
isto é, por não ter causa jurídica, como a cobrança de taxa de serviço público que
não decorra de uma contraprestação estatal ou a exigência de contribuição de
melhoria do contribuinte que não foi beneficiado por obra. Em ambas as hipóteses
44
GOLDSCHMIDT, Fábio Brun. O Princípio do Não-Confisco no Direito Tributário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 51.
45
GOLDSCHMIDT, op. cit. p. 53.
47
46
GOLDSCHMIDT, op. cit., p. 103.
47
CASANOVA, Gustavo J. Naveira de. El principio de no Confiscatoriedad: estúdio em España y Argentina.
Madri: McGraw-Hill, 1997, p. 77.
48
salientar, contudo, que essa medida de disponibilidade de riqueza deve ter como
parâmetro um contribuinte médio, tendo em vista que, hipoteticamente, pode se ter
determinado contribuinte sem dinheiro para pagar dado tributo, não havendo, por
outro lado, a configuração de tributo confiscatório por tal motivo.
Destarte, a conseqüência de imposição desarrazoada será uma dentre as
seguintes: ou o contribuinte não paga, por não ter condições para tal; ou questiona
em juízo o tributo cobrado; ou então, paga e abre mão do direito de mantê-la, para
não ser caracterizado como inadimplente nos seus deveres cívicos.
48
CAMARGOS, Luciano Dias Bicalho. O Imposto Territorial Rural e a Função Social da Propriedade: doutrina,
prática e jurisprudência. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p.18.
51
49
CAMARGOS, op. cit., p.42.
52
50
MALERBI, Diva. Pesquisas Tributárias, nº 6. Direitos Fundamentais do Contribuinte. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000, p. 156.
51
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. REVISTA FORENSE. Vol. 145/164, 21/09/1951, rel. Min. Orozimbo
Nonato.
53
52
CASANOVA, op. cit., p. 84.
54
53
HORVATH, Estevão. O Princípio do Não-Confisco no Direito Tributário. São Paulo: Dialética, 2002, p. 45.
54
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006,
p. 278.
55
55
SPAGNOL, Werther Botelho. Curso de Direito Tributário. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 29.
56
COÊLHO, op. cit., p. 278.
56
Por outro lado, Ricardo Lobo Torres (1999, p. 136) adota posicionamento
diverso quando disserta sobre a extrafiscalidade tributária e o confisco:
57
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 7. ed., ver e compl. à luz da Constituição
de 1988 até a Emenda Constitucional nº 10/1996. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
58
TORRES, Ricardo Lobo.Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. volume III: os direitos
humanos e a tributação: imunidades e isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 136.
59
SPAGNOL, op. cit., p. 128.
57
instrumento de política urbana, pois, nesse, caso, restaria configurada uma situação-
limite onde estaria ocorrendo a própria absorção do bem tributado.
Já o Imposto de Importação (II) admite a elevação de suas alíquotas a
patamares elevados, visando, como exemplificou Sacha Calmon (2006, p. 492),
evitar-se a prática de dumping e para harmonizar a intercadência de preços entre o
mercado interno e o mercado externo, justificando, dessa forma, os preços de
referência.60 Referido imposto pode sofrer elevação, ainda, com o objetivo de
preservar empregos da indústria nacional e um saldo favorável da balança comercial
do país.
Outrossim, mostra-se imprescindível ressaltar que para outros impostos a
alíquota excessiva será confiscatória, como o ICMS, pois a alíquota do imposto de
100% (cem por cento) leva todo o preço, por mais que o comerciante o eleve, uma
vez que referido tributo se calcula por dentro, sendo que, o preço pago pelo
consumidor quando da aquisição do produto, importa na própria absorção do bem,
configurando esta hipótese, na exceção prevista nos dizeres do ilustre jurista Sacha
Calmon.
