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LÍNGUA PORTUGUESA

SUMÁRIO

1. ACENTUAÇÃO GRÁFICA
1.1. Introdução
1.2. Regras gerais
1.2.1. Regra 1 – Proparoxítonas
1.2.2. Regra 2 – Paroxítonas
1.2.3. Regra 3 – Oxítonas
1.2.4. Regra 4 – Monossílabas tônicas
1.3. Regras especiais
1.3.1. Regra 5 – I e U tônicos formando hiato
1.3.2. Regra 6 – Ditongo aberto
1.3.3. Regra 7 – Acentos diferenciais
1.3.4. Regra 8 – Ter e vir

2. ORTOGRAFIA
2.1. Introdução
2.2. Palavras parônimas e homônimas
2.3. Expressões concorrentes
2.4. Decifrando os porquês

3. MORFOLOGIA GERAL
3.1. Introdução
3.2. Locução
3.3. Dez classes de palavras
3.4. Substantivo

1
3.4.1.Definição
3.4.2. Classificação
3.4.3. Morfossintaxe do substantivo
3.5. Adjetivo
3.5.1. Definição
3.5.2. Classificação
3.5.3. Morfossintaxe do adjetivo
3.6. Pronome
3.6.1. Classificação
3.6.2. Morfossintaxe do pronome
3.6.3. Pronome pessoal
3.6.4. Pronome possessivo
3.6.5. Pronome indefinido
3.6.6. Pronome demonstrativo
3.6.7. Pronome relativo
3.7. Advérbio
3.7.1. Definição
3.7.2. Locuções adverbiais
3.7.3. Classificação
3.7.4. Morfossintaxe do advérbio
3.8. Preposição
3.8.1. Locuções prepositivas
3.8.2. Sentido das preposições
3.8.3. Morfossintaxe da preposição
3.9. Conjunção
3.9.1. Classificação
3.9.1.1. Conjunções coordenativas
3.9.1.2. Conjunções subordinativas

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3.9.2. Morfossintaxe da conjunção
3.10. Uma palavra, mais de uma classificação

4. MORFOLOGIA VERBAL
4.1. Introdução
4.2. Classificação de tempos e modos
4.3. Conjugação irregular
4.4. Sentido dos tempos e modos
4.5. Formação do imperativo
4.6. Particípio

5. REGÊNCIA
5.1. Introdução
5.2. Classificação dos verbos
5.2.1. Verbo de Ligação
5.2.2. Verbo Intransitivo
5.2.3. Verbo Transitivo
5.3. Verbos recorrentes em prova

6. CRASE
6.1. Fundamentação
6.2. Área proibida
6.3. Trocas
6.4. Lugar
6.5. Aquele, aquela, aquilo
6.6. Ante, perante, mediante, contra
6.7. Acento facultativo
6.8. Horário

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6.9. Terra, casa e distância
6.10. Nome de pessoa

7. PRONOME PESSOAL
7.1. Classificação
7.2. Principais dificuldades
7.3. Pronomes átonos
7.3.1. Adaptações
7.3.1. O, a, os, as x lhe, lhes
7.3.2. Colocação pronominal

8. VOZ PASSIVA
8.1. Classificação
8.2. Voz passiva analítica
8.3. Voz passiva sintética
8.4. Voz Passiva Sintética x Sujeito Indeterminado

9. CONCORDÂNCIA NOMINAL
9.1. Regra geral
9.2. Palavras e expressões que geram dúvidas
9.3. Plural do adjetivo composto
9.4. Adjetivos que indicam cor
9.5. Adjetivos em função adverbial
9.6. Concordância especial
9.7. O mais possível

10. CONCORDÂNCIA VERBAL


10.1. Introdução

4
10.2. Regra geral
10.3. Armadilhas da banca
10.4. Sujeitos especiais
10.5. Verbos especiais

11. PRONOME RELATIVO


11.1. Introdução
11.2. Tipos
11.3. Os principais pronomes relativos: que e o qual
11.4. Classificação da oração
11.5. Funcionamento
11.6. Trocas
11.7. Quem
11.8. Cujo
11.9. Onde

12. CONJUNÇÃO
12.1. Introdução
12.2. Conjunções coordenativas
12.3. Conjunções subordinativas

13. CONEXÃO
13.1. Introdução
13.2. Conjunção integrante e oração substantiva
13.3. Oração desenvolvida e oração reduzida
13.4. Síntese da classificação das orações

14. PONTUAÇÃO

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14.1. Introdução
14.2. Vínculos lógicos
14.3. Elementos acidentais
14.4. Conjunções coordenativas deslocáveis
14.5. Conjunções “e”
14.6. Orações adjetivas
14.7. Outros sinais de pontuação

15. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO


15.1. Introdução
15.2. Interpretar textos em concurso público
15.3. Locais da interpretação
15.3.1. Sinônimo, antônimo, parônimo e homônimo
15.3.2. Sentido denotativo X sentido conotativo
15.3.3. Gramática e interpretação
15.3.4. Aspectos coesivos
15.3.5. Tipologia textual
15.3.6. Paráfrase

16. REDAÇÃO OFICIAL


16.1. Introdução
16.2. Linguagem
16.3. Pronomes de tratamento
16.4. Vocativo
16.5. Fecho
16.6. Expedientes

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⮚ CAPÍTULO 1 – ACENTUAÇÃO GRÁFICA

1.1. Introdução

A acentuação gráfica é cobrada basicamente em duas perspectivas: verificação


do uso correto em uma palavra e identificação da regra. Um capítulo à parte é a
acentuação de ter, vir e derivados, com alta incidência. Toda palavra acentuada
tem uma regra por trás. Dominar as regras é um processo que nos retira da
acentuação “automática”, fato que ocorre devido à convivência visual.
Escrevemos as palavras “difícil” e “saída” com acento, mas indicar a regra usada
não é algo simples para a maioria.

1.2. Regras gerais

1.2.1. Regra 1 - Proparoxítonas


Acentuam-se todas, sem exceção.
Exemplos: pêssego, fábrica, lâmpada, médico, âmbito, lógica.

1.2.2. Regra 2 - Paroxítonas


Não se acentuam as terminadas em: A, AS, E, ES, O, OS, EM, ENS, AM.
Exemplos: sala, patas, tapete, redes, selo, tetos, cantem, item, jovem, itens,
jovens, cantam, dançam.

Acentuam-se as terminadas em:


R: éter, mártir, caráter, âmbar
X: tórax, ônix, látex, fênix

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PS: bíceps, tríceps, fórceps
EN: glúten, pólen, hífen, hímen, líquen
I, IS: júri, cáqui, táxi, biquíni, lápis, tênis
ON, ONS: cânon, elétron, nêutron, prótons
UM, UNS: fórum, álbum, fóruns, álbuns
US: Vênus, vírus, bônus, húmus
Ã, ÃS: ímã, órfã, ímãs, órfãs
ÃO, ÃOS: órfão, órgãos, bênção, sótão
L: amável, fácil, móvel, cônsul, têxtil
Ditongo: sábio, história, ciência, régua, ingênuo

❖ Atenção – Paroxítonas terminadas em ditongo crescente também são


classificadas como proparoxítonas, aceitando-se duas formas de pronunciar:

. sábio: sá-bio ou sá-bi-o . ciência: ci-ên-cia ou ci-ên-ci-a


. história: his-tó-ria ou his-tó-ri-a . série: sé-rie ou sé-ri-e

Teoricamente, tal proparoxítona é nomeada de eventual ou acidental. Não temos


dúvida sobre a necessidade da acentuação; a dúvida fica apenas para o plano
teórico, ou seja, qual a regra aplicada? Essa dupla possibilidade de análise é um
problema teórico insolúvel, então precisamos aprender a conviver com ela.
Também é importante reconhecer essa dupla classificação para desfazer alguns
problemas que possam surgir nos estudos e nas pesquisas em dicionários.
Muitas vezes, alguns autores apresentam só uma das possibilidades e isso cria
uma insegurança. Na prova, a banca é ciente do problema e, assim, tende a
evitar questões polêmicas.

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❖ Atenção – Paroxítonas terminadas em EN são acentuadas: glúten, pólen,
hífen, hímen, líquen, abdômen; mas as paroxítonas terminadas em EM ou ENS
não são acentuadas: item, itens, glutens, polens, hifens, himens, liquens,
abdomens. Portanto, a palavra hífen é acentuada, mas hifens não. Por isso,
guarde bem:

Paroxítona Paroxítona Paroxítona


terminada em EM: terminada em ENS: terminada em EN:
sem acento sem acento com acento

item itens, hifens, glutens hífen, glúten

jovem jovens, polens, pólen, gérmen


germens

nuvem nuvens, himens, hímen, líquen


liquens

imagem imagens, abdomens abdômen

Teoricamente, as palavras paroxítonas terminadas em EN também podem


formar o plural com o acréscimo de ES: abdômenes, hífenes, pólenes,
hímenes... Dessa forma, passam a ser proparoxítonas. Apesar de uso raríssimo,
vale o registro.

1.2.3. Regra 3 - Oxítonas


Acentuam-se as terminadas em: A, AS, E, ES, O, OS, EM, ENS.

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Exemplos: babá, quebrá-lo, aliás, alguém, inglês, contê-lo, forró, camelô, cipós,
repô-lo, também, reféns.

1.2.4. Regra 4 - Monossílabas tônicas


Acentuam-se as terminadas em: A, AS, E, ES, O, OS.
Exemplos: pá, já, trás, dá-lo, pé, vê, três, tê-lo, nó, pó, sós, pôs, pô-lo.

❖ Atenção – As monossílabas átonas são palavras de uma sílaba,


pronunciadas fracamente e dependentes de outra, portanto sem autonomia de
uso. As palavras a seguir não recebem acento por serem monossílabas átonas:
artigo: o, a, os, as; pronome pessoal átono: me, te, se, o, a, os, as, lhe, lhes,
nos, vos; preposição: a, de; conjunção: e, mas, se.
Já a palavra “que” recebe acento quando for substantivo (“Ele não me deu um
quê de satisfação”, “Veja os dez quês usados neste parágrafo”) ou estiver
seguido de reticências, ponto final, ponto de interrogação ou exclamação (“Quê!
Você já chegou!”, “Você gosta de quê?”).

1.3. Regras especiais


As regras especiais existem porque há palavras que não se encaixam nas
regras anteriores e exigem regras próprias para que sejam acentuadas.

1.3.1. Regra 5 - I e U tônicos formando hiato


Acentuam-se as vogais I e U na formação de hiato quando:
. tônicas,
. na separação silábica, ficarem sozinhas na sílaba ou com –s,

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. antecedidas de outra vogal.
Exemplos: saúde (sa-ú-de), faísca (fa-ís-ca), país (pa-ís), juízes (ju-í-zes), baú
(ba-ú), balaústre (ba-la-ús-tre), ciúme (ci-ú-me), atribuí-lo (a-tri-bu-í), atraí-los
(a-tra-í).

❖ Atenção
▪ Antes de NH, não se aplica esta regra: rainha, moinho, tainha, bainha,
campainha.

▪ Quando se repete o “i” ou o “u”, não se aplica esta regra: juuna (arbusto),
xiita; sendo, porém, proparoxítona, haverá a acentuação normalmente: iídiche,
seriíssimo, feiíssimo.

▪ Com esta regra, evita-se a ditongação e constitui-se o hiato. Perceba o


contraste: eu saí e ele sai; eu contribuí e ele contribui; o país e os pais; doído e
doido; saúde e caule.

▪ Não deixe de notar que, se as vogais i e u compuserem sílaba com outra


letra que não seja o s, não há acento: juiz (ju-iz), raiz (ra-iz), instruindo
(ins-tru-in-do), Coimbra (Co-im-bra), ruim (ru-im), constituinte (cons-ti-tu-in-te).

▪ Não há mais acento no “i” e no “u” tônicos quando antecedidos de ditongo


decrescente nas palavras paroxítonas: baiuca (bodega, taberna), bocaiuva (tipo
de palmeira), feiura, Sauipe, cauila (sovina), boiuno (relativo a boi, bovino), etc.
Devido ao número reduzido de palavras, tal exclusão do acento influi muito
pouco no uso prático. Sendo, porém, ditongo crescente, o uso do acento ocorre:
Guaíba, Guaíra, biguaúna (tipo de ave).

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▪ Esta regra é uma das mais frequentes nas provas, pois o uso do acento
ocorre na penúltima e na última sílaba, podendo produzir certa confusão com as
regras gerais:
- di-fí-cil = regra 2, paroxítona
- sa-í-da= regra 5, I e U formando hiato
- ve-í-cu-lo = regra 1, proparoxítona
- i-nú-teis = regra 2, paroxítona
- vi-ú-vo = regra 5, I e U formando hiato
- nú-me-ro = regra 1, proparoxítona
- já-ú = regra 5, I e U formando hiato

1.3.2. Regra 6 - Ditongo aberto


São acentuados os ditongos abertos ÉI(s), ÓI(s) e ÉU(s), desde que
posicionados na última sílaba.
Exemplos: coronéis (co-ro-néis), pastéis (pas-téis), anzóis (an-zóis), faróis
(fa-róis), chapéu (cha-péu), troféu (tro-féu), céu, véus.

1.3.3. Regra 7 - Acentos diferenciais


Recebe acento pôde (passado) para diferenciar-se de pode (presente) e
pôr (verbo) para diferenciar-se de por (preposição).

1.3.4. Regra 8 - Ter e Vir

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Na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, usa-se o acento circunflexo
para diferenciar o plural do singular dos verbos ter e vir e seus respectivos
derivados.
- Primitivo
TER – ele tem / eles têm

- Derivados
CONTER – ele contém / eles contêm
DETER – ele detém / eles detêm
RETER – ele retém / eles retêm

❖ Atenção – Principais derivados do verbo ter: abster-se, ater-se, conter,


deter, entreter, manter, obter, reter.

- Primitivo
VIR – ele vem / eles vêm

- Derivados
ADVIR – ele advém / eles advêm
CONVIR – ele convém / eles convêm
INTERVIR – ele intervém / eles intervêm

❖ Atenção – Principais derivados do verbo vir: advir, avir-se, contravir,


convir, desavir-se, desconvir, intervir, provir, reconvir, sobrevir.

