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INITIUM

INITIUM, revista fundada en 1996 por Aquilino Iglesia Ferreirós en


memoria de Josep Maria Gay, con el siguiente consejo científico:

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Pio CARONI (Berna) Jerry CRADDOCK (Berkeley)
José A. GARCÍA DE CORTÁZAR (Santander) André GOURON (Montpellier)
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Encarna ROCA (Barcelona)

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Associació Catalana d’Història del Dret “Jaume de Montjuïc”

INITIUM
REVISTA CATALANA D’HISTÒRIA DEL DRET

17

2 01 2
El Grup de Recerca «Jaume de Montjuïc» del Seminario de Historia del
Derecho de Barcelona ha adoptado esta Revista como su medio principal de
difusión.

© Edita: Associació Catalana d’Història del Dret «Jaume de Montjuïc»


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www.signo.es
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL,
ATÉ ÀS ORDENAÇÕES AFONSINAS

«nom deuemos de guardar os dictos dereytos escriptos se


nom enquanto ssom fundados em boa Razom e em prol
dos nossos ssubjectos»
(1352 - Lei de D. Afonso IV)

José DOMINGUES

1.– Introdução.– Calasso justifica a designação de Direito comum através


de múltiplos vectores de convergência, i. e., o Direito comum «(i) unifica as
várias fontes do direito (direito justinianeu, direito canónico e direitos locais), (ii)
constitui um objecto único (ou comum) de todo o discurso jurídico europeu, (iii) trata
este objecto segundo métodos e estilos de raciocinar comuns, (iv) forjados num ensino
universitário do direito que era idêntico por toda a Europa e (v) vulgarizados por
uma literatura escrita numa língua universal –o latim–»1.
Em suma, o Ius commune medieval acaba por se converter numa síntese
dos Direitos romano, canónico e feudal e a sua árdua adaptação às realidade
jurídicas medievas emergentes. A separação conceptual com os iura propria
não é tarefa fácil2, dado que a relação entre ambos nem sempre se pautou por
critério simples e de linearidade. Como se poderá constatar ao longo das linhas
que se seguem, entre um e outros palpitou uma relação contraditória de, por
um lado, sedutora atracção e aceitação, e, por outro lado, de afastamento e
repulsa. O Ius commune irá surgi, desde os inícios do século XII, como produto
de um fenómeno, própria ou impropriamente, designado por «renascimento
jurídico do Direito romano» e manter-se-á nos ordenamentos jurídicos

1
Apud António Manuel HESPANHA, Cultura Jurídica Europeia - Síntese de Um Milénio (2003) 89.
2
Sobre as dificuldades de conceptualização de conceitos opostos –tais como o de ius commune/
ius proprium, ius generale/ius particulare, ius commune/ius speciale etc.– desde Gayo e Ulpiano, passando
pelos glosadores e comentadores, até à actualidade vide Aquilino IGLESIA FERREIRÓS, «La Formación
de los Libros de Consulado de Mar», Initium 2 (1997) 4-9.

INITIUM 17 (2012) 121-168


122 JOSÉ DOMINGUES

europeus até ao advento dos primeiros códigos, nos finais do século XVIII
e seguinte3. O renascimento jurídico medieval é, provavelmente, um dos
maiores fenómenos jurídicos da civilização da Europa Ocidental, com certeza,
um dos mais relevantes do seu último milénio.
Uma multiplicidade de factores e conjunturas concorreram para o
advento desse fenómeno cultural, religioso, jurídico e político que varreu
toda a Europa da Baixa Idade Média4. Convém, por isso, ter presente que,
segundo Ruy e Martim de Albuquerque, «a enumeração dos factores determi-
nantes da «renascença» do direito romano, pela variedade destes, sua complexidade,
dilatada génese e sincronia muito relativa, logo mostra não estarmos perante um
fenómeno histórico identificado com um momento concreto, mas sim face a um processo
protraído no tempo»5.
No entanto, de entre essa plêiade de fundamentos culturais, jurídicos,
económicos, demográficos, religiosos e políticos, é devida primazia e evidência
ao papel desempenhado pelo Studium generale ou Universidade, que, pouco a
pouco, se encarregou de disseminar por toda a Europa o Ius commune medieval6.

3
«Ni el profundo impacto de la revolución francesa del siglo XVIII ni el auge del positivismo
contemporáneo aventado por el movimiento codificador han sido capaces de borrar los trazos de una
tan arraigada tradición jurídica que encuentra su fuente directa de acción y de inspiración en aquella
generación entusiasta de europeus del siglo XII» - Carlos LARRAINZAR, «Las Raíces Canónicas de la
Cultura Jurídica Occidental», Ius Canonicum [= IC] XLI n.º 81 (2001) 13-34, em http://dspace.unav.
es/dspace/bitstream/10171/3667/1/81-01.Est.Larrainzar.pdf (consultado dia 10 de Abril de 2012).
4
Para uma sucinta actualização bibliográfica do tema em Portugal, a partir do ano 2000:
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, História do Direito Português - Fontes de Direito (2011)
189-299. Mário Júlio de Almeida COSTA, História do Direito Português, com a colaboração de Rui
Manuel de Figueiredo Marcos (2010) 229-381. Fernando José Gautier Luso SOARES, Ensaio para a
História da Formação do Direito Medieval Português. O elemento romano (2009). Eduardo Vera-Cruz
PINTO, Terra de Santa Maria Terra-Mãe do Primeiro Portugal. Estudo de Direito Medieval Hispânico Sobre
a Independência de Portugal (1096-1179), vol. II - O Direito (2007). Ruy de A LBUQUERQUE e Martim de
A LBUQUERQUE, História do Direito Português, vol. 1 (2005) 261-334. Paulo Ferreira da CUNHA, Joana
Aguiar e SILVA e António Lemos SOARES, História do Direito. Do Direito Romano à Constituição Europeia
(2005) 159-194. Fátima Regina FERNANDES, «A Recepção do Direito Romano no Ocidente Europeu
Medieval: Portugal, um caso de afirmação régia», História: Questões & Debates, n.º 41 (2004) 73-83.
Joana Aguiar e SILVA, «A Ciência Jurídica Medieval: Mais do que a Passagem de um Testemunho. O
Renascimento Medieval do Direito Romano», Estudos em Comemoração do 10º Aniversário da Licenciatura
em Direito da Universidade do Minho (2004) 385-421. António Manuel HESPANHA, Cultura Jurídica
Europeia - Síntese de Um Milénio (2003) 89-134. Manuel Augusto RODRIGUES, «Note sul “ius commune”
in Portogallo», Rivista Internazionale di Diritto Comune 12 (2001) 265-287. Marcello CAETANO, História
do Direito Português (Séc. XII-XVI), seguida de Subsídios para a História das Fontes do Direito em Portugal
no Séc. XVI, Textos introdutórios e notas de Nuno Espinosa gomes da Silva (2000) 333-343.
5
A LBUQUERQUE E A LBUQUERQUE, História do Direito Português, 267.
6
A Universidade portuguesa foi criada pela bula De statu regni Portugaliae, de 9 de Agosto de
1290, outorgada pelo papa Nicolau IV. refere expressamente o ensino do «iure Canonico ac Civili» e
a existência de um doutor «in decretis» e um mestre «in decretalibus», i. e., um doutor para ensinar
o Decreto (decretista) e um mestre para o ensino das Decretais (decretalista). Na carta de privilégios
dionisina, de 15 de Fevereiro de 1309, para além dos dois professores de Direito canónico prevê-se,
também, um de Direito romano.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 123

A sua exacta origem cronológica (de Bolonha e da sua primazia, bem como
dos restantes reinos, nomeadamente, o de Portugal) tem apaixonado a inves-
tigação multidisciplinar dos mais diversos quadrantes do globo terrestre, com
desenvolvimentos recentes de elevado fuste, mas que ainda parece estar longe
de um entendimento pacífico.

2.– Recepção do Ius commune em Portugal.– A chegada das luzes


do Ius commune a Portugal –apesar da sua situação geográfica no extremo
ocidental da Europa e, logicamente, da distância física que o separa dos grandes
centros jurídico-culturais difusores, sobretudo a partir de Itália e França– é
muito precoce. Em comparação com o resto da Península, não será exagero
permitir que ombreie com a região da Catalunha7, apesar de esta ter a seu
favor a proximidade geográfica e as estreitas relações mantidas com Itália e
o sul de França8.
As causas da recepção em Portugal não diferem em muito das verificadas
nos demais países europeus e, menos ainda, nos coevos reinos peninsulares.
No entanto, não será despiciendo considerar que, desde os primórdios da
fundação e até finais do século XIV, em Portugal faltava uma colectânea
de Direito comum, aplicável por todo o reino. Isto acontece, antes de mais,
porque o Liber Judicum –corpus legislativo geral dos povos peninsulares,
impregnado de romanismo, tanto substantiva como formalmente, com uma
sistematização, em 12 livros subdivididos em títulos e capítulos, idêntica à
do Código justinianeu– deixa de se aplicar em Portugal a partir da segunda
metade do século XII9.
Continuamos sem uma explicação suficientemente válida que justifique
esta revogação do Liber em Portugal, sendo certo que manteve a sua vigência

7
No segundo quartel do século XII já existirá um incipiente resquício, cf. André GOURON, «Aux
origines de l’influence des glossateurs en Espagne», HID 10 (1983) 325-346, em http://institucional.
us.es/revistas/historia/10/07%20gouron.pdf (consultado dia 10 de Abril de 2012). Aquilino IGLESIA
FERREIRÓS, «El primer testimonio de la recepción del derecho romano en Cataluña?», RJC (1978).
8
Sobre a recepção em Espanha, cf. Antonio GARCÍA Y GARCÍA, Derecho Común en España: los
juristas e sus obras (1991). Antonio PÉREZ MARTÍN, «El estudio de la recepción del Derecho Común
en España», I Seminario de Historia del Derecho y Derecho Privado (1985) 241-325, em http://www.
derechoaragones.es/consulta/registro.cmd?id=605201 (consultado dia 10 de Abril de 2012). Para
Galiza, cf. os trabalhos de: Faustino MARTÍNEZ MARTÍNEZ, «Notas sobre la penetración del derecho
común en Galicia (siglos XII-XV)», CEG 48/114 (2001) 31-97, em http://estudiosgallegos.revistas.
csic.es/index.php/estudiosgallegos/article/viewFile/143/146 (consultado dia 10 de Abril de 2012).
Emma MONTANOS FERRÍN, «Reflejo jurídico-doctrinal del “sistema” del Ius Commune en el Reino
Medieval de Galicia», AFDUC 3 (1999) 417-431, em http://hdl.handle.net/2183/2024 (consultado
dia 10 de Abril de 2012).
9
José A. Duarte NOGUEIRA, Lei e Poder Régio I. As Leis de Afonso II (2006) 100-101.
124 JOSÉ DOMINGUES

nos restantes reinos ibéricos10 e, por diligência de D. Fernando III de Castela,


foi vertido para romance sob a designação de Fuero Juzgo (1241). A incom-
patibilidade do desaparecimento da Lei Gótica (segunda metade do séc. XII)
poder ser tributada ao Direito consuetudinário e foraleiro (séc. XI), por um
lado, ou à crescente legislação régia e a recepção do Ius commune (séc. XIII),
por outro, carecem de uma fácil harmonização cronológica para que possam
ser acriticamente aceites11. Além do mais, estes condicionalismos também
se verificaram no resto da Península. Por isso, a fundamentação terá que ser
outra. Na minha modesta análise crítica entendo que um dos motivos para o
colapso do Liber possa estar relacionado com uma emergente necessidade de
independência jurídica do incipiente reino em relação ao Fuero de Leon12. Por
isso, a famigerada causa que se procura pode não ser congénita às fontes do
Direito coevas, mas antes se relacionar com o abolir de uma vetusta forma-
lidade processual de recurso para uma instância suprema, preconizado pela
aplicabilidade da Lex Gotica, situada na cidade de Leão, bem no âmago do
reino a que o incipiente Portugal disputava a independência13.
Este óbice só será matizado com a lide compilatória que, entre os finais
do século XIV e primeira metade do XV, assolou o dealbar da dinastia de
Avis14. Em definitivo, foram preciso dois séculos para que Portugal elaborasse
a sua colectânea de Ius proprium extensível a todo o reino. Na falta desse lastro
comum próprio, é natural que existissem as condições propícias para uma
permeabilidade desimpedida do Ius commune medieval, que estava a ser bafe-
jado para toda a Europa pelo Studium de Bolonha e os outros que, entretanto,
apareciam e lhe seguiam as pisadas.

10
Maria Luz A LONSO MARTÍN, «La perduración del Fuero Juzgo y el derecho de los castellanos
de Toledo», AHDE 48 (1978) 335-378.
11
Para uma análise critica e bem fundamentada desta questão, Cf. José Artur Duarte NOGUEIRA,
Sociedade e Direito em Portugal na Idade Média - Dos Primórdios ao Século da Universidade (Contribuição
para o seu Estudo) (1994) 168-189.
12
Sobre o fuero de León, cf. Gregoria CAVERO DOMÍNGUEZ, Etelvina FERNÁNDEZ GONZÁLEZ e
Fernando GALVÁN FREILE, «Imágenes reales, imágenes de justicia en la catedral de León», e-Spania, 3 |
junho 2007, [Em linha], colocado em linha a 25 Novembro 2009, em http://e-spania.revues.org/
index204.html (consultado dia 10 de Abril de 2012).
13
Cf. José DOMINGUES, Códices Medievais de «Ius Proprium» em Portugal (no prelo).
14
Estou cada vez mais convicto que, em Portugal, existiram colectâneas oficiais de Ius proprium
muito antes das Ordenações Afonsinas (1446). Neste momento, entendo que já estariam em vigor livros
de Ordenações em 1390, a que acresceu um novo livro de Ordenações em 1418, sendo que a compilação
das Afonsinas (que veio revogar as anteriores) só se terá iniciado –após a tentativa falhada nos finais do
reinado de D. João I– no início do reinado de D. Duarte (1433). Sobre este intrincado, e ainda pouco
estudado, processo compilatório Cf. José DOMINGUES, As Ordenações Afonsinas - Três Séculos de Direito
medieval (1211-1512) (2008) em http://docentes.por.ulusiada.pt/jdomingues/ (consultado dia 10 de
Abril de 2012). «;», «A Última Reforma do Direito Medieval Português», Revista Lusíada - Direito
[= RL-D] Série I 1/2 (2010) 359-437. «;», Códices Medievais de «Ius Proprium» em Portugal (no prelo).
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 125

As Partidas de Afonso X –que chegam a ser identificadas como versão


castelhana do Ius commune– constituem outra causa sui generis ligada à recepção
deste Direito. Esta colectânea legislativa do Sábio, assaz familiarizada com a
conjuntura jurídica hispânica, teve uma preponderante aceitação em Portugal,
sendo cada vez mais plausível que tenha sido traduzida para Português ainda
no reinado de D. Dinis15. No inventário da biblioteca do mosteiro do Bouro,
feito a 5 de Dezembro de 1437, é identificado um livro da Primeira Partida
em Português16 e outro, no início do século XVI, no cartório da igreja de
Santa Maria do Olival (Tomar)17. Outros inventários medievais dão conta de
mais exemplares (curiosamente, sempre da Primeira Partida) na biblioteca
de D. João I e na do seu sucessor D. Duarte, na igreja de Santiago de Torres
Novas (1538)18, na colegiada de Santo André de Mafra (1474)19. No entanto,
aos nossos dias chegaram apenas os tomos das Partidas I e III20, acompanhadas
por uma multiplicidade de fragmentos, que, paulatinamente, tem vindo a
ser descobertos.
Para além destas peculiares causas, outras de diversa índole, em princípio
comuns à maioria dos reinos do continente europeu, se revelaram propícias
à introdução e integração do Ius commune em Portugal. Não me deterei, por
compreensíveis motivos de tempo e lugar apropriados, sobre as de índole
místico-religiosa (v.g., o paradigma do primeiro milénio), jurídico-política