Ressalte-se, no entanto que, nesse caso, devemos levar em conta o
produto a ser tributado para excepcionarmos algumas hipóteses, uma vez que se
estivermos falando de majoração com fins extrafiscais do imposto sobre cigarros e
bebidas, serão admitidas alíquotas superiores a 100%, sem que reste configurado o
confisco.
Segundo Flávio de Azambuja Berti (2003, p. 134):
60
COÊLHO, op. cit., p. 492.
61
BERTI, Flávio de Azambuja. Impostos: extrafiscalidade e não-confisco. Curitiba : Juruá Editora, 2003, p. 134.
58
62
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Atualizada por DERZI, Misabel Abreu
Machado. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 577.
63
BALEEIRO, op. cit., 1999, p. 577.
59
Os dois princípios em epígrafe possuem estreita relação entre si, uma vez
que ambos dizem respeito ao quantum a ser tributado.
Ao se estudar o princípio do não-confisco, a capacidade contributiva é
elemento inarredável à hora de se aferir se o legislador portou-se dentro dos limites
constitucionalmente permitidos ao configurar o tributo.
Assim, uma das limitações que o Poder Legislativo sofre ao instituir ou
majorar determinado tributo, buscando adequá-lo à capacidade contributiva do
sujeito passivo, é a de que esta figura não seja confiscatória. O respeito a este
princípio evita que aquele tenha efeito de confisco, o que proporciona seja o sistema
tributário mais justo e equilibrado.
O princípio ora estudado consiste no dever que cada cidadão possui de
contribuir na proporção de suas rendas e seus haveres. Tem por objetivo legitimar a
tributação e graduá-la, sempre que possível, de acordo com a riqueza de cada
indivíduo, de modo que os ricos paguem mais e os pobres menos, respeitando-se,
assim, o princípio da isonomia e evitando-se os privilégios e as discriminações entre
aqueles que se encontram na mesma situação.
Em seu livro “O Princípio da Proporcionalidade e o Direito Tributário”,
Helenilson Cunha Pontes (2000, p. 104) assevera sobre a capacidade contributiva:
64
PONTES, Helenilson Cunha. O Princípio da Proporcionalidade e o Direito Tributário. São Paulo: Dialética,
2000, p. 104.
60
65
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 138.
61
66
AMARO, op. cit., 2006.
67
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Manual de Direito Tributário. 4. ed. Niterói: Editora Impetus, 2007,
p. 46.
62
68
DERZI, Misabel Abreu Machado. O princípio da preservação das empresas e o direito à economia de imposto,
in Grandes Questões Atuais do Direito Tributário. Coordenador Valdir de Oliveira Rocha. São Paulo: Dialética,
vol. 10, 2006, p. 338.
69
DERZI, op. cit., 2006, p. 345.
70
DERZI, op. cit., 2006, p. 343.
63
não podendo o mesmo raciocínio ser aplicado às taxas. Admite-se até se pensar,
inclusive, que o princípio do não-confisco seja desnecessário, uma vez que os
problemas colocados por uma lei tributária de caráter pretensamente confiscatório
seriam resolvidos mediante a aplicação do princípio da capacidade contributiva.
O princípio que veda instituir tributo com efeitos confiscatórios tem nítida
relação com a capacidade econômica do contribuinte, mas, ao mesmo
tempo, distingue-se claramente daquele outro, estabelecido no art. 145, §
1º, o qual obriga o legislador a graduar o tributo de acordo com a
capacidade econômica de cada contribuinte. [...] embora assentados sobre
os mesmos fundamentos, os princípios não se confundem.71
71
BALEEIRO, op. cit., p. 573.
72
COSTA, Regina Helena. Princípio da Capacidade Contributiva. 3. ed. São Paulo:Malheiros Editores, 1996, p.
79.
65
73
COÊLHO, op. cit., 1997.
