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Professor Victor Sales Pinheiro

Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura


Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 1. A concepção católica de Igreja e História

1. Cursos livres do Projeto Dialético (há 6 anos, desde 2013)


1.1. Educação liberal
1.2. Filosofia Clássica grega: Platão (4 anos), Aristóteles (2 anos), Gadamer (1 ano)
1.3. Filosofia, Teologia e Cultura Cristã, Agostinho (1,5 ano), Dante (1,5 ano), Aquino (2 anos)
1.3.1. Formação humanista Filosofia, Literatura História
1.3.2. Abstração filosófica e concretude histórica e literária (experiência)
1.4. Formação: Mestrado (Platão), Doutorado (Nietzsche e Heidegger)
1.5. Professor: Filosofia (São Bento) e Direito (Unama, Cesupa, UFPA)
1.5.1. Faculdade São Bento do RJ (2010): Filosofia da Religião e História do Cristianismo
Primitivo (identidade católica)
1.6. Perspectiva e identidade intelectual

2. Igreja (Eclesiologia)
2.1. Magistério
2.1.1. Constituição Lumen Gentium do Concílio Vaticano II (1962-1965)
2.1.1.1. O mistério da Igreja (cap. I)
2.1.1.2. A índole escatológica (cap. VII)
2.1.2. Catecismo (1997, Papa São João Paulo II; Papa Emérito Bento XVI)
2.2. Credo Apostólico (sec. I): Espírito Santo, Igreja Católica, Comunhão dos Santos
2.2.1. Igreja militante (Terra), padecente (Purgatório), triunfante (Céu)
2.2.2. União temporal-escatológica
2.2.3. Família dos filhos de Deus: “Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por
mãe” (São Cipriano de Cartago, s. III)
2.3. Mistério da Igreja, esposa, uma só carne com Cristo: realidade visível-humana (histórica) e
espiritual-divina (transcende)
2.4. Fé católica: Tradição (histórica), Escritura e Magistério
2.4.1. Escritura e Magistério têm uma dimensão histórica, deram-se no tempo

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2.4.2. Explicitação da Revelação no tempo (Newman: desenvolvimento histórico da
Doutrina; analogia da árvore)
2.4.3. Cristianismo não é uma doutrina a-histórica, abstrata, independente da história, mas o
encontro histórico-eclesial-sacramental com a Pessoa de Cristo no tempo
2.5. Origem: Pentecostes - comunidade dos apóstolos de Cristo (Atos dos Apóstolos)
2.6. Corpo Místico de Cristo
2.6.1. “Paulo, por que me persegues?” (At. 9: 4)
2.6.2. “Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim
me rejeita, rejeita aquele que me enviou.” (Lc. 10: 16)

3. História (Teologia e Filosofia da História)


3.1. Conceitos fundamentais
3.1.1. Criação do tempo (história) e do espaço
3.1.1.1. Deus transcende a história
3.1.2. História (Economia) da salvação e Liturgia
3.1.3. Tradição: contato intermediado com Cristo (Rops, I, 496)
3.1.4. Providência: intervenção e participação (misteriosa) de Deus, Senhor do tempo e dos
acontecimentos, na história
3.1.5. Apocalipse: consumação do tempo histórico (Parusia: segunda vinda de Cristo)
3.2. Interseção de história e eternidade (C. Dawson, ‘Cristianismo e contradição na história’, in
Dinâmicas da História do Mundo, p. 374, 377-381)
3.2.1. Crises históricas
3.2.2. História como renovação da Cruz de Cristo
3.2.3. “Escândalo”
3.3. Disciplina teológica
3.3.1. Sincronia: tempo isolado, abstraído do antes e depois
3.3.2. Diacronia: evolução, mudança e continuidade
3.4. Autores
3.4.1. Eusébio de Cesaréia (III): primeiro historiador da Igreja (Introdução)
3.4.2. Agostinho (V): primeiro teólogo e filósofo da história (Dawson)

4. Eixos centrais
4.1.1. Espiritualidade dos santos (Füllop-Miller)
4.1.2. Teologia dos Doutores (Concílios, Papas e Magistério)
4.1.2.1. Ortodoxia (Chesterton) e heresias (Belloc)
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4.1.3. Cultura literária e artística em geral (arquitetura, pintura, música)
4.1.3.1. Dimensão pedagógica e civilizacional
5. Importância desse estudo
5.1. História mestra da vida (Cícero)
5.1.1. Modelos miméticos: santos
5.1.2. Tradição viva (Carvajal, Falar com Deus)
5.2. Contextualizar a nossa época histórica, discernindo o permanente e o passageiro
5.2.1. Todas épocas são equidistantes da eternidade
5.2.2. Ratzinger: hermenêutica da continuidade; desafio do historicismo, ditadura do
relativismo
5.2.3. Movimento teológico do Ressourcement: renovação dos Padres da Igreja e releitura de
Santo Tomás de Aquino a partir deles (von Balthasar, J. Ratzinger) – Coleção Patrística
da Ed. Paulus
5.3. Amar a Igreja (São Josemaria Escrivá); Sentir com a Igreja (Royo Marin)
5.4. Apologética (Woods Jr., Moczar)
5.4.1. Erro histórico da Reforma (S. Hahn)

6. Guia: Rops
6.1. Perspectiva católica: fundamento eclesiológico
6.1.1. Unidade da Igreja no tempo
6.1.2. Imagens evangélicas
6.1.3. Providência
6.1.4. Tradição viva
6.1.5. Piedade (oração)
6.2. Erudição histórica
6.2.1. Igreja como fundamento da Civilização Ocidental, hoje em crise
6.2.2. Essencial, não se perde em detalhes
6.3. Reflexivo, busca a essência, lamenta os erros (I, p. 427)
6.4. Riqueza literária: “livro vivo” (Charlotte Mason)
6.4.1. Dimensão edificante (história mestra da vida cristã)
6.4.2. Paixão comovente pelo assunto
6.5. Consciência cultural (mentalidade, instituições e artes)
6.6. Alcance sociológico, psicológico e moral
6.7. Analogias com outras épocas (I, p. 579, sec. IV e XX)
6.8. Atenção às biografias dos grandes homens (modelos)
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7. Panorama da História da Igreja (Módulos) (Moczar, D. Estêvão Bittencourt, Rops)
7.1. Cristianismo primitivo (I-III)
7.1.1. Apóstolos: São Paulo
7.1.2. Mártires
7.1.3. Padres Apostólicos, Apologetas
7.2. Antiguidade tardia: queda do império romano (IV-VIII)
7.2.1. Conversão de Constantino, Edito de Milão (313)
7.2.2. Império Romano do Oriente (Bizantino)
7.2.3. Concílios de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia
7.2.4. Santo Agostinho
7.2.5. Conversão dos Bárbaros (Batismo de Clóvis, 496)
7.2.6. Monasticismo: Santo Antão, São Basílio e S. Bento
7.3. Renascimento Carolíngeo (IX-X)
7.3.1. Coroação de Carlos Magno (800)
7.4. Fundação de Cluny e Reforma Gregoriana (XI)
7.4.1. São Bernando de Claraval
7.5. Cristandade: Catedrais e Cruzadas (XI-XIII)
7.5.1. Ordens mendicantes São Francisco e São Domingos
7.5.2. Universidades, Escolástica: Santo Tomás de Aquino
7.6. Crise com o Poder Temporal (XIV)
7.6.1. Cisma do Ocidente
7.6.2. Cativeiro de Avinhão (Santa Catarina de Sena)
7.6.3. Conciliarismo e antipapas
7.7. Renascimento, Reforma Protestante e Católica (XV-XVI)
7.7.1. Grandes navegações
7.7.2. Santo Inácio, Santa Tereza e São João da Cruz
7.8. Revolução Científica e Iluminismo (XVII-XVIII)
7.8.1. São Vicente de Paulo
7.9. Revoluções burguesas (XIX)
7.9.1. Antimodernismo, CV I: Pio IX, Leão XIII
7.9.2. Revolução Industrial
7.9.3. Santa Teresinha
7.10. Atualidade, CV II (XX-XXI): Pio X, JP II, Bento XVI
7.10.1. Guerras mundiais e ideologias comunista e liberal
7.10.2. São Josemaria Escrivá
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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aulas 2 e 3. A salvação vem dos judeus
(Rops, vol. I, cap. 1)

0. Concepção católica de história (C. Dawson, ‘Cristianismo e contradição na história’, in


Dinâmicas da História do Mundo, p. 374, 377-381)
0.1.1. A racionalidade e a providência na história: “A história se caracteriza como um
processo racional ou é ela algo essencialmente incalculável e irracional?...” (373)
0.1.2. Religião histórica: “De forma muito mais completa que qualquer outra religião,
o cristianismo é uma religião histórica...” (377)
0.1.3. História como renovação da Cruz de Cristo: Podemos ver toda essa realidade
manifestada de forma claríssima e perfeita uma [única vez, ou seja, na vida de
Jesus...” (377-379)
0.1.4. “Escândalo”
0.1.4.1. “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o
conheceu; Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. (Jo 1:10-11)
0.1.5. Profecia de Simeão à Virgem Maria (Lc. 2: 33-35): “Este menino vai ser
causa tanto de queda quanto de reerguimento para muitos em Israel. Ele será
um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos
corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.
0.1.6. Jesus (Lc. 17: 1): “É inevitável que fatos ocorram que levem o povo a
tropeçar na fé, mas ai da pessoa por meio de quem vêm os escândalos!

1. Os “irmãos” de Jerusalém
1.1. Reinado de Tibério (ano 36-37): velho misantropo septuagenário, retirado na ilha de Capri
1.2. Prosperidade política e econômica
1.3. Império Romano: “pax romana”, ordem e estabilidade

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1.4. Comunidade judaica aceitava a submissão romana e praticava a Torah, guardavam o
sábado e as interdições rituais, sob a vigilante supervisão do Sinédrio, tribunal religioso,
administrativo e criminal dos sacerdotes, anciãos e escribas
1.5. Pequeno grupo de “cristãos”, não distintos dos demais, dotados de uma fé viva e exemplar,
frequentavam o Templo (At. 5: 12 e 3: 22; Jo. 10: 23)
1.6. Gente do povo, não pertencente às classes dirigentes, muitos de origem galileia (cidade de
Nazaré) e mesmo romanos e árabes – curiosa amálgama
1.7. Chamavam-se “discípulos”, depois “irmãos”
1.8. Não formavam uma “seita” separada, mas se distinguiam-se dos fariseus (austeros
legalistas, preocupados com o exterior), dos essênios (ascetas do deserto, que renunciavam
alimentos, mulheres e carne)
1.9. Não formavam uma sinagoga diferente: “Não eram gente que procurasse isolar-se ou
recluir-se, pelo contrário, mostravam-se acessíveis a todos, e os seus líderes convidavam
incessantemente as almas piedosas a unir-se ao seu pequeno grupo.” (p. 11)
1.10. Assemelhavam-se aos “pobres de Israel” (anawin)

2. O grito do mensageiro da alegria


2.1. Messianismo judaico: tradição viva
2.2. Centro da história da salvação, da antiga promessa feita aos Patriarca Abraão, a Jacó e a
Moisés, David: “dogma nacional da eleição divina” (p. 12)
2.3. Profetas: Isaías (cap. 11), Ezequiel e Daniel
2.4. Depois do Êxodo, volta do exílio egípcio, Deus enviaria o seu ungido (Messias, Cristo),
personagem sobrenatural que restituiria Israel a si mesmo e levaria a cabo a obra de
Javé
2.5. Esperanças temporais caducaram: descendentes dos Macabeus (exército rebelde judeu
que liderou uma revolução de independência de Israel entre 167 e 37 a.C.) fracassaram,
e a os Romanos repartiam entre si a Terra Prometida.
2.6. Viva esperança da chegada do Messias: João Batista, André a Simão Pedro, seu irmão
e samaritana (p. 13)
2.7. Diferentes interpretações do Messias
2.7.1. Nacionalista fanático: Judas Macabeu, chefe militar revolucionário
2.7.2. Fariseu: Mestre virtuoso, encarnação viva da Lei
2.7.3. Povo: figura sobrenatural
2.8. Muitos aventureiros se arrogavam o título, sendo logo dispersados depois

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2.9. Gênero literário muito difundido: Apocalipse (Daniel e João): “A esperança messiânica
mais concreta e temporal servia de base a doutrinas escatológicas que pretendiam
revelar os últimos fins do homem e o sentido último dos dramas cósmicos.” (p. 13)
2.9.1. Livros excluídos do Cânone do Antigo Testamento: Enoch, Jubileus,
Testamento dos XII Patriarcas, Ascensão de Moisés, Salmos de Salomão e
Apocalipse de Esdras
2.9.2. Revelação fulminante, súbita comoção, sinais atrozes, alegria e pavor
2.9.3. “A madeira sangrará, as pedras falarão e em muitos lugares do mundo se abrirá
o abismo.” (p. 14)
2.9.4. “Fazei joar em Sião a trombeta das festas! Gritai em Jerusalém o grito do
mensageiro da alegria! ...” (p. 14)
2.10. Pedro, chefe dos “irmãos”, alimentados pela esperança messiânica: "“Israelitas,
ouvi estas palavras: Jesus de Nazaré, homem de quem Deus tem dado testemunho
diante de vós com milagres, prodígios e sinais que Deus por ele realizou no meio de
vós como vós mesmos o sabeis, depois de ter sido entregue, segundo determinado
desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios. (...)
A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas. (...) Que toda a
casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus, que vós
crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo.” (At. 2: 22-23; 32; 36)

3. A fé em Jesus e os penhores espirituais


3.1. Autoproclamação messiânica de Jesus Cristo: "O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe:
“És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?”. Jesus respondeu: “Eu o sou. E vereis o Filho
do Homem sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu”. O sumo
sacerdote rasgou então as suas vestes. “Para que desejamos ainda testemunhas?!” –
exclamou ele – “Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece?” E unanimemente o julgaram
merecedor da morte." (Mc. 14: 61-64)
3.1.1. Condenação por blasfêmia
3.1.2. Convite à conversão
3.1.3. Mistério da atração de Cristo: mártires, monges, missionários, “médicos”
3.1.4. Fraqueza e fidelidade
3.2. Três garantias espirituais
3.2.1. Morte sacrificial – Eucarista, Pão da Vida
3.2.2. Ressurreição e Ascensão

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3.2.3. Pentecostes – Espírito Santo - Igreja: “A partir desse momento, estes homens já
não formavam uma simples comunidade fraterna, mas uma entidade ao mesmo
tempo humana e sobrenatural de almas escolhidas, complemente renovadas e
prontas para assumir todos os riscos em defesa da fé” (p. 19)
3.2.3.1. Declaração pentecostal, apologética de Pedro como início da história da
Igreja cristã

4. Vida comunitária
4.1. Atos do Apóstolos (ano 60-64): obra sem par, não se trata de obra para satisfazer a
curiosidade histórica, mas exaltar a fé: “Em que outro texto poderemos encontrar uma
imagem mais doce e mais entusiasmada de um cristianismo quase isento das servidões do
mundo, apesar das misérias inerentes à nossa natureza, e que procura estabelecer sobre a
terra o reino de Deus?” (p. 20)
4.2. Quantidade aproximada: cerca de 5 mil nos anos de 35-37, franca minoria
4.3. Organização “institucional, ordem individual e social: sucesso do cristianismo no plano
temporal”, “princípio de comando, método de ação, em estreita relação com a doutrina:
“Tudo nos prova que Jesus, Deus feito homem, sabia perfeitamente que, para lhe
sobreviver, a sua obra teria necessidade de instituições humanas” (p. 21)
4.4. Apóstolos, testemunhas, autoridade moral
4.4.1. Liderança de São Pedro (primeiro Papa)
4.4.2. Substituição de Judas por Matias, testemunha da ressurreição
4.4.3. Autoridade de Tiago em Jerusalém
4.5. Colégio de 70 ou 72 Presbíteros (futuros Sacerdotes)
4.6. Ritos
4.6.1. Batismo: iniciação, purificação moral (João Batista)
4.6.2. Imposição das mãos: consagração, infusão espiritual (Crisma)
4.6.3. Comunhão Eucarística: unidade espiritual com Deus e com os irmãos
4.6.3.1. Permaneciam fiéis “na doutrina dos Apóstolos, nas reuniões em comum, na
fração do pão e nas orações” (At. 2: 42)
4.7. Vida espiritual: viver em Cristo, por Ele e para Ele
4.7.1. Expectativa messiânica-apocalíptica: vigilância da Parusia (2ª vinda de Cristo)
4.8. Ética da caridade e fraternidade: alegria e simplicidade; doçura e humildade; “tudo em
comum” (At. 4: 32-35)
4.9. Lembrança do Mestre: tradição oral

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4.10. Outras fontes relevantes: Didaqué – Catecismo dos primeiros cristãos (Ed. Vozes),
Padres Apostólicos (Ed. Paulus) e Os primeiros cristãos (Ed. Quadrante)

5. “Não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos”


5.1. Tensão com os judeus: maior fervor, já que Jesus não veio abolir a Lei ou os Profetas, mas
consumá-los, não passará nem um jota, nem um til da Lei (Mt 5: 17-18)
5.2. Exemplos formais
5.2.1. Sábado e Dia do Senhor (Domingo; 1 Cor 26, Carta de Barnabé)
5.2.2. Jejuns na sexta (Paixão), e não na quinta
5.2.3. Distinção apenas no sec. II: Cartas de Santo Inácio de Antioquia e Didaqué
5.3. Proselitismo “contra” Javé e a Lei, as autoridades constituídas dos Doutores da Lei, do
Sinédrio que condenou Cristo
5.4. Conflito fatal (Atos 3 e 4): prisão dos Apóstolos que fazem milagres “em nome de Jesus”
no Templo
5.4.1. Reação de Pedro (Parrusia) ao Sumo Sacerdote Anás (e Caifás): “A pedra que
rejeitastes tornou-se a pedra angular. Não há salvação senão em Jesus, e abaixo do céu
nenhum outro nome foi dado aos homnes, pelo qual eles se posam salvar!”
5.4.2. Reação à proibição de falar no nome de Jesus: “Não podemos deixar de falar do que
vimos e ouvimos. Mais vale obedecer a Deus do que aos homens.” (At. 4: 20)
5.4.2.1. Sentido revolucionário: o Sinédrio não representa mais a Deus, mas sim os
Apóstolos que testemunharam e foram enviados por Cristo
5.4.3. Perseguição dos judeus: apóstolos se sentem felizes por terem sido dignos de
padecer ultrajes pelo nome de Jesus (At., 5: 41)
5.4.3.1. Sabedoria de Gamaliel: não se pode interromper a obra de Deus

6. A palavra semeada fora de Jerusalém


6.1. Expansão imediata pela diáspora judaica: judeus inseridos na cultura local, mas
observando a Lei que os unia ao povo eleito
6.2. Relações constantes com as comunidades dispersas pela Palestina:
6.2.1. Jerusalém: capital religiosa com o Templo e o Sinédrio, recebendo esmolas de todas
as outras cidades
6.2.2. De todos os lados chegavam à Terra Santa, “partos, medos, elamitas, os que habitam
na Mesopotâmia, a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as partes
da Líbia para as bandas de Cirene” (At. 2: 9)

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7. Helenistas e judaizantes
7.1. Duas correntes espirituais em Isarel
7.1.1. Particularismo exclusivista: resistência às contaminações pagãs, isolar a
comunidade do povo eleito (Jerusalém e Palestina em geral)
7.1.2. Universalismo inclusivista: abertura a todas as nações, enriquecimento espiritual e
cultural, apostolado para conversão dos gentios (diáspora: Alexandria, Septuangita-
Bíblia grega, Escola dos Exegetas, Filón de Alexandria, filósofo platônico do sec. I,
precursor dos Padres da Igreja
7.1.2.1. Jesus: “Ide e intruí todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo, e ensinai-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt. 28:
19-20)
7.1.2.2. Jesus à Samaritana: “A salvação vem dos judeus” (Jo 4: 22)
7.1.2.3. Vitória dos helenistas
7.2. Dificuldade da Circuncisão

8. Os sete diáconos e o martírio de Santo Estevão


8.1. Incidente prático da distribuição para as viúvas
8.1.1. Helenistas seriam cristãos de segunda categoria?
8.2. Criação de cargos de “magistrados especiais” de funcionários de fora da Palestina,
subchefes: 7 diáconos, representantes dos helenistas: número simbólico da conversão dos
gentios, (7 pães e 7 cestos; Mc. 8: 1-9)
8.2.1. Administração (organização: ação e doutrina, p. 20)
8.2.2. Pregação: “E a palavra de Deus frutificava, e multiplicava-se extraordinariamente o
número dos discípulos de Jerusalém” (At 6: 7)
8.2.3. Consagração pela imposição das mãos do Apóstolos (ingresso na hierarquia do
Clero, primeiro nível do Sacramento da Ordem: Diácono, Presbítero, Bispo)
8.3. Santo Estêvão (p. 37)
8.3.1. Espírito vigoroso: “alma de fogo, transbordante de audácia”
8.3.2. Protomártir: primeiro, precursor dos mártires, testemunho de sangue
8.3.3. Helenista de Alexandria
8.3.4. Procurador romano ausente, o Sinédrio o condena, ilegalmente, à morte
8.3.5. Longo e belo discurso apologético (At 7: 51-53)
8.3.6. Visão mística: pedido de perdão pelos pecados dos que o condenam
8.3.7. Presença de Saulo de Tarso, que guarda as roupas dos verdugos

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8.3.8. Profecia de Cristo acerca da perseguição: “Vede, eis que vos envio profetas, sábios
e doutores. Deles matareis e crucificareis uns e açoitareis outros em vossas sinagogas.
Pesegui-los-eis de cidade em cidade, para que caia sobre vós todo o sangue inocente
derramado sobre a terra... Em verdade vos digo: tudo isso virá sobre esta geração” (Mt
23: 34-36)

9. O trabalho de São Pedro e do diácono Filipe


9.1. Martírio de Estâvão espalhou os apóstolos
9.1.1. Jesus ressuscitado: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, na
Samaria, e até os confins da terra” (At 1: 8)
9.1.2. O que deveria ser a destruição da propaganda cristão acabou por favorecê-la
9.1.2.1. Providência: Deus não permite um mal se dele não puder extrair um bem
maior (omina in bonum). Aparentes fracassos são vitórias, cujo saldo positivo
nem sempre podemos aquilatar (apenas no final dos tempos)
9.1.3. 1ª fase: apenas as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10: 5)
9.1.4. 2ª fase: todos os povos, energia da expectativa messiânica, audácia infatigável, sem
dinheiro ou provisões, apenas uma túnica, sandálias e bastão (Mt 10: 23)
9.2. Diácono Filipe: plenamente disponível à ação do Espírito, propagandista admirável
9.2.1. Aos Samaritanos, odiados pelos judeus (At 8: 4-25); profecia de Cristo(Jo 4: 21-23)
9.2.2. Viagem dos Apóstolos para inspeção e confirmação do trabalho missionário: só eles
tinham o poder de infundir o Espírito Santo pela imposição de mãos.
9.2.3. Saron, estada de gaza, atendendo um anjo do Senhor (At 8: 26): apostolado com um
eunuco etíope
9.2.4. Cesaréia: dois milagres
9.2.4.1. Ressurreição de uma mulher em Jope
9.2.4.2. Cura de um paralítico em Lídia
9.3. Visão de São Pedro (At 10-11)
9.3.1. Em Cesaréia, o centurião (soldado) Cornélio, romano prosélito de Israel, recebu a
ordem do anjo do Senhor de buscar Simão Pedro em Jope
9.3.2. Pedro vê uma grande toalha, no céu aberto, com todos os tipos de iguarias para
serem provadas, ainda que houvessem carnes impuras que não tinham sido legalmente
tributadas e purificadas. Mesmo resistindo, como judeu fiel, Pedro obedece à ordem
de suspender os preceitos sobre as purificações legais.
9.3.3. Grande agitação: “Entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles” (At 11: 3)
9.3.3.1. Espírito Santo ordena em divergência com a Lei da Antiga Aliança?

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9.4. Mesmo São Pedro recuando em algumas ocasiões, a opção universalista-helenizante será
confirmada por São Paulo

10. Herodes Agripa, perseguidor


10.1. Rei de Israel em 41
10.1.1. Educado na corte de Tibério, onde sua vida de libertinagem, escândalos e dívidas
surpreendeu um ambiente que não se escandalizava com facilidade. Foi preso por
ordem do velho Imperador Tibério, misantropo, no ano 37, passando alguns meses na
prisão
10.1.2. Sendo Imperador o seu companheiro de orgias, Calígula, recebeu o título de rei e as
duas tetrarquias da Paletinas do Norte
10.1.3. Em 41, o Imperador Cláudio acrescenta ainda a Judéia e a Samaria
10.2. A fim de conquistar o povo, buscou efetivar a Lei dos Judeus
10.3. Primeira perseguição sistemática aos cristãos, “hereges” dissidentes dos judeus
10.3.1. Morte de Tiago, irmão de João (At. 12: 1-2)
10.3.2. Relato de Eusébio, segundo Clemente de Alexandria, de que S. Tiago converteu o
denunciante, desejando-lhe a paz (p. 45)
10.4. Prisão de Pedro, que é libertado por um anjo (At 12)
10.5. Reconhecimento da autoridade de S. Tiago
10.6. Morte de Herodes, ferido por um anjo
10.7. Mais uma vez, a perseguição gerou a dispersão e a multiplicação do cristianismo,
sobretudo para Antioquia

11. Antioquia
11.1. Cidade grega universalista, nova capital da fé, substituindo Jerusalém, cuja queda
em 70 foi prevista por Cristo
11.2. Capital da província romana da Síria: uma das principais cidades do Império, a
terceira ou quarta em importância
11.3. Riquíssima, cosmopolita, medianamente dissoluta, lugar de encontro, mistura e
sincretismo
11.4. Colônia judaica antiga e numerosa
11.5. “Aqueles que foram dispersados pela perseguição que houve no tempo de Estêvão,
chegaram até à Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando a palavra somente aos judeus.
Alguns deles, porém, que eram de Chipre e Cirene, entrando em Antioquia, dirigiram-se
também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor

8
estava com eles e foi grande o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor”
(At 11: 19-21)
11.6. Em Antioquia, resolução do problema fundamental entre particularismo judaico e
universalismo cristão (São Paulo aos Gálatas revela que judeus-cristãos e helenistas-
cristãos comiam juntos)
11.7. Comunidade (igreja) de Jerusalém envia um inspetor, Barnabé, que aprova o método
de integração de Antioquia
11.8. Comunidade já próspera doze ou quinze anos depois da morte de Cristo (ano 42-45)
11.9. Local em que se usa, pela primeira vez, o nome de cristãos
11.10. Festa da cátedra de São Pedro em Antioquia: 22 de fevereiro – antiga tradição
11.11. Jerusalém, Antioquia e Roma: três etapas do desenvolvimento do cristianismo
primitivo
11.12. Antioquia se torna o novo centro da Igreja universal: quando a fome se alastrar pela
Palestina, os cristãos da Síria organizam socorros para os seus irmãos
11.12.1. Importância de S. Inácio, Bispo de Antioquia (São Pedro)

12. O fim de Jerusalém


12.1. A partir dos anos 50, fenece a animação dos primeiros tempos
12.2. Orgulho judaico dos zelotes, fariseus ferrenhos
12.2.1. Sicários: seita revolucionária e violenta, vitimando pegãos, samaritanos e judeus
aristocratas, julgados cúmplices de Roma
12.2.2. Messianismo às avessas: judeu dominaria o mundo
12.3. Explosão do ódio anticristão
12.3.1. Em 62, durante a vacância da autoridade romana, Anás, filho daquele sob cujo
pontificado Jesus fora crucificado, tentou acabar com os crisãos
12.3.2. Prendeu e executou, ilegalmente, S. Tiago, líder da comunidade de Jerusalém
12.4. Revoltas dos judeus, fanatizados pelos zelotes e exasperados pela brutalidade e
cupidez dos procuradores romanos, Albino (62-64) e Géssio Floro (64-66)
12.4.1. A fortaleza e o palácio foram incendiados e seus defensores, massacrados
12.4.2. Renovação ilusória da glória dos Macabeus: moedas inscritas “1º ano da liberdade”
12.4.3. Imperador Nero mandou o general Vespasiano para devastar a Galiléia, com 60 mil
homens, que, mesmo com algumas derrotas à resistência judaica, arruinou Jerusalém.
12.4.3.1. Desapareceram o Sinédrio e o Sumo Sacerdócio, mas Roma continuo
exigindo o pagamento do imposto ritual que todos os judeus do mundo deviam
recolher para sustentação do Templo, transferindo-o ao tesouro de Júpiter (Zeus)

9
12.4.4. Cristãos teriam sido advertidos por uma profecia de Simeão, um dos filhos de
Cléofas (Eusébio)
12.5. Aumento do antagonismo judaico contra os cristãos, “apóstatas e traidores”
12.5.1. “Pereçam num instante o nazareno e o minim (cristãos)” (oração judaica da época)
12.5.2. Imperador Adriano II (117-138) reconstrói Jerusalém como cidade pagã
12.5.2.1. Revolta judaica contra Roma e contra os cristãos (segundo Justino)
12.5.3. Rivalidade mimética: antissemitismo e anticristianismo
12.5.3.1. S. Inácio de Antioquia: “Rejeitai o mau fermento, o fermento velho e azedo”
12.5.3.2. Carta de Barnabé: os únicos herdeiros da missão de Israel são os fiéis da
nova Lei, os judeus “perderam o testamento que Moisés havia feito a seu favor”
12.5.3.3. Esquecendo os ensinamentos de amor e perdão de Cristo, os Cristãos
retribuirão na mesma moeda e com juros, alijando e prosseguindo os judeus
(Imperador Teodósio, no final do sec. IV, proscreve cultos pagãos e isola os
judeus)
12.6. Distanciadas da Igreja (de Roma), a comunidade de Jerusalém imerge em heresias
(ebionitas, mandeus, aleixistas – posteriormente, gnosticismo e maniqueísmo)

13. A salvação vem dos judeus


13.1. Lógica providencial: afastar-se de Jerusalém e da Lei Judaica
13.2. Cristianismo das catacumbas (secs. I-III) ainda está profundamente ligado ao
judaísmo
13.3. Evangelhos referem-se aos judeus
13.4. Antigo Testamento
13.5. Liturgia e oração
13.6. Catacumbas: Adão e Eva, Noé, Abraão, Jonas, Daniel
13.7. Liturgia do Sábado Santo roga ao Todo-Poderoso “que todos os povos do mundo se
tornem filhos de Abraão e participem da dignidade do povo de Israel”
13.8. Para cumprir totalmente a Lei, era indispensável ultrapassar seus limites
13.9. Síntese criadora do passado e futuro: São Paulo

10
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aulas 5 e 6. Um arauto do Espírito: São Paulo
(Rops, vol. I, cap. 2)

1. A estrada de Damasco
1.1. Personalidade extraordinária, admirável: confidência da entrega total
1.2. Depois de Jesus, personagem mais vivo e completo do NT
1.2.1. Inventor do “Cristianismo” (paulinismo): transformação de Jesus em Deus (Item
10, abaixo)
1.2.2. Primeiro “teólogo” e “apologeta”, capaz de argumentar sobre a doutrina da fé
1.2.3. Fundador (ação), pregador, escritor (oralidade), “poeta”, místico
1.2.3.1. Heroísmo, perseverança, inteligência
1.2.3.2. Obra-prima literária
1.2.4. Lugar providencial na história da Igreja
1.2.5. Bibliografia infinita; (re)interpretação constante: a história da Teologia é a
história da recepção da obra paulina (Agostinho, Aquino; Lutero, Barth)
1.2.6. Von Balthasar, O ofício de Pedro e a estrutura da Igreja (G. Weigel, Cartas a
um jovem católico, ed. Quadrante), os quatro arquétipos fundamentais da Igreja
1.2.6.1. São Pedro: autoridade
1.2.6.2. São Paulo: evangelização
1.2.6.3. São João: mística
1.2.6.4. Santa Maria: discipulado
1.3. Perseguidor implacável: fanatismo violento de quem pensa estar na posse da verdade
1.4. Vocação mística: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At. 9)
1.4.1. Caravaggio (1571-1610, Conversão de São Paulo, óleo sobre tela, 1604, Igreja
de Santa Maria del Popolo, Roma)
1.4.2. “Saulo era um desses homens que não existem senão pela alma” (57) – “Em
tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos” (2 Cor 4:9)

1
1.4.3. “Espinho na carne”: doença incurável que o acompanhou para sempre
(hipóteses: histeria, epilepsia, demência?)
1.4.4. Menos de 30 anos
1.4.5. Cegueira: “Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer” –
dimensão eclesial da vocação, transmitida por Ananinas
1.4.6. Espera em Damasco: cego, silêncio, oração, jejum – preparação espiritual para
a grande missão apostólica
1.4.6.1. Precedência da oração e mortificação sobre a ação (Cardeal Sarah, A
força do silêncio – contra a ditadura do ruído, Ed. Fons Sapientiae)
1.5. Fama de perseguidor violento e zeloso em Jerusalém, como fariseu: intransigência,
fanatismo, nacionalismo, certeza da inteligência, orgulho
1.6. Instantaneidade ou longa preparação?
1.7. Inquietação com os infinitos preceitos da Lei, com o seu “jugo intolerável”, “Que poder
têm os princípios formais perante a angústia de viver?” (59)
1.8. Misteriosa lei da reversão que une sempre o carrasco à sua vítima
1.9. Drama espiritual e conversão íntima, total (metanoia): orgulho, endurecido, satisfação
intelectual vencidos pelo Amor

2. Um jovem judeu dos países gregos


2.1. Tarso: cidade helênica, bela, antiga, próspera, enriquecida pela pax romana
2.1.1. Guardião dos portos da Cilícia
2.1.2. Parada obrigatória no caminho da Síria e Mesopotâmia
2.1.3. Centro do comércio marítimo
2.1.4. Cosmopolita, como Antioquia, Pérgamo, Corinto e Alexandria
2.2. Comunidade judaica integrada (diáspora)
2.3. Nobre estirpe: tradição da tribo de Benjamim, primeiro rei de Israel
2.3.1. Classe dos comerciantes ricos, aristocracia provinciana
2.4. Direito de cidadania romana
2.4.1. Provavelmente comprado a preço muito alto
2.4.2. Livre trânsito
2.4.3. Direito à apelação ao imperador
2.4.4. Visão positiva do Império Romano: obediência à autoridade (Rom. 13)

2
2.5. Ofício manual humilde: tecelão de tendas (trabalho manual não era incompatível com
o intelectual e espiritual; doutores da lei também ganhavam a vida fabricando
vestimentas)
2.6. Mentalidade e imaginário urbano (comércio, dinheiro, exército, jogos), diferente de
Jesus, um galileu do campo (natureza, ventos, chuva, aves)
2.7. Língua e cultura grega (koiné), erudição ausente nos apóstolos (que eram pescadores,
com exceção de S. Mateus, que era cobrador de impostos)
2.8. Cidade intelectual, que ultrapassava Atenas e Alexandria; centro universitário;
influência do clima intelectual (estoicismo)
2.9. Pureza ritual e fidelidade doutrinal contra o sincretismo pagão (63)
2.9.1. Família de fariseus: vício do legalismo e do casuísmo; virtudes do zelo,
submissão e observância
2.10. Aos 15-16 anos, estuda com Gamaliel, o maior rabino fariseu da época, em
Jerusalém, que se distinguia pela abertura de espírito e generosidade
2.10.1. Dialética prodigiosamente sutul
2.10.2. Conheceu o risco do dessecamento do Espírito inerente à interpretação literal
2.11. “predestinado” ao papel que haveria de assumir: pertença profunda e superação
2.11.1. representante típico do espírito da diáspora
2.11.2. judaísmo no máximo da força, ao mesmo tempo no que pode sentir da
necessidade de superação
2.11.3. paganismo, experiência “sem Deus neste mundo” (Ef. 2:12)

3. Anos de aprendizagem
3.1. 10 anos de preparação e meditação para as grandes viagens apostólicas
3.2. Retiro na Arábia (40 dias de Cristo no deserto, antes do ministério público)
3.3. Pregação em Damasco, nas sinagoga: perseguição ao traidor
3.3.1. Primeira lição de hostilidade contra o ex-perseguidor
3.3.2. “Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome” (At. 9: 16)
3.4. De Tarso a Damasco; de Damasco vai a Jerusalém, entrar em contato com as
testemunhas do Ressuscitado
3.4.1. Primeiro, resistência contra o antigo perseguidor de cristãos
3.4.2. Barnabé, cuja autoridade era respeitável e cuja origem cipriota talvez lhe desse
conhecimento daquele natural de Tarso, arrefeceu a hostilidade

3
3.4.3. Saulo foi então recebido e “permaneceu com eles, saindo e entrando em
Jerusalém, pregando destemidamente o nome do Senhor” (At 9: 28)
3.4.4. Prudência entre as rivalidades de helenistas e judaizantes
3.4.4.1. Contradição: o judeu exclusivista que não aceitava a seita dos cristãos,
agora defende que os pagãos podem se tornar cristão sem se tornarem antes
judeus
3.4.4.2. Senhor o insta a sair de Jerusalém: “Vai, porque eu te enviarei para longe,
aos gentios...” (At. 22: 17 ss)
3.4.5. Barnabé foi incumbido de inspecionar a nova comunidade da Síria, em
Antioquia, e se lembrou de Paulo
3.4.5.1. Cidade fundamental para a expansão cristã: ponto de apoio providencial
3.4.5.2. Liderança de Paulo, que leva a Jersualém as demandas da fome em
Antioquia
3.4.6. Preparação apostólica é sobretudo espiritual, “participação ininterrupta na vida
divina”: “Não há, nos grandes místicos, nenhuma separação entre a ação prática e
a contemplação de Deus” (66)
3.4.6.1. Incorporação a Cristo: morte do homem velho (eixo da teologia paulina)
3.4.6.2. Mística inefável: arrebatamento ao terceiro céu

4. Cristo anunciado aos gentios


4.1. Vida inteira, incansavelmente consagrada à missão: 20 anos, até o martírio
4.2. A intenção pouco consciente e obediência instintiva ao Mestre, no cristianismo
primitivo, se transforma, com ele, em doutrina e método
4.3. Questão da autenticidade da Cartas
4.3.1. Maioria: Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios, 1 Tessalonicenses, Colossenses,
Filipenses, e Filêmon
4.4. Corpus de 14 Cartas
4.4.1. 6 Grandes: Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios, 1 e 2 Tessalonicenses
4.4.2. 4 Cativeiro: Efésios, Filipenses, Colossenses, Filêmon
4.4.3. 3 Pastorais: 1 e 2 Timóteo e Tito
4.4.4. Sui generis: Hebreus
4.5. Meios limitados do aborto, intrepidez sem limites, fé imensa, inabalável: bastonadas,
lapidação, risco de morte, perigos no mar, no deserto, ameaças dos judeus, dos pagãos,
fome e sede, frio e tempestades, tudo ele suporta (2 Cor 12: 10)

4
4.6. Natureza de fogo, empenhada em combates sem trégua (69)
4.6.1. “a melhor maneira de amar a humanidade não é ceder às suas fraquezas e às
contradições dos seus sentimentos, mas desejar o seu bem, mesmo contra ela
própria e contra si” (69)
4.6.2. Temperamento colérico (LaHayne, Temperamentos transformados: colérico-
Paulo, sanguíneo-Pedro, melancólico-Moisés, fleumático-Abraão)
4.7. Dois períodos
4.7.1. Oriente: Ásia Menor e Grécia – mundo helênico, inquietação religiosa,
decadência moral, ameaças sociais, “um mundo a que Roma soubera impor a
ordem administrativa, mas não a paz do coração” (69)
4.7.2. Ocidente: Roma (a partir dos anos 60): autoridade centralizadora, funcionalismo
imperial, pragmatismo romano
4.8. Três grandes viagens
4.8.1. (45-49) De Antioquia a Chipre, depois à Ásia Menor
4.8.2. (49-52) Jerusalém, primeiro “Concílio”, Galácia, Filipos, Tessalônica, Atenas e
Cortino, Éfeso e Antioquia
4.8.3. (53-58) Éfeso, Corinto, Jerusalém
4.9. “Estratégia espiritual”: “aguentar tudo, perseverar e voltar de novo ao terreno
momentaneamente abandonado”; misto de flexibilidade e energia; constante
aprofundamento na meditação da doutrina; a ação não lhe cria obstáculo, antes pelo
contrário, serve-lhe de ocasião para desenvolver a oração e o conhecimento das coisas
sagradas (70)
4.10. Cartas são missivas familiares, no estilo oral, ditadas às pressas, sob pressão dos
acontecimentos, redigidas para serem lidas em público aos fiéis reunidos
4.11. Doutrina com firmeza lógica e pulsação vital, fruto de uma experiência espiritual
real, e não apenas uma especulação intelectual (época helenística das “filosofias”)
4.12. Carisma: líder, seguidores dedicados e leais
4.12.1. Marcos
4.12.2. Tito
4.12.3. Silas
4.12.4. Lucas (médico grego): Evangelho e Atos
4.12.5. Mulheres: Lídia, Priscila, Áquila

5
5. Os momentos do Espírito
5.1. Impossível resumir os 13 anos as aventuras de S. Paulo
5.1.1. Obra única, no estilo de Rops, erudito, apaixonado e literariamente rico: Josef
Holzner, Paulo de Tarso, Ed. Quadrante (574 p.)
5.2. Fatos cômicos e sublimes (estigmas de Cristo)
5.3. Mudança de nome: manifestação da conversão, da nova vida em Cristo
5.4. Concílio de Jerusalém (ano 49), provocado por Paulo (At 15: 1-33)
5.5. Sonho vocacional: macedônio o suplica para levar o Evangelho ao Ocidente (At 16: 9-
10)
5.6. Atenas: degradação intelectual (ano 50)
5.6.1. Centros de decadência onde a extrema racionalidade acaba levando à negação
de tudo; humanismo pagão que anula a Deus
5.6.2. Chesterton, Ortodoxia (ed. Ecclesiae): Londres (Oxford, Cambridge, Paris).
5.6.3. Gargalhada sobre a Ressurreição (At 17: 16-33)
5.6.4. “Os gregos buscam a sabedoria; escândalo para os judeus e loucura para os
gentios” (1 Cor 1:22)
5.6.5. “o cristianismo não é nem uma filosofia, nem uma sabedoria ‘discursiva’ (...)
Um cristão não elocubra sobre a Cruz: vive-a” (76)
5.6.6. “O que Deus recusa à curiosidade da inteligência, concede-o à simplicidade do
coração” (76)
5.7. Corinto (ano51-52): degradação moral
5.7.1. Milagre: triunfo da Cruz na capital da devassidão, prostituição, estupro e lucro
5.7.2. Comunidade mais querida de S. Paulo
5.7.3. “um pecador está mais perto de Deus do que um polemista vazio (cf. At 18:1-
17)”
5.8. Éfeso (ano 53-54): não só projetar, mas vigiar e rematar
5.8.1. Grande metrópole helênica
5.8.2. Comunidade promissora e frágil
5.8.3. Correção da pregação de Apolo
5.8.4. Carta aos Gálatas: rejeição definitiva da servidão da antiga Lei
5.8.5. Carta aos Coríntios: unidade contra as discórdias, corrupção da carne, amor e
virtude
5.8.6. A comunidade de Éfeso terá prosseguimento com o Apóstolo São João, que
morre lá.