15
Esta tradição remonta aos meados do século XVII, na Monarquia Lusitana (1650), de Francisco
Brandão. Um documento, sem data, colocado entre outros de D. Dinis, reporta-se explicitamente a
uma lei das Partidas (P.1.11.4), a propósito dos casos em que a Igreja não pode dar asilo aos que nela
se acolhem - Ordenações Del-Rei Dom Duarte [=ODD], Edição preparada por Martim de Albuquerque
e Eduardo Borges Nunes (1988) 279. No entanto, a única data concreta conhecida continua a ser a
que ficou registada nesta nota da versão portuguesa da Partida Terceira da Torre do Tombo: «Era de
mil e trezentos e seteenta e noue [1341] quatro dias por andar de Junho [26 de Junho] foy este livro começado.
E foy acabado quatro dyas depos San Miguel [3 de Outubro] da era de suso dita e som tres meses mays tres
dias. Vasco Lourenço dito Çoudo o escreueo. Deus lhj de boom acabamento» - Lisboa, IAN/TT - Leis e Orde-
nações, Núcleo Antigo 3, 125. Transcrita por José Azevedo FERREIRA, «Terceira Partida de Afonso X:
subsídios para a sua edição e estudo», Estudos de História da Língua Portuguesa: Obra dispersa, Colecção
Poliedro 7 (2001) 235.
16
José MATTOSO, «Leituras Cistercienses do Século XV», Religião e Cultura na Idade Média
Portuguesa, Obras Completas 9 (2002) 295 e 300: «Item huum liuro da primeira partida per lingoajem».
17
Pedro PINTO, «Inventário Quinhentista das Igrejas de Santa Maria do Olival, São João da
Praça, Santa Maria do Castelo, Santa Iria, Santa Maria das Pias, e da Ermida de Santa Maria do Monte»,
Revista de Artes Decorativas 4 (2010) 167-175: «Jtem outro liuro per lingoaJem da primeira partida e no cabo
com hum tractado de sancto agostinho». O inventário de 1510 desta igreja, publicado por Isaías da Rosa
Pereira dá conta apenas das Decretais de Gregório IX, mas não refere o livro das Partidas - cf. Isaías
da Rosa PEREIRA, «Achegas para a História da Cultura Jurídica em Portugal», Boletim da Faculdade
de Direito da Universidade de Coimbra [= BFDUC] 58-2 (1982) 511-528.
18
Isaías da Rosa PEREIRA, «Dos livros e dos seus nomes. Bibliotecas litúrgicas medievais»,
Arquivo de Bibliografia Portuguesa, 17/63 (1971-1973) 127 e 165: «Item huma Partida, a primeira».
19
Margarida Garcez VENTURA, A Colegiada de santo André de Mafra (Séculos XV-XVIII) (2002)
25: «Item (…) da partida».
20
Lisboa, IAN/TT - Leis e Ordenações, Núcleo Antigo 2 e 3. O 2 passou para a BN, Alc. 463.
126 JOSÉ DOMINGUES

(particularmente sensível num reino em processo de autonomia emergente


e franca expansão21 e com a particularidade do receio que causou à coeva
mentalidade régia a ideia de que o Direito romano estava ligado à supremacia
do imperador) ou económico-social (v.g., a pujança extraordinária das cidades,
o incremento da produtividade agrária ou a crescente actividade comercial
com base monetária), para passar às de índole jurídico-cultural.
Sem embargo, a recepção do Ius commune tem dois denominadores
comuns –os homens e os livros22– que acabam por se manifestar através de
múltiplos veículos de penetração, e. g., (i) dignitários que ocupam relevantes
cargos burocráticos, (ii) estudantes portugueses que se deslocam às univer-
sidades estrangeiras e jurisconsultos estrangeiros em Portugal, tudo contri-
buindo para uma (iii) intensa circulação de livros com literatura jurídica.

(i) Em Portugal, desde os tempos remotos do monarca fundador da


nacionalidade que surgem eminentes nomes de juristas (magistri) ligados à
administração da justiça e governo do reino. Nomeadamente os chanceleres
dos primeiros monarcas, v. g., Mestre Alberto (Afonso Henriques), Mestre
Julião (D. Afonso Henriques, Sancho I e Afonso II), o conselheiro jurídico
milanês Leonardo e Mestre Vicente (Sancho II)23. De destacar, também, os
dignatários eclesiásticos colocados à frente dos destinos das dioceses e arqui-
dioceses portuguesas24.
No entanto, nem o termo magistri é unívoco, significando sempre um
perito em Direito romano, nem o facto de existirem no reino bons conhecedores
do novo Direito pode ser entendido como uma recepção efectiva do Ius commune.

(ii) Grande parte deste legisperitos são estrangeiros ou, então, estudantes
portugueses que procuraram no renovado saber jurídico uma oportunidade

21
«o início de uma individualização jurídico-política dos reinos, sem aceitar superiores de qualquer tipo,
está ligado ao pensamento e acção dos primeiros portugueses. Tal processo de afirmação política fundava-se na
romanidade do ius commune, não na reivindicação de criar direitos próprios (iura propria) como manifestações
de independência política ou singularidade cultural (nacional), como mais tarde veio a acontecer» - Eduardo
VERA-CRUZ, Terra de Santa Maria - Terra-Mãe do Primeiro Portugal, II (2007) 41.
22
«Lo que Van Caenegen ha afirmado para con respecto a Bélgica tiene también aplicación
plena en España [e Portugal]: “Está fuera de toda duda que el derecho romano penetró en nuestra patria
por dos vías: los hombres y los libros”. En otras palavras, la Recepción se llevó a cabo por medio de
los juristas, esa nueva clase social que se forma en las Universidades, y por la difusión de los libros
jurídicos». - PÉREZ MARTÍN, «El estudio de la recepción del Derecho Común en España», 245.
23
COSTA, História do Direito Português, 248-249. ALBUQUERQUE E ALBUQUERQUE, História do Direito
Português, 335-336.
24
Para o arquidiocese de Braga, cf. José Artur Duarte NOGUEIRA, «A Sé de Braga e a recepção do
direito romano-canónico em Portugal», IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga - Actas do Congresso
Internacional I (O Bispo D. Pedro e o Ambiente Político-Religioso do Século XI) (1990) 557-563.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 127

para singrar na vida25. Da concordata dos onze artigos se pode inferir que no
início do reinado de D. Dinis já eram vulgares, vindo de tempos antecedentes,
as deslocações de eclesiásticos para Estudos estrangeiros, nomeadamente Paris,
ao ponto do monarca lhes permitir tirar moeda do país para suas despesas e
aquisição de livros26. Apartando-nos dos estudos de García y García, Paulo
Mêrea e Sousa Costa27, que contemplam os mais insignes, são ainda parcos os
estudos monográficos sobre a vida da grande maioria dos juristas medievais
portugueses –v. g., a abordagem prosopográfica ao chantre de Viseu e cónego
de Coimbra, Lourenço Esteves de Formoselha28 e os dados sobre o bispo do
Porto, D. Sancho Pires, detentor de uma abastada biblioteca jurídica29–. Por
outras palavras, ainda está muito longe (que me conste, em Portugal, ainda
nem sequer terá sido iniciado) o Corpus Iuristarum Hispanorum predicado por
Pérez Martín30.
É incontestável o papel deste juris-peritos na difusão do novo Ius commune,
mas como já se gastaram resmas de papel e correram rios de tinta sobre este
tema, não tendo nenhuma novidade relevante para aportar, permitam-me
que passe ao outro vector de penetração.

25
A bibliografia em seu torno é demasiado extensa, fica, por isso, a indicação onde pode ser
represtinada: Guilherme Braga da CRUZ, «O direito subsidiário na história do direito português»,
Revista Portuguesa de História [= RPH] XIV/3 (1975) 184 nota 8. COSTA, História do Direito Portu-
guês, 252-253 nota 2. Acrescente-se o trabalho de Mário Sérgio FARELO, «Os estudantes e mestres
portugueses nas escolas de Paris durante o período medievo (séc.s XII-XV): elementos de história
cultural, eclesiástica e económica para o seu estudo», Lusitania Sacra [= LS] 2.ª Série 13-14 (2001-
2002) 161-196.
26
OA.2.2, artigo VI. Confirmado em carta do mesmo monarca, de 23 de Agosto de 1292: «Item
outorgo e mando que aquelles que estão ou esteverem em estudo ou forem pera a Corte de Roma tirem dos meus
regnos ouro e prata sem dizima, como he contheudo no artigo que nos avemos em Corte de Roma e nenhum nom
os embargue» (OA.2.3.§7).
27
Antonio GARCIA Y GARCIA, Estudios sobre la Canonistica Portuguesa Medieval (1976).
António Domingues de Sousa COSTA, Mestre André Dias de Escobar, figura ecuménica do século XV
(Porto 1967). «;», Um Mestre Português em Bolonha no Século XIII, João de Deus (1957). «;», «;», Mestre
Silvestre e Mestre Vicente - Juristas da contenda entre D. Afonso II e as suas irmãs (1963). Paulo MERÊA,
«Domingos Domingues, Canonista Português do Século XIII», Estudos de História do Direito I - Direito
Português (2007) 429-436. Sobre o famoso Pedro Hispano, vide o recente trabalho de: Ángel D’ORS,
«Petrus Hispanus O. P., Auctor Summularum», Dicenda. Cuadernos de Fílologia Hispánica, 19 (2001)
243-291 e 25 (2007) 139-180.
28 Maria do Rosário Barbosa MORUJÃO e Anísio Miguel SARAIVA, «O chantre de Viseu e cónego
de Coimbra Lourenço Esteves de Formoselha (…1279-1318): Uma abordagem prosopográfica»,
LS 2.ª série 13-14 (2001-2002) 75-137.
29
«Estudou em Salamanca entre 1250-60, tendo, anteriormente, frequentado o estudo de
Vallodolid. De 1296 a 1300 foi bispo do Porto e participou no tratado de Alcanices, tendo falecido
neste último ano» – José MARQUES, «A Universidade de Salamanca e o Norte de Portugal, nos
Séculos XV-XVII», Península. Revista de Estudos Ibéricos 0 (2003) 90.
30
PÉREZ MARTÍN, «El estudio de la recepción del Derecho Común en España», 245-250.
128 JOSÉ DOMINGUES

(iii) As referências esparsas aos livros medievais de Direito –v. g., em


contratos, censuais, obituários, inventários, testamentos ou outros instru-
mentos mortis causa, etc.– constituem uma das formas de recepção bastante
aprofundada pela literatura hodierna, designadamente, em Portugal31. É
merecida referência expressa –por especial dedicação à temática– aos trabalhos
de Mário Júlio de Almeida Costa32, Isaías da Rosa Pereira33, Avelino Jesus da
Costa34 e Saul António Gomes35, complementados pela colectânea documental
que edita em letra de forma os testamentos de prelados e clérigo das catedrais
portuguesas, desde o ano de 1071 até 132536. Sem esquecer que em outros
trabalhos se publicaram diversos documentos relevantes37.
No testamento de João d’Acre, lavrado em 1301 e conservado em pública
forma de 1323, aparecem referidas mais umas Decretais de Gregório IX e um

31
Para que a nota não seja demasiado estirada, mesmo incluindo apenas a bibliografia que trata
os livros medievais em Portugal, remeto para autores onde se pode respigar essa bibliografia: SILVA,
História do Direito, 268-269 n. 1. COSTA, História do Direito Português, 249-250 nota 1. Saul António
GOMES, «Livros Medievais Portugueses. Novos elementos para o seu conhecimento», Biblos 3, (2005)
69 nota 1. José MATTOSO, «A cultura monástica em Portugal (875-1200)», Religião e Cultura na Idade
Média Portuguesa (2002) 276. Isaías da Rosa PEREIRA, «Livros de Direito na Idade Média», LS 1.ª série
vol. 7 (1964/66) 8-9 nota 3 e vol. 8, (1967/69) 96 nota 26.
32
Mário Júlio de Almeida COSTA, «Para a História da Cultura Jurídica Medieva em Portugal»,
BFDUC 35 (1959) 253-276 / Actas do Congresso Histórico de Portugal Medievo (1959), tomo I,
Bracara Augusta, 14-15/1-2 (49-50) (1963) 340-357.
33
Isaías da Rosa PEREIRA, «A Livraria da Universidade no Início do Século XVI», Arquivo de
Bibliografia Portuguesa [= ABP]10-12/37-48 (1964-1966) 155-170. «;», «Livros de Direito na Idade
Média I», LS 1.ª série, 7 (1964/66) 7-60. «;», «Livros de Direito na Idade Média II», LS 1.ª série 8
(1967/69) 81-96. «;», «Dos livros e dos seus nomes. Bibliotecas litúrgicas medievais», ABP 17/63
(1971-1973) 97-167. «;», «Achegas para a História da Cultura Jurídica em Portugal», BFDUC 58-2
(1982) 511-528.
34
Avelino Jesus da COSTA, «Biblioteca e Tesouro da Sé de Coimbra nos séculos XI a XVI»,
2.ª ed., BFDUC 38 (1983) 1-219. «;», A Biblioteca e o Tesouro da Sé de Braga nos Séculos XV a XVIII
(1985).
35
Saul António GOMES, «Livros e Alfaias Litúrgicas do Tesouro da Sé de Viseu em 1188»,
Humanitas, 54 (2002) 269-281. «;», «Três Bibliotecas Particulares na Coimbra de Trezentos. Em
torno das elites e das culturas urbanas medievais», Revista de História das Ideias 24 (2003) 9-49. «;»,
«Livros Medievais Portugueses: Novos elementos para o seu conhecimento», Biblos 3 (2005) 69-84.
36
Testamenti Ecclesiae Portugaliae (1071-1325), História Religiosa - Fontes e Subsídios 6, Coord.
Maria do Rosário Barbosa Morujão (2010).
37
José MATTOSO, «Leituras Cistercienses do Século XV», Religião e Cultura na Idade Média
Portuguesa, Obras Completas 9 (2002) 276-301 - inventários dos livros do mosteiro de Bouro e Seiça,
do séc. XV. Anísio Miguel de Sousa SARAIVA, «O processo de inquirição do espólio de um prelado
trecentista: D. Afonso Pires, bispo do Porto (1359-1372)», LS 2.ª série, 13-14 (2001-2002) 197-228.
Ana Paula Figueira SANTOS e Anísio Miguel de Sousa SARAIVA, «Património da Sé de Viseu segundo
um inventário de 1331», RPH 32 (1997/1998) 107-108. Maria Clara Pereira da COSTA, «A Problemá-
tica da Inserção Social de Luís de Camões. Perfil Individual e Social de alguns Camões (Inventário
Documental)», Actas da IV Reunião Internacional de Camonistas (1984) 281-288 doc. 27 - testamento
de mestre João das leis de 20 de Março de 1383. Manuel Gonçalves da COSTA, História do Bispado e
Cidade de Lamego I (1977) 189-190 e 542-543. Alberto FEIO, «Os bens dum Bispo na Idade Média.
Inventário do século XIII», Boletim da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Braga I (1920) 117-126
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 129

Inocêncio38. Gonçalo Miguéis39, em testamento lavrado em Alhos Vedros no


dia 10 de Abril de 1391 –que não encontrei publicado– estabelece que o seu
irmão deveria entregar os livros que possuía de mestre João das Leis e da capela
do bispo D. Afonso Dinis, seu tio, a Afonso Anes, filho do mestre João das
Leis e que, por sua vez, o seu irmão deveria receber as escrituras e obrigações
que sobre os ditos livros tivessem sido feitas. Deixava os seus restantes livros
próprios, umas Clementinas e um Arcediago e os outros livros de repartições e
da Ordem de Vogaria, à capela do bispo Dom Afonso Dinis40.
Apesar dos constantes avanços, o legado post mortem do bispo do Porto,
D. Fernando Martins, que morreu no dia 8 de Novembro de 1185, mantém-
-se como a mais vetusta prova da permanência de livros de Direito comum
em Portugal. Nesse cimélio já consta um Decreto de Graciano, várias Sumas
e os libri legales41. Existe uma séria probabilidade de o prelado portuense ter
adquirido os livros em Bolonha, ainda antes de 1159 ou entre 1162 e 116842.
O que vem fortalecer a ideia da divisão do Corpus Iuris Civilis, tributada a
Irnério ou magister Guarnerius teutonicus, mencionado no obituário da abadia
de São Victor de Paris, legando-lhe os seus quinque libros optimos glosatos43.