66
Isto porque, como dito acima, as taxas são informadas pelo princípio da
remuneração, ou seja, devem ser calculadas com base no custo da atuação estatal,
de forma a remunerar os serviços públicos ou ressarcir as despesas com atos de
polícia, sendo que seus usuários são individualmente identificados, devendo o
princípio da capacidade contributiva funcionar como orientador da observância da
justiça fiscal, evitando-se, assim, o desrespeito ao mínimo vital do cidadão. Isto é, só
se leva em conta a capacidade contributiva para exonerar os pobres, mas não para
graduar o valor do tributo para os que o podem pagar.
O autor José Marques Domingues de Oliveira (1998, p. 95-96), citando
Valdés Costa, disserta que o princípio da capacidade contributiva aplica-se às taxas
na medida em que essas devem respeitar o mínimo de existência digna do indivíduo:
74
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p.196.
75
OLIVEIRA, José Marcos Domingues de. Direito Tributário: capacidade contributiva: conteúdo e eficácia do
princípio. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 95-96.
76
COSTA, op. cit., p. 58.
67
É errado supor que sendo a taxa um tributo que tem por fato jurígeno uma
atuação do Estado, só por isso, em relação a ela não há que se falar em
capacidade contributiva. Ora, a atuação do Estado é importante para
dimensionar a prestação, nunca para excluir a consideração da capacidade
contributiva de pagar a prestação, atributo do sujeito passivo e não do fato
jurígeno. O que ocorre é simples. Nos impostos, mais que nas taxas e
contribuições de melhoria, está no campo de eleição da capacidade
contributiva. Assim mesmo os impostos “de mercado”, “indiretos”, não se
prestam a realizar o princípio com perfeição. É nos impostos patrimoniais,
com refrações, e nos impostos sobre a renda, principalmente nestes, que a
efetividade do princípio é plena pela adoção das tabelas progressivas e das
deduções pessoais. Nas taxas e contribuições de melhoria, o princípio
realiza-se neste pela incapacidade contributiva, fato que tecnicamente gera
remissões e reduções subjetivas do montante a pagar imputado ao sujeito
passivo sem capacidade econômica real. É o caso, v.g., da isenção da taxa
judiciária para os pobres e o da redução ou mesmo da isenção da
contribuição de melhoria em relação aos miseráveis que, sem querer, foram
beneficiados em suas humílimas residências por obras públicas
extremamente valorizadoras. Obrigá-los a vender suas propriedades para
pagar a contribuição seria impensável e inadmissível, a não ser em regimes
totalitários de direita. Nos impostos que percutem (chamados de “indiretos “
ou de “mercado”) entra em cena o contribuinte de fato, diferente do de jure,
e a capacidade contributiva realiza-se imperfeitamente. É o caso das
alíquotas menos gravosas do IPI e do ICMS. Supõe-se que os de menor
renda (contribuintes de fato) consomem artigos necessários tão-somente a
uma existência sofrida, e, por isso, as alíquotas são reduzidas, ou mesmo
isenções são dadas. Ocorre que tanto compra feijão José da Silva quanto
Ermírio de Moraes, com o rico industrial se beneficiando dos favores para
José. Em compensação, José não consome champanha ou caviar, cujas
alíquotas são altas...77
77
COÊLHO, op. cit., p. 88.
78
ATALIBA, op. cit., p.196.
68
79
COSTA, op. cit., p. 59.
69
80
MENDES, Gilmar Ferreira. O Princípio da Proporcionalidade na Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
novas leituras, in Revista Diálogo jurídico. Ano 1, vol. 1, nº 5, agosto de 2001. Bahia. Disponível em
http://www.direitopublico.com.br/pdf5/DIALOGO-JURIDICO-05-AGOSTO-2001-GILMAR-MENDES.PDF. Acesso
em: 20/01/2007.
81
MENDES, op. cit., 2001, p. 04.
82
PONTES, op. cit., p. 42.
70
83
BRASIL.Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Apelação Cível/Reexame Necessário nº 1.0024.02.859883-7/001
– 3ª CACIV - Des. Relator Lucas Sávio V. Gomes – 08/10/2004.
84
BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Apelação Cível nº 1.0000.00.321495/000 - 5ª CACIV - Des.
Relatora Maria Elza.
