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FICHAMENTO DO TEXTO “VOCÊ TEM CULTURA?


DE ROBERTO DA MATTA

Ana Laura Giaretta – 00315967


Antropologia, Turma D, 2021/1

Permeando uma reflexão sobre a antropologia, em seu texto “Você tem


cultura?”, publicado no Jornal da Embratel em 1981, Roberto da Matta
apresenta a palavra com dois sentidos: o popular e o antropológico.

 Sentido popular: utilizado pelas pessoas em geral para descrever


alguém com alto nível de escolaridade, sabedoria e sofisticação. No
Brasil de hoje, é alguém que gosta de música clássica ou MPB, fala um
“bom português”, tem um vasto repertório artístico... Daí advém a
afirmação de que, por exemplo, funk não é cultura (sic);
 Sentido antropológico: conjunto de comportamentos e crenças comuns
de um grupo de pessoas, o qual as permite conviver e faz com que se
sintam parte de um todo.

Em uma relação com a psicologia, o autor afirma que essa distorção


também ocorre com a palavra “personalidade”. Idealmente, a personalidade
compreende os atributos do caráter de um indivíduo – seja ele tímido ou falante
–; já no uso corriqueiro alguém “com personalidade” seria uma pessoa com
opiniões fortes e presença marcante. Assim como quaisquer características
psicológicas de um indivíduo compreendem a sua personalidade, do mesmo
modo quaisquer atitudes, rituais e pensamentos comuns de um grupo são
considerados sua cultura.

Nesse viés, não se pode sobrepor uma cultura à outra: todas são
igualmente válidas e relevantes. Tomando como exemplo o uso da gramática
normativa: em círculos de elite intelectual há o costume de usar os Rs do
infinitivo, abusar de conjunções e advérbios e possuir uma oratória refinada,
nas comunidades o padrão são conjugações verbais equivocadas, tom de voz
mais alto e fortíssima presença de gírias e vícios de linguagem. Ambos são
usos da língua e fazem parte do modo de vida daquele círculo, sendo inclusive
motivo de estranhamento caso um intelectual fale com pitadas de uma
linguagem mais coloquial. Isso corrobora o conceito de que a cultura gera
identificação por ser um comportamento de grupo.

Devido a essa característica, é comum que se julgue uma cultura


diferente da sua como errada ou inferior. Como expõe da Matta em seu
trabalho, as diferenças entre a cultura indígena e ocidental são gigantes e o
que para uma é considerado “bárbaro”, para a outra é símbolo de evolução.
Enquanto os habitantes de grandes cidades se vangloriam de suas máquinas e
domínio sobre a natureza, os povos indígenas prezam muito mais pelo
equilíbrio entre ambiente e suas sociedades.

Finalizando o texto, o autor expõe a importância de que o brasileiro


resgate a ideia de que ele tem, sim, uma cultura, em detrimento daquilo que as
elites por tanto tempo vêm tentando impor. Tal reconhecimento vem
precisamente da compreensão de que não há uma configuração social superior
e permite abrir portas para melhores políticas públicas em prol dos menos
favorecidos, bem como para uma autoafirmação no sentido de que cultura não
é só o “erudito”, mas sim todo o conjunto de práticas de um grupo, sejam elas
quais for.

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