38
Particularizo este testamento por não aparece publicado nos Testamenti Eclesiae, apesar de
publicado por Ruy de ALBUQUERQUE e Martim de ALBUQUERQUE, História do Direito Português - Elementos
Auxiliares I (1992) 178: «Jtem a Viçente meu criado todo o herdamento que hej na Azoya em termho de Sanc-
taren e mando-lhj As mhas degretaaes e o meu Innocencio se for clerigo e depos sa morte vendan-sse os liuros e
den-sse por mha Alma».
39
Identificado como bacharel em Direito canónico, ouvidor do rei D. Fernando e prior na igreja
de São Lourenço de Alhos Vedros.
40
Lisboa, IAN/TT - Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 4, n.º 12.
41
«Mando Portugalensi ecclesiae decreta mea et institutiones et autenticam et nouellam sicut
sunt in uno volumine et summam decretorum et institutionum et codicis siti in alio volumine (…)
Mando Bracharensi ecclesiae codicem meum et digestum uetus et nouum in tres partes cum isforciato»
(Deixo à igreja do Porto os meus Decreto e Instituições e Autêntico e Novela tal como estão num
só volume, e a Suma do Decreto e das Instituições e do Código postas noutro volume (…) Deixo à
igreja bracarense o meu Código e o Digesto Velho e Novo em tres partes com o Esforçado) - Censual do
Cabido da Sé do Porto - Códice membranáceo existente na Biblioteca do Porto, Ed. Joaquim Grave, (1924)
385 e 386.
42
Cf. SILVA, História do Direito Português, 612-617 nota final VIII - Sobre D. Fernando Martins e
os seus livros de Direito.
43
Giuseppe Mazzanti, apud José Miguel VIEJO-X IMÉNEZ, «“Gratianus Magister” y “Guarnerius
Teutonicus”. A propósito del “XIth International Congress of Medieval Canon Law” de 2000 em
Catania», IC XLI/81 (2001) 55, em http://dspace.unav.es/dspace/handle/10171/3668 (consultado dia
10 de Abril de 2012). Para reforçar a tradição em favor de Irnério e, dessa forma, afastar a crítica de
Cortese, Padovani acrescenta que, poucos anos depois da morte de Irnério, Filipe de Harcourt doou
à biblioteca do mosteiro de Bec tres partes et Digesta nova/, Digesta vetera/, Inforciata et liber autenti-
corum/, liber Institutionum et tres libri Codicis/, Instituta Iustiniani minora: cinco livros, precisamente,
adquiridos provavelmente na sua viagem a Itália entre 1144 e 1152-54 (aggiungo che, pochi anni dopo
la morte di questi, Filippo di Harcourt poteva donare alla biblioteca del monastero di Bec tres partes et Digesta
nova/, Digesta vetera/, Inforciata et liber autenticorum/, liber Institutionum et tres libri Codicis/, Instituta
Iustiniani minora: cinque libri, appunto, acquistati probabilmente nei suoi viaggi in Italia tra il 1144 ed il
1152-54) - Andrea PADOVANI, Alle Origine dell «Universitat» di Bologna: L’Insegnamento di Irnerio, em
130 JOSÉ DOMINGUES

Não deixa de ser relevante que em finais do século XII, em Portugal,


já existam quatro exemplares da magistral obra de Graciano, localizados nas
sés catedrais do Porto, Viseu e Coimbra (2). Esta obra, no século seguinte, vai
ultrapassar as duas dezenas de exemplares. Módica cifra de que apenas se apro-
ximam as Decretais de Gregório IX, nesse século XIII e no XIV. De salientar,
também, a quantidade de Decretais Antigas44 que surgem no século XIII e a
assiduidade do Inocêncio, no século XIV (cf. Anexo 1).
Portugal estava atento às novidades jurídicas que bafejavam da Europa,
sobretudo, da Cúria papal e do Studium de Bolonha: v. g., umas Decretais de
Gregório IX (1234) surgem no testamento de João Eanes, chantre de Coimbra,
de 27 de Agosto de 123645; um Código e um Digesto Velho com a Glosa de
Acúrcio, em testamento de Fevereiro de 125746; no testamento de D. Egas
Fafes, de 8 de Março de 1268, também aparece um Digesto Velho, um Código
e uma Instituta com a Glosa de Acúrcio47; o Livro Sexto de Bonifácio VIII,
surge num inventário de 20 de Julho de 130648…
Estes códices chegam arrolados aos nossos dias, sobretudo por causa
do seu elevado valor pecuniário (cf. Anexo 2). Não deixa de ser curioso que
o bispo, D. Egas Fafes, no seu testamento (1268) tenha mandado vender um
Digesto Novo «cum tribus partibus»49, o Digesto Velho e o Código com a Instituta
para se comprar um olival, destinado a alumiar a lâmpada do mosteiro de
Arouca50. Por isso, é natural que a sua permutação, tivesse que ser abonada
por documento escrito e, não raro, por documento autêntico (apesar de tudo,
pouco assíduos no remanescente da documentação medieval que chegou aos
nossos dias –cf., ut supra, no testamento de Gonçalo Migueis (1391) a refe-
rência às escrituras e obrigações que sobre os ditos livros tivessem sido feitas) como
o que se segue–.
Perante o tabelião de Coimbra, no dia 3 de Janeiro de 1368, foi lavrado
instrumento público onde ficou consignado que Diogo Rodrigues, escolar,
raçoeiro da igreja de São Lourenço de Lisboa, recebia emprestado de mestre

http://www.giuri.unibo.it/NR/rdonlyres/E8A63069-10E5-4796-A714-6D866694BE1D/183338/
ALLEORIGINI.pdf (consultado dia 10 de Abril de 2012).
44
Que ainda chegaram aos nossos dias: Lisboa, BN - Alcobacense 381.
45
Testamenti Ecclesiae Portugaliae (1071-1325) 259 doc. 2.16.
46
PEREIRA, «Livros de Direito na Idade Média I», 16-17 doc. 3.
47
Testamenti Ecclesiae Portugaliae (1071-1325) 310-313 doc. 2.28.
48
GOMES, «Três Bibliotecas Particulares», 40 doc. 1.
49
Corresponde à divisão antiga do Corpus Iuris Civilis, onde o Digesto Novo começava nas palavras
tres partes (D.35.2.82 –«…sin vero centum tantum facere possit, heredi ex refecto quarta servanda
est: sic fiet, ut centum, quae praestari possunt, in quattuor partes dividantur, tres partes ferant
legatarii, heres viginti quinque habeat, debitor, qui solvendo non est, secum centum quinquaginta
compenset…»–) e não no livro 34. Posteriormente, o conteúdo desde a expressão tres partes até ao
livro 39 foi destacado para o Digesto Esforçado.
50
Testamenti Ecclesiae Portugaliae, 310-313 doc. 2.28.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 131

João das Leis, por intermédio do seu escudeiro Gonçalo Miguéis, um livro
com o Decreto de Graciano glosado. Para o caso de incumprimento, se o
comodatário não restituísse o livro quando lhe fosse pedido ou mandado
pedir, ficou estatuída uma sanção pecuniária reconstitutiva de trezentas
libras portuguesas; para o caso de atraso no cumprimento, fixa-se uma sanção
compulsória de vinte soldos portugueses por cada dia de atraso. O documento
identifica incipits e explicits, que podem ser de bastante utilidade, sobretudo,
para futuras indagações de índole codicológica, passemos-lhe então a palavra:

«Sabham quantos este stromento vjrem que eu Djego Rodriguez escollar


raçoejro da Egreia de Sam Lourenço de Lixboa conhesco e conffesso que receby
de mestre Joham das Leys vassallo e do consselho dElRey per Gonçallo Migueez
bachaller em degretaaes criado dese mestre Johanne huum liuro que he chamado
degredo que se começa no começo da segunda folha no texto Satira uero lex est.
e se começa ena glosa desa ffolha satira uero de hac satira nihil habemus e se
acaba no texto desa ffolha aprobata non sunt senon esse e se (sic) acaba ena glosa
desa folha de si quis per uetus testamentum Item sse começa na pena ultima
folha no texto jn conclusione matutinarum e se começa ena glosa desa folha Et
jta sunt xxxª horem decunate e se acaba no texto desa folha Sagina est dixit e
se acaba ena glosa desa folha Bene curata cute do qual liuro sobre dito me eu
dito Djego Rodriguez outorgo por bem entregue e obrigo todos meus beens mouys
e raiz auudos e por auer assy eclesiastycos come sagraaes a dar e entregar ao dito
meestre Johanne ou a seu çerto recado o dito liuro quando mho pedir ou mandar
pedir E non lho dando e entregando como dito he que lhy pague por el trezentas
llibras de dinheyros portugueses E demays que por cada huum dia que lho assy
reteuer e lho non der que lhy pague por parte e em nome de jnteresse vynte ssoldos
de dinheyros portugueses em cada huum dia das quaes cousas o dito Gonçallo
Migueez e o dito Dyego Rodriguez pedyrom senhos stromentos e este he do dito
Gonçallo Migueez feito foy na cidade de Coimbra nas casas de morada do dito
Gonçallo Mygueez vynte e tres dias de Janeyro Era de mill e quatroçentos e
sseys anos testemunhas que presentes foram Joham Denis bachaller em leys Ruj
Lourenço (?) Martjnz Pedr affomso escollares naturaaes de Lixboa Fernam
Martinz escollar natural de gujmaraaes Gonçallo Anes conigo do moestejro
de Frejxeo51 e outros E eu Martim Affomso tabelljom dElrej na dita cidade
de Coimbra e em seus termhos que a esto presente ffuj e este stromento scprevj
e dey ao dito Gonçallo mjgueez porque o dito Djego Rodriguez djsse <depois>
que non querja stromento e que meu signal fiz que tal he (Sinal de tabelião)
pagou seys soldos com camjnho»52

51
Mosteiro do Salvador de Freixo, em Amarante.
52
Lisboa, IAN/TT - Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 2, n.º 2.
132 JOSÉ DOMINGUES

Antes de mais, tudo indica que o volume abarcava o texto completo do


Decretum, com a respectiva glosa. Um detalhe a salientar: em vez de identi-
ficar o comum incipit e explicit da obra (primeira e última folha), o tabelião
optou por registar o incipit e o explicit, do respectivo texto do Decreto e da
Glosa, mas que constavam na segunda e na penúltima folha. Só encontro uma
razão plausível para este particularismo: evitar que o códice fosse trocado por
outro semelhante. Por outras palavras, sendo certo que os textos do Decreto
se iniciam e terminam da mesma forma, no momento da devolução e com
um documento tabeliónico onde constasse o incipit e explicit normais da obra,
facilmente se poderia trocar este códice de mestre João das Leis por outro
Decretum Gratiani (esta cautela parece indiciar um elevado valor do códice,
muito para além do seu conteúdo normativo); em contrapartida, a técnica
de identificação usada pelo tabelião conimbricense já torna bem mais difícil
esse equívoco. Vale a pena deixar aqui as correspondências:

Folha segunda:

• Início: «Satira uero lex est.» (c. 7, d. II)53 / «satira uero de hac satira
nihil habemus» (Glosa)
• Final: «aprobata non sunt senon» (c. 6, d. IV)54 / «de si quis per uetus
testamentum» (Glosa)

Folha penúltima:

• Início: «jn conclusione matutinarum» (c. 13, d. 5, De cons.)55 / «Et jta


sunt xxxª horem decunate» (Glosa)
• Final: «Sagina est dixit» (c. 29, d. 5, De cons.)56 / «Bene curata cute»
(Glosa)

53
«Satyra uero lex est, que de pluribus simul rebus eloquitur dicta a copia rerum et quasi a
saturitate: unde et satyram scribere est poemata uaria condere, ut Oratii, Iuuenalis et Persii».
54
«IV. Pars. Gratianus. Hec etsi legibus constituta sunt, tamen quia communi usu approbata
non sunt, se non observantes transgressionis reos non arguunt; alioquin his non obedientes proprio
priuarentur honore, cum illi, qui sacris nesciunt obedire canonibus, penitus officio iubeantur carere
suscepto; nisi forte quis dicat, hec non decernendo esse statuta, sed exhortando conscripta. Decretum
uero necessitatem facit, exhortatio autem liberam uoluntatem excitat».
55
«IV. Pars. Conuenit ordinem ecclesiae ab omnibus equaliter custodiri. Unde statuendum
est, ut sicut ubique fit, post antiphonas collationes ab episcopis uel presbiteris dicantur, et ymni
matutini uel uespertini diebus omnibus decantentur, et in conclusione matutinarum uel uesperti-
narum missarum post ymnos capitella de psalmis dicantur, et plebs collecta oratione ad uesperam
ab episcopo dimittatur cum benedictione».
56
«… Unde et Galienus uir doctissimus Ypocratis interpres athletas, quorum uita et ars sagina
est, dicit in exhortatione medicinae, nec uiuere posse diu, nec sanos esse, animasque ita nimio sanguine
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 133