71
Gilmar Ferreira Mendes (2001, p. 18) ainda faz a seguinte ressalva sobre
o tema: “Ressalte-se que o princípio da proporcionalidade vem sendo utilizado na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal como instrumento para a solução de
colisão entre os direitos fundamentais.”87
Outro princípio que guarda estreita relação com o que veda o não-
confisco é o princípio da razoabilidade, que também não possui previsão expressa
85
SANTIAGO, Igor Mauler. Construindo o Direito Tributário na Constituição: uma análise da obra do Ministro
Carlos Mário Velloso. Praticabilidade e razoabilidade na quantificação das taxas. A visão do Ministro Carlos
Velloso. Comentários às decisões tomadas na ADIn-Mc n. 1.772-7/MG e no RE n. 232.393-1. São Paulo. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004, p. 289.
86
PONTES, op. cit., p. 57.
87
MENDES, Gilmar Ferreira. O Princípio da Proporcionalidade na Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
novas leituras, in Revista Diálogo jurídico. Ano 1, vol. 1, nº 5, agosto de 2001. Bahia. Disponível em
http://www.direitopublico.com.br/pdf5/DIALOGO-JURIDICO-05-AGOSTO-2001-GILMAR-MENDES.PDF. Acesso
em: 20/01/2007.
72
Insta salientar que a tarefa de se aferir o que seja razoável deve ser feita
no caso concreto, pois só assim se estará ponderando os valores de justiça, razão,
equilíbrio e prudência, o que, de fato, acabará por redundar na descoberta do
resultado mais adequado para a situação em análise, sem que isso represente
avaliar as diferenças individuais e a produção de provas difíceis, uma vez que
88
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 16.ed. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 99.
89
SANTIAGO, Igor Mauler. Construindo o Direito Tributário na Constituição: uma análise da obra do Ministro
Carlos Mário Velloso. Praticabilidade e razoabilidade na quantificação das taxas. A visão do Ministro Carlos
Velloso. Comentários às decisões tomadas na ADIn-Mc n. 1.772-7/MG e no RE n. 232.393-1. São Paulo. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004, p. 289.
73
90
SANTIAGO, op. cit., p. 289.
91
SANTIAGO, op. cit., p. 293.
74
92
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro; SANTIAGO, Igor Mauler; MANEIRA, Eduardo. Constitucionalidade da Lei
Federal nº 10.165/2000, que criou a taxa de controle e fiscalização ambiental. Disponível em: <http:
www.sachacalmon.com.br>. p.11-12 (vai até a 19). Acesso em: 12/09/2007.
75
93
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Atualizada por DERZI, Misabel Abreu
Machado. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 580-581.
94
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição 1988 – Sistema Tributário. 6. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1997, p. 47.
95
COÊLHO, op. cit., p. 46-47.
76
96
CASTILHO, Paulo César de Bária de. Confisco Tributário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p.
101/102.
78
97
TORRES, Ricardo Lobo. Pesquisas Tributárias, nº 6. Direitos Fundamentais do Contribuinte. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000, p. 172.
80
98
HORVATH, op. cit., p. 86.
81
global serão trazidos à tona os seguintes questionamentos: qual tributo deverá ser
anulado? O pertencente à União, ao Estado ou ao Município? E, se o que vale é a
somatória da carga tributária, o que fazer com os contribuintes que não pagam os
demais tributos, mas somente o anulado? Deverá, então ser mantido para eles e
declarado inconstitucional apenas para os demais?
Ives Gandra (1998, p. 127) também reforça esta corrente ao preceituar:
99
MARTINS, op. cit., p. 127.
82
100
MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário Nacional. São Paulo: Atlas, 2003, p. 168.
101
MACHADO, op. cit., p. 175.
83
102
AMARO, op. cit., p. 145.
103
SPAGNOL, op. cit., p. 132.
84
104
MARTINS, op. cit., p. 127.