❖ Importante – Deve-se dar atenção à acentuação dos verbos quando


acompanhados de pronome átono:

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- seguindo a regra das monossílabas tônicas: dá-lo, vê-lo, pô-lo;
- seguindo a regra das oxítonas: comprá-lo, vendê-lo, repô-lo;
- seguindo a regra do “i” tônico formando hiato: atraí-lo, instruí-lo.

Em dividi-lo e reparti-lo, não se acentua porque não se compõe hiato e, assim, a


regra do “i” tônico não pode ser invocada. Em “conhecemo-la” (conhecemos +
a), a tônica é a sílaba “ce” (co-nhe-ce-mo) e a regra da paroxítona não permite
acentuação. Observe também que, na contagem de sílabas, o pronome átono,
apesar de vinculado ao verbo, não é levado em conta. Quando estudar os
pronomes átonos, procure revisar essa parte.

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SÍNTESE

Regra 1 Toda proparoxítona é acentuada. médico, lâmpada, íntegro

casa, tortas, parede,


Não é acentuada a paroxítona terminada tapetes, livro, vasos, item,
em A, AS, E, ES, OS, EM, ENS. nuvens

Regra 2 É acentuada a paroxítona terminada em éter, fórum, látex, vírus,


R, US, X, ON(s), EN, UM(uns), ÃO(S), hífen, ímã, fácil, órgão,
Ã(S), PS, I(s), L, ditongo. órfã, cânon, tríceps, júri,
lavável, história

Regra 3 É acentuada a oxítona terminada em A, sofá, aliás, bebê, cortês,


AS, E, ES, OS, EM, ENS. forró, propôs, também,
vinténs

Regra 4 É acentuada a monossílaba tônica já, pás, fé, pés, dó, pós
terminada em A, AS, E, ES, OS.

São acentuados I e U, quando tônicos, genuíno, saúde, saí, baú,


Regra 5 sozinhos na sílaba ou com –s e faísca, raízes, balaústre
antecedidos de outra vogal.

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Regra 6 Acentuam-se os ditongos ÉI(s), ÉU(s) e papéis, herói, chapéu
ÓI(s) quando na última sílaba da palavra.

Regra 7 Acento diferencial. pôde e pode / pôr e por

ele tem / eles têm


Regra 8 Acento diferencial dos verbos ter, vir e ele vem / eles vêm
derivados. ele contém / eles contêm
ele convém / eles convêm

⮚ CAPÍTULO 2 – ORTOGRAFIA

2.1. Introdução

A ortografia é um tema que aprendemos durante toda a vida e o convívio com a


língua escrita é decisivo: a leitura é o principal componente na nossa
memorização. Para estudarmos as principais dificuldades da ortografia, fez-se
uma seleção que passa pelas concorrências que existem entre letras, palavras e
expressões.

2.2. Palavras parônimas e homônimas


As palavras parônimas são aquelas que têm grafia ou som parecidos
(ratificar/retificar, eminente/iminente, aferir/auferir); já as palavras homônimas
são as que apresentam grafia ou som idênticos (cela/sela, senso/censo,
cozer/coser, mal/mau). Eis uma seleção:

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. aferir: conferir, comparar
auferir: colher, obter

. arrear: pôr arreios


arriar: descer, fazer vir abaixo

. assoar: limpar o nariz


assuar: vaiar

. cela: pequeno quarto


sela: arreio

. censo: recenseamento
senso: raciocínio, juízo claro

. cessão: ato de ceder


seção: corte, divisão, departamento
sessão: reunião

. cheque: ordem de pagamento


xeque: lance de xadrez (xeque-mate)

. comprimento: extensão, tamanho


cumprimento: saudação, execução

. concerto: acordo; sessão musical


conserto: reparação, reparo

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. coser: costurar
cozer: cozinhar

. deferir: atender, conceder, outorgar


diferir: distinguir; adiar, retardar

. degredado: desterrado, exilado


degradado: estragado, rebaixado

. despercebido: não notado


desapercebido: desprovido

. eminência: excelência
iminência: próximo a acontecer

. haja: forma do verbo haver


aja: forma do verbo agir

. incontinente: que não se controla


incontinenti: de imediato, ininterrupto

. mal: antônimo de bem


mau: antônimo de bom

. mandado: ordem de autoridade


mandato: missão política; procuração, delegação

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. pleito: questão em juízo, eleição
preito: homenagem, veneração

. tachar: pôr prego; censurar, criticar


taxar: regular o preço; lançar imposto

. vultoso: volumoso, vulto grande


vultuoso: vermelho, inchado

2.3. Expressões concorrentes


. acerca de: significa sobre, em referência a, em relação a (Falo acerca das
mudanças);
cerca de: traz ideia de imprecisão e forma as expressões a cerca de e há cerca
de;
a cerca de: tem-se a preposição a + cerca de; em geral, a preposição a vem da
regência (Dirigiu-se a cerca de 100 pessoas) e da indicação da distância entre
dois pontos (Estamos a cerca de 200 quilômetros do litoral);
há cerca de: forma-se com o verbo haver + cerca de; nessa formação haver
aparecerá como sinônimo de existir ou fazer: Há (= Existem) cerca de 100
pessoas. Há (= Faz) cerca de três dias.

. ao encontro de: indica que se está a favor de algo, no mesmo sentido (A ideia
é boa, pois vem ao encontro de nosso pedido)
de encontro a: significa oposição, contrariedade (A mudança foi ruim, portanto
veio de encontro ao que pedimos)

. à medida que: indica proporção e equivale-se à expressão à proporção que

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na medida em que: indica causa e equivale-se a porque, uma vez que

. em vez de: significa no lugar de e é expressão usada para ideias opostas ou


não (Em vez de viajar de trem, foi de avião)
ao invés de: significa ao contrário; usa-se somente para ideias opostas (Ao
invés de sorrir, acabou chorando)

. há tempo: tal expressão pode ser trocada por “existe tempo” ou “faz tempo”
(Ainda há [= existe] tempo para você mudar. Ele tem esse costume há [= faz]
tempo)
a tempo: indica algo pontual, que se deu na hora certa, em tempo (Chegamos
ao local a tempo de salvá-los)

. se não: conjunção condicional “se” seguida do advérbio “não”, sinônimo de


caso não (Se não ocorressem as falhas, o trabalho estaria encerrado. Se não
houver dúvidas, avisem-me);
senão: significa a não ser, exceto (Não faz outra coisa senão trabalhar), mas
também (Tornou-se popular não só no Brasil, senão também em todo o mundo),
caso contrário (Estude muito senão você não entenderá), defeito, erro (Há um
senão no contrato).

. tampouco: significa também não, nem sequer (Não veio tampouco explicou a
ausência);
tão pouco: significa muito pouco (Ele ganha tão pouco).

2.4. Decifrando os porquês

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▪ porque: conjunção; introduz causa, explicação; em geral pode ser
trocado por: pois, visto que.
Eles resolveram ficar porque estava chovendo muito.
Haverá uma saída melhor, até porque o rapaz é bastante competente.

▪ porquê: substantivo; único que forma plural; o normal é vir com


determinante (artigos, pronomes e numerais); equivale-se a “motivo”.
Ninguém sabia o porquê da briga.
Dê-me um porquê para tamanha confusão.

▪ por que: pronome relativo; equivalente a pelo qual, pela qual, pelos
quais, pelas quais.
Era muito conhecida a rua por que (= pela qual) eles passaram.
O livro por que (= pelo qual) você tem preferência é de Machado de Assis.

▪ por que: pronome interrogativo; equivalente a por qual razão; forma


orações interrogativas diretas e indiretas.
Por que (= por qual razão) eles agem sempre assim?
Não me pergunte por que (= por qual razão) eles agem sempre assim.
Queremos saber por que (= por qual razão) ele continua a mentir.

❖ Importante para concursos – As orações interrogativas indiretas são


aquelas em que a pergunta é introduzida por um verbo. Vale destacar que
terminam em ponto final.
- oração interrogativa direta: Por que ele se atrasou?
- oração interrogativa indireta: Já sabemos por que ele se atrasou. Indago por
que ele se atrasou. Fale agora por que ele se atrasou.

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▪ por quê: pronome interrogativo usado em fim de frase; equivalente a por
qual razão.
Você faltou, mas nem me precisa falar por quê. (= por qual razão)
Ele fez isso por quê? (= por qual razão)

❖ Atenção – Não deixe de perceber que há algumas estruturas com dois


usos corretos:
Houve o atraso, mas ninguém sabe o porquê. (= o motivo)
Houve o atraso, mas ninguém sabe por quê. (= por qual razão)

SÍNTESE

1. porque = pois, tendo em vista que

(conjunção causal / explicativa) Ele foi bem, porque estudou muito.

= (o) motivo
2. porquê
Não informaram o porquê do atraso.
(substantivo)
Da briga, não soube me dizer o porquê.

3. por que = pelo qual, pela qual, pelos quais,


pelas quais
(pronome relativo)

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Li o livro por que você tem preferência.

4. por que = por qual razão

(pronome interrogativo) Por que ele faltou?

Indagaram por que ele faltou.

5. por quê = por qual razão (em fim de frase)

(pronome interrogativo) Ele faltou por quê?

Ele agiu assim sem saber por quê.

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⮚ CAPÍTULO 3 – MORFOLOGIA GERAL

3.1. Introdução

A palavra morfologia significa estudo da forma (morfo = forma; logia = estudo). É


a parte gramatical em que se dividem as palavras em 10 classes e, de acordo
com as características, estudam-se os elementos formadores da palavra, a
estrutura, as flexões, entre outras noções pertinentes à classe. Dependendo do
estudioso, usa-se a nomenclatura 10 classes de palavras, 10 classes
morfológicas, 10 classes gramaticais, o que na prática é equivalente.

A morfologia contém várias perspectivas de análise e, por isso, é importante


determinar qual noção está sendo focada. Pode-se distinguir, por exemplo:

- gênero - número - grau


. masculino: menino . singular: livro . diminutivo: livrinho
. feminino: menina . plural: livros . aumentativo: livrão

- desinências verbais
. tempo: pretérito, presente e futuro
. modo: indicativo, subjuntivo e imperativo
. número: singular e plural
. pessoa: primeira (eu / nós), segunda (tu / vós),
terceira (ela, ele / elas, eles)

- noções estruturais
. radical: menin o / estud ei
. desinência: menin o / estud ei

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. prefixo: prever
. sufixo: felizmente

Também as classes de palavras podem ser analisadas pela flexão e,


genericamente, podemos dividir em:
a) variáveis – classes que se flexionam: substantivo, adjetivo, artigo, pronome,
numeral e verbo;
b) invariáveis – classes que não se flexionam: advérbio, preposição, conjunção
e interjeição.

O substantivo é uma palavra importante devido ao seu funcionamento nuclear,


ou seja, há várias classes que se vinculam a ele, fato que gera dependência e,
regra geral, concordância.

A minha primeira ideia boa


artigo pronome numeral substantivo adjetivo

É comum um substantivo, por exemplo, ter um determinante, palavra que trará


definição ou indefinição:

Artigo Artigo Numeral Pronome Pronome


definido indefinido possessivo demonstrativo

o livro um livro dois livros meu livro este livro

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a ideia uma ideia duas ideias minha ideia esta ideia

Entre os determinantes que trazem indefinição, destacam-se os pronomes


indefinidos: algum livro / nenhum livro / qualquer livro / cada livro / certo
livro / todo livro / outro livro / muitos livros / poucos livros / bastantes
livros.

3.2. Locução

Outra noção morfológica importante é a de locução, conjunto de palavras que


forma um todo, uma unidade. Na língua portuguesa como em outras línguas,
nascem novas e novas expressões que conseguem enriquecer os atos de
comunicação, renovam significados e ampliam a exatidão do uso.

Podemos dizer “estudarei”, bem como “vou estudar”: no primeiro caso temos o
verbo em sua forma simples e no segundo caso opta-se por uma locução.
Escolhe-se entre “homem brasileiro” e “homem do Brasil”: brasileiro é um
adjetivo e do Brasil é uma locução. Em “Estamos aqui” e “Estamos na sala”, o
aqui é um advérbio e na sala é uma locução adverbial. A classificação das
locuções remete às características de funcionamento e de sentido das
respectivas classes:

Classificação Características Exemplo

Locução Expressão composta por verbo Ele deve estudar. Ela está
verbal auxiliar mais verbo principal. estudando.

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Locução Expressão que qualifica, Comprei um produto da
adjetiva caracteriza um substantivo. Argentina; Li o livro de
Geralmente se forma de literatura.
preposição + substantivo.

Locução Expressão que essencialmente Estamos em dezembro


adverbial modifica o verbo e contém as (tempo); Estamos em casa
noções de circunstância de (lugar); Ele agiu com rapidez
tempo, modo, lugar, causa, (modo); Ele agiu pelo medo
finalidade... Geralmente se (causa).
forma de preposição +
substantivo.

Locução Expressão formada por uma A despeito de, diante de,


prepositiva expressão terminada em em frente de, em relação a,
preposição; pelo sentido que a à espreita de, graças a, de
locução prepositiva produz, acordo com...
geralmente ela introduz uma
expressão com valor adverbial.

Locução Expressão em geral finalizada Já que, uma vez que,


conjuntiva pela conjunção que. mesmo que, ainda que,
apesar de que, a fim de
que...

Na correlação entre locuções adjetivas e adjetivos, há empréstimos latinos:

Locução adjetiva Adjetivo

Trabalho dos alunos Trabalho discente

27
Ação de anjo Ação angelical

Implante de cabelo Implante capilar

Atitude de criança Atitude infantil

Arma de guerra Arma bélica

Faixa de idade Faixa etária

Amor de irmão Amor fraterno

Apelo de memória Apelo mnemônico

Golpe de mestre Golpe magistral

Movimento do rio Movimento fluvial

Período da tarde Período vespertino

Observe a síntese entre a palavra e a locução:

Adjetivo Locução adjetiva

amor materno amor de mãe

produto brasileiro produto do Brasil

comida insossa comida sem sal

28
Advérbio Locução adverbial

Estudo sempre. Estudo às vezes.

Estudo aqui. Estudo em casa.

Estudei ontem. Estudei no domingo.

Preposição Locução prepositiva

Estou em casa. Estou em frente de casa.

Falei de você. Falei a respeito de você.

Palestra sobre leis. Palestra acerca de leis.

Conjunção Locução conjuntiva

Caso estude... Desde que estude...