Este breve excurso aos mecanismos de penetração, não obstam a que,


em simultâneo, se fizessem sentir certas e robustas animosidades contra uma
efectiva recepção do arquétipo jurídico do Ius commune. Mesmo que a tradição
gótica estivesse há muito delida, em todo o período medieval estará sempre
latente uma robusta tradição jurídica consuetudinária. Convém não esquecer
que o Ius commune se identifica com uma minoria culta e ilustrada de juristas,
que estava muito longe de, com facilidade, se poder alastrar ao grosso da
camada imperante dos profissionais da justiça. Tardiamente, a iletracidade dos
juízes ainda aparece bem espelhada numa queixa dos concelhos, apresentada
às Cortes de 1433, contra a nomeação de juízes ignorantes, que não sabiam
ler nem escrever. O rei diz que pedem bem, mas limita a imposição de juiz
letrado às vilas e cidades com mais de 400 homens57.
No íntimo duma justiça de robusta facção popular e costumeira estas
clivagens geram intestinas aversões, nomeadamente, contra a língua usada. O
Latim, na sua qualidade de língua universal, facilita muito a propagação do
Ius commune a todos os países europeus, no entanto, é perfeitamente natural
que cause graves inconvenientes aos não latinados, que, simplesmente, não
o entendem. Uma censura satírica transparece das obras do grande drama-
turgo português, Gil Vicente (1465-ca.1536), nomeadamente no linguarejar
usado pelo corregedor e pelo procurador no Auto da Barca do Inferno (1517),
que recorrem constantemente ao Latim e até referem «um texto do Degredo»
(Decreto de Graciano). Não menos sintomática é esta coeva queixa, recolhida
por Garcia de Resende, contra três desembargadores de le-rei:

et adipibus quasi luto inuolutas, nichil tenue, nichil celeste, sed semper de carnibus, eructuare, et
uentris ingluuie cogitare».
57
«Outrossy Senhor sentimos pouco seruiço a uos E menos proueito a vossa terra por o vosso ofiçio de Julgar
seer posto em pesoas que de todo som Jnorantes que nom sabem leer nem escpreuer nem conheçem letrra E desto
se segue uergonça aa terra E aJnda vossos mandados nom som sçertamente conpridos porque se lhes
vossas cartas som enviadas pera conprirem cousas que lhes mandees fazer em segredos elhes [sic]
neçesario de mostrarem vossas cartas aos tabaliaães ou a outras pesoas que lhas leam e saibham parte
de uosso segredo E mujtas outras Jnportonidades sse seguem desto praza aa uossa merçee mandar que
nom possa seer Juiz saluo se souber leer e escpreuer E esto onde poderem seer achados. Jtem diz El Rej que
pedem bem E que sse guarde nas çidades e villas hu ouuer quatroçentos homens pera cima» - Ponte
de Lima, AM - Pergaminho 19, 9v.
134 JOSÉ DOMINGUES

«Senhor jam pero sois


tres da vosa rrolaçom
o que deus nam quer nem quys
querem mostrar por rrezam
querem saluar huum vilão
querem condenar a mym
querem fazer per latym
do nam ssy e do ssy nam»58

Passando a registos mais fáctico, no ocaso da Idade Média, em capítulo


geral apresentado às cortes de Lisboa de 1498, solicita-se que os procuradores
razoem em linguagem e não em Latim, perante os juízes que não soubessem
Latim nem entendessem Direito –«E perante os dictos Juizes que Nam ssoberem
llatym e nem entenderem djreito Nam rrezoem senam por lingoaJem»–59.
Já vinha de longe esta animosidade contra advogados e procuradores, que,
no lastro do Ius commune, pretendiam impor um sistema processual bastante
complexo para a época. D. Dinis, por causa das «malliçias e as perllongas que
os percuradores e os uogados faziam», viu-se obrigado a estabelecer certa Ordem
de Juízo na sua Corte. Por lei, outorgada em Lisboa no dia 15 de Setembro
de 1313, estabelece um conjunto de medidas para evitar a delonga maliciosa
dos processos judiciais, concluindo que «destas desusso ditas mando que husem
em mjnha corte E nos outros llugares do meu senhorio mando que se guardem seus bos
husos e custumes asy como husaram ataa’quy»60. Ou seja, o monarca determina
as regras a seguir no processo judicial da sua Corte, mas no resto dos lugares
do reino permite que se continue a usar o processo consuetudinário.
A aversão contra os advogados e procuradores, como responsáveis
pelo alongamento das demandas, vai estender-se aos reinados seguinte.
D. Afonso IV vai ditar vários normativos nesse sentido: por lei de 25 de
Fevereiro de 1327 proíbe os advogados e procuradores na Corte61; em 20 de
Maio de 1351 acaba com os advogados e procuradores do número62; em lei
de 3 de Novembro de 1352 proíbe advogados e procuradores na Corte, nas
audiências e nos concelhos63; Em lei sem data manda que se abstenham de

58
Garcia de RESENDE, Cancioneiro Geral: cum preuilegio (1516) XXVIII, em http://purl.pt/12096
(consultado dia 10 de Abril de 2012).
59
Cortes Portuguesas. Reinado de D. Manuel I (Cortes de 1498) (2002) 79-80.
60
ODD, 285-292.
61
Lisboa, IAN/TT - Maço I Leis, doc. 96.
62
ODD, 549-550.
63
Livro das Leis e Posturas (=LLP), Prefácio de Nuno Espinosa Gomes da Silva e leitura paleo-
gráfica e transcrição de Maria Teresa Campos Rodrigues (1971) 452-458.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 135

fazer voltas em concelho64. O seu filho e sucessor, D. Pedro I, por lei de 7 de


Abril de 1362 proíbe os procuradores e advogados em todo o reino65.
Mas os obstáculos à recepção do Ius commune não são apenas de índole
linguística ou processual e contra os profissionais do Direito. Uma lei sem
data, atribuível a D. Afonso III (1248-1279) ou a D. Dinis (1279-1325),
repele expressamente do ordenamento jurídico português uma lei do Código
(C.8.4.7) 66 –«Custume he en casa delRey que aquela constituçom do Codigo que
diz «unde uy siquys in tantum» nom seja guardada»– 67. Esta exclusão manifesta
só pode significar que o Direito romano já era aplicado na ordem jurídica
portuguesa. Na lei sobre a validade do casamento, atribuível ao reinado de
D. Afonso III, consta uma cláusula que impõe o respeito por uma fonte
costumeira –«Outrossy sse o homem ou molher casar ante que passe huum ano
depos morte de cada huum delles nom auera nehuma pena porem Ca depos morte
de quallquer delles pode-sse o que ficar viuo casar logo ou quando quiser segundo
costume ssem nehuma pena»– 68. Mesmo que não o refira textualmente, a
autenticação deste costume poderá estar relacionada com eventual liça à
aplicação de leis em contrário do Digesto69, do Código70 ou, porventura, das

64
Lisboa, IAN/TT - Feitos da Coroa, Núcleo Antigo 458, 47
65
Chancelaria D. Pedro I (1357-1367) (1984) 296 doc. 636.
66
«Si quis in tantam furoris pervenit audaciam, ut possessionem rerum apud fiscum vel apud
homines quoslibet constitutarum ante eventum iudicialis arbitrii violenter invaserit, dominus quidem
constitutus possessionem quam abstulit restituat possessori et dominium eiusdem rei amittat: sin
vero alienarum rerum possessionem invasit, non solum eam possidentibus reddat, verum etiam
aestimationem earundem rerum restituere compellatur» (C.8.4.7).
67
Portugaliae Monumenta Historica - Leges I, 328. LLP, 125.
68
ODD, 89 e LLP, 114-115.
69
Praetoris verba dicunt: «infamia notatur qui ab exercitu ignominiae causa ab imperatore
eove, cui de ea re statuendi potestas fuerit, dimissus erit: qui artis ludicrae pronuntiandive causa in
scaenam prodierit: qui lenocinium fecerit: qui in iudicio publico calumniae praevaricationisve causa
quid fecisse iudicatus erit: qui furti, vi bonorum raptorum, iniuriarum, de dolo malo et fraude suo
nomine damnatus pactusve erit: qui pro socio, tutelae, mandati depositi suo nomine non contrario
iudicio damnatus erit: qui eam, quae in potestate eius esset, genero mortuo, cum eum mortuum esse
sciret, intra id tempus, quo elugere virum moris est, antequam virum elugeret, in matrimonium
collocaverit: eamve sciens quis uxorem duxerit non iussu eius, in cuius potestate est: et qui eum,
quem in potestate haberet, eam, de qua supra comprehensum est, uxorem ducere passus fuerit: quive
suo nomine non iussu eius in cuius potestate esset, eiusve nomine quem quamve in potestate haberet
bina sponsalia binasve nuptias in eodem tempore constitutas habuerit». (D.3.2.1)
1. Etsi talis sit maritus, quem more maiorum lugeri non oportet, non posse eam nuptum
intra legitimum tempus collocari: praetor enim ad id tempus se rettulit, quo vir elugeretur: qui
solet elugeri propter turbationem sanguinis.
2. Pomponius eam, quae intra legitimum tempus partum ediderit, putat statim posse nuptiis
se collocare: quod verum puto.
3. Non solent autem lugeri, ut neratius ait, hostes vel perduellionis damnati nec suspendiosi
nec qui manus sibi intulerunt non taedio vitae, sed mala conscientia: si quis ergo post huiusmodi
exitum mariti nuptum se collocaverit, infamia notabitur. (D.3.2.11.1-3)
70
Imperator Gordianus . Decreto amplissimi ordinis luctu feminarum deminuto tristior habitus
ceteraque hoc genus insignia mulieribus remittuntur, non etiam intra tempus, quo lugere maritum
136 JOSÉ DOMINGUES

Partidas71. Em 1361, nas Cortes de Elvas, foi apresentada um artigo geral


contra os mordomos, rendeiros e titulares de jurisdições locais que exigiam o
pagamento de quantias em dinheiro às mulheres que, morrendo-lhes o marido,
casavam antes do ano e dia, alegando que «he contra Direito da Sancta Igreja
(X.4.21.4 e 5)72 e contra a Ordenaçam de alguuns nossos antecessores (supra de
D. Afonso III)». Responde el-rei que não o façam, impondo que «por se casarem
ante do anno e dia, nom sejão infamadas taaes molheres, nem aqueles que com ellas
casarem». Este artigo acabou por passar para a colectânea oficial das Afonsinas73.
Uma cláusula geral de exclusão, remetendo o Direito romano para o
plano de fonte subsidiária, surge na lei de D. Afonso IV (1352), sobre a cele-
ridade dos processos judicias, quando expressa «que nom deuemos de guardar
os dictos dereytos escriptos se nom enquanto ssom fundados em boa Razom e em prol
dos nossos ssubjectos»74.
Do reinado de D. Dinis, sem data, chega-nos um esboço das cartas
de legitimação dos filhos das monjas ou mulheres de ordens, que afasta um
preceito do Código e outro do Autêntico –«E mando e outorgo que aia honrras
e dignydades en todalas outras cousas que deue a auer filho lijdimo E sse

moris est, matrimonium contrahere permittitur, cum etiam, si nuptias alias intra hoc tempus secuta
est, tam ea quam is, qui sciens eam duxit uxorem, etiam si miles sit, perpetuo edicto labem pudoris
contrahit. (C.2.11.15)
Imperatores Gratianus, Valentinianus, Theodosius . Si qua ex feminis perdito marito intra anni
spatium alteri festinavit innubere ( parvum enim temporis post decem menses servandum adicimus,
tametsi id ipsum exiguum putemus) , probrosis inusta notis honestioris nobilisque personae et decore
et iure privetur atque omnia, quae de prioris mariti bonis vel iure sponsalium vel iudicio defuncti
coniugis consecuta fuerat, amittat. (C.5.9.2)
71
P.6.3.5 - Como la muger que casa ante que se cumpla el año en que murió su marido non puede seer
establescida por heredera.
72
«Mulier, nubens infra annum lugubrem, infamiam non incurrit. H. d. cum sequenti Abbas
Siculus.
Urbanus III. Exonensi Episcopo.
Super illa vero quaestione, qua quaesitum est, an scilicet mulier possit sine infamia nubere
infra tempus luctus secundum leges diffinitum, sollicitudini tuae respondemus, quod, quum Apos-
tolus dicat: «mulier, viro suo mortuo, soluta est a lege viri sui et in Domino nubat cui voluerit per
licentiam et auctoritatem Apostoli eius infamia aboletur» (X.4.21.4).
«Summatur ut praecedens. Mulier, nubens infra annum lugubrem, infamia non incurrit.
Innocentius III. P. nobili mulieri.
Quum secundum Apostolum mulier, mortuo viro suo, ab eius sit lege soluta, et nubendi cui
vult, tantum in Domino, liberam habeat facultatem: non debet legalis infamiae sustinere iacturam,
quae, licet post viri obitum infra tempus luctus, scilicet unius anni spatium, nubat, concessa sibi
tamen ab Apostolo utitur potestate, quum in his praesertim saeculares leges non dedignentur sacros
canones imitari. Quum igitur ad secunda disponas vota transire, sciens, quod nubere melius est quam
uri, tuum in Domino propositum commendamus, et ne id tibi vel ei qui te duxerit in iacturam vel
infamiam ab aliquo imputetur auctoritate praesentium expressius inhibemus, quum concessam tibi
ab apostolo nubendi tantum in Domino liberam habeas facultatem». (X.4.21.5).
73
Ordenações Afonsinas, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1984. Fac-simile a partir da
edição das Ordenaçoens do Senhor Rey D. Affonso V (1792) [= OA] (OA.4.17).
74
LLP, 454
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 137

alguua ley ou dereyto ou custume hy a que contra esta mha legitimaçom


seia mando que lhe nom enpeesca nem aquela ley do Codigo que falla no Titolo
dos testamentos que nom son ben feytos que se começa conqueritur (C.3.28.6) E o
outentico que sse começa Nouissima (I.3.4.3) etc.»–75. Efectivamente, uma carta de
legitimação do monarca Lavrador, passada em Leiria no dia 26 de Novembro
de 1308, segue à letra o formulário estipulado76. No entanto, não terá sido
praxis totalmente sancionada pela Chancelaria desse reinado, porque a maioria
das cartas que me foi possível consultar (de data anterior ou posterior) não
incluem qualquer cláusula de excepção ou optam por uma formulação mais
genérica, que, com escassas variantes, se reitera assim: «e tenho por bem e mando
que aquel direito que he feito contra aquellos que nom som lidimos e que os priua das
ditas cousas que nom aia logo em este»77.
Sem embargo de, a cada passo, surgirem formulações mais curtas e
genéricas78, as ressalvas legislativas podem servir de indicadores da preparação
jurídica dos oficiais e da evolução nos meandros da burocracia cortesã. Um
documento do punho de Afonso IV já sobe as referências expressas ao Ius
commune para sete. E a partir do reinado de D. Pedro I, passam a ser assíduas
e a registar algum aperfeiçoamento e cambiantes, ao vento da praxis da Chan-
celaria e dos respectivos autores (e, até, dos erros de amanuense). Não deixa
de ser significativa a mudança verificada no reinado de D. João I, sendo de
estranhar que três cartas, duas de Abril de 1386 e outra de 1390, tenham
recuperado o formulário antecedente. A chancelaria do Mestre de Avis altera
consideravelmente os títulos do Direito civil e introduz um título do Direito
canónico (Decretais de Gregório IX), por outro lado, desaparece a mensão
expressa aos costumes dos fidalgos de Espanha.
Além do mais que se possa inferir, a análise destes indicativos acaba
por assumir certa relevância, por um lado, porque ressalvam preceitos do
Ius commune que já eram e continuariam a ser aplicados aos filhos ilegítimos
e, por outro lado, porque indicam determinadas fontes do Direito aplicáveis

75
LLP, 127-128. Cf. Anexo 3.
76
«E ainda mando que lhy nom enpeesca aquela lei do codigo que ffala no titulo dos testamentos
que nom som bem feitos e aquela lei que se começa com queritur (C.3.28.6) e outentico que sse começa nouissima
(I.3.4.3)» - Lisboa, IAN/TT - Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, 66.
77
V. g., Lisboa, IAN/TT - Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, 33 (1305.Setembro.09).
78
Estas clausulas gerais servem de critério aferidor para as fontes de Direito vigentes, v. g., em
documento de 1357, «nom embargando todallas leis degredos degretãaes custumes husos foros constitujções e
todollos outros djreitos que esto contradizem e enbargam ajnda que tãaes seiam que expresamente aquj deuam
seer postos e nomeados» - Chancelaria D. Pedro I, 38-39 doc. 76; noutro de 1380, «nom embargando todallas
leis e degredos e degretaães e glosas hordenaçoões constitujções foros e custumes façanhas e outros quãeesquer
derreitos assy canonjcos como ciueis que em contrairo desto seiam fectos» - Lisboa, IAN/TT - Chancelaria
de D. Fernando, Liv. 2, 66-66v. Cf. outros exemplos em A LBUQUERQUE e A LBUQUERQUE, História do
Direito Português, 430.
138 JOSÉ DOMINGUES

aos fidalgos legítimos –v. g., os costumes dos fidalgos de Espanha e as Partidas
de Afonso X79 (cf. Anexo 3)–.