85
105
AMARO, Luciano. Periodicidade do imposto de renda. Revista de Direito Tributário nº 63. São Paulo:
Malheiros, 1994, p. 25-32.
86
106
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 79-80.
87
107
GRECO, Marco Aurélio. Contribuições: uma figura sui generis. São Paulo: Dialética, 2000, p. 221.
108
GRECO, op. cit., p. 221.
88
109
BARRETO, Aires. Vedação ao efeito de confisco, in Revista de Direito Tributário. São Paulo, v. 64, 1994, p.
102.
89
4.1 Impostos
110
TORRES, Ricardo Lobo. Direitos Fundamentais do Contribuinte. Pesquisas Tributárias – nova série 6.
Coordenador Ives Gandra da Silva Martins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 172-173.
111
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. atualizada por DERZI, Misabel Abreu Machado.Rio
de Janeiro: Forense, 2001, p. 198.
90
112
COÊLHO, op. cit., p. 442.
113
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Editores Malheiros, 2005, p. 137.
114
ATALIBA, op. cit., p. 141.
91
[...]
São impostos pessoais, pelo contrário, aqueles cujo aspecto material da h.i.
leva em consideração certas qualidades, juridicamente qualificadas, dos
possíveis sujeitos passivos. (ATALIBA, 2005, p. 142).115
115
ATALIBA, op. cit., p. 142.
116
LENKE, Gisele. Imposto de Renda – Os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica. São
Paulo: Dialética, 1998, p. 51-52.
92
tributo cobrado, não havendo como repassar referido ônus a outrem. O contribuinte
eleito pela lei será aquele que sofrerá no mercado o preço do encargo.
Contudo, referida classificação não guarda consonância com a realidade
econômica de formação de preços, pois, desse ponto de vista, os tributos em geral
sempre repercutem no preço das mercadorias e dos serviços ofertados no mercado,
pela simples razão da carga tributária compor o custo de seu preço. Caso contrário,
as empresas não suportariam o endividamento, o que acarretaria, fatalmente, a sua
insolvência.
O jurista Igor Mauler Santiago dissertou sobre a problemática da
classificação:
Destarte, podemos afirmar que todo tributo, seja ele direito ou indireto,
repercute no preço das mercadorias e dos serviços, uma vez que o custo do imposto
é sempre considerado no preço da venda.
117
SANTIAGO, Igor Mauler. Repasse do ônus econômico de tributos diretos: a controvérsia sobre o PIS e a
COFINS das companhias telefônicas. Disponível em: <http:www.sachacalmon.com.br>. Acesso em: 02/10/2007.
93
118
FILHO, Marçal Justeu Capacidade Contributiva. Caderno de Pesquisas Tributárias, coord. Ives Gandra da
Silva Martins, co-edição Resenha Tributária e Centro de Extensão Universitária, São Paulo, 1989, vol. 14, p. 390.
119
GOLDSCHMIDT, Fábio Brun. O Princípio do Não-Confisco no Direito Tributário. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002, p. 235.
94
120
DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Proibição de tributos com efeito de confisco. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2007, p.156.
95
O autor ainda disserta que, com base na decisão do STF (ADIn 2.010-
2/DF) que considerou confiscatória a incidência conjunta do imposto de renda de
pessoa física e da contribuição previdenciária majorada, pode-se chegar a
conclusão que a soma da carga tributária incidente sobre a renda de determinado
contribuinte – rendimentos e patrimônio – não poderá ultrapassar o montante de
50% (cinqüenta por cento) de seu valor, sob pena de ter-se tributação com efeito
confiscatório.
121
“O imposto sobre o patrimônio só pode ser acrescentado aos demais impostos sobre a renda, quando a carga
tributária total sobre o rendimento bruto permanecer próxima de uma divisão meio a meio entre o Poder Público
e a utilização privada da renda, observando-se de forma padronizada, receitas, despesas dedutíveis e outros
abatimentos”. (BVerfGE 93, 121).
122
DIFINI, op. cit., p.154.