Embora estude... Ainda que estude...

Quando estuda... Depois que estuda...

3.3. Dez classes de palavras

1- substantivo – classe que nomeia os seres concretos (pedra, homem) e


abstratos (verdade, beleza), tem formas primitivas (rocha, pedra) e derivadas

29
(rochedo, pedreira); forma substantivo composto (meio-dia, bate-boca,
bem-te-vi); ocupa o núcleo das principais funções sintáticas;

2- artigo – palavra que acompanha um substantivo, dando-lhe definição ou


indefinição; é composta apenas de dois tipos:
a) artigo definido: o, a, os, as
b) artigo indefinido: um, uma, uns, umas

3- numeral – palavra que a um substantivo quantifica (um, dois, três...), ordena


(primeiro, segundo, terceiro...), fraciona (meio, terço, onze avos...) ou multiplica
(dobro, triplo...);

4- adjetivo – indica aos substantivos um estado ou uma qualidade (água morna,


pessoa bonita); forma locução adjetiva (luz do sol, arma de guerra) e adjetivo
composto (festa latino-americana, crise econômico-política);

5- pronome – palavra que acompanha um substantivo (também chamado de


pronome adjetivo) ou o substitui (chamado, por isso, de pronome substantivo);
divide-se em sete tipos:
a) pronome pessoal – eu, tu, ele, nós, vós, me, te, se, o, lhe, mim, ti, si...
b) pronome de tratamento: você, senhor, Vossa Senhoria...
c) pronome possessivo: meu, teu, seu, nosso, vosso...
d) pronome demonstrativo – este, esse, aquele, esta, essa, aquela...
e) pronome relativo – que, o qual, quem, cujo...
f) pronome indefinido – muito, pouco, alguém, ninguém, quem
g) pronome interrogativo – quem, qual, (o) que

30
6- verbo – única palavra que se permite conjugar e é elemento central na
formação do predicado; há verbos regulares ou irregulares, com conjugação
completa ou incompleta (verbos defectivos); forma locução (vai estudar; deve
estudar, pode estudar, tem estudado, vem estudando...);

7- advérbio – palavra invariável que indica circunstâncias ao verbo (chegaram


agora, estudei bastante); há advérbios de intensidade que também podem
modificar um adjetivo (muito belo) ou o próprio advérbio (muito cedo); forma
locução (à noite, a pé, com pressa, a nado);

8- preposição – palavra que tem a função principal de ligar as palavras,


explicitando vínculos e dependências; forma locução (através de, em relação a,
ao encontro de, antes de, a fim de, em frente a); divide-se em:
a) preposições essenciais: a, de, em, para, com, sem, por, ante, perante, após,
até, contra, desde, entre, sob, sobre
b) preposições acidentais (por empréstimo, podem funcionar como preposições):
salvo, exceto, mediante, durante, consoante, não obstante, tirante, conforme,
segundo, etc.

9- conjunção – palavra que inter-relaciona as orações; exceto a conjunção


integrante, todas as outras trazem algum significado (tempo, oposição, condição,
conclusão, concessão...); forma locução (uma vez que, visto que, a fim de que,
apesar de que, à medida que, etc.);

10- interjeição – palavra que representa as reações emocionais e súbita: ah!,


oh!, oba!, eia!, bis!, viva!, ai!, ui!

31
Na sequência, em capítulos especiais, teremos algumas classes estudadas com
mais detalhes devido à incidência na prova: verbo, pronome pessoal, pronome
relativo, conjunção. É claro que o verbo tem destaque especial, pois seu estudo
será muito importante na morfologia e na sintaxe.

Como se notará, há classes que devem fazer parte de nosso conhecimento


geral, mas sem um estudo metódico e contínuo, pois têm baixa incidência
(numeral e interjeição, por exemplo); há outras, porém, que atuam ativamente
em determinados temas (o uso do artigo e da preposição no tema crase, por
exemplo).

O importante é ter em mente que morfologia e sintaxe precisam criar ajuda


mútua de acordo com a demanda e essa parceria será decisiva para uma
evolução sadia na aprendizagem gramatical. A soma dessas duas partes forma
a morfossintaxe, classificação que exige um olhar que ora pende de um lado, ora
pende do outro, mas sempre em benefício do conjunto.

Quando no pronome pessoal (morfologia) você estudar que o caso reto é o caso
do sujeito (sintaxe) e na crase (sintaxe) estudar que ela decorre da junção de
artigo e preposição (morfologia), logo entenderá que a morfossintaxe não é uma
possibilidade, mas sim uma necessidade no caminho da aprendizagem.

Seus estudos gramaticais devem se concentrar quase sempre na sintaxe. A


parte morfológica (salvo a morfologia verbal) vai se assemelhando à pratica de ir
ao dicionário para entender um significado. De acordo com a necessidade que
cada tema exigir, aproxime a morfologia à sintaxe. Os próximos tópicos trazem
uma visão geral, com destaque para aquilo que seja relevante para seu

32
concurso. Trata-se de uma amostragem que deve ser revisitada de acordo com
a necessidade.

3.4. Substantivo

3.4.1. Definição

Palavra que nomeia os seres concretos (árvore, livro, pedra), bem como designa
coisas abstratas engendradas pela reflexão e pela abstração do ser humano
(amor, saudade, beleza, razão). Varia em gênero (menino, menina), número
(meninos) e grau (menininho, meninão). Por derivação imprópria, uma palavra
antecedida de artigo passa a ser substantivo (o não, o viver, o porquê, o saber).

Entre os substantivos, há os chamados substantivos coletivos, que designam um


conjunto de seres ou coisas. Exemplos: arquipélago (ilhas), alcateia (lobos),
constelação (estrelas), colmeia (abelhas), molho (chaves), concílio (bispos).

3.4.2. Classificação

O substantivo pode ser classificado em:

. comum – designa a espécie: cidade, pessoa


. próprio – designa o indivíduo da espécie: São Paulo, José

. concreto – designa ser, real ou fictício de existência independente: homem,


Vênus, Deus, alma, mula sem cabeça, fantasma

33
. abstrato – designa sensações, estados, ações, qualidades; não existe por si
só e depende de outro ser para se manifestar : coragem, bondade, viuvez,
ameaça, vingança

. primitivo – não deriva de outra palavra, ela é a origem: pedra


. derivado – deriva de outra palavra: pedreira, pedrada

. simples – formado por um só radical: cachorro, vale


. composto – formado por mais de um radical: cachorro-quente, vale-refeição

3.4.3. Morfossintaxe do substantivo

Artigos, adjetivos, numerais e pronomes são classes que possuem relação de


dependência do substantivo. Em geral, este é o núcleo; aqueles o acompanham:
o livro, livro novo, dois livros, meu livro. É claro que há os que substituem o
substantivo, como os pronomes pessoais e pronomes relativos.
Na gramática, o substantivo e o verbo ocupam papel de destaque, tornando-se
referência para inúmeras classificações e capítulos: complemento nominal /
complemento verbal; adjunto adnominal / adjunto adverbial; concordância
nominal / concordância verbal; regência nominal / regência verbal.
O substantivo ocupa o núcleo de quase todas as funções sintáticas.
a) sujeito: A vítima esteve aqui.
b) predicativo do sujeito: Ele é a vítima.
c) predicativo do objeto: Não a chamaremos de vítima.
d) objeto direto: Vimos a vítima.
e) objeto indireto: Concordaram com a vítima.
f) complemento nominal: Todos entenderam a intenção da vítima.

34
g) agente da passiva: Aquilo foi feito pela vítima.
h) adjunto adnominal (formado por locução): A opinião da vítima era esperada.
i) adjunto adverbial (formado por locução): As marcas permaneceram na vítima.
j) aposto: Ele, a vítima, veio até aqui.
k) vocativo: Vítima, pedimos sua opinião.

3.5. Adjetivo

3.5.1. Definição

Palavra ou locução que modifica o substantivo, dando-lhe características,


qualidades, estados ou relações: cabelos longos, criança bonita, pessoa atenta,
língua portuguesa.

O adjetivo varia em:


a) gênero – novo, nova
b) número – novos, novas
c) grau – mais novo, menos novo, novíssimo

3.5.2. Classificação

O adjetivo pode ser classificado em:

. explicativo – indica algo essencial, próprio do ser: homem mortal, pedra dura.
. restritivo – indica algo acidental, ocasional, limitando-o e particularizando-o:
gelo grande, água quente.
. primitivo – é o que dá origem a outras palavras : grande, pequeno, novo, velho;

35
. derivado – forma-se com o acréscimo de um sufixo: gostoso, brasileiro,
burguês, amável;
. simples – é formado por apenas um elemento: surdo, hilariante, histórico;
. composto – é formado por mais de um elemento: surdo-mudo,
latino-americano, cor-de-rosa;
. uniforme – uma única forma para o masculino e para o feminino: menino
obediente, menina obediente; bolo doce, comida doce;
. biforme – há formas distintas para cada um dos gêneros: menino estudioso,
menina estudiosa; dia lindo, noite linda;
. pátrio – indica a nacionalidade ou o lugar de origem. Exemplos: Brasil /
brasileiro, Espírito Santo / capixaba, Salvador / soteropolitano, Três Corações
(MG) / tricordiano.

Ocorre também a formação de locuções adjetivas, que são expressões


compostas geralmente por preposição + substantivo e que se equivalem à
função de um adjetivo: livro de história, viagem de férias, programa da hora,
homem de bem. Em algumas situações, há correspondência entre a locução
adjetiva e uma forma simples: vida de rei / vida régia, aves da noite / aves
noturnas, luz do sol / luz solar, área de guerra / área bélica.

3.5.3. Morfossintaxe do adjetivo

O adjetivo dentro de uma oração pode exercer uma das seguintes funções:
adjunto adnominal, predicativo do sujeito ou predicativo do objeto.

As grandes ideias nacionais merecem divulgação urgente.


adjunto adjunto adjunto
adnominal adnominal adnominal

36
Eles continuam felizes.
predicativo do sujeito

A corte o julgou culpado.


predicativo do objeto

3.6. Pronome

3.6.1. Classificação

Os pronomes podem ser classificados em pessoal, de tratamento,


demonstrativo, possessivo, interrogativo, indefinido e relativo.

Eles mantêm duas relações com os substantivos:


. substituem o substantivo: O livro é antigo, mas ele trouxe novidades e já o li.
. determinam o substantivo: este livro, algum livro, nosso livro, muitos livros.

Com base nessa relação com o substantivo, os estudiosos também classificam


os pronomes em:
. pronomes substantivos, os que substituem o substantivo;
. pronomes adjetivos, os que determinam o substantivo.

É claro que tal classificação consiste apenas em uma generalização de como os


pronomes funcionam em relação aos nomes, ou seja, não se observa o sentido,
mas apenas o vínculo.

37
3.6.2. Morfossintaxe do pronome

Ao se vincular a um substantivo, funcionará como adjunto adnominal:

Seu livro trouxe esta boa ideia. Qualquer livro traz algum valor.
adjunto adjunto adjunto adjunto
adnominal adnominal adnominal adnominal

Ao substituir um substantivo, poderá exercer todas as funções que um


substantivo exerce. Observe alguns exemplos:
Ela já chegou. Vi tudo! A saída é aquela.
sujeito objeto direto predicativo do sujeito

Comprei o livro do qual você precisa. Fomos fiéis a todos.


objeto indireto complemento nominal

3.6.3. Pronome pessoal

Os pronomes pessoais constituem as pessoas do discurso, organizando o ato


comunicacional ao estabelecer a relação entre falante, ouvinte e assunto, isto
é, quem fala, com quem fala e do que se fala.

1.ª pessoa 2.ª pessoa 3.ª pessoa

falante ouvinte assunto

eu – nós tu – vós ele(s) – ela(s)

38
Na aprendizagem de um idioma estrangeiro, essa é uma das primeiras noções
fundamentais para entendê-lo, ou seja, como os pronomes pessoais funcionam
na interação comunicativa.

No caso do português do Brasil, além dos pronomes pessoais, o brasileiro vem


criando formas substitutas: o tu e o vós são substituídos pelos pronomes de
tratamento você e vocês; o nós, pela expressão a gente. Essa simplificação
acaba por concentrar a conjugação verbal na primeira pessoa do singular (eu) e
na terceira pessoa (ele(s), você(s), a gente). Tal fenômeno diminui o trabalho de
flexão verbal ao mesmo tempo em que mantém as três pessoas do discurso.

Não há dúvida de que o estudo do idioma avança além do contemporâneo e se


abastece também em sua história, mas é bastante contrastante, por exemplo, o
que se estuda e o que se pratica:

Português estudado Português praticado


eu vou eu vou
tu vais você vai
ele vai ele vai
nós vamos a gente vai
vós ides você vão
eles vão eles vão
= 6 formas verbais distintas = 3 formas verbais distintas

39
▪ Pronome de tratamento

É importante ter algumas noções sobre os pronomes de tratamento: você,


Senhor, Senhora, Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Santidade, entre
outros. A aplicação de tais pronomes leva em conta, essencialmente, a tradição,
pois a maioria deles refere-se a títulos ou cargos relacionados à nobreza, ao
clérigo e às autoridades públicas.

Os pronomes de tratamento, em geral, marcam uso muito formal e cerimonioso.


A exceção cabe ao você, que se tornou no Brasil a mais informal entre as formas
de tratamento e surgiu da seguinte evolução: Vossa Mercê => vosmicê => você.

▪ Concordância dos pronomes de tratamento

Todos os pronomes de tratamento exigem concordância verbal na terceira


pessoa:

Vossa Senhoria trouxe os livros? Vossa Alteza receberá o ministro.

verbo na verbo na
3ª pessoa 3ª pessoa

Também os pronomes pessoais e possessivos exigidos são os da terceira


pessoa:

40
Você chegou e todos o viram. Vossa Excelência trouxe sua colaboração.

pronome pronome
na 3ª pessoa na 3ª pessoa

Quanto à concordância nominal, o pronome de tratamento vai exigir a flexão de


acordo com o gênero da pessoa.

- Dirigindo-se a um homem: Vossa Excelência está curado. Vossa Senhoria


quer aguardar sentado.

- Dirigindo-se a uma mulher: Vossa Excelência está curada. Vossa Senhoria


quer aguardar sentada.