Apesar das disposições proibitivas ou restritivas, pouco a pouco, o


Direito comum vai infiltrar-se e espalhar-se pela ordem jurídica portuguesa.
Existem inconcussas manifestações pragmáticas que revelam uma aceitação
lenta e progressiva em direcção a uma integração definitiva do Ius commune, na
sua função de subsidiar o ordenamento jurídico português, v. g., (i) aplicação
prática pelos tabeliães e nos tribunais e (ii) na produção legislativa própria.

(i) Ainda nos falta uma investigação exaustiva e sistemática aos formu-
lários notariais80 e às peças processuais do medievo português para que se
possa ter, pelo menos, uma noção aproximada da integração do Ius commune e
sua aplicação efectiva no foro jurisdicional e tabeliónico, laico ou eclesiástico.
Nem esta é a conjuntura adequada para tal investigação séria e aturada. Diga-
se, para já, que não deixa de ser sintomático que em determinados diplomas
legislativos régios da 1.ª Dinastia se revele uma concepção de justiça muito
próxima à divulgada pelos textos do Corpus Iuris Civilis 81–v. g., numa lei de
D. Dinis (1281), contra os que não fazem justiça e prolongam os processos82,
noutra de D. Afonso IV, contra a vindicta privata (1326) 83, a que consta na lei
de D. Fernando, sobre as malfeitorias dos fidalgos (1375) 84, a registada na carta

79
«Outrossy nom embargando as leis e parrafos que fallam em maneira dos Retos e desafiamentos nos liuros
das partidas no titullo dos Retos (P.7.3)» – Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, 92-92v
(1382.Julho.01).
80
A propósito do influxo do direito romano ou canónico nos contratos e a reacção do direito consuetu-
dinário, cf. Henrique da Gama BARROS, História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII
a XV, 6 2.ª ed. (1945) 199-205. Essa influência já surge em quitação de 28 de Julho de 1228, mas
só na segunda metade do século XIII se torna mais frequente. Exemplifica o autor, sobretudo, com
o instituto da posse corporal e do justo preço, que já é invocado pelos procuradores dos concelhos nas
Cortes de Santarém de 1331. Conclui, no entanto, que «o uso do direito romano nos contractos, ainda
quando decretado, implícita ou explicitamente, na legislação geral, deve, em parte, entender-se limitado pelo
aferro natural do povo à jurisprudencia consuetudinaria».
81
«pr. - Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi; 1 - Iuris praecepta haec
sunt: honeste vivere, alterum non laedere, suum quique tribuere» (D.1.1.10).
82
«cá bem sabedes vós, cá pero esto me fez a mim Deus Rei pera fazer Justiça, e pera fazela fazer
em todo meu reino: de guisa que cada uum aja aquello, que deve aaver (…) e que cada huum aja seu dereito
(…) fazede que cada huum aja todo o seu dereito, e nenguum nom perca seu dereito per pontaria» – Frei
Joaquim de SANTA ROSA DE VITERBO, Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente
se usaram e que hoje regularmente se ignoram, ed. crítica por Mário Fiúza (1983-1984) s. v. «Pontaria».
Em contra-partida, nesta lei já se pressente uma aberta hostilidade contra os advogados.
83
«A milhor das virtudes per que o mundo se sostem e rege assy he aquella per que cada hum ha o seu e
per que cada huum guarda sua honrra e he mantheudo no seu estado; e esta virtude he a Justiça» – OA.5.53.§1.
84
«e assy pela ley de Deos como pela ley dos homeens he commetida e encomendada aos Reyx e
a elles he mais propria que a outro nenhuum pera guardar e defender cada huum no seu e nom leixar nem
consentir a nenhuum de fazer obra de poderio nem prema contra os seus sobjeitos» – (OA.3.60.§1).
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 139

de Bruges (ca. 1426), que o infante D. Pedro dirige ao seu irmão, o futuro
rei D. Duarte85, ou a que surge em sentenças eclesiásticas (1402) 86 e (1443) 87,
ou ainda a que surge no proémio das Afonsinas, referindo expressamente as
compilações imperiais88–.

A propósito das Partidas de Afonso X, como ficou dito, não há réstia


de dúvida que funcionaram como um peculiar veículo de introdução do Ius
commune em Portugal, mas será que chegaram, realmente, a ser usadas em
tribunal89? Já ficou supra-referido um documento fernandino a testemunhar a
aplicação em Portugal do título do duelo judicial90, mas ainda podemos ir mais
longe. Em processo judicial, tramitado em finais de 1396 e inícios de 139791,
na vila de Alcácer do Sal, são alegadas leis processuais da Terceira Partida92.
A acção foi iniciada à porta da igreja de Santa Maria do Castelo, perante
Estêvão Lourenço (juiz da vila), sendo partes a menor de idade Catarina (autora,
representada pelo seu curador) e Maria Gonçalves Funcha (ré), que consti-
tuíram seus legítimos mandatários, respectivamente, Álvaro Eanes e Gomes

85
«A justiça tem duas partes: huma he dar a cada hum o que he seu, e a outra dar-lho sem delonga»
- Livro dos Conselhos de el-rei D. Duarte (Livro da Cartuxa), edição diplomática de A. H. de Oliveira
Marques, João José Alves Dias, Teresa F. Rodrigues (1982) 27-39. Artur Moreira de SÁ, «A “Carta
de Bruges” do Infante D. Pedro», separata de Biblos 28 (1952).
86
«aguardar a cada huum o seu direito» - Braga, AD - Colecção Cronológica, 950.
87
«E que o ffares bem e ffielmente segundo deus e uossa conciencia dando a cada huum o que
sseu for» - Braga, AD - Colecção Cronológica, 1200.
88
«e por tanto consirando os Emperadores o grande louvor que o Estado Real consegue per bem
da justiça, disserom nas suas Imperiaaes compilaçoões que nom he achada antre todalas virtudes alguma
tão louvada nem de tão grande preço como a justiça, porque ella soo he a que tolhe todo peccado e
maldade e ainda conserva cada huum em seu verdadeiro seer, dando-lhe o que seu he direitamente» – OA.1.Pr.
89
Dúvida legada por José de Azevedo FERREIRA, «Terceira Partida de Afonso X: subsídios para
a sua edição e estudo», Estudos de História da Língua Portuguesa: Obra dispersa (2001) 246. Cf. Isabel
BECEIRO PITA, «Notas sobre la influencia de “Las Siete Partidas” en el reino Portugués», Os Reinos
Ibéricos na Idade Média (2003) 491: «El conjunto de las diversas anotaciones y documentos recogidos en este
manuscrito lleva a pensar que, con toda probabilidad, Las Siete Partidas no funcionaron en Portugal como
una normativa utilizada en primera instancia».
90
Posteriormente, este título da Partida VII serviu de substrato para o título das Afonsinas
(OA.1.64 - «Dos retos e em que casos devem seer outorguados»).
91
O documento, no início, está datado da «Era de mil e quatrocentos e trinta e tres annos», corres-
pondente ao ano de 1395. Deve ter sido erro do compilador do Livro dos Copos, porque a era que se
adequa à cronologia de todo o processo é a de mil quatrocentos e trinta e quatro (= ano de 1396).
Caso contrário, a iniciar-se em 1395, teríamos um vácuo injustificável para o ano de 1396. Por outro
lado, a procuração de Maria Gonçalves ao seu procurador, Gomes Eanes, é do dia 6 de Novembro da
«Era de mil e IIIIc XXX IIII° annos» (= ano de 1396). Por isso, só podem ser posteriores a essa data
os actos praticados por este procurador em nome da dita Maria Gonçalves. O que quer dizer que a
parte que nos chegou deste processo judicial se desenrolou, em Alcácer do Sal, nos meses finais de
1396 (Novembro e Dezembro) e primeiro de 1397.
92
Militarium Ordinum Analecta 7. Fontes para o estudo das Ordens Religioso-Militares. Livro dos Copos
(2006) 248-256 doc. 130, em http://www.cepese.pt/portal/investigacao/publicacoes/Militarium_7.
pdf (consultado dia 10 de Abril de 2012).
140 JOSÉ DOMINGUES

Eanes (procuradores do número da vila de Alcácer). O processo incide sobre


uma vinha na Telhada, termo da vila de Alcácer do Sal, que a autora reivindica,
alegando em sua pretensão a lei de avoenga ou do tanto pelo tanto. A vinha
tinha sido vendida, à ré, pelos pais da autora (1387/88); a autora, ao tempo
de celebração do contrato de compra e venda, teria 3/4 anos; no momento da
propositura da acção tinha 11 anos; a lei de avoenga permite aos menores de
idade (o menino até idade de 14 anos e a menina até 12 anos) demandarem
os herdamentos da sua linhagem93; assim, a autora reivindica a propriedade da
vinha, prontificando-se a devolver à ré o respectivo preço pago (60 libras) 94.
A ré alega em sua defesa que não estava obrigada a responder por coisa
alheia, uma vez que a dita vinha já não estava em sua posse há mais de nove
anos. Será neste passo que, no intuito de fundamentar que o alegado pela ré
não constituía motivo suficiente para deixar de responder ao feito e contestar
a acção, o mandatário da autora deita mão de uma lei processual da Terceira
Partida (3.7.15). O jurisconsulto verteu para o formulário processual o texto
da sua argumentação legal, que nos permite um cotejo com o texto castelhano
e com o texto do códice português que chegou até nós95:

Os símbolos usados pretendem representar os seguintes critérios:


*…* = texto diferente.
(…) = texto em falta.
[…] = texto acrescentado.

93
«se o padre ou madre d’alguum menyno ou menyna ou anbos em senbra venderem alguum herdamento
ou casa ou vinha que seja da sua avoenga e o dicto menino ou menyna for nado e nom passam de revora que a
dicta ley outorga em tal caso, convem a saber, seendo o dito menino de quatorze annos e a menyna de doze dan
lhe tanto por tanto ho herdamento e cada huum destes desta ydade possam demandar e cobrar e aver tanto por
tanto esse herdamento ou casa ou vinha que assi foi vendida que seja da sua avoenga». O texto coincide com
o preceituado em OA.4.30.2, nas ODD 95 e no LLP 84.
94
«pede ora o dito curador em nome da dicta moça e por elle a vos juizes que per bem e virtude da sobre-
dita ley da avoenga do tanto por tanto julgando mandedes aa dicta Maria Funcha que receba da dicta moça
as ditas saseenta livras que assy deu pella dita binha de conpra e lhe leixe e desempare a dicta binha».
95
Lisboa, IAN/TT - Núcleo Antigo, n.º3. Esta tradução portuguesa da Partida III foi iniciada
a 26 de Junho e terminada a 3 de Outubro de 1341. Cf. nota 15.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 141

Notes fora de taula: 96,97,98,99,100,101,102,103


B - Livro dos Copos, C - Partida III, Título 7,
A - Partida III – IAN/TT
fl. 106v96 Lei 15.
Como deue fazer o julgador com como debe facer el judgador
aquel que en alhea a cousa se contra aquel que enagena
ante que seia enprazado sobrela engañosamente la cosa ante que
sea emplazado sobrella
Huma das cousas do mundo [he dirreito em na terceira Una de las cosas del mundo
partida e no titulo dos
emprazamentos Ley que se
começa] *huum dos avisos*97
do mundo [e etc em que diz]
de que sse deuem trabalhar de que mas se deben trabajar
os Reyes e os outros senhores los reyes et los otros grandes
que teem logar de noso senhor señores que tienen logar de
Deus em terra e de tolherem nuestro señor Dios en tierra
a maliçia dos homeens de para mantenerla en justicia,
maneira que o direito nom es de contrastar á malicia
possa ser enbargado por ela. de los homes de manera que
E porem nos querendo siguir el derecho non pueda seer
esto dizemos embargado por ellos. Et por
ende nos queriendo seguir esto,
décimos
que sse alguum homem he que se alguum homem que si alguno home
sospeyto que alguum outro *suspeitando*101 que alguum sospechando que alguno outro
o quer emprazar per razom outro o *queriia*102 emprazar lo querie emplazar en razon
dalguma cousa de que era per razom d’algua cousa de de alguna cosa de que el era
teendor se [esta cousa] 98 que era theedor *ou*103 tenedor,

96
Para um cotejo mais preciso foi usado o texto original da Torre do Tombo.
97
Diferente em A e C.
98
Falta em B e C.
99
Falta em B e «home» em C.
100
Diferente de B e C.
101
Mais próximo de C.
102
Mais próximo de C.
103
Diferente em A e falta em C.
142 JOSÉ DOMINGUES

Notes fora de taula: 104,105,106,107,108,109,110,111,112,113,114,115,116,117,118


B - Livro dos Copos, C - Partida III, Título 7,
A - Partida III – IAN/TT
fl. 106v96 Lei 15.
enhalheasse en outra emalheasse [ante que la enagenase enante que
[pessoa] 99 mays poderosa fosse emprazado sobr’ella fuese emplazado sobre ella
que ssy ou doutro senhoryo enganosamente] 104 a engañosamente á outro
ou homem que fosse muy *outro*105 [que fosse] 106 [home] 117 que fuese mas
escatimoso e reuoltoso mais mais *poderoso*107 *de*108 poderoso que sí, ó [de fuera] 118
que el per razom que ao outro sy ou doutro senhoriio ou de outro señorio, ó home
fosse embargado o seu direito homem que fosse *mais*109 que fuese muy escatimoso et
aguisandolhj que ouuesse escatimoso *ou*110 revoltoso revoltoso mas que él porque
mays forte aduerssayro que mais que el por [razom] 111 al outro fuese mas embargado
el mandamos que o que que ao outro fosse [mais] 112 su derecho aguisándole que
tal engano fezer que nom enbargado o seu dirreito hobiese mas fuerte adversario
uala e que seia escolheyta aguisando lhe que ouvesse que él, mandamos que el que
do demandador para poder averssairo mais forte que tal engaño ficiere que non
demandar a el aquela cousa *assi*113. *Em tal caso*114 o le vala, et sea en escogencia
bem assy como se a teuesse que tal engano fezer que nom del demandador para poder
em seu poder ou ao outro a valha e que seja em escolhença demandar aquella cosa á él
que foy enhalheada *desta*100 do demandador pera poder bien asi como si la toviese en
demanda pode fazer com demandar a el aquella cousa su poder, ó al outro á quien
todolos danos e mazcabos que bem assy como se *fosse*115 fue enageada: et esta demanda
fezesse por esta razom em seu poder ou ao outro a puede facer com todos los
que fosse em alheada e que daños et los menoscabos que
esta demanda pode fazer com ficiese por esta razon.
todollos danos e mazcabos que
*fezerem*116 por esta razom.