96
É que os impostos indiretos são feitos pelo legislador para repercutir nos
contribuintes de fato, os verdadeiros possuidores da capacidade econômica
(consumidores de bens, mercadorias e serviços). É o ato de consumir o
visado. É a renda gasta no consumo que move o legislador. Os agentes
econômicos que atuam no circuito da produção-circulação-consumo apenas
adiantam e repassam o ônus financeiro do tributo para frente.124
123
DIFINI, op. cit., p.152.
124
COÊLHO, op. cit., p.474.
97
Outros impostos, tais como o ICMS e o IPI, cujo ônus pode ser transferido
ao consumidor final, dificilmente podem gerar efeito confiscatório, podendo,
sim, levar a um aumento indesejável no preço em questão, o que foge ao
campo da tributação, passando a ser uma questão de mercado.
Logicamente, poderá haver efeito de confisco mesmo com relação a estes
impostos, se estes forem cobrados em alíquotas abusivas e ao mesmo
tempo não puderem integrar o preço.125
Ora, ainda que a tributação possa, a priori, ser repassada, seus efeitos
evidentemente não desaparecem, e vão repercutir justamente no
comerciante ou no industrial contribuintes de direito, reduzindo o consumo e
comprometendo o funcionamento e desenvolvimento da empresa. O
contribuinte de fato, portanto, não deve ser o (único) parâmetro para a
aferição do exagero da carga tributária. A análise deve se ater
prioritariamente no contribuinte de direito. É ele que poderá ter o negócio
arruinado, sua propriedade destruída. É sobre ele que recairá e impactará,
em última análise, o efeito de confisco.126
125
Direitos Fundamentais do Contribuinte. Pesquisas Tributárias – nova série 6. Coordenador Ives Gandra da
Silva Martins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 760.
126
GOLDSCHMIDT, op. cit., p. 245.
98
127
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1972, p. 452-457.
128
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7. ed. ver. e compl. à luz da
Constituição de 1988 até Emenda Constitucional nº 10/1996. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 578.
99
4.2 Taxas
[...]
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal
ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como
fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva
ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição.
Parágrafo único: A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador
idênticos aos que correspondam a imposto, nem ser calculada em função
do capital social das empresas.
129
ATALIBA, op. cit., p. 147.
130
COÊLHO, op. cit., 443.
101
131
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Representação 1077/84, RTJ 112/34, p. 58-59.
102
Cumprido esse requisito, a presunção deve ter-se por válida. Mais do que
isso, deve repelir prova em contrário (presunção iures et de iure), a não ser
para tributos de vocação pessoal, de apuração mais detalhada e orientados
pelo princípio da capacidade contributiva (hipótese das presunções de
transfer princing para efeito de imposto de renda de pessoas jurídicas).
[...]
Assim, ficam atendidos – na medida do humanamente possível – os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.132
[...]
Esses tipos ou conceitos assumem, tecnicamente, o papel de presunções,
cuja legitimidade ou mesmo constitucionalidade é indiscutível.
[...]
Em vez de descer às múltiplas distinções do caso concreto, o administrador
passa a trabalhar com um padrão: o caso médio ou freqüente, desprezando
as diferenças individuais que, em rigor, seriam de considerar do plano de
vista legal.134
132
SANTIAGO, Igor Mauler. Construindo o Direito Tributário na Constituição: uma análise da obra do Ministro
Carlos Mário Velloso. Praticabilidade e razoabilidade na quantificação das taxas. A visão do Ministro Carlos
Velloso. Comentários às decisões tomadas na ADIn-Mc n. 1.772-7/MG e no RE n. 232.393-1 – São Paulo. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004, p. 293.
133
SANTIAGO, op. cit., p. 293.
134
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Atualizada por DERZI, Misabel Abreu
Machado. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 555.
103
135
BARRETO, op. cit., p.105.
104
136
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988 – Sistema Tributário. 6. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1997, p. 47.