Os pronomes pessoais serão retomados mais à frente, após o estudo da


regência, pois o funcionamento sintático é determinante para entender as formas
pronominais. Usar eu ou mim, por exemplo, depende da função sintática. Entres
as classes gramaticais, nenhuma tem tamanho impacto entre forma e função.
Observe:

O homem chegou. / Ele chegou.


nome pronome pessoal

Vi o homem. / Vi-o.
nome pronome pessoal

Enviei o documento ao homem. / Enviei-lhe o documento.


nome pronome pessoal

41
O substantivo (nome) homem tem a mesma forma em todas as funções,
mas o pronome pessoal muda de forma de acordo com a função. Em breve,
voltaremos ao tema.

3.6.4. Pronome possessivo

São palavras que indicam ao mesmo tempo a coisa possuída e o possuidor. São
eles:

1.ª pessoa: meu(s), minha(s) / nosso(s), nossa(s)


2.ª pessoa: teus(s), tua(s) / vosso(s), vossa(s)
3.ª pessoa: seu(s), sua(s)

Com os possessivos “seu(s), sua(s)” pode ocorrer ambiguidade em


determinadas situações, pois são usados tanto para a terceira pessoa (ele, ela,
eles, elas) quanto para os pronomes de tratamento (você, Vossa Senhoria,
senhor, etc.): A esposa do senhor veio com o seu carro (De quem é o carro?).
Para contornar a confusão, usa-se dele(s), dela(s) e formas similares: A esposa
do senhor veio com o carro dela.

Os pronomes pessoais átonos me, te, se, nos, vos, lhe(s) também podem ser
usados com sentido possessivo (em tal situação, esses pronomes funcionam
como adjunto adnominal): Rasgou-me a camisa = Rasgou a minha camisa.
Beijei-lhe a face = Beijei a sua face.

42
3.6.5. Pronome indefinido

São palavras que dão sentido vago, indeterminando o ser ou a quantidade, e


sempre usadas na terceira pessoa. São eles:
alguém ninguém tudo nada algo
outrem quem nenhum outro um
certo qualquer algum cada mais
menos pouco todo algum tanto
quanto vários diversos

Observe algumas informações importantes sobre os pronomes indefinidos:

. Algum – anteposto ao substantivo, tem sentido afirmativo; posposto, assume


sentido negativo: Algum amigo me escreveu. Amigo algum me escreveu.

. Certo – só é pronome indefinido quando antecede os substantivos (posposto,


torna-se um adjetivo): certa pessoa ≠ pessoa certa.

. Todo – se à sua frente aparece artigo, indica inteiro, completo; na ausência de


artigo, indica indefinição, qualquer: Li todo o livro (inteiro). Li todo livro
(qualquer). No plural, usa-se sempre o artigo: Todas as pessoas vieram.

. Qualquer – é a única palavra na língua portuguesa que apresenta plural


medial: qualquer trabalho; quaisquer trabalhos.

Os pronomes indefinidos formam locuções:


. Cada qual (= cada um)

43
. Tal ou qual (= um qualquer)
. Quem quer que (= qualquer pessoa que)
. Seja quem for (= qualquer que seja a pessoa)
. Seja qual for (= qualquer que seja a coisa)

3.6.6. Pronome demonstrativo

Os demonstrativos têm por função situar os seres e as coisas no tempo, no


espaço e no próprio texto.

▪ Tempo

. este(s), esta(s), isto – referem-se ao tempo presente do enunciador:


As inscrições encerram-se nesta semana.
Faço aniversário neste mês.

. esse(s), essa(s), isso – referem-se ao passado ou futuro recentes do


enunciador:
Meu irmão deverá vir por esses dias aqui. (futuro próximo)
Recebi muita ajuda nesses dias em que fiquei doente. (passado próximo)

. aquele(s), aquela(s), aquilo – referem-se ao passado ou futuro distantes do


enunciador:
Naquele tempo, não havia televisão. (passado distante).

44
▪ Espaço

Para entender a articulação dos demonstrativos em relação ao lugar, deve-se


pensar na proximidade dos objetos em relação às pessoas do discurso:

▪ perto da pessoa que fala ou escreve: este, esta, isto

▪ perto da pessoa que ouve ou lê: esse, essa, isso

▪ distante de ambos: aquele, aquela, aquilo

Eu sinto esta dor no pé há uma semana. (a dor está em quem fala)


Estes meus cabelos estão me dando vergonha. (os cabelos estão em quem fala)
Pegue essa camisa aí do seu lado. (a camisa está perto do ouvinte)
Orgulho-me desse seu sorriso. (o sorriso está no ouvinte)
Não vimos passar aquele avião. (o avião está distante de ambos, do falante e do
ouvinte)
Ficaremos aqui, pois naquela sala acontecerá alguma coisa. (a sala está
distante de ambos)

▪ Texto

Os pronomes demonstrativos podem retomar a informação já enunciada ou


introduzir a informação nova. Tal relação assim se classifica:

45
▪ anáfora – indica retomada de uma informação, é um movimento para trás
(Ele resolveu participar do grupo e essa decisão agradou a todos).

▪ catáfora – indica progressão da informação, é um movimento para a frente


(O problema era este: a dependência tecnológica).

Diante desses dois movimentos (de retomada e de progressão), observe as


possibilidades de uso dos demonstrativos com a finalidade de referir-se às
informações do próprio texto:

1a. situação – usa-se esse, essa, isso para retomar uma informação:
Havia muita gente na reunião e, por isso, ela foi transferida.
Várias pessoas estavam atrasadas e foi essa a razão da espera.

2a. situação – quando se vai referir a uma informação que ainda vai ser
enunciada, usa-se este, esta, isto:
A solução para o problema foi esta: fizeram um acordo.
Estes são os principais problemas: inflação e reajustes.

3a. situação – quando há dois termos e retoma-se cada um dos termos, usa-se
este, esta, isto para o mais próximo e aquele, aquela, aquilo para o mais
distante:
Havia laranja e uva e todos preferiram esta fruta.
Falaram sobre Camões e Dante: este escreveu a Divina Comédia; aquele, os
Lusíadas.
Visitamos vários países: Uruguai, Chile e Argentina. Neste país, ficamos
encantados com a sua capital.

46
47
SÍNTESE

REFERÊNCIA NO TEMPO
este(s), esta(s), isto Indica o tempo presente de quem está falando
ou escrevendo.

esse(s), essa(s), isso Indica o passado ou futuro próximos de quem


está falando ou escrevendo.

aquele(s), aquela(s), aquilo Indica o passado ou futuro distantes de quem


está falando ou escrevendo.

REFERÊNCIA NO ESPAÇO
este(s), esta(s), isto Indica que o objeto está próximo de quem
está falando ou escrevendo.

esse(s), essa(s), isso Indica que o objeto está próximo de quem


está ouvindo ou lendo.

aquele(s), aquela(s), aquilo Indica que o objeto está distante das pessoas
que participam do ato comunicativo.

48
REFERÊNCIA NO TEXTO
esse(s), essa(s), isso Retoma a informação o texto.

este(s), esta(s), isto Projeta a informação nova no texto.

Neste uso particular, o pronome este


este(s), esta(s), isto; (e variações) retoma o elemento mais
aquele(s), aquela(s), aquilo próximo e o pronome aquele (e variações)
retoma o elemento mais distante.

3.6.7. Pronome relativo

3.6.7.1. Definição

É um elemento gramatical que tem duas funções: ligar as orações (é conectivo)


e substituir um antecedente expresso na oração anterior. São pronomes
relativos: que, o qual, quem, cujo e onde. A principal marca de distinção de todo
pronome relativo é a necessidade de retomar um antecedente.

3.6.7.2. Tipos

Os principais pronomes relativos são:

49
O mais comum entre Foi boa a ideia que você nos
QUE todos, retoma coisa deu.
ou pessoa; não varia. Conheci o aluno que tirou
dez na prova.

Retoma coisa ou Conheci a pessoa com a


pessoa; muitas qual ele se casou.
vezes, pode evitar Li o livro do qual você gosta.
O QUAL, A QUAL, ambiguidades em
OS QUAIS, AS QUAIS relação à retomada, A decisão dos alunos, a qual
graças às marcas de todos já conheciam, não foi
gênero e número. aprovada.

QUEM Retoma apenas Fui apresentado à pessoa a


pessoa. quem você se referiu.

CUJO, CUJA, Vincula dois Há regras cuja aplicação


CUJOS, CUJAS substantivos, nem sempre é viável.
dando-lhes uma Assisti ao filme cuja história
relação de posse. muito me surpreendeu.

ONDE Só retoma a ideia de Fui à cidade onde ele


lugar. nasceu.

Saber usar o pronome relativo passa pelo conhecimento da sintaxe e, por isso,
seu estudo será aprofundado mais à frente, em um capítulo particular, mas fica
aqui o alerta: é uma aprendizagem indispensável. Ele estende uma rede de
participações diretas e indiretas em vários pontos gramaticais: interpretação,
vírgula, concordância, preposicionamento, substituição, crase, classificação...

50
Criar habilidades no uso de o qual, cujo, onde, quem, que é um dos ápices da
sua preparação. Dê muita atenção ao pronome relativo.

3.7. Advérbio

3.7.1. Definição

O advérbio é uma palavra ou expressão que essencialmente modifica o verbo,


indicando-lhe circunstâncias.

agora.
aqui.
Chegaram rapidamente.
bem.
cedo.

É uma classe invariável, portanto não traz concordância de gênero nem de


número: Noite meio fria. Pessoas muito felizes. Alguns advérbios (geralmente
os de intensidade) também podem modificar os adjetivos (a) e também os
próprios advérbios (b). Há os que modificam uma oração toda (c):
a) Pessoas muito altas. Criança meio cansada.
b) Choveu muito rapidamente. Acordou meio cedo.
c) Felizmente eles chegaram.

3.7.2. Locuções adverbiais

51
Há a formação das locuções adverbiais, que são expressões compostas por
duas palavras ou mais e se equivalem à função de um advérbio.
nesta fábrica (onde? => lugar)
de manhã (quando? => tempo)
Trabalhou a contento (como? => modo)
por necessidade (por quê? => causa)
para o fim do conflito (para quê? => finalidade)

3.7.3. Classificação

Os principais advérbios e locuções adverbiais são os que indicam:

• afirmação: Sim, absolutamente;


• assunto: Falavam sobre política;
• causa: Morreram de medo;
• companhia: O pai chegou com os filhos;
• concessão: Aceitaram apesar da chantagem;
• condição: Sem vontade não vencerão;
• conformidade: Pagou conforme o combinado;
• finalidade: Preparou-se para a prova final;
• instrumento: Sempre pintava a óleo;
• intensidade: Eles dormiram muito;
• lugar – destino: Vou para a Índia
– direção: Apontou para o alto
– limite: O avião vai até Paris

52
– origem: Venho da cidade
– situação: Moro em casa
– passagem: Iremos pela ponte
• matéria: O anel foi feito de ouro;
• meio: Voltarão de trem;
• modo: Escrevem rapidamente;
• negação: Não foi uma boa ideia;
• oposição: Fizeram tudo contra nós;
• quantidade: Ele já nasceu três vezes;
• tempo: Chegaram ontem.

3.7.4. Morfossintaxe do advérbio

O advérbio e a locução adverbial, quanto à função sintática, são classificados de


adjunto adverbial.
classificação morfológica classificação sintática
À noite, ele nos falou rapidamente. À noite, ele falou rapidamente.
locução advérbio adjunto adjunto
adverbial adverbial adverbial

3.8. Preposição

A preposição é uma classe invariável e tem por função ligar as palavras,


estabelecendo entre elas um vínculo de subordinação. Ela normalmente atua:

53
a) na formação das locuções: em frente de, de costas, a pé, com fome, em pé,
a respeito de, a rigor, etc.;

b) na vinculação entre vários termos da oração: precisar de livros, obediente


ao regulamento, feito por ele, casa de papel, concordar com ele, crença em
mudanças, etc.;

c) em certas orações reduzidas: ao reconhecer o erro, soube ser humilde; ao


amanhecer, eles saíram; em se analisando o problema, haverá soluções, etc.

Se em relação à morfologia a preposição é invariável, nos estudos da sintaxe, a


preposição assumirá um papel muito importante em vários momentos. Logo se
perceberá que ela é uma ferramenta nova e muito produtiva dentro de nossas
(novas) competências de análise e controle de regras. Muitas vezes, não
avançamos na matéria por falta de elementos que contribuam para a evolução
de nossas destrezas. Não tenha dúvida de que a preposição tem esse papel
muito importante. Principalmente a preposição A.

As preposições possuem uma divisão: essenciais e acidentais. As palavras


que funcionam exclusivamente como preposição são classificadas como
preposições essenciais. São elas: a, ante, após, até, com, contra, de, desde,
em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás. Já as acidentais pertencem
a outras classes, mas eventualmente funcionam como preposição: afora (ou
fora), como (= na qualidade de), conforme, consoante, durante, exceto,
mediante, menos, salvo, segundo, tirante, etc.

54
Observação – Os pronomes oblíquos tônicos são usados sempre com as
preposições essenciais: de mim, a ti, por si, ante mim, em si, perante mim, etc.;
já as preposições acidentais são usadas com os pronomes do caso reto, o que
reforça a excepcionalidade desta classificação: exceto eu, fora nós, menos tu.

3.8.1. Locuções prepositivas

Há a formação das locuções prepositivas: expressão com duas ou mais palavras


terminada com uma preposição essencial. Exemplos:

abaixo de acima de à custa de


a fim de antes de através de
à volta com de acordo com debaixo de
devido a diante de em face de
em via de graças a junto a
junto com por baixo de por cima de

Observação – As locuções prepositivas são de fácil identificação, pois sempre


formam uma expressão com duas ou mais palavras terminada com uma
preposição essencial (geralmente de, a ou com).

3.8.2. Sentido das preposições

55
Há algumas preposições que são vazias de significação, algo que se perdeu na
evolução do idioma. Quando dizemos “preciso de você”, há apenas o vínculo
produzido pela preposição, sem criar uma significação; mas, quando dizemos
“vim de Salvador”, o sentido de origem do deslocamento é bastante perceptível.
Assim, não é em toda relação que a preposição trará significado. Observe
alguns exemplos:

Sentou-se à mesa. (proximidade) Morreu de fome. (causa)


Fechado para balanço. (finalidade) Fui com você. (companhia)
A carta estava no bolso. (lugar)

Desse aspecto nasce uma distinção teórica importante:

- preposições relacionais: não trazem um valor semântico, apenas vinculam,


subordinam; são em geral exigidas por um termo regente e, por isso, atuam nas
regências nomina e verbal; exemplos: gostar do livro, necessitar do estudo,
acreditar na paz, optar pela liberdade; fidelidade ao país, respeito ao próximo...