104
Falta em A.
105
Mais próximo de C.
106
Falta em A.
107
Mais próximo de C.
108
Diferente em A e C.
109
Diferente em A e C.
110
Diferente em A e C.
111
Falta em C.
112
Falta em A.
113
Diferente em A e C.
114
Diferente em A e C.
115
Diferente em A e C.
116
Diferente de A e C.
117
Falta em B e «pessoa» em A.
118
Falta em A e B.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 143

O mandatário da outra parte também alega um outro preceito da


Terceira Partida –«caso de ley estrreyta (sic)119 em dirreito na terceira parada (sic)120
titulo segundo ley que se começa teença e senhoriio (…) ley contem que se alguum quer
demandar aquelle que for teedor dela» (3.2.29)– que não transcreve. Fica, assim,
definitivamente comprovado o uso das Partidas no foro jurídico português
de Trezentos. Por outro lado, a Terceira Partida de que se serve o procurador
Álvaro Eanes é textualmente mais completa do que a que chegou aos nossos
dias. O que quer dizer que este códice da Torre do Tombo não corresponde
ao usado em processo, nem sequer como base de uma eventual cópia.

No âmbito do foro eclesiástico, numa carta de excomunhão, saída da


chancelaria episcopal do Porto, surge uma proposição com correspondência
a uma passagem de um texto legal canónico, o Liber Sextus Decretalium, Liber
Sextus ou Sextus de Bonifácio VIII –«alma mater ecclesia eius sacra vestigia prose-
quens et exemplo ducta laudabili» (VIº.3.22.1)–. Esse preâmbulo jurídico, caído
da pena do bispo D. Fernando Ramires, surge no âmago da contenda que o
opõe ao concelho do Porto121.

(ii) É comum afirmar-se que Afonso II, nas Cortes reunidas em Coimbra
no primeiro ano do seu reinado (1211), já teria aproveitado os benefícios da
romanística, sobretudo, na redacção da lei da ira régia. Existe uma certa corres-
pondência desta ordenação afonsina com o estatuído no Codex de Justiniano
(C.9.47.20)122, mas não total coincidência. Salientando as discrepâncias e a
possibilidade de uma influência romana através de tradição peninsular, Duarte
Nogueira admite «que os dois textos não estejam necessariamente relacionados»123.
Ruy e Martim de Albuquerque, sem inteira certeza, ainda referem a influência
justinianeia detectada na lei do crime de heresia124. Colocada em dúvida a
legislação de Afonso II, é compreensível que a jurishistoriografia se incline
para uma influência romanista na legislação portuguesa, sobretudo, a partir
de D. Afonso III125.

119
Transcrição errónea de «escrita».
120
Transcrição errónea de «Partida».
121
Maria João Oliveira e SILVA, A Escrita na Catedral: A Chancelaria Episcopal do Porto na Idade
Média (Estudo Diplomático e Paleográfico) (2010) 129-130.
122
«Si vindicari in aliquos severius contra nostram consuetudinem pro causae intuitu iusserimus,
nolumus statim eos aut subire poenam aut excipere sententiam: sed per dies triginta super statu
eorum sors et fortuna suspensa sit. 1. Reos sane accipiat vinciatque custodia et excubiis sollertibus
vigilanter observet» (C.9.47.20).
123
NOGUEIRA, Lei e Poder Régio I, 317-322.
124
A LBUQUERQUE e A LBUQUERQUE, História do Direito Português, 340.
125
Fátima Regina FERNANDES, «A Recepção do Direito Romano no Ocidente Europeu Medieval:
Portugal, um caso de afirmação régia», História: Questões & Debates 41 (2004) 73-83. A LBUQUERQUE
e A LBUQUERQUE, História do Direito, 339-341.
144 JOSÉ DOMINGUES

Essa influência vai-se acentuando, sendo certo que D. Afonso IV (1325-


1357), na sua activa pugna contra a vindicta privata se apoiou no «Direito
Cumuum pera se per elle fazer justiça» e, assim, combater o mau costume da
vingança privada, da qual se seguiam muitos crimes, infâmias e danos pelas
terras do seu senhorio19. Saliente-se, no entanto, que ainda se não trata de um
cabal triunfo do Direito comum sobre o costumeiro. O costume só é abolido
porque é um mau costume, que «trazia comsigo dapno e estrago», por isso, «o
que ditou a abolição deste costume grosseiro foi, seguramente, o Estado de Justiça»126.
Repare-se que a favor do Direito consuetudinário e contra o Direito comum,
decidiu o mesmo monarca com acordo dos do seu Conselho, a propósito do
que mata sua mulher por a achar em adultério, mesmo que não fosse em
flagrante delito. O Bravo aprovou o costume, que isentava esse marido de
qualquer pena de justiça, apesar de o seu conselho lhe ter «dito que nom era
direito comum; e elle contra esto, que lhe era dito, ouve-o por custume, e deu sentenças
d’assolviçom em estes feitos. Porem he já tornado em Ley, e tal força ha. E Joham
Scolla ho alegou perante o dito Senhor Rey, em huum feito d’Estevom Gonçalves da
Guarda, que esto fez, e foi-lhe guardado»127.
Volvido um século, uma ordenação de D. Duarte, de 21 de Janeiro
de 1436, que estabelece a forma e o tempo para se atribuir a qualidade de
vizinho, que lhe permita ser escusado de pagar portagem a el-rei, conforma-se
ao «Direito das Leix Imperiaaes»128.
As concórdias e concordatas pactuadas no reinado de D. Dinis, v. g. a de
1309, constituem prova suficiente da recepção do Ius commune. Desde a concor-
data dos 40 artigos (1289) que são assíduos os recursos ao Direito comum,
sendo certo que na concórdia de 1309 se identificam, em concreto, excertos
do Decreto e do seu glosador (João Teutónico), das Decretais de Gregório IX,
do Inocêncio e do Livro Sexto de Bonifácio VIII129.
A extensibilidade do Direito canónico ao território português acarreta
uma relação sui generis com a ordem civil: se, por um lado, se defende a sua
autonomia e separação130, por outro lado, existe uma relação de inter-ajuda

126
José DOMINGUES e Manuel MONTEIRO, «Lucubrações em Torno do Estado de Direito», RL-D 4
(2011) 187-188.
127
OA.5.18.§3. Mais um comprovativo das dificuldades de recepção do ius commune em Portugal.
Este costume vai adquirir força de lei, sendo certo que a vingança em adultério, «outorgado per costume
dos nossos Regnos», ainda é reconhecida pelo compilador das Ordenações Afonsinas (1446), como excepção
à vindicta privada - OA.5.53.§26.
128
OA.2.30.§§1-5.
129
OA.2.4.
130
A problemática levantada pela lei de 1211, em caso de conflito entre o Direito canónico e as
leis do rei, inicia-se com Braga da Cruz e irá gravitar entre as posições divergentes de Espinosa Gomes
da Silva e José Mattoso, com uma exegese e tomada de posição em favor de Braga da Cruz por parte
de Duarte Nogueira. Cf. as referências bibliográficas concretas em SILVA, História do Direito, 184-185
nota 2. Veja-se também o que, a este propósito, referi em Ordenações Afonsinas, 34-36.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 145

consubstanciada, v. g., no apoio do braço sagral131. Este apoio da justiça secular


à eclesiástica aparece estatuído na lei de 18 de Setembro de 1368, mas pode
ser recuando aos finais do século XIII, pelo menos. O braço sagral já surge
expressamente referenciado na primeira concordata de D. Dinis (1289)132. A
propósito da sentença dada a favor do mosteiro de Moreira e contra os que
se diziam padroeiros da igreja de S. Fins, em documento de 7 de Novembro
de 1293, o ouvidor do bispo do Porto dirige a el-rei um pedido de ajuda de
braço segral133.
O direito de asilo será outro tema de contacto entre ambos os Direitos.
No final do Livro de Leis e Posturas consta uma sinopse dos casos em as igrejas
podem conceder asilo aos malfeitores, elaborada a partir das leis imperiais e
das Decretais134. Na mesma colectânea aparece também uma lei, sem data,
atribuída a D. Dinis, sobre os casos em que os clérigos são de jurisdição régia
e devem responder perante ele ou seu juiz, onde se conjugam leis de ambos
os Direitos, v. g., do Decreto, das Decretais e do Digesto Velho135.

3.– Conclusão.– O renascimento jurídico começa a manifestar-se em


Portugal nos finais do século XII, no entanto, ainda é demasiado cedo para
falarmos de uma recepção anterior ao reinado de D. Afonso III –em termos
de data, antes dos meados do século XIII–. Também não será lícito falarmos
de um momento concreto de recepção do Ius commune, isolado no friso crono-
lógico, uma vez que se trata de um processo longo e árduo que irá culminar
no seu reconhecimento explícito como fonte de Direito, integrada no sistema
jurídico português.
A harmonização do pluralismo das fontes de Direito vigentes na Idade
Média portuguesa, através de uma regulamentação legal, só aparece com o
advento da colecção oficial das Ordenações Afonsinas (1446) –são consideradas
fontes imediatas a lei do reino, o estilo da Corte e o costume antigo–; caso não se
encontrasse solução nestas, recorre-se ao Direito romano (em matéria temporal,
excepto quando a sua aplicação fizesse incorrer em pecado), ao Direito canónico
(em matéria espiritual e também na temporal, em matéria de pecado) à Glosa
de Acúrsio, à Opinião de Bártolo e, finalmente, à resolução do rei136. Entre as

131
José MARQUES, «O recurso à justiça secular no século XV: um caso paradigmático», Scientia
Iuridica [= SC] LIV/301 (2005) 89-114.
132
OA.2.1, artigo 20º.
133
Ana Maria MARTINS, Documentos Portugueses do Noroeste e da Região de Lisboa. Da Produção
Primitiva ao Século XVI (2001) 153 doc. 28 (publica o original do mosteiro de S. Salvador de Moreira).
134
LLP, 483-484.
135
LLP, 380.
136
OA.2.9. Para o enquadramento e interpretação deste preceito afonsino: José Artur A. Duarte
NOGUEIRA, «Algumas reflexões sobre o direito subsidiário nas Ordenações Afonsinas», sep. Revista
146 JOSÉ DOMINGUES

fontes prudenciais, de ascendência romanista, que passam a integrar as fontes


portuguesas destacam-se a Glosa de Acúrsio137 e a Opinião de Bártolo138. A
vigência destas duas obras jurídicas –apesar de, como já ficou dito, a Glosa já
circular em território português desde meados do século XIII– está confir-
mada para o início do segundo quartel do século XV139.
A tradição, veemente contestada, de uma plausível tradução do Código
de Justiniano, feita pelo Doutor João das Regras também acabou por ganhar
alento140. E não se trata sequer de caso isolado: para além deste texto da
romanística, temos certeza da tradução das Partidas de Afonso X e há refe-
rências documentais suficientes que indiciam a tradução das Decretais de
Gregório IX141.
Esta prelecção das fontes do Direito, normatizada nas Ordenações Afon-
sinas, com algumas cambiantes introduzidas pelas sucessivas versões Manue-
linas e Filipinas, manter-se-á até à promulgação da lei da boa razão de 18 de
Agosto 1769. O que quer dizer que o Ius commune fez parte integrante do
ordenamento jurídico português, seguramente, durante mais de três séculos.

de Direito e de Estudos Sociais XXIV/4 (1980); Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, «O Sistema de
fontes das Ordenações Afonsinas», SC XXIX/166-168 (1980).
137
Mário Júlio de Almeida COSTA, «La présence d’Accurse dans l’histoire du droit portugais»,
BFDUC 41 (1965) 47-62; «Um Jurista em Coimbra, parente de Acúrsio», Revista da Faculdade de
Direito, 38 (1962) 251-256.
138
Martim de A LBUQUERQUE, «Bártolo e Bartolismo na História do Direito Português», Estudos
de Cultura Portuguesa 1 (1984) 35-123; Mário Júlio de Almeida COSTA, «Romanismo e Bartolismo no
Direito Português», BFDUC 36 (Coimbra 1960) 16-43; Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, «Bártolo
na História do Direito Português», Revista da faculdade de Direito da Universidade de Lisboa XII
(Lisboa 1960) 177-221.
139
Uma validação da Opinião de Bártolo já consta em alvará de 19 de Maio de 1425, cf. SILVA,
História do Direito Português, 306 nota 1. No dia 18 de Abril de 1426 D. João I determina que na
Câmara de Lisboa haja dois livros de leis (com o Código, Glosa, Opinião e Declaração em Português),
presos por uma cadeia para não serem roubados, para consulta tanto dos que tiverem feitos como dos
seus procuradores. Cf. cota arquivística e sucessivas fontes impressas em SILVA, História do Direito
Português, 303-304 nota 1. Acrescentem-se as seguintes publicações: Ruy de A LBUQUERQUE e Martim
de A LBUQUERQUE, História do Direito Português - Elementos Auxiliares, I (1992) 21-22; Pedro Caridade
de FREITAS, «O Estilo da Corte - Do Século XIII à Lei da Boa Razão», Estudos em Homenagem ao Prof.
Doutor Raul Ventura I (2003) 753-754 (a partir de Albuquerque); Fernando José Gautier Luso SOARES,
Ensaio para a História da Formação do Direito Medieval Português. O elemento romano (2009) 161-162.
140
Cf. toda a problemática em CRUZ, «O direito subsidiário na história do direito português»,
207-212 nota 44.
141
João Pedro Ribeiro refere a existência de umas Decretais traduzidas em 1359 e Isaías da Rosa
Pereira encontra outras na igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar, no ano de 1510 - PEREIRA,
«Achegas para a História da Cultura Jurídica em Portugal», 512. Noutro documento aparecem
confirmadas essas Decretais em linguagem, de Santa Maria do Olival - PINTO, «Inventário Quinhen-
tista», 167-175.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 147

ANEXO – 1

Livros de Direito na Idade Média – Portugal


Séc. Séc. Séc. Séc.
Total
XII XIII XIV XV
Digesto velho 1 9 9 2 21
Corpus Iuris Civilis

Digesto esforçado 1 4 5 3 13
Digesto novo 1 6 7 3 19
Código 1 12 5 4 22
Volume Pequeno Instituta 1 (1) 7 (5) 7 (2) 1 23
Novelas/Autêntico 1 (1) 2 (5) (2) 10
Livro dos feudos (1) (5) (2) 8
Decreto Graciano (c. 1140) 4 22 14 1 41
Corpus Iuris

Decretais Gregório IX (1234) 17 20 4 41


Canonici

Livro Sexto (1298) 15 2 17


Clementinas (1312) 4 3 7
Extr. João XXII (1325) 1 2 3
Decretais antigas Compilação I 11 11
(1140-1234) Compilação II 9 9
Compilação III 7 7
Compilação IV 7 7
Compilação V 7 7
Decretais Inocêncio IV (1245, 1246, 1253) 1 1 1 3
Constituições de Gregório X (1274) 1 1 1 3
Extravagantes de Bonifácio VIII 1 1
148 JOSÉ DOMINGUES

Livros de Direito na Idade Média – Portugal


Séc. Séc. Séc. Séc.
Total
XII XIII XIV XV
Sumas Decreto 2 3 5
Instituta 1 1
Código 1 1
Azão 4 1 5
Huguccio 3 2 5
Código (Rogério) 1 1
Arbitris (Bulgaro) 1 1
Alberto Pavia 1 1
Epitome exactis regibus 1 1
João de Deus 3 1 4
Decretais 1 1
(Bernardo de Parma)
Matrimonio 1 1
(Raimundo Penaforte)
Questiones Dominicales 1 1
Libellum magistri 1 1
Mestre Vicente 1 1
Hostiensi 2 1 1 4
Godofredo 1 4 5
Dâmaso 1 1
Pedro Sansão 2 2
Iure patronatus 1 1
In nomine Domini Jhesu 1 1
Christi. Ego Egidius
Sante Spiritus gratia et ct 1 1
Repertoria 1 1
Pedro Bonete 2 2
João de Friburgo 1 1
Buoncompagno de Florença 1 1
Consuetudines Feudorum 1 1
Odofredo 1 1
João de Faenza 1 1
Inocêncio (Apparatus quinque libros decretalium) 1 9 1 11
Casos Decretorum 1 1
Compostelano (Bernardo de Compostela 1 1
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 149