6
5.9. Roma
5.9.1. Fecundidade da morte, martírio
5.9.2. Completar em mim as dores de cristo
5.9.3. “Irmãos: Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar em
minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com
o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou
de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por
séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes, Deus quis
manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de
Cristo em vós, a esperança da glória. Nós o anunciamos, admoestando a todos e
ensinando a todos, com toda a sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união
com Cristo”. (Cl 1, 24-28)

6. Uma arte segundo o espírito


6.1. Homem de ação, cuja palavra escrita está sempre aquém da realidade viva
6.2. Texto fornece apenas uma imagem minguada da presença completa da pessoa
6.3. Orador (no sentido oriental): ritmos médios, repetições e aliterações
6.3.1. Voz “desprezível” (2 Cor 10: 10)
6.4. Escritor (não retórico profissional): grego não muito correto, nem muito puro (como o
de Cícero ou S. Agostinho), mas plasma o impulso vital da sua alma
6.4.1. Fórmulas definitivas: homem velho, bom odor de Cristo, espinho na carne,
loucura da cruz
6.4.2. Gravidade espiritual e moral, incontestável densidade de toda obra
6.4.3. Às vezes, Paulo é obscuro e incompreensível – como o próprio Pedro reconhece
(1 Pe 3: 16) -, expõe, consoante o antigo método hebraico, tese e antítese
6.4.3.1. Temas contraditórios
6.4.4. Jorrar perturbador do Espírito que habita nele: expressão orgânica de seu
movimento espiritual: “inspiração”, “entusiasmo”, “carisma”
6.4.5. “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos
seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última
trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós
seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando
isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se

7
revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi
a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua
vitória? (1 Cor 15:51-55)
6.4.6. Hino do Amor: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não
tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. (...) A caridade
é paciente, é benigna; não é invejosa, não é temerária; não se ensoberbece, não é
ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
não se alegra com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo sofre” (1 Cor 13: 1, 4-7)

7. Uma mensagem ligada à realidade


7.1. “O Espírito a quem ele serve é esse que dá sentido à vida, que atua dentro do homem
como um poder transformador e que se deve manifestar no próprio seio da sociedade e
da história. É o Verbo de Deus, que se fez homem tomando carne de uma mulher, que
viveu e morreu na Cruz.” (81)
7.1.1. Explicação transcendente do mundo
7.1.2. Força imanente de ação no real
7.2. Grandes místicos são sempre homens cheios de bom sendo, com os pés na terra e
eficazes na vida (Bergson): Agostinho, Francisco, Joana d´Arc, Teresa.
7.3. Não é um filósofo especulativo, mas sua doutrina surge como resposta espiritual e
intelectual de desafios concretos
7.3.1. Questões filosóficas, existenciais
7.4. Alcança todas as questões da vida social, moral e política: trabalho, matrimônio,
autoridade

8
8. Problema do passado
8.1. Helenistas universalistas vs. judeus particularistas
8.1.1. Barnabé confirma Antioquia
8.2. Fariseu, doutor da Torah, em Direito e Moral
8.2.1. Orgulha-se do extremo zelo com a tradição (Gal 1: 14)
8.2.2. Irrepressível quanto à Lei (Fil 3: 6)
8.2.3. Aos judeus cabe “a adoção, a glória, as alianças, a Lei, o culto e as promessas”
(Rm 9: 4)
8.3. Concílio de Jerusalém (ano 49): confirmar a via helenista para toda a Igreja
8.4. Rígido com os princípios, flexível na sua aplicação e adaptação (virtude da prudência,
hermenêutica)
8.4.1. Repreensão da atitude judaizante de Pedro, em Antioquia
8.5. Mistério do povo eleito e rebelde: “Israel recusou Jesus, mas a sua falta foi
sobrenaturalmente necessária, pois foi por meio dela, oeka Redenção e pelo sacrifício
do sangue, que veio a salvação do mundo” (p. 85)
8.5.1. “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis
são os seus juízos, e inexploráveis os seus caminhos!” (Rm 11:33)
8.5.2. “A Lei era como que o títutlo da dívida, mas Cristo veio. (...) Portanto, já não é
o cumprimento da Lei que faz o justo, mas a fé, a fé vazada em obras pela caridade.
O cristão que se dá a Cristo, que vive segundo o amor, será salvo.” (85)

9. Opções sobre o futuro


9.1. Desafio do passado: legalismo formal dos judeus
9.2. Desafio do futuro: humanismo intelectual dos pagãos – “sabedoria do mundo que
pretende alcançar o divino unicamente pelos esforços da inteligência, ou incluí-lo num
naturalismo em que a transcendência se dissolve” (86). Problema permanente da
“filosofia”; desafio da modernismo, cientificismo, secularismo, ...
9.3. “Loucura da Cruz”: humildade
9.4. Antropologia (visão de homem): novo homem, identificado com Deus, em Cristo: “Eu
vivo, mas já não sou eu quem vive, mas Cristo quem vive em mim”
9.5. Eclesiologia (Teologia e “sociologia” da comunidade): nova sociedade, corpo de
Cristo, que comunica os bens e os males (desagravo)
9.6. Liberdade cristã: interior, vencer as próprias paixões (pecado) e a morte
9.6.1. Respeito à hierarquia e à ordem social

9
9.6.2. Soldados cristãos revestem-se da armadura da fé, lutam o bom combate da
caridade: martírio

10. Jesus ou Paulo?


10.1. Invenção do cristianismo, conversão do homem (Jesus)
10.2. Protestantismo Liberal: oposição do cristianismo de Jesus, evangélico, ao
catolicismo de Paulo, dogmático e teológico
10.3. A primeira geração teria “divinizado” o homem Jesus
10.4. Na verdade, a diferença entre os Evangelhos e as Cartas é a acentuação, a
formação dos autores

11. A prisão em Jerusalém


11.1. Em 58, na Cesareia
11.2. Jerusalém: prestar contas a Tiago (At 15: 17-25)
11.3. Prova da sua fidelidade à Lei
11.4. Perseguição dos judeus fanáticos, acusação de sacrilégio
11.5. Confusão: prisão, flagelo
11.6. Apelo a César: ilegal açoitar um cidadão romano
11.7. Exige que o mandem a Roma (At 24: 2; 25: 3; 26)
11.8. Em 60-61, viagem pitoresca, fecunda em peripécias
11.8.1. Acompanhado por S. Lucas
11.8.2. Quantos incidentes e perigos
11.8.3. Passa incólume ao ataque de uma víbora (imagética medieval): o mal e o pecado
não têm nenhum poder sobre um homem como esse
11.8.4. Autoridade: unidade interior, plenitude espiritual
11.9. Em 61, chega a Roma

10
12. São Pedro e a Igreja de Roma
12.1. Já sabia da grande comunidade na capital do Império
12.1.1. Em 58, de Corinto, tinha lhe enviado uma grande Carta, com a doutrina
essencial, “completa”, encabeçando as cartas canônicas do NT
12.2. Cidade cosmopolita, centro do mundo
12.3. Comunidade efervescente, desde 49
12.3.1. Fundada por São Pedro, primeiro Papa
12.4. Em 61, Pedro deveria ser um ancião de 70 anos
12.5. Pedro e Paulo: a rocha e o fogo (96)
12.6. Não houve rivalidades entre eles, além das pequenezes humanas a que mesmo
os grandes santos estão submetidos

13. A liberdade do Espírito


13.1. Custódia militar
13.1.1. Preso, mas espiritualmente libérrimo
13.2. Autoridade sobre a comunidade: último discurso de Atos
13.2.1. Judeu fiel ao seu povo
13.2.2. Pregador dos gentios
13.2.3. Muitos discípulos à sua volta: Lucas, Timóteo, Marcos, Epafras, Tíquico
13.3. Prisão redunda em proveito do Evangelho
13.3.1. Conversões mesmo entre os soldados pretorianos (Sócrates, Cristo – os grandes
homens convertem na hora da morte)
13.3.2. Lino vai visitá-lo, futuro papa e mártir, primeiro sucesso de São Pedro
13.4. Cartas do Cativeiro, simples, belas, envolvidas num calor humano mais vivo do
que as Cartas dogmáticas
13.4.1. Filêmon: perdão de um escravo fugitivo que ele converteu e que gostaria de ver
tratado “como se fosse ele próprio”
13.4.2. Síntese de toda lição do amor universal de Cristo: “não há judeu nem grego,
escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.”
(Gal 3: 28)

11
14. O testemunho do sangue
14.1. No fim dos dois anos de prisão domiciliar, o Apóstolo foi provavelmente
absolvido pelo tribunal imperial ou pelo menos posto em liberdade
14.2. Perseguição monstruosa de Nero (ano 64)
14.2.1. Terror policial, execuções sumárias (sem processo), do dia para noite
14.2.2. Provavelmente decapitado (tradição antiga): privilégio que a cidadania romana
lhe reconhecia (morte indolor, sem flagelação)
14.3. Pôs-se novamente a caminho
14.3.1. Cartas Pastorais
14.4. Preso novamente em Tróia
14.4.1. 2ª Carta a Timóteo: documento pungente, frio, solidão, medo, apostasias,
traições, deserções – tristeza
14.4.2. “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e aproxima-se o instante da minha
libertação. Combati o bom combate, concluí a minha carreira, guardei a fé. Resta-
me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia”
(2 Tm 4: 6-8)
14.5. Tradição o associa à morte de S. Pedro, supostamente crucificado de cabeça para
baixo (Caravaggio)
14.5.1. Festa litúrgica: 29 de junho
14.6. Martírio
14.7. Título de “Apóstolo”, mesmo não sendo um dos 12
14.8. “Apóstolo das Gentes”: mensagem eterna do poder onipotente da caridade (101-
102)

12
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aulas 8. Roma e a Revolução da Cruz
(Rops, vol. I, cap. 3)
Divisão do capítulo

I. Continuação do capítulos anteriores: expansão da Igreja

1. A semeadura cristã

II. Roma

2. Imperium Romanum
3. “As legiões marcharam a seu favor”
4. Roma e Augusto, deuses
5. Brechas nos costumes
6. Feridas no corpo social

III. Inserção do cristianismo no mundo pagão

7. A Revolução da Cruz
8. Conformismo religioso e inquietação mística
9. Facilidades e obstáculos para o Evangelho
10. Nascimento da oposição
1. A semeadura cristã
1.1. Período mais importante e decisivo, porém o menos conhecido
1.1.1. Em toda grande instituição religiosa ou política, são quase sempre os primeiros anos que determinam o
futuro
1.2. Rapidez da expansão da Boa Nova
1.3. Novo Testamento (NT) dá a impressão do protagonismo quase exclusivo de S. Paulo
1.3.1. Atos do Apóstolos foi escrito por S. Lucas, amigo e companheiro dele
1.3.2. S. Paulo nunca quis monopolizar o apostolado; ao contrário, sentia-se parte do “corpo de Cristo” (Rm 12),
atuando conforme a função designada pela sua vocação de apóstolo dos gentios
1.4. Seguindo a ordem do Mestre, todos os discípulos partiram ao apostolado para “evangelizar todos os povos”
1.4.1. Além dos textos neotestamentários, Atos, Epístolas assinadas pelos Apóstolos e Apocalipse, o que
sabemos dessa primeira semeadura apostólica provém de autores posteriores, como São Clemente de
Alexandria (II), S. Irineu (II) e Eusébio (IV), e de tradições piedosamente veneradas (mas cuja
fidedignidade histórica nem sempre pode ser atestada)
1.5. O menos desconhecido é São João
1.5.1. Após o Concílio de Jerusalém, em 49, desaparece
1
1.5.2. Em 67, certamente depois da morte de São Paulo, está em Éfeso
1.5.3. Está em Roma quando da perseguição de Domiciano, onde foi supliciado
1.5.4. Escapando da pena capital, foi condenado a trabalhos forçados e desterrado para ilha de Patmos, onde
escreveu o Apocalipse
1.5.5. Libertado por Nerva, voltou a Éfeso, percorrendo, já em idade avançada, a Ásia Menor, “nomeado bispos,
fundados igrejas, escolhendo este ou aquele para clérigo" (S. Clemente de Alexandria)
1.5.6. Escrevia as Cartas: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros: este é o preceito de Cristo”
1.6. Além de S. Paulo, S. Pedro, S. João e dos dois Tiagos, que militavam em Jerusalém, nada sabemos de positivo
dos outros apóstolos
1.6.1. Há numerosos Atos dos Apóstolos apócrifos
1.6.2. 12 anos após a ressurreição, eles se dispersaram a vários cantos do mundo
1.6.3. Histórias que retratam, sendo verdadeiras ou fabulosas, a prodigiosa expansão da fé pelos quatro cantos
do mundo (João na Ásia; André no país dos Citas (atual Ucrânia, sul da Rússia; Mateus na Etiópia;
Bartolomeu na Índia (atual Arábia do Sul) e Tomé na Pérsia
1.7. Apóstolos, discípulos e milhares de fiéis anônimos
1.7.1. Evangelização assistemática, espontânea, subterrânea (diferente do proselitismo metódico, estratégico e
“teológico” de São Paulo)
1.7.2. Pouquíssimo registro de quem e como a Boa Nova se expandiu e penetrou nas cidades
1.8. Contexto social da pax romana e da diáspora judaica
1.8.1.1. Vontade de conquista de uma religião nascente, cheia de “violência jubilosa” e vicejando o Espírito
de Deus que opera milagres
1.8.1.2. Expansão segue a realidade geográfica, econômica e política daquele mundo histórico
1.9. Primeiros locais da expansão (I)
1.9.1. Primeiro, Ásia Menor, perto de Jerusalém
1.9.2. Depois, para o Ocidente: Europa mediterrânea (Grécia e Roma)
1.9.2.1. Oriente, Osroene e Pérsia são exceções
1.10. Locais posteriores da expansão (II)
1.10.1. Europa ocidental: Gália (atual França), Espanha e África
1.10.1.1. Egito (Alexandria: apologetas e monges)
1.10.2. Em um século, por volta do ano 120, o Evangelho penetrou em todos os centros vitais do mundo
civilizado de então, em todos os seus nós espirituais
1.11. Cristianismo primitivo se desenvolveu no âmbito do Império Romano
1.11.1. Unificação helenística do mundo civilizado
1.11.2. Perseguição também unificada e centralizada
1.11.3. Inimigos de Roma também serão hostis à religião romana (cristianismo)

2. Imperium Romanum
2.1. Ordem, imensidão e estabilidade (comparável só a China dos Han, na mesma época)
2.1.1. 3 milhões de quilômetros quadrados
2.1.2. 55 ou 60 milhões de habitantes

2
2.1.3. Dimensão simbólica para a Cultura Ocidental, representações filosóficas, literárias, artísticas e
cinematográficas – Roma Católica, Bizantina, Carolíngia, Germânica, Renascentista, Napoleônica,
Britânica, Russa e Americana
2.1.4. Providência preparou o Império para a inserção da Igreja no mundo: Prudêncio: “a paz romana preparou
o caminho para a vinda de Cristo” (120)
2.2. Domínio pleno sobre o Mediterrâneo (mare nostrum)
2.3. Impõe-se como uma única forma válida de civilização (a despeito da sua brutalidade de conquista)
2.3.1. Submissão cultural (e não só política) – paralelo com os Impérios modernos, Francês, Britânico e
Americano
2.4. Idade de ouro: I-II d.C.
2.4.1. Tempo em que culmina o esforço de várias gerações
2.4.2. Apogeu de perfeição inexcedível: grandes realizações, gênios, obras-primas
2.4.3. Momento fugidio de plenitude, poder e orgulho
2.4.4. Filosofia organicista da história (Spengler): as civilizações são como as pessoas, nascem, desenvolvem-
se, amadurecem e morrem; tempos de culminância dura pouco, cerca de cem ou duzentos anos em média
2.5. Gênio criador do Império: Otávio Augusto
2.5.1. Superação da crise da República que já durava quase um século: rivalidades, convulsões, instabilidade
2.5.2. Fundar um Império que fosse um vasto conjunto de nações, para além da estrutura municipal de uma
cidade
2.5.3. Como o seu tio Júlio César, sacrificou a liberdade (preço das grandes realizações), mas a perpetuou nas
aparências (que é o que o povo valoriza)
2.5.4. Em 27 a.C., o Senado lhe confere o nome divino de “Augusto”
2.5.5. Regime imperial dura de 14 d.C. a 192 (morte de Cômodo): regime tão sólido que independe dos
condutores (a grande virtude institucional da “impessoalidade”)
2.5.6. Sucessão de três dinastias
2.5.6.1. Cláudios (14, Júlio Cláudio): alta aristocracia, homens notáveis (com exceção do sanguinário
Tibério, dos loucos Calígula e Nero e do pobre homem Cláudio)
2.5.6.2. Flávios (69, Vespasiano): pequena burguesia – ordem, tenacidade e economia: estabilidade
financeira, grandes obras, esforço de restauração moral e social
2.5.6.3. Antoninos (96, Nerva): província italiana, sucessão de personagens notáveis: Trajano, Adriano,
Antonino e Marco Aurélio (II). Autoridade serena e sólida; finanças folgadas e administração
severa, política mais moral e social
2.5.7. Turbulências: guerras sem grande impacto no núcleo imperial
2.5.8. Crises políticas: revoluções palacianas que afetam mais as classes dirigentes
2.5.9. Administração eficiente
2.5.9.1. autonomia local das províncias
2.5.9.2. o importante é a ordem civil e o pagamento de impostos (o governo imperial não se preocupa com
pormenores)
2.5.9.3. A centralização e o estatismo, que levam à incoerência, inércia, intrigas e ineficácia, só grassam o
império depois
2.5.10. Igreja e Império – Davi e Golias

3
3. “As legiões marcharam a seu favor”
3.1. Ordem e paz da sociedade permitem as condições para as revoluções culturais que a destroem
3.2. Pax romana: período mais calmo e livre de ameaças que o Ocidente jamais conheceu
3.2.1. Paz exterior (de ataques nas fronteiras) e interior (de rebeliões e guerras civis)
3.2.2. Proteção da lei (São Paulo)
3.2.3. Comunicação: estradas, navegação, correio, comércio (unidade monetária e linguística), ligação política e
infraestrutura militar (postos de controle)
3.2.3.1. Escravos: domésticas sírias propagaram as religiões místicas da Ásia, assim como os escravos e
servos difundirão o cristianismo entre os seus senhores
3.2.4. Ordem moral e intelectual: humanismo cosmopolita helênico, aliado ao senso prático e jurídico romano
(estoicismo, Cícero: “sociedade do gênero humano”) - universalismo romano, fundamental para o
ecumenismo cristão (catolicismo)
3.2.4.1. Cristianização de Roma
3.2.4.2. Romanização do cristianismo (capital, língua, literatura, liturgia, administração, direito)

4. Roma e Augusto, deuses


4.1. Ambiguidade histórica de sempre
4.1.1. Facilitação (positivo): paz romana, integração cultural da civilização
4.1.2. Resistência (negativo): otimismo cristão de ver na perseguição oportunidade para o heroísmo e sacrifício
(ética e teologia do martírio)
4.2. Núcleo de toda sociedade: religião
4.2.1. Divindade, para os romanos: poder supremo que dirige tudo, expressão do destino, muitas vezes
incompreensível
4.2.2. O Império se apresentava como um fenômeno sobrenatural, por isso a psicologia pagã o divinizou,
personificado no deus-imperador: Augusto
4.3. Culto de Roma e Augusto
4.3.1. Roma era uma deusa feminina, de beleza vigorosa, mas ainda abstrata
4.3.2. Augusto era a encarnação da majestade e autoridade do Império
4.3.2.1. Influência do Oriente (Egito, Pérsia, Pérgamo, Tauro): deus-estadista salvador
4.3.2.2. Alexandre Magno era descendente de Hércules: homem providencial, herói divino, arquétipo do
poder militar: “os outros deuses estão longe e não ouvem; é a ti que vemos face a face” (121)
4.3.2.3. Poesia de Virgílio e Ovídio
4.3.2.4. Júlio César, ainda vivo, recebe honras quase divinas: Juppiter Julius; morto, é transferido para a
categoria “deuses do alto” (dimensão litúrgica, tempo sagrado: mês de julho)
4.3.2.5. Augusto recebe templos e altares nas províncias; morto, o Senado o reconhece como deus e institui
em sua honra um Colégio (Pontifício) de Flâmines,conjunto de sacerdotes que administravam a
religião estatal (dimensão litúrgica, tempo sagrado: mês de agosto)
4.3.2.6. Lealdade e dedicação dos súditos ao seu senhor: cidadania pressupõe a participação no culto cívico:
“A ideia imperial de cidade universal exigia uma base religiosa” (123)
4.3.2.7. O culto tem raízes fundas na sincera gratidão das massas

4
4.3.2.8. Sublimação mística do ideal de romanidade: “Na apoteose, cerimônia divinizadora em que o espírito
do imperador morto é levado para o céu dos deuses por uma águia, a alma pagã do mundo pacificado
se reconhece a si mesmo e se exalta” (123)
4.3.3. Oposição frontal com o cristianismo: idolatria política de César
4.3.3.1. Trágica luta entre os direitos de César e de Deus, Cidade dos Homens e de Deus, Poder Temporal e
Espiritual, Igreja e Império
4.3.3.2. Revolução da Cruz: ruptura radical com o paganismo

5. Brechas nos costumes (sociologia)


5.1. Desequilíbrio: grandeza imensa
5.1.1. Roma era um pequeno burgo, onde comerciavam camponeses, homens rudes e simples, pouco preparados
para enfrentar grandes tarefas civilizadoras
5.1.2. Esta cidade, em breve, conquista uma massa imensa de governados
5.1.3. Alguns vencidos são mais civilizados: gregos e orientais – arte e pensamento gregos, religiões e costumes
orientais
5.2. Alienação: afastamento das suas origens e importação do estrangeiro (Horácio: “A Grécia conquistada
conquistou o seu terrível vencedor”; Leo Strauss, Direito natural e história, EUA e Alemanha na II Guerra)
5.2.1. O que seria se a França adotasse o árabe como língua cultura e o Corão como regra de conduta?
5.2.2. Espiritualmente, Roma está pronta para aceitar outra concepção de mundo, já que a sua desmoronou
5.2.2.1. Poder político e econômico vs. autoridade cultural e espiritual (Papa Gelásio)
5.3. Decadência moral, cultural e intelectual gradativa (I a.C- V.d.C.)
5.3.1. Refinamento dos ideais de civilização e desagregação das virtudes originais
5.3.2. Literatura: crise moral das classes ricas
5.3.3. Epitáfios, grafites e papiros: virtudes sólidas das pessoas comuns, amor conjugal, ternura com os
desamparados, piedade filial, afeição fraterna
5.3.4. Vícios estruturais do império: cobiça de ouro e escravos
5.3.5. Classe ociosa perdida nas grandes cidades: camponeses desenraizados, trabalhadores autônomos,
estrangeiros cosmopolitas, escravos alforriados - “clientes”, parasitas; preguiça, mendicidade; essa plebe
precisa ser cortejada pelo Império, para que não se revolte (política do pão e circo), degradação do ideal
moral e da sensibilidade
5.3.5.1. Decadência cultural e artística: cópias, academicismo; estilo pomposo, grandiloquente, mau gosto;
neo-sofística, gramática, flexografia – perda do espírito criador (126, n. 11)
5.3.6. Família abalada
5.3.6.1. Natalidade decresce
5.3.6.2. Evita-se o casamento
5.3.6.3. Aborto e abandono de crianças
5.3.6.4. Divórcio
5.3.6.5. Adultério quase universal (exemplos das classes dirigentes e dos próprios imperadores)
5.3.6.6. Estado precisa impor medidas legislativas, com prêmios, para que se viva honestamente e se tenham
filhos (sinal de decadência inconteste)

5
6. Feridas no corpo social
6.1. “Capitalismo”: culto do deus dinheiro (ouro), terras, latifúndios
6.1.1. Quanto mais rico, mais necessidade de crescer (círculo vicioso)
6.1.2. aristocracia rural vs. massa popular miserável, “sem terra”
6.1.3. metade da província da África pertence a apenas seis homens
6.1.4. sistema latifundiário romano influencia diretamente o feudalismo medieval e a colonização ibérica da
América
6.2. Crise demagógica da República foi “solucionada” por Augusto por uma organização compartimentada e
plutocrática
6.3. Sociedade dividida, hierarquizada em classes rígidas
6.3.1. Senhores
6.3.2. Cavaleiros
6.3.3. Plebe
6.4. Escravos – crueldade, injustiça, imoralidade (prostituição e abuso de mulheres)
6.5. Contradição: universalismo particularista dos privilegiados “romanos”
6.6. A massa reage não com revolta, mas com ceticismo e cinismo

7. A Revolução da Cruz
7.1. Características de uma “revolução”
7.1.1. Ordem
7.1.2. Dirigentes
7.1.3. Visão de mundo
7.2. O cristianismo
7.2.1. Não é uma força revolucionária no sentido político-social
7.2.2. Não é uma doutrina social, nem política (ideologia)
7.2.3. Não é uma ética (uma filosofia moral, no sentido helênico)
7.3. O contato da vida de Cristo e dos cristãos faz perecer o que é fingimento e matéria morta (134)
7.4. Revolução
7.4.1. Situação
7.4.1.1. Crítica da tradição
7.4.1.2. Alteração das forças que alicerçam as crenças sociais em geral
7.4.2. Doutrina voltada à ação, à conversão (oposta à apatia estoica)
7.4.2.1. Respostas a todas as inquietações da alma humana
7.4.2.2. Moral sexual
7.4.2.3. Trabalho
7.4.2.4. Questão social
7.4.3. Corpo de revolucionários
7.4.3.1. Igreja é uma sociedade autônoma e completa, Estado dentro do Estado, com seu sistema de governo,
hierarquia, organização, disciplina
7.4.3.2. “Para atuar dentro da sociedade, o homem deve ter aceitado um certo desprendimento e uma certa
ruptura: assim o ensinou Cristo aos seus discípulos” (136)
7.4.3.3. Moral do heroísmo: martírio
6
7.5. Revolução religiosa do amor: vitória da humildade, paciência, aparente derrota

8. Conformismo religioso e inquietação mística


8.1. A decadência das civilizações é o esgotamento da sua seiva religiosa (aspirações profundas da alma humana)
8.2. Ritualismo da religião cívica tradicional
8.2.1. Ceticismo: Incredulidade das elites, influencias pelo racionalismo helênico
8.2.2. Superstição: O povo matinha o culto sincero dos lares e dos penates (solo e poderes da natureza)
8.2.3. Formalismo oficial: restauração religiosa-política de Augusto: templos, altares (139)
8.3. Vazio dos que buscavam Deus e o sentido da vida: “aspirações a uma religião mais íntima, esforço ascético em
busca de pureza moral, procura de uma união pessoal com o divino” (142)
8.4. Influxo místico e metafísico do Oriente
8.4.1. Filosofia grega – mistérios órficos-pitagóricos
8.4.2. Cultos orientais: Frígia, Egito – mistérios, iniciação, esoterismo
8.5. “A salus (saúde) já não era concebida na acepção terra-a-terra da antiga Roma, isto é, como sadio equilíbrio da
vida presente, mas como a promessa de uma libertação espiritual e de uma felicidade eterna” (142)

9. Facilidades e obstáculos para o Evangelho


9.1. Condições
9.1.1. Material: estradas
9.1.2. Espiritual: anseio religioso profundo e íntimo – ascetismo e mística, amor (143)
9.1.3. Intelectual: filosofia que perscrutam a verdade única e absoluta, criticam as aparências e as modas sociais
– monoteísmo
9.1.3.1. Sincretismo pagão: “o papel das meias verdades é servir, em certo sentido, a verdade completa”
(144)
9.1.3.2. Síntese cristã
9.2. Resistência
9.2.1. Paganismo político
9.2.2. Politeísmo da assimilação e indiferenciação
9.2.3. Panteísmo idolátrico

10. Nascimento da oposição


10.1. Poder temporal vs. espiritual
10.2. No começo, o Império ignora os cristãos
10.2.1. Apenas em 112, há um texto oficial que os menciona: carta de Plínio, o Jovem, ao Imperador Trajano
10.2.1.1. Recomendação prudente: deixá-los em paz, não os perseguir; se eles causarem problema, detê-
los
10.2.1.2. Eles são apenas obrigados a prestar culto ao imperador (sob pena de morte)
10.2.1.3. Indulgência cética e desdenhosa: quando eles usarem expressões confusas como “Filho de
Deus” ou “Rei Supremo” fingem não imputar o crime de lesa-majestade (148)
10.2.1.4.
10.2.2. Em 116, Tácito, nos seus Anais, lhes consagra alguns parágrafos
10.2.3. Confundidos com os judeus
7
10.2.4. Exceção: Nero, 64-68, os identifica (como bode expiatório)
10.3. Lealismo cristão: não é no plano da ação política direta que o cristianismo se opõe ao Império, mas no plano
espiritual e moral da conversão de todos, mas também da classe dirigente (Imperador)
10.3.1. Evangelho
10.3.1.1. “Meu reino não é deste mundo”
10.3.1.2. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”
10.3.2. São Paulo
10.3.2.1. “Cada qual seja submisso às autoridades constituídas. Porque não há autoridade que não venha
de Deus” (Rm 13: 1)
10.3.2.2. Que se ore pelos reis e por todos “os que estão constituídos em autoridade, para que possamos
viver uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e honestidade (1 Tim 2:2)
10.3.3. São Pedro, escrevendo durante a perseguição de Nero, aconselha a submissão
10.3.4. São Clemente Romano redige uma oração em favor dos imperadores
10.3.5. Apologistas: Aristide, São Justino e mesmo Tertuliano (“Nunca houve entre os cristãos um revoltado,
um conspirador ou um assassino.”)
10.4. Calúnias e difamações
10.4.1. Instinto que incita as massas anônimas ao ódio contra os não-conformistas – especialmente contra os
homens de Espírito (inveja, rivalidade mimética)
10.4.2. Boatos infames sobre sacrifícios humanos e orgias secretas (necessidade de defesa – apologistas,
terceiro tipo de protagonista do cristianismo primitivo, depois dos apóstolos e mártires, sendo que muitos
apologistas serão também martirizados e o próprio São Paulo já é um proto-apologista, contra o judaísmo
e o paganismo)
10.5. Autoritarismo e centralização absolutista (II): perseguição – “o sangue dos mártires é semeadura de cristãos”
(Tertuliano)
10.6. Distinção
10.6.1. Judaísmo (sinagoga e sinédrio)
10.6.2. Paganismo (império)
10.7. Oposição espiritual
10.7.1. Apocalipse de João: libertação de Besta
10.7.2. Apocalipse de Esdras: morte da águia

8
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aulas 11 e 12. A gesta do sangue - mártires dos primeiros tempos
(Rops, vol. I, cap. 3)
Divisão do capítulo

I. História

1. Os jardins de Nero
2. Gesta Martyrum (Parte II)
3. A perseguição: bases jurídicas e clima de horror
4. As inquietações e os ódios de Domiciano
5. “Vox populi"
6. O rescrito de Trajano e a “política cristã” dos Antoninos

II. Mártires

7. Na Ásia, dois príncipes da Igreja: Inácio e Policarpo (Padres Apostólicos)


8. Na Gália: os mártires de Lyon
9. Em Roma, uma jovem patrícia: Cecília
10. Na África, os humildes mártires de Scili

III. Teologia do martírio

11. O martírio, testemunho humano


12. O martírio, ato sacramental

1
1. Os jardins de Nero (64-68)
1.1. Em 64, incendido catastrófico : seis dias de tragédia, quatro dos catorze bairros devorados pelo fogo
1.2. Causa? Acidente? Operação imperial oficiosa para a reconstrução arquitetônica pomposa à Alexandria
1.3. Imperador Nero: monstro coroado
1.3.1. Desvarios e ondas de sangue
1.3.2. Joguete do medo, crueldade inata, semi-demência
1.3.3. Perversidade com Otávia, cuja cabeça foi arrancada e entregue à Popéia, que fora arrancada do seu marido
por Nero
1.3.4. Boataria sobre a responsabilidade de Nero
1.4. Cristãos como bode expiatórios
1.4.1. Misantropos: ódio do gênero humano
1.4.2. Simbologia apocalíptica
1.4.3. Calúnias dos judeus
1.5. Atrocidades sádicas das perseguições
1.5.1. Extensão no tempo e no espaço
1.5.2. “Igreja dos eleitos que está em Babilônia”
1.5.3. São Pedro (1 Pe 1, 6-7): prova de valor e resistência
1.5.4. “Cristão” se torna sinônimo jurídico de “vítima destinada aos suplícios”
1.5.5. Por 250 anos, de 64 (Nero) a 314 (Constantino), não se passa um único dia sem um mártir glorificar a
Deus e praticar a virtude da fé e da esperança

2. Gesta Martyrum (analisado na Parte II)

3. A perseguição: bases jurídicas e clima de horror


3.1. Justificação legal
3.2. Cristãos diferenciaram-se dos judeus e não gozavam do benefício destes
3.3. Instittuto neroniano de recusar ao cristianismo os direitos de que gozavam em Roma tantas religiões orientais,
para considerá-lo uma superstição ilícita
3.3.1. Somente no séc. III, haverá a acusação de recuso a sacrificar a Roma e Agusuto, incorrendo no duplo
crime de sacrilégio e lesa-majestade
3.4. Poder policial de punir quem afetasse a ordem pública (Pôncio Pilatos)
3.4.1. Mas os cristãos não eram desordeiros
3.5. Instituto de autodefesa dos romanos – “sinal de contradição” dos cristãos
3.6. Desenvolvimento de uma rivalidade identitária
3.6.1. Centralização autoritária do Império
3.6.2. Consciência cristã, pelos mártires e intelectuais, da oposição ao paganismo
3.7. Perseguições
3.7.1. De 64 a 192, esporádicas
3.7.2. De 202-311, sistemática
3.8. Sintoma da decadência moral e da selvageria romana: torturas, gosto pelo sangue, sacrifícios animais e humanos
3.8.1. Divertimento embrutecido da plebe: volúpia da ferocidade, carnificina
3.8.2. Política do pão e circo
2
4. As inquietações e os ódios de Domiciano (81-96)
4.1. 2ª onda de perseguição
4.2. Domiciano
4.2.1. Dinastia flaviana: virtudes
4.2.2. Orgulhoso, egoísta e autoritário, “mania” de desconfiança
4.2.3. Suspeitou dos criados, da aristocracia romana, dos intelectuais, dos judeus e dos cristãos
4.3. Depois de Nero, expansão da fé, chegando até a aristocracia: cônsul, prefeito, família imperial
4.4. Em 88, revolta militar da aristocracia, unida a tribos germânicas
4.5. Imperador atacou todos os que pudessem se opor ao autoritarismo
4.5.1. Nobreza
4.5.2. Filósofos
4.5.3. Adivinhos e astrólogos
4.5.4. Judeus: radicalização do tributo a Júpiter (antigo imposto ritual para o Templo)
4.5.5. Cristãos: obrigados também ao imposto, cuja recusa gerava perseguição
4.5.5.1. Interesse fiscal – política anticristã
4.5.5.2. Ameaça do futuro “reino de Cristo”
4.5.5.3. Ateísmo: oposição aos deuses oficiais
4.6. Perseguição mais violenta do período: 92 a 96 (Papa Clemente, Padre Apostólico: “desgraças e catástrofes”)
4.6.1. “Inspirada” na de Nero
4.6.2. Apocalipse (13: 15) de João: serão mortos os que não adorasse a Besta e a sua imagem
4.6.3.

5. “Vox populi"
5.1. Hostilidade popular, irracional
5.2. Calúnias e difamações abjetas
5.2.1. Canibalismo
5.2.2. Incesto
5.3. Adoração de um deus com cabeça de asno
5.3.1. Comédias
5.3.2. Aproximação do deus Set dos egípcios, que era uma divindade semi-homem, semi-asno (“filho do
homem”)
5.3.2.1. Apuleio, Asno de ouro: o asno é o genitor e é associado ao asno bíblico da viagem a Belém e no
domingo de Ramos)
5.4. Bode expiatório: consciência primitiva, supersticiosa
5.4.1. Tertuliano: inculpação generalizada dos cristãos
5.4.2. Girard e a teoria do desejo mimético
5.5. Interesses materiais
5.5.1. Negociantes de objetos piedosos e de animais para o sacrifício
5.5.2. Invejas e difamações
5.5.3. Charlatães e bedéis do templo, sacerdotes menos categorizados e vendedores ambulantes
5.5.4. Frenesi, epidemia mimética de violência, verbal e física
3
6. O rescrito de Trajano e a “política cristã” dos Antoninos
6.1. Em 112, primeira definição legal dos cristãos – famosa correspondência do legado imperial Plínio, o Jovem, ao
Imperador Trajano
6.2. Dois tipos superiores, humanistas (Terêncio: “sou homem e nada do que é humano me é estranho”)
6.2.1. Imperador magnânimo e assistencial: “é preferível absolver um criminoso a condenar um inocente”
6.2.1.1. Fórmula proverbial do Baixo Império: “Que sejas mais feliz do que Augusto e melhor do que
Trajano”
6.2.1.2. Santo Papa Gregório teria obtido de Deus o favor de que a alma dele fosse acolhida no céu
6.2.2. Plínio, o Jovem
6.2.2.1. Nobre estirpe: sobrinho de Plínio, o Velho, autor da famosa História natural, em 77, um volumoso
e influente compêndio das ciências antigas, em 37 volumes
6.2.2.2. Carreira brilhante
6.2.2.3. Extrema afabilidade
6.3. Plínio era legado nas províncias asiáticas do Ponto e da Bitínia
6.3.1. Crescimento dos cristãos
6.3.2. Templos desertos
6.3.3. Instituto neroniano: não é permitido ser cristão
6.3.4. Exige a confissão tripla dos cristãos e os suplicia em seguida (exceto os romanos, que são enviado a Roma)
6.3.5. Crescimento vertiginoso: denúncias anônimas de uma multidão, incluindo mulheres e crianças, de todas
as condições e idades
6.3.6. Plínio investiga atenciosamente a situação, recusando-se à violência neroniana pura e simples: descobre
que suas práticas não são condenáveis, exceto a negação do culto a Roma e Augusto
6.3.7. Sugere uma política de clemência, incitando a apostasia, a fim de obter melhores resultados de paz social
e religiosa das províncias
6.3.8. Desencoraja que se puna pelo simples fato de se ser cristão (como era característico do Império Romano
até Nero)
6.4. Resposta do Imperador Trajano (imperatória brevitas): “Não devem ser procurador; se te forem trazidos e os
reconheceres, devem ser punidos; mas aquele que negue ser cristão e o demonstre, por exemplo suplicando aos
nossos deuses, mesmo que tenha tido conduta suspeita no passado, deve ser perdoado” (p. 171)
6.5. Imperador não reconhece no cristianismo um adversário ameaçados, não visa a destruí-lo ou neutralizá-lo
6.6. Rescrito serve de base para toda a política dos seus sucessores
6.6.1. Dinastia antonina: manter a ordem e não irritar a opinião pública
6.7. Perseguição circunstancial e local (dependendo do funcionário da vez)

4
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aulas 12. A gesta do sangue - mártires dos primeiros tempos (parte 2)
(Rops, vol. I, cap.4)
Divisão do capítulo
I. História

1. Os jardins de Nero
2. Gesta Martyrum (Parte II)
3. A perseguição: bases jurídicas e clima de horror
4. As inquietações e os ódios de Domiciano
5. “Vox populi"
6. O rescrito de Trajano e a “política cristã” dos Antoninos

II. Mártires

7. Na Ásia, dois príncipes da Igreja: Inácio e Policarpo (Padres Apostólicos)


8. Na Gália: os mártires de Lyon
9. Em Roma, uma jovem patrícia: Cecília
10. Na África, os humildes mártires de Scili

III. Teologia do martírio

11. O martírio, testemunho humano


12. O martírio, ato sacramental

IV. Os mártires de hoje (séc. XX) – complemento

1. Os jardins de Nero (64-68)

1
2. Gesta Martyrum
2.1. Gesta: história, real ou lendária, narrada ou cantada, de feitos heroicos
2.2. Relato das perseguições: páginas das mais grandiosas identificação com Cristo
2.2.1. Completar na sua carne o que falta à paixão de Cristo (Col 1: 24)
2.3. Sacrifício voluntário (mortificação ativa), sem o qual nenhuma verdade triunfa
2.4. Memória das comunidades
2.4.1. Combate e triunfo – modelos miméticos (a serem imitados, por imitarem a
Cristo)
2.4.2. São Paulo: sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1 Cor 11:1)
2.4.3. Identidade: não se pode esquecer desses santos, eles são o que devemos ser
2.4.4. Relatos, muitos minuciosos, dessas “paixões”: São Policarpo ou mártires de
Lyon
2.4.5. Cartas dos Bispos que seriam martirizados, como S. Inácio de Antioquia
(exortação moral, ordenação “administrativa”, documentos pungentes, assinado
com sangue)
2.4.6. Tradição exagera, povo tende a aureolar os heróis que admira
2.5. Celebração litúrgica: metade dos santos venerados na Liturgia são desse período
2.6. Narrativas hagiográficas costumam seguir um esquema (padrão literário, pedagógico)
2.6.1. Pejorar as autoridades pagãs
2.6.2. Tendência para o extravagante (imaginação do carrasco ou da vítima)
2.6.3. Prodígios que ressaltam a invulnerabilidade dos mártires
2.6.4. Desenlace moral (aspecto literário, Aristóteles chamada de “reviravolta”):
castigo do verdugo, comoção pertante o heroísmo da vítima e a sua súbita comoção
(como no caso de Cristo com o “bom ladrão” e o centurião romano)
2.7. “Não podemos falar sem respeito e comoção desta legenda aurea” (p. 157)
2.7.1. Prudência da Igreja diante da tendência para a hipérbole
2.7.2. Não reduzir, porém, à mera fábula
2.8. Martirológicos: coletâneas de calendários das festas dos mártires
3. A perseguição: bases jurídicas e clima de horror
4. As inquietações e os ódios de Domiciano (81-96)
5. “Vox populi"
6. O rescrito de Trajano e a “política cristã” dos Antoninos (112)

2
7. Na Ásia, dois príncipes da Igreja: Inácio e Policarpo (Padres Apostólicos)
7.1. Todos igualmente heroicos, difícil destacar algum
7.1.1. Unidade de fé e simplicidade, do mais santo bispo ao mais humilde escravo
7.2. Dois homens se impõem, porém, pela sua obra intelectual eminente (Padres
Apostólicos) e pela hierarquia de bispos
7.2.1. “Príncipes”: tríplice presente a Cristo Menino, Rei: ouro (realeza), incenso
(divindade) e mirra (humanidade, mortalidade, embalsama os corpos dos mortos,
mortificação)
7.2.2. Interpretação de São Gregório Magno (séc. V-VI) (Catecismo da Igreja Católica,
§ 115-119)
7.3. Ásia Menor – ódio religioso violento
7.3.1. Propaganda cristã
7.3.2. Fanatismo religioso
7.3.3. Culto imperial

7.4. Santo Inácio de Antioquia (35-107)


7.4.1. Etimologia do nome (ignis): fogo
7.4.1.1. Eduardo Galeano, O livro dos abraços, ‘O mundo’: “Um homem da
aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando
voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E
disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou — Um montão de gente, um mar de
fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas
fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras
de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e
gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos,
não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha
vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto
pega fogo.”
7.4.1.2. Apocalipse (3: 14-22): “Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: Eis o
que diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de
Deus.Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio
ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois

3
dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito – e não sabes que és
infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim ouro
provado ao fogo, para ficares rico; roupas alvas para te vestires, a fim de que
não apareça a vergonha de tua nudez; e um colírio para ungir os olhos, de
modo que possas ver claro.”
7.4.2. Suas 7 Cartas revelam um homem
7.4.2.1. Enérgico e empreendedor
7.4.2.2. Pronto para entrar em combate pela fé e justiça
7.4.2.3. Jurista e administrador admirável
7.4.2.4. Teólogo e místico notável: “Realizemos todas as nossas ações com o
único pensamento de que Deus habita em nós”
7.4.3. Santa violência dos primeiros semeadores
7.4.3.1. Discípulo de São João
7.4.3.2. São Pedro (segundo São João Crisóstomo) o teria designado bispo de
Antioquia, ou São Paulo (segundo Constituições Apostólicas do século IV)
7.4.4. Preso no tempo de Trajano (como São Clemente Romano, terceiro sucessor de
São Pedro)
7.4.4.1. Provavelmente, martitirzado no Coliseu, então em fase de acabamento,
onde foram chacinados cerca de dez mil gladiadores e onze mil feras, por
ocasião dos gigantescos “espetáculos” imperiais para comemorar a vitória de
Trajano dobre os dácios
7.4.5. As sete cartas, monumentais!, serão consideradas quase canônicas, logo abaixo
de São Paulo
7.4.6. Condenado em Antioquia e enviado a Roma (não se sabe por quê), a viagem lhe
dá oportunidade de escrever às comunidades, exortando-as à fortaleza
7.4.6.1. Em Esmirna, conhece o bispo Policarpo
7.4.6.2. Em Roma, suplica aos fiéis que não façam nada par libertá-lo, para
conseguir o seu perdão ou para evitar que seja supliciado (por Cristo), mesmo
que ele lhes peça isso: “Deixai-me fazer o sacrifício enquanto o altar está
preparado. Deixai-me ser presa das feras. É por meio delas que chegarei a
Deus. Sou trigo de Deus, e, para que possa ser pão branco de Cristo, é preciso
ser moído pelos dentes dos animais.”
7.4.7. Primeiro a utilizar a expressão “Igreja Católica” (universal)

4
7.5. São Policarpo de Esmirna (69-155)
7.5.1. Recebeu Santo Inácio, reuniu as suas cartas e meditou o seu exemplo e sofreu a
mesma sorte (privilégio – “para mim, viver é Cristo e morrer [como ele] é lucro”,
São Paulo, Fil 1:21), meio século depois
7.5.2. Martírio aos 90 anos: calma e dignidade
7.5.3. Registro detalhado da comunidade de Esmirna para a da Frígia