- preposições nocionais: trazem uma noção (por isso, nocional), um sentido,


têm valor semântico (posse, lugar, finalidade, causa...; exemplos: ir pela estrada,
ir à estrada, ir para a cadeia, ir com você, ir de carro...

3.8.3. Morfossintaxe da preposição

Quanto à função sintática, a preposição não recebe uma classificação


específica, pois sempre estará em conjunto, fazendo parte de um termo.
Objeto indireto: Falou de José.
Agente da passiva: Foi feito por José.

56
Complemento nominal: Houve obediência a José.
Adjunto adverbial: Eles vieram com José.
Adjunto adnominal: Ainda não recebemos os documentos de José.

3.9. Conjunção

Tema muito importante por causa da recorrência na prova. É invariável e, em


geral, traz um valor semântico (conclusão, tempo, condição, explicação,
finalidade, etc.). Há também a formação de conjuntos de palavras que possuem
o mesmo valor das conjunções. São as locuções conjuntivas. Enquanto a
conjunção é formada por uma palavra, as locuções têm duas ou mais palavras e
normalmente são finalizadas pela palavra “que”. Exemplos: à medida que, para
que, visto que, uma vez que, desde que, à proporção que, etc. São classificadas
em: coordenativas e subordinativas.

As conjunções não exercem função sintática, mas são muito importantes para a
classificação das orações. Esse estudo será feito mais à frente, pois dominar a
classificação das conjunções (morfologia) permitirá um acesso tranquilo à
classificação das orações (sintaxe). Por exemplo:

Morfologia Sintaxe
porém Ele foi bem na prova, porém não soube todas.
conjunção adversativa oração coordenada sindética adversativa

embora Embora chovesse, o jogo não foi adiado.


conjunção concessiva oração subordinada adverbial concessiva

57
3.9.1. Classificação

Como as conjunções são determinantes para a classificação das orações


coordenadas e subordinadas, já se faz a divisão com tal perspectiva.

3.9.1.1. Conjunções coordenativas

Aditiva e, nem, bem como, (não só) mas também, (não só) como
também

Alternativa ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, já...já, nem...nem

Adversativa mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, e


(=mas)

Explicativa pois, que, porque, porquanto

Conclusiva portanto, logo, pois (deslocada), então, assim, por


conseguinte, por isso

3.9.1.2. Conjunções subordinativas

Causal porque, porquanto, como (= porque), já que, uma vez que,


visto que, dado que, na medida em que

Comparativa que e do que (antecedidos por mais, menos, maior, menor,


melhor, pior), qual (depois de tal), como

58
Concessiva embora, conquanto, posto que, ainda que, apesar de que,
mesmo que, nem que, se bem que, por mais que, por muito
que, por menos que, não obstante

Condicional se, caso, contanto que, a não ser que, sem que, salvo se,
exceto se, a menos que, desde que

Conformativa conforme, como (= conforme), segundo, consoante

Consecutiva que (antecedido por tal, tanto, tão, tamanho), de modo que,
de sorte que, de maneira que, a tal ponto que

Final a fim de que, para que

Proporcional à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto


mais.(tanto mais)

Temporal quando, sempre que, logo que, antes que, depois que, assim
que, enquanto, mal, todas as vezes que, cada vez que, até
que, desde que

3.9.2. Morfossintaxe da conjunção

Quanto à função sintática, a conjunção não recebe uma classificação específica.


Ela é relevante na conexão entre as orações e, por consequência, influi
diretamente na classificação das orações. Esse estudo será feito mais à frente.

3.10. Uma palavra, mais de uma classificação

59
Um capítulo à parte é o reconhecimento de que há algumas palavras e
expressões que aceitam mais de uma classificação. Como as provas de
concurso público sempre buscam novidades e surpresas, é fundamental
precaver-se.

Os elementos analisados a seguir poderiam estar dispersos nos capítulos


anteriores, o que, para o nosso estudo, não é produtivo. A seleção a seguir deve
ser estudada em várias fases de sua preparação, ou seja, fará mais sentido e
terá mais consistência à medida que houver evolução no processo de
aprendizagem.

MUITO

▪ O advérbio muito modifica:

. verbo - Ele estudou muito.


verbo + advérbio

. adjetivo - Ele era uma pessoa muito feliz.


advérbio + adjetivo

. próprio advérbio - Ele acorda muito cedo.


advérbio + advérbio

▪ O pronome indefinido muito vincula-se ao substantivo:

60
muito tempo muita gente
pronome + substantivo pronome + substantivo
indefinido indefinido

muitos livros muitas revistas


pronome + substantivo pronome + substantivo
indefinido indefinido

BASTANTE

▪ O advérbio bastante modifica:

. verbo - Ele leu bastante.


verbo + advérbio

. adjetivo - Eles eram bastante rápidos.


advérbio + adjetivo

. próprio advérbio - Ele falava bastante enfaticamente.


advérbio + advérbio

▪ O pronome indefinido bastante vincula-se ao substantivo:

61
bastante paciência bastantes livros
pronome + substantivo pronome + substantivo
indefinido indefinido

▪ O adjetivo bastante vincula-se ao substantivo:

Já temos provas bastantes para condená-lo.


substantivo + adjetivo

MEIO
▪ O advérbio meio modifica:

. adjetivo - Ela estava meio nervosa.


advérbio + adjetivo

. próprio advérbio - Eles escreveram meio rapidamente.


advérbio + advérbio

▪ O numeral meio vincula-se ao substantivo:

Já se passou meio mês Já se passou meia hora.


numeral + substantivo numeral + substantivo

62
MENOS / MAIS

▪ O advérbio menos / mais modifica:

. verbo – Hoje li mais / menos.


verbo + advérbio

. adjetivo – Ele ficou mais / menos forte.


advérbio + adjetivo

▪ O pronome indefinido menos / mais vincula-se ao substantivo:

Havia menos barulho. Havia mais alegria.


pronome + substantivo pronome + substantivo
indefinido indefinido

CERTO

▪ Quando anteposto ao substantivo, certo é pronome indefinido:

Conheci hoje certa pessoa.


pronome + substantivo
indefinido

▪ Quando posposto ao substantivo, certo é adjetivo:

63
Conheci hoje a pessoa certa.
substantivo + adjetivo

MELHOR

▪ O advérbio melhor modifica:

. verbo – Hoje fiz melhor que ontem.


verbo + advérbio

● O adjetivo melhor vincula-se ao substantivo:

Estamos no melhor hotel.


adjetivo + substantivo

UM, UMA, UNS, UMAS

▪ Os artigos definidos um, uma, uns, umas vinculam-se a um


substantivo:

Vimos uns livros. Comprei uma caneta.


artigo + substantivo artigo + substantivo

64
▪ As palavras um, uma, uns, umas podem ser usadas como pronomes
indefinidos; em geral, substituem o substantivo e funcionam em correlação
com a palavra outro (e variações):

Vimos umas, não todas. Uns falam, outros se calam.

▪ As palavras um, uma ainda podem atuar como numerais:

Vendi só uma caneta. Havia muitos, mas pegou apenas um livro.

Observação – Nem sempre a distinção entre numeral e artigo um / uma é


possível fazer. Palavras como “só”, “somente”, “apenas” reforçam a intenção de
usar numeral. Há também algumas construções em que a marca de numeral é
evidente: Ganhar um salário mínimo. Conheci essa cidade há um ano. Correu
um quilômetro. Ganhou um milhão de reais.

O, A, OS, AS
▪ Os artigos definidos o, a, os, as vinculam-se a um substantivo:

Vimos os livros. Comprei a caneta.


artigo + substantivo artigo + substantivo

▪ Os pronomes demonstrativos o, a, os, as não se vinculam a um


substantivo, geralmente trazem uma palavra implícita e podem ser
trocados por aquele (e variações):

65
O que aconteceu é grave. Vimos o que você fez.
(O = Aquilo) (o = aquilo)

Esqueci de trazer a caneta, mas usei a que estava guardada na gaveta.


(a = aquela)

Eles viram o livro novo, mas querem o que você leu.


(o = aquele)

Observação – Como se observa no último exemplo, o trecho “a caneta” traz o


artigo definido “a”; já em “a que estava”, temos pronome demonstrativo “a”.
É interessante notar que a diferença, nesse caso, é o uso ou omissão do
substantivo “caneta”. Parecidos, mas com uso diferente. Observe:

Esqueci de trazer a caneta, mas usei a que estava guardada na gaveta.

É artigo definido, pois É pronome demonstrativo, não vem


determina um substantivo. com substantivo e pode ser trocado por
“aquela”.

▪ os pronomes pessoais o, a, os, as vinculam-se sempre a um verbo e


funcionam como complementos verbais:

Sobre o livro, ontem o comprei e hoje já o li.

Observação – É bastante evidente que, para as distinções serem produtivas,


entram em jogo muitas habilidades gramaticais, muitas delas oriundas da

66
sintaxe. Merece destaque a palavra “a”, que pode ser artigo, pronome
demonstrativo, pronome pessoal e ainda preposição. Aliás, a preposição “a” é
uma das peças decisivas para o entendimento de muitos aspectos complexos de
nosso idioma. Quando estudar crase, perceberá isso.

A presente seleção poderia trazer inúmeras palavras que possuem mais de uma
classificação, mas já se pode perceber que isso é mais constante do que
esperávamos e a melhor saída é aprender a conviver com isso. Em vez de
estudar todas as palavras com essas características (seria isso possível?), há
dois focos importantes:

- relevância: procure estudar as que têm recorrência na prova;

- utilidade: procure estudar as que contribuem para sua evolução no


entendimento do idioma.

67
⮚ CAPÍTULO 4 – MORFOLOGIA VERBAL

4.1. Introdução

Entre os temas gramaticais, talvez seja este o mais complexo. Há informações


práticas (como a flexão correta do verbo) e teóricas (classificações de tempos e
modos). Devido à riqueza própria do tema, selecionar o que se vai estudar é
fundamental.

Para quem está iniciando os estudos, a flexão verbal traz aspectos teóricos
bastante desafiadores, pois tudo é abundante e, assim, um dos segredos é
saber caminhar dentro do tema. Como há vários aspectos em jogo
(classificação, irregularidade, sentido...), estude um item por vez.

4.2. Classificação de tempos e modos

Serão usados três verbos regulares: estudar, vender e partir. Também será
conjugada só a primeira pessoa do singular, pois o “eu” tem um poder de
ancoragem muito importante, já que ajuda a remeter às demais pessoas do
tempo. Trata-se de uma estratégia de “busca” na memória muito frutífera desse
que treinada. No decorrer dos estudos, essas classificações serão retomadas
com enfoque distinto (acentuação, irregularidade, sentido...). O intuito, portanto,
é ter um primeiro contato do conjunto a ser estudado, além de aguçar nossa
memória na relação forma verbal e classificação.

Tempos simples

. presente do indicativo: eu estudo... / eu vendo... / eu parto...

68
. pretérito perfeito do indicativo: eu estudei... / eu vendi... / eu parti...

. pretérito imperfeito do indicativo: eu estudava... / eu vendia... / eu partia...

. pretérito mais-que-perf. do ind.: eu estudara... / eu vendera... / eu partira...

. futuro do presente do indicativo: eu estudarei... / eu venderei... / eu partirei...

. futuro do pretérito do indicativo: eu estudaria... / eu venderia... / eu partiria...

. presente do subjuntivo: que eu estude... / que eu venda... / que eu parta...

. pretérito imp. do subj.: se eu estudasse.../ se eu vendesse.../ se eu partisse...

. futuro do subj.: quando eu estudar... / quando eu vender... / quando eu partir

Formas Nominais

. infinitivo: estudar / vender / partir

. particípio: estudado / vendido / partido

. gerúndio: estudando / vendendo / partindo

Tempos Compostos

69
. pretérito perfeito do indicativo composto: eu tenho estudado...

. pretérito mais-que-perfeito do indicativo composto: eu tinha estudado...

. futuro do presente do indicativo composto: eu terei estudado...

. futuro do pretérito do indicativo composto: eu teria estudado...

. pretérito perfeito do subjuntivo: que eu tenha estudado...

. pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo: se eu tivesse estudado...

. futuro do subjuntivo composto: quando eu tiver estudado...

Uma boa forma de começar a treinar a classificação dos tempos e modos é


flexionando o “eu” de cada tempo. Faça o treino inicialmente no indicativo e
depois some o subjuntivo. Por que flexionar o “eu”? Faz parte de nossa
experiência escolar flexionar sempre se iniciando pela primeira pessoa: eu, tu,
ele, nós, vós, eles...eu, tu, ele, nós... Pense que, acertando o “eu”, você aumenta
a chance de acertar as demais pessoas. Além disso, a “árvore” dos tempos e
modos é simples, dinâmica e traz resultados rápidos. Treine!

Tempos Simples do Indicativo

PRESENTE
Eu estudo

70
PRETÉRITO FUTURO
perfeito: Eu estudei do presente: Eu estudarei
imperfeito: Eu estudava do pretérito: Eu estudaria
mais-que-perfeito: Eu estudara

PRESENTE
Eu vivo
PRETÉRITO FUTURO
perfeito: Eu vivi do presente: Eu viverei
imperfeito: Eu vivia do pretérito: Eu viveria
mais-que-perfeito: Eu vivera

Após alguns treinos nesta ordem, o nome dos tempos ficará familiar; o próximo
passo é variar os verbos. Perceba que ter em mente essa fluidez cria um
pequeno domínio: estudo, estudei, estudava, estudara, estudarei, estudaria;
vivo, vivi, vivia, vivera, viverei, viveria...