Livros de Direito na Idade Média – Portugal


Séc. Séc. Séc. Séc.
Total
XII XIII XIV XV
Casus decretalium (João de Deus) 1 2 3
Leitura às Decretais (Hostiense) 2 2
Mandagoto 1 3 1 5
Brocarda (de Dâmaso) 1 1
Margarita 1 1
Speculum Judiciale (Guilherme Durando) 1 2 1 4
Libellus de ordine iudiciorum (Roffredo Epifânio) 1 1
Libelli de iure canonico (Roffredo Epifânio) 1 1
Ordinarius parvus 1 1
Ordo Iudiciarius (Tancredo) 3 1 4
Rationes Iuris Canonici 3 3
Breviarum iuris 1 1
Repertorium ou Inventarium do Speculum 2 2
Judiciale de Guilherme Durando
Super regulis iuris (Dino de Mugello) 1 1 2
Rosário (Guido de Bayso) 1 2 3
Leitura (Cino de Pistóia) 1 1 2
Arcediago 2 2
Leitura Clementinas (Guilherme de Montlauzun) 1 1
Commentaria novella in Sextum, (João André) 3 3
Commentaria novella in Sextum (João de André) 1 1
Reportorium Speculi (Béranger Frédoli) 1 1
De permutationibus beneficiorum (Frederico 1 1
Petruccius de Senis)
De successione ab intestato (Bártolo) 1 1
De statutis (Bártolo) 1 1
Bártolo sobre o Esforçado 1 1
Bártolos sobre o Digesto Novo 1 1
Livro das Confissões (Martim Peres) 1 1
Leitura ao Sexto/Clementinas (Laptus Tactus) 1 1
Leitura às Clementinas (João de Lignano) 1 1
Fuero Juzgo 1 1 2
Aparato ao Livro Sexto (João lemoyne) 1 1
Repertório (Gui de Colle de Mezzo) 1 1
150 JOSÉ DOMINGUES

Deve levar-se em conta que muitos dos livros de leis (romanas ou canó-
nicas) estavam glosados, o que não é possível evidenciar nesta simples tabela.
A composição desta tabela sinóptica foi feita com base na bibliografia supra
referenciada (notas 32 a 38) e os dois documentos seguintes:

1301.
Testamento de João d’Acre, em pública forma de 1323.
Ruy de ALBUQUERQUE e Martim de ALBUQUERQUE, História
do Direito Português - Elementos Auxiliares, I (1992) 178.

1391.Abril.10 - Alhos Vedros.


Testamento de Gonçalo Miguéis (mestre Gonçalo das Decretais),
bacharel em direito canónico, ouvidor do rei D. Fernando e prior na
igreja de São Lourenço de Alhos Vedros. Estabelece que o seu irmão
deveria entregar os livros que possuía de Mestre João das Leis e da capela
do Bispo D. Afonso Dinis, seu tio, a Afonso Anes, filho do Mestre João
das Leis e que por sua vez o seu irmão deveria receber as escrituras e
obrigações que sobre os ditos livros tivessem sido feitas. Deixava os seus
restantes livros próprios à capela do bispo D. Afonso Dinis.

IAN/TT - Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 4, n.º 12.


ANEXO – 2

Valor Pecuniário dos Livros de Direito na Idade Média – Portugal


1260 1268 1272 1301 1311 1322 1333 1349 1368 1404 1466
Código 50 80 libras 140-120 7 dobras 30 000
morabi- libras reais
tinos brancos
Digesto 80 libras 180-140 7 dobras
Velho libras
Digesto 60 libras 150-120 8 dobras
Novo libras
Digesto 150-120 8 dobras
Esforçado libras
Volume 200-140 6 dobras
Pequeno libras
Instituta 20 libras 10 libras
Autêntico 30 libras
Decreto 100 150 200-150 200 300
libras morabi- libras libras libras
tinos
Decretais 15
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL…

antigas dobras
151
Valor Pecuniário dos Livros de Direito na Idade Média – Portugal
1260 1268 1272 1301 1311 1322 1333 1349 1368 1404 1466
Decretais 50 100 150 100 100
Gregório IX morabi- libras libras libras libras
tinos
Sexto 305 2 dobras
libras
Extravagantes 2 dobras
Bonifácio
Clementinas 2 dobras
Speculum
Iuris
JOSÉ DOMINGUES

Suma 40 libras 75-60


Huguccio libras
Suma 10 libras 2 dobras
Godofredo
Suma Azão 5 dobras
Mandagoto 100 2 dobras
libras
Leitura 3 dobras
Decretais
Rationis 20 libras
Livro c/ 3 5 libras
sumas
Livro c/ 10 libras
sumas antigas
152
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 153

ANEXO – 3

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
0 3 . 2 •1 . 7 6 3 1
5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
(D.5.2.29.1)
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
§ 1 – De inofficioso testamento matris spurii quoque filii dicere possunt.
0 1 . 8•0 . 7 3 1
9 1 . 9• 0 . 7 3 1
4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
Digesta

1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
(D.40.11.2) 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
Interdum et servi nati ex post facto iuris interventu ingenui fiunt, ut ecce 4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
si libertinus a principe natalibus suis restitutus fuerit. Illis enim utique 0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
natalibus restituitur, in quibus initio omnes homines fuerunt, non in 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
quibus ipse nascitur, cum servus natus esset. Hic enim, quantum ad 2 0 . •2 1 . 8 3 1
totum ius pertinet, perinde habetur, atque si ingenuus natus esset, nec
patronus eius potest ad successionem venire. Ideoque imperatores non
facile solent quemquam natalibus restituere nisi consentiente patrono.
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
1 1 . •1 0 . 5 8 3 1
(D.43.8.2.16) 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
§ 16 – Si quis a principe simpliciter impetraverit, ut in publico loco 2 0 . •2 1 . 8 3 1
aedificet, non est credendus sic aedificare, ut cum incommodo alicuius id
fiat, neque sic conceditur: nisi forte quis hoc impetraverit.
154 JOSÉ DOMINGUES

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
(D.50.2.3.2)
5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
Digesta (cont.)

§ 2 – Spurios posse in ordinem allegi nulla dubitatio est: sed si habeat


2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
competitorem legitime quaesitum, praeferri eum oportet, divi fratres
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
Lolliano Avito Bithyniae praesidi rescripserunt. Cessantibus vero his etiam
0 1 . 8•0 . 7 3 1
spurii ad decurionatum et re et vita honesta recipientur: quod utique non
9 1 . 9• 0 . 7 3 1
sordi erit ordini, cum ex utilitate eius sit semper ordinem plenum habere.
4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
(C.3.28.6) •8 0 3 1
Codex

Cum quaeritur, an filii de inofficioso patris testamento possint dicere, si


quartam bonorum mortis tempore testator reliquit, inspicitur.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 155

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
(C.5.5.6) 2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
Si quis incesti vetitique coniugii sese nuptiis funestavit, proprias quamdiu 9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
vixerit teneat facultates, sed neque uxorem neque filios ex ea editos habere 5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
credatur. 5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
1. Nihil prorsus praedictis nec per interpositam quidem personam vel 5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
donet superstes vel mortuus derelinquat. 2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
2. Dos si qua forte sollemniter aut data aut promissa fuerit, iuxta ius 8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
antiquum fisci nostri commodis cedat. 0 1 . 8•0 . 7 3 1
3. Testamento suo extraneis nihil relinquat, sed sive testato sive intestato 9 1 . 9• 0 . 7 3 1
legibus ei et iure succedant, si qui forte ex iusto et legitimo matrimonio 4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
editi fuerint, hoc est de descendentibus filius filia nepos neptis pronepos 9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
proneptis, de ascendentibus pater mater avus avia, de latere frater soror 0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
patruus amita. 0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
Codex (cont.)

4. Testandi sane ita demum habeat facultatem, ut his tantum personis pro 8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
iuris ac legum quod voluerit arbitrio relinquat, quas succedere imperialis 9 1 . •9 0 . 3 8 3 1
praecepti tenore mandavimus: ita tamen, ut hereditate defuncti penitus 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
arceatur, si quis ex his quos memoravimus in contrahendis incestis nuptiis 4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
consilium inisse monstrabitur, successuro in locum illius, qui post eum 0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
gradum proximus invenitur. 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
5. Ea sane, quae de viris cavimus, etiam de feminis, quae praedictorum 1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
sese consortiis commaculaverint, custodiantur. 6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
6. Memoratis vero personis non extantibus fisco locus pateat. 4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
(C.5.27.1.2)
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
§ 2 - Sive itaque per ipsum donatum est qui pater dicitur, vel per alium sive
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
per interpositam personam, sive ab eo emptum vel ab alio, sive ipsorum
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
nomine comparatum, statim retractum reddatur quibus iussimus aut, si
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
non existunt, fisci viribus vindicetur.
2 0 . •2 1 . 8 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
156 JOSÉ DOMINGUES

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
0 3 . 2 •1 . 7 6 3 1
5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
(C.5.27.11.3)
2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
§ 3 – Licet enim hoc quod speratum est ad effectum non pervenit, nihil
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
anterioribus liberis fortuitus casus derogare concedatur: et multo magis,
0 1 . 8•0 . 7 3 1
Codex (cont.)

si quis mulierem, quam in contubernio suo habuerat, pregnantem fecerit,


9 1 . 9• 0 . 7 3 1
postea autem adhuc gravida muliere constituta dotalia fecerit instrumenta
4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
et puer vel puella editus vel edita sit, iusta patri suboles nascatur et in
9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
potestate efficiatur et heres ei existat morienti sive ab intestato sive ex
0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
testamento. Satis enim absurdum est, si filii post dotem progeniti et
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
anterioribus liberis adiutorium adferant, ipsum puerum vel puellam sibi
8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
opitulari non posse.
2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 157

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
(C.6.57.5)
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
Si qua illustris mulier filium ex iustis nuptiis procreaverit et alterum
0 3 . 2 •1 . 7 6 3 1
spurium habuerit, cui pater incertus sit, quemadmodum res maternae
5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
ad eos perveniant, sive tantummodo ad liberos iustos sive ad spurios,
2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
dubitabatur.
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
1. Sancimus itaque, ut neque ex testamento neque ab intestato neque a
0 1 . 8•0 . 7 3 1
liberalitate inter vivos habita iustis liberis existentibus aliquid penitus
Codex (cont.)

9 1 . 9• 0 . 7 3 1
ab illustribus matribus ad spurios perveniat, cum in mulieribus ingenuis
4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
et illustribus, quibus castitatis observatio praecipuum debitum est, et
9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
nominari spurios satis iniuriosum, satis acerbum et nostris temporibus
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
indignum esse iudicamus et hanc legem ipsi pudicitiae, quam semper
8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
colendam censemus, merito dedicamus.
1 0 . •7 0 . 2 8 3 1
2. Sin autem concubina liberae condicionis constituta filium vel filiam ex
2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
licita consuetudine ad hominem liberum habita procreaverit, eos etiam
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
cum legitimis liberis ad materna venire bona, quae ea iure legitimo et in
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
suo patrimonio possidet, nulla invidia est.
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
[Glosa a esta lei].
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
158 JOSÉ DOMINGUES

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
•8 0 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
0 3 . 2 •1 . 7 6 3 1
5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
0 1 . 8•0 . 7 3 1
Institutiones

(I.3.4.3) 9 1 . 9• 0 . 7 3 1
§ 3 – Novissime sciendum est etiam illos liberos, qui vulgo quaesiti sunt, 4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
ad matris hereditatem ex hoc senatus consulto admitti. 9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 159

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
(N.74.II) 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
Sit igitur licentia patri matrem in priori statu relinquenti, si ex veritate 4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
aliquid circa torum apparuerit deliquisse (aliter namque fieri hoc in 0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
talibus casibus non permittimus), et si per quandam circumventionem 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
aut non est aut latitet aut aliquid etiam aliud fiat circa eam aut quod 4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
prohibeat venire ad viam ducentem ad dotalia, etiam sic providere filiis 2 0 . •2 1 . 8 3 1
et offerre imperatori precem hoc ipsum dicentem, quia vult naturales 6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
suos filios restituere naturae et antiquae ingenuitati et legitimorum iuri,
ut sub potestate eius consistant nihil a legitimis filiis differentes. Et hoc
facto exinde filios frui tali solacio, et neque fraudare posse patrem et
celantes matrem ius legitimorum abicere. Uno enim hoc modo omnibus
huiusmodi naturae excessibus et adinventionibus in his qui legitimos
non habent filios medemur, ita brevi solacio tantum naturae impetum
corrigentes.
§ 1 – Si vero solummodo naturalium filiorum pater hoc quidem propter
quasdam fortuitas circumstantias non agat, moriens vero sub quodam
praedictorum casuum scripserit in testamento velle sibi eos legitimos
esse filios successores, et huius rei damus licentiam; supplicantibus tamen
etiam sic filiis post mortem patris et hoc docentibus et ostendentibus
patris testamentum, et heredibus existentibus in quantum pater eos
Novellae

scripserit, et ab imperio hoc percipientibus, ut in uno eodemque hoc quod


agitur sit donum patris et principis, idem est dicere naturae simul et legis.
Et haec dicimus nullum anteriorem legitimum perimentes modum, sed
etiam hunc addentes in quibus illos accipere non licet. Omnino enim suis
existentibus, deinde naturalibus procreates aut primitus natis, nequaquam
legitimorum ius eis adiciatur, nisi forsan per constitutiones nostras, quae
d otalium instrumentorum introduxerunt modum
(N.74.VI) 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
Si quid autem praeter haec fiat, non tamen ex conscripta procedant 4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
copulatione, erunt naturales et quae a nobis largita sunt naturalibus sive 0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
ex testamento sive ab intestato potientur. Eos enim qui semel ex odibilibus 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
nobis et propterea prohibitis nuptiis procedunt, neque naturales vocandi 4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
neque participanda eis ulla clementia est, sed sit supplicium etiam hoc 2 0 . •2 1 . 8 3 1
patrum ut agnoscant, quia neque quicquam peccatricis concupiscentiae 6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
eorum habebunt filii.
<Epilogus>
Quae igitur placuerunt nobis et ad hominum medelam et naturae
plenitudinem per hanc legem statuta sunt, tua celsitudo manifesta faciat
universis programmatibus positis, per quae omnibus lex erit aperta,
cognoscentibus secundum quem circa talia conversentur modum, et
nostram considerantibus providentiam, quia omni occupationi alteri
eorum utilitatem praeponimus.
160 JOSÉ DOMINGUES

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
0 3 . 2 •1 . 7 6 3 1
5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
(N.89.IV)
2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
Filium vero per huiusmodi causam factum legitimum ipsi soli genitori
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
legitimum facimus, non etiam extraneae cognationi patris (dicimus autem
0 1 . 8•0 . 7 3 1
et ex quibus ille natus est et qui ex utroque sunt et qui ex eo processerunt)
9 1 . 9• 0 . 7 3 1
facimus eum velut ex quadam machinatione cognatum. Sancimus
4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
enim oblatum curiae naturalem filium solummodo patri legitimum
9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
fieri successorem, nullum tamen habere participium ad ascendentes aut
0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
descendentes aut ex latere agnatos vel cognatos patris, aut illos aliquid
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
Novellae (cont.)