8. Na Gália: os mártires de Lyon


8.1. Importância histórica, primeira manifestação do Evangelho no território “francês”
8.1.1. Em 496, Rei Clóvis é batizado e “converte” o Reino Franco (França como filha
mais velha da Igreja)
8.1.2. Em 800, Rei Carlos Magno é coroado Sacro Imperador Romano pelo Papa Leão
III
8.1.3. Santo Irineu de Lyon (130-202), sucessor do Bispo martirizado, Potino: Padre
da Igreja, autor do influente Adversus haereses
8.2. Imperador Marco Aurélio (121-180): humanismo estóico preserva os excessos, mas
não se insurge contra a jurisprudência de Trajano (condenção de cristãos denunciados
como ateus e desordeiros, e espetáculos de circo)
8.3. Uma das páginas mais horrorosas e mais sublimes (mais um dos “paradoxos do
cristianismo”, Chesterton) – contágio de heroísmo
8.4. Festa anual, em volta do altar de Roma e Augusto, com os delegados das três Gálias
(Bélgica, Aquitânia e Céltica
8.4.1. Numa feira concorrida, a população lançou calúnias (tagarelice própria dos
grandes ajuntamentos contra os cristãos, denunciou-se e maltratou-os
8.4.2. Fossem novatas ou pusilânimes, as autoridades civis e militares cederam à
pressão
8.5. Contágio de heroísmo (cerca de 50 vítimas):
8.5.1. Descrição literária: “Rumo ao martírio ‘os confessores caminhavam com o rosto
resplandecente de glória e beleza...” (p. 179)
8.5.2. Bispo Potino, nonagenário (como S. Policarpo)
8.5.3. Escrava Blandina: “emancipação pelo heroísmo” (Renan); “E os próprios pagãos
reconheceram que nunva tinham visto mulher alguma sofrer tanto e tão bem”
8.5.3.1. São Paulo diante de Santo Estêvão
8.5.3.2. Bom ladrão e centurião romano diante de Cristo

5
9. Em Roma, uma jovem patrícia: Cecília
9.1. Um dos mais célebres martírios
9.2. Escrito (Passio Sanctae Ceciliae): três séculos e meio depois, de um autor com
conhecimentos teológicos e talento literário, floreando o fato de trágica simplicidade e
inspirado, provavelmente, por Tertuliano e Santo Agostinho, além das numerosas atas
dos mártires, canônicas ou apócrifas
9.3. Herança cultural: plástica (Rafael) e literária (Pope, Dryden, Addison e Ghéon)
9.4. Família aristocrática, desde a República
9.5. Conversão provavelmente estimulada por uma ama ou escrava cristã
9.6. “Trazia um cilício por baixo dos vestidos bordados a ouro, e o Evangelho no coração”
(S. Tomas More; Chesterton)
9.7. Destinada ao casamento, avisa ao noivo que já era de Cristo (como Inês), e o converte.
Ambos convertem o irmão do noivo, Tibúrcio
9.8. Alardeando a sua fé, construindo necrópoles nos jardins das suas famílias, organizam
cerimônias e logo são denunciados
9.9. No martírio, convertem o carrasco Máximo
9.10. Primeiro, tentam matá-la por asfixia na sala de banhos (mas ela resiste 24h)
9.11. Depois, o carrasco erra os três golpes de cutelo, permitidos por lei
9.12. Mesmo com o pescoço meio decepado, Cecília permanece consolando os seus
9.13. Teria morrido cantando (daí porque é padroeira dos músicos e da música sacra)

9.14. Santa que mais tem basílicas em Roma


9.15. Primeira santa com corpo incorrupto (encontrado em 1599)
9.16. Devoções de outros santos
9.16.1. Santa Teresinha do Menino Jesus (séc. XIX)
9.16.2. Beata Anna Catarina Emmerich (séc. XVII-XIX)
9.17. Méritos espirituais da virgindade, da nobreza da mulher que rejeita a felicidade
de ser mãe para encontrar, sobrenaturalmente, o direito de dar almas a seu Deus
9.17.1. Mensagem revolucionária em face da antiga concepção romana de mulher como
mero instrumento social da fecundidade patriótica
9.18. Exemplos posteriores de S. Inês (III-IV) e Santa Maria Goretti (XX) (Pe. Paulo
Ricardo de Azevedo e Paulo Henrique de Oliveira, Os mártires de hoje, Ed. Ecclesiae)

6
10. Na África, os humildes mártires de Scili
10.1. Ano de 180, sob Cômodo: Processos judiciais (interrogatórios) dos Mártires de
Scili
10.1.1. Textos dos mais irrecusáveis: transpira verdade

III. Teologia do martírio

11. O martírio, testemunho humano


11.1. Virtudes sobre-humanas: voragem, firmeza de ânimo, serenidade
11.2. Simplicidade, paz de Cristo
11.3. Não há exibição ou vanglória
11.4. Testemunho pela palavra e pelo sangue: dar a vida pelo que lhe dá sentido
11.5. Contágio mimético: emulação – “O sandrue é o cimento que mais fortemente
liga entre si os seguidores de uma causa” (p. 188)
11.6. Conversão dos pagãos: compaixão e admiração
11.6.1. Carrascos: “prova histórica do dogma cristão sober a reversão dos méritos e o
poder redentor do sangue” (p. 188)
11.7. Tertuliano: “o sangue dos mártires foi a semente do cristianismo”.
11.7.1. Evangelho: é preciso perder a vida para salvá-la

12. O martírio, ato sacramental


12.1. Não apenas a luta por uma “causa” político-ideológica
12.2. Ato sacramental, que une as almas dos eleitos, cujos efeitos sobrenaturais
projetam-se sobre toda comunidade dos filhos de Deus
12.2.1. Culto das relíquias – permanência do corpo martirizado e glorificado
12.3. Teologia das três virtudes teologais
12.3.1. Fé absoluta em Cristo
12.3.2. Esperança total na Promessa
12.3.3. Caridade levada ao extremo da oblação de si mesmo
12.4. “No sacrifício do sangue, encontra a sua expressão mais perfeita a experiencia
cristão toda inteira, moral, ascética e mística” (p. 189)
12.5. Martírio e oferta do próprio corpo em ação de graças
12.5.1. S. Inácio: transfiguração do próprio corpo em pão branco de Deus

7
12.5.2. S. Gregório Magno (já não mais perseguido): Cristo será verdadeiramente uma
hóstia para nós, quando, por Ele, nós mesmos nos tivermos transformado em
hóstias
12.6. Imitação perfeita de Cristo
12.6.1. “A imitação do Único Modelo contém em si a sua recompensa” (p. 190; Santo
Tomás de Aquino: “Nada além de Ti, Senhor”)
12.6.2. Batismo de sangue (S. Cipriano): um catecúmeno não batizado, se morrer mártir,
confessando o Senhor, está ipso facto contado entre os membros celestes da Igreja
12.6.3. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo
15: 13)
12.7. Lugar proeminente na Igreja primitiva, na hierarquia, administração e culto
12.7.1. Prestígio dos “Confessores”, sobreviventes ao martírio
12.7.2. Mediadores, capazes de manter a fortaleza dos demais
12.7.3. Intercessores - S. Policarpo: “Nós adoramos Cristo como Filho de Deus, mas,
com toda a justiça, veneramos os mártires como discípulos e imitadores do
Senhor” (p. 189)
12.7.4. S. Policarpo: culto das relíquias santos mártires
12.7.5. Costume de introduzir relíquias nos altares – Sacrifício do Deus vivo
12.8. Elemento central da fé
12.8.1. S. Inácio de Antioquia, prestes a ser atirado às feras: “Estou prestes a nascer”
12.8.2. S. Thomas More: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que
Ele quer, por pior que nos pareça, é, na verdade, muito bom”

IV. Os mártires de hoje (séc. XX)


(Pe. Paulo Ricardo de Azevedo e Paulo Henrique de Oliveira, Ed. Ecclesiae)

1. Revolução Mexicana (1910-1917): Beato José Sánchez del Rio (Guerra Cristera)
2. Guerra Civil Espanhola (1936-1939): Santo Irmão Jaime Hilário
3. Nazismo na Polônia: (1939-1945): São Maximiliano Kolbe (Maria Imaculada - flores
banca, pureza, e vermelha, martírio)
4. Comunismo (1917-1989)
4.1. Na Eslovênia (1943): Beato Luis Grozde
4.2. Na Romênia (1949, pós II Guerra): Beato Sizlárd Bogdánffy

8
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 14. A vida cristã no tempo das catacumbas
(Rops, vol. I, cap.5, parte I)
Parte I
I. Sociedade

1. Os cristãos na cidade pagã


2. As catacumbas

II. Ritos

3. A entrada no cristianismo (Batismo e Confirmação)


4. O Símbolo dos Apóstolos, “regra de fé”
5. A Eucaristia, “carne de nosso Senhor”
6. Uma missa nos primeiros tempos da Igreja

Parte II
III. Vida espiritual

7. Vida consagrada pela oração


8. A moral e a penitência

II. Instituição

9. As igrejas e a Igreja
10. A organização dos qiadros
11. Apóstolos, profetas e doutores
12. A unidade da Igreja e o primado de Roma
13. A terceira raça

1
I. Sociedade

1. Os cristãos na cidade pagã


1.1. Vitalidade prodigiosa, a despeito da perseguição e martírio: grão de mostarda
1.2. Na segunda metade de séc. II, penetração e expansão
1.2.1. Povo e elite espiritual (Apóstolos e mártires), intelectual (Apologetas, Filósofos
e Teólogos), institucional (Bispos) - Minoria atuante
1.3. Tensão (intelectual) com os pagãos: desenvolvimento da Literatura Apologética
(Justino, Tertuliano, Carta a Diogneto)
1.4. Não se distinguem pelo vestuário, moradia ou alimentação (Carta a Diogneto)
1.4.1. Fermento na massa
1.5. Calúnias e incompreensões (dramáticas e cômicas)
1.6. Religião cívica pagã
1.7. Profissões proibidas: idolatria e imoralidade
1.7.1. Ruptura com a sociedade (“mundo”)
1.8. Dialética de enfrentamento ostensivo e discrição
1.8.1. Sinal da cruz: fronte (inteligência), lábios (amor) e peito (força)
1.8.2. Sinais “iniciáticos” (místicos das religiões orientais esotéricas): peixe (iniciais
gregas), âncora, navio, bom pastor

2. As catacumbas
2.1. Esconderijo de uma religião clandestina
2.2. Paredes ilustram as virtudes da caridade e fidelidade
2.3. Cemitérios subterrâneos (tradição bíblica)
2.3.1. Proteção legal romana: terreno onde estão os mortos é sagrado
2.4. Prodigiosos labirintos
2.4.1. Em 217, um administrador-geral dos cemitérios será feito papa, São Calixto I
2.5. Roma subterrânea: impressionante, ainda por descobrir
2.5.1. Até hoje foco de interesse religioso (peregrinação), histórico, arqueológico e
turístico
2.5.2. Cinco andares: 25 m abaixo da superfície; 875-1.200 km
2.6. Culto dos corpos dos santos mártires (relíquias): realidade da encarnação (importância
capital da carne) e da transfiguração dos corpos na ressurreição
2.7. Refúgio das perseguições

2
2.7.1. M O´Brien, Padre Elias: um apocalipse (Ed. Vide)
2.8. Imagem dos cristãos sitiando Roma pelos seus túneis subterrâneos

II. Ritos

3. A entrada no cristianismo: Batismo


3.1. Tradição viva da fé praticada há dois milênios (Scott Hahn)
3.1.1. Experiência apocalíptica-messiânica da Parusia
3.1.2. Didaqué: “Venha a graça e acabe este mundo!”
3.2. Batismo
3.2.1. Adultos convertidos (não filhos de pais cristãos – pedobatismo a partir de Santo
Agostinho, séc. V)
3.2.2. Força mimética das conversões: fervor, dignidade e santidade da Igreja primitiva
3.2.3. Catecumenato (candidatos ao Batismo): iniciação na vida (moral e espiritual) e
aprendizagem da doutrina (intelectual)
3.2.4. Bastimo na época da Páscoa: significado teológico-litúrgico – batismo no sangue
de Cristo (Rm 6:3-5; Cl. 2:12): o batizado morre e ressuscita com Cristo)
3.2.5. Didaqué (70-150)
3.2.5.1. Retidão moral (Decálogo): lei do amor
3.2.5.2. Fé na doutrina: Pai-Nosso e Credo apostólico
3.2.5.2.1. Ensino, na presença dos padrinhos e madrinhas
3.2.5.3. Detalhes do cerimonial
3.2.5.3.1. Invocação da Santíssima Trindade, em obediência a Cristo
3.2.5.3.2. Imersão em água corrente, num rio; se não, numa piscina; se não,
por aspersão
3.2.5.3.3. Presença do presbítero ou Bispo (S. Inácio)
3.2.6. Outros ritos acessórios
3.2.6.1. Benção da piscina batismal (que às vezes terá forma arquitetônica de
cruz)
3.2.6.2. Unção de óleo bento sobre o corpo dos catecúmenos
3.2.6.3. Renúncia solene aos erros pagãos e às tentações humanas
3.2.6.4. Confirmação (Crisma): imposição das mãos e consignação, admissão do
catecúmeno no seio da Igreja, como cristão de pleno direito

3
4. O Símbolo dos Apóstolos, “regra de fé”
4.1. Símbolos, desde os primeiros cristãos: sentimento de pertença e unidade
4.1.1. Reunião, conjugação
4.1.2. O que os Apóstolos receberam de Cristo e nos repassaram, isso transmitimos
(Tradição, entrega)
4.1.3. Simbologia dos 12 artigos de fé, cada um conservado por um dos 12 apóstolos
4.2. Essencial: Jesus é Cristo
4.2.1. Eu creio em Jesus (que é filho de Deus)
4.2.2. Dimensão cristológica e trinitária
4.2.3. Criação e redenção
4.2.4. São Paulo (I) e Santo Inácio (I-II)
4.3. Formulação dogmática
4.3.1. Interno: explicitação da Revelação (contra os hereges)
4.3.2. Externo: apologética (contra os pagãos)
4.4. Unidade substancial dos princípios universais (católicos) da fé

5. A Eucaristia, “carne de nosso Senhor”


5.1. Comunidade cristã (Igreja) é o corpo místico de Cristo
5.2. Adoração do mesmo Deus vivo, mediador entre terra e céu
5.2.1. Santos mediadores
5.2.2. Maria
5.3. Missa como rito fundamental: sacrifício de oblação do Deus vivo, do qual se participa
mística e realmente
5.3.1. Atos (2:42; 20:11): “fração do pão”
5.3.2. Declaração explícita e enfática de Cristo: Isto é verdadeiramente o meu corpo
(Scott Hahn)
5.3.3. “A comunhão com o corpo de Cristo é simultaneamente o ápice da união mística
e o remate do esforço moral do cristão por identificar-se com o modelo dos
modelos” (p. 211)
5.4. Distinção radical dos ritos totêmicos primitivos: “Os deuses do Oriente não desceram
à terra por amor dos homens, nem colocaram o resgate da alma no primeiro plano de
seus cuidados. Somente a comunhão cristã é o ato sagrado que tem por fim unir o
homem à perfeição inefável e absoluta, fazendo-o participar da Paixão de Deus.” (p.
212)

4
5.5. Eucaristia significa “ação de graças”
5.5.1. Preces e leituras do Antigo Testamento e Salmos, Evangelhos
5.5.2. Orações coletivas
5.5.3. Aclamações unânimes
5.5.4. Dupla união, com Cristo e com os homens (irmãos)

6. Uma missa nos primeiros tempos da Igreja (São Justino, I-II; CIC)
6.1. Fontes: textos e pinturas nas catacumbas
6.2. Celebração nas casas (não havia edifícios de igrejas)
6.2.1. Apenas no final do século I, pensaram em construir edifícios de igrejas (como as
sinagogas ou os templos pagãos)
6.2.2. No século II, em Roma, Alexandria e Antioquia, já existem templos cristãos,
muito antes de Constantino (séc. IV)
6.3. Etimologia de “missa”: despedida (Ite, missa est) e comida (mensa: repasto, referição
sagrada), kerk-messe (missa da igreja, dia da consagração do edifício ou do santo
padroeiro – feita paroquial anual, grandes festejos comunitários)
6.4. Dia do Senhor, domingo, substitui, desde a Antiguidade, o Sabbath
6.4.1. Precedido pela tarde da véspera (vigília): missa da meia-noite, com celebração
até a aurora (tradição da quinta-feira santa)
6.5. Igualdade social: beijo da paz
6.6. Duas partes
6.6.1. Liturgia da Palavra – geral, aberta aos catecúmenos
6.6.1.1. Introdução: oração e instrução
6.6.1.2. Rogação ou ladainha
6.6.1.3. Pedidos dirigidos ao Senhor (Kyrie eleison)
6.6.1.4. Coleta (celebrante)
6.6.1.5. Leituras: Antigo Testamento, Atos, Cartas, Evangelho
6.6.1.6. Homilía
6.6.1.7. Oração dos fiéis
6.6.2. Liturgia Eucarística – restrita aos fiéis “iniciados” (batizados)
6.6.2.1. Saem os catecúmenos, penitentes e pagãos simpatizantes
6.6.2.2. Diáconos e fiéis calam-se: só o Bispo (como vítima sacerdotal a ser
imolada, in persona Christi)
6.6.2.3. Peditório

5
6.6.2.4. Oferenda
6.6.2.5. Prefácio, Cânon e Consagração; Santo
6.6.2.6. Comunhão: fração do pão
6.6.2.7. Os comungantes trocam entre si o ósculo (beijo) da paz
6.6.2.8. Hosana (grito de aleluia)
6.6.3. “Já o dia desponta no Oriente. Os fiéis voltam para as suas casas com a alma
repleta de felicidade. A vida poderá trazer-lhes os seus sofrimentos e os seus
perigos, mas eles têm Cristo entro de si” (p. 217)

6
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 15 e 16. A vida cristã no tempo das catacumbas
(Rops, vol. I, cap.5, parte II)
Parte I
I. Sociedade

1. Os cristãos na cidade pagã


2. As catacumbas

II. Ritos

3. A entrada no cristianismo (Batismo e Confirmação)


4. O Símbolo dos Apóstolos, “regra de fé”
5. A Eucaristia, “carne de nosso Senhor”
6. Uma missa nos primeiros tempos da Igreja

Parte II
III. Vida espiritual

7. Vida consagrada pela oração


8. A moral e a penitência

II. Instituição

9. As igrejas e a Igreja
10. A organização dos qiadros
11. Apóstolos, profetas e doutores
12. A unidade da Igreja e o primado de Roma
13. A terceira raça

1
III. Vida espiritual

7. Vida consagrada pela oração


7.1. Não somente uma vez por semana, na Missa, se encontra a Deus, mas a todo momento
7.1.1. “Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor” (Rm 14, 8)
7.2. Cristo preparou todos os grandes momentos da sua vida pela oração
7.3. A vida deve transformar-se numa oração perpétua
7.4. São Clemente de Alexandria, grande pensador, apologeta e teólogo, do final do século
II: “Fazemos de toda a nossa vida uma festa, persuadidos de que Deus está presente em
toda a parte e de todas as maneiras...”
7.5. Voltado para o Oriente (que é Cristo, e também em direção a Jerusalém terrestre), o
fiel ora muitas vezes por dia
7.5.1. Ajoelhado, mãos em súplica
7.5.2. Sinal da Cruz na testa, lábios e peito
7.5.3. Agradecimento pelas horas do dia e pelos alimentos
7.5.4. Orações numerosas: da aurora, do crepúsculo, ao levantar-se, ao deitar-se, ao
trabalhar, ao viajar
7.5.5. Horas solenes (litúrgicas,Liturgia da Horas): terça (9h), sexta (12h) e nona (15h)
- hábito herdado do judaísmo
7.5.6. Monges acordam no meio da noite para rezar mais uma vez
7.5.7. Não tinham caráter formular rígido (oração vocal): Pai-Nosso, Escritura
(Salmos)
7.5.7.1. Oração mental: conversa espontânea com Deus
7.5.7.2. Exemplo de São Policarpo, martirizado em 155
7.5.8. Significado mais simbólico e místico (estar com Jesus vivo) do que de eficácia
prática (resultado concreto)
7.5.8.1. Infundir a temporalidade de eternidade: ciclo litúrgico semanal e anual

2
8. A moral e a penitência
8.1. Vida santificada, sacrificada: identificação sobrenatural com a paixão de Cristo, pessoa
amada, imitada, vivida
8.1.1. Caminho moral
8.1.2. Verdade intelectual
8.1.3. Vida espiritual
8.2. Dimensões da experiência cristã primitiva
8.2.1. Moral simples, extraída da Escritura: Didaqué e Pastor de Hermas
8.2.2. Lado místico do esforço moral: Santo Inácio
8.2.3. Lado ascético da luta espiritual: São Clemente
8.3. Casamento
8.3.1. Não um contrato, mas um sacramento (grande, São Paulo): “É em Deus que os
esposos devem se unir, num espírito de amor e de pureza semelhante em tudo
àquele que Cristo demonstrou para com a sua Igreja.” (p. 223)
8.3.2. Virtude da castidade e da pureza
8.3.3. Divórcio é condenado
8.3.4. Celibato: união mística com a pureza absoluta
8.3.4.1. ideal de virgindade mesmo antes do monaquísmo
8.3.5. Dimensão social e jurídica da família
8.4. Bens deste mundo
8.4.1. Temperança e prudência (justa medida) diante do luxo, dinheiro gula
8.4.2. Padres da Igreja são muito atentos à vida e ao ensinamento de Cristo
8.4.2.1. Ordens (Sermão da Montanha)
8.4.2.1.1. Jejum (x gula)
8.4.2.1.2. Esmola (x dinheiro)
8.4.2.1.3. Oração (x autossuficiência)
8.4.2.2. Três Conselhos Evangélicos
8.4.2.2.1. Pobreza (x dinheiro)
8.4.2.2.2. Castidade (x sexo)
8.4.2.2.3. Obediência (x poder)
8.4.2.3. Caridade: justiça e fraternidade
8.4.2.3.1. “Vede como eles se amam!”
8.5. Tentações de um ambiente pagão, apelo da idolatria do ambiente e a sedução da
apostasia

3
8.5.1. Sacramento da penitência: não se sabe ao certo quando se regulamentou
8.5.2. Batismo de adultos lhes apagava os pecados
8.5.3. Faltas leves: jejum, esmolas e orações (ordens de Cristo)
8.5.4. Corrente rigorosa de que idolatria, adultério e homicídio eram imperdoáveis
8.5.5. Venceu a corrente misericordiosa (seguidora de Cristo) de penitência para todos
os pecados (sobretudo com o Papa São Calixto)
8.5.6. Meio de renovação moral que nenhuma filosofia ou religião haviam estabelecido
até então: virtude da esperança, nenhuma derrota é definitiva, sempre se pode (e
se deve) recomeçar
II. Instituição
9. As igrejas e a Igreja
9.1. Dimensão eclesial: caráter coletivo e social – unidade
9.2. Contato pessoal e íntimo não elide, antes pressupõe o amor mútuo e a unidade
9.3. “Ninguém se salva sozinho: cada um é responsável por todos” (p. 226)
9.3.1. Sentido apostólico
9.4. Cartas às comunidades: S. Paulo, Inácio, Policarpo, Clemente
9.5. Igreja (ekklesia)
9.5.1. Assembleia do Senhor (Dt. 23: 1-8)
9.5.2. São Paulo
9.5.2.1. Reunião de fiéis
9.5.2.2. Comunidades dos crentes
9.5.2.3. Prova mística da presença de Cristo na terra (corpo de Cristo)
9.5.2.4. No céu, multidão dos santos que Ele salvou (Igreja triunfante)
9.6. Presente em cada “cidade”
9.6.1. Autonomia local
9.6.2. Unidade universal
9.7. Notas distintivas da Igreja teândrica (humana-sensível e divina-espiritual)
9.7.1. Una e Católica (Jo 17: 21; S. Paulo, S. João, Didaqué, S. Clemente, S. Inácio)
9.7.2. Apostólica (S. Irineu, Inácio, Clemente)
9.7.3. Santa (Cartas, Apocalipse, Apologistas)
9.8. Vocação histórica transcendente: “Inserida na história, a ação da Igreja permanecerá,
nos seus desígnios, transcendente a toda história e orientada para o reino de Deus” (p.
229)
9.9. “A igreja é a encarnação permanente do Filho do homem” (Teólogo Moehler)

4
10. A organização dos quadros
10.1. Jesus organizou a Igreja com 12 e 70
10.2. Apóstolos
10.2.1. Anciãos, presbíteros (At. 11)
10.2.2. Vigilantes, epíscopos ou bispos (At. 20)
10.3. Princípio da autoridade e hierarquia: imagens do exército e do corpo humano
10.4. Hierarquia
10.4.1. Dupla: bispos-presbíteros (sinônimos) e diáconos
10.4.2. Tripla bispos, presbíteros e diáconos
10.5. Funções
10.5.1. Diáconos
10.5.1.1. Também mulheres: diaconisas
10.5.1.2. Funções litúrgicas e práticas
10.5.1.3. Heroísmo do martírio
10.5.2. Presbíteros (Sacerdotes, Padres)
10.5.2.1. Importância como agrupamento coletivo, “Senado de Deus”;
10.5.2.2. Representam a sabedoria e a experiência coletiva da Igreja;
10.5.2.3. Princípio democrático
10.5.3. Epíscopos (Bispos)
10.5.3.1. Sistema administrativo das cidades imperiais: dioeceses
10.5.3.2. Desenvolvimento da “monarquia episcopal”
10.5.3.3. Dinastia episcopal, cuja lista sucessória se guardará piedosamente
10.5.3.4. Escolhido pela igreja local (p. democrático), o bispo será a autoridade
local suprema, (princípio monárquico), o pastor.
10.5.3.5. Funções
10.5.3.5.1. Litúrgicas: Sacramentais
10.5.3.5.2. Catequéticas: ensinar a Doutrina
10.5.3.5.3. Administrativas: bens da comunidade
10.5.3.5.4. Vigilância espiritual e moral (episcopo significa vigilante)
10.5.3.5.5. Sistema episcopal como instituição histórica decisiva
10.5.3.5.5.1. Firme maleabilidade
10.5.3.5.5.2. Solidez doutrinal
10.5.3.5.5.3. Eficácia material

5
10.5.3.5.6. No final do século IV, na transição dramática do paganismo para
o cristianismo, os Bispos serão as pedras angulares, os verdadeiros
alicerces da sociedade (Rops, vol. II,
10.6. Dimensão humana (virtudes pessoais dos líderes) e divina (sucessão apostólica)
não mutuamente excludentes
10.6.1. A graça age sobre a natureza, e não contra ela (Santo Tomás de Aquino)

11. Apóstolos, profetas e doutores


11.1. Fim do séc. II, organização eclesiástica concluída, nos traços que perduram até
hoje
11.2. Igreja primitiva “carismática”: grito brusco, hino improvisado, discurso ou um
fluxo de palavras (1 Cor. 12: 28)
11.2.1. Influxo do Espírito Santo: “carisma”, glossolalia (dom de línguas)
11.2.2. Parusia (segunda vinda) iminente de Cristo
11.2.3. Reflexão hermenêutica: movimento (neo)pentecostal
11.3. Apóstolos: missionários sem casa-mãe, sem hierarquia e organização
11.3.1. Tradição dos missionários destemidos e desapegados, que renunciam tudo pelo
Reino dos Céus
11.4. Profetas: testemunhas de Deus, porta-vozes inspirados
11.4.1. S. Inácio
11.4.2. Risco de oposição à hierarquia: heresia de Montano
11.5. Doutores: intelectuais que têm como graça especial estudar e propagar a
doutrina, herdeiros e rivais dos
11.5.1. Escribas e doutores da Lei, em Israel, que dedicavam a vida toda a ciência de
penetrar nos segredos da Escrituras
11.5.2. Filósofos gregos, cuja dialética muitos dominavam perfeitamente (como
Orígenes e S Agostinho) e com os quais discutirão firmemente par a glória de
Cristo
11.5.2.1. Grande tradição intelectual da Igreja
11.5.2.2. Risco da heresia gnóstica – vigilância da “filosofia como mãe de todas as
heresias” (Tertuliano)
11.5.2.3. Tensão entre fé e razão (filosofia), Atenas e Jerusalém
11.5.2.3.1. Oposição inconciliável de Tertuliano

6
11.5.2.3.2. Conjunção harmônica, com primazia racional da fé, de
Agostinho e Aquino (Doutor Comum da Igreja)
11.6. Harmonia entre esses “membros” de um só corpo
11.6.1. Hierarquia: conservadores do depósito sagrado e agentes dos sacramentos
11.6.2. Apóstolos: missionários infatigáveis que semeiam e expandem a Boa Nova
11.6.3. Profetas: tarefa apocalíptica e escatológica
11.6.4. Doutores: pensadores e professores
11.7. “Em todas as ordens, em todas as direções, a Igreja progride” (p. 236)
11.8. Risco de dispersão e perda da unidade

12. A unidade da Igreja e o primado de Roma


12.1. Problema institucional da unidade que surge do crescimento
12.1.1. Não estamos mais na primeiras comunidades de “irmãos” reunidos em torno dos
apóstolos e seus primeiros sucessores
12.2. Controvérsia historiográfica e teológica sobre o Papado
12.3. Em 95, o Bispo Romano São Clemente envia uma embaixada de três homens,
portadores de uma carta aos Coríntios
12.3.1. Modelo de sabedoria, prudência, inteligência e caridade
12.3.2. Fala com autoridade, clareza, como quem quer ser obedecido
12.4. Em 106, S. Inácio de Antioquia se dirige à Igreja de Roma: “À Igreja que preside
no lugar da região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de benção, digna
de louvor, digna de ser exaltada, digna na castidade e presidente da fraternidade
segundo a lei de Cristo.” (p. 237)
12.5. Em 140, O Pastor de Hermas confia ao Bispo de Roma o cuidado de transmitir
a sua carta a todas as Igrejas
12.6. Em 180, S. Irineu de Lyon enfrentando as heresias gnósticas, cita a autoridade
da doutrina da Igreja de Roma
12.7. Historiador protestante von Harnack: “...os elementos capitais do catolicismo
remontam à idade apostólica [...] assim triunfa o conceito que os católicos forma dessa
história.” (p. 238)
12.8. Tradição apostólica de S. Pedro e S. Paulo (S. Clemente)
12.8.1. Mártires

7
13. A terceira raça
13.1. Nem gregos, nem judeus (S. Paulo); terceira raça (S. Agostinho)
13.2. A partir dos fins do séc. II, o mundo romano caminha para o seu declínio
13.2.1. E a Igreja cresce e se organiza na proporção inversa
13.3. Revolução espiritual e histórica – civilização: moral, social e cultural
13.4. Arte
13.4.1. Afrescos de estilo pompeiano
13.4.2. Baixos-relevos inspiram-se na escultura romanda
13.4.3. Simbolismo: Bons Pastores, Orantes, Virgens-Mães
13.4.4. Dimensão pedagógica e litúrgica
13.4.5. Princípios estéticos
13.4.5.1. Sobriedade
13.4.5.2. Submissão ao real (espiritual)
13.4.5.3. Humildade que vai recobrar a consciência criadora
13.5. Carta a Diogneto (mais antida das obras-primas cristãs depois da Escritura): “O
que a alma é para o corpo, isso são os cristãos para o mundo. Assim como a carne odeia
a alma e lhe faz guerra, assim os cristãos estão em permanente conflito com o mundo.
Assim como a alma cativa conserva o corpo que a aprisiona, assim fazem os cristão no
mundo” (p. 242)
13.5.1. Fermento e salvaguarda da sociedade em que se desenvolve

8
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 18. Nas fontes das letras cristãs – Novo Testamento


(Rops, Cap. VI)
I. Evangelhos (itens 1 a 5)
II. Padres da Igreja (itens 6 a 12)

1. Da palavra viva aos primeiros escritos


1.1. Jesus nada escreveu, não fundou uma academia ou seita filosófica
1.2. Mas antes do término do séc. I, o essencial da sua vida e doutrina cristalizou-se em
livro
1.3. No século II, já temos uma verdadeira literatura cristã
1.3.1. Vitalidade da Igreja nascente
1.3.1.1. Heroísmo moral dos mártires
1.3.1.2. Gênio organizador, institucional dos Bispos
1.3.1.3. Fecundidade intelectual dos escritores (desde São Paulo)
1.4. Desenvolvimento orgânico da própria vida, unida ao intelectual e ao Espírito
1.5. Fala simples e profunda de Cristo: “Jamais homem algum falou como este homem!”
(Jo 7, 46)
1.5.1. Acessível aos iletrados e imponente aos eruditos
1.5.2. Estilo oral, ritmado, mnemônico tradicional judaico: paralelismo, parábola,
repetição, aliteração, palavras-chave
1.5.3. Memória e transmissão oral
1.5.3.1. Os alunos das escolas rabínicas tinham como regra de ouro escutar o
mestre e repetir as suas máximas com uma exatidão escrupulosa (Talmud e
Corão)
1.6. Primeira catequese (“a tradição”, São Paulo; “a via do Senhor”, Atos do Apóstolos)
1.6.1. Simples, mesmo simplificadora

1
1.6.2. Biografia em quatro fases (presente nos Evangelhos)
1.6.2.1. Preparação para o Ministérios
1.6.2.2. Ação na Galileia
1.6.2.3. Permanência na Judeia
1.6.2.4. Paixão e Ressurreição
1.6.3. Doutrina
1.6.3.1. Sermão da Montanha
1.6.3.2. Parábolas
1.6.3.3. Conselhos aos discípulos
1.6.3.4. Discursos escatológicos
1.6.4. Transmissão oral por cerca de 20 a 30 anos
1.7. Ao chegar no mundo grego, carente dos mesmos meios mnemônicos judaicos, tornou-
se indispensável a escrita da Doutrina
1.7.1. Judeus helenizados em Jerusalém, depois em Antioquia, onde se falava o arameu
e o grego
1.7.2. São Lucas alude aos primeiros esboços de livros que circulavam, “pré-
Evangelhos”
1.7.2.1. Livrinhos muito simples e esquemáticos, com notas do essencial
1.7.2.2. Palavra e tradição “viva”: ouvir quem conheceu o Mestre, ou o Apóstolo:
1.7.2.2.1. “Este amor pela filiação direta, pela transmissão de homem a
homem, tem qualquer coisa que comove” (p. 246)
1.7.2.2.2. “A letra mata; o Espírito vivifica” – (2 Cor. 3: 6)
1.7.2.3. Risco de deturpação e variação – necessidade de fixação

2
2. Mateus, Marcos e Lucas, os primeiros “evangelistas”
2.1. Três Evangelhos sinópticos (que se podem ler simultaneamente)
2.1.1. Semelhanças fundamentais (mas também diferenças)
2.1.2. Questões exegéticas infinitas
2.1.2.1. Bíblia de Navarra e do Peregrino
2.1.2.2. R. Brown, Introdução ao Novo Testamento
2.1.2.3. H. Koester, Introdução ao Novo Testamento, vol. 2
2.1.2.4. Curso do Centro de Evangelização São João Paulo II – Catedral)
2.2. Não são obras literárias, mas testemunhos com a finalidade de transmitir o Mestre que
conheceram
2.3. Variações de autor, comunidades, público etc.

2.4. Mateus
2.4.1. Mais antigo, discípulo de Cristo (cobrador de impostos)
2.4.2. Escrito entre 50 e 55
2.4.3. Embora impregnado de espírito grego, é um judeu que escreve e pensa em
aramaico, para os judeus
2.4.3.1. Alusões às letras do alfabeto hebraico, às astúcias farisaicas, às
expectativas messiânicas
2.4.3.2. Não temos mais o original aramaico, apenas a versão grega posterior aos
outros dois Evangelhos

2.5. Marcos
2.5.1. Judeu helenista, homem do povo, que conhece mas não domina o grego
2.5.2. Trabalhou com o sábio Barnabé e com São Paulo
2.5.3. Discípulo de São Pedro em Roma, a quem conhecia desde a adolescência
2.5.3.1. Tradutor de Pedro
2.5.3.2. Simples, incisivo e realista, como Pedro
2.5.4. Seu Evangelho não tem muita arte, nem muita ordem, mas está repleto de sabor
e fé; vigor e raro frescor de visão
2.5.5. Escrito entre 55 e 62
2.5.6. Público não judeu, mas pagãos que desconheciam a Palestina e o judaísmo

3
2.6. Lucas
2.6.1. Companheiro de São Paulo (“médico querido”)
2.6.2. Cidadão de Antioquia
2.6.3. Profissão científica: acostumado a refletir e a recorrer às fontes, buscando
evidências e nexos causais
2.6.3.1. Interrogou testemunhas na Palestina, provavelmente a Mãe do Senhor
2.6.3.2. Serviu-se do texto de Marcos
2.6.4. Intenções mais históricas e com um plano mais refletido e coeso
2.6.5. Escrito em 63

3. Gestas e textos dos Apóstolos


3.1. Jesus, mediador do Pai; Apóstolos (Santos), mediadores de Jesus
3.2. Fidelidade e exemplaridade apostólica: “Tenhamos sem cessar diante dos olhos os
excelentes Apóstolos!” (São Clemente, séc. III)
3.3. Compilação dos Atos dos Apóstolos e das Epístolas

3.4. Atos dos Apóstolos


3.4.1. Praticamente o único documento sobre a Igreja primitiva
3.4.2. Não tem equivalente na literatura cristã: obra viva, palpitante, que narra os
começos da Igreja
3.4.3. Entre 63 e 64 (entre o primeiro e segundo cativeiro de São Paulo em Roma)
3.4.4. Autor: Evangelista Lucas (tradição antiga e análise interna dos textos)
3.4.4.1. Dedicatórias, mesmo começo do Evangelho
3.4.4.2. Unidade de estilo, intenção e doutrina
3.4.4.3. Mesmo autor bem instruído, informado e inteligente
3.4.4.4. Discípulo de São Paulo
3.4.4.5. Não é um historiador, mas um propagandista
3.4.5. Não é muito teológico, daí a necessidade de escritor morais, espirituais e
teológicos das Epístolas

4
3.5. Epístolas paulinas
3.5.1. Ditadas a um secretário e assinadas por São Paulo, em meio ao seu incessante
trabalho apostólico missionário
3.5.2. Dirigidas a comunidades, explicando, exortando, solucionando incidentes
práticos e refletindo sobre questões espirituais elevadas
3.5.3. Estilo orgânico, unido à vida, incomparável: ardente, irônico e terno, entusiástico
e patético, polemista e místico
3.5.4. Ao serem recebidas, são copiadas e envidas a outra comunidade – dimensão
eclesial da comunhão dos santos
3.5.5. Escritas em 52 e 66
3.5.6. Nada acrescentam à mensagem de Jesus, mas a interpretam de forma lúcida e a
aproximam das preocupações humanas
3.5.7. Germe da Teologia: razão e fé

3.6. Epístolas Católicas


3.6.1. Comparadas às de São Paulo, parecem pálidas
3.6.1.1. Mesmo a Carta aos Hebreus, que, embora se situe na linha de sua
pregação e autoria, provavelmente não é de São Paulo
3.6.2. Mas todas são relevantes, uma pedra essencial à Catedral do Novo Testamento
3.6.3. São Tiago, “irmão do Senhor”, primeiro Bispo de Jerusalém, uma das três
colunas da Igreja Primitiva, íntimo de Cristo, ao lado de Pedro e João
3.6.3.1. Ensinamentos morais
3.6.4. São Pedro (2), Príncipe dos Apóstolos, qualidade da fé, estilo sóbrio e rústico,
sublimes apelos à esperança e caridade
3.6.5. São Judas, irmão de Tiago, um dos Doze, escrita por volta de 66, no momento
em que Jerusalém sucumbirá, revela pureza de coração
3.6.6. São João (3), um dos grandes pilares da inteligência cristã

4. A obra de São João


4.1. (Problema da) unidade da autoria dos cinco escritos
4.1.1. Evangelho
4.1.2. Três Cartas
4.1.3. Apocalipse
4.2. Tradição considera o “discípulo que Jesus amava” (Jo 21: 20-24)

5
4.2.1. Assinatura da humildade: modéstia de não nomear a si e aos seus familiares
4.2.2. Topografia: descrição de lugares por quem os viu
4.2.3. Tradição antiga (séc. II): Policarpo, Mélito, Irineu, Polícrates, Clemente
4.2.4. Se não fosse o Apóstolo de Cristo, por que a Igreja elevaria a sua obra ao lado
dos Evangelhos e Cartas, se destoa tanto deles?
4.3. Personalidade ímpar
4.3.1. O mais jovem e amado dos Apóstolos
4.3.2. Filho de Zebedeu, irmão de Tiago, “filhos do trovão”
4.3.3. Um dos três íntimos, com Pedro e Tiago
4.3.4. Deitou a cabeça no peito de Cristo
4.3.5. Acompanhou-o aos pés da Cruz
4.3.6. Acolheu a Virgem Maria como a sua mãe
4.3.7. Escapou dos suplícios e refugiou-se em Éfeso, rodeado de respeito universal,
com elevada dignidade de um sumo-sacerdote e a violência luminosa de um
profeta
4.4. Outro contexto histórico
4.4.1. Apocalipse: 92-96
4.4.2. Evangelho: 96-104
4.4.3. A vida de Cristo já é conhecida
4.4.4. Realidade das perseguições: provações e tormentos terríveis
4.4.5. Saída definitiva do judaísmo para imergir no helenismo
4.4.5.1. Idéia platônica do Logos de Deus, do Verbo, já desenvolvida por Fílon
de Alexandria
4.4.6. Resposta a heresias
4.4.6.1. Docetismo, que nega a realidade humana de Cristo
4.4.6.2. Gnosticismo, que a compromete em nebulosas especulações filosóficas e
abstratas
4.4.6.3. Nicolaísmo, que invoca sem razão a autoridade de um dos primeiros
diáconos e que, sob o pretexto (gnóstico-dualista) de que a carne é
desprezível, fomenta a pior imoralidade

6
4.5. Apocalipse
4.5.1. Em torno de 92-96, na Ilha de Patmos, deportado pelo Imperador Domiciano
4.5.2. Testemunha do drama das perseguições
4.5.3. Livro estranho, misterioso e fabuloso, com seu turbilhão de imagens, bestiário
fantástico, símbolos fulgurantes
4.5.4. A corrente apocalíptica da tradição judaica de Daniel e Ezequiel estava viva no
séc. I
4.5.5. Combinações misteriosas de algarismos e designações esotéricas permitem ter
em vista a situação presente, pelos que conhecem os símbolos
4.5.6. Drama essencial do homem: oposição entre o mundo e a palavra divina
4.5.6.1. Esperança da salvação em tempos de tribulação, por mais terríveis que
sejam os abalos da História
4.5.6.2. Realeza última do Salvador, o Cordeiro de Deus, a Palavra de vida

4.6. Evangelho
4.6.1. Já em liberdade, em Éfeso
4.6.2. Conhecendo os dados dos três Evangelhos sinópticos, acrescenta sua experiência
e reflexão pessoal, sendo metade do Evangelho composta por elementos novos
4.6.3. Ano 100, efervescência espiritual na Ásia Menor: Evangelho Espiritual
4.6.3.1. Contra os gnósticos, que negam a Encarnação e a Eucaristia
4.6.4. Ponto de partida da Teologia e Filosofia Cristã, junto com São Paulo
4.6.4.1. Cristo muito concreto e altamente metafísico, o Logos de Deus
4.6.5. Sentido espiritual dos milagres: a multiplicação da vida anuncia o pao da vida, a
ressurreição de Lazáro promete a cada um a vida eterno
4.6.6. Ponto culminante: Prólogo (lido no final de toda Missa Tridentina)
4.6.6.1. Deus (Razão) dos filósofos agora é o Deus do amor

4.7. Epístolas
4.7.1. Contemporâneas do Evangelho (ano 100)
4.7.2. A 1ª é a mais importante e insiste no messianismo de Jesus e na sua divindade
4.7.3. As outras duas denunciam e respondem os erros dos adversários dos dogmas
(hereges)

