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RESUMO
O presente estudo tem como objetivo mor a análise, através de apontamentos da sociolinguística, da variante culta como
aparato ideológico de classes dominantes, seu uso como sistema mantenedor do sistema sociopolítico vigente e suas
consequências no ensino no ensino de língua portuguesa nas escolas, bem como a indicação de possíveis estratégias
atualizadas e científicas para este. Por muito confunde-se a língua com a norma prescritiva desta, e portanto é
necessário compreender não só a faceta não-científica da variante culta, mas como ela foi e é utilizada como meio de
negação de acesso à cultura e ao poder pelas classes dominadas da sociedade. É também feita uma reflexão sobre como
tal variante é ensinada por meio da gramática tradicional, suas consequências e como o ensino de língua portuguesa
deveria se configurar para um melhor aproveitamento linguístico por parte dos cidadãos.
PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística, variante culta, gramática tradicional, ideologia, ensino de língua portuguesa.
1. INTRODUÇÃO
Toda sociedade vive sob ideologias, sejam elas sociais, econômicas, estéticas, políticas, ou
outras. A linguagem, sendo uma expressão social e humana, não foge à essa regra. Toda língua é
passível a sofrer variedades por conta das diversidades socioculturais entre seus falantes, assim
como ocorre na língua portuguesa. No entanto, dentre a miríade de manifestações linguísticas
presentes no Brasil, uma em especial tem aclamação e aceitação dentre as classes sociais de elite – a
variante culta. O objetivo deste trabalho é analisar o caráter ideológico da variante culta como modo
de manutenção de um modelo socioeconômico segregacionista. Neste contexto, este trabalho se
torna importante, pois a linguagem – e a ideologia concomitante a esta – é algo que afeta toda a
sociedade de falantes, portanto, torna-se indispensável saber como tal língua é compreendida, quais
os objetivos almejados através do ensino tradicionalista de linguagem, quais os seus efeitos práticos
no cotidiano dos falantes e a quem (ou ao quê) o método estabelecido de entendimento da língua
favorece.
A linguagem deve ser compreendida por seus falantes como resultado de práticas
linguísticas sociais. Quando adicionada a carga ideológica elitizada à linguagem, ela não só serve à
interação como também passa a ser um instrumento de dominação. Busca-se compreender, então, o
papel ideológico da linguagem e a quem ela beneficia. É relevante também aos questionamentos
1
Graduando em Letras pelo Centro Universitário FAG. E-mail: pietroalara@gmail.com
2
Professora do curso de Letras do Centro Universitário FAG. E-mail: margabraga@yahoo.com.br
Para o melhor entendimento do tema proposto e para um esclarecimento dos assuntos que
serão abordados, torna-se necessária uma divisão quanto às abordagens teóricas dos conceitos
estudados. Para tanto, é benéfico entender, inicialmente, o que é ideologia e como ela se materializa
nos discursos sociais.
2.1 A IDEOLOGIA
Consoante a Chauí, a ideologia se resume num encadeamento sistemático de ideias de
âmbito histórico, político e social que tem como função o obscurecimento da realidade em prol de
A autora explica que este significado é proveniente de Marx, sendo o ideólogo – produtor de
ideologias – aquele que inverte as relações entre o real e o fictício (CHAUÍ, 2008). Marx e Engels
(1998) sustentam o posicionamento de que a supremacia de uma classe social ante outras ocorre não
só pela monopolização do plano material, como pela detenção dos modos de produção, matérias
primas e poder político, mas também por um senhorio do plano ideológico e espiritual. De um
modo geral, apenas as ideias criadas pela classe dominante de uma sociedade são consideradas
válidas e belas, já que as classes dominadas não se percebem nessa relação de soberania.
As línguas que têm forma escrita, como é o caso do português, necessitam da gramática
normativa para que se garanta a existência de um padrão linguístico uniforme no qual se
registre a produção cultural. Conhecer a norma culta é, portanto, uma forma de ter acesso a
essa produção cultural e à linguagem oficial. (NETO e INFANTE, 1997, p. 16 apud
BAGNO, 2000, p. 27)
Se a communis opinio dentre as classes dominadas é de que são iguais às classes dominantes
por viverem sob as mesmas leis, e se acreditarem que usam a mesma língua, este processo de
homogeneização torna a relação de opressão mais viável. Conforme Bourdieu (1996 apud BAGNO,
2000), os revolucionários franceses de 1789 viram na promulgação de leis que perseguissem os
dialetos regionais um método de domínio usando a língua. A linguagem revolucionária era ligada
ao pensamento revolucionário, logo, expurgar a língua dos usos das antigas sociedades era um
modo de criar um novo pensamento social também purificado.
3. METODOLOGIA
4. ANÁLISES E DISCUSSÕES
A pesquisa nos leva à constatação de que o ensino da língua materna precisa ser repensado em
prol de conteúdos e discussões que permitam ao aluno desenvolver sua competência linguística.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia e exclusão social. 1.ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2000.
______. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.
ENGELS. F; MARX, K. A ideologia alemã. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
LUFT, C. P. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna. 1.ed. São Paulo:
Editora Ática, 2001.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. 1.ed. São Paulo: Mercado de Letras,
1996.