Quanto mais se treina, mais se nota a repetição estrutural dos regulares. É a


hora de treinar os irregulares: ser, estar, ir, vir, ver, ter, pôr, caber, dizer, fazer,
haver, entreter, intervir, requerer, querer, saber... Com a evolução do treino,
conjugue outras pessoas além do “eu” (por exemplo: eu estudo, ele estuda, eles
estudam), conjugue o subjuntivo...
PRESENTE
Eu sou
PRETÉRITO FUTURO
perfeito: Eu fui do presente: Eu serei
imperfeito: Eu era do pretérito: Eu seria
mais-que-perfeito: Eu fora

71
PRESENTE
Eu tenho
PRETÉRITO FUTURO
perfeito: Eu tive do presente: Eu terei
imperfeito: Eu tinha do pretérito: Eu teria
mais-que-perfeito: Eu tivera

72
4.3. Conjugação irregular

▪ PRIMITIVOS E DERIVADOS

Com o intuito de facilitar a aprendizagem, é muito importante notar a influência


do verbo primitivo na flexão dos derivados. Muitos erros e dúvidas de
conjugação verbal se resolvem com a percepção de que as formas do verbo
primitivo “geneticamente” são repassadas ao verbo derivado. Observe alguns
exemplos:

PRIMITIVO

TER: tive, teve, tiveram, tinha, se tivesse...

DERIVADOS

. conter – contive, conteve, contiveram, continham, se contivesse...

. deter – detive, deteve, detiveram, detinham, se detivesse...

. manter – mantive, manteve, mantiveram, mantinham, se mantivesse...

. entreter – entretive, entreteve, entretiveram, entretinham, se entretivesse...

Principais derivados de ter: abster-se, ater-se, conter, deter, entreter, manter,


obter, reter.

PRIMITIVO

73
VIR: vim, veio, vieram, vinha, se viesse...

DERIVADOS

. provir – provim, proveio, provieram, provinha, quando provier, se proviesse

. convir – convim, conveio, convieram, convinha, quando convier, se conviesse

. intervir – intervim, interveio, intervieram, intervinha, quando intervier, se


interviesse

. sobrevir – sobrevim, sobreveio, sobrevieram, sobrevinha, quando sobrevier, se


sobreviesse

Principais derivados de vir: advir, convir, intervir, provir, reconvir, sobrevir.

PRIMITIVO

VER: vi, viu, viram, quando vir, se visse

DERIVADOS

. rever – revi, reviu, reviram, quando revir, se revisse

. prever – previ, previu, previram, quando previr, se previsse

. antever – antevi, anteviu, anteviram, quando antevir, se antevisse

Principais derivados de ver: antever, entrever, prever, rever.

PRIMITIVO

74
PÔR: pus, puseram, punha, quando puser, se pusesse

DERIVADOS

. repor – repus, repuseram, repunha, quando repuser, se repusesse

. depor – depus, depuseram, depunha, quando depuser, se depusesse

. supor – supus, supuseram, supunha, quando supuser, se supusesse

. compor – compus, compuseram, compunha, quando compuser, se


compusesse

Principais derivados de pôr: antepor, compor, contrapor, depor, dispor,


interpor, justapor, pospor, propor, repor, sobrepor, supor, transpor.

PRIMITIVO

FAZER: faço, fiz, fizeram, quando fizer, se fizesse

DERIVADOS

. desfazer – desfaço, desfiz, desfizeram, quando desfizer, se desfizesse

. satisfazer – satisfaço, satisfiz, satisfizeram, quando satisfizer, se satisfizesse

. refazer – refaço, refiz, refizeram, quando refizer, se refizesse

Principais derivados de fazer: afazer, desfazer, refazer, satisfazer.

PRIMITIVO

75
DIZER: digo, diz, disse, disseram, se dissesse

DERIVADOS

. contradizer – contradigo, contradiz, contradisse, contradisseram, se


contradissesse

. desdizer – desdigo, desdiz, desdisse, desdisseram, se desdissesse

Principais derivados de dizer: bendizer, contradizer, desdizer, maldizer,


redizer.

▪ Verbos terminados em –EAR x –IAR

Todo verbo terminado em -EAR traz irregularidade no presente do indicativo (e


tempos derivados: presente do subjuntivo e imperativo). O modelo para tal
conjugação é o verbo passear:

- presente passeio, passeias, passeia, passeamos, passeais, passeiam


do ind. cerceio, cerceias, cerceia, cerceamos, cerceais, cerceiam
permeio, permeias, permeia, permeamos, permeais, permeiam
pleiteio, pleiteias, pleiteia, pleiteamos, pleiteais, pleiteiam

- presente passeie, passeies, passeie, passeemos, passeeis, passeiem


do subj. cerceie, cerceies, cerceie, cerceemos, cerceeis, cerceiem
permeie, permeies, permeie, permeemos, permeeis, permeiem
pleiteie, pleiteies, pleiteie, pleiteemos, pleiteeis, pleiteiem

76
Apesar de regulares, os verbos terminados em -IAR trazem às vezes
dificuldades no presente do indicativo (e tempos derivados: presente do
subjuntivo e imperativo). O modelo para tal conjugação é o verbo negociar:

- presente negocio, negocias, negocia, negociamos, negociais, negociam


do ind. plagio, plagias, plagia, plagiamos, plagiais, plagiam
maquio, maquias, maquia, maquiamos, maquiais, maquiam

- presente negocie, negocies, negocie, negociemos, negocieis, negociem


do subj.. plagie, plagies, plagie, plagiemos, plagieis, plagiem
maquie, maquies, maquie, maquiemos, maquieis, maquiem

▪ Atenção – No grupo dos verbos terminados em –IAR, há uma exceção


muito importante, formada pelos verbos mediar, ansiar, remediar, incendiar e
odiar. A irregularidade ocorre no presente do indicativo (e tempos derivados:
presente do subjuntivo e imperativo). Os verbos mediar e remediar merecem
bastante atenção. Observe:

. presente do subjuntivo
medeio, medeias, medeia, mediamos, mediais, medeiam
anseio, anseias, anseia, ansiamos, ansiais, anseiam
remedeio, remedeias, remedeia, remediamos, remediais, remedeiam
incendeio, incendeias, incendeia, incendiamos, incendiais, incendeiam
odeio, odeias, odeia, odiamos, odiais, odeiam

. presente do subjuntivo
que eu medeie, medeies, medeie, mediemos, medieis, medeiem

77
que eu anseie, anseies, anseie, ansiemos, ansieis, anseiem
que eu remedeie, remedeies, remedeie, remediemos, remedieis, remedeiem
que eu incendeie, incendeies, incendeie, incendiemos, incendieis, incendeiem
que eu odeie, odeies, odeie, odiemos, odieis, odeiem

Observação – Case se pegue a inicial de cada verbo que compõe essa


exceção, forma-se o nome MARIO, ou seja, Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar
e Odiar. Isso ajudará na memorização. Não tenha dúvida de que mediar e
remediar exigem mais atenção e são muito frequentes nas provas. O verbo
intermediar segue o verbo mediar: medeio = intermedeio; medeia =
intermedeia...

▪ QUERER X REQUERER

O verbo requerer não segue integralmente o verbo querer. Observe as


diferenças:

. presente do indicativo
quero versus requeiro

. pretérito mais-que-perfeito do indicativo


quisera versus requerera

. futuro do subjuntivo
quando quiser versus quando requerer

. pretérito imperfeito do subjuntivo

78
se quisesse versus se requeresse

. pretérito perfeito do indicativo


quis, quiseste, quis, quisemos, quisestes, quiseram
versus
requeri, requereste, requereu, requeremos, requerestes, requereram

▪ PROVER

O verbo prover segue ver nos dois presentes. No restante (passado, futuro e
formas nominais), segue o modelo regular (por exemplo, o verbo vender).
Observe os tempos que geram dúvidas:
. presente do indicativo: provejo, provês, provê, provemos, provedes, proveem

. presente do subjuntivo: que eu proveja, provejas, proveja, provejamos,


provejais, provejam

. pretérito perfeito do indicativo: provi, proveste, proveu, provemos, provestes,


proveram
. pretérito imperfeito do subjuntivo: se eu provesse, provesses, provesse,
provêssemos, provêsseis, provessem
. futuro do subjuntivo: quando eu prover, proveres, prover, provermos, proverdes,
proverem

▪ Contraste necessário: PROVIR X PROVER

79
O verbo provir segue vir; já o verbo prover segue ver somente nos dois
presentes, porém no restante (passado e futuro) segue vender. Deve-se notar
que há muitas semelhanças, mas nenhuma igualdade. Durante toda a
conjugação de tais verbos, as formas são distintas. Confira os tempos que
geram dúvidas:

PROVIR X PROVER

pres. ind pres. ind.


ele provém ele provê
eles provêm eles proveem

PROVIR X PROVER

pret .perf. ind. pret .perf. ind.


ele proveio ele proveu
eles provieram eles proveram

PROVIR X PROVER

fut. subj. fut. subj.


quando ele provier quando ele prover
quando eles provierem quando eles proverem

PROVIR X PROVER

pret. imp subj. pret. Imp. subj


se ele proviesse se ele provesse
se eles proviessem se eles provessem

80
Significado
. prover: abastecer, munir, providenciar; nomear para um cargo; dispor sobre
algo, decidir.
. provir: originar, proceder, vir de algum lugar.

▪ FERIR

Há verbos que o “e” do radical transforma-se em “i” no “eu” do presente do


indicativo e tempos derivados. O verbo ferir é o modelo:

. presente do indicativo . presente do subjuntivo


firo, feres, fere, ferimos, feris, ferem fira, firas, fira, firamos, firais, firam

Observação – Por ferir, conjuga-se: aderir, advertir, aspergir, aferir, auferir,


cerzir, compelir, competir, concernir (mais usado na terceira pessoa), conferir,
conseguir, consentir, convergir, deferir, despir, diferir, divergir, discernir, gerir,
deferir, desferir, diferir, expelir, impelir, inserir, investir, mentir, preterir, propelir,
refletir, repelir, repetir, revestir, seguir, servir, sugerir, vestir e outros.
▪ ACENTUAÇÃO DOS VERBOS

Alguns verbos oferecem dúvidas no uso do acento gráfico. Confira os principais:

Verbo primitivo Verbos derivados

TER CONTER DETER ENTRETER

81
ele tem ele contém ele detém ele entretém
eles têm eles contêm eles detêm eles entretêm

VIR ADVIR CONVIR INTERVIR

ele vem ele advém ele convém ele intervém


eles vêm eles advêm eles convêm eles intervêm

VER ANTEVER PREVER ENTREVER

ele vê ele antevê ele prevê ele entrevê


eles veem eles anteveem eles preveem eles
entreveem

▪ Atenção – Os verbos crer, dar e ler (e derivados) também dobram o “e”:


eles creem, eles leem, que eles deem.

4.4. Sentido dos tempos e modos

Vários tempos, alguns com mais de um sentido. O resultado é óbvio: um vasto


caminho de aprendizagem, no qual raramente fizemos um mínimo passeio.
Tenha duas ações positivas: dar atenção ao que mais cai em prova e voltar-se
para esta teoria quando assim houver a exigência. Para concurso público, é
fundamental saber o sentido dos modos e, principalmente, o sentido dos tempos
do indicativo.

▪ Modos

82
Três são os modos: indicativo, subjuntivo e imperativo. Normalmente, o
indicativo exprime certeza e é o modo típico das orações coordenadas e
principais; o subjuntivo exprime incerteza, dúvida, possibilidade, algo hipotético
e é mais comum nas subordinadas; por fim, o imperativo exprime ordem,
solicitação, súplica, a depender do contexto de uso.

▪ Tempos do Indicativo – Tempo Simples

1. presente do indicativo – indica simultaneidade entre a ação feita e o


momento em que se fala: Eu te amo. Leio o livro enquanto você se arruma.
Também se aplica para:
- indicar ação habitual: A Terra gira em torno do sol. Eles estudam todos os
dias.
- mostrar algo permanente (como uma verdade absoluta):
provérbios: Deus ajuda quem cedo madruga.
definições: O homem é um ser racional.
- narrar com mais atualidade (cria-se uma proximidade com o momento do fato,
dando mais realismo e vivacidade; também é chamado de presente histórico):
Com a ditadura, o Brasil passa por um longo período de silêncio. Em 1980,
explosão em usina nuclear gera várias manifestações.
- substituir o futuro do presente do indicativo: Você volta aqui amanhã? (=Você
voltará aqui amanhã?)

83
2. pretérito perfeito do indicativo – indica algo já realizado, concluído,
terminado: Em 1970, a seleção brasileira ganhou o principal campeonato de
futebol. Ele acertou a questão.

3. pretérito imperfeito do indicativo – indica continuidade ou fato habitual,


constante, frequente: Eu trabalhava nesta empresa. Também pode indicar algo
em processo, em desenvolvimento: Eu almoçava quando ele nos chamou.

4. pretérito mais-que-perfeito do indicativo – indica ação concluída que


aconteceu antes de outra ação (ambas ocorridas no passado): Ele negou aquilo
que seu povo tanto pedira. Assim que ele se retirara da sala, a mulher tentou
uma nova fuga.

5. futuro do presente do indicativo – indica ação posterior ao momento em


que se fala: No final do trabalho, acertaremos o pagamento.

6. futuro do pretérito do indicativo – indica dúvida, incerteza: Naquele dia, ele


estaria sozinho ou acompanhado? Também se aplica para:
- fazer um pedido, indicar um desejo de uma forma polida: Vocês fariam um
favor para nós?
- indicar fato futuro que se relaciona a um momento no passado (muitas vezes
expressa uma quebra de expectativa, algo frustrado, ainda não realizado): Ele
disse que viria e prometeu que me pagaria.

84
- indicar, em uma narrativa, um fato posterior a outro, ambos no passado: Ele
chegou ao local cedo, mas só algumas horas depois teria coragem de contar a
novidade.

▪ Tempos do Indicativo – Tempo composto

7. pretérito perfeito do indicativo composto – forma-se com o verbo auxiliar


ter no presente do indicativo mais o verbo principal no particípio. Emprega-se
para:
- exprimir ação iniciada no passado que ainda ocorre no momento da fala,
indicar algo que se desenvolve até o momento da fala: Os jogadores têm errado
muito. Temos superado os obstáculos.

8. pretérito mais-que-perfeito do indicativo composto – forma-se com os


verbos auxiliares ter ou haver (no pretérito imperfeito do indicativo) mais o verbo
principal no particípio. Emprega-se tal tempo composto com sentido equivalente
à sua forma simples. Assim, são três construções distintas para designar um
mesmo sentido: ação ocorrida antes de outra, ambas no passado. Devido a essa
possibilidade de três formas corretas e cambiáveis, há grande incidência disso
em prova.
Antes de fazer a correção, ele tinha realizado ampla análise do problema.
= Antes de fazer a correção, ele havia realizado ampla análise do problema.
= Antes de fazer a correção, ele realizara ampla análise do problema.