7
5. A Igreja fica a sua escolha: o Cânon
5.1. Igreja determina os 27 livros inspirados da Nova Aliança, Testamento
5.1.1. Não de forma rígida, a priori, ex cathedra
5.1.2. Nasceu da vida, com serena naturalidade
5.1.2.1. Dúvidas, hesitações
5.1.3. Rigorosa: prudência, moderação e sabedoria dos canônicos
5.2. Menos de um século depois da morte de Cristo, por volta de 130
5.2.1. Cânon de Muratori, documento que comprova o Cânon no final do séc. II
5.2.2. Concílio de Cartago (397) confirma a lista (reafirmada no Concílio de Trento,
no século XVI, contra o protestantismo)
5.3. Literatura apócrifa e herética (influente na arte e cultura medieval)
5.3.1. Evangelho dos Hebreus, dos egípcios (ascético e gnóstico), Pedro (docetismo),
Nicodemos, da Infância
5.3.2. Atos de Pilatos, Pedro, Paulo, André, João, Tomé, Filipe e Tadeu
5.3.3. Epístolas
5.3.4. Apocalipses (5 ou 6)
5.4. Critérios do texto canônico
5.4.1.1. Catolicidade: aceito pelo conjunto de comunidades
5.4.1.2. Com a gradual codificação da Liturgia, a leitura na Missa conferiu
consciência pública dos fiéis
5.4.2. Apostolicidade: proveniência direta dos discípulos de Jesus
5.5. Questões ulteriores sobre os 27 escritos
5.5.1. Completos – poucas palavras de Cristo não recolhidas
5.5.2. Originais – pequenos suplementos
5.5.3. Ordenação – justaposição por fidelidade à originalidade, e não uma junção dos
textos (como tentaram alguns, como Taciano e Marcião)
5.6. Padres da Igreja citarão os 27 livros como os rabinos de Isral costumavam citar o
Antigo Testamento
5.7. Tesouro vivo na bolsa de todos os missionários e monges: fonte inesgotável, mas não
exclusiva da espiritualidade ascética e mística
5.8. Fonte fundamental da Fé, ao lado da Tradição e do Magistério, dos quais a própria
Escritura provêm
5.8.1. Tertuliano: “O primeiro artigo da nossa fé é que não existe nada que devamos
crer fora dele” (do Novo Testamento)

8
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 18. Nas fontes das letras cristãs – Padres da Igreja
São Justino, primeiro filósofo cristão
(Rops, Cap. VI, parte 2)

6. Padres da Igreja
6.1. Reunião de livros pelo abade Migne (séc. XIX)
6.1.1. 227 volumes de Padres latinos
6.1.2. 161 volumes de Padres gregos
6.1.3. Não incluiu Oadres sírios, coptas e armênios
6.1.4. Arco cronológico muito amplo
6.1.4.1. Ocidente: até o séc. XIII
6.1.4.2. Oriente: até o séc. XV
6.2. Influência decisiva, fecunda e duradoura na Tradição espiritual e intelectual da Igreja
6.2.1. Atual renovação dessas fontes: movimento teológico do ressourcement, no
contexto da Nouvelle Théologie (1935-1960), Joseph Ratinzger, C.Vaticano II
6.3. Padre
6.3.1. Bispo, autoridade doutrinal e disciplinar
6.3.2. Defensores da fé, mesmo sem a autoridade episcopal
6.4. Condição (nem sempre obrigatória, pois Tertuliano, Orígenes e Eusébio, por exemplo,
não são santos)
6.4.1. Antiguidade (primeiros cinco ou seis séculos), história
6.4.2. Ortodoxia, doutrina
6.4.3. Ortopraxia, santidade
6.5. Doutor da Igreja
6.5.1. Não se limita à Antiguidade (Doutor Comum é Santo Tomás, séc XIII)
6.5.2. Grau a mais pela ciência eminente ciência, rigorosa ortodoxia e santidade
exemplar

1
6.6. Matéria imensa, inexaurível: ascética, mística e teológica
6.6.1. Escriturística: exegese bíblica e tipologia (articulação do Antigo ao Novo
Testamento; Catena Aurea, Bíblia de Navarra)
6.6.2. Pedagógica: exortação à conversão
6.7. Literatura viva (Rops o repete incessantemente): “o seu caráter mais essencial, que é o
de serem [esses dois traços, o escriturístico e o pedagógico] um literatura viva,
profundamente unida à própria existência da Igreja e ao seu desenvolvimento” (p. 266)
6.8. Dialética da tradição e inovação: “A ação de um homem ou de uma sociedade não é
verdadeiramente fecunda se não encontrar o seu exato equilíbrio entre o passado e o
futuro, entre os valores da tradição e as audácias do empreendimento.” (p. 266)
6.9. Categorias
6.9.1. Padres Apostólicos (séc. I-II)
6.9.1.1. Herdar e desenvolver a espiritualidade e a inteligência dos Apóstolos
6.9.1.2. Exemplos: Santo Inácio e São Policarpo
6.9.2. Padres Apologistas (séc. II-III)
6.9.2.1. Defender a fé contra as heresias
6.9.2.2. Exemplos: São Justino, Tertuliano Santo Irineu
6.9.3. Teólogos
6.9.3.1. Difundir e organizar a Doutrina
6.9.3.2. Exemplos: Clemente e Orígenes; Santo Agostinho e S. Jerônimo

7. Padres apostólicos
7.1. Duas primeiras gerações depois dos Apóstolos, até o séc. II
7.2. Língua grega, nem sempre refinada
7.3. Todas as raças e nações, romanos, sírios, asiáticos e egípcios
7.4. Diferentes condições sociais: bispos, comerciantes
7.5. Importantes documentos históricos da Igreja Primitiva, com as idéias-mestras de sua
Doutrina
7.5.1. Trindade
7.5.2. Encarnação
7.5.3. Igreja - Corpo Místico e Eposa de Cristo
7.6. Problemas fundamentais
7.6.1. Separação de Israel
7.6.2. Embate com Roma

2
8. As exigências do pensamento
8.1. No começo, a Igreja não contava com intelectuais (ressalvando S. Paulo e João)
8.1.1. Ironia dos adversários: religião de gente simplória e inculta
8.2. A partir do Reinado de Adriano, século II, começa a atividade intelectual intensa da
Igreja
8.3. Contexto intelectual: a Filosofia estava “na moda”, paixão pelas ideias, inquietação
existencial, questões morais e metafísicas, prestígio dos mestres
8.3.1. Pluralidade de escolas helenísticas: peripatéticos, neoplatônicos, estoicos
8.3.2. Rivalidade intelectual e social: disputa por público e discípulos
8.4. “Platonismo” crítico dos Padres da Igreja
8.4.1. Existência de Deus
8.4.2. Imortalidade da alma
8.4.3. Distintção entre bem e mal
8.4.4. Juízo final
8.5. Justino inaugura a técnica de usar a argumentação filosófica em favor da Doutrina,
seguido por Orígenes e Agostinho
8.6. Precursor judeu: Fílon de Alexandria
8.6.1. Rabino
8.6.2. Filósofo
8.6.3. Teoria do Logos, pensamento de Deus, laço imanente do mundo, arquétipo de
Criação (que S. João denomina, quarenta anos mais tarde, do Verbo feito carne)
8.6.4. Alegoria bíblica: ordem interior e espiritual, não nacional e social (messianismo
político) , esvazia o Antigo testamento de todo o conteúdo e histórico, anulando a
ascensão do Messias
8.6.5. Epístola de Barnabé é de origem alexandrina e se situa na linha de Filon
8.6.6. Escola de Alexandria: Orígenes e Clemente

9. Os apologistas do século II: São Justino


9.1. Contexto
9.1.1. A catequese por via da autoridade ou baseada no sentimento não é suficiente
9.1.2. O testemunho dos mártires precisa ser explicado, principalmente aos não cristãos
9.1.3. Responder às calúnias e incompreensões
9.1.4. “Política da mãe estendida”, conduzida com todo coração e com sinceridade total
(não ingenuidade de buscar quem os odiava e desprezava)

3
9.2. Origem na Grécia, pátria das ideias
9.2.1. Aristides
9.2.2. Carta a Diogneto (110), obra-prima, de uma alma simples e pura, estilo brilhante
9.2.2.1. Prolongamento de São Paulo, mas em forma clássica, decantado e
pacificado
9.2.2.2. Cristão está no mundo “como se não estivesse”
9.3. Outros apologistas
9.3.1. Traciano
9.3.2. Atenágoras
9.3.3. Teófilo
9.3.4. Minúcio Félix

Parte II. São Justino

1. Introdução: o maior e mais célebre apologista


1.1. Embora com uma obra mal ordenada e de estilo discutível
1.2. Kreeft, The platonic tradition: Justino (Sócrates), Agostinho (Platão) e Aquino
(Aristóteles)
2. Vida
2.1. Proveniente da Palestina, do mundo grego, conhecedor das tradições exegéticas judeu-
cristãs
2.1.1. Alexandria: inteligência judaica, assimilando a filosofia grega, desde o séc. III
a.C.
2.1.2. Tradução dos Setenta
2.1.3. Livro da Sabedoria
2.1.4. Filón de Alexandria
2.2. Filósofo que busca intensamente a verdade, dialético consumado, vontade de
acolhimento e abertura de alma
2.2.1. Interesse pela Filosofia desde jovem: autêntica busca da sabedoria e verdade
2.2.2. Viajem de cidade em cidade, buscando sabedoria
2.2.3. Passagem pelas “seitas” estóica, peripatética e, decisivamente, platônica
2.2.4. Platonismo: o único fim verdadeiro da filosofia era o conhecimento de Deus e a
união com ele
2.3. Encontro com um ancião cristão que lhe apresentou a consumação cristã do platonismo
(Pascal, séc. XVI: “Platão, para preparar o cristianismo”)

4
2.3.1. Diálogo “socrático”
2.3.2. “ninguém pode compreender, se Deus e seu Cristo não lhe concedem que
compreendam”
2.3.3. Conversão e apostolado da inteligência: a fé cristã é “a única filosofia segura e
proveitosa”
2.4. Convertido, continua filósofo, funda escolas cristãs em Éfeso e Roma, ensinando
exatamente como os filósofos, mas em conformidade com Cristo
2.4.1. Filosofia completa: Teologia do Logos de Cristo como método universal de
pensamento (p. 279)
2.4.2. Prestígio entre números alunos
2.4.3. Inveja dos filósofos pagãos
2.4.4. Cristianismo começa a ser levado a sério, intelectualmente
2.5. Novidade
2.5.1. Para o cristianismo: teólogo leigo, fazendo apostolado a título pessoal
2.5.2. Para o paganismo: filósofo cristão
2.5.3.
2.5.4. Retiro a uma praia solitária, meditação profunda, contemplação platônica das
ideias, mas mesmo assim não se lhe apaziguou a alma
2.6. O martírio completa a sua “obra”, pois foi denunciado por um filósofo pagão, a quem
refutou num debate público, no tempo do Imperado Marco Aurélio. Em 163, ao ser
interrogado pelo prefeito Rústico, mais uma vez expôs a sua fé com fervor intrépido.
Respondeu com um ato de esperança a ameaça de açoites e cutelo e cortaram-lhe a
cabeça.
3. Obra abundante, da qual restou apenas:
3.1. Diálogo com Trifão, contra o exclusivismo judaico dos rabinos presos na Lei
3.2. Duas Apologias
3.2.1. Contra os caluniadores, em defesa da vida exemplar e virtuosa dos cristãos
3.2.2. Exposição da Doutrina, na esteira de Fílon e S. João
3.2.3. Tipologia bíblica
3.3. Não temos as suas obras propriamente teológicas contra a gnose e o marcionismo
4. Desafio da Filosofia (J. Liébart)
4.1. Platonismo
4.1.1. Ideal de elevação intelectual e moral pelas dialética inteligível real e sensível
aparente

5
4.1.2. Risco do dualismo
4.2. Estoicismo
4.2.1. Bondade da criação
4.2.2. Unidade do composto humano: corpo e alma
4.2.3. Unidade e igualdade do gênero humano
4.2.4. Risco do panteísmo: Deus como alma do universo
4.2.5. Risco do determinismo
4.2.5.1. Ausência de destino individual depois da morte
4.2.6. Risco do racionalismo: exclusão a priori de tudo o que não é demonstrável pela
razão
4.2.6.1. Fé como negação da razão, do “logos”, demonstração
5. Fé e razão
5.1. Não se contradizem, porque a fonte é a única, o Logos de Deus
5.2. Logos universal: razão de Deus que governa o mundo e a história, mesmo antes da
Encarnação
5.2.1. Daí a abertura ao pensamento humano racional em geral e à filosofia grega em
particular
5.2.2. Otimismo
5.2.3. Elogio constante de Sócrates, que conheceu o Logos antes da Encarnação e que
“prepara o Evangelho”
5.3. Concepção de harmonia presente na Constituição Gaudim et Spes do Concílio Vaticano
II e na Encíclia Fides et Ratio
5.4. Risco do “concordismo” fácil e enganador
5.4.1. Trindade – Tríade neoplatônica
5.4.2. Cristo – ser intermediário Deus e o mundo
5.5. Primazia da fé
5.5.1. Fora de Cristo, a humanidade só possui sementes do Logos, verdades
fragmentárias e tateantes
5.5.2. Somente o Evangelho revela o Logos “absolutamente inteiro”, verdade plena
5.5.3. Sócrates e Jesus
5.5.3.1. Ninguém dá a vida por Sócrates, cuja sabedoria não passa de uma
produção da razão humana (aliás, criada por Deus)
5.5.3.2. Dá-se a vida por Cristo, que é, ele mesmo a presença de Deus e a verdade
absoluta, a fonte da própria vida

6
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 20. Nas fontes das letras cristãs – Padres da Igreja


Santo Irineu de Leão e a heresia gnóstica
(Rops, Cap. VI, parte 3)

10. “Oportet haereses esse” (convém que haja hereges, para que se possam reconhecer os fiéis, 1
Cor. 11: 19)
10.1. Grande efervescência intelectual e espiritual e pluralidade de doutrinas dos séculos
I-III
10.1.1. Tentação ao sincretismo
10.1.2. Especulações aberrantes sobre Cristo, relativizando a encarnação
10.1.2.1. Literalismo, rigorismo
10.1.3. Paganismo: pitagorismo, platonismo, mitraísmo
10.1.4. Mistérios orientais, como o dualismo persa (gnosticismo)
10.1.5. Especulações herméticas e egípcias (Hermes Trimegisto)
10.1.6. Fidelidades judaicas
10.2. Heresia: “amplificar e selecionar alguns dentre os dados autênticos do dogma, da
tradição ou da moral, a ponto de falseá-los completamente” (p. 282)
10.3. Milenarismo: vinda iminente de Cristo, com o reinado temporal de mil anos, junto
com os justos, que gozariam de mil delícias, para depois se realizar o Juízo Final.
10.4. Montanismo:
10.4.1. manifestação “carismática” do Espírito em certos cristãos favorecidos.
10.4.2. O frígio Montano seria o único agraciado com o dom da profecia.
10.4.3. Evangelização frenética: o “mundo chegava ao fim! Glória a Montano, o intérprete
do Paráclito, sua presença viva, ‘lira vibrante sob o arco de Deus!”
10.4.4. Difusão no misticismo do Oriente
10.4.5. Doutrina acessível
10.4.6. Moralidade austera atraente – martírio obrigatório
10.4.7. Surto de quase-loucura debastou muitas comunidade da Ásia e do Ocidente

1
10.5. Gnosticismo
10.5.1. Mais sutil, insidiosa e muito mais perigosa (séc. II)
10.5.2. Aberração da inteligência, doutrina muito confusa e caótica
10.5.3. Dois elementos fundamentais
10.5.3.1. Gnose: Método de pensamento e atitude espiritual
10.5.3.2. Gnosticismo: Sistema infinitamente complexo de explicação do mundo, da
vida e de Deus

11. A resposta da Igreja: Santo Irineu


11.1. Introdução
11.1.1. Expansão das heresias – reações
11.1.1.1. Primeira: dor e lamentação
11.1.1.2. Segunda: reação
11.1.2. Segurança em torno do Bispo
11.1.3. Emulação intelectual pelas melhores respostas
11.1.3.1. Apologistas - polemistas anti-heréticos (dialética Reforma e Contra-
Reforma)
11.1.4. Dificuldades
11.1.4.1. A heresia não se distingue claramente da verdade, da ortodoxia
11.1.4.2. Temperamento virulento dos defensores da fé
11.1.4.3. Mérito da prudência e equilíbrio da Igreja
11.2. Grande destaque: Santo Irineu de Lyon
11.2.1. Atualidade: “De todos os Padres, poucos nos parecem tão próximos e ligados às
nossas preocupações imediatas” (293)
11.3. Contexto da perseguição das Gálias (atual França), centro do grande comércio com
o Oriente
11.4. Nascido em Esmirna, na Ásia, em 135, recebendo a fé dos seus pais (algo raro, não
era um convertido)
11.4.1. Amálgama de asiático, romano e ocidental
11.5. Ouvia do Bispo São Policarpo o que o Apóstolo João lhe ensinara
11.5.1. Testemunha direta da tradição apostólica
11.6. Ampla cultura filosófica grega
11.7. Discutia com São Justino, em Roma

2
11.8. “Era uma alma reta, profunda, evangélica, um coração generoso e acolhedor, um
temperamento dotado de grande ponderação e prudência, exatamente o contrário de um
sectário ou de um polemista faccioso” (p. 290)
11.8.1. Nome: paz e virtudes
11.8.2. Nunca esqueceu que o primeiro mandamento de Cristo é o amor
11.9. Bispo de Lyon
11.9.1. Síntese viva de toda a Igreja
11.9.2. Na linha dos grandes bispos mártires Clemente, Inácio e Policarpo, que tinha por
modelos
11.9.3. Dedicação apostólica incansável, provavelmente converteu Valence e Besançon
11.9.4. Fala sempre com extrema afeição e delicadeza dos gauleses que o cercam e cuja
língua aprendeu

11.10. Contra as heresias (Exposição e refutação da falsa gnose)


11.10.1. Cinco grossos volumes, escritos sem um plano orgânico prévio
11.10.2. Num grego com influências galo-romanas
11.10.3. Beleza de muitos períodos, precisão admirável de expressões
11.10.4. Procedimento dialético
11.10.4.1. Primeiro (vols. 1 e 2): exposição precisa de “todas” as heresias do seu tempo:
“Expor os sistemas é vencê-los, assim como arrancar uma fera das selvas e trazê-
las para a luz do dia é torná-la inofensiva.” (p. 291)
11.10.4.2. Depois (vols. 3 a 5): apresentação da doutrina ortodoxa, neutralizando os
erros heréticos
11.10.5. Pensamento cristão sólido, embora não totalmente novo, que será a base para
toda teologia e filosofia posterior

11.11. Cinco temas fundamentais


11.11.1. A Tradição, o próprio princípio da Igreja Católica
11.11.1.1. Material: Bispos e Papa
11.11.1.2. Espiritual: vida do Espírito que renova as verdades da fé e orienta a razão,
determinando-lhe o seu fim
11.11.1.3. Complemento de S. Justino (harmonia de fé e razão): não só a fé precisa da
razão, como a razão, sem a fé, se extravia (p. 292)
11.11.1.4. O que conserva a razão dos extravios filosóficos como o gnosticismo?
11.11.2. Conhecimento de Deus (Teologia)

3
11.11.2.1. Gnósticos atiram Deus num abismo tão profundo que O tornam
incognoscível
11.11.2.2. Ortodoxia: Deus é, de fato, incognoscível pelas forças da razão, mas a fé na
Revelação da Encarnação O tornam visível e palpável
11.11.3. Natureza do homem (Antropologia)
11.11.3.1. Gnósticos: desprezo pela criação material, pela carne
11.11.3.2. Ortodoxia: Encarnação (material) do Logos (imaterial) (S. João), para a
redenção da carne
11.11.3.3. “Concepção do homem total, ao mesmo tempo carne e espírito – ‘o espiritual
é, ele próprio, carnal, dirá Péguy -, eis o ponto de partida de toda a filosofia, de
toda a sociologia e de toda a política cristãs.” (p. 293)
11.11.4. Exegese Bíblica
11.11.4.1. Tipologia: símbolos cristãos do Antigo Testamento
11.11.5. Filosofia da História da Salvação
11.11.5.1. Unidade pedagógica do Antigo e Novo Testamento

12. A missão do pensamento cristão


12.1. Consolidação do pensamento cristão no final do século II, em quatro momentos
12.1.1. Discípulos imediatos: São Paulo e São João (sob influxo de Cristo e do Espírito)
12.1.2. Padres apostólicos: pouco especulativos, mas profundamente espirituais
12.1.3. Padres apologistas (S. Justino): abertura da fé à razão natural
12.1.4. Anti-hereges (S. Irineu): mais sólido pensamento religioso do mundo helenista
12.2. Dimensões interligadas da Revolução da Cruz
12.2.1. Moral – ação dos pregadores e mártires
12.2.2. Intelectual – organização da “doutrina”
12.2.3. Espiritual – Providência

II. Cristianismo e Gnose: Santo Irineu de Lyon (Liébart, Os Padres da Igreja, sécs. I-IV, cap. 4)

1. Irineu e a Igreja do seu tempo


1.1. Insurgência da Galícia (França)
1.2. Proveniência da Ásia Menor
1.2.1. Pais cristãos
1.3. Fidelidade aos anciãos (presbíteros)
1.4. Primeiro teólogo da “tradição” eclesial, no sentido de transmissão ativa da fé vivida e como
que redescoberta a geração após geração

4
1.4.1. Conservou a lista dos primeiros Bispos de Roma
1.4.2. Apelo à autoridade oral de S. Policarpo e São João (p. 54)
1.5. Doutrina mais segura do que a dos Padres Apologistas
1.5.1. Recurso sistemático a São Paulo
1.6. Conhecimento das doutrinas heterodoxas da Ásia Menor
1.6.1. Gnose (dualismo radical e intelectualismo)
1.6.2. Marcionismo (doutrina próxima à Gnose)
1.6.3. Montanismo (movimento caristmático e cismático)
1.6.4. Judeucristianismo – milenarismo (que S. Irineu considera interpretação possível do
Apocalipse de S. João)
1.7. Único autor do séc. II cujos escritos relativos aos grandes problemas doutrinais da época
estão conservados

2. Irineu, Bispo de Lyon


2.1. Não se sabe como chegou ao Ocidente, passando por Roma
2.1.1. Pormenoriza a viagem de Policarpo a Roma no tempo do Papa Aniceto
2.1.2. Relata a controvérsia sobre a data da Páscoa
2.1.3. Conhece os escritos de São Justino
2.2. Testemunha a perseguição e os martírios em Lyon (177)
2.3. Atividade pastoral por Cartas
2.3.1. Polêmica sobre a celebração da Páscoa, em que Papa Vítor (189-199) beira a ruptura
2.3.2. “Irineu”: paz, espírito de conciliação e apaziguamento
2.3.3. Catolicidade é unidade, mas não uniformidade
2.4. Atividade missionária para além de Lyon e Viena
2.5. Pastor intelectual: Contra as heresias
2.5.1. Escrito em grego, mas preservado numa tradução literal latina
2.5.2. Influência em Tertuliano, Hipólito e Atanásio
2.6. Livrinho Demonstração da pegação apostólica
2.6.1. Preservado por uma tradição armênia
2.6.2. Trindade e Batismo (p. 57)
2.7. Essas duas obras são colunas da Teologia Patrística
2.7.1. Lucidez, equilíbrio, atualidade

5
3. Gnose
3.1. Distinção conceitual
3.1.1. Gnose (fenômeno geral, do séc. I até a modernidade)
3.1.2. gnosticismo (fenômeno particular do séc. II)
3.2. Definição de gnose: “ilusão de conhecimento perfeito, revelado, possuído e transmitido
por iniciados, que pretende dar uma explicação global do mundo e do mistério da existência
a partir de uma base dualista (oposição entre o mundo do bem e do mal) e assim abrir o
caminho para a salvação do espírito.” (p. 58)
3.2.1. Movimento de salvação por meio do conhecimento
3.3. Dualismo anticósmico
3.3.1. Renovação no maniqueísmo do séc. IV
3.3.2. Renovação do catarismo do séc. XI
3.3.3. Gnose moderna (De Lubac, E. Voegelin)
3.4. Religião iniciática, de conteúdo secreto e mitológico (simbólico)
3.5. História
3.5.1. Surgimento no século I, entre a Palestina e Ásia Menor
3.5.2. Explosão no séc. II, sobretudo em Alexandria
3.5.2.1. Sincretismo: gnosticismo cristão
3.5.2.2. Mestre Valentim
3.5.3. Arrefecimento no séc. III, substituída pelo maniqueísmo no IV (S. Agostinho)
3.5.4. Fontes
3.5.4.1. Conservação sobretudo pelos escritos patrísticos
3.5.4.2. Biblioteca gnóstica em Nag´Hammadi (Egito, 1974)
3.6. Contexto de mudança religiosa e cultural
3.6.1. Impacto existencial e psicológico na vida humana
3.7. Questões principais
3.7.1. Tema do mal, da consciência infeliz, da alienação
3.7.2. Exílio e decadência de um paraíso perdido
3.7.3. Experiência da fragmentação, da cisão entre corpo e alma
3.7.3.1. Existencialismo (H. Jonas e E. Voegelin)
3.7.4. Desorientação e dispersão no tempo
3.7.5. Nostalgia lancinante de uma unidade primordial que só uma catástrofe cósmica pôde
destruir para produzir este mundo dividido
3.7.6. A salvação consiste em se libertar da matéria e de todas as dualidades que ela gera
3.7.6.1. Evasão e retorno ao mundo perfeito e unificado do espírito

6
3.7.7. Conhecimento (gnose) é a tomada de consciência da verdadeira natureza espiritual
do ser humano, rejeitando o corpo e a matéria em geral
3.7.7.1. O iniciado (“espiritual”) possui este conhecimento e já está salvo
3.7.7.1.1. Igreja dos perfeitos, dos puros (“cátaros” do séc. XI)
3.7.7.2. O não-iniciado (“material”) tem o espírito adormecido e, por isso, está
irremediavelmente condenado à perdição.
3.8. Mitologia sincrética para explicar o drama cósmico
3.8.1. Dos seres espirituais, celestes, produz-se um avatar, um demiurgo disforme que cria
este mundo material imperfeito
3.8.2. Do mundo do alto, desce um Poder libertador dos espíritos aprisionados nos corpos
3.8.2.1. Desfiguração radical da natureza e do papel de Cristo
3.9. Rupturas gnósticas
3.9.1. Deus supremo e o Criador
3.9.2. Criação e Salvação
3.9.3. Homem e universo
3.9.4. Corpo e alma
3.9.5. Antigo e Novo Testamento
3.9.6. Vida intelectual e vida moral-sacramental
3.9.7. Esvaziamento do mistério pascal redentor
3.9.8. Conhecimento místico-iniciático e a tradição eclesial (incluindo as Escrituras)
4. Aspectos de uma teologia fundamental
4.1. Contra a arbitrariedade e o esoterismo gnóstico, a tradição eclesial (cf. Constituição Dei
Verbum do Concílio Vaticano II)
4.1.1. Dinâmica (paradosis)
4.1.2. Pública (parresía)
4.1.3. Institucional (ecclesia)
4.1.4. Escritura autêntica (Novo testamento)
4.2. Contra o dualismo gnóstico, a unidade
4.2.1. Trinitária: (Pessoas do) Pai, Filho e Espírito Santo
4.2.2. Cristológica: (Natureza) humana e divina
4.2.3. Criação material e espiritual
4.2.4. Antigo (Deus Criador) e Novo Testamento (Deus Redentor)
4.2.5. Natureza humana, corpo e alma, destinada à salvação na totalidade da sua natureza
4.2.5.1. Pessoa substância individual de natureza racional (Boécio)
4.2.6. Sacramental: elementos materiais da criação como canais de graça espiritual

7
4.3. Contra as mitologias, a história da salvação
4.3.1. Deus age no tempo, em fases progressivas e sucessivas, a redenção humana
4.3.1.1. Unidade do Antigo e Novo Testamento
4.3.2. Recusa de reduzir a Revelação a uma gnose atemporal e a salvação a uma variante
do eterno retorno (Nietzsche)
4.3.3. Recapitulação de todas as coisas em Cristo
4.3.3.1. Fatos originários: Cristo e Adão; Maria e Eva
4.3.3.2. Condição humana integral (contra o docetismo)
4.3.4. Valorização da Criação, Encarnação, Mediação sacramental, Visibilidade da Igreja
4.4. Contra o dualismo pessimista, antropologia otimista da “pessoa”, de corpo e alma
4.4.1. Deus quer a realização do homem enquanto homem, mas essa realização total só é
encontrada na comunhão com Deus
4.4.2. Não negar as realidades criadas, que são boas porque vêm do próprio Deus
4.4.3. O homem não é um espírito celeste decaído, nem fragmento divino, mas criatura no
seio do universo e absolutamente diferente do Criador
4.4.3.1. “Espíritos sem corpos jamais serão homens espirituais”
4.4.4. Refutação de todo misticismo panteísta ou angelismo desencarnado
4.4.5. Três dimensões - corpo, alma e espírito -, todas restauradas por Cristo, que, com a
salvação, recupera a dimensão de semelhança a Deus perdida pelo pecado original
(Queda)
4.4.6. Ser em devir, inacabado
4.4.6.1. “Deus é... o homem se torna”, segundo uma lei de crescimento, um
progresso, uma maturação, inerentes à sua condição.
4.4.6.2. Desenvolvimento
4.4.6.2.1. Existência individual
4.4.6.2.2. História espiritual da humanidade
4.4.7. Ser livre e responsável
4.4.7.1. Imagem de Deus, que é livre
4.4.7.2. Deus respeita integralmente a liberdade conferida ao homem
4.4.7.3. Possibilidade do pecado
4.4.7.3.1. Perda da filiação divina
4.4.7.3.2. Necessidade de um redentor (Cristo)
4.4.7.4. Pedagogia divina
4.4.7.4.1. Iniciativa divina
4.4.7.4.2. Respeito pela liberdade de acolhida ou recusa da salvação por amor

8
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 21. Um mundo que nasce, um mundo que vai morrer – a crise do Império do séc. III
Padres alexandrinos da Igreja: Clemente e Orígenes
(Rops, Cap. VII, parte 1)

Parte I – Mundo pagão (cap. VII)

1. O século III, reviravolta decisiva


1.1. Fim da dinastia antonina, em 192
1.2. Declínio gradual da ordem romana, na política, na moral, na vida social, na arte (literatura)
1.2.1. E da religião cívica
1.3. O Império degenera, cada vez mais, numa autocracia despótica de estilo oriental
1.4. Dialética da mudança histórica
1.4.1. Decadência romana
1.4.2. Crescimento cristão

2. A crise do Império no século IIII


2.1. O assassinato de Cômodo, filho de Marco Aurélio, pôs fim a grande dinastia antonina
2.2. Guerras civis para sucessão do trono
2.3. Fundação da nova dinastia dos “Severos”
2.4. Governo da força bruta, não do direito
2.4.1. Neutralização do Senado e do povo (império cada vez menos “republicano”)
2.5. Longa ditadura militar, temperada pelo tino político de algum Imperador ou perturbada
pela rivalidade dos clãs
2.5.1. Instabilidade política: os exércitos proclama ou derrubam imperadores pelos
motivos mais variados: dinheiro, inveja, medo, repugnância pela disciplina – paixões
e baixos interesses
2.5.2. Temor de governar
2.5.3. Abandono da verdadeira autoridade

1
2.6. Exército cada vez mais poderoso e anárquico
2.6.1. Já não é mais formado pelo povo romano
2.6.2. Estrangeiros mercenários (germanos, sírios e árabes), recrutados fora da Itália
2.6.3. Infiltração pacífica dos bárbaros que, em dois séculos, dominarão Roma (496)
2.7. Exceção: Septímo Severo (193-211)
2.8. Anarquia militar de mais de trinta anos (235-268)
2.8.1. Crise econômica e social – fim da Pax Romana
2.9. Dinastia ilírica vai adiar por 40 anos a derrocada final
2.9.1. Cláudio II
2.9.2. Aureliano
2.9.3. Diocleciano (285-305)

3. Os sintomas da decadência
3.1. Crise das elites: valores aristocráticos decaem desde Augusto, que tentou salvá-los
reconstruindo uma nobreza senatorial, hereditária, fechada
3.1.1. Demite as suas responsabilidades sociais
3.1.2. Evade-se no prazer individual, no lazer requintado da riqueza
3.1.3. Funcionalismo público
3.2. Antigos plebeus, vindos da carreira de armas, são elevados a esmo à condição de cavaleiros
e senadores
3.3. O cidadão romano, na verdade, já não existe
3.3.1. Em 212, Caracala estende o direito de cidadania aos homens livres agrupados em
comunidades urbanas ou aos proprietários de terra, qualquer que seja a sua origem e
sua residência no Império
3.3.2. Súditos (pagadores de impostos) submetidos a uma crescente autocracia
3.3.3. Cidadania era um conjunto de deveres cívicos que moralizam a sociedade
3.4. Crise do sistema municipal de gestão local
3.4.1. Estatismo: centralização, reino dos burocratas
3.5. Crise das virtudes públicas e privadas
3.5.1. Dinheiro é rei
3.5.2. Decadência dos costumes morais, vaidades, libidinagem
3.5.3. Imperadores: divórcio, concubinagem – filhos bastardos
3.5.4. “Feminismo”: mulheres que desempenham o papel de homens, porque os homens
se enfraqueceram (p. 304)
3.6. Decadência intelectual na literatura e na língua

2
3.6.1. Única exceção de inteligência são os juristas: Papiano, Ulpiano e Paulo
3.6.2. Literatura grega é mais rica: Díon Cássio, Diógenes Laércio e Plotino
3.7. Decadência na arte – estilo colossal
3.8. Confusão doutrinária, anarquia intelectual e moral, mobilidade social generalizada,
banalização de todas as atividades do espírito (p. 306 – citação de G. Ferrero)
3.9. Sociedade que perdeu o sentido da vida: angústia
3.10. Onde buscar a esperança e a consolação religiosa?
3.10.1. Não mais nas suas próprias tradições, como na época de Augusto (séc. I a.C.)
3.10.2. Mas na Grécia (neoplatonismo) e no Oriente (misticismo e esoterismo)
3.10.3. Influência do governo Persa sobre a política romana
3.10.4. Diocleciano inspira-se no mundo iraniano para afirmar o seu poder: prosternações
diante de um imperador como se tratasse de um deus vivo, hierarquias dos
funcionários, corte atulhada de eunucos...

4. Em busca de uma religião


4.1. Agitação febril: multiplicação desordenada de caótica de seitas orientais (p. 307)
4.2. Septímo Severo (193-211): miscigenação (p. 308)
4.3. Quatro grupos principais

4.3.1. Astrologia
4.3.1.1. Grande influência em praticamente todas as pessoas, exceto os cristãos
4.3.1.2. Culto oriental (mesopotâmico) das divindades astrais (“caldeus”)
4.3.1.3. Esoterismo egípcio e ciência-filosofia grega
4.3.1.4. Hermes Trimegisto (“hermetismo”), deus a par dos segredos do mundo
4.3.1.5. Substituiu os antigos métodos de adivinhação pelos frangos sagrados e
entranhas das vítimas
4.3.1.6. Desejo supersticioso de conhecer o futuro
4.3.1.7. Características de uma ciência exata (relação com a astronomia, posição dos
astros em determinadas épocas do ano): horóscopos
4.3.1.8. Influencia no vocabulário
4.3.1.9. Comunicação como mistério do universo pela contemplação do céu
4.3.1.10. Fatalismo ético: “destino” – mundo terrestre absurdo e desgraçado, só resta
deixar agir o destino e esperar o retorno eterno da idade de ouro
4.3.1.11. Magia (charlatanismo, talismãs e remédios caseiros) e feitiço (beberagens
perigodas, extraídas de plantas maléficas e de cadáveres, sacrifício de crianças,

3
leitura do futuro nas entranhas das vítimas inocentes e evocação dos mortos -
crime)

4.3.2. Mitraísmo
4.3.2.1. Último culto oriental a se instalar no mundo romano
4.3.2.2. No século III, tem as características de uma religião estabelecida
4.3.2.3. Tradição irania-persa
4.3.2.4. Mitra: divindade de segunda categoria no sistema teológico em que Ahura-
Masda, o deus justo, combatera o poder maldito de Ahriman (dualismo). Mitra
era um gênio puro da luz, manifestação do bem perfeito, luta pela justiça e
verdade
4.3.2.5. Sincretismo com tradições da Ásia Menors e da Frígia: associação a ritos do
culto e sacrífico do touro
4.3.2.6. Difundida pelos militares: Mitra era um combatente heroico contra as forças
do mal, herói viril e casto, desprezava os encantos femininos em que se
compraziam tantos deuses asiáticos
4.3.2.7. Numa sociedade doente, esta doutrina vigorosa era um apelo para a
juventude e saúde
4.3.2.8. Difusão extraordinária nos dois primeiros séculos, apoiada pelos poderes
imperiais, pois o sistema hierárquico servia à autoridade
4.3.2.9. Roma tinha cerca de 60 capelas mitríacas, além de confrarias de iniciados,
com ritos de iniciação que fazem lembrar a franco-maçonaria
4.3.2.10. No século III, tem-se uma verdadeira igreja, instalada em diversas camadas
sociais
4.3.2.11. Principal “concorrente” do cristianismo, pela moral, metafísica e
escatologia, mas uma religião da vontade e da força, e não do coração (caridade
e misericórdia), sem um Deus feito homem (p. 311)

4
4.3.3. Neoplatonismo
4.3.3.1. Se o mitraísmo seduziu os homens para a ação, o neoplatonismo os atraiu
para a especulação
4.3.3.2. Sob o Severos, fundou-se uma escola filosófica em Alexandria, fundada por
Amônio Saccas, frequentada por cristãos como Orígenes
4.3.3.3. Grande gênio depois de Platão e Aristóteles: Plotino, homem profundo,
austero, de vasta e sutil inteligência, que é pensador e uma espécie de santo
4.3.3.4. Plotino muda-se para Roma e encanta grande público, incluindo
imperadores
4.3.3.5. Seu discípulo Porfírio escreve as suas palestras, como Platão escreve as
lições de Sócrates
4.3.3.6. Enéadas: Seis livros de nove tratados (um dos cumes da especulação e da
mística ocidental)
4.3.3.7. Filosofia e religião, ou uma filosofia religiosa, que não rejeita o paganismo,
mas o torna símbolo de uma “gnose” muito mais profunda, disponível aos
espíritos inteligentes, sutis e superiores
4.3.3.8. Analogia com Fílon (que refinou, alegoricamente, o judaísmo, platonizando-
o): nova síntese dos dados tradicionais, renovados por Platão, Aristóteles e os
estóicos
4.3.3.9. Metafísica do divino em três planos
4.3.3.9.1. Ser em si, abstrato, indeterminado, origem de tudo (Uno)
4.3.3.9.2. Inteligência, imagem do Ser em si e projeção dele no plano a que o
homem pode chegar pelo conhecimento, modelo do qual nascem os entes
(Nous, corresponde às ideias de Platão)
4.3.3.9.3. Alma, emanda da Inteligência como a Inteligência emana do Ser,
que anuma o mundo da criação e lhe dá sentido. As almas individuais são
parcelas da alma universal. A alma humana deve libertar-se da matéria do
seu corpo e ligar-se, por intermédio da Alma Universal, à Inteligência e,
por meio desta, ao Ser;
4.3.3.10. Moral correspondente
4.3.3.10.1. Ascese para vencer a matéria e unir-se à Alma Universal
4.3.3.10.2. Iluminação para atingir a inteligência
4.3.3.10.3. Contemplação e êxtase para unir-se a Deus (Ser, Uno)
4.3.3.11. Sistema metafísico e moral respeitável, mas lhe falta a Redenção, a Graça,
o Amor de Deus

5
4.3.3.12. Grande influência sobre Santo Agostinho (séc. IV-V) e Dionísio Areopagita
(séc. VI)

4.3.4. Sincretismo
4.3.4.1. Tendência de misturar tradições diferentes, antigas e novas
4.3.4.2. Unidade das crenças, como símbolos da mesma verdade – inumeráveis
deuses como representantes de uma divindade suprema, autora e governadora do
mundo
4.3.4.2.1. Aproveitamento político dos imperadores
4.3.4.3. Septímo Severo: coleção heteróclita de ídolos
4.3.4.4. Júlia Domma e Aureliano: culto do Sol, símbolo do poder inefável
4.3.4.5. Sucesso literário: Apolônio de Tiana do retórico Filostrato
4.3.4.6. Malogro de Juliano, o Apóstata (depois de Constantino), séc. IV

6
Parte II – Mundo cristão (cap. VII)

5. A expansão cristã
5.1. Difusão apostólica incansável em todas as partes do império
5.2. Conquista metódica e eficaz (superior a técnicas modernas de propaganda)
5.3. Multiplicação de Bispos
5.4. Extensão e profundidade
5.5. Primeiro, as cidades; depois, as aldeias, mais agarradas às velhas superstições
5.6. Plano social
5.6.1. Principalmente gente humilde
5.6.2. Penetração gradual nas classes altas

6. O desenvolvimento das instituições cristãs


6.1. O século III é o de consolidação “institucional” que prepara a grande virada do século IV
(conversão oficial do Império)
6.2. Estabilização dos costumes e da tradição
6.2.1. Cânon do Novo testamos
6.2.2. Credo – Doutrina
6.2.3. Liturgia
6.2.4. Disciplina eclesiástica, primeiros ensaios de direito canônico eclesiástico
6.3. Formação de uma nova “classe social”: clero, agora claramente distinto do rebanho
6.3.1. Sete categorias: bispo, diácono, subdiácono, acólitos, leitores, exorcistas e ostiários
6.3.2. Celibato dos sacerdotes: aristocracia moral de primeira ordem
6.4. Institucionalização: propriedade coletiva dos bens
6.5. Como se a Igreja estivesse se preparando para substituir o Império
6.6. Sistema territorial em jurisdições paroquias e episcopais hierarquizadas, à semelhança
dos quadros imperiais
6.7. Bispos: liderança material, moral e espiritual
6.7.1. Modelos de santidade e ciência: São Babilas e Demetriano, em Antioquia;
Firmiliano, na Capadócia; São Dionísio, em Alexandria; São Cipriano, em
Cartago.
6.8. Unidade hierárquica e orgânica
6.8.1. Concílio ou Sínodo: reuniões regionais ou provinciais
6.8.2. Primazia de Roma, com Papas notáveis

7
7. Dois grandes centros cristãos

7.1. A escola alexandrina de Clemente e Orígenes


7.1.1. Vulto da inteligência literária, filosófica e teológica: capital intelectual do
cristianismo no século III
7.1.2. Influência enorme e duradoura
7.1.3. Importância da cidade de Alexandria: metrópole cosmopolita, internacional,
sincretista, de várias escolas filosóficas
7.1.4. Origem antiga do cristianismo: São Marcos (segundo S. Jerônimo); Apolo,
acompanhante de São Paulo
7.1.5. Formação de uma escola cristã para enfrentar as heresias gnósticas
7.1.5.1. Universidade (multiplicidade de matérias ensinadas) e cenáculo (número
reduzido de estudantes, agrupados em torno de um mestre quase único, que
compartilhava sua erudição gigantesca e formação universal)

7.1.6. Primeiro grande líder: Clemente (180-216: “só” 46 anos)


7.1.6.1. Grego de Atenas, pagão convertido ao cristianismo na juventude
7.1.6.2. Viaja à Síria, à Palestina e ao Egito, assimilando a doutrina de Cristo de
sábios
7.1.6.3. Discípulo de Panteno, o fundador da escola, a quem sucedeu
7.1.6.4. Ordenado sacerdote, foi dispensado das atividades paroquiais para se
dedicar inteiramente ao ensino
7.1.6.5. Ensina e escreve profusamente, sempre fecundo e infatigável, embora por
vezes caótica e difuso
7.1.6.6. Refugia-se na Capadócia durante a perseguição
7.1.6.7. Espírito universal, aberto a tudo, de coração grande e cultura gigantesca
7.1.6.8. Passagens comoventes, que antecipam
7.1.6.8.1. Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis (séc. XVI)
7.1.6.8.2. Infância espiritual, de S. Teresinha (séc. XIX)
7.1.6.9. Obra imensa, conversa parcialmente numa triologia
7.1.6.9.1. Protréptico, apologia nos moldes do séc. II (Justiniano)
7.1.6.9.2. Pedagogo, tratado moral e de espiritualidade quotidiana
7.1.6.9.3. Estrômatos (tapeçarias), conjunto desconexo, em que o cristianismo
tende para a ciência inefável e suprema perfeição

8
7.1.6.10. Mérito de ter demonstrado a dignidade intelectual do cristianismo, mais do
que todos os seus honrosos precedentes: a doutrina cristã não é inferior a ciência
profana alguma
7.1.6.11. “O que eu chamo de filosofia não o estoicismo, nem o platonismo, nem o
epicurismo, nem o aristotelismo, mas o conjunto do que essas escolas têm dito
de acertado no ensino da justiça e da verdade.” (p. 327)
7.1.6.12. Ênfase na inteligência e na “gnose” talvez negligente à importância da
humildade da inteligência, indispensável ao intelectual cristão
7.1.6.13. Clemente foi objeto de um culto local e chegou a figurar nos martirológicos,
mas o Papa Bento XIV, em 1748, o riscou formalmente do número dos santos,
porque não se pôde provar a heroicidade das suas virtudes, porque a Igreja
primitiva não lhe prestou culto unânime e ainda porque certos pontos da sua
doutrina são discutíveis
7.1.6.14. Grande mérito de ter formado um discípulo extraordinário: Orígenes