105
137
BRASIL. Suprema Corte Brasileira. ADI-MC-QO 2551/MG - MINAS GERAIS. Relator Min. CELSO DE
MELLO – Julgamento: 02/04/2003.
106
4. 3 Contribuições de Melhoria
[...]
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo
Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas
atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que
decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada
e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada
imóvel beneficiado.
138
ATALIBA, Geraldo. Limitações ao poder de tributar. 6. ed. São Paulo: Editores Malheiros, 2005, p.170.
139
CASTILHO, Paulo César de Bária de. Confisco Tributário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 106-
107.
140
BARRETO, op. cit., p. 105.
108
4. 4. Outras Contribuições
141
ATALIBA, op. cit., p. 147.
109
[...]
§ 8º. O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador
artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades
em regime de economia familiar, sem empregados permanentes,
contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota
sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos
benefícios nos termos da lei.
[...]
§ 4º. O financiamento do seguro-desemprego receberá uma contribuição
adicional da empresa cujo índice de rotatividade da força de trabalho
superar o índice médio da rotatividade do setor, na forma estabelecida por
lei.
Após leitura das disposições legais acima transcritas, percebe-se que nas
contribuições especiais,
142
ATALIBA, op. cit. 183.
143
ATALIBA, op. cit., 186.
110
E prossegue dizendo:
144
ATALIBA, 2005, p.182.
145
ATALIBA, 2005, p.185.
111
146
DIFINI, op. cit., p. 217.
147
BECKER, Alfredo Augusto.Teoria Geral do Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Lejus, 1998, p. 385.
112
148
ATALIBA, op. cit., p 195.
149
GRECO, op. cit., p. 143.
113
4. 5 Empréstimos Compulsórios
150
GRECO, op. cit., p. 245.
114
151
COÊLHO, op. cit., p. 484.
152
CASTILHO, op. cit., p.113.
153
GOLDSCHMIDT, op. cit., p. 273.
115
154
DIFINI, op. cit, 219.
116
155
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 60.
117
156
MACHADO, op. cit., p. 59-60.
157
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Sanções Administrativas Tributárias. Coordenador Hugo de Brito
Machado. São Paulo: Dialética, 2004, p. 426.
118
158
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Sanções Administrativas Tributárias. Coordenador Hugo de Brito
Machado. São Paulo: Dialética, 2004, p. 210.
159
COÊLHO, op. cit., p. 432.
160
DIAS, Eduardo Rocha; SIQUEIRA, Natércia Sampaio. Sanções Administrativas Tributárias. Coordenador
Hugo de Brito Machado. São Paulo: Dialética, 2004, p. 130.
119
161
MELO, José Eduardo Soares de. Sanções Administrativas Tributárias. Coordenador Hugo de Brito Machado.
São Paulo: Dialética, 2004, p. 258.
162
MACHADO, Schubert de Farias. Sanções Administrativas Tributárias. Coordenador Hugo de Brito Machado.
São Paulo: Dialética, 2004, p. 465.
163
ICHIHARA, Yoshiaki. Sanções Administrativas Tributárias. Coordenador Hugo de Brito Machado. São Paulo:
Dialética, 2004, p. 487.
164
COÊLHO, op. cit., p. 433.
120
165
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI-MC 1075/DF - Relator: Min. CELSO DE MELLO.
Julgamento: 17/06/1998.
166
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI-MC 551 / RJ - RIO DE JANEIRO
MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator: Min. ILMAR GALVÃO
Julgamento: 20/09/1991.
167
BRASIL. Tribunal DE Justiça de Minas Gerais. AC 1.0525.03.024109-1/001, Relator Desembargador Brandão
Teixeira, DJMG 27.01.2006.
122
Dessa forma, sempre que entre o Estado e o cidadão existir uma relação
tributária, o princípio do não confisco deverá ser observado. O que irá diferenciar a
aplicação do princípio em comento nos tributos e nas multas é o quantum a
caracterizar o efeito confiscatório em cada uma das espécies.