85
9. futuro do presente do indicativo composto – forma-se com os verbos
auxiliares ter ou haver (conjugados no futuro do presente do indicativo simples)
mais o verbo principal no particípio. Emprega-se para:
- exprimir fato ocorrido antes de outro (ambos no futuro): Ele já terá saído
quando vocês chegarem.
- indicar a hipótese de algo já ter acontecido: Já terão chegado?

10. futuro do pretérito do indicativo composto – forma-se com os verbos


auxiliares ter ou haver (conjugados no futuro do pretérito do indicativo simples)
mais o verbo principal no particípio; emprega-se para:
- indicar fato passado que aconteceria mediante condição: Se você realmente
estudasse a lição, teria alcançado a aprovação.
- expressar dúvida em relação ao passado: Teria ocorrido a ele uma ideia
melhor?
- exprimir hipótese, algo que deveria ter acontecido (correlaciona-se com o
pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo): Se ele tivesse feito isso, teríamos
ficado mais felizes.

▪ Tempos do Subjuntivo – Tempo Simples

11. presente do subjuntivo – expressa hipótese, algo relacionado ao desejo, à


suposição, à dúvida: Peço que na hora você não esqueça as minhas
recomendações. Também é usado para:

86
- criar orações optativas (aquelas que exprimem desejo): Deus lhe pague! Os
céus te protejam!
- compor oração subordinada quando o verbo da oração principal estiver no:
presente do indicativo: Convém que ele faça um seguro.
imperativo: Pague ao homem para que ele se cale.
futuro do presente do indicativo: Virá para que eu a conheça.

12. pretérito imperfeito do subjuntivo – forma oração subordinada quando o


verbo da oração principal estiver no:
pretérito imperfeito do indicativo: Era nosso desejo que eles
pernoitassem aqui.
pretérito perfeito do indicativo: Pedi que eles mandassem notícias.
futuro do pretérito do indicativo: Gostaria que ela viesse até nossa casa.

13. futuro do subjuntivo simples – emprega-se para expressar fato que talvez
aconteça (relaciona-se com o verbo da oração principal, que deve estar no futuro
do presente do indicativo): Quando você trouxer o dinheiro, a dívida será
esquecida. Só receberá a senha quem estiver no local.

▪ Tempos do Subjuntivo – Tempo composto

87
14. pretérito perfeito do subjuntivo (composto) – forma-se com os verbos
auxiliares ter ou haver (no presente do subjuntivo) mais o verbo principal no
particípio. Emprega-se para exprimir:
- fato anterior e supostamente concluído no momento da fala: Creio que ela já
tenha trazido o livro.
- fato no futuro e já terminado em relação a outro também no futuro: Quando
vocês chegarem, acredito que eles já tenham resolvido o problema.

15. pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo (composto) – forma-se com os


auxiliares ter ou haver (conjugados no pretérito imperfeito do subjuntivo) mais o
principal no particípio. Emprega-se para:
- expressar fato anterior a outro, ambos no passado: Pensei que você tivesse
trazido tudo.

16. futuro do subjuntivo composto – forma-se com os verbos auxiliares ter ou


haver (no futuro do subjuntivo simples) mais o verbo principal no particípio.
Emprega-se para:
- expressar fato terminado antes de outro (ambos no futuro): Só partiremos
depois que ela tiver chegado com os presentes. Sairemos daqui se eles
tiverem trazido um mapa.

4.5. Formação do imperativo

88
O modo imperativo exprime ordem, solicitação, incentivo, repreensão,
exigência, súplica, convite, conselho, a depender da situação de uso. Há dois
imperativos: o afirmativo e o negativo.

▪ Imperativo afirmativo – forma-se a partir dos dois presentes, de acordo


com o tratamento dispensado ao interlocutor: tu ou você; vós ou vocês; e nós;
não há o imperativo para o eu.
. tu e vós: saem do presente do indicativo (menos o -s);
. você(s) e nós: saem do presente do subjuntivo.

Imperativo Afirmativo

Tempo primitivo Tempo derivado


presente do indicativo imperativo afirmativo
tu estudas (menos o –s) ...................... estuda (tu)
vós estudais (menos o –s) .....................estudai (vós)

presente do subjuntivo
que você estude .................................... estude (você)
que nós estudemos................................ estudemos (nós)
que vocês estudem................................ estudem (vocês)

▪ Imperativo negativo – forma-se do presente do subjuntivo; basta


acrescentar uma palavra negativa ao verbo (não, nunca, jamais), sem nada
cortar nas formas verbais.

89
Imperativo Negativo

Tempo primitivo Tempo derivado


presente do subjuntivo imperativo negativo
que tu estudes .......................................não estudes (tu)
que você estude .................................... não estude (você)
que nós estudemos................................ não estudemos (nós)
que vós estudeis ....................................não estudeis(vós)
que vocês estudem.................................não estudem (vocês)

90
4.6. Particípio

Os particípios regulares derivam dos infinitivos e formam-se por meio das


desinências –ADO (verbos terminados em –AR) ou –IDO (verbos terminados em
–ER e –IR):

cantar – cantado entender – entendido partir – partido


estudar – estudado vender – vendido abolir – abolido
melhorar – melhorado estender – estendido delinquir – delinquido

Alguns particípios, denominados de abundantes, têm dupla forma (salvado /


salvo, aceitado / aceito) e disso nasce uma regra essencial:

a) com os verbos ter e haver, usa-se o particípio regular:


Ele tinha imergido / aceitado / prendido / matado.

b) com os verbos ser e estar ou como adjetivo, usa-se o particípio irregular:


Ele foi imerso / aceito / preso / morto.

▪ Principais particípios abundantes

Regular Irregular
aceitar aceitado aceito
acender acendido aceso
dispersar dispersado disperso
eleger elegido eleito

91
emergir emergido emerso
entregar entregado entregue
enxugar enxugado enxuto
expressar expressado expresso
expulsar expulsado expulso
extinguir extinguido extinto
findar findado findo
fixar fixado fixo
frigir frigido frito
fritar fritado frito
ganhar ganhado ganho
gastar gastado gasto
imergir imergido imerso
imprimir imprimido impresso
inserir inserido inserto
isentar isentado isento
limpar limpado limpo
malquerer malquerido malquisto
matar matado morto
morrer morrido morto
ocultar ocultado oculto
pagar pagado pago
pegar pegado pego
prender prendido preso
salvar salvado salvo
secar secado seco
segurar segurado seguro
soltar soltado solto

92
submergir submergido submerso
suspender suspendido suspenso

▪ OBSERVAÇÕES

1. Há verbos que só possuem o particípio irregular: aberto, coberto, dito, escrito,


feito, posto, visto.

2. Embora a forma regular esteja em desuso e a caminho de ser extinta, os


verbos ganhar, pagar e gastar possuem os particípios regular e irregular.
Portanto, em concurso público, siga a regra dos particípios abundantes descrita
acima:

ganhar

tinha ganhado / foi ganho

pagar

tinha pagado / foi pago

gastar

93
tinha gastado / foi gasto

3. Pegar tem os particípios regular e irregular, portanto use o particípio regular


pegado com o verbo ter e haver (havia pegado, tenho pegado, terão pegado) e o
particípio irregular pego com os verbos ser e estar (foi pego, está pego).

pegar

tinha pegado / foi pego

4. Há verbos que só possuem o particípio regular, mas o uso oral vem


consagrando uma forma irregular, que ainda não é aceita pelos gramáticos:

. chegar = Eles tinham chegado (Uso errado: Eles tinham chego).


. trazer = Eles tinham trazido (Uso errado: Eles tinham trago) .
. empregar = Eles tinham empregado (Uso errado: Eles tinham empregue).
. falar = Eles tinham falado (Uso errado: Eles tinham falo).

5. O verbo imprimir tem duplo particípio: imprimido e impresso. Em casos


como esse, usa-se:
. imprimido com o verbos ter e haver: A gráfica já tinha imprimido. Ela havia
imprimido.
. impresso com os verbos ser e estar: O documento será impresso. A carta será
impressa.

94
Há, porém, um uso à parte: com o sentido de produzir movimento, usa-se
nas duas situações imprimido (O motorista tem imprimido boa velocidade / Alta
velocidade foi imprimida à máquina).

6. O verbo vir não tem conjugação própria para o particípio. Para superar a
lacuna, empresta-se a forma do gerúndio: vindo. Isso ocorre com vir e seus
derivados: intervindo, provindo, convindo, advindo, etc. Exemplos: Ele tinha
vindo aqui. Ela havia provindo dali. Eles têm intervindo acertadamente.

95
❖ CAPÍTULO 5 – REGÊNCIA

A sintaxe compõe a parte mais importante de sua preparação gramatical e dois


temas merecem destaque: sintaxe de concordância e sintaxe de regência. Há
vários caminhos possíveis para os estudos sintáticos, mas repito aqui o que deu
muito certo comigo. O estudo da concordância é importante, não há o que
discordar, mas ela é muito exigente, deve-se ter habilidades e domínios
consistentes para progredir com qualidade. Por isso, sempre indico ter como
início a regência, pois é um tema provedor, contribui muito para que novas lições
sejam compreendidas e, assim, um raciocínio gramatical nasça.

5.1. Introdução

Regência é um tema multiplicador, pois inúmeras questões gramaticais de


concurso público são decorrentes dela. O domínio do tema, portanto, torna-se
imprescindível. Volte a essa lição sempre que sentir a necessidade de
aperfeiçoamento e mais precisão. Na regência, encontramos a noção de
complementação e o uso da preposição, estabelece-se o vínculo entre o termo
regente e o termo regido. Se o regente é nome (substantivo e adjetivo),
temos a regência nominal; se o regente é verbo, temos a regência verbal.
Observe:

REGÊNCIA NOMINAL REGÊNCIA VERBAL

substantivo => complemento nominal verbo => complemento verbal

“...a referência ao documento...” Ele se refere ao documento.

96
regente regido regente regido

adjetivo => complemento nominal

“...referente ao documento

regente regido

Entre essas possibilidades de vinculação, não pense duas vezes: a regência


verbal é muito mais importante do que a regência nominal. A razão desse
contraste assim se explica:
- na regência nominal, o vínculo sempre se dá por meio de uma preposição;
- na regência verbal, o vínculo nem sempre se dá por meio de uma preposição,
pois há verbos que exigem preposição, mas há os que não a exigem.
Como a regência verbal traz uma importante distinção, também acaba por exigir
mais teoria. Perceba que o nome e complemento nominal são classificações
suficientes; já para o verbo, há o seguinte desdobramento teórico:

VERBO COMPLEMENTO VERBAL

VTD............................................................................OD
verbo transitivo direto objeto direto
(verbo que não exige preposição) (complemento do VTD)

Exemplos: O aluno estudou a lição.

97
sujeito VTD OD

O governo criou algumas metas.


sujeito VTD OD

VERBO COMPLEMENTO VERBAL

VTI............................................................................OI
verbo transitivo indireto objeto indireto
(verbo que exige preposição) (complemento do VTI).

Exemplos: O aluno acreditou na lição.


sujeito VTI OI

O governo precisa de algumas metas.


sujeito VTI OI

Vale lembrar que esses dois tipos se unem em vários verbos, formando o VTDI.
VERBO COMPLEMENTO VERBAL

VTDI.......................................................................... OD e OI
verbo transitivo direto e indireto objeto direto e objeto indireto

Exemplos: O aluno enviou a lição ao colega.


sujeito VTDI OD OI

98
O governo informou o ministro sobre algumas metas.
sujeito VTDI OD OI

Uma parte considerável de domínios gramaticais nasce desta diferença: o verbo


exigir ou não preposição. Por exemplo, o VTD, regra geral, forma o seguinte
desdobramento gramatical:

. OBSERVAR - VTD
observar algo (não exige preposição)
Eles observaram o exame.
VTD OD
só artigo

1. Caso se troque o objeto direto por uma palavra feminina, teremos a seguinte
ocorrência:
Eles observaram o exame.
Eles observaram a prova. = sem crase, pois não se exige preposição; o “a” é
só artigo.

2. Caso se troque o objeto direto por um pronome pessoal, haverá a seguinte


formação:
Eles observaram o exame.
Eles o observaram. = o objeto direto pode ser substituído pelo pronome átono
o(s), a(s)

3. Caso, em uma prova, haja a transformação em voz passiva, é o VTD que


permitirá tal construção:

99
Eles observaram o exame.
Voz passiva analítica: O exame foi observado por eles.
Voz passiva sintética: Observou-se o exame.
se = pronome apassivador

4. Caso o pronome relativo que ou o qual (e variações) esteja na função de


objeto direto, virá sem preposição:
Está correto o exame, que eles observaram.
Está correto o exame, o qual eles observaram.

Essas primeiras noções, em tese, só farão sentido depois de certo


amadurecimento na sequência dos estudos, pois todos os itens citados acima
(regência, crase, pronome átono, voz passiva, pronome relativo...) podem
configurar tranquilamente uma prova de Português, mas da nossa parte não
pode ocorrer a falta de consciência da íntima relação que um tema tem com o
outro.

Para quem estuda para concurso público, é muito interessante saber que um
VTD pode produzir um raciocínio gramatical:
=> VTD + OD – Vi o filme.
=> sem crase – Vi a novela.
=> pronome o, a, os, as – Vi-o.
=> voz passiva liberada... – O filme foi visto por mim.

É claro que um VTI produz fatos gramaticais bastante distintos, pois os


desdobramentos não se dão na mesma proporção. Além disso, quando um VTI

100
exigir a preposição “a”, há todo um caminho muito especial em nosso idioma.
Observe dois exemplos com VTI:

NECESSITAR – VTI
necessitar DE algo
Eles necessitam do exame.
VTI OI
preposição DE

PERTENCER – VTI
pertencer A alguém
O livro pertence ao aluno.
VTI OI
preposição A
+ artigo O
1. Se houver a troca do objeto indireto por palavra feminina, observe que, em
necessitar, teremos controle e não haverá nada relevante, mas em pertencer
haverá a famosa crase:
Eles necessitam do exame. O livro pertence ao aluno.
Eles necessitam da prova. O livro pertence à aluna.