7.1.7. Orígenes
7.1.7.1. Personalidade ímpar:
7.1.7.1.1. Figura atraente e patética
7.1.7.1.2. Alma de fogo, inteligência ávida
7.1.7.1.3. Entusiasmo de coração, vivacidade espiritual
7.1.7.2. Seguia os cursos de Clemente desde a idade precoce
7.1.7.3. Tinha 17 anos em 202, quando a perseguição de Septímo Severo dispersou
a Escola de Alexandria
7.1.7.4. Pai Leônidas é martirizado e Orígenes deseja segui-lo no caminho de quem
o instruiu na fé cristã desde a infância
7.1.7.5. Aos 18 anos, torna-se chefe de família, com seis irmãos para educar
7.1.7.6. Abre uma escola, que atrai inúmeros seguidores
7.1.7.7. O bispo Demétrio lhe confia a formação dos catecúmenos, a qual depois
deixa a um assistente, para se dedicar à sua escola, que vai rivalizar com a pagã
de Saccas e Plotino, a qual frequentou
7.1.7.8. Grande austeridade moral, que prenuncia os monges do deserto, chegando
ao extremo de se eunucar, interpretando a passagem do Evangelho que diz que
“alguns se fazem eunucos pelo Reinos dos Céus” (Mt. 19: 12)
7.1.7.9. Inteligência multifacetada: teólogo, filósofo, exegeta, moralista, jurista e
mesmo poeta lírico

9
7.1.7.9.1. Quantidade incontável de obras: 6.000 ou 800?
7.1.7.10. Viagens
7.1.7.11. Correspondências
7.1.7.12. Homem universal e universalmente conhecido
7.1.7.13. Causou rebuliço e suspeitas entre as autoridades eclesiásticas, perdendo a
autorização da ordem sacerdotal
7.1.7.14. Mudou-se para Cesaréia da Palestina, envelhecido e gasto pelas macerações
do corpo e pelos trabalhos intelectuais. Foi preso e torturado, submetido ao
suplício do cepo, morrendo depois, entre 60 e 70 anos.
7.1.7.15. Obra gigantesca, da qual restaram enormes ruínas, organizadas em 4 grupos
7.1.7.15.1. Exegese alegórica
7.1.7.15.2. Teologia: Dos princípios – primeira “Súmula”
7.1.7.15.3. Moral e espiritualidade: Oração, Exortação do martírio
7.1.7.15.4. Antologia: apologia Contra Celso
7.1.7.16. Vai além de São Justino, em Roma, e Clemente, em Alexandria
7.1.7.16.1. Não apenas “usa” a filosofia grega para a revelação, mas promove
uma verdadeira síntese cristã entre a filosofia e a revelação
7.1.7.16.2. “Pela primeira vez na história, a teologia é concebida como uma
ciência religiosa à parte, que se apóia sobre as verdades da fé, mas tira delas
conclusões na ordem intelectual, permitindo assim aos que buscam a Deus
encontrá-lo por intermédio de Cristo.” (p. 330)
7.1.7.16.3. O grande pioneiro dos teólogos
7.1.7.16.3.1. Oriente: S. Gregório Taumaturgo e S. Alexandre Jerusalém
7.1.7.16.3.2. Ocidente: S. Hilário, S. Ambrósio e S. Jerônimo
7.1.7.17. Doutrina duvidosa, mesmo herética, demadiado neoplatônica
7.1.7.17.1. Eternidade do mundo espiritual
7.1.7.17.2. Preexistência das almas, que, escolhendo livremente o caminho do
mal, são castigadas encarnando nos corpos
7.1.7.17.3. Trindade: subordinação de Cristo ao Pai, negligenciando o papel do
Espírito Santo
7.1.7.17.4. Escatologia da salvação universal, dos demônios e dos pecadores
7.1.7.18. Heresiarca Ário reivindica a herança dele – condenção do “origenismo”

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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 23.
Um mundo que nasce, um mundo que vai morrer – a crise do Império do séc. III
Padres da Igreja: Tertuliano e São Cipriano
(Rops, Cap. VII, parte 3)

7.2. A África de Tertuliano e São Cripriano


7.2.1. Dialética
7.2.1.1. Alexandria (helenista, grego, especulativa) – Orígenes
7.2.1.2. África (romana, latim, prática) – Tertuliano
7.2.2. África tem poucos registros históricos nos dois primeiros século
7.2.2.1. Exceto os Processos de Scili, 180
7.2.3. Colonização e dependência romana
7.2.3.1. Cedeu facilmente ao Islã, quando Roma caiu
7.2.4. Têmpera ardorosa
7.2.4.1. Cristianismo de colonos e pioneiros

7.2.5. TERTULIANO
7.2.5.1. Grande orador e apologeta
7.2.5.2. Depois, rebela-se e volta-se contra a Igreja
7.2.5.2.1. Faltou-lhe apenas a humildade evangélica de coração
7.2.5.2.2. Sentia-se independente demais e tomou-se como próprio critério
para aquilatar a Tradição
7.2.5.3. Polemista (p. 333)
7.2.5.4. Nasceu em Cartago, em 160, de um centurião pagão, teve formação séria
e vasta, estudou direito romano e obteve grandes êxitos como tribuno

1
7.2.5.5. Converteu-se, repentinamente, aos 30 anos, e tornou-se padre, mesmo
sendo casado
7.2.5.6. Até 210, é o adversário mais veemente de pagãos, judeus, hereges
(“víboras”)
7.2.5.7. Rigorista, começa a atacar os próprios católicos, primeiro juntando-se a
heresia de Montado, depois fundando a sua própria seita dos perfeitos e puros
7.2.5.8. Mesmo assim, escreveu obras memoráveis, num latim incomparável (S.
Jerônimo e Bossuet o amavam)
7.2.5.9. Construção de uma linguagem latina teológica nova: trinitas,
sacramentum
7.2.5.10. Conhece bem o grego e os apologistas do séc. II e Ireneu – responsável
pela fusão das tradições, como Hilário, Ambrósio e Jerônimo
7.2.5.11. Conhece bem Filosofia e Direito (Prescrição dos hereges)
7.2.5.12. Prescrição dos hereges: Argumento jurídico da Tradição
7.2.5.13. Apologética, obra-prima, fundador da teologia latina, menos especulativa
do que a grega, mais solidamente fundada no direito quanto aos princípios
7.2.5.13.1. Trindade
7.2.5.13.2. Mérito do homem e da sua responsabilidade perante Deus
7.2.5.13.3. Sacramentos

7.2.6. SÃO CIPRIANO


7.2.6.1. Outro gênero de homem, mas que lembra a mesma intrepidez do seu
“irmão mais velho”, (“Dá-me o mestre!”)
7.2.6.2. Bispo de Cartago
7.2.6.3. Espírito exaltado, mas contido, líder admirável, personalidade
inesgotável
7.2.6.4. Nascido em 210, rico, culto, advogado
7.2.6.5. Encontro com um sacerdote muito santo, Cecílio (comunhão dos santos,
apostolado): o decisivo para se tornar cristão é encontrar um verdadeiro
cristão, “outro Cristo”
7.2.6.5.1. Conversão brusca
7.2.6.5.2. Ordenado sacerdote
7.2.6.5.3. Eleito Bispo, por quase unanimidade

2
7.2.6.6. Autoridade e governo: primaz, tácita e unanimemente, de todos os bispos
africanos
7.2.6.7. Quase se extraviou, por duas vezes
7.2.6.8. Martirizado em 258 pela fé católica
7.2.6.9. Unidade da Igreja, obra-prima: Não se pode ter a Deus por pai, se não se
tem a Igreja por mãe”
7.2.6.9.1. Primeiro grande teórico da catolicidade
7.2.6.9.2. Discutindo vivamente com o bispo de Roma, reconheceu o
primado dele (Papa)
7.2.6.9.3. Sacramentos
7.2.6.9.4. Caridade
7.2.6.9.5. Místico

8. Sombras e luzes no quadro da Igreja


8.1. Não idealizar a Igreja do séc. III
8.1.1. Era de muita turbulência
8.2. Dificuldades – SOMBRAS
8.2.1. De unidade
8.2.1.1. Intelectual: Orígenes vs. Tertuliano
8.2.1.2. social: Oposição sentimental entre a elite e “os simples”
8.2.1.3. espacial: liturgia grega e latina
8.2.2. Táticas: rigoristas x laxistas
8.2.2.1. Como lidar com hereges que voltam ao seio da Igreja?
8.2.3. Doutrinais: heresias
8.2.3.1. Modalismo (uma só Pessoa, chamada sucessivamente, conforme os
“modos” de sua atuação)
8.2.3.1.1. Monaquianismo (um só príncipe divino)
8.2.3.1.2. Patripassianismo (Pai também teria sofrido a Paixão)
8.2.3.1.3. Sabelianismo (Herege Sabélio, sé. III)
8.2.3.2. Subordinacionismo
8.2.3.2.1. Arianismo (Cristo abaixo do Pai)
8.2.4. Pessoais
8.2.4.1. Hipólito (Padre da Igreja) contra Papa Calixto, considerado fraco na luta
contra a heresia modalista de Sabélio

3
8.2.4.2. Novato contra São Cirpriano, contra a sua eleição episcopal
8.2.4.3. Novaciano contra Papa Cornélio
8.3. Deixando de ser uma minoria heroica, a Igreja se torna tíbia, quanto maior o número
de fiéis, maior o aburguesamento
8.4. Crítica de São Cipriano (p. 339)
8.4.1. Luxo
8.4.2. Transigência, mudanização
8.5. LUZES
8.5.1. Sociedade toda estava em desagregação, e a Igreja, sendo também humana, não
poderia permanecer incólume, mas também houve heroísmo e superação
8.5.2. Orações famosas
8.5.2.1. Glória
8.5.2.2. Phos hilaron
8.5.3. Fé profunda, até o martírio

9. A igreja perante o mundo romano


9.1. Cristianismo não pode mais ser ignorado
9.2. Inserção social – curiosidade de imperadores (Alexandre Severo)
9.3. Dialética revolucionária, mimetismo e emulação
9.4. Organização, ritos e festas
9.5. Rivalidade, Apolônio de Tiana, decalcado do Evangelho
9.6. Exame de consciência da sociedade romana decadente
9.7. Polemistas anticristãos, Porfírio, neoplatônico
9.8. Defensores da antiga ordem romana, civismo do bem público
9.8.1. Superstição do Estado divinizado

4
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 24. As grandes perseguições do séc. III (Rops, Cap. VIII)
A Luta final e a cruz sobre o mundo (Rops I, cap. IX)

1. Septímo Severo e a nova política anticristã


1.1. Movimento cíclico de perseguição, que a o fanatismo e a inveja popular
desencadeava
1.1.1. Rescrito de Trajano autorizada o juízo local dos denunciados (mas o
Estado não deve persegui-los e procurá-los)
1.2. Proibição de ser judeu ou cristão, em 200-202
1.2.1. Visava os convertidos e os convertedores
1.2.2. A Igreja, em si, como instituição, não estava em causa
1.2.3. A perseguição agora passa a ser metódica e promovida pelo Estado
1.2.3.1. Até agora, a mais vasta, violenta e organizada, mas não foi geral,
nem se revestiu de luta de morte contra todos os cristãos
1.2.4. Começo da era mais sangrenta da perseguição: entre 200 (Septímo Severo,
passando por Décio e Diocleciano) e 312 (Constantino)
2. Uma jovem mulher cristã: Perpétua
3. Incertezas da repressão
3.1. Caracala, filho de Septímo tão detestável quanto Nero, Domiciano e Cômodo:
brutal e libertino, arrebatada e cruel – tirano
3.2. Alexandre Severo
3.3. Maximino: anarquia militar (235-268)
3.3.1. método do terror
3.3.2. Ataque dos bárbaros
3.4. Filipe, o Árabe
3.4.1. Alexandria
4. Décio, o “velho romano”
4.1. Edito de 250: perseguição absolutamente geral e sistemática

1
4.1.1. Religião pertencia ao sistema social e político
4.1.2. Culto a Roma e Augusto era o laço mais essencial do lealismo, toda
abstenção era uma traição
4.2. “Inquisição”: os magistrados deviam verificar a religião de todos, mediante a
condução ao templo para o sacrifício aos deuses, incensando o altar com as
imagens
4.3. Mártir: papa Fabiano, em 250
4.4. Fortalecimento da Igreja
4.4.1. Problema da reintegração dos apóstatas
5. Os cristão no terror
5.1. Sobriedade dos cristãos diante dos sofrimentos
5.2. Discrição fria e estereotipada dos relatos
5.3. Pena de trabalho forçado (além da morte)
6. Fraqueza humana
6.1. Por iniciativa de São Cipriano, no Concílio de 251, reunido em Roma pelo Papa
Cornélio, estabeleceu-se uma via intermediária entre o rigor excessivo e as
indulgencias perigosas: penitências canônicas para a absolvição
7. Almas de heróis: Bispos, sacerdotes e mulheres
8. Valeriano perseguidor e Cipriano mártir
8.1. Edito de 257, primeira perseguição contra a Igreja, associação ilícita
8.1.1. Permissão de crença e culto particular
8.1.2. Impedimento de práticas públicas – perseguição dos chefes e líderes
8.2. Execução do Papa Sixto II, cuja riqueza atraiu o Fisco
8.3. Diácono Lourenço
8.4. São Cipriano
9. Sinais precursores da paz
9.1. Galiano manda arquivar os processos, em 260
9.2. Claudio II
10. O preço do sangue
10.1. Vitória dos mártires nos 250 anos de perseguição
10.2. Valor mimético e apologético do martírio
10.2.1. Heroísmo é contagioso
10.3. Santos como medianeiros e intercessores da graça
10.3.1. Primeiro passo do culto dos santos, que desabrocha no séc. IV

2
10.4. Hino ambrosiano: Tu vincis inter martyres

A Luta final e a cruz sobre o mundo (Rops I, cap. IX)


I. O ÚLTIMO ATAQUE ROMANO: DIOCLECIANO

1. Diocleciano e o “Baixo Império”


1.1. Último dos grandes imperadores pagãos
1.2. Mausoléu ostentoso, mais oriental do que romano, exuberante e luxuoso
1.3. Baixo império: decadência, convulsões finais de uma sociedade agonizante
1.4. Alguns homens tentaram impedir a ruína total e sustar o assalto dos bárbaros:
Diocleciano, Constantino e Teodósio
1.5. Personalidade robusta
1.5.1. Homem grande, nobre estatura, aspecto vigoroso
1.5.2. Impassibilidade dissimula temperamento violento, cheio de contradições
1.5.3. Homem do povo
1.5.4. Homem sem fé e esperança, levou a cabo as suas obrigações de estadista
1.5.5. Tomou o poder depois um assassinato, conforme o uso do tempo
1.6. Período turbulento, grande crise
1.6.1. Todos os povos circundantes: persas, barbáros (alamanos, burgúndios,
saxões, francos)
1.6.2. Administração não resistia à desagregação social, crise econômica
1.7. Divisão administrativa do vasto território
1.7.1. Garantir as fronteiras
1.7.2. Resolver o problema das sucessões
1.7.3. Diarquia (em 186) e a Tetrarquia (293): quatro grandes zonas adm.
1.7.3.1. Dois Augustos
1.7.3.1.1. Oriente, Diocleciano
1.7.3.1.2. Ocidente, Maximiano
1.7.3.2. Dois Césares, herdeiros e sucessores daqueles
1.7.4. Rede de alianças e adoções
1.7.5. Uma só autoridade em quatro pessoas
1.7.6. Adm. organizada e centralizada
1.7.6.1. Conselho do Príncipe – Consistório sagrado
1.8. Exército foi aumentado, depurado e reforçado quanto à cavalaria, passando a ter
como oficiais apenas soldados de carreira e deixando de estar vinculado à política

3
1.9. Administração local das províncias e as dozes Dioceses
1.10. Grande reforma financeira e tributária, mas sem efeito
1.11. Esforço político-legislativo: 1.200 leis, todas cheias de equidade
1.12. Trabalhos cívicos, escolas, ...
1.13. Mas não se trata mais do velho modelo romano, mas de inspiração oriental:
tirania egípcia-helênica
1.13.1. Hierarquia oficial, tributos em espécie, trabalho gratuito obrigatório,
estatutos rígidos para as corporações de ofícios hereditários
1.13.2. “Funcionalismo e papelada”: remédios dos regimes em declínio
1.13.3. Imperador-deus, déspota oriental, o senhor todo-poderoso, cujo
absolutismo reveste um caráter metafísico
1.13.3.1. Move-se num espaço sagrado: sacrum palatio, cubiculum
1.13.3.2. Título oficial: dominus et deus
1.13.3.3. Diadema (tiara) místico, copiado dos sassânidas, símbolo do sol e
da eternidade
1.13.3.4. Público só o vê vestido como ídolos, com pesados tecidos
bordados, cintos de ouro, mãos e tornozelos com finas pedrarias, e todo
aquele que lhe fale tem de cumprir o rito da adoratio, da proschynesis,
prostrando-se profundamente e beijando uma das abas do manto
imperial

2. A mais terrível das perseguições


2.1. Conflito inevitável entre esse paganismo radical e o cristianismo cada vez mais
consciente
2.2. Havia 30 anos que os cristãos não eram perseguidos
2.3. Início da grande perseguição: 295
2.3.1. Ninguém desconfiava que o faria
2.3.2. Não era desconfiado como Nero ou Domiciano
2.3.3. Nem fanático como Aureliano ou Juliano (depois dele)
2.4. Organização centralizadora suportava cada vez menos não-conformistas
2.5. César Galério, bárbaro e chefe do exército, convenceu Diocleciano a perseguir
os cristãos
2.5.1. Depuração do exército

4
2.6. Adivinhos imperiais e o Oráculo de Delfos alegaram que os cristãos os impediam
de prever o futuro
2.7. Edito de 303, ainda não sanguinário, deflagrou a perseguição
2.8. Incêndios nas imediações do palácio imperial
2.9. A última e a pior das grandes perseguições, sobretudo no Oriente
2.9.1. Igreja do Egito: era dos mártires
2.9.2. No Ocidente, Constâncio Cloro reduziu ao mínimo a repressão na Gália e
na Bretanha
2.9.3. Maior quantidade de testemunhos de martírios
2.9.4. Estado que fere sem piedade, de forma fria e calculista, e não o povo
disperso
2.9.5. Prazer sádico da tortura
2.10. Mártires famosos
2.10.1. São Sabastião, tribuno da corte pretoriana, cujo suplício oferece à
Renascença o pretexto de nos legar um belo corpo transpassado de setas
encarniçadas
2.10.2. Santa Inês, doce pequena mártir
2.10.3. Papa Marcelino
2.10.4. Santa Lúcia
3. A mão do carrasco treme
3.1. Renúncia dos dois Augustos, Diocleiano e Maximiano, em 305
3.1.1. Ocidente: tolerante Constâncio Cloro
3.1.2. Oriente: Maximino Daia
3.1.2.1. Édito de 306
3.1.2.2. Egito padeceu
3.1.2.3. Cristãos suicidaram-se para fugir à desonra
3.2. Intenção da unificação, centralização e estatização gerou a dispersão centrífuga
pela multiplicação de capitais e cortes
3.2.1. Galério detestava Constâncio
3.2.2. Maximiano remoía-se de desgosto por ter sido obrigado a abdicar, como
Diocleciano
3.3. Cabia aos Augustos designar o respectivo César
3.3.1. Maxêncio designou Maximiano
3.3.2. Constâncio, Constantino

5
3.4. Ao morrer, em 316, Diocleciano vê o império naufragar, principalmente pelas
guerras civis de sucessão
3.5. Guerra e anarquia por nove anos
3.5.1. Chegou-se a seis Augustos governando simultaneamente, cada qual com o
seu exército
3.5.2. Mesmo quando surgiu o vencedor, Constantino, foi preciso dez anos para
que ele se imponha
3.5.3. De 305 a 324, o mundo romano não soube o que era paz
3.6. Igreja oscila a depender dos ventos imprevisíveis
3.6.1. Maxêncio, homem folgazão e cético, tolera os cristãos
3.6.2. Oriente, Maximino Daia martiriza muitos
3.6.3. Os que sobreviviam, tinham um calvário doloríssimo: prostituição,
amputações, trabalho forçado
3.6.4. Galério, o Augusto de quem dependia o Oriente, certamente o autor de
toda essa crise e o responsável por todos os horrores perpetrados por
Maximino, capitulou bruscamente, admitindo que o seu mal era um castigo
do Deus dos cristão. Seu mal era uma doença terrível, lepra oriental,
acompanhada de hemorragias, gangrena e pupular de vermes nas chagas, e
perdeu a confiança nos curandeiros e adivinhos pagãos
3.6.5. Édito de 311, põe fim à perseguição
3.6.5.1. No Ocidente, Constantino (César) nunca organizou perseguição
3.6.5.2. No Oriente, Maximino Daia (César de Galério), obedeceu-o apenas
enquanto Galério estava vivo.
3.6.5.2.1. Depois, intensificou a perseguição e a polêmica
4. As últimas testemunhas
4.1. Perseguição de 303 foi a mais violenta, mas também, nela, abundou figuras
admiráveis (ressalvando, é claro, muitas traições)
4.1.1. Cisma donatista: problema do perdão dos apóstatas
4.2. Pior dos sacrilégios: entraga dos livros sagrados
4.3. Mártires do Cânon da Missa (Oração Eucarística I): Cosme e Damião, Crisógono,
Jorge, Brás, Erasmo, Pantaleão, Margarida, Catarina

6
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 25 e 26. A Luta final e a cruz sobre o mundo: Constantino (Rops I, cap. IX)

II. REVIRAVOLTA DE CONSTANTINO

5. “Com este sinal vencerás”


5.1. Introdução a Constantino, o Grande
5.1.1. um dos atores mais decisivos da história universal
5.1.2. Figura altamente controversa
5.1.3. Apologia de Eusébio de Cesaréia (autor da História Eclesiástica): Vida de
Constantino, exaltando as suas virtudes morais e religiosas
5.1.4. Igreja Ortodoxa: santo (junto com a sua mãe, Helena)
5.1.5. Um dos maiores estrategistas políticos e militares
5.1.6. Fortuna (ou Providência) sempre o velou
5.1.7. Tinha apenas 32 anos, quando mudou o curso da história
5.2. Procedência: Nasceu em Naisso, atual Sérvia, por volta de 280
5.3. Filiação
5.3.1. Pai: Constâncio Cloro, primeiro César e depois Augusto do Ocidente
5.3.2. Mãe: Helena, de condição modesta, criada de estalagem ou filha de um
hoteleiro da Ásia Menor, a quem o Imperador Constância Cloro não desposou
legalmente
5.4. Educação e honra
5.4.1. Corte de Nicomédia, sob Diocleciano, em parte como pajem, em parte como
refém
5.4.2. Entrou aos 15 anos para o Exército e aos 18 já erra “tribuno de primeira fila”
(general de brigada)
5.4.3. Famoso por sua coragem física indefectível
5.5. Caráter

1
5.5.1. Provas de firmeza e mesmo de clemência em meio a tempos turbulentos e
incertos
5.5.2. Esperto, capaz de farejar as ciladas que lhe armavam, sobretudo a rivalidade
latente com Galério
5.5.3. “Ar de gravidade serena, a quem uma real gentileza e uma ironia natural
emprestavam um matiz de afabilidade levemente zombeteira” (4040)
5.5.4. Estátuas o apresentam majestoso, sério, austero, boca ávida com qualquer
coisa de pueril e de inocente nos olhos muito abertos
5.5.5. Inteligente, mas de cultura medíocre; estropiava o grego e respeitava as letras,
embora não as praticasse
5.5.6. Natureza complexa, contraditória: vontade férrea, mas inconstante
5.5.7. Generoso e clemente, mas também explode em violências sanguinárias e em
terríveis crueldades, misto de humildade sincera e orgulho
5.5.8. Bárbaro (no sentido psicológico): homem de transição, instável, ligado a
tradições e princípios que não compreende, mais instintivo do que político, mais
supersticioso do que racional, homem inteiramente voltado para o futuro

5.6. Biografia
5.6.1. Quando Diocleciano se retirou, Galério achou prudente conservá-lo junto de
si, por ser tão lançado, corajoso, por quem os soldados nutriam louca admiração
5.6.2. Depois Galério se arrependeu, tentando se livrar dele, lançando-o em
estranhas aventuras, desafiando-o a combater um leão e um sármata gigantesco
(cavaleiro iraniano)
5.6.3. Por ordem do seu pai, o Augusto Constâncio, vai à Inglaterra, mas se ausenta
da expedição e parte pela estrada de Bolonha do Mar, tendo o cuidado de mutilar
os cavalos de posta em cada etapa, para que Galério não pudesse alcançá-lo
5.6.4. Seu pai morre em York, em 306, na expedição britânica, e as legiões o
proclama Augusto, sem que Galério, o Augusto do Oriente, tivesse sido
consultado
5.6.4.1. Galério se limitou a considerá-lo apenas César, com que Constantino
se contentou provisoriamente
5.6.5. Sucesso militar garantiu-lhe fidelidade das suas tropas
5.6.6. Torna-se o único poder do Ocidente
5.6.7. Em 307, Maxêncio, filho do ex-Augusto do Ocidente, Maximiano, dá um
golpe de Estado e se proclama Augusto, colocando junto de si o seu velho pai

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5.6.7.1. Por inveja e Constantino e por ressentimento de ter sido preterido por
Galério, Augusto do Oriente, que escolheu como César Maximino Daia
5.6.7.2. Maxêncio e Maiximiano tentam se aproximar de Constantino para, os
três, subjugarem os imperadores do Oriente (Augusto Galério e César
Maximino Daia)
5.6.7.3. Constantino desposa Fausta, a sedutora filha de Maximiano, irmã de
Maxêncio, que conhecera em Nicomédia e que o tinha presenteado com
um capacete de ouro por ocasião da sua aventurosa partida
5.6.7.4. Depois de algum tempo, Maximiano tenta liquidar o genro
5.6.7.5. Fausta finge entrar na conspiração do pai, mas previne o marido
Constantino, que põe um eunuco na sua cama, que é assassinado pelo
sogro no seu lugar. Quando Maximiano saia do aposento com o gládio
manchado com o sangue e gritando “Fausta, o tirano morreu!”,
Constantino, com seus homens, o surpreendem, de um aposento do lado,
e o detém, executando-o enforcado numa prisão.
5.6.8. Em 311, Galério morre
5.6.8.1. Oriente: Maximino Daia e Licínio
5.6.8.2. Ocidente: Maxêncio (filho de Maximiano, assassinado pelo genro
Constantino, casado com Fausta, irmã de Maxêncio)
5.6.8.2.1. Maxêncio considerava o único Augusto de Roma, reparava
estradas, realizava grandes trabalhos e multiplicava faustosamente os
espetáculos populares
5.6.8.2.2. Tipo curioso: homem baixo, moreno, cabelo cortado à
escovinha, temperamento cético e desiludido, indulgente para com
os cristãos mas restaurador de ídolos, e que pouco se importava com
o ofício de armas, mesmo nesses dias de grande violência
5.6.9. Em 312, Constantino firma a fronteira do Reno e concluí um acordo com
Licínio, César do Oriente, a quem dá a sua irmã Constança em casamento
5.6.9.1. Constantino entre, então, em campanha contra Maxêncio, ao lado de
“apenas” 40.000 homens, todos “bárbaros” (gauleses, germanos e
bretões), considerados suficientes para dispersar os 10.000 soldados da
corte ou mercenários africanos que Maxêncio tinha reunido às pressas
5.6.9.2. O Augusto Maxêncio não se atrevia a sair da cidade, pois um Oráculo
lhe revelara que morreria se transpusesse as muralhas

3
5.6.9.3. Constantino dirigia pessoalmente a campanha verdadeiramente
napoleônica: atravessou os Alpes, tomou Susa, repeliu um ataque de
cavalaria pesada no Pó, tendo as portas de Turim, Milão, Verona e Módena
abertas para ele
5.6.9.4. Em Roma, o terror começou a se alastrar e decidiram, à revelia do
Augusto Maxência, enfrentá-lo fora de Roma, libertando os portos que ele
bloqueara
5.6.10. Batalha da Ponte Mílvia
5.6.10.1. A 27 de outubro de 312, Constantino chega, pela Via Flamínia, aos
arredores de Roma, avistando pela primeira vez a “capital do mundo”, que
ele nunca visitara, pois sempre vivera no Oriente ou nas Gálias
5.6.10.2. No dia seguinte, o exército de Maxêncio atravessou o Tibre pela ponte
de Mílvio e por outra ponte de barcas que se formara para duplicá-la
5.6.10.3. Com Constantino à frente dos seus gauleses, os romanos foram
atacados no desfiladeiro, sendo atacados de costas para o Rio, fugindo dos
nórdicos. Maxêncio foi apanhado com os soldados em debandada, caiu na
água devido ao desmoronamento da ponte das barcas e se afogou. No dia
seguinte, a sua cabeça foi exposta em Roma, espetada numa lança

5.7. Conversão
5.7.1. Até então, um pagão tolerante, talvez sincretizando o Evangelho
5.7.2. Três anos antes, invocava ainda o Sol Invictus e teve a epifania de Apolo
5.7.3. No dia seguinte da vitória, torna-se um cristão convicto
5.7.3.1. Questão envolvida por muitas lendas
5.7.3.2. Comprovado não só pelos historiadores cristãos (sobretudo Eusébio
de Cesaréia), mas também pelos panegíricos e inscrições oficiais
5.7.3.3. Quatro fontes
5.7.3.3.1. Arco do Triunfo, erigido em 313: “por uma inspiração da
divindade” – “Por este sinal de salvação, eu preservei e libertei a
vossa cidade do tirano e restaurei a liberdade.”
5.7.3.3.2. Eusébio de Cesaréia, em 312: “invocou a Cristo e a Ele deveu
a vitória”
5.7.3.3.3. Eusébio de Cesaréia, Vida de Constantino, 318
5.7.3.3.4. Lactâncio, 318

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5.7.4. Lactâncio: pouco antes da batalha, em sonho, recebeu de Cristo a ordem de
colocar sobre o escudo das suas tropas um sinal formado pelas letras CH e R
(monograma que se encontra nas moedas e inscrições constantinianas)
5.7.5. Eusébio (informado pelo próprio Imperador, de quem escreveu o panegírico):
pouco antes de entrar na batalha decisiva, C. apelou para o Deus dos cristãos e
viu no céu uma cruz luminosa, com as palavras em grego “Com este sinal
vencerás”. Na noite seguinte, Cristo apareceu-lhe e mostrou-lhe a cruz,
convidando-o a fazer uma insígnia que a representasse (Labarum), a qual passou
a acompanhar os exércitos de C.
5.7.6. Razões “psicológicas”: manobra política?
5.7.6.1. Batizado apenas 25 anos depois, antes da morte
5.7.6.2. A história não é inverossímil
5.7.6.3. Os pagãos da época eram obcecados com sobrenatural
5.7.7. Uma vez vencedor, encetou uma política cristã
5.7.8. “Novo Moisés”

6. O “Edito de Milão” de 313 e a política cristã


6.1. Entrada triunfal em Roma, onde foi muito bem recebido
6.1.1. As classes altas detestavam Maxêncio, que as sobrecarregava de impostos
6.1.2. O povo aderiu facilmente ao vencedor, como sempre
6.2. Constantino se demonstrou “moderado”
6.2.1. Mantendo os funcionários
6.2.2. Proibindo a morte por delação
6.2.3. Licenciando as tropas pretorianas
6.2.4. Executando um filho de Maxêncio e alguns de seus amigos e fiéis
6.3. Recuperou aquedutos em mau estado, o que o popularizou
6.4. Aceitou as honras “divinas” do paganismo (época de transição)
6.5. Mandou cunhar moedas com o Chi-Rho e o Lambarum continuou nos estandartes
acima dos seus exércitos
6.6. Exigiu a suspensão da perseguição no Oriente (em carta ao Augusto Maximino Daia)
6.7. O procônsul da África recebu a ordem de devolver os bens confiscados da Igreja
6.8. Já nesse inverno de 312-313, o tesouro público contribuiu para a reconstrução dos
edifícios de culto e que o papa Milcíades obteve da Imperatriz Fausta o suntuoso
Palácio de Latrão, onde pouco depois se reuniria um concílio

5
6.9. Em janeiro de 313, encontra-se, em Milão, com o seu cunhado Licínio, César do
Oriente, que acabara de desposar a sua irmã Constança
6.9.1. Já nas Bodas imperiais, os cunhados conversam sobre a política cristã
6.9.2. As negociações em Milão são interrompidas pela Guerra do César Licínio
com o Augusto Maximino Daia
6.10. Documento “Edito de Milão” é um conjunto de cartas trocadas pelos
cunhados (Licínio derrotou Maximino e se tornou Augusto), em que acordam um
certo número de cláusulas do acordo provavelmente feito pessoalmente: paz
constantiniana
6.11. Princípio de tolerância: “A liberdade de religião não pode ser tolhida e é
necessário permitir, quanto às coisas divinas, que cada um obedeça às moções da sua
consciência (...) Os cristãos têm plena liberdade para seguirem a sua consciência.
(...) O que concedemos aos cristão é igualmente concedido a todos os outros. Cada
um tem o direito de escolher e praticar o culto que preferir, sem ser lesado na sua
honra e nas suas convicções. Depende disso a tranquilidade do nosso tempo. ”
6.11.1. Licínio era pagão e voltará a perseguir os cristãos quanto romper com o seu
cunhado Constantino
6.12. Ajuda à Igreja: restituição imediata e indenização de toda propriedade
confiscada, igrejas e propriedades coletivas, para a reconstrução das ruínas.
6.12.1. Contribuição para a valorização popular do cristianismo
6.12.2. Mudança radical da visão do cristianismo na sociedade, não mais superstição
oriental difamada e caluniada, mas o futuro da civilização, a esperança de um
futuro melhor
6.13. O fato histórico mais importante da história do cristianismo depois da morte
e ressurreição de Cristo (410)
6.13.1. Triunfo da Revolução da Cruz, recompensando o esforço dos Apóstolos e
Mártires

7. A consciência de Constantino
7.1. Terá 15 anos para consolidar a sua política cristã com sucesso, de modo que os
ataques ulteriores do paganismo, como o do seu sobrinho Juliano, o Apóstata, não
poderão abalá-la
7.2. Mas Constantino não pode ser idealizado – como o foi pelos historiadores cristãos
como Eusébio, Sócrates, Sozomeno, Teodoreto e Orósio e mesmo pelo grande São
Jerônimo – como um cavaleiro cristão a derrubar ídolos e templos pagãos

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7.3. Considerava-se cristão e respeitava a Igreja: isentou de taxas municipais os
sacerdotes, proibiu os judeus a apedrejarem aqueles dentre os seus que queriam se
converter ao cristianismo, autorizou testar em favor da Igreja (agora uma corporação,
uma “pessoa jurídica” com patrimônio próprio, a ser administrado pelo Bispos),
conferiu autoridade e jurisdição civil ao Bispos
7.4. Transição prudente e contemporizadora do paganismo: conservou o título de divino
e a dignidade de Sumo Pontífice, embora não tenha exercido as funções litúrgicas do
pontificado pagão, fazendo-se representar por um Promagister, não proibiu os
adivinhos (apenas as operações de magia), permitiu que se erigissem templos às
divindades locais de Bizâncio
7.5. Contradições interiores, supersticioso e temeroso de não irritar o Senhor Supremo”,
conversão lenta, que dura até o fim da vida, quando decide finalmente batizar-se
7.5.1. Com o tempo, passa a se comportar como cristão e mesmo ostentar
propaganda prosélita.
7.5.2. No Palácio Imperial, em Constantinopla, mande erguer um quadro que mostra
o imperador em oração, com os olhos postos no céu.
7.5.3. Outra imagem o retratava atravessando um dragão com o ferro do Labarum.
7.5.4. Mandou construir um oratório particular, com uma simples cruz.
7.5.5. Na capela imperial, aparece como um hierofante.
7.5.6. Compõe uma oração que os seus soldados têm ordem de aprender.
7.5.7. Distribui moedas com inscrições cristãs, nas províncias
7.5.8. Escrever ao seu rival iraniano, o rei Sapor II, convidando-o a converter-se ao
cristianismo
7.5.9. Quando sente aproximar-se do fim, manda edificar uma basílica com doze
sarcófagos de pórfiro em comemoração dos santos Apóstolos, e um décimo
terceiro reservado a ele
7.6. Autor da época o descreve como
7.6.1. Praestantissimus: soberano prestigioso, poderoso restaurador e reunificador
do Império, construto de Constantinopla, homem que replandecia um orgulho
sobre-humano, evergando pesados tecios cravejados de pedrarias e um cintilante
diadema
7.6.2. Pupilus: espírito de infância que ele conservou, tratando padres e bispos e
principalmente a Deus com reverência filial
7.6.3. Latro: bandido, aventureiro, bárbaro que se metia de permeio
7.7. Terrível violência, sanguinário

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7.7.1. Lança às feras os chefes germanos vencidos
7.7.2. Torturou até a morte seis mil priosioneiros suevos
7.7.3. Assassinou
7.7.3.1. Seu cunhado Licínio
7.7.3.2. Sua esposa Fausta
7.7.3.3. Seu filho Crispo
7.8. Conflito com o Augusto Oriental Licínio, seu cunhado, cada vez mais anticristão, à
medida que Constantino se tornava cada vez mais cristão
7.8.1. Licínio impediu as reuniões de homens e mulheres cristãos e a reunião de
bispos
7.8.2. Execuções voltaram a ocorrer
7.8.3. Constantino se torna o defensor da fé
7.8.4. Depois de uma primeira vitória sobre Licínio, a mulher deste, Constança,
obteve do seu irmão Constantino o perdão do marido
7.8.5. Mas foi uma graça provisória, pois, seis meses depois, sob o pretexto de que
Licínio conspirava contra ele, Constantino mandou-o estrangular
7.8.6. Política “cristã” paganizada da época
7.9. Duplo drama palaciano
7.9.1. Execução do filho Crispo, jovem César, de um primeiro casamento
(provocado pela imperatriz Fausta?)
7.9.1.1. Grande rebuliço em Roma, perdendo a sua popularidade
7.9.1.2. A velha imperatriz Helena recriminou ardentemente o filho pelo
assassinato do seu mais querido dos netos
7.9.2. Transtornado, despedaçado, tremendo de remorsos e angústias, Constantino
decidiu-se por um novo crime, o de sua esposa Fausta

8. Santa Helena e a sua peregrinação


8.1. Expiação pelos pecados do filho
8.2. Episódio também cercado de lendas e tradições que narram feitos extraordinários
8.3. Mulher enérgica, já cristã, aos 78 anos, parte para a Terra Santa, para a descoberta
da Santa Cruz
8.4. Alto investimento imperial para a escavação arqueológica, inclusive com os bens de
Fausta
8.5. Descoberta do Calvário e do Sepulcro, com três cruzes, que operaram milagres
8.6. Maravilhamento de Constantino

8
8.7. Construção de três igrejas
8.7.1. da Paixão
8.7.2. da Cruz
8.7.3. do Túmulo
8.7.3.1. A atual Basílica do Santo Sepulcro, erigida pelos cruzados, ocupa
esses três espaços
8.8. A Cruz foi divida em três partes
8.8.1. Roma
8.8.2. Constantinopla
8.8.3. Jerusalém
8.8.4. Depois distribuía pelo mundo inteiro
8.9. Helena foi canonizada por tamanho feito
8.10. Constantino soube honrar a sua memória: Basílica da Santa Cruz de Jerusalém
8.11. Igrejas em Roma com as estações litúrgicas, Belém, Sepulcro, Ressurreição,
das quais originou o ciclo litúrgico, no século IV

9. Uma “política cristã”


9.1. Astúcia e convicção
9.2. Síntese do cristianismo com o Império
9.2.1. Monoteísmo e monopolização política imperial
9.3. Considerava-se investido pela Providência com uma missão divina, responsável pela
salvação do mundo, representante de Deus na terra, longínquo antepassado de Carlos
Magno (séc. IX) e São Luís (séc. XIII, século de Ouro, Escolástica, Arquitetura
Gótica, Sainte-Chapelle, 7ª Cruzada)
9.4. Primeiro passo para a universalização do cristianismo
9.5. Influência cristã na legislação: “bom justiceiro”
9.5.1. Privilégios financeiros à Igreja e seu clero
9.5.2. Domingo e festas cristãs (feriados): dias de descanso obrigatório
9.5.3. Proibição do suplício da Cruz
9.5.4. Proibição da punição com ferro em brasa na face dos criminosos
9.5.5. Reorganização da família e diminuição do poder outrora absoluto do pater
9.5.6. Assistência do Estado às crianças abandonadas
9.5.7. Melhoria da sorte dos escravos, cuja igualdade moral é reconhecida e cuja
alforria é facilitada, sendo proibido separá-los da esposa e filhos

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9.5.8. Medidas contra adultério, concubinas de homens casados, rapto de donzelas
e sua prostituição pelos tutores
9.5.9. Apenas as leis relativas aos costumes têm sanções terríveis, que fazem
lembrar a ferocidade das XII Tábuas
9.5.9.1. Estuprador de uma virgem era queimado vivo
9.5.9.2. Foi a influência histórica do cristianismo ao longo dos séculos que
“sensibilizou” a humanidade
9.6. Mas a legislação, por si só, não muda a sociedade, embora tenha grande efeito
simbólico
9.6.1. Os espetáculos sangrentos ou obscenos nas representações circenses foram
proibidos, mas sobreviverão
9.6.2. Penetração da vida cristã nos costumes
9.7. Mudança na arquitetura urbana
9.7.1. Basílicas constantinianas, imitadas da antiga arquitetura romana
9.7.2. Oratórios dos santos nos cruzamento das ruas, no lugar das esculturas dos
velhos deuses da cidade
9.7.3. Vocabulário: nomes dos santos
9.8. Intuição de que somente o cristianismo, em pleno vigor, poderia injetar o
indispensável elemento de renovação no Império decrépito e abalado
9.9. Política
9.9.1. Unidade – amor fraterno da Doutrina
9.9.2. Ordem – disciplina firme da Igreja
9.10. A Igreja se une ao Estado para a reconstituição do Império
9.10.1. Agradecia pelo seu protetor, aceita daí em diante os costumes do protocolo
imperial
9.10.2. Não se opõe às genuflexões rituais diante dele
9.10.3. Quase o inclui na sua hierarquia
9.10.4. Funcionários cristãos, a quem foi dado lugar privilegiado, sentem-se
solidários com o bem público
9.10.5. Palácio imperial repleto de sacerdotes e bispos
9.10.6. Direito impregnado de princípios evangélicos
9.10.7. Tentativa de converter os bárbaros nas fronteiras
9.11. Sua obra não foi de salvar o passado, mas de construir o futuro
9.11.1. Origem da “Idade Média”, inclusive nos seus piores perigos, das tentativas
teocráticas, de Carlos Magno e do Sacro Império Germânico

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10. “O bispo do exterior”: Poder temporal e espiritual
10.1. Aliança com o Poder: vantagens e desvantagens
10.1.1. Dante, Divina Comédia
10.1.1.1. Inferno, XIX – Simoníacos
10.1.1.2. Paraíso, VI – Imperadores Cristãos
10.2. Aburguesamento da fé, antes heroica
10.3. Não chegou a um “cesaropapismo”, mas promoveu alguma confusão entre o
poder temporal e espiritual
10.4. Considerava-se o bispo “do exterior”, habilitado a intervir em assuntos
religiosos, já que responsável pela cristianização dos “súditos’ (e ele nem batizado
era)
10.5. A principal influência dessa confusão foi no Oriente, na Civilização
Bizantina, em que a Igreja Ortodoxa e a cultura helênica vão se fundir com o Estado
numa só realidade (estatismo)
10.5.1. Em Roma, essa influência estatal sobre a Igreja foi menor, por causa da
presença do Papa
10.6. Há 300 anos, o Império tendia para a centralização, mesmo totalitarismo
10.6.1. Diocleciano o realizou: funcionalismo gigantesco que reivindica todas as
forças da sociedade
10.7. Contradição do estatismo cristão: monstro moral, abismo de contradições
10.8. A Igreja vai usar da mesma força que antes a oprimia
10.9. Na segunda metade do reino de Constantino, medidas antipagãs
10.9.1. Interdição do Oráculo de Apolo
10.9.2. Supressão de certos cultos orientais em que a moral era gravemente ofendida
10.9.3. Execução de Sopatros, certo mágico de grande poder
10.9.4. Destruição dos livros de Porfírio, polemista anticristão
10.10. Na grande crise da heresia ariana, é a própria Igreja que leva o “braço secular”
a intervir
10.11. Em 50 anos, o cristianismo se torna intolerante e perseguidor, equiparando a
heresia e o cisma a crime e obrigando o Estado a castigá-los (política que dura por
praticamente toda a Idade Média, sendo radicalizado durante a Inquisição)
10.12. Ao invés do apostolado homem a homem, lento mas eficiente nos primeiros
séculos, a Igreja procura batizar os chefes, no século V, para que estes imponham
imediatamente aos seus súditos, em bloco, a fé recém-adquirida