habere participium ad illorum successionem, aequum etiam ei dantes


8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
privilegium, ut sicut nec illis fit iste successor, nec illi ad eius vocentur
1 0 . •7 0 . 2 8 3 1
successionem, nisi forte scripserit aut ipse illos aut ab illis scribatur. Soli
9 1 . •9 0 . 3 8 3 1
enim patri fiunt legitimi et cognati esse creduntur.
2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
(N.89.IX.1) 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
§ 1 – Sit igitur licentia patri in praedictis casibus matrem in priori 4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
schemate relinquenti imperio preces offerre hoc declarantes, quia vult 0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
naturales suos filios restituere naturae et antiquae ingenuitati et iuri 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
legitimo, ut sub potestate eius consistant nihil a legitimis filiis differentes; 4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
quo facto ex hoc filios frui huiusmodi adiutorio. Uno namque hoc modo 2 0 . •2 1 . 8 3 1
omnes huiusmodi naturae digressiones et opiniones in his qui legitimos 6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
non habent filios curamus, sic brevi solacio tantum impetum naturae
corrigentes.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 161

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
0 3 . 2 •1 . 7 6 3 1
(N.89.XV) 5 2 . 1• 0 . 0 7 3 1
Ultima siquidem nos pars legis expectat, ut ipsa competentem suscipiat 2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
ordinem et enumeremus, qui neque ipso naturalium nomine digni 8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
sunt. Primum quidem omnis qui ex complexibus (non enim vocabimus 0 1 . 8•0 . 7 3 1
Novellae (cont.)

nuptias) aut nefariis aut incestis aut damnatis processerit, iste neque 9 1 . 9• 0 . 7 3 1
naturalis nominatur neque alendus est a parentibus neque habebit 4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
quoddam ad praesentem legem participium. Unde licet a Constantino 9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
piae memoriae in constitutione ad Gregorium scripta quaedam de talibus 0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
dicta sint filiis, haec non respicimus, quoniam et non utendo perempta est: 0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
phoenicarchorum enim et syriarchorum et magistratuum et insignium 8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
meminit et clarissimorum, et neque naturales esse vult ex his procedentes, 1 0 . •7 0 . 2 8 3 1
amovens eis etiam imperialis munificentiae mansuetudinem. Quam 9 1 . •9 0 . 3 8 3 1
videlicet constitutionem etiam omnino perimimus. 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
162 JOSÉ DOMINGUES

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
6 •0 - 6 0 - 8 3 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
6 2 - •8 0 - 7 5 3 1
4 2 -•6 0 - 1 6 3 1
2 1 -•9 0 - 1 6 3 1
9 2 •- 8 0 - 5 6 3 1
5 1 . 9 • 0 . 7 6 3 1
5 1 . 0 •1 . 7 6 3 1
2 0 . •3 0 . 0 7 3 1
8 1 . •5 0 . 0 7 3 1
0 1 . 8•0 . 7 3 1
9 1 . 9• 0 . 7 3 1
Livro dos Feudos

4 0 . 2•0 . 9 7 3 1
Similes adversus militem pro pace violata aut aliqua capitali causa duellum
9 2 . •4 0 . 9 7 3 1
committere voluerit, facultas pugnandi ei non concedatur, nisi probare
0 3 . •7 0 . 0 8 3 1
possit, quod antiquitus ipse cum parentibus suis natione legitimus miles
0 3 . •5 0 . 1 8 3 1
existat.
8 0 . •9 0 . 1 8 3 1
1 0 . •7 0 . 2 8 3 1
9 1 . •9 0 . 3 8 3 1
2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
1 1 . •1 0 . 6 8 3 1
1 0 •. 4 0 . 6 8 3 1
6 2 •. 4 0 . 6 8 3 1
4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
2 0 . •2 1 . 8 3 1
1 1 . •7 0 . 0 9 3 1
6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 163

O Ius commune e as legitimações outorgadas pelos monarcas portugueses – Séc. XIV:


Corpus Iuris Civilis Legitimações
(X.4.17.13) 2 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
Per venerabilem fratrem nostrum, Arelatensem archiepiscopum, ad 4 0 . 1 •1 . 5 8 3 1
sedem apostolicam accedentem, tua nobis humilitas supplicavit, ut filios 0 2 . 2•1 . 5 8 3 1
Liber Extra – Gregorius IX

tuos legitimationis dignaremur titulo decorare, quatenus eis, quo minus 1 1 . •1 0 . 6 8 3 1


tibi succederent, natalium obiectio non noceret. Quod autem super hoc 4 0 . 2 •1 . 7 8 3 1
apostolica sedes plenam habeat potestatem, ex illo videtur, quod, diversis 2 0 . •2 1 . 8 3 1
causis inspectis, cum quibusdam minus legitime genitis, non naturalibus 6 1 . 1• 1 . 0 9 3 1
tantum, sed adulterinis etiam dispensavit sic ad actus spirituales illos
legitimans ut possint in episcopos promoveri. Ex quo verisimilius creditur
et probabilius reputatur, ut eos ad actus legitimare valeat saeculares,
praesertim si praeter Romanos Pontifices inter homines superiorem alium
non cognoscant, qui legitimandi habeat potestatem; quia, quum maior
in spiritualibus tam providentia quam auctoritas et idoneitas requiratur,
quod in maiori conceditur licitum esse videtur et in minori (…)
(P.7.3) 1 0 . •7 0 . 2 8 3 1
Rétanse los hijosdalgo según costumbre de España cuando se acusan los
unos a los otros sobre yerro de traición o de alevosía.

Ley 1: Riepto es acusación que hace un hidalgo a otro delante de la corte


echándole en cara la traición o la alevosía que hizo. Y tomó este nombre de
repeto, que es una palabra del latín que quiere tanto decir como recontar la
cosa otra vez diciendo la manera como la hizo. Y este reto tiene provecho a
aquel que lo hace, porque es medio para alcanzar derecho por él del daño o
Partidas

de la deshonra que le hicieren. Y aun tiene provecho a los otros que lo ven
y lo oyen, y toman apercibimiento para guardarse de hacer tal yerro por
que no sean afrontados en tal manera como esta.

[Ley 2: …
Ley 3: …
Ley 4: …
Ley 5: …
Ley 6: …
Ley 7: …
Ley 8: …
Ley 9: …]
164 JOSÉ DOMINGUES

A composição desta tabela sinóptica foi feita com base no seguinte


corpus documental de legitimações régias (excluindo todas as que, apesar de
consultadas, não continham identificações expressas de Ius commune):

1308.Novembro.26 – Leiria.
Legitimação de Álvaro Vasques Farinha.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Livro 3, fl. 66.

1338.Junho.06 – Coimbra.
Legitimação de Vasco Martins Leitão.
Chancelarias Portuguesas – Chancelaria de D. Afonso IV, (1992) II doc. 110.

1357.Agosto.26 – Torres Vedras.


Legitimação de Pedro Álvares, filho de frei Álvaro Gonçalves (prior da
Ordem do Hospital) e de Marinha.
Chancelaria D. Pedro I (1357-1367), (1984) 47-49 doc. 110.

1357.Agosto.26 – Torres Vedras.


Legitimação de Rodrigo Álvares Pereira, filho de frei Álvaro Gonçalves
(prior da Ordem do Hospital) e de Irene Vicente, mulher solteira.
Chancelaria D. Pedro I (1357-1367), (1984) 51-53 doc. 116.

1361.Junho.24 – Portalegre.
Legitimação de Nuno Álvares Pereira, filho de D. frei Álvaro Gonçalves
(prior da Ordem do Hospital) e de Irene Gonçalves, mulher solteira.
Chancelaria D. Pedro I (1357-1367), (1984) 382-384 doc. 840.

1361.Setembro.12 – Vila Viçosa.


Legitimação de Rui Nunes, filho de D. Nuno (freire mestre da Ordem
de Jesus Cristo) e de Clara Martins, mulher solteira.
Chancelaria D. Pedro I (1357-1367), (1984) 270-271 doc. 592.

1365.Agosto.29 – Lisboa
Legitimação de João Rodrigues Pimentel, filho de mestre Geraldo
(cónego de Coimbra) e de Mor Martins (professa do mosteiro de Arouca).
Chancelaria D. Pedro I (1357-1367), (1984) 489-490 doc. 1036.

1367.Setembro.15 – Atouguia.
Legitimação de Gonçalo Pereira, filho de D. frei Álvaro Gonçalves,
prior da Ordem do Hospital, e de Irene Gonçalves.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 1, fls. 17-17v.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 165

1367.Outubro.15 – Lisboa.
Legitimação de Estêvão Coelho, filho de Soeiro Coelho e Aldonça Eanes.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 1, fls. 29v-30.

1367.Dezembro.30 – Évora.
Legitimação de Soeiro Peres, filho de Pedro Eanes de Abeul e Maria
Eanes.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 1, fls. 21-21v.

1370.Janeiro.25 – Santarém.
Legitimação de Gonçalo Esteves e João Esteves, moradores em Tavira,
filhos de Luís Esteves, clérigo de missa.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 1, fls. 51v-52.

1370.Março.02 – Lisboa.
Legitimação de Gonçalo Rodrigues, filho de Rodrigo Afonso de Sousa
e de Constança Gil.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 67-67v.

1370.Maio.18 – Golegã.
Legitimação de Gonçalo Gil Carvalho, filho de D. Gil Fernandes de
Carvalho, mestre da Ordem de Santiago, e de Maria Domingues.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 1, fls. 60-60v.

1377.Agosto.10 – Folgosinho.
Legitimação de Rui Peres e Fernando Rodrigues, filhos de Rui Peres
da Fonseca e de Guiomar Gil.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 12v-13.

1377.Setembro.19 – Covilhã.
Legitimação de Álvaro e Gonçalo Afonso, filhos de Afonso Eanes e
Domingas Lourenço.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 14v-15.

1379.Fevereiro.04 – Alenquer.
Legitimação de Gonçalo Vasques Barroso, filho de Vasco Gonçalves
Barroso.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 37v-38.
166 JOSÉ DOMINGUES

1379.Abril.29 – Santarém.
Legitimação de Álvaro Vasques Cardoso, filho de Vasco Lourenço
Cardoso.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 43-43v.

1380.Julho.15 – Estremoz.
Legitimação de Fernando Vasques, filho de Vasco Eanes e de Joana
Rodrigues.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 66-66v.

1380.Julho.30 – Estremoz.
Legitimação de Cristóvão Pires, filho de Pedro Afonso de Valada e de
Maria Afonso.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 69-69v.

1381.Janeiro.02 – Lisboa.
Legitimação de Martim Chamiço, filho de D. Nuno Chamiço e de
Clara Domingues.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 76-76v.

1381.Maio.30 – Lisboa.
Legitimação de Vasco Pires Sarrainho, filho de Pedro Sarrainho.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 82-82v.

1381.Setembro.08 – Lisboa.
Legitimação de Gil Lourenço, filho de Lourenço Martins, cónego
professo, e de Maria Domingues.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 87v-88.

1382.Julho.01 – Santarém.
Legitimação de Rodrigo e Fernando, filhos de Lopo Rodrigues, clérigo.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 92-92v.

1383.Setembro.19 – Lisboa.
Legitimação de Inês Rodrigues, filha de João Rodrigues Carvalho e
de Senhorinha Martins.
Lisboa, IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fls. 107v-108.

1385.Novembro.02 – Guimarães.
Legitimação de Diogo Gil Figueiredo.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (Lisboa 2005) 99-102
doc. 1139.
RECEPÇÃO DO IUS COMMUNE MEDIEVAL EM PORTUGAL… 167

1385.Novembro.04 – Guimarães.
Legitimação de Vasco Lourenço de Parada, filho de um clérigo e de
uma mulher solteira.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (2005) 31-33 doc. 1020.

1385.Dezembro.20 – Panóias.
Legitimação de Vasco Eanes.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (2005) 121-123 doc. 1173.

1386.Janeiro.11 - S. Pedro de Gostei – Chaves.


Legitimação de João Esteves.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (2005) 36-39 doc. 1028.

1386.Abril.01 – Chaves.
Legitimação de Vasco Afonso.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (2005) 117-119 doc. 1168.

1386.Abril.22 – Chaves.
Legitimação de João Gil e João Gil.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (2005) 203-205 doc. 1337.

1387.Dezembro.04 – Braga.
Legitimação de Beatriz Gonçalves.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. I tomo 3 (2005) 229-231 doc. 1376.

1388.Deze,bro.02 – Elvas.
Legitimação de João Esteves.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. II tomo 2 (2005) 178-180 doc. II-918.

1390.Julho.11 – Santarém.
Legitimação de Catalina Mendes.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. II tomo 1 (2005) 237-238 doc. II-447.

1390.Novembro.16 – Lisboa.
Legitimação de Inês e Leonor.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. II tomo 1 (2005) 282-284 doc. II-537.

1395.Abril.21 – Tentúgal.
Legitimação de Martim Vasques.
Chancelarias Portuguesas – D. João I, vol. II tomo 2 (2005) 136-138 doc. II-854.
ÍNDICE 961

ÍNDICE

Carta del Director ...................................................................................................................................................................................... V

DE RE IURIDICA GESTA

Aquilino IGLESIA FERREIRÓS, Las Constituciones de Paz y Tregua de


1173 ............................................................................................................................................................................................................... 3
José DOMINGUES, Recepção do Ius commune medieval em Portugal, até às
Ordenações Afonsinas ........................................................................................................................................................... 121
André VITÓRIA, A little known version of Oldradus de Ponte’s consilium
no. 83? ...................................................................................................................................................................................................... 169
Victoria SANDOVAL PARRA, La política de administración de la merced
en la Monarquía Universal .................................................................................................................................. 209
Pedro ORTEGO GIL, La conmutación de penas: una revisión histórica ........ 263
Enrique ÁLVAREZ CORA, La teoría de la blasfemia en Castilla ................................... 345
Victor CRESCENZI, Varianti della Subordinazione, 3: Il problema del rap-
porto obbligatorio e dell’adempimento ........................................................................................ 389

DE BATAYLA FACIENDA

Francisco Luis PACHECO CABALLERO, Un Discurso de Berart sobre el valor


de las Pragmáticas del Rey y sobre la Jurisdicción del Baile Ge-
neral .............................................................................................................................................................................................................. 461

DE OPINIONIBUS ET NOSCENDIS

Aquilino IGLESIA FERREIRÓS, Frangullas ou migallas (16)................................................... 495


962 ÍNDICE

Carlos GARRIGA, La historia del Derecho catalán, según el abogado Vicen-


te Doménech (Academia de Jurisprudencia de Barcelona, 1780) . 531
Margarita SERNA VALLEJO, El derecho marítimo en Valencia de 1707 a
1829: ¿Continuidad o cambio? ................................................................................................................... 583

DOCUMENTA

Aquilino IGLESIA FERREIRÓS, Una compilación atribuida a Guillelmus


Vallesica antiquus ................................................................................................................................................................ 617

DE OFFICIIS

Aquilino IGLESIA ALVARIÑO, Os camiños dos hòmes e os camiños de


Deus ............................................................................................................................................................................................................. 823

DE RE BIBLIOGRAPHICA

I: Recensiones..................................................................................................................................................................................................... 839
GRILLI, Antonio, Il difficile amalgama. Giustizia e codici nell’Europa di Na-
poleone. Rec. de AIF........................................................................................................................................................... 839

III: BIBLIOGRAFÍA..................................................................... 851

IV: ÍNDICE DE AUTORES ........................................................ 909

Normas y siglas para envíos de originales ..................................................................................................... 917


Últimos libros registrados........................................................................................................................................................... 927
Boletín de suscripción......................................................................................................................................................................... 931
Publicidad ................................................................................................................................................................................................................ 933

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