Há, inclusive, decisões do Supremo Tribunal Federal, RE 239964/RS,
indicando que referido Órgão considera como sendo razoável a cobrança do
percentual de 20% (vinte por cento) sobre o valor do imposto devido, no caso o IPI, a
título de multa moratória, por não caracterização de ofensa ao princípio da
capacidade contributiva e do não confisco.
Neste julgamento, a então Relatora Ministra Ellen Gracie, salientou o fato
de que a multa moratória fixada pela Lei 8.383/91, em seu art. 59, cumpriu com seu
papel de desestimular a sonegação fiscal, sem qualquer ofensa a dispositivos
constitucionais.
O jurista Dalton Luiz Dallazen, entretanto, adverte que a função legislativa
não deve ser exercida pelo Poder Judiciário, cabendo a este último somente afastar
a aplicação da norma tida como inconstitucional, não podendo arbitrar e fixar dado
valor, ainda que este se apresente como razoável e proporcional.
O mesmo posicionamento é compartilhado por Fábio Brun Goldschimdt
(2003, p. 277):
168
GOLDSCHMIDT, Fábio Brun. O Princípio do Não-Confisco no Direito Tributário. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002, p. 277.
123
Pessoalmente, somos partidários de que “uma lei sobre como fazer leis” (lex
legum) estatua o teto das penalidades, contingenciamento que seria
obrigatoriamente observado pelo legislador ordinário das três ordens de
governo da Federação Brasileira. Não obstante, diante dos exageros do
legislador, compete ao Judiciário, baseado no princípio da não
confiscatoriedade da multa fiscal, impor limites às penalidades desmedidas.
(COÊLHO, 2001, p. 68).170
169
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 81.550/MG - Relator Min. Xavier de Albuquerque – Segunda Turma –
jul. 20/05/1975.
170
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro.Teoria e prática das multas tributárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2001, p. 68.
124
171
DALLA, Ricardo Corrêa. Multas Tributárias: natureza jurídica, sistematização e princípios aplicáveis.Belo
Horizonte: Del Rey, 2002, p. 75.
172
Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária
independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.
173
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RE n. 61.160/SP, rel. Min. Evandro Lins e Silva, 19.3.1968.
174
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 184576 / SP – T2 Segunda Turma – Ministro Franciulli Neto - DJ
31.03.2003 p. 183.
125
apresenta-se mais justa que a prevista em lei. Assim, deve o julgador abrandar os
excessos cometidos pela legislação, sempre de forma fundamentada, melhor
adequando a lei aos seus preceitos e objetivos.
126
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
______. Lei Complementar na Constituição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971.
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. atualizada por DERZI,
Misabel Abreu Machado.Rio de Janeiro: Forense, 2001.
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. 3. ed. São Paulo:
Lejus, 1998.
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10. ed. Brasília: Editora UnB,
1999.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 16. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2005.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002.
CASTILHO, Paulo Cesar de Bária de. Confisco Tributário. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2002.
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2006.
______. Teoria e prática das multas tributárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
DENARI, Zelmo. Curso de Direito Tributário. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Proibição de tributos com efeito de confisco. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007.
______. Uma questão de princípios. Tradução Luis Carlos Borges. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
GRECO, Marco Aurélio. Contribuições: uma figura “sui generis”. São Paulo:
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HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 14. ed. rev. e ampl. São Paulo:
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JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 1º Volume – Parte Geral. São Paulo: Saraiva,
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______. Curso de Direito Tributário. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Direito Tributário e Reformado Sistema. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2003.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 16. ed. São
Paulo: Malheiros, 2003.
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II. 3. ed. Lisboa: Coimbra
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SILVA, De Plácito e. Vocabulário Jurídico. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 18. ed. revista e
atualizada nos termos da Reforma Constitucional (até a emenda constitucional nº 27,
de 21.3.2000). São Paulo: Malheiros Editores: 2000.
136
SPAGNOL, Werther Botelho. Curso de Direito Tributário. Belo Horizonte: Del Rey,
2004.