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10.13. Intervencionismo do Imperador em assuntos religiosos, como na questão
ariana
10.14. Confusão das instâncias: Concílio de Arles, em 314, decidiu que seria
excomungado um soldado que se furtasse aos seus deveres militares
10.15. Renan: “O cristianismo soçobrou na sua vitória”
10.16. Zeiller: “proteção onerosa do Estado”
10.16.1. A prerrogativa do poder: o direito que o Estado adquire por proteger
a Igreja implica certa dominação sobre ele

11. A “nova Roma”


11.1. Constantinopla, fundada em 330, com festas gigantescas, missas, espetáculos
11.1.1. “Dedicada” segundo os ritos antigos em 324
11.2. Razões secundárias
11.2.1. Estratégica: posição geográfica privilegiada para proteção conta os sármatas,
godos, persas e, depois, mulçumanos
11.2.2. Econômica: Roma declinava e perdia toda a sua importância comercial.
Importância das rotas orientais
11.2.3. Política: desconfiança do povo de Roma do Imperador sanguinário
11.2.4. Psicológica: remorso de seus pecados familiares
11.3. Razão principal: principal ato da sua política cristã
11.3.1. Facilitar a cristianização do mundo
11.3.2. Escapar das velhas tradições pagãs
11.3.3. Mais uma visão mística
11.4. Descrição vibrante de Rops (430)
11.4.1. Geografia
11.4.2. Arquitetura: Santa Sofia
11.4.3. Três línguas
11.4.4. Colônia marítima helênica
11.5. Cidade construída com a rapidez exigida pelo déspota
11.5.1. Durante 6 anos ininterruptos
11.5.2. 40 mil godos como trabalhadores forçados
11.5.3. A preço de ouro, foram recrutados especialistas em alvenaria dos quatro
cantos
11.5.4. Arquitetos
11.5.5. Estátuas

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11.6. Habitantes
11.6.1. Alforrias
11.6.2. Promessas aos traficantes das costas mediterrâneas
11.6.3. Multidão mista, abarrotada de alimentos e espetáculos
11.6.4. Nobres, ricos e senadores, para formar o entorno imperial
11.7. Monumentos
11.7.1. Santa Sofia (destruída pelo fogo duas vezes em dois séculos, reconstruída por
Justiniano)
11.7.2. Palácio
11.7.3. Hipódromo
11.8. Três poderes
11.8.1. Deus
11.8.2. Imperador
11.8.3. Plebe
11.9. Com sete colinas, fundava-se a “Nova Roma”, que a voz popular batizou de
“Constantinopla”, sabendo que era fruto de um só homem
11.10. Prerrogativas de uma capital imperial, em breve suplantando a antiga
11.10.1. Residência Imperial
11.10.2. Senado
11.10.3. Conselhos
11.10.4. 14 bairros
11.10.5. Casa da moeda
11.10.6. Universidade
11.11. Divisão definitiva do Império
11.12. Surgimento da futura “Civilização Bizantina”, em que o elemento helênico
traga o latino, que dura 11 séculos, e que se separa da irmã latina, quando Roma
desmorona sob germanos e hunos
11.13. Oportunidade de a Igreja, permanecida em Roma, de salvaguardar a sua
autonomia perante as proteções suspeitas do poder
11.14. Duas consequências históricas mais importantes
11.14.1. Futuro Cisma Grego (1054)
11.14.2. Consagração do Poder Pontifício

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12. O batismo de morte, 337
12.1. Recebe a notícia da sua morte iminente, em 330, aos 53 anos, no palácio
imperial
12.2. Decide dividir novamente o Império, em regime análogo à tetrarquia, mas
menos estritamente hierarquizado e mais fracionado
12.2.1. Acrescentando o elemento hereditário (diferente do regime de eleição de
Diocleciano)
12.2.2. Constantino, filho mais velho, ficou com o Ocidente, a Gália, a Espanha e a
Bretanha
12.2.3. Constâncio, com o Oriente
12.2.4. Filho mais novo, a Ilíria, a Itália e a África
12.2.5. Sobrinho Dalmácio ficou com a Trácia, Macedônia e a Grécia
12.2.6. Sobrinho Anibaliano, Ponto e a Armênia
12.2.7. Casamentos entre familiares para garantir o poder da dinastia
12.3. Manda abençoar solenemanete o seu mausuléu
12.4. Ainda tem forças para ir a uma batalha contra os persas na Mesopotâmia,
contra o antigo amigo Sapor II, que desiste e tenta conciliação
12.4.1. Constantino não quis represália, apenas voltar à sua cidade natal para celebrar
a Páscoa
12.5. Tinha uma espécie de “febre de Malta”, que não tinha cura
12.6. Foi tomar os banhos em Helenópolis e ajoelhar-se no túmulo de Luciano de
Antioquia, o doutor mártir que tanto venerava
12.7. O mal agravou-se, não pôde ou não quis voltar a Constantinopla, retirando-se
à sua modesta casa de campo
12.7.1. O Bispo Eusébio, confessor da sua irmã, não saia de junto dele
12.7.2. Já na cama, desengando, pediu o batismo
12.8. Razões do batismo tardio
12.8.1. Política: chefe de um império cuja metade da população ainda era pagã. Nas
vésperas da sua morte, confirmava por um edito os privilégios dos sumo-
pontífices das províncias, mantendo assim o culto imperial
12.8.2. Religiosas: garantia absoluta de salvação (prática corrente na época)
12.9. Morreu com a alba dos neófitos, não com as vestes imperiais de púrpura

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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 27. O grande assalto da inteligência (Rops I, cap. X, 1-5)

1. Introdução: Lutas teológicas e dramas temporais


1.1. Contradição no séc. IV
1.1.1. Triunfo social, político: Constantino
1.1.2. Divisão teológica: heresias
1.2. Constante histórica das heresias e cismas
1.2.1. Montanismo (séc. II)
1.2.2. Gnosticismo
1.2.3. Marcianismo (dualismo iraniano, protestantismo)
1.3. Particularismos regionais: “O cristianismo, que é essencialmente a religião de
homens livres e exige menos a submissão a ritos do que a adesão profunda da
consciência, está, mais do que qualquer outra doutrina, exposto a sofrer a ação de
forças centrífugas.” (p. 438)
1.4. Época inaugurada por Constantino, multiplicam-se dezenas de heresias (muitas
delas esquecidas e de interesse teológico especializado)
1.4.1. Pneumatômacos: negavam a divindade do Espírito Santo
1.4.2. Apolinaristas: partidários de uma divisão tripartida da natureza humana,
sustentavam que Cristo era homem pelo corpo e pela alma sensível, mas
Deus pelo Espírito e unicamente por ele
1.5. Heresias que alcançaram dimensão social relevante (exigindo heroísmo e mesmo
martírio; todas enfrentadas por Santo Agostinho, na transição do séc. IV-V)
1.5.1. Donatismo
1.5.2. Arianismo
1.5.3. Maniqueísmo
1.6. Cristianismo cresceu, há muito mais gente para disciplinar e unificar
1.6.1. Os dissidentes (heréticos) se reúnem em “anti-igrejas”
1
1.6.2. Como enfrentá-los como armas meramente espirituais, como a
excomunhão?
1.6.3. Apelo ao “braço secular” do Estado (Império absolutista)
1.6.4. E se o Imperador cometer um erro doutrinal e impor a heresia?

2. O cisma herético de Donato (DONATISMO)


2.1. Primeiro problema doutrinal grave do religiosamente inexperiente Constantino
2.2. Um século de dilaceração da África
2.3. Problema: como lidar com os lapsi, os covardes e fracos que fugiram por ocasião
da grande perseguição (de Diocleciano) ou tinham entregado os Livros Sagrados?
2.3.1. Roma: Papa Milcíades (311) apazigua a controvérsia
2.3.2. Egito: em 313, uma guerra religiosa se insinuava, quando Constantino foi
chamado a intervir
2.4. Miasma de delações e autoexaltações (rivalidade mimética, Girard): São
Cipriano tinha exortado a prudência com os exagerados, vaidosos e temerários
2.5. Tudo começou com intrigas pessoais e rivalidades entre Mensúrio, primaz de
Cartago, e Segundo, da Numídia
2.5.1. O grupo de adversários do diácono Ceciliano, que sucedeu a Mensúrio
como primaz de Cartago, contesta a validade da sua eleição
2.5.2. Convocação de um Concílio para discuti-la, que, depois de discussões
acaloradas de ordem pessoal, depôs Ceciliano, elegendo Majorino (que
andava com a devota Lucila, espanhola considerada semi-louca, que
financiou a sua eleição)
2.5.3. Surge então um cisma, com duas igrejas rivais
2.6. Donato
2.6.1. Apto para a doutrina, a ação e o governo
2.6.2. Alma de um profeta
2.6.3. Temperamento de um lutador
2.6.4. Espírito de líder
2.6.5. Ambição sem limites: acalentou a ideia de opor à Igreja universal uma
Igreja africana particular que fosse autônoma e que ele cuidaria de dirigir
2.6.6. Polemista mordaz, orador vigoroso e escritor de categoria
2.6.7. No “Concílio” de Cirta, teve a astúcia de atuar pelos bastidores,
manobrando Majorino e sua Lucila

2
2.6.8. Depois, substitui o testa-de-ferro à frente de um estado-maior de
ambiciosos sem escrúpulos
2.7. Aos erros práticos de insubordinação à Igreja universal (de Roma), falta a base
teórica de intransigência ou indulgencia com os pecadores
2.7.1. A Igreja é, antes de tudo e exclusivamente, a sociedade dos justos e nada
mais.
2.7.2. Os pecadores deixavam de ser cristãos: “Para o pecado, nenhuma
misericórdia” (p. 443)
2.7.3. Todos os lapsi e traditores deveriam ser rebatizados, mas o batismo não
seria válido se fosse administrado por um sacerdote considerado faltoso aos
seus deveres (rigorismo, purismo)
2.7.4. O rigor expurgar os impuros: desconfiança, ódio, desmembramento,
arbitrariedade e simulação
2.8. Constantino intervém, escolhendo Ceciliano
2.8.1. Pede auxílio do Papa Milcíades, para resolver o conflito sem demora e
“conforme o direito”
2.8.2. Concílio em Roma, em 2/10/313, formado por quinze bispos italianos, três
das Gálias, dez africanos partidários de Ceciliano e dez partidários de Donato
2.8.3. A acusação foi mal defendida pelos cismáticos e não se sustentou
2.8.4. Ceciliano foi confirmado por unanimidade
2.8.5. Um segundo concílio, em Arles, chancelou a eleição de Ceciliano e
condenou expressamente a prática do “rebatismo”
2.9. Donato não se contentou com o resultado
2.9.1. Constantino emprega a força política pela primeira vez na história, em 316,
contra os cismáticos donatistas, depois de ter tentado pacificar o conflito por
vias não violentas
2.9.2. Motivos também políticos de conter anárquicos agitadores sociais,
chamados “vagabundos” que saqueavam fazendas, espoliavam viajantes,
obrigavam credores a rasgarem os títulos de crédito.
2.9.2.1. Como na Reforma Luterana, p.e., T. Mütz
2.9.3. Mão pesada na recuperação de basílicas, chegando os policiais a assassinar
um bispo donatista e alguns dos seus seguidores (gerando “mártires” da seita,
como na Reforma Protestante)

3
2.10. Em 321, ano decisivo em que ia travar a luta contra o seu cunhado e rival
Licínio, Constantino promulga um edito de tolerância que permitia os cismáticos
a continuarem a existir
2.10.1. Prova de fraqueza e incoerência de C.
2.11. A perseguição só fortaleceu o donatismo, que formou uma igreja paralela,
mais católica do que a católica, rejeitando qualquer contato com os católicos
2.12. Dura até o século V
2.12.1. Parmeniano dá continuidade ao trabalho teológico de Donato
2.12.2. Constante, filho e segundo sucessor de C., usará da força, mas será
derrotado
2.12.3. Juliano, o Apóstata, usará do cisma para abalar a Igreja
2.13. Autodecomposição, escândalo
2.13.1. Não logrou expandir-se para além da África, exceto parcialmente em
Roma
2.13.1.1. Fanatismo
2.13.1.2. Fim definitivo será explorado futuramente, neste Curso
2.13.2. Santo Optato de Milevo
2.13.2.1. Campeão da catolicidade e da unidade, teólogo dos sacramentos
2.13.2.2. Percursor de SA
2.13.3. Santo Agostinho (SA): unidade, moderação, clemência, verdadeira
caridade
2.14. Essa fragilidade na Igreja africana ajuda a explicar uma das causas da
pouca resistência oferecia ao furacão mulçumano, no século VII

4
3. Ário contra Jesus (ARIANISMO)
3.1. Arianismo foi a mais temível heresia que a Igreja enfrentou, porque colocou em
xeque a base da fé, falseou o sentido mais profundo da mensagem evangélica e
atacou o próprio Cristo
3.1.1. Donatismo era uma rebelião que não punha em causa o essencial da fé
3.1.2. Mais de 100 anos, uma violenta paixão pela verdade teológica, alcançando
as raias do delírio, ódio e duelos sem piedade
3.1.3. Por que nós, modernos, consideramos exagerada a disputa radical pela
Verdade, não será porque temos a fé mais tíbia e o temperamento mais
frouxo? (p. 446)
3.2. Heresiarca: Ário
3.2.1. Mistura inextrincável de qualidades e defeitos: inteligência, caráter,
violência, ambição
3.2.1.1. Austero, filosófico, aureolado de dignidade e quase santidade
3.2.1.1.1. Diferente de Lutero que cedeu à carne
3.2.1.2. Orgulho sempre presente nos grandes hereges
3.2.2. De origem líbia, oriental imbuído do espírito grego, muda-se para
Alexandria
3.2.2.1. Capital filosófica: gnosticismo, neoplatonismo, origenismo
3.2.2.2. Era já velho quando a crise arrebenta
3.2.2.3. Pároco da igreja de Baucalis, mas sua fama se estende
3.2.2.4. Nutria desejo de ser Bispo
3.2.3. Dom da retórica e publicidade atraia as multidões
3.2.3.1. Nova forma de sistematizar o dogma
3.2.4. Bispo de Alexandria, Alexandre, se inquieta
3.2.4.1. Convoca um sínodo em que uma centena de bispos do Egito e da
Líbia emitem uma opinião sobre as discrepâncias de Ário
3.3. Sistema teológico
3.3.1. Como toda heresia, parte de um ideia justa: a grandeza sublime e inefável
de Deus, único, não gerado, Aquele que é, o Ser, Poder e Eternidade
Absolutos
3.3.2. O Pai é incomunicável, incorpóreo, simples (não composto), insuscetível
de divisão e mudança

5
3.3.3. Além Dele, tudo é criatura, incluído Cristo, o Verbo de Deus, que não é
Deus como o Pai, não é seu igual, nem da mesma natureza
3.3.4. Ataca a divindade de Cristo, criatura, sujeita a cair no erro e a mudar, ainda
que tirado do nada por Deus antes de todos os séculos, antes de que o tempo
existisse
3.3.5. Ário venera essa Criatura única, encarnação da própria Sabedoria incriada:
“Jesus, o Cristo, não é Deus em si, por essência; tornou-se Deus pelo seu
heroísmo, pela sua santidade, pelos seus méritos, sendo tudo a prova de uma
escolha única, de uma predileção de Deus.” (p. 448)
3.4. Heresia mais fundamental, porque ataca o cerne da Revelação: Se Cristo não é
Deus, todo o cristianismo desaba e se esvazia da sua substância. Já não há
Encarnação nem Redenção.
3.5. Heresia o torna mais acessível aos pagãos, acostumados à divinização de heróis,
mas escandalizados com a ideia de Deus feito homem.
3.6. Reação a heresias modalistas (que negam a distinção entre as Pessoas,
distinguindo-as apenas pelos modos de atuação), como a sabeliana (do Padre
Sabélio)
3.7. Grande habilidade de Ário em jogar com o sentido das palavras da Escritura
3.7.1. “Deus me criou” (Provérbios)
3.7.2. “O pai é maior do que eu” (João)
3.8. Filosofismo cristão, deísmo hipócrita (? Rops se excedeu aqui?), seduz
extraordinariamente
3.9. Sínodo de Alexandria
3.9.1. Ário se apresenta com tranquila audácia; sabia-se apoiado, também por
certa tradição que remonta a Luciano de Antioquia e mesmo Eusébio de
Cesaréia (o historiador)
3.9.2. Amigo fiel de Eusébio, bispo de Nicomédia, personagem perigosa e de
ambição desmedida, que, residindo perto da capital oriental, Constantinopla,
tinha influência sobre o Imperador Constantino (a quem batizou no leito de
morte)
3.9.3. Ário (“homem de ferro”) enfrenta outra lamina de aço: ATANÁSIO,
pequeno diácono de 20 anos, secretário do Bispo Alexandre
3.9.4. Clima de grande exaltação

6
3.9.5. Excetuados dois ou três, todos os bispos presentes estavam do lado da
Ortodoxia, do bispo Alexandre
3.9.6. Em meio a gritos, Ário foi condenado a submeter-se ou demitir-se
3.9.7. Impossibilidade de manter sua função de presbítero, Ário foge do Egito
3.10. De simples agitação local, o movimento herético expande-se para todo o
Oriente, solo fértil para todo o tipo de religiões estranhas, teorias aberrantes e
inesgotáveis especulações sobre os mistérios divinos (diferente do Ocidente,
mais prático e menos especulativo)
3.11. Primeiro, instala-se na Cesaréia da Palestina, onde o Bispo lhe deu
proteção
3.12. Contatou Eusébio, Bispo de Nicomédia, que viu na polemica ocasião de
crescimento e carreirismo
3.13. Bispo Alexandre acusou formalmente de intriga o prelado de Nicomédia,
convertendo a questão egípcia num duelo de bispos, numa luta entre facções que
amaçava a unidade da Igreja oriental tão gravemente quanto o conflito donatista
amaçara a igreja africana
3.14. Todos os bispos tomaram conhecimento da polemica
3.15. Ário fez circular um “símbolo”, em que resumia as suas teses, envolvendo-
as habilmente em tantas expressões de duplos sentidos, frases equívocas, figuras
de linguagem, que muitas pessoas bem intencionadas poderiam ser induzidas a
erro
3.16. Também compôs obra importante, metade em prosa, metade em verso,
chamada Talia ou O Banquete, na qual afirmava que as suas doutrinas eram as
dos “verdadeiros filhos de Deus”, daqueles “a quem o espírito Santo inspira”.
3.16.1. Os intelectuais tomaram conhecimento desta obra e a estudaram
3.16.2. O povo simples repetia os refrãos de cânticos compostos pelo heresiarca,
nos quais, sob piedosa suavidade de palavras edificantes, se escondiam erros
abomináveis

7
4. O Concílio de Nicéia em 325
4.1. Em 324, C. venceu definitivamente seu cunhado Licínio, tornando-se senhor
também do Oriente
4.1.1. Em Nicomédia, encontra uma Igreja dividida, pior do que a da africana
4.1.2. C. não entendia como sutilezas teológicas poderiam ser tão decisivas e se
preocupava com a unidade política do império
4.2. Escreve uma carta longa, veemente e patética aos dois adversários
4.2.1. Exortando-os a abandonar as “discussões ociosas” e voltarem à comunhão
4.2.2. Seu espírito simplista o impedia de perceber a incompatibilidade da heresia
ariana com a ortodoxia trinitária
4.3. Envia Ósio de Córdoba, bispo experiente, com amplos poderes de investigação e
execução
4.3.1. Ósio vai à Alexandria e toma partido do bispo ortodoxo, Alexandre
4.3.2. Os hereges sublevaram-se e chegaram a destruir estátuas do imperador
4.4. Em Antioquia, a eleição episcopal termina em tumulto, quando a heresia ariana
é defendida por três ou quatro pelados, entre eles Eusébio de Cesaréia
4.5. C. manda mais dois oficiais do palácio encarregados para restabelecer a ordem
(social e religiosa) e repimir os arianos amontinados
4.5.1. Os partidários do rebelde eram obrigados a pagar duas vezes o imposto
4.6. C. decide resolver, ele mesmo, que “saberia sondar o fundo do coração”, o caso
4.6.1. Ósio e os prelados o aconselharam a reunir uma assembleia plenária
4.7. A Igreja sempre conheceu instituição conciliar
4.7.1. Em 49, São Paulo e os Apóstolos reuniram-se, em Jerusalém, para resolver
a questão judaizante
4.8. Para um império unido, uma Igreja unida
4.8.1. O universo, oecumene, tinha um único chefe (o imperador)
4.8.2. O concílio imperial deveria ser, portanto, universal (ecumênico)
4.9. Em 325, reuniu-se o primeiro concílio ecumênico, em Nicéia, cidade vizinha da
recém-fundada capital imperial de Constantinopla
4.9.1. C. procedeu às convocações diretamente, financiando a vinda de quem
quisesse comparecer
4.9.2. Segundo (a retórica de) Eusébio, “a flor dos ministros de Deus chegou de
toda a Europa, da Líbia e da Ásia.”
4.9.3. O Oriente estava mais bem representado do que o Ocidente

8
4.9.3.1. O Papa Silvestre não compareceu, porque estava em idade
avançada, enviando dois prelados, Vito e Vicente
4.9.4. Quantidade
4.9.4.1. Eusébio de Cesaréia: 250 bispos, acompanhados de tantos
sacerdotes, diáconos e acólitos que era impossível contá-los
4.9.4.2. Santo Atanásio: 318 (número que se tornou tradicional)
4.10. Reunião festiva e emocionante diante da prodigiosa reviravolta (com a
derrota do pagão Licínio): agora, o cristianismo era uma religião imperial, com o
fausto dos palácios, a majestade das cerimônias, a guarda de honra das armas
4.11. Ário, se não estava presente, manipulou sua doutrina pelos bastidores, com
manobras retóricas sutis, como o uso de um vocabulário propositadamente vago,
acentuando que se opunha às heresias já condenadas.
4.11.1. Apoiado por cerca de quinze bispos, entre eles, Eusébio de Nicomédia e
Eusébio de Cesaréia
4.11.2. Os arianos tinham contra si o profundo sentimento cristão de que, sem a
Encarnação do próprio Deus, não haveria Redenção
4.11.3. O diácono Atanásio acalentou esta verdade desde a sua juventude
4.11.4. “O Verbo se fez carne a habitou entre nós.”: Esta afirmação de São João
pressupõe que o Logos é plenamente Deus e não um homem divinizado à
maneira pagã. O Filho não é uma criatura; existiu sempre e sempre se
conservou ao lado de Seu Pai, unido a Ele, distinto mas inseparável; foi
sempre infalível e perfeito. Foi isto que o Concílio exprimiu ao afirmar que
o Filho é consubstancial ao Pai.” (p. 455)
4.11.4.1. Apenas cinco bispos recusaram-se a subscrever a declaração, em
que se patenteava o absurdo da heresia ariana
4.11.4.2. Três deles cederam à pressão do imperador, que ameaçou empregar
a força
4.11.4.3. Os dois emperdenidos preferiram partir para o exílio, com Ário,
nas montanhas da Ilíria
4.12. Os mais maldosos, com os Eusébios, pensaram que a heresia permanece
viva com a alteração “sutil” de uma letra: substituíram a palavra “homooúsios”
(da mesma substância, identidade) por “homoioúsios” (de substância semelhante)
4.12.1. Não mudar um “iota” (Mt. 5,18)

9
4.13. Promulgação de um novo Símbolo, que precisasse o velho Símbolo dos
Apóstolos
4.14. O concílio de Nicéia também tratou de outras questões
4.14.1. Estabeleceu-se a data da Páscoa, fixada definitivamente no domingo que
se segue ao dia 14 da lua de Nisa (março)
4.14.2. Resolveu-se o cisma egípcio de Melécio, derrotando-se os últimos
partidários de Paulo de Samosata e Novaciano

5. O Símbolo de Nicéia
5.1. Mesma “regra de fé”, apenas mais explícita do que a dos Apóstolos
5.1.1. Válida até hoje
5.2. Complemento no Concílio de Constantinopla, em 381, com as declarações sobre
o Espírito Santo, a Igreja, o Batismo, a absolvição dos pecados, a ressurreição
dos mortos e a vida eterna
5.3. Promulgação com a “fórmula de anátema”
5.3.1. Condenação explícita do erro, precisões punitivas
5.3.2. Risco de perder a verdade da fé
5.3.3. Mérito dos teólogos de investigar com precisão o significado de cada
palavra
5.3.4. Dificuldade com a tradução para o latim: p.e., essentia e substantia,
sinônimos em latim. Mas hipóstase e ousia, em grego, não o são tanto.

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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 28. O grande assalto da inteligência (Rops I, cap. X, 6-10)


6. A ortodoxia
6.1. Depois do Concílio, retoma-se a controvérsia
6.1.1. Temor de que o termo consubstancial permitisse heresias modalistas, como a sabeliana
6.1.2. Arianos criticam o “filosofismo” do Concílio: a Escritura não prevê essa definição
“filosófica”, Cristo não se autodenominou assim
6.1.3. Ademias, havia as rivalidades pessoais
6.2. O único homem capaz de servir de esteio firme da ordem ortodoxa, C., de personalidade fraca
e sugestionável, cedeu
6.2.1. Revelou-se de alma dividida e caráter extremamente sensível às influências, sobretudo
de Eusébio de Nicomédia, prelado político, hábil na manipulação lisonjeira do imperador
6.2.2. Sua irmã Constança era ariana, a quem C. queria se fazer perdoar por tê-la enviuvado
6.2.3. Sua mãe Helena aconselhava-o a venerar São Luciano de Antioquia, cujos ensinamos
estavam na base da heresia
6.3. Os 12 anos entre o Concílio e a morte de C. foram de marcados por idas e vindas, causando
um emaranhado de intrigas e mal-estar
6.3.1. Eusébio de Nicomédia, na surdina, incita os arianos do Egito e é enviado para a Gália.
Ao regressar, evita atacar de frente os fiéis ao imperador (ortodoxos) e inicia um ataque
pelos flancos
6.3.2. Os principais bispos defensores da ortodoxia são, um após outro, insultados,
caluniados e desacreditados
6.3.2.1. Atanásio, ainda jovem, substitui o bispo de Alexandria, Alexandre, e é exilado
por C., que cede a pressão dos hereges
6.4. Os arianos parecem triunfar, já que Ário foi anistiado no concílio transferido para Jerusalém
6.4.1. C. se enfurece e covifera contra o bando ariano, mandando queimar seus escritos
6.4.2. Depois, acalma-se e convida Ário a Constantinopla, pretendendo obrigar o muito
ortodoxo bispo da capital e receber o herege à comunhão
1
6.4.3. A morte de Ário e de C., falecido piedosamente, desejo de unificar a igreja e batizado
pelo ariófilo Eusébio de Nicomédia, não apaziguam o império até o fim do século IV
6.5. Perigo da associação entre o poder secular do Estado e o poder espiritual da Igreja
6.5.1. Os sucessores de C. serão todos maníacos de teologia, legisladores religiosas
improvisados
6.5.2. Constâncio: “Em matéria de fé, a lei sou eu!”
6.5.3. Autoritarismo e fanatismo religioso: “Basta que esteja no poder um ariano resoluto,
como Valente, para que a perseguição recomece e se assista à opressão de cristãos por
outros cristãos, de ortodoxos por hereses, e se desencadeie a guerra religiosa. Menos de
um século depois dos últimos mártires, a Igreja de Cristo ver-se-á nessa situação [de
martirizadora].” (p. 462)
6.6. Crise dolorosa, cheia de episódios dramáticos, violentos, patéticos, cômicos
6.6.1. Atanásio foi para a masmorra, como um bandido
6.6.2. Difusão de sub-heresias: semiarianos, pseudoarianos, semiortodoxos...
6.6.3. Antagonismo latente entre Oriente e Ocidente começa a se manifestar
6.6.4. Farisaimo legalista (letra predomina sobre o espírito): especulações verborrágicas
(“bizantinices”)
6.7. Risco mortal de dissolução da fé
6.7.1. Imperador Constâncio rejeita a expressão consubstancial, no Concílio de Rímini, em
359
6.7.2. O próprio Papa Libério parece ter cedido ao erro
6.8. Com a morte de Constâncio, em 361, começa a grande reação
6.8.1. No Ocidente, S. Ambrósio consegue aniquilar a heresia
6.8.2. No Oriente, o imperador herege Valente protege os rebeldes
6.8.2.1. Quando o Papa Dâmaso fizer declarações doutrinárias, em 377, ele encerra
definitivamente a questão ariana
6.8.2.2. Só então o Oriente se submete no seu conjunto
6.8.2.3. Em 379, um novo soldado da fé, Imperador Teodósio, retomando com mais
firmeza a obra de Constantino, impõe definitivamente a doutrina de Nicéia no
Concílio de Constantinopla, em 381
7. Grandes defensores do dogma: Santo Atanásio e Santo Hilário
7.1. Surgimento de grandes santos, “figuras inteiramente votadas a Deus, apaixonadamente fiéis
à verdadeira fé, firmes como rochas em posições que nem a intriga, nem as ameaças, nem o
exílio, nem a prisão puderam abalar” (p. 463)

2
7.2. Santo Atanásio
7.2.1. Personalidade extraordinária, maleável e forte
7.2.2. Domina a história religiosa do Egito e da cristandade inteira deste período conturbado
7.2.3. Inteligência superior, acostumado com as sutilezas do espírito filosófico oriental, mas
capaz de desmarcar as falas aparências
7.2.4. Grande místico, para quem a ação é um prolongamento da oração (S. Paulo, S.
Agostinho)
7.2.5. Diácono que substitui Bispo Alexandre, quando tinha apenas 30 anos
7.2.5.1. Fica no cargo até a morte, durante mais 45 anos
7.2.6. Atua nos bastidores do Concílio de Nicéia
7.2.7. Episcopado turbulento, com perseguições eclesiásticas e políticas
7.2.8. É exilado cinco vezes (!)
7.2.9. Acusações falas e absurdas, desmentidas, desde 335, no Concílio de Tiro
7.2.9.1. Assassinato de um sujeito que aparece vivo no outro dia
7.2.9.2. Sexo com uma prostituta que não o reconhece..
7.2.10. Nunca se cansa em denunciar a heresia
7.2.11. Aproveita o exílio na Gália para tornar conhecida no Ocidente a instituição monacal
recém fundada no Egito
7.2.11.1. Escreve a famosa Vida de Santo Antão
7.2.12. Em 346, volta a Alexandria, estabelece contato com bispos fiéis e escreve suas
doutrinais
7.2.13. Mais uma vez, é condenado pelo imperador Constâncio, diante do hesitante papa
Libério
7.2.13.1. Governa sua diocese de logo (“patriarca invisível”)
7.2.14. Seus escritos polêmicos contra o arianismo circulam em toda parte
7.2.15. Em 362, quando o imperador Constâncio morre, S. Atanásio regressa a Alexandria e
reúne um concílio, em adesão irredutível do dogma trinitário de Niceia
7.2.16. Morre em 373 como o homem mais célebre, a autoridade mais notável de toda a Igreja
7.2.17. Padre da Igreja de obra literária notável, não só polemica, mas também dogmática
(Contra os gregos, Encarnação do Verbo), exegética (Exposição e comentário dos
Salmos), moral (Da virgindade) e histórica (Vida de Santo Antão).
7.2.18. Duas questões primordiais
7.2.18.1. Encarnação, Rendenção: ninguém dá o que não tem; se Cristo não fosse Deus,
não poderia nos “divinizar”: “O Verbo se dez homem para nos tornar divinos”

3
7.2.18.2. Independência do poder temporal: “Não é permitido misturar o poder imperial
com o governo da Igreja”
7.2.19. Primeiro bispo não martirizado elevador aos altares
7.2.20. Doutor da Igreja

7.3. Santo Hilário de Poitiers


7.3.1. “O Atanásio do Ocidente”
7.3.2. Amor ardente, apaixonado, vivido, por Cristo feito homem, o Verbo encarnado
7.3.3. Sua vida foi menos movimentada do que o egípcio
7.3.3.1. Seu temperamento era menos abrupto e polêmico
7.3.3.2. O Ocidente era infinitamente menos agitado
7.3.4. Nasceu em 315, de família rica, possivelmente pagã
7.3.4.1. Sólida cultura civil
7.3.5. Espírito intelectual, apaixona-se pelo Prólogo de João
7.3.6. Casado e com uma filha, pede para receber as ordens sagradas
7.3.7. Aos 39 anos, já é Bispo da cidade natal, reconhecido pela sua fé e inteligência
7.3.8. Ao enfrentar a heresia ariana no contra-sínodo de Béziers e atrai sobre si a cólera do
imperador arianófilo Constâncio, que o exila para a outra extremidade do Império
7.3.9. Aproveita o exílio frutuosamente, para dirigir sua diocese por meio de cartas, estudar
teologia oriental (como seu livro sobre a Trindade reflete)
7.3.10. Volta para a Gália, onde difunde o ideal monástico
7.3.11. Atividade literária gigantesca, como s. Atanásio
7.3.12. S. Martinho considera-se discípulo seu
7.3.13. Os hinos que compôs à moda oriental se repetem nos conventos e nas igrejas ao longo
dos séculos

8. As sequelas do arianismo
8.1. A Ortodoxia triunfou, permanecendo vagamente em algumas regiões dispersas e
reaparecendo em setores do protestantismo liberal
8.2. Cesaropapismo oriental: Bizâncio como capital religiosa e o imperador como chefe religioso
8.2.1. Concílio de Constantinopla, em 381: primado de honra do bispo de Const.
8.2.2. Bizantinismo, que resultará no cisma grego do século IX

4
8.3. Conversão dos bárbaros, povos estabelecidos ao longo da fronteira que ia do Mar Negro às
embocaduras do Reno (godos, ostrogodos, visigodos, alanos, gépidas, suevos, francos,
alamanos, lombardos e burgúndios)
8.4. Úlfila, bispo ariano (por Eusébio de Nicomédia)
8.4.1. Fundou uma igreja nacional sob sua direção
8.4.2. Mentalidade simplista dos pagãos, com ritos noturnos ao ar livre
8.4.3. Hierarquia das pessoas associada a hierarquia militar
8.5. Tensão entre o Império católico e os bárbaros arianos
8.5.1. Sob Teodósio, haverá antagonismo entre os súditos romanos e germanos
8.5.2. Nos territórios invadidos pelos bárbaros, será a Igreja a resistência (até que Clóvis, rei
dos francos, liderar a conversão dos bárbaros à fé católica)

9. O MANIQUEÍSMO, peste vinda do oriente


9.1. Ofensiva de fora, da Ásia
9.2. Manes viveu na Pérsia, no s. III, durante o império sassânida, que serviu de encruzilhada de
ideias e de civilização, da Síria a Índia
9.2.1. Seu pai pertencia à seita judaico-cristã dos helxassaítas, que professavam uma espécie
de dualismo
9.2.2. Recebeu iluminações espirituais para estabelecer a religião definitiva
9.2.3. Visitou a Índia, China. Turquestão, Tibet
9.3. Sincretismo vasto
9.3.1. Cristianismo judaico
9.3.2. Marcionismo
9.3.3. Gnosticismo
9.3.4. Budismo
9.3.5. Pan-indianismo
9.3.6. Dualistmo irarniano (Zoroastro)
9.4. Conjunto organizado e exposto com talento
9.5. Bom escritor, calígrafo e pintor
9.6. Os discípulos miltiplicavam os exemplos das suas e as traduziam para o grego, latim, chinês,
turco, árabe
9.7. Reconstituição a partir da refutações de Santo Agostinho (adepto por 9 anos)
9.8. Dualismo metafísico (próximo ao gnosticismo)
9.9. Resposta simplista (próxima ao marcianismo): dois deuses inimigos

5
9.10. Moral dos “puros”
9.11. Cristo era Deus, mas não tomou carne (negação da Encarnação)
9.12. Quadro institucional sólido, copiado do cristianismo
9.12.1. 12 apóstolos
9.12.2. 2 sacramentos: batismo e eucaristia (também a penitência e unção dos enfermos)
9.13. Êxito enorme
9.13.1. Satisfação às dúvidas do espírito humano (como o espiritismo)
9.13.2. Herança do gnosticismo, marcionismo, montanismo e o docetismo, hersias do século
II
9.13.3. Espalhou-se na duas direções, oriente e ocidente, voltando-se a uma religião
universalista, que sintetizasse o cristianismo e o zoroastrismo, entre o mundo romano e
o persa
9.14. Foi combatido na Pérsia, onde foi preso e julgado como herege
9.15. Proliferou em Roma, no meio de intelectuais ansiosos e entre mulheres orientalizantes
9.16. Em todos os países em que se deu, o maniqueísmo atraiu oposição dos poderes
públicos, pelo anarquismo espiritual que desagrega a vida social
9.17. Perseguido por Constantino, permaneceu escanteado, até renovar-se no catarismo, que
se organizou a cruzada dos albigenses (1209-1249), no séc. XIII

10. As lições de uma crise


10.1. Igreja vitoriosa: sabedoria, moderação, justo equilíbrio, simplicidade, são realismo
10.1.1. Donatismo: fraqueza humana, necessidade do perdão
10.1.2. Arianismo: simplicidade e bom senso, encarnação
10.1.3. Maniqueísmo: carne, miserável e gloriosa, da criatura
10.2. Unidade
10.3. Desenvolvimento intelectual da Ortodoxia, pelos Padres da Igreja
10.3.1. Sec. IV e V são a época mais bela da literatura cristã patrística
10.4. Fortalecimento espiritual: autoridade do Papa: a Igreja se recusa ao cesaropapismo
bizantino
10.5. Esperança no limiar da vitória da cruz

6
Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 28 e 29. O grande assalto da inteligência (Rops I, cap. X, 6-10)


6. A ortodoxia
6.1. Depois do Concílio, retoma-se a controvérsia
6.1.1. Temor de que o termo consubstancial permitisse heresias modalistas, como a sabeliana
6.1.2. Arianos criticam o “filosofismo” do Concílio: a Escritura não prevê essa definição
“filosófica”, Cristo não se autodenominou assim
6.1.3. Ademias, havia as rivalidades pessoais
6.2. O único homem capaz de servir de esteio firme da ordem ortodoxa, C., de personalidade fraca
e sugestionável, cedeu
6.2.1. Revelou-se de alma dividida e caráter extremamente sensível às influências, sobretudo
de Eusébio de Nicomédia, prelado político, hábil na manipulação lisonjeira do imperador
6.2.2. Sua irmã Constança era ariana, a quem C. queria se fazer perdoar por tê-la enviuvado
6.2.3. Sua mãe Helena aconselhava-o a venerar São Luciano de Antioquia, cujos ensinamos
estavam na base da heresia
6.3. Os 12 anos entre o Concílio e a morte de C. foram de marcados por idas e vindas, causando
um emaranhado de intrigas e mal-estar
6.3.1. Eusébio de Nicomédia, na surdina, incita os arianos do Egito e é enviado para a Gália.
Ao regressar, evita atacar de frente os fiéis ao imperador (ortodoxos) e inicia um ataque
pelos flancos
6.3.2. Os principais bispos defensores da ortodoxia são, um após outro, insultados,
caluniados e desacreditados
6.3.2.1. Atanásio, ainda jovem, substitui o bispo de Alexandria, Alexandre, e é exilado
por C., que cede a pressão dos hereges
6.4. Os arianos parecem triunfar, já que Ário foi anistiado no concílio transferido para Jerusalém
6.4.1. C. se enfurece e covifera contra o bando ariano, mandando queimar seus escritos
6.4.2. Depois, acalma-se e convida Ário a Constantinopla, pretendendo obrigar o muito
ortodoxo bispo da capital e receber o herege à comunhão
1
6.4.3. A morte de Ário e de C., falecido piedosamente, desejo de unificar a igreja e batizado
pelo ariófilo Eusébio de Nicomédia, não apaziguam o império até o fim do século IV
6.5. Perigo da associação entre o poder secular do Estado e o poder espiritual da Igreja
6.5.1. Os sucessores de C. serão todos maníacos de teologia, legisladores religiosas
improvisados
6.5.2. Constâncio: “Em matéria de fé, a lei sou eu!”
6.5.3. Autoritarismo e fanatismo religioso: “Basta que esteja no poder um ariano resoluto,
como Valente, para que a perseguição recomece e se assista à opressão de cristãos por
outros cristãos, de ortodoxos por hereses, e se desencadeie a guerra religiosa. Menos de
um século depois dos últimos mártires, a Igreja de Cristo ver-se-á nessa situação [de
martirizadora].” (p. 462)
6.6. Crise dolorosa, cheia de episódios dramáticos, violentos, patéticos, cômicos
6.6.1. Atanásio foi para a masmorra, como um bandido
6.6.2. Difusão de sub-heresias: semiarianos, pseudoarianos, semiortodoxos...
6.6.3. Antagonismo latente entre Oriente e Ocidente começa a se manifestar
6.6.4. Farisaimo legalista (letra predomina sobre o espírito): especulações verborrágicas
(“bizantinices”)
6.7. Risco mortal de dissolução da fé
6.7.1. Imperador Constâncio rejeita a expressão consubstancial, no Concílio de Rímini, em
359
6.7.2. O próprio Papa Libério parece ter cedido ao erro
6.8. Com a morte de Constâncio, em 361, começa a grande reação
6.8.1. No Ocidente, S. Ambrósio consegue aniquilar a heresia
6.8.2. No Oriente, o imperador herege Valente protege os rebeldes
6.8.2.1. Quando o Papa Dâmaso fizer declarações doutrinárias, em 377, ele encerra
definitivamente a questão ariana
6.8.2.2. Só então o Oriente se submete no seu conjunto
6.8.2.3. Em 379, um novo soldado da fé, Imperador Teodósio, retomando com mais
firmeza a obra de Constantino, impõe definitivamente a doutrina de Nicéia no
Concílio de Constantinopla, em 381
7. Grandes defensores do dogma: Santo Atanásio e Santo Hilário
7.1. Surgimento de grandes santos, “figuras inteiramente votadas a Deus, apaixonadamente fiéis
à verdadeira fé, firmes como rochas em posições que nem a intriga, nem as ameaças, nem o
exílio, nem a prisão puderam abalar” (p. 463)

2
7.2. Santo Atanásio
7.2.1. Personalidade extraordinária, maleável e forte
7.2.2. Domina a história religiosa do Egito e da cristandade inteira deste período conturbado
7.2.3. Inteligência superior, acostumado com as sutilezas do espírito filosófico oriental, mas
capaz de desmarcar as falas aparências
7.2.4. Grande místico, para quem a ação é um prolongamento da oração (S. Paulo, S.
Agostinho)
7.2.5. Diácono que substitui Bispo Alexandre, quando tinha apenas 30 anos
7.2.5.1. Fica no cargo até a morte, durante mais 45 anos
7.2.6. Atua nos bastidores do Concílio de Nicéia
7.2.7. Episcopado turbulento, com perseguições eclesiásticas e políticas
7.2.8. É exilado cinco vezes (!)
7.2.9. Acusações falas e absurdas, desmentidas, desde 335, no Concílio de Tiro
7.2.9.1. Assassinato de um sujeito que aparece vivo no outro dia
7.2.9.2. Sexo com uma prostituta que não o reconhece..
7.2.10. Nunca se cansa em denunciar a heresia
7.2.11. Aproveita o exílio na Gália para tornar conhecida no Ocidente a instituição monacal
recém fundada no Egito
7.2.11.1. Escreve a famosa Vida de Santo Antão
7.2.12. Em 346, volta a Alexandria, estabelece contato com bispos fiéis e escreve suas
doutrinais
7.2.13. Mais uma vez, é condenado pelo imperador Constâncio, diante do hesitante papa
Libério
7.2.13.1. Governa sua diocese de logo (“patriarca invisível”)
7.2.14. Seus escritos polêmicos contra o arianismo circulam em toda parte
7.2.15. Em 362, quando o imperador Constâncio morre, S. Atanásio regressa a Alexandria e
reúne um concílio, em adesão irredutível do dogma trinitário de Niceia
7.2.16. Morre em 373 como o homem mais célebre, a autoridade mais notável de toda a Igreja
7.2.17. Padre da Igreja de obra literária notável, não só polemica, mas também dogmática
(Contra os gregos, Encarnação do Verbo), exegética (Exposição e comentário dos
Salmos), moral (Da virgindade) e histórica (Vida de Santo Antão).
7.2.18. Duas questões primordiais
7.2.18.1. Encarnação, Rendenção: ninguém dá o que não tem; se Cristo não fosse Deus,
não poderia nos “divinizar”: “O Verbo se dez homem para nos tornar divinos”

3
7.2.18.2. Independência do poder temporal: “Não é permitido misturar o poder imperial
com o governo da Igreja”
7.2.19. Primeiro bispo não martirizado elevador aos altares
7.2.20. Doutor da Igreja

7.3. Santo Hilário de Poitiers


7.3.1. “O Atanásio do Ocidente”
7.3.2. Amor ardente, apaixonado, vivido, por Cristo feito homem, o Verbo encarnado
7.3.3. Sua vida foi menos movimentada do que o egípcio
7.3.3.1. Seu temperamento era menos abrupto e polêmico
7.3.3.2. O Ocidente era infinitamente menos agitado
7.3.4. Nasceu em 315, de família rica, possivelmente pagã
7.3.4.1. Sólida cultura civil
7.3.5. Espírito intelectual, apaixona-se pelo Prólogo de João
7.3.6. Casado e com uma filha, pede para receber as ordens sagradas
7.3.7. Aos 39 anos, já é Bispo da cidade natal, reconhecido pela sua fé e inteligência
7.3.8. Ao enfrentar a heresia ariana no contra-sínodo de Béziers e atrai sobre si a cólera do
imperador arianófilo Constâncio, que o exila para a outra extremidade do Império
7.3.9. Aproveita o exílio frutuosamente, para dirigir sua diocese por meio de cartas, estudar
teologia oriental (como seu livro sobre a Trindade reflete)
7.3.10. Volta para a Gália, onde difunde o ideal monástico
7.3.11. Atividade literária gigantesca, como s. Atanásio
7.3.12. S. Martinho considera-se discípulo seu
7.3.13. Os hinos que compôs à moda oriental se repetem nos conventos e nas igrejas ao longo
dos séculos

8. As sequelas do arianismo
8.1. A Ortodoxia triunfou, permanecendo vagamente em algumas regiões dispersas e
reaparecendo em setores do protestantismo liberal
8.2. Cesaropapismo oriental: Bizâncio como capital religiosa e o imperador como chefe religioso
8.2.1. Concílio de Constantinopla, em 381: primado de honra do bispo de Const.
8.2.2. Bizantinismo, que resultará no cisma grego do século IX

4
8.3. Conversão dos bárbaros, povos estabelecidos ao longo da fronteira que ia do Mar Negro às
embocaduras do Reno (godos, ostrogodos, visigodos, alanos, gépidas, suevos, francos,
alamanos, lombardos e burgúndios)
8.4. Úlfila, bispo ariano (por Eusébio de Nicomédia)
8.4.1. Fundou uma igreja nacional sob sua direção
8.4.2. Mentalidade simplista dos pagãos, com ritos noturnos ao ar livre
8.4.3. Hierarquia das pessoas associada a hierarquia militar
8.5. Tensão entre o Império católico e os bárbaros arianos
8.5.1. Sob Teodósio, haverá antagonismo entre os súditos romanos e germanos
8.5.2. Nos territórios invadidos pelos bárbaros, será a Igreja a resistência (até que Clóvis, rei
dos francos, liderar a conversão dos bárbaros à fé católica)

9. O MANIQUEÍSMO, peste vinda do oriente


9.1. Ofensiva de fora, da Ásia
9.2. Manes viveu na Pérsia, no s. III, durante o império sassânida, que serviu de encruzilhada de
ideias e de civilização, da Síria a Índia
9.2.1. Seu pai pertencia à seita judaico-cristã dos helxassaítas, que professavam uma espécie
de dualismo
9.2.2. Recebeu iluminações espirituais para estabelecer a religião definitiva
9.2.3. Visitou a Índia, China. Turquestão, Tibet
9.3. Sincretismo vasto
9.3.1. Cristianismo judaico
9.3.2. Marcionismo
9.3.3. Gnosticismo
9.3.4. Budismo
9.3.5. Pan-indianismo
9.3.6. Dualistmo irarniano (Zoroastro)
9.4. Conjunto organizado e exposto com talento
9.5. Bom escritor, calígrafo e pintor
9.6. Os discípulos miltiplicavam os exemplos das suas e as traduziam para o grego, latim, chinês,
turco, árabe
9.7. Reconstituição a partir da refutações de Santo Agostinho (adepto por 9 anos)
9.8. Dualismo metafísico (próximo ao gnosticismo)
9.9. Resposta simplista (próxima ao marcianismo): dois deuses inimigos

5
9.10. Moral dos “puros”
9.11. Cristo era Deus, mas não tomou carne (negação da Encarnação)
9.12. Quadro institucional sólido, copiado do cristianismo
9.12.1. 12 apóstolos
9.12.2. 2 sacramentos: batismo e eucaristia (também a penitência e unção dos enfermos)
9.13. Êxito enorme
9.13.1. Satisfação às dúvidas do espírito humano (como o espiritismo)
9.13.2. Herança do gnosticismo, marcionismo, montanismo e o docetismo, hersias do século
II
9.13.3. Espalhou-se na duas direções, oriente e ocidente, voltando-se a uma religião
universalista, que sintetizasse o cristianismo e o zoroastrismo, entre o mundo romano e
o persa
9.14. Foi combatido na Pérsia, onde foi preso e julgado como herege
9.15. Proliferou em Roma, no meio de intelectuais ansiosos e entre mulheres orientalizantes
9.16. Em todos os países em que se deu, o maniqueísmo atraiu oposição dos poderes
públicos, pelo anarquismo espiritual que desagrega a vida social
9.17. Perseguido por Constantino, permaneceu escanteado, até renovar-se no catarismo, que
se organizou a cruzada dos albigenses (1209-1249), no séc. XIII

10. As lições de uma crise


10.1. Igreja vitoriosa: sabedoria, moderação, justo equilíbrio, simplicidade, são realismo
10.1.1. Donatismo: fraqueza humana, necessidade do perdão
10.1.2. Arianismo: simplicidade e bom senso, encarnação
10.1.3. Maniqueísmo: carne, miserável e gloriosa, da criatura
10.2. Unidade
10.3. Desenvolvimento intelectual da Ortodoxia, pelos Padres da Igreja
10.3.1. Sec. IV e V são a época mais bela da literatura cristã patrística
10.4. Fortalecimento espiritual: autoridade do Papa: a Igreja se recusa ao cesaropapismo
bizantino
10.5. Esperança no limiar da vitória da cruz

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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 30. A Igreja no limiar da vitória - MONAQUISMO (Rops I, cap. XI.1-9)

1. Onde está implantada a Cruz


1.1. Século IV: limiar da vitória, depois de tantaos sofrimentos, esforços e heroísmo
1.2. Todos os sucessores de Constantino lhe dão apoio (com exceção de Juliano, o apóstata)
1.3. Ação apostólica mais fácil e fecunda, multiplicam-se as conversões
1.4. Igrejas, cada vez mais luxuosas, se multiplicam
1.5. Atenua-se a discrepância entre Oriente (cristão) e Ocidente (pagão)
1.6. Expansão além do império romano: Armênia, Pérsia
2. São Martinho e a conversão das populações rurais
2.1. Caráter urbano e de classe modesta dominante
2.1.1. Resistência da aristocracia (economia, política e intelectual) e camponeses
2.2. Apego melancólico à tradição romana, com sua mitologia e moral relaxada
2.3. Pagão – “camponês” (não cristianizado)
2.3.1. Formas de religião naturalista, ligada à terra, aos antepassados
2.4. Missionários do campo, dos quais se destaca São Martinho de Tours, na Gália
2.4.1. Soldado de 20 anos, por volta de 338
2.4.2. Discípulo de Santo Hilário de Poitiers (um santo forma um novo santo...)
2.4.3. Recuso receber a ordem do diaconato do grande bispo, por se sentir indigno
2.4.4. Volta à terra natal para converter os pais do paganismo
2.4.5. Ortodoxia intransigente o indispôs com os arianos
2.4.6. Tornou-se eremita
2.4.7. Junto com Hilário, empreendeu a grande obra das fundações monásticas
2.4.8. É aclamado pela multidão para suceder o Bispo Hilário, pois Martinho já tinha
reputação de santo, apóstolo e homem que opera milagres
2.4.9. Montado num jumento ou mula, vai de aldeia em aldeia pregando o Evangelho a todos
os abandonados e miseráveis
2.4.10. Quando morre em 397, sua popularidade era imensa
1
2.4.11. Hoje, mais de 4.000 igrejas o invocam como o seu padroeiro e 485 cidades ou aldeias
têm o seu nome
2.4.12. A Igreja o reconhece como o primeiro dos grandes confessores do Ocidente
2.4.13. Merovíngios e Capetos o louvam, portanto a sua capa vermelha à frente dos exércitos
2.4.14. São Gregório de Tours, seu sucessor, o chama de “patrono especial do mundo”
3. Uma organização do futuro
3.1. Organização eclesiástica tão lógica quanto a do Estado
3.2. Clero nitidamente distinto dos fiéis, categoria social à parte
3.2.1. Celibato não é obrigatório, mas recomendado pelo Papa Dâmaso e Concílio de Roma
(386)
3.2.2. Surgem regulamentos impondo idades: 30 para diácono, 35 para presbítero e 40 para
bispo
3.2.3. Surge a necessidade de formação específica para o clero
3.3. Paróquias: centros locais
3.3.1. Funções litúrgicas, sacramentais e administrativas
3.4. Exorcistas (penitenciários) e diáconos
3.5. Bispos
3.5.1. Plena responsabilidade material e espiritual pela comunidade
3.5.2. Personagens poderosos, deferidos pelo imperador
3.5.3. Amor ao luxo, contraposto à ascese de Martinho de Tours, João Crisóstomo e Gregório
Nazianzeno
3.5.4. O clero e o povo eram soberanos nas eleições
3.5.5. Normalmente vido das classes instruídas e dirigentes; depois dos mosteiros
3.5.6. Tendência de os imperadores intervirem nas nomeações de bispos, principalmente em
Constantinopla
3.5.7. Sistema da diocese (Imperador Diocleciano)
4. Variedade e unidade da Igreja
4.1. Total unidade dogmática de fé, mas variedade moral e espiritual inevitável
4.1.1. Unidade não é uniformidade
4.2. Diferenças psicológicas entre Ocidente (calmo e prático) e Oriente (apaixonado,
especulativo)
4.3. Oriente
4.3.1. Antioquia: antiquíssima Igreja apostólica
4.3.2. Alexandria: gloriosa capital helenista

2
4.3.3. Constantinopla: nova Roma
4.4. África: Cartago
4.5. Ocidente
4.5.1. Espanha
4.5.2. Gália
4.5.3. Roma
4.5.4. Milão
4.6. Fraternidade: correspondências
4.7. Concílios ecumênicos
5. O reconhecimento definitivo do primado romano do Papa
5.1. Mais do que uma preeminência de honra: uma verdadeira auctoristas soberana que outrora
pertencia ao senado republicano
5.2. Padres da Igreja: Atanásio, Hilário, Crisóstomo, Ambrósio
5.3. Autoridade
5.3.1. Fé (Doutrina, Ortodoxia)
5.3.2. Disciplina (Moral, Ortopraxia)
5.4. Primeiras Decretais (384 e 393): Cartas pontifícias que têm um alcance geral em matéria de
fé, costumes e disciplina
5.5. Com uma Cúria Pontifícia, competente para estudar todos os assuntos, o Papa é a única figura
de proa num Ocidente decadente (p. 495)
5.5.1. Estilo solene que anuncia o das Encíclias
5.6. É designado como qualquer outro bispo, mas só que em Roma
5.7. Não se exige dele nenhuma virtude heroica ou santidade superior
5.7.1. Nenhum, no século IV, se compara o São Leão Magno, do séc. V
5.8. Papa Dâmaso (366-384): inteligência vigorosa, teólogo sólido, poeta místico, exegeta que
encomendou a São Jerônimo a Vulgata (tradução da Bíblia ao Latim)
6. A vida da alma cristã: Eucaristia, Escritura, Santos (Maria), Ética
6.1. Revelação – Tradição (p. 496)
6.2. Sacramentos – Dogma da Presença Real
6.3. Escritura
6.4. Santos
6.5. Maria
6.6. Anjos
6.7. Vida moral e espiritual: direção espiritual

3
6.7.1. Via media
7. Duas manifestações de piedade: peregrinação e relíquias
7.1. Peregrinação
7.1.1. Ocidente: Roma (S. Pedro e S. Paulo)
7.1.2. Oriente: Jerusalém (Cristo)
7.2. Relíquias
7.2.1. Origem: peregrinação
7.2.2. Verdadeira Cruz
7.2.3. Recordações da Paixão são limitadas, mas não as infindas “paixões” dos mártires
7.2.4. Crença na eficácia sobrenatural dessa “matéria santificada”
7.2.5. Risco de superstição e adoração
8. Três perigos: superstição, intolerância e tibieza
8.1. Superstição (reminiscência pagãs)
8.1.1. Amuletos – relíquias
8.1.2. Dias fastos e nefastos – azar “cosmológico” (horóscopo)
8.1.3. Talismãs, amuletos e fórmulas contra má sorte, serpente
8.2. Intolerância política e social: perseguição dos dissidentes
8.3. Tibieza: massa relaxada e acostumada com a rotina religiosa, herdada passivamente da
tradição, que não precisa se converter, assumir responsabilidades espirituais superiores
9. Uma força nova: monaquismo de Santo Antão e São Pacômio
9.1. Criação mais original da espiritualidade cristã
9.1.1. Ainda que haja antecedentes e semelhanças universais dessa prática ascética de
isolamento, solidão e retiro do mundo
9.2. Cristo exorta a renunciar a tudo para segui-lo, mortificando a carne para conquistar a vida
eterna
9.2.1. Igreja precisa ordenar a tendência anárquica e dispersiva, de influência gnóstica e
elitista de que o mundo material e social é mau e precisa ser abandonado
9.3. Sempre houve ascetas, como S. Inácio e o Pastor de Hermas
9.4. Origem nos Padres do Deserto do Egito
9.4.1. Santo Antão (eremita)
9.4.1.1. Célebre pelas suas tentações, descritas por Santo Atanásio e pelas
representações artísticas de Grünewald, J. Bosch, os dois Brueghel e Callot
9.4.1.2. Vida de S. Antão: penetração psicológica admirável quanto à ação do mal na
alma humana

4
9.4.1.3. Deserto como lugar extremo de tensão espiritual, que não permite outra escolha
a não ser entre dois absolutos: Deus ou o seu inimigo.
9.4.1.4. Parte ao deserto por volta de 270, aos 20 anos
9.4.1.5. Cristo ao jovem rico (Mt 19: 21)
9.4.1.6. Fica 20 anos sem abandonar seu retiro, a não ser para visitar as prisões e as
minas de Alexandria, a fim de animar os confessores perseguidos por Maximino
9.4.1.7. Conquista uma reputação incrível, passando a ser diretor de uma multidão de
eremitas
9.4.1.8. Recupera a solidão caminhando três dias e três noites no coração selvagem da
alta Tebaida, instalando-se num minúsculo oásis vazio, com apenas dois fiéis, onde
fica por mais 40 anos
9.4.1.9. Morre aos 105 em 356
9.4.1.10. Solidão para o diálogo face a face com Deus
9.4.1.11. Método de solidão absoluta que inspirou diversas espiritualidades, como
anacoretas, reclusos, eremitas, mas que não vingou tanto quanto os cenobitas
(monges comunitários)
9.4.2. São Pacômio (cenobita)
9.4.2.1. Comunidade de solidão compartilhada
9.4.2.2. Cada monge tem sua pequena casa (futuras celas), isolada do resto do mundo,
principalmente dos profanos e das mulheres
9.4.2.3. Trabalho (fabricação de esteiras de vimes)
9.4.2.4. Regra estrita de ordenação da vida e do tempo
9.4.2.5. Penitencia moderada, mas cada um pode asseverá-la, desde que não imcomode
os outros e consulte um superior
9.4.2.6. Trabalho físico e intelectual: estudo e conferências sobre a Escritura
9.4.2.7. Oração particular e comunitária (litúrgica)
9.4.2.8. Viu surgirem nove comunidades no Egito
9.4.2.8.1. Sua irmã Maria fundou dois conventos de mulheres
9.4.2.8.2. No fim do século, sua congregação contava com sete mil monges (800
a 1000 por mosteiro?!)
9.5. Expansão prodigiosa
9.5.1. Sucedâneo do sacrifício pelo martírio (da época das perseguições)
9.5.2. Mortificação passiva e/ou ativa
9.6. Monaquismo oriental: São Basílio (330-379)

5
9.6.1. Líder da escola espiritual da Capadócia
9.6.2. Neto de um mártir, irmão de uma fundadora de conventos e de dois santos (S. Gregório
de Nissa e São Pedro Sebaste)
9.6.3. Homem de ação, grande pensador, administrador emérito e homem de fé fervorosa
9.6.4. Inspirou-se e modificou a regra de S. Pacômio
9.6.4.1. Limitou o número de monges por mosteiro
9.6.4.2. Virtudes da humildade, paciência e caridade
9.6.4.3. Escolas anexas: influência decisiva na civilização cristã
9.6.5. Sua regra é a base do monaquismo oriental
9.6.6. Sua liturgia serviu de base para as Igrejas Ortodoxas
9.7. Ocidente
9.7.1. Roma: S. Atanásio divulga a Vida de S. Antão
9.7.2. Gália: S. Hilário de Poitiers e S. Martinho de Tours
9.7.3. São João Cassiano, Instituições, transpõe, ao Ocidente, a ascese e mística oriental
9.7.3.1. Um dos fundamentos das congregações francesas (ocidentais) até S. Bento
9.8. Literatura crescente sobre esses novos “atletas de Cristo”
9.8.1. Lendas sobre a excessiva austeridade (que acabam por mistificá-la e torná-la
inalcançável ou excêntrica demais para as pessoas comuns)
9.9. Bispos reagem e precisam controlar a atração da vida monástica, como único ideal de
santidade cristã
9.9.1. “Muitos sacerdotes – e mesmo monges, como o solitário Pafnúncio – afirmam com
energia que a perfeição não é de forma alguma apanágio dos monges, que há um esforço
de união com Deus que pode ser realizado na vida ordinária e que ‘agrada ao Senhor no
segredo da alma’ é tão importante como entrega-se a dolorosas penitências.” (p. 512)
9.9.2. Espiritualidade laical de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei: chamada
universal à santidade (Concílio Vaticano II)
9.10. Influências permanentes na espiritualidade universal da Igreja
9.10.1. Exame de consciência
9.10.2. Direção espiritual
9.10.3. Reversão dos méritos – desagravo
9.11. Papel histórico incomparável
9.11.1. Espiritual-moral: regra-plano de vida
9.11.2. Eclesiástico: Fornecem Bispos que serão baluartes da Igreja e da sociedade
9.11.3. Cultural: preservação e cópias das Escrituras e textos Patrísticos (e mesmo pagãos)

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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 31. A Igreja no limiar da vitória – Canto Ambrosiano e Arte (Rops I, cap. XII.10-14)
10. Liturgia e festas (canto alternado, ambrosiano)
10.1. Desenvolvimento na paz permite a elaboração da liturgia
10.1.1. Século IV é o primeiro grande século litúrgico
10.1.2. Ordenação ritual das cerimonias
10.1.3. Organização do calendário
10.1.4. Música ambrosiana
10.2. Rito fundamental: Santo Sacrifício (que agora passa a ser chamada de Missa)
10.3. Missa cantada (dominical, oficiada pelo bispo ou por seu representante) e rezada
(semanal, para pequenos grupos de almas piedosas ou para comemorar um santo ou mártir)
10.4. Partes da Missa
10.4.1. Intróito
10.4.2. Kyrie
10.4.3. Gloria
10.4.4. Credo
10.5. Irmã mais velha da nossa, mas com algumas Diferenças do rito atual
10.5.1. Elevação e o Agnus Dei só serão introduzidos mais tarde
10.5.2. Só em Bizâncio, os celebrantes usarão vestes litúrgicas
10.5.3. Os fiéis não tem onde sentar-se (podendo ficar ajoelhados)
10.6. Cada dia do cristão é santificado pela oração
10.6.1. Horas litúrgicas: terceira, sexta e nona
10.6.2. Vigília, como preparação para o sacrifício
10.7. Monaquismo aumenta essas horas (num total de sete)
10.7.1. Laudes e Vésperas (dia e noite)
10.7.2. Prima (ao nascer do sol)
10.7.3. Completas
10.8. Organização do ano litúrgico

1
10.8.1. Páscoa
10.8.1.1. Quaresma: jejum preparatório
10.8.1.2. Semana Santa: Sexta-feira Santa
10.8.2. Pentecostes
10.8.3. Natal
10.8.4. Epifania
10.8.5. Ascensão
10.8.6. Descoberta da Cruz (Imperatriz Helena)
10.9. Canto alternado (pré-gregoriano, explicado melhor oportunamente)
10.9.1. Origem no Antigo Testamento (música sacraliza o texto e é constitutiva de
praticamente toda experiência religiosa)
10.9.2. Nos primeiros tempos, já se tinha a Salmodia responsorial: solista canta o salmo e o
coro limita-se a responder Amém ou Aleluia
10.9.3. No século IV, dividiram os fiéis em dois coros que se revezavam nos versículos dos
textos (adotado por São Basílio e São João Crisóstomo)
10.9.4. Santo Ambrósio foi quem mais contribuiu para o seu êxito: Salmodia antifônica
10.9.4.1. Em Milão, os poderes imperiais cercava a basílica e soldados bloqueavam sua
saída e o Bispo ocupava a multidão de fiéis, que participava da Missa cantando
10.9.4.2. O canto dito “ambrosiano” comoveu Santo Agostinho
10.9.5. Em princípio, não havia instrumentos (como no Oriente, onde havia até coreografia)
10.9.6. Solistas começam a inovar e cantar melodias mais complexas e ricas
10.9.7. Letra
10.9.7.1. Em geral, salmos bíblicos
10.9.7.2. Mas também há composições poéticas, como as de Santo Ambrósio
11. A arte cristã em plena luz do dia
11.1. Basílica constantiniana (a ser explicada oportunamente)
11.1.1. Apropriação da antiga sala de reunião dos romanos, voltada à administração da justiça
11.1.2. Arquitetura: três naves, cujo teto e vigamento se assentavam sobre colunatas,
completadas por um vestíbulo e, às vezes, por uma parte arredonda num dos extremos, a
abside, em que se situava o altar
11.1.3. Exemplo: Santa Sabina
11.1.3.1. Átrio reservado aos catecúmenos e penitentes
11.1.3.2. Nave principal, os fiéis: homens à direita, mulheres à esquerda
11.1.3.3. Na frente, o coro, separado por grades, com os presbíteros (esta Igreja não tinha
altar)
2
11.1.3.4. No vão da abside, a cadeira episcopal
11.2. Oriente: outras formas arquitetônicas e estéticas
11.2.1. Sala quadrada coberta com cúpula e abside (de origem iraniana)
11.2.2. Igrejas em forma de cruz com quatro braços iguais
11.2.2.1. Transepto, que torna cruciforme a Basília
11.2.3. Igrejas circulares, que os Batistérios conservam, como os de Ravena, Pisa e Florença
(inspiradas em termas ou mausoléus)
11.3. Ornamentos interiores e exteriores: painéis decorativos, pintados ou em mosaico
11.3.1. Resistência de ascetas rigorosos (até o Concílio de Elvira fazer uma reserva sobre o
uso de ornamentação muito rica)
11.3.1.1. Prenunciando o cisma iconoclástico
11.3.2. Padres da Igreja reconhecem, porém, a utilidade didática e apologética da arte
11.3.2.1. Bíblia em imagens para uma sociedade iletrada: pintura, escultura e mosaico
11.3.2.2. Livro de piedade e teologia, um martirológico e uma lenda dourada de santos
11.3.3. Novo sistema de ensino e tradição
11.3.4. Teologia estética cristológica: Cristo no centro
12. O desenvolvimento das letras cristãs
12.1. Introdução: paciente esforço dos primeiros séculos (Evangelistas, São Paulo, Padres
da Igreja, Apostólicos e Apologistas, Teólogos) culmina no século IV, o Século de Ouro da
Literatura Patrística
12.1.1. Momento em que a literatura pagã vai desaparecer e ser substituída, de vez, pela cristã
12.1.2. Modelos pagãos: Virgílio, imitado por S. Ambrósio; Cícero, por S. Agostinho
12.1.3. Risco de retórica vazia e meramente ornamental
12.2. História
12.2.1. Eusébio de Cesareia (265-340), considerado o Heródoto Cristão, autor de História
Eclesiástica, Vida de Constantino, História Universal
12.2.2. Sulpício Severo
12.2.3. Orósio
12.3. Poesia: Prudêncio, herdeiro de Horácio e antecessor de Dante
12.4. Padres da Igreja; Escolas
12.4.1. Alexandria: Clemente, Orígenes, Atanásio, Dídimo
12.4.2. Antioquia: Flaviano, Diodoro de Tarso, Teodoro de Mopuéstia
12.4.3. Capadócia: S. Basílio, S. Gregório de Nissa, S. Gregório de Nanzianzo
12.4.4. África: Tertuliano, São Cipriano, Lactâncio, S. Agostinho
13. Duas grandes figuras das letras: São João Crisóstomo e Sâo Jerônimo
3
13.1. Contexto: final do século, relativa calma, não se absorveram pela necessidade de
polêmica contra os hereges (como S. Atanásio e S. Hilário)
13.1.1. Literatura como expressão moral da vida espiritual (Crisóstomo) alimento intelectual
da vida espiritual (Jerônimo)
13.2. São João Crisóstomo (344-407) - “Boca de Ouro” – grande orador
13.2.1. Compleição fraca, rosto emaciado e viva sensibilidade; desde a juventude, foi
devorado pelo zelo de Deus; as paixões mais baixas jamais o perturbaram (diferente de
S. Agostinho)
13.2.2. Nascido em Antioquia, baluarte da alta cultura helênica, absorvendo sólida cultura
clássica, que se reflete nos seus famosos sermões
13.2.3. Batizado aos 20 anos, foi ordenado leitor, continuando a sua formação cristã nos meios
da alta intelectualidade da “Escola de Antioquia”, com Diodoro e Tarso e Teodoro de
Mopsuéstia
13.2.4. Desde cedo, sua ciência, santidae e eloquência o destacaram
13.2.5. Morre-lhe a mãe e ele vai ao deserto, primeiro como cenobita (convento) e depois
como anacoreta (eremita, “alimentando-se Deus sabe do quê”)
13.2.6. Com a saúde arruinada, volta para Antioquia, onde o bispo o ordena diácono
13.2.7. Confiante na Providência, reflete sobre a sua conversão de monge à sacerdote,
escrevendo a obra-prima Do Sacerdócio, “que fica sendo a mais comovente definição
desse misto de ação e contemplação, de natural e sobrenatural, de elementos pastorais,
sociais e apologéticos, que deve ser a vida de um verdadeiro presbítero” (p. 524)
13.2.8. Aos 42 anos, é elevado ao sacerdócio e tornado o pregador-mor e instrutor do povo
cristão, nessa cidade cosmopolita de Antioquia
13.2.9. As multidões se acotovelam para ouvir seus sermões eloquentes e inspirados e se
convertem pela sua inteligência e paixão a Cristo
13.2.10. Sua fama se expande e chega a Constantinopla, capital imperial, onde se torna
Bispo, mas se recusa a fazer parte da vida palaciana da mais alta sede episcopal do
Oriente, recusando todos os convites para banquetes e festas, com a ingrata tarefa de dar
testemunho da vida cristã num meio supremamente falso e brutal, apontando os vícios
dos cristãos medíocres, opondo-se às violências do chefes godos e aos orgulho dos
senhores poderosos
13.2.11. Suporta com calma as perseguições e deportações, sendo martirizado em 407,
murmurando: “Glória seja dada a Deus em tudo”

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13.2.12. Obra monumental e abrangente: sacerdócio, vida monástica, educacao das
crianças, castidade, textos polêmicos contra pagãos e judeus, cartas do exílio,
comentários exegéticos
13.2.12.1. Essencial: sermões e homilias – todo o gênero da arte do púlpito estão ali
representados, discursos circunstanciais, conferências polêmicas, sermões morais,
dissertações teológicas, metafísicas ou escriturísticas
13.2.12.2. Forma constante: parte da Escritura e a aplica à vida do ouvinte
13.2.12.3. “É um conjunto gigantesco, em que a originalidade do gênio explode sem
cessar e cujas riquezas nunca se esgotam” (p. 525)
13.2.12.4. Modelo que nenhum pregador deveria esquecer: “É sempre direto, vivo,
assimilável. É um homem que se dirige aos homens e a quem nenhuma das misérias
deixa surpreendido ou indiferente.” (p. 526)
13.2.12.5. Acuidade psicológica – do dos primeiros moralistas de todos os tempos
13.2.12.6. Consciência de uma sociedade
13.2.12.7. Valor pela solidez da lição evangélica, nem tanto pelo valor especulativo
13.2.12.8. Mais do que a bela língua grega, é o entusiasmo, a fé e a generosidade: “Nunca
te esqueças de que Deus fez de ti seu amigo.”
13.3. Sâo Jerônimo
13.3.1. Imagem renascentista: grande sábio, a par de todas as disciplinas da inteligência,
encerrado na sua cela monástica, rodado de livros em todas as línguas, que desenvolve
um trabalho de uma densidade incalculável
13.3.1.1. Estereótipo imperfeito
13.3.2. Homem de letras: o que lhe importa é escrever, o que os outros hão de ler
13.3.2.1. Qualidade típica: sente-se dominado pela obra que tem que escrever,
apaixonado por questões de estilo, e devorado pelo fogo interior
13.3.2.2. Defeito: vaidoso, sensível à crítica, suscetibilidade à flor da pele, sempre pronto
a repudiar quem discorde dele
13.3.3. Relação entre escrita (contemplação) e vida (ação)
13.3.4. Nasce de pais cristãos nos arredores de Emona (hoje Croácia, perto de Veneza)
13.3.4.1. Juventude de avidez intelectual e oscilante entre desejo de piedade e
licenciosidade moral
13.3.5. Aos 30 anos, faz-se monge do deserto sírio, abatendo suas paixões à força de uma
terrível austeridade e aperfeiçoando-se no grego, hebreu e arameu
13.3.6. Já perto dos 40, continua sua formação e frequenta os cursos de exegese de S. Gregório
Nanzianzeno, de quem se torna discípulo
5
13.3.7. Em 382-385, o Papa Dâmaso o encarrega de grandes trabalhos escriturísticos
13.3.7.1. S. Jerônimo deixa Roma, onde a malícia dos mexericos o irritam e onde “não
se tem o direito se ser santo em paz” (p. 527), e parte para Belém, na Palestina,
fundando um mosteiro pero da gruta da Natividade, onde prossegue por 35 anos
ininterruptos
13.3.7.2. Converte todo o seu trabalho intelectual ao serviço de Deus
13.3.7.3. Vulgata, tradução e compilação latina do novo Testamento
13.3.7.3.1. Trabalho não só de tradução, mas de estabelecimento de texto,
cotejando todas as edições disponíveis
13.3.7.3.2. Não é impecável, devido provavelmente à rapidez (Ester, numa noite;
Tobias, num dia), embora o livro de Salomão tenha feito em três dias e seja
excelente
13.3.7.3.3. Marca do gênio da língua, capaz de transpor o significado original para
um nova língua, sem estar preso à literalidade que pode trai-lo
13.3.7.3.4. Príncipe dos tradutores
13.3.7.3.5. Exegeta e filólogo que depurou os textos sacros dos erros acumulados
pelos primeiros séculos
13.3.7.3.6. No momento em que o latim torna-se a língua litúrgica do Ocidente, S.
Jerônimo fornece à Igreja Latina seu fundamento inconcusso, que dezesseis
séculos não puderam abalar
13.3.7.3.7. Versão que o Concílio de Trento (séc. XVI) opõe aos Reformadores
13.3.8. Obra não só de tradução e compilação, mas de comentário e organização de um
compendio de literatura cristã, De viris illustribus, e da tradução e continuação da
Crônica (História) de Eusébio
13.3.8.1. Também Cartas
13.3.8.1.1. Em que se refletem preconceitos (como a S. João Crisóstomo) e
polemicas (com Santo Agostinho)
13.3.8.2. Seus textos são armas para fé viva (“escritor engajado”, que quer influenciar
seus leitores)
13.3.8.3. Do fundo da sua cela na Palestina, furta-se às honras do episcopado e mal aceita
ser ordenado sacerdote
14. Ecclesia Mater
14.1. Sentido eclesial: fidelidade e pertença comum, caridade fraternal, “refúgio e fortaleza
dos vivos”
14.2. Experiência histórica da eclesiologia, da Esposa de Cristo e Comunhão dos Santos
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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 33. Revezamento do Império pela Cruz (Rops I, cap. XII)
A tentativa de renovação do Paganismo – Juliano, o Apóstota

1. Num mundo que se sabe perdido


1.1. Os períodos de decadência (III-IV, Baixo Império) são menos memoráveis do que os de
grandeza (I-II, Alto Império)
1.2. Renascimento consciente por uma lúcida minoria
1.3. Desequilíbrio econômico, sentido por qualquer pessoa: crise monetária, inflação, mercado
negro, evasão de moeda e, principalmente, a fome
1.3.1. Desordem social e moral
1.3.2. Banditismo (nunca se sabe se os responsáveis por persegui-lo não são também os seus
cúmplices
1.4. Estado “devorador”, que tributa sem clemência
1.4.1. Número de funcionários supera o dos contribuintes
1.4.2. Pais vendendo as filhas para pagar os tributos
1.4.3. A Igreja atrai muita gente por seus serviços de assistência social
1.5. Os cidadãos romanos, degenerados, já não querem combater, nem trabalhar
1.5.1. Os soldados do Império são mouros, partos, osroenos, bretões e germanos (bárbaros)
1.6. Problema bárbaro: problema político, moral, além de militar
1.6.1. Desde o fim do séc. II, os bárbaros se instalaram nas fronteiras do Império; constituem
bandos inteiros, com seus chefes, línguas, leis, costumes
1.6.2. Como os romanos têm necessidade deles, estes mercenários tão irrequietos são
adulados e honrados
1.6.3. Esses homens violentos, incultos enérgicos e sãos impressiona os últimos civilizados
1.6.4. São “federados” que veem em Roma não um inimigo, mas uma carreira
1.6.5. Em 360, vindo do extremo oriente, aparece uma nova tribo, a dos hunos, que atravessa
o Volga em 376 e desloca os godos, gerando invasões sucessivas no Império Romano

1
1.6.6. Apatia espantosa da população
1.7. Crise moral – decadência
1.7.1. Devassidão
1.7.2. Queda de natalidade
1.7.3. Desonestidade
1.8. Crise cultural
1.8.1. Pensamento e literatura pagãs debatem-se na senilidade: época dos eruditos,
gramáticos, fabricantes de dicionário
1.8.2. Morte da inteligência e da alma
1.8.3. As instituições e as crenças que sustentavam o Império se tornam formas vazias
1.9. “No meio de uma sociedade senil, a Igreja possui a vitalidade empreendedora da juventude;
diante de uma civilização minada pelas taras, ela é um relicário de virtudes; perante uma
consciência atormentada, que duvida do fim e dos meios, ela sabe onde se encontram “o
Caminho, a Verdade e a Vida” (p. 536)

2. A Igreja e o poder civil


2.1. Ambiguidade de Constantino: servir a Igreja e servir-se da Igreja
2.2. Tensão entre poder espiritual e temporal
2.2.1. Duas “soluções”: abandoná-lo da política e tentar extirpá-lo da sociedade
(neopaganismo de Juliano) ou absorver o cristianismo com “religião de estado”
(cesaropapismo de Teodósio), sendo esta última o perigo mais sutil e temível
2.3. O século IV assiste, novamente, a rivalidades e sangrentas desordens
2.4. Em 335, dois anos antes de morrer, Constantino divide o Império entre seus três filhos e dois
sobrinhos, destruindo a unidade que ele mesmo havia conquistado ao Império e retomando a
política de Diocleciano
2.5. Em 337, depois da morte de Constantino, rebentou uma insurreição e os soldados
assassinaram vários membros da família imperial, entre os quais os dois sobrinhos
2.6. Entre 337 e 340, os três filhos dividiram o império dentre si, até que morre Constantino II
numa batalha contra o seu irmão Constante
2.7. Constante dirige o Ocidente e Constâncio, o Oriente
2.8. Magnêncio, um franco hábil, oficial de Constante, levantou contra ele o seu exército e o
perseguiu através da Gália, matando-o ao pé dos Pirineus

2
2.9. Constâncio depois elimina Magnêncio, que matara seu irmão Constante, mas não tenta
governar só, associando-se aos seus primos Galo e, depois, Juliano, que era um excelente
administrador
2.10. Antes que se deflagrasse uma guerra entre Constâncio e Juliano, aquele morre na Ásia
Menor, na luta contra os Persas
2.10.1. As tropas galo-germânicas já tinham se revoltado contra Constâncio e já tinham
proclamado Juliano Augusto
2.11. Juliano reinou por apenas vinte meses (361-363), antes de ser moto junto do Tibre
2.12. Depois, Joviano durou menos ainda, apenas oito meses (363-364)
2.13. Em seguida, Valentiano ortodoxo, e seu irmão Valente, araiano, repartiram novamente
o Império
2.14. Morrendo Valentiano, recomeça a desordem
2.15. Seus filhos Graciano e Valentiano II, que tinham como tutor Teodósio (futuro
Imperador Cristão), foram depostos por Máximo que decapitou Graciano e expulsou
Valentiano II
2.16. Teodósio, que já era senhor do Oriente desde 378, conseguiu eliminar seus adversários
2.17. Os imperadores tornam-se, cada vez mais, autocratas orientais
2.17.1. A Igreja percebe e tenta não se misturar com toda essa instabilidade e decrepitude do
Império
2.17.2. Santo Ambrósio a Teodósio: “Lembra-te de que é sum homem mortal”
2.17.3. Por ser fiel ao Evangelho, a Igreja surge como um antídoto contra os excessos do poder
2.18. Diante do absolutismo do Estado, a Igreja se torna a defensora do povo
2.18.1. Bispos se tornam senhores que protegem os “servos”
2.19. Afirmação da liberdade frente aos poderes constituídos
2.19.1. Constantino II e Valente tentam impor o arianismo como religião de estado
2.19.2. A Igreja resiste ao tirano e afirma a sua liberdade (Ósio de Córdova, Atanásio,
Hilátio,Crisóstomo, Ambrósio) (p. 540)

3
3. O paganismo do século IV
3.1. Desde 313, os cultos oficiais pagãos já não eram obrigatórios para ninguém, mas o seu
estatuto não fora abolido nem a sua prática
3.2. Os imperadores, mesmo que convertidos ao cristianismo, não renunciavam ao instrumento
de autoridade que era o culto público de “Roma e Augusto”
3.3. Boa parte dos camponeses continuavam fiéis aos deuses que lhes garantiam a colheita
3.4. Os quadros universitários, principalmente na Grécia e no Oriente, continuavam afeitos à
cultura antiga
3.5. Cultura moribunda, estéril, mais persistente, nos últimos suspiros mortais de vida
3.6. Paganismo dos mistérios, das religiões asiáticas e das filosofias gregas e orientais:
neoplatonismo, mitraísmo, sincretismo
3.6.1. Esse neopaganismo – preocupado com a origem do mundo e a salvação da alma - está
cada vez mais próximo do cristianismo do que aquele mais “puro” que Augusto tentou
restaurar
3.6.2. É frequente a conversão dessa paganismo “místico” e “filosófico” ao cristianismo, de
que o exemplo mais eloquente é o de Santo Agostinho
3.7. Até a reviravolta de Juliano, há uma convivência mais ou menos pacífica entre paganismo e
cristianismo, não havendo proibições formais daquele

4. A contraofensiva do paganismo: JULIANO, o Apóstata (361-363)


4.1. Figura curiosa, a do último imperador pagão: mais parece um filósofo do que um estadista,
com sua barba espessa, órbitas cavadas, fronte pensativa e precocemente envelhecida
4.1.1. Seu reinado foi curto para aquilatar as suas realizações, podendo ser julgadas mais as
suas intenções
4.1.2. Personalidade frequentemente explorada pela literatura, como a de Voltaire, Vigny,
Ibsen e Merejkowski
4.2. Intenção nobre de ressuscitar o Império, cuja causa de desagregação seria o cristianismo
4.2.1. “para uma sociedade em declínio, nada era mais necessário do que restituir-lhe a razão
de viver” (p. 545)
4.3. Reviravolta psicológica e espiritual
4.3.1. Decepção com o cristianismo palaciano
4.3.2. Cristão de nascimento – sobrinho de Constantino, primo dos imperadores Constante e
Constâncio

4
4.3.3. Exilado pelos primos para um longínquo castelo da Capadócia e mantido sob
vigilância, numa época de desconfiança generalizada
4.3.4. Reinando sozinho, depois da morte do seu irmão Constante, Constâncio nomou seu
primo Galo como César, mas logo se desfez dele
4.3.5. Constâncio, então, apela para o seu outro primo, Juliano
4.3.6. Em 355, depois de quatro anos de exílio, visitou a Ásia Menor, Constantinopla e Grécia
4.3.7. Com apenas 24 anos, Juliano vai a Milão tomar parte da administração imperial,
revelando-se um César emérito, um eficaz chefe de guerra contra os germanos e um
administrador de primeira ordem
4.3.8. Em 361, com a morte de Constâncio, faz-se o único imperador
4.3.9. Assiste à festa da Epifania, em Paris, mas seu coração já não é cristão, pois se havia
iniciado nos mistérios de Mitra
4.3.10. Em Capadócia, converte-se à cultura grega de Homero e à filosofia neoplatônica de
Porfírio e Jâmblico
4.3.11. Esse adolescente viu nesse pensamento um meio de recuperar a sua liberdade interior
4.3.12. Recusar o cristianismo era repudiar tudo o que considerava vil, desonesto, a que tanto
odiava: uma religião política que servia para a morte
4.3.13. “A desgraça de Juliano foi não ter perto de si um verdadeiro sacerdote que o soubesse
compreender e guiar na verdade que é o amor.” (p. 547)
4.3.14. Juliano afirma, do cristianismo: “Li, compreendi e recusei.”
4.3.15. Aos 16 anos, cogita tornar-se sacerdote cristão, pois tinha uma alma mística, atraída
pelo divino
4.3.16. Substituir um paganismo fossilizado por um neopaganismo depurado pela filosofia
neoplatônica, sincretizada pelos mistérios orientais
4.4. Cerca-se de intelectuais pagãos inteligentes para a empresa de renovar o paganismo
4.5. Reabre os templos e os sacerdotes de ídolos vinham aclamá-lo
4.6. Escreve “cartas pastorais”, incitando os pagãos a constituir um verdadeira clero, casto e
zeloso
4.7. Aumenta o número de pagãos entre os funcionários e deixou de nomear juízes e oficiais
cristãos
4.8. Pressão oficial para o paganismo, mas não perseguição do cristianismo
4.9. Resistencia religiosa, política, social, cultural e pedagógica dos cristãos, que eram numerosos
4.10. Juliano escreve livros violentos contra os cristãos, mas esses gritos virulentos não eram
senão os da cólera inútil e a confissão de um fracasso (p. 549)

5
4.11. Aos 32 anos, morre em 363, numa guerra contra os persas, conversando com seus
amigos filósofos (como Sócrates) e exclamando: “Venceste, Galileu!”
4.12. Ao tentar ressuscitar o cadáver, a tentativa de Juliano foi estéril, pois estava contra a
“lógica da história”, a “vontade de Deus” (interpretação providencial)
4.12.1. “Esse neopaganismo de intelectuais, mais fraco do que o pensamento de um Atanásio,
de um Basílio, de um João Crisóstomo, não era suficientemente vivo e humano para que
as multidões reconhecessem nele um rival da caridade de Cristo.” (p. 549)

5. A agonia do paganismo
5.1. Juliano foi a última tentativa do paganismo
5.2. Joviano, seu sucessor, era cristão convicto e neutralizou a política do apóstata
5.3. Autoridade política ainda era concebida em termos religiosos: rivalidade entre Ortodoxia e
heresias (ariana e donatista) e paganismo
5.4. Graciano, filho de Valentiano I, jovem príncipe profundamente cristão, toma as primeiras
medidas de cortar os laços entre Estado e religião pagã tradicional
5.4.1. Recusa a receber as insígnias de Pontifex Maximus
5.4.2. Deixa de custear as despesas do culto pagão
5.4.3. Corta as isenções e dotações dos sacerdotes oficiais
5.5. Em 391, Valentiano II proíbe os sacrifícios, a predição do futuro por meio de presságios e
arúspices e a adoração de estátuas idólatras; os templos não são destruídos, mas é proibido
entrar lá
5.6. Em 392, Teodósio põe o último selo na política antipagã
5.7. Resistência pagãs (inúteis)
5.8. Episódio da Estátua da Deusa Vitória, no Senado Romano
5.8.1. Último penhor do paganismo e símbolo da sua sobrevivência
5.8.2. Em 357, Constâncio mandou retirá-la, mas, pouco depois, é recolocada
5.8.3. Graciano a retira novamente, tendo a sua medida anulada depois da sua morte
5.8.4. S. Ambrósio conclama os senadores cristãos a não estarem obrigados a encarar um
ídolo e nem a ouvir cantos em sua honra
5.8.5. O Imperador Teodósio cede aos seus argumentos dortes
5.9. O último defensor do paganismo é o prefeito de Roma, orador e escritor Símiaco
5.9.1. Defendeu a causa da Dea Victoria com palavras eloquentes
5.9.2. Mas seu apelo à fidelidade já não encontra ressonância espiritual e moral

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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 34. Revezamento do Império pela Cruz (Rops I, cap. XII)
A consciência de um novo papel – Santo Ambrósio e Imperador Teodósio

6. A consciência de um novo papel: CULTURA


6.1. Mundo antigo estava em ruína espiritual e cultural
6.2. Premonição do Apocalipse (Santo Ambrósio interpreta Daniel)
6.3. Perenidade de Roma, não a pagã, mas a cristã, como veículo institucional de perpetuação da
civilização clássica, agora defendida pela Igreja
6.3.1. Dimensão administrativa: a Igreja adota as divisões territoriais romanas
6.3.2. Dimensão artística: formas arquitetônicas e plásticas
6.3.3. Dimensão cultural: “a quase totalidade do pensamento cristão encontra-se impregnada
do desejo, consciente ou não, de fazer desaguar toda a cultura no imenso oceano de
Cristo.” (p. 554)
6.3.3.1. Preservação e emulação da literatura clássica
6.4. A caída de Roma é chorada por cristãos como São Jerônimo e Santo Agostinho
6.4.1. “Fidelidade ativa e criadora, que utiliza o passado para construir o futuro”
6.5. Ideia de um “Império Cristão”

7. A renovação dos valores humanos: ÉTICA


7.1. Pessoa humana
7.2. Modelos dos santos
7.3. “Homem novo”
7.4. Moral pagã passou a ser considerada abstrata e meramente cívica
7.5. As virtudes cardeais da temperança, fortaleza, prudência e justiça agora são reanimadas pelo
amor a Deus e ao próximo, ou seja, pelas virtudes teologais da fé, esperança e caridade
7.5.1. Teologia da lei natural (razão humana) e lei divina (graça divina)

1
7.5.2. Revolução da humildade: futilidade da busca pagã por (vã)glória, que desprezava os
pequenos, os humildes, os escravos, as mulheres
7.6. Instituições de caridade: hospitais, orfanatos, asilos de órfãos e velhos, refúgios
7.6.1. Influencia na sociedade civil
7.6.2. Moral e justiça social
7.7. Escravidão
7.7.1. Não se condena formalmente a instituição como tal
7.7.2. Alguns Padres da Igreja a rejeitam (São Gregório Niceno)
7.7.3. Mas a redimensiona para o plano moral e espiritual
7.8. Direito
7.8.1. A sentença arbitral do Bispo obtém força obrigatória civil a partir de 330
7.8.2. Tribunais eclesiásticos, com jurisdição clerical, a partir de 348
7.8.3. Humanizam do processo romano: exame das intenções dos acusados
7.8.4. Constantino abole a crucifixão e a marca com ferro em brasa
7.8.5. Substituição de pena de prisão pelas penas consideradas menos infamantes de morte e
trabalhos forçados
7.8.6. Não desaparecem a tortura preventiva com chicote, nem o potro, nem as unhas de aço
ou as barrasde ferro ao rubro
7.8.7. Não acaba a justiça desigual segundo as classes, em que a escala das penas vari com a
categoria do culpado
7.9. Jogos pagãos: ócio, gosto pelo sangue (gladiadores) e luxúria

8. Os quadros do revezamento: os bispos – INSTITUIÇÃO


8.1. Renovação dos valores humanos implica uma alteração nos quadros sociais
8.2. Diferença entre autoridade (moral, espiritual) e poder (político, físico)
8.3. Bispos não eram escolhidos por um poder central, mas saídos do povo, escolhidos com a sua
concordância, uma autoridade democrática natural
8.4. Elite: indispensável elemento de animação e controle, sem o qual as sociedades humanas são
amorfas
8.4.1. O Estado romano não tinha uma autêntica aristocracia (governo dos melhores, mais
virtuosos)
8.5. Pirenne: A Igreja “combinou num conjunto perfeitamente coerente o princípio eletivo e
representativo, tal como o haviam concebido as cidades gregas, o governo pela aristocracia
moral, proposto pelos pitagóricos, a monarquia do mais digno, desejada pelos estoicos, e o

2
poder de direito divino que, durante mais de trinta século, dera aos faraós do Egito uma
indiscutida legitimidade.” (p. 562)
8.6. Dinamismo no pensamento e na ação
8.7. Bispo “monárquico” tinha poderes muito amplos nas suas dioceses: administrador, juiz,
diretor único das obras sociais. Era o único poder capaz de contrabalançar os poderes da
tirania
8.8. Transição do poder civil para as autoridades religiosas
8.9. Os cristãos se consideram mais filhos da Igreja viva do que cidadãos de um Império
decadente
8.10. Império também reconhece a sua debilidade e passa a confiar nos Bispos como
defensores da cidade
8.11. Continuam a ser da raça do Apóstolos e Mártires, com sua fé, força e liderança
8.11.1. Senso de responsabilidade histórica, para além da esfera eclesial, mas também na
política e civilizacional

9. Um exemplo de BISPO: SANTO AMBRÓSIO


9.1. Bispo que mais encarnou o cristianismo do século IV
9.2. Imperador Teodósio: “De todos os que conheci, só Ambrósio merece ser chamado bispo.”
9.3. Membro da aristocracia conservadora, de família patrícia, destinado desde a juventude à
carreira das honras públicas
9.4. Nasceu cristão, porém mais pela filiação e comportamento moral do que por exigências
interiores
9.5. Estudos clássicos e jurídicos, foi logo promovido a governar as províncias emiliana e ligúrica
como “cônsul”
9.6. Em Milão, em 374, a sede episcopal ficou vaga, devido à morte de um bispo ariano, e a luta
entre católicos e hereges ameaçou degenerar em drama
9.6.1. Valentiano I aconselhou os bispos a escolherem, em paz, “um homem cuja vida
pudesse servir de exemplo”
9.6.2. Para acalmar a discussão dos oponentes, o magistrado Ambrósio entrou na basílica
(prédio cívico e religioso) para acalmar os ânimos, quando foi aclamado bispo, por sua
integridade e espírito de justiça, mesmo sem ser batizado, sendo apenas catecúmeno,
com menos de 40 anos.
9.7. Foi bispo (etimologicamente epíscopo é “supervisor”) na plenitude do termo por 24 anos
9.8. Milão era então a capital do Império
9.9. Cuidava materialmente dos pobres e orientava as almas com grande ardor e piedade
3
9.10. Orador e escritor virtuoso, intelectual sólido que converteu Santo Agostinho
9.11. Instrução moral e doutrinal do povo, instruindo-o sobre inúmeros pontos do dogma,
da exegese, da moral etc.
9.12. Escritor, Padre e Doutor da Igreja
9.13. Notável pelos escritos da virgindade, sacramentos e salmos
9.14. Liturgista, promoveu o canto sagrado, autor de muito hinos
9.15. Alma profundamente religiosa, verdadeiro místico, antecipa São Bernardo de Claraval
9.16. Síntese impressionante de homem de ação, pensamento e vida interior
9.17. Velho romano, fiel à tradição cívica e intelectual (Virgílio e Cícero)
9.18. Consciente do passado, não percebeu que Roma estava desmoronando sob o ataque
dos bárbaros, como haviam debatido São Jerônimo e Santo Agostinho, que, com ele, formam
a tríade dos grandes Padres Latinos
9.19. Renovação das virtudes clássicas: De officiis ministrorum
9.20. Defensor do papel moral da mulher (contra o patriarcado pagão)
9.21. Crítico radical da avareza e do culto ao dinheiro
9.22. Formulou claramente os princípios do que seria a política cristã medieval: o Evangelho
tem de ser a pauta de ação do Império
9.23. A Igreja deixa de ser perseguida para ser aliada, e depois passa a ser guia do Império
9.24. Exerceu grande influência sobre a família imperial, sendo amigo do Imperador
Teodosio, mas jamais permitiu que a Igreja dobrasse o joelho diante do poder ou se unisse
ao Império
9.24.1. “Em matéria de fé, cabe aos bispos julgar os imperadores cristãos”
9.24.2. “O imperador está na Igreja, e não acima dela.”
9.25. Episódio mais célebre, de alcance simbólico
9.25.1. Em 390, estalou um motim em Tessalônica e foi morto um comandante militar godo,
quando o Imperador Teodosio reuniu toda a população no circo e ordenou que a
chacinassem
9.25.2. Os soldados assassinaram cerca de 7.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças
9.25.3. Ambrósio reagiu a esse escandaloso crime excomungando o imperador
9.25.4. Depois, escreveu uma carta paternal a ele, intimando-o a reconhecer a falta,
arrepender-se para que seja absolvido e reintegrado à comunidade cristã
9.25.5. Depois de resistir, no Natal de 390, o homem mais poderoso da terra despe-se das
roupas suntuosas e traja as vestes dos penitentes públicos, declarando o seu
arrependimento na praça de Milão

4
10. IMPERADOR TEODÓSIO (378-395): o cristianismo, religião de Estado
10.1. Cena do imperador ajoelhado e prostrado diante da autoridade espiritual do Bispo é
ainda mais eloquente porque se trata do último grande imperador romano da Antiguidade
Tardia
10.2. Depois de Diocleciano e Constantino, foi o último a tentar salvar o Império da
derrocada fatal
10.3. Era espanhol de nascimento e caráter
10.4. Nasceu em 347, perto de Segóvia, de uma família eminente e rica
10.5. Em 378, o Imperador Graciano o chama para lhe confiar o comando da milícia
pretoriana (sugestão, talvez, do Papa Dâmaso, que também era espanhol)
10.6. General enérgico, de bom critério, dotado de autoridade natural
10.7. Cristão sincero, de alma inquieta e violenta, que tentou conciliar a fé com as exigências
da época, com acessos de barbarismo como o episódio nefando de Tessalônica
10.8. Tornou-se governador do Oriente, por motivos militares, antes de ser imperador
10.9. Seu reinado todo foi marcado por rebeliões políticas e religiosas, tanto no Palácio,
quanto na sociedade
10.10. Ameaça dos bárbaros: os godos estavam espalhados por toda parte, ocupando regiões
inteiras e ocupando todos os meios, na corte, nos altos postos, na polícia, no pequeno
comércio
10.10.1. Eram servidores fiéis do Império
10.10.2. Teodósio era tão amigo do rei visigodo Atanarico, que este quis acabar seus
dias em Constantinopla
10.10.3. Foi para vingar a morte de um godo que Teodósio determinou a mortandade
em Tessalônica
10.10.4. Conta entre os seus os generais vândalo Estilicão, que defende Roma, e o godo
Alarico, que, 15 anos depois, se apodera dela.
10.11. Num mundo em ruína, apoia-se na única instituição sólida, a Igreja, aconselhando-se
com o Bispo Ambrósio, de quem se fez amigo, e do Papa Dâmaso, o mais notável papa deste
século IV, que teve a visão mais profunda do papel que a Sé Apostólica seria chamada a
desempenhar
10.12. Sempre assumiu publicamente a sua fé cristã, recusando o título de “pontífice
máximo”
10.12.1. Apoia a Igreja a difundir a Ortodoxia Nicena, no combate ao arianismo
10.13. Em 380, promulga um edito em Tessalônica: “Todos os nossos povos devem aderir à
fé transmitida aos romanos pelo apóstolo Pedro, àquela que professam o pontífice Dâmaso e
5
o bispo Pedro de Alexandria, isto é, devem reconhecer a Santa Trindade do Pai, do Filho e
do Espírito Santo.”
10.13.1. Crime de sacrilégio e condenação à infâmia dos desobedientes
10.13.2. Uma só fé, um só Estado; os adversários de Deus tornavam-se adversários do
Estado
10.13.3. Perseguição política dos hereges: arianos foram extirpados
10.13.4. Proclamou a fé de Nicéia como lei do Estado
10.13.5. Em 381, o Concílio de Constantinopla pôs fim às discussões, anatematizando
os hereges do Oriente
10.13.5.1. A heresia ariana se conservou apenas entre os godos
10.13.6. Pagãos não foram tratados com mais indulgência, tornando-se idólatras
(criminosos), que não podiam praticar qualquer culto público ou privado, nem mesmo
ter convicções pagãs
10.13.6.1. Seus templos foram fechados pela polícia
10.13.6.2. “Toda a casa em que se tiver queimado incenso passará a ser propriedade do
fisco.”
10.13.6.3. O paganismo só sobreviveu entre os camponeses, que será depois convertidos
pelos monges missionários
10.13.7. A Igreja foi beneficiada por muitos privilégios fiscais e judiciários
10.13.8. Estado é o “braço secular” da Igreja
10.13.9. Em 395, os hereges foram privados dos seus direitos civis
10.14. Ambiguidade: vantagens com o preço da dependência (cesaropapismo)
10.14.1. Teodósio soube proteger a Igreja sem dominá-la
10.15. Princípios do Evangelho penetram o direito
10.15.1. Código teodosiano: “legislação de ouro”
10.16. A partir de 395, a cisão com o Oriente será definitiva, na querela de sucessão imperial
entre Arcádio e Honório, os dois filhos de Teodósio, que falecia com apenas 50 anos

11. Te Deum laudamus, Te Dominum confitemur


11.1. Hino dessa época em que se exprimem perfeitamente três traços da alma cristã deste
tempo
11.1.1. Alegria do triunfo
11.1.2. Angústia perante um futuro sombrio
11.1.3. Confiança imarcescível em Deus
11.2. Atribuído a S. Ambrósio e Agostinho
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Professor Victor Sales Pinheiro
Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 36-37. Sabedoria dos Padres do Deserto: os sete pecados capitais

0. Introdução
0.1. Tradição católica: desenvolvimento orgânico da experiência de e com Cristo
0.2. Novo Testamento
0.2.1. Cristo: “`Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos:
devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes,
desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de
dentro e tornam impuro o homem” (Mc. 7: 21-23)
0.2.2. São Paulo: “Ora, as obras da carne são estas: fornicações, impureza, libertinagem, idolatria,
superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas,
bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes.” (Gl. 5: 19-21)
0.3. Monasticismo e a purificação interior
0.3.1. Mortificação depois das perseguições do martírio
0.3.2. Imitação das tentações de Cristo no deserto: gula (milagre), poder (orgulho) e espetáculo
(vaidade)
0.4. Autores ascéticos
0.4.1. Santo Antão (séc. IV): tentações
0.4.2. Evágrio Pôntico (séc. IV): oito pensamentos nocivos
0.4.3. São João Cassiano (séc. IV-V): oito vícios mortais
0.4.4. São João Clímaco (séc. V-VI): a divina ascensão
0.4.5. São Gregório Magno (séc. VI-VII): os sete pecados capitais
0.4.6. Santo Tomás de Aquino (séc. XIII): De malo; Suma Teológica
0.4.7. Dante Alighieri (séc. XIII-XIV), Divina Comédia, Purgatório
0.5. Definição: pecados capitais: “cabeças” e “pais” de muitos filhos
0.6. Pecados e virtudes cardeais e teologais; e bem-aventuranças

1
1. PREGUIÇA (acídia)
1.1. Definição: estado de prostração ou moleza, de causa física ou orgânica, cansaço, inapetência,
indolência, lassidão, apatia, insensibilidade, desgosto, desmotivação; tédio, melancolia, vazio,
depressão; neurastenia (fraqueza da mente e da vontade). Resistência ao esforço e renúncia ao
sacrifício, um comodismo diante da mediocridade, um torpor diante de um ideal de excelência
1.2. Espécies:
1.2.1. Física (preguiça): indolência, sonolência, fraqueza do corpo
1.2.2. Mental (tédio): desinteresse, desconcentração, intelectofobia
1.2.3. Espiritual: (acídia, caso central): aprisionamento na “caverna”, na terra
1.3. Filhas: malícia, rancor, desânimo, desesperança, languidez no cumprimento dos mandamentos,
mente dispersa que vagueia por pensamentos proibidos
1.4. Pena de Dante: correrem sem parar (esteiras de ginástica)
1.4.1. Inferno III, 22-81: os neutros, tíbios, indignos do Paraíso e mesmo do Inferno
1.4.2. Apocalipse (3: 15): “antes fosseis quentes ou frios, mas como sois mornos, vou vomitá-los!”
1.5. Exemplo mariano: Visita pressurosa à sua prima Isabel, gestante.
1.6. Virtude da diligência (laboriosidade): alegria e prontidão, disposição para fazer o bem, o que
deve (diligire: amar)
1.7. Bem-aventurança: fome e sede de justiça

2. GULA
2.1. Definição: loucura do estômago, desejo desordenado por comida e bebida (dispensar a razão na
mesa)
2.1.1. Primeiro pecado carnal (a maçã de Eva)
2.1.2. Porta de entrada da luxúria e da avareza (também do orgulho)
2.1.3. Superação necessária para entrada na vida moral e espiritual (autocontrole, domínio da
razão)
2.1.4. Maior oportunidade de praticar a virtude da temperança (autocontrole)
2.1.5. Guloso, glutão: caprichoso, egoísta e superficial (Faus)
2.1.6. São Paulo: “Seus Deus é o ventre”
2.2. Espécies (São Gregório Magno)
2.2.1. Em excesso
2.2.2. Fora da hora
2.2.3. Voracidade
2.2.4. Procurando o requinte
2.2.5. Gastar muito tempo e dinheiro com alimentos ou bebidas
2.3. Filhas
2.3.1. Alegria tola: poder ilusório de embriagar
2.3.2. Baixeza: palhaçada, bufonaria, histrionice
2.3.3. Tagarelice: falar sem pensar
2.3.4. Embotamento da inteligência: superficialidade, obstinação, desobediência

2
2.3.4.1. E do corpo: mal-estar físico, lassidão, preguiça, sono...
2.3.5. Imundície e impureza: hipersensibilização aos prazeres do corpo
2.4. Pena de Dante: famintos esqueléticos, salivando por maçãs suculentas
2.5. Exemplo mariano: Bodas de Caná
2.6. Virtude da temperança (autocontrole): mortificação na mesa e jejum
2.7. Bem-aventurança: perseguição pela justiça (Kreeft)

3. LUXÚRIA
3.1. Definição: desordem no desejo e prazer sexual
3.1.1. Usar o outro, seja a sua imagem, seja o seu corpo, mesmo com seu consentimento
3.1.2. Instrumentalização do corpo para prazer sexual, real ou imaginário
3.1.3. Distinção fundamental
3.1.3.1. Amor de concupiscência: amar o outro para o próprio bem
3.1.3.2. Amor de benevolência (ou amizade): amar o outro para o bem dele
3.1.4. Natureza do sexo: ato unitivo e procriativo de toda a pessoa (corpo e alma)
3.2. Filhas: cegueira de espírito, inconsideração, inconstância, precipitação, amor próprio, ódio de
Deus, apego à vida presente, horror ou desespero do porvir
3.3. Pena de Dante
3.3.1. Purgatório: caminhando entre labaredas de fogo
3.3.2. Inferno: Paolo e Francesca da Rimini (mimetizaram o romance de Lancelot e Ginevra)
rodopiam num turbilhão tempestade de vento
3.4. Exemplo mariano: virgindade, “não conheço homem algum” (Anunciação)
3.5. Virtudes da castidade (temperança) pureza e pudor
3.6. Bem-aventurança da pureza de coração
4. AVAREZA
4.1. Definição: desejo imoderado por riqueza material, por dinheiro (ilimitado)
4.1.1. Ganância, cobiça: querer mais e não dividir – egoísta, vil, sórdido
4.2. Filhas: traição, fraude, enganação, falso testemunho, inquietação, violência, dureza de coração
(ao invés de compaixão e generosidade) [arquétipo do avaro, manipulador, desmesurado, capaz
de tramoias para enriquecer]
4.3. Pena de Dante: deitados e amarrados no chão
4.4. Exemplo mariana: pobreza de Maria, que pariu um filho na manjedoura
4.5. Virtude da pobreza (desapego, desprendimento) e generosidade (caridade)
4.6. Bem-aventurança da misericórdia

3
5. IRA
5.1. Definição: emoção, afeto da alma devida ao mal infligido (Aquino); indignação; vingança;
ressentimento, rancor; violência explosiva, verbal (gritos) e física
5.1.1. A raiva obscurece ou cega a razão (arrependimento, remorso)
5.2. Filhas: Contenda; Inchaço da mente; Insultos; Algazarra; Indignação; Blasfêmia (calúnia,
difamação, injúria, fofoca)
5.3. Pena de Dante: fumaça densa e acre que provoca tosse, penetra e nubla a visão, obscurece a
razão, impede a identificação correta dos problemas, e a comunicação
5.4. Exemplo mariano: perda e encontro de Jesus no Templo: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha
que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!»
5.5. Virtudes serenas e potentes
5.5.1. Paciência: relacionada à fortaleza, suportar dificuldades e sofrimentos sem nos sentirmos
tristes e derrotados
5.5.2. Clemência: relacionada à temperança, atenua nosso desejo de vingança; leniência do
superior com o inferior
5.5.3. Mansidão: atenua a paixão interna da ira (ao passo que a clemência modera a punição
externa)
5.6. Bem-aventurança da mansidão e promoção da paz
5.6.1. Não é fraqueza, moleza, passividade, mas coragem, domínio e força
5.6.2. Ira santa (proporcional): chicoteada e expulsão nos vendilhões do templo (legítima defesa,
guerra justa)
5.6.3. Proibiu Pedro de usar a espada e ainda restituiu a orelha de Maicon (Getsêmani)
5.6.4. Pacífico é diferente de pacifista (não usar nunca de violência)
5.6.5. Superar a violência não pela violência, que, por ser mimética, só se alastra, mas pela
santidade, pela interrupção do ciclo rivalitário de vingança (Girard)
5.6.6. São João Crisóstomo (Homilia XI sobre Mateus, 1c, nt.7): “Somente a pessoa que fica irada
sem razão, peca. Quem quer que fique irado por uma razão justa não é culpado. Porque, se
faltasse a ira, a ciência de Deus não teria andamento, os julgamentos não seriam acertados,
e os crimes não seriam reprimidos. Ademais, a pessoa que não fica irada quando deveria
estar, peca. Pois uma paciência excessiva é o viveiro de muitos vícios: ela fomenta a
negligência, e estimula não apenas o perverso, mas acima de todo o bem, a fazer o errado”

4
6. INVEJA
6.1. Definição: Amargura ou tristeza diante da fortuna ou sucesso do modelo, ressentimento, vontade
de vê-lo privado desses bens pelo desejo de estar no lugar do outro
6.1.1. Bíblia
6.1.1.1. Lúcifer inveja Deus
6.1.1.2. Adão e Eva invejam a serpente
6.1.1.3. Caim inveja Abel
6.1.1.4. Esaú inveja Jacó
6.1.1.5. Irmãos de Jacó o invejam
6.1.1.6. Saul inveja David
6.1.1.7. Discípulos invejam Thiago e João (filhos de Zebedeu)
6.1.1.8. Fariseus invejam Jesus
6.2. Filhas: ódio, murmuração, difamação, alegria pela desgraça alheia, tristeza pela alegria alheia
6.3. Pena de Dante: olhos costurados com um fio de arame, para não olhar, cobiçar, inveja
6.3.1. Evangelho: “A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons (humildes), todo
o teu corpo será luminoso; mas, quando forem maus (invejosos, cobiçosos), o teu corpo será
tenebroso.”
6.4. Exemplo mariano: Boda de Caná – invejoso se regozija com o fracasso alheio, porque se orgulha
do sucesso dele
6.5. Virtude da gratidão
6.5.1. Filha da soberba, da autorreferencialidade
6.5.2. S. Paulo: Tudo o que temos, é-nos dado: talentos são investimentos, graças de Deus
(capacidades intelectuais, profissionais, econômicas)
6.5.3. Tudo é presente – gratidão pelos bens próprios ou alheios
6.5.4. Parábola do Filho pródigo (e do filho invejoso)
6.5.5. Autoconhecimento gera humildade; a cegueira invejosa, orgulho
6.5.6. Ao invés de invejar, admirar, inspirar-se, emular; alegrar-se com o sucesso dos outros,
aplaudi-los
6.6. Bem-aventurança da aflição

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7. ORGULHO (soberba, vaidade, vanglória)
7.1. Definição: Egoísmo, egocentrismo: fonte de todos os vícios (pecados)
7.1.1. Oposto da inveja, é sentir-se invejado, e ostentar a superioridade: “desmesurada presunção
de superar os outros”, até Deus (!)
7.1.2. Erro fundamental de Lúcifer independência do criador, autossuficiência
7.1.2.1. “Sereis como deuses” (mentira originária)
7.1.2.2. Não ter consciência da natureza criatural, derivada
7.1.2.3. Pecado originário: desobediência e prepotência (querer “conhecer”, “decidir” o bem
e o mal, Gn.)
7.1.3. Amor-próprio, ser senhor de si mesmo (autônomo)
7.2. Filhas: desobediência, jactância, hipocrisia (fingimento), controvérsia, teimosia, discórdia,
presunção das novidades
7.3. Exemplo mariano: Anunciação - Salve, (Rainha) - “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em
mim segunda a sua palavra”
7.4. Pena de Dante
7.4.1. Purgatório: carregar pedras enormes de modo a lembrar-se de que é feito de terra (humus –
terra, humildade é baixeza, pequenez diante de Deus)
7.4.2. Inferno: Demônio está enterrado, preso no mais profundo dos internos, frio, escuro.
7.4.2.1. Autocentramento, incapacidade de sair de si, de amar (êxtase) – metafísica da luz,
privação de ser.
7.5. Exemplo mariano: Anunciação
7.5.1. Salve, (Rainha) - “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segunda a sua palavra”
7.6. Virtude da humildade (docilidade, compaixão, misericórdia - caridade)
7.7. Bem-aventurança da pobreza de espírito

Bibliografia
1. AQUINO, Tomás de. Sobre o ensino (De Magsitro). Os sete pecados capitais. São Paulo: Martins Fontes.
2. AZEVEDO, Pe. Paulo Ricardo de, Um olhar que cura. Terapia das doenças espirituais. São Paulo: Canção Nova, 2011.
3. BARRON, Robert.
4. The seven deadly sins
5. COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. SP: MF
6. FAUS, Francisco. Autodomínio. Elogio da temperança. São Paulo: Quadrante.
7. _________. Inveja. São Paulo: Quadrante.
8. ________. Preguiça. São Paulo: Quadrante.
9. ________. Paciência. São Paulo: Quadrante.
10. ________. Bondade. São Paulo: Quadrante.
11. ________. A conquista das virtudes. São Paulo: Cultor de Livros.
12. GALIMBERTI, Umberto. Os vícios capitais e os novos vícios. SP: Paulus.
13. KREEFT, Peter. Back to virtue. Traditional moral wisdom for modern moral confusion. San Francisco: Ignatio Press,
1992.
14. VOST, Kevin, Os sete pecados capitais. Um guia tomista para derrotar o vício e o pecado. São Paulo: Ecclesiae, 2019.

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Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires

Aula 38. Introdução à vida e obra de Santo Agostinho

1. Riqueza incomensurável
1.1. Filósofo, teólogo e santo – escritor: abundante material para estudá-lo
1.2. Padre da Igreja Latina: mais influente (Ambrósio, Jerônimo, Gregório
Magno)
1.3. Doutor da Igreja: Amor, Graça, Igreja

2. Desafio hermenêutico – Risco do reducionismo


2.1. Tradição e recepção: muito relido e interpretado
2.2. Obra mais influente do Ocidente (depois da Bíblia)
2.3. Maior autoridade para Santo Tomás de Aquino
2.4. Protestantismo: Lutero (monge agostiniano) e Calvino: livre-arbítrio, graça e
predestinação
2.5. Teologia, Literatura, Filosofia (linguagem e história) e Psicologia
2.6. Modernidade: subjetividade, interioridade, “existencial”

3. Contexto histórico-literário: transição da Era Clássica à Civilização Cristã


3.1. Cícero como modelo literário
3.2. Platão (neoplatônicos) como modelo filosófico
3.3. Padres da Igreja: interpretação bíblica e doutrina cristã (Trindade e
Cristologia)

1
4. Obras: apologeta católico, defesa da Ortodoxia Trinitária: dialética contra
4.1. Ceticismo – Filosofia (Diálogos filosóficos, Solilóquios, Contra os
acadêmicos)
4.2. Maniqueísmo – Platonismo (Confissões, 4 anos)
4.3. Arianismo – Cristianismo (Trindade, 20 anos)
4.4. Donatismo – Catolicismo (Cartas)
4.5. Pelagianismo, (Do espírito e da letra; Graça; Livre-arbítrio)
4.6. Paganismo (Cidade de Deus, 14 anos)

5. Cronologia (354-430)
5.1. Nascimento em Tagaste (Norte da África, atual Algéria)
5.1.1. Conversão de Constantino (312)
5.1.2. Concílio de Nicéia (325: Cristo tem a mesma essência do pai),
Constantinopla (381)
5.2. Aos 17 anos, estudo Retórica em Cartago
5.2.1. Conhece Hortênsio, de Cícero
5.2.2. Entra na seita dos maniqueus
5.3. Aos 21 anos, retorna a Tagaste para ensinar Retórica
5.4. Aos 29 anos, vai a Roma e depois Milão
5.4.1. Bispo Ambrósio
5.5. Aos 32 anos, converte-se ao Catolicismo
5.5.1. Retiro em Cassicíaco (Comunidade monástica-contemplativa)
5.5.2. Escrita dos diálogos filosóficos
5.6. Aos 37, é ordenado presbítero, em Hipona
5.7. Aos 41, Bispo – atividade pastoral (Cartas, Sermões e Comentários)
5.7.1. Aos 43 anos, começa As Confissões (4 anos)
5.7.2. Apologeta e Teólogo: Doutrina cristã e Trindade
5.7.3. Polêmicas contra o Donatismo, Pelagianismo,
5.8. Aos 56, Roma é invadida pelos bárbaros
5.8.1. Cidade de Deus (14 anos)
5.9. Aos 66, morre em Hipona, com os vândalos à porta

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Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 39. Introdução às Confissões de Santo Agostinho

1. Contexto filosófico
1.1. Filosofia helenista (Cícero): ética
1.1.1. ética da felicidade (eudaimonia)
1.1.2. definição do bem
1.1.3. terapia do desejo
1.2. Filosofia neoplatônica (Plotino): metafísica e ética
1.2.1. Sistematização da metafísica de Platão: dimensão espiritual e material
1.2.2. Espiritual, três Hipóstases: Uno, Nous e Alma do mundo
1.2.3. Espiritualidade e imortalidade da alma: conversão ao Uno, reunião
mística, libertação do corpo
1.2.4. Tema da “viagem”, da odisseia: volta para casa
1.2.5. Transposições filosóficas
1.2.5.1. Emanação – Criação
1.2.5.2. Monismo – Monoteísmo
1.2.5.3. Três Hipóstases – Trindade
1.2.6. Superação do maniqueísmo pelo platonismo e monoteísmo

2. Natureza literária e pedagógica da obra


2.1. Autobiografia: exemplaridade, investigação sobre a natureza humana
2.2. Exortação (Protreptiko)
2.3. Apologética
2.4. Especulação filosófica-teológica

1
3. Sentido de “confissão”
3.1. Penitência: arrependimento dos pecados (Livros I-VII)
3.2. Louvor: ação de graças pela conversão (Livros VIII-X)
3.3. Exortação: testemunho de Fé na Palavra de Deus (Livros XI-XIII)
3.3.1. Invocação; modo e razão de invocar; desejo de Deus (I, 1, 2; 5; A.1)
3.3.2. Motivo de relembrar suas culpas (II, 1; A.2)
3.3.3. Sentido da confissão diante de Deus e dos homens (X, 1-5; A.3)
3.3.4. Finalidade da confissão (XI, 1-2; A.4)

4. Estrutura da obra
4.1. Duas partes
4.1.1. Autobiográfica (Livros I-X)
4.1.2. Teológica, Bíblica (Livros XI-XIII)
4.2. Três partes (Trindade e tempo): I-IX, X, XI-XIII
4.2.1. Passado, Narração, Tempo, Fora, Buscar, Mundo, Espírito Santo
4.2.2. Presente, Reflexão, Agora, Dentro, Crer, Alma, Filho
4.2.3. Futuro, Expectação, Eternidade, Mais íntimo, Encontrar, Deus, Pai

5. Três dimensões: corpo (vontade, paixões), alma (inteligência) e espírito (fé)


5.1. Emocional: Amor e Lágrimas
5.1.1. Amor desvirtuado, pervertido, desejo insaciável, paixão carnal, pecado
(II, 2; B.1)
5.1.2. Morte do amigo, dor inconsolável, infelicidade de amar infinitamente
algo mortal (IV, 4, 6; B.2)
5.1.2.1. Estabilização do desejo e felicidade do amor a Deus (IV, 9-12; B.3)
5.1.3. Morte de (Santa) Mônica
5.1.3.1. Morte digna, confiante: “Faço-vos apenas um pedido: lembrai-vos
de mm no altar do Senhor, seja qual for o lugar em que estiverdes” (IX,
11: 27)
5.1.3.2. Luto correto, contido, fé na ressurreição, oração por ela (IX, 12-
13): “essa morte não era uma desgraça, nem era para sempre”
5.1.3.2.1. Personagem memorável (mulher forte, fé perseverante)
5.1.3.2.2. Pranto pelo filho
5.1.3.2.3. Encaminha-o ao Bispo Ambrósio

2
5.2. Intelectual: Busca pela Sabedoria
5.2.1. Filosofia (III, 4-5; C.1)
5.2.1.1. Amor à sabedoria, desejo pela Verdade, Cícero
5.2.1.2. Ausência de nome de Cristo
5.2.1.3. Soberba o impede de apreciar o mistério das Escrituras

5.2.2. Maniqueísmo
5.2.2.1. Soberba, rebeldia, presunção, indocilidade
5.2.2.2. Heresia sincretista – falava, erroneamente, de Cristo e da Escritura
5.2.2.3. Críticas
5.2.2.3.1. Materialista: Deus é a luz dos céus
5.2.2.3.2. Racionalista: superstição da fé (Soberba, rebeldia,
presunção, indocilidade)
5.2.2.3.3. Dualista: oposição simétrica entre Luz-alma-bem e Trevas-
corpo-mau
5.2.2.3.3.1. Não resolve o problema do mal e da moralidade

5.2.3. Catolicismo – conversão intelectual


5.2.3.1. Ambrósio: acolhimento, bondade, eloquência (V, 13, C.1)
5.2.3.2. A fé é razoável, leitura alegórica da escritura, catecúmeno – V, 14
5.2.3.3. Necessidade da fé para compreender
5.2.3.4. Adesão à doutrina católica

3
5.3. Religiosa
5.3.1. Existencial
5.3.1.1. Conciliação de Razão (Filosofia) e Fé (Teologia)
5.3.1.2. Neoplatonismo trata do Logos, mas sem a inteligência da
humildade para acolher a Encarnação
5.3.1.3. Buscar no íntimo a verdade (VII, 10, D.1)
5.3.1.4. Gradual ascensão na descoberta de Deus (VII, 17, D.2)
5.3.1.5. Fé e humildade (VII, 20, D.3)
5.3.1.5.1. Sabedoria da Palavra de Deus (Logos, Cristo, Escritura)
5.3.1.5.2. Encarnação – mediação de Cristo
5.3.1.6. Problema da cisão vontade: sabedoria e libido (VIII, 5, 8, D.4)
5.3.1.7. Papel dos modelos miméticos: Simpliciano, dois guardas, duas
noivas (castidade)
5.3.1.8. Êxtase em Óstia (IX, 10, D.5)
5.3.1.9. Deus-eternidade, tempo: presente e passado-memória:
5.3.1.9.1. “vastos palácios da memória”
5.3.1.9.2. “Tarde te amei” (X, 27, D.6)

5.3.2. Universal-teológica (do tempo à eternidade, ao particular ao universal)


5.3.2.1. Gênesis (XI-XIII)
5.3.2.2. Eternidade e Tempo (subjetivo) (XI, 28-29)
5.3.2.3. Metafísica: céu (unidade inteligível) e terra (pluralidade sensível)
(XII)
5.3.2.4. Criação como alegoria da salvação (XIII)
5.3.2.5. Homem como imagem da Trindade (XIII, 11)

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Curso de História da Igreja: Espiritualidade, Teologia e Cultura
Módulo I. Igreja dos Apóstolos e dos Mártires
Aula 40. O livre-arbítrio e o problema do mal em Santo Agostinho

0. Introdução
0.1. Questão filosófica fundamental
0.1.1. Ética: liberdade vs. determinismo
0.1.2. Metafísica (Teologia Natural): teísmo vs. ateísmo materialista
0.1.2.1. Palestra Youtube Dialético: Teodiceia em Santo Tomás de Aquino
0.2. Mal como tema central da vida moral, intelectual e espiritual de S. Agostinho
(Conf.. VII)
0.3. Busca intelectual entre as semi ou pseudoverdades (heresias)
0.3.1. Maniqueísmo (9 anos): dualismo metafísico e antropológico
0.3.2. Platonismo: unidade do ser e da bondade; mal como privação ontológica
0.3.3. Pelagianismo: livre-arbítrio radical em detrimento da ação divina (graça)
0.4. Catolicismo
0.4.1. Deus existe
0.4.2. Deus é bom (justo, caridoso e providente)
0.4.3. O livre-arbítrio é um bem, que permite e dignifica as ações morais
0.4.4. O mal moral (pecado) é fruto da desordem na hierarquização dos bens
buscados pela vontade (amor)
0.4.5. A queda (pecado original de Adão) “desnaturou” o homem, tornou-o
refém da concupiscência (corpo contra a alma) e, por isso, exige a graça (de
Cristo) para restituir-lhe a liberdade (livre-arbítrio liberado da prisão do
pecado)
0.5. Livre-Arbítrio (Edição Paulus, Coleção Patrística, organizada e comentada)
0.5.1. Obra doutrinária, não polêmica (ano 395)
0.5.2. Pergunta inicial: “Deus não é causa do mal?”
0.5.3. Três livros

1
0.5.3.1. Pecado (mal moral) provém do livre-arbítrio
0.5.3.2. A prova da existência de Deus revela-O como fonte de todo bem
0.5.3.3. Louvor a Deus pela ordem universal, da qual o livre-arbítrio é um
elemento positivo, ainda que sujeito ao pecado (por isso dependente da
graça)
0.6. Argumentos
0.6.1. Metafísico
0.6.2. Psicológico
0.6.3. Ético
0.6.4. Espiritual

1. METAFÍSICA: Deus, criador benevolente, e o problema do mal


1.1. Deus é eterno, incorruptível e imutável (platonismo), “aquele que é”, o Ser
1.2. As criaturas foram criadas do nada e retornam ao nada, existência transitória
1.3. Problema da presciência de Deus – argumento da eternidade e
supratemporalidade de Deus: “Porque assim como tu, ao lembrares os
acontecimentos passados, não os forças a se realizarem, assim Deus, ao prever os
acontecimentos futuros, não os força.” (III, cap. 4, p. 161)
1.4. O mal é privação e corrupção ontológica do que é (o mal não é uma substância,
uma realidade positiva, criada, independente do que existe de forma boa) (LA,
III, cap. 13, p. 191)
1.4.1. Não se pode reprovar o vício sem louvar a bondade de sua natureza (p.
193)
1.5. Tudo o que é (existe) é criado por Deus, por isso, tudo é bom
1.5.1. Medida: excelência da natureza
1.5.1.1. Mal como inferioridade ontológica
1.5.1.2. Composição harmônica no todo orgânico do cosmos
1.5.2. Ordem: arranjo harmônico das coisas
1.5.2.1. Mal como desorganização apenas aparente, por causa da nossa
perspectiva espaço-temporal limitada
1.5.3. Forma: capacidade de um ente alcançar a sua perfeição
1.5.3.1. Mal como vício moral (pecado)

2
2. PSICOLOGIA: Experiência da desordem moral
2.1. Vontade como fonte da ação (LA, III, cap. 18, p. 208)
2.1.1. “A raiz de todos os males é a cobiça [a vontade desregrada]” (1 Tm 6,10;
LA, III, cap. 17, p. 206)
2.2. Vontade corrompida no fim-bem (concupiscência) e na realização (fraqueza)
2.2.1. Concupiscência: “A carne tem aspirações contrárias ao espírito e o espírito
contrárias às da carne. Opõem-se reciprocamente, de sorte que não fazeis o
que quereis.” (Gl. 5: 17)
2.2.2. Fraqueza: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7:
19)
2.2.3. Soberba: “No dia em que comerdes o fruto, os olhos olhos vão se abrir e
sereis como deuses.” (Gn. 3:5)
2.2.3.1. Cegueira e afastamento de Deus: “o homem, do qual Deus é o único
bem, quer se tornar, ele mesmo, o seu próprio bem, como Deus o é para
si” (III, cap. 24, p. 235-236)
2.2.3.2. O orgulho: principal fonte de toda má escolha: “arremedo perverso
de Deus”, “gozo na própria independência, então se faz menor quanto
mais deseja se engrandecer” (LA, III, cap. 25, p. 239)
2.2.3.3. “O orgulho é o começo de todo pecado” (Eclo. 10:13); “O início
do orgulho humano é afastar-se de Deus” (Eclo. 10:12)
2.2.3.4. Orgulho do demônio vs. humildade do Salvador

3. ÉTICA: Vontade racional como poder de escolha livre entre bens apetecíveis
3.1. Psicologia dos atos humanos (Doutrina Cristã)
3.1.1. Fruir: fixar a vontade num bem (sensível ou espiritual) por amor a ele
como um fim (só Deus é digno de ser fruído como Sumo Bem e fim absoluto)
3.1.2. Usar: servir-se de um bem como meio para outro bem
3.2. Bens
3.2.1. Sensíveis (temporais) e inteligíveis (espirituais)
3.2.2. Meios ou fins
3.2.3. Fim último: Sumo Bem (Deus) – felicidade (beatitude) – “Fruir da
Beatitude e usar todo o resto com vistas a obtê-la: tal é a regra primeira da
vida cristã. Todos os nossos erros estão em querermos fruir daquilo que se
deveria querer usar. (...) Amar o que não se deve amar, não amar o que se

3
deve amar, amar desigualmente o que se deve amar igualmente ou amar
igualmente o que se deve amar desigualmente, eis o mal. O bem... é amar as
coisas com um amor que se conforma à ordem... ordo est amoris. A virtude
é a submissão do amor à ordem. A hierarquia dos fins permite determinar à
qual ordem a vontade deve se submeter.” (Gilson, 2006, p. 316-7)
3.3. Paixões fundamentais que movem a vontade
3.3.1. Desejo e temor
3.3.2. Alegria e tristeza
3.4. Amor: vontade intensa, o peso, a gravidade que move a alma continuamente a
buscar o lugar natural de seu repouso (Gilson, 2006, p. 257)
3.4.1. “Meu peso, meu amor; eu serei levado por ele, aonde quer que eu seja
velado” (Confissões, XIII: 9)

4. RELIGIÃO: Caridade e graça, a conquista da liberdade em Cristo (A graça)


4.1. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8:32); “Deus é amor” (1
Jo 4:8)
4.2. Consequências do pecado original: a redenção nos eleva a uma comunhão com
Deus que não tínhamos antes da queda (estado pré-lapsário) (III, cap. 10, p. 184)
4.3. O livre-arbítrio encerra o risco do erro, mas, sem ele, não poderíamos amar
livremente a Deus, nem alcançar a sua beatitude, não seríamos criados à sua
imagem e semelhança, como pessoas racionais e livres
4.4. Graça: “Duas condições são exigidas para fazer o bem: um dom de Deus que é a
graça e o livre-arbítrio. Sem o livre-arbítrio, não haveria problemas; sem a graça,
o livre-arbítrio (após o pecado original) não quereria o bem ou, se o quisesse, não
conseguiria realizá-lo. A graça, portanto, não tem o efeito de suprimir a vontade,
mas, sim, torná-la boa, pois ela se transformara em má. Esse poder de usar bem
o livre-arbítrio é precisamente a liberdade. A possibilidade de fazer o mal é
inseparável do livre-arbítrio, mas o poder de não fazê-lo é a marca da liberdade.
E o fato de alguém se encontrar confirmado na graça, a ponto de não poder mais
fazer o mal, é o grau supremo da liberdade. Assim, o homem que estiver mais
completamente dominado pela graça de Cristo será também o mais livre: ‘libertas
vera est Christo servire’” (grifo meu, Gilson, 2006, p. 299)
4.5. A graça é condição da salvação e depende da fé (justificação, predestinação)
4.6. Amar mais e mais a vida e aspirar ao amor das coisas eternas (III, cap. 7, p. 172)

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