2. Se fizermos a troca dos objetos por pronomes pessoais, haverá grande


facilidade em necessitar, mas pertencer exigirá bom conhecimento gramatical:
Eles necessitam do exame. O livro pertence ao aluno.
Eles necessitam dele. O livro pertence-lhe.

101
3. Não se deve pensar em voz passiva com os verbos necessitar e pertencer,
pois voz passiva só se constrói com VTD + OD (ou VTDI + OD, OI).
Eles necessitam do exame. O livro pertence ao aluno.
Voz passiva proibida Voz passiva proibida

4. Se o pronome relativo estiver na função de objeto indireto, virá com


preposição:
Está correto o exame, de que (ou do qual) eles necessitam.
Conhecemos o aluno, a que (ou ao qual) o livro pertence.

Tais habilidades gramaticais vêm de uma experiência que se fundamenta,


antes de tudo, na regência verbal, ou seja, um VTD desenha um caminho
gramatical distinto de um VTI; um VTI que exige preposição A produz
normalmente lições bem particulares. É claro que o estudo de cada um dos
temas (crase, pronome átono, voz passiva, pronome relativo...) trará uma rica
ampliação. Valorize a aprendizagem de VTD e VTI, pois certa desenvoltura
depende dessa leitura gramatical. E não se esqueça: esta introdução fará mais
sentido na revisão. Siga em frente e depois volte para relê-la.

102
5.2. Classificação dos verbos

5.2.1. Verbo de Ligação

Em geral, os verbos ser, estar, ficar, permanecer, continuar, tornar-se, parecer,


viver, andar, virar funcionam como verbos de ligação (VL), desde que estejam
vinculados a um predicativo do sujeito (PS).

José está feliz.


sujeito VL OS

Maria permanece calada.


sujeito VL PS

Opondo-se aos demais, o VL não traz ideia de ação. Os verbos de ligação


essencialmente ligam ao sujeito um estado, uma qualidade, uma característica
(termo que funcionará como predicativo do sujeito). Em provas, o VL pode
parecer em questões teóricas, envolvendo sua classificação ou distinção em
relação aos demais verbos.

5.2.2. Verbo Intransitivo

Verbo que indica ação, tem sentido completo e não traz complemento (portanto
não traz objeto direto nem objeto indireto).

Tal fato não procede.


sujeito VI

103
Um novo sonho nasceu.
sujeito VI

É muito comum vir acompanhado de adjunto adverbial.


Ela escreve rapidamente. Ele caiu por causa da chuva.

Alguns verbos intransitivos têm classificação polêmica, pois exigem um


complemento, mas com valor de advérbio (em geral, com valor de lugar).
Exemplos: O rapaz chegou ao local. Ele mora nesta rua. O professor ficou na
sala. Como não há um ponto pacífico, esteja atento ao que pede a questão. É
comum as bancas evitarem esse ponto divergente.
5.2.3. Verbo Transitivo

Verbo que indica ação e traz complemento (objeto direto / indireto). Há três
possibilidades:

. VTD - sua regência não exige preposição e seu complemento é o objeto direto.
Ele previu o acidente.
sujeito VTD OD

. VTI - sua regência exige preposição e seu complemento é o objeto indireto.


Ela acredita na mudança.
sujeito VTI OI

. VTDI - sua regência exige dois complementos: um preposicionado (objeto


indireto) e outro sem preposição (objeto direto).
Eles remeteram o documento ao setor responsável.

104
sujeito VTDI OD OI

Nas questões de prova, os verbos transitivos têm grande incidência.

5.3. Verbos recorrentes em prova

VERBO REGÊNCIA EXEMPLO

1. Agradecer / agradecer algo a alguém / Agradeci o presente ao amigo.


– Agradecer é VTDI, mas atente-se ao destinatário do agradecimento, pois a
preposição A é necessária;
– Não use “agradecer o amigo”, “agradecê-lo”; o certo é “agradecer ao amigo”,
“agradecer-lhe”. É errado: “A empresa agradece o cliente”; é correto: “A empresa
agradece ao cliente”.

2. Aspirar (almejar) / aspirar a algo / Ele aspirou à vitória.


Aspirar (cheirar) / aspirar algo / Ele aspirou o perfume.
– Como se nota, o sentido influi na regência de aspirar: com o sentido de
almejar, desejar, o uso é VTI, aspirar ao sucesso; já com o sentido de cheirar,
sorver, o uso é VTD, aspirar o cheiro.
– O verbo aspirar (desejar, almejar) não deve ser usado com o pronome “lhe”;
use a ele(s), a ela(s). Aspirei ao cargo => Aspirei a ele.

3. Assistir (ver) / assistir a algo / Ele assistiu ao jogo.

105
– Com o sentido de ver, o verbo assistir é VTI, exige a preposição A; nesta
acepção, não use “assistir o jogo”, “assisti-lo”; o correto é “assistir ao jogo”,
“assistir a ele”; o verbo assistir (= ver) não é usado com o pronome “lhe(s)”,
portanto os pronomes adequados serão a ele(s), a ela(s). Assistimos ao teatro
=> Assistimos a ele.
Assistir (ajudar) / assistir alguém / Ele assistiu o doente.
– Com o sentido de ajudar, auxiliar, assistir também pode ser usado como VTI:
“Assistir ao doente”. Trata-se de uso arcaico, com rara presença nas provas.
Prefira o uso VTD.
Assistir (ter direito) / assistir a alguém / A razão assistiu ao comprador.
Assistir (morar) / assistir em algum lugar / Ele assistiu em S. Paulo até
2010.
– Assistir, com o sentido de morar, é um uso arcaico.

4. Avisar / avisar algo a alguém / Avisei o pagamento a José.


Avisar / avisar alguém de algo / Avisei José do pagamento.
– Sem que haja alteração de sentido, há duas regências corretas; uso, portanto,
facultativo.
– Em avisar alguém de algo, pode-se substituir a preposição DE por SOBRE ou
por ACERCA DE; o intuito da alteração é, na maioria das vezes, trazer mais
expressividade e clareza.
– O verbo avisar serve de modelo para alguns verbos que também têm dupla
regência correta como no exemplo acima: aconselhar, certificar, cientificar,
encarregar, impedir, incumbir, informar, notificar, prevenir, proibir.

5. Chegar / chegar a algum lugar / Ele chegou à Rua da Glória.

106
– Na norma culta, chegar não exige preposição EM, portanto não se usa “chegar
em algum lugar”. É errado: “Chegamos na escola”; é correto: “Chegamos à
escola”.

6. Custar (ser difícil) / custar a alguém / Custou ao aluno fazer a questão.


– O verbo “custar”, na acepção de ser difícil, ser trabalhoso, não deve ser usado
“Eu custei entender o erro”; o correto é “custou-me entender o erro”.

7. Esquecer / esquecer algo / Ele esqueceu o exame.


Esquecer-se / esquecer-se de algo / Ele se esqueceu do exame.
– Sem que haja alteração de sentido, há duas regências corretas; uso, portanto,
facultativo.
– Não se usa “esqueci do pagamento”; o correto é “esqueci o pagamento” ou
“esqueci-me do pagamento”. Dê atenção ao pronome átono, pois é a sua
presença ou ausência que define qual regência está sendo aplicada. Os verbos
lembrar e esquecer têm essa mesma característica.

8. Implicar (envolver-se) / implicar-se em algo / Ele se implicou em assaltos.


Implicar (aborrecer) / implicar com algo / Ele implicou com as crianças.
Implicar (acarretar) / implicar algo / Tal atitude implica punição.
– Com o sentido de acarretar, gerar, produzir, o verbo implicar é VTD, portanto
não use com a preposição EM. É errado: “Isso implica em pena”; é correto: “Isso
implica pena”.

107
9. Ir / ir a algum lugar / Ele foi a Salvador.
– Na norma culta, ir não exige preposição EM, portanto não se usa “ir em algum
lugar”. É errado: “Fomos na praia”; é correto: “Fomos à praia”.

10. Lembrar / lembrar algo / Ele lembrou o exame.


Lembrar / lembrar-se de algo / Ele se lembrou do exame.
– Sem que haja alteração de sentido, há duas regências corretas; uso, portanto,
facultativo.
– Não se usa “lembrei da data”; o correto é “lembrei a data” ou “lembrei-me da
data”. Dê atenção ao pronome átono, pois é a sua presença ou ausência que
define qual regência está sendo aplicada. Os verbos lembrar e esquecer têm
essa mesma característica.

11. Morar / morar em algum lugar / Eles moram na Rua da Glória.


– Com os verbos morar, residir, habitar, situar (e similares), há o uso da
preposição EM: Ele mora na Rua da Glória. Ele reside na Avenida da Liberdade.
É errado: Ele é residente e domiciliado à Rua Brasil; é correto: Ele é residente e
domiciliado na Rua Brasil.

12. Namorar / namorar alguém / Ela namorava o vizinho.


– Namorar é VTD, portanto não se usa a preposição COM. Não use: “Ela
namora com aquele rapaz”. O correto é “Ela namora aquele rapaz”.
– Apesar de noivar COM alguém e casar COM alguém, o verbo namorar é
namorar alguém. As falhas em geral ocorrem graças à padronização entre esses
três verbos, mas, vale frisar, namorar não exige preposição.

108
13. Obedecer / obedecer a algo / Obedeceremos à ordem.
– Introduza o complemento sempre com a preposição A;
– Não use “obedecer o amigo”, “obedecê-lo”; o correto é “obedecer ao amigo”,
“obedecer-lhe”;
– Para o verbo obedecer não se usa o pronome “lhe(s)” quando o objeto indireto
é coisa; o pronome “lhe(s)” é usado para a ideia de pessoa: obedeci à regra =>
obedeci a ela; obedeci ao delegado => obedeci-lhe.
– Aceita a voz passiva formada de objeto indireto: Obedeci à lei. A lei foi
obedecida por mim.

14. Pagar / pagar algo a alguém / Pagamos a dívida ao amigo.


– Introduza o destinatário do pagamento com a preposição A;
– Não use “pagar o amigo”, “pagá-lo”; o correto é “pagar ao amigo”, “pagar-lhe”;
– Aceita a voz passiva formada de objeto indireto: Paguei ao amigo. O amigo foi
pago por mim.

15. Perdoar / perdoar algo a alguém / Ele não perdoou ao jovem.


– Introduza o destinatário do perdão com a preposição A;
- Não use “perdoar o filho”, “perdoá-lo”; o correto é “perdoar ao filho”,
“perdoar-lhe”;
- Aceita a voz passiva formada de objeto indireto: Perdoei ao amigo. O amigo foi
perdoado por mim.

16. Preferir / preferir algo a outra coisa / Ele preferiu a segurança ao risco.

109
– Na norma culta não se usa “prefiro mais isso do que aquilo”. É errado: “Ele
prefere mais o teatro do que o cinema”; é correto: “Ele prefere o teatro ao
cinema”.

17. Proceder (realizar) / proceder a algo / Procederemos ao pagamento.


– Com sentido de fazer, realizar, o verbo proceder exige a preposição A;
– Não use “proceder o inventário”, “procedê-lo”; o certo é “proceder ao
inventário”, “proceder a ele”;
– O verbo proceder, nesta acepção, não é usado com o pronome “lhe(s)”; usa-se
“a ele(s), a ela(s)”.
Proceder (vir) / proceder de algo / Ele procede do interior.
Proceder (ter cabimento) / (sem complemento) / A explicação não
procede.

18. Ser / Eles eram cinco.


–Em expressões como “eram cinco, éramos, seis, somos dez”, não se deve usar
a preposição EM. Dizer “éramos em seis” é cometer uma falha de construção. É
errado: “”; é correto: “”.

19. Simpatizar / simpatizar com algo / Simpatizei com a ideia.


– O verbo simpatizar (ou antipatizar) não deve ser usado com os pronomes
átonos: me, te, se, nos, vos. Não se trata, portanto, de um problema de regência;
simplesmente, simpatizar é um verbo não pronominal. Não se usa Eu me
simpatizo com vocês. Eles se simpatizaram com o restaurante. Como se nota, o

110
erro é o pronome átono me e se. O correto é: Eu simpatizo com vocês. Eles
simpatizaram com o restaurante. Verbo constante em questões de prova!

20. Visar (mirar) / visar algo / Ele visou o alvo.


Visar (assinar) / visar algo / Ele visou o documento.
Visar (objetivar, desejar) / visar a algo / Eles visavam ao mesmo cargo.
- Com sentido de almejar, desejar, o verbo visar é VTI e exige a preposição A;
- Não use “visar o cargo”, “visá-lo”; o correto é “visar ao cargo”, “visar a ele”;
- Nesta acepção, visar não é usado com o pronome lhe(s); usa-se “a ele(s), a
ela(s)”: “visei ao cargo” => “visei a ele”;
- Na formação visar + infinitivo, a preposição A é facultativa: visar a obter ou
visar obter; visou a ajudar ou visou ajudar.

Há importante material de revisão no endereço:


https://joaobolognesi.files.wordpress.com/2016/03/regc3aancia-verbal-passo-a-p
asso_2016.pdf
⮚ CAPÍTULO 6 – CRASE

6.1. Fundamentos

A palavra crase possui origem grega e significa fusão, junção. O acento grave,
em nosso idioma, faz o papel de indicar aos olhos do leitor a presença da fusão
de a + a, resultando em à. Ocorre com:

. preposição “a” mais artigo definido feminino “a”, “as”.


Ele fez referência à tese de Darwin.

111
. preposição “a” mais pronome demonstrativo “aquele(s)”, “aquela(s)”,
“aquilo”.
Ele fez referência àquela tese de Darwin.

. preposição “a” mais pronome demonstrativo “a”, “as”.


Sobre as teses apresentadas, ele fez referência à de Darwin.

Como a crase com os pronomes demonstrativos é um capítulo bastante


específico, faremos o estudo deles em etapa posterior. Neste momento, o
destaque é a crase com preposição e artigo definido feminino, pois o volume
de situações exige mais atenção.

A crase entre preposição e artigo definido feminino ocorre de duas formas:

. regência – com base nas regências verbal e nominal, a palavra anterior rege
preposição “a” e a palavra posterior (em geral, um substantivo feminino) vem
com artigo definido feminino “a” ou “as”:
Eles foram à aula. Ele foi fiel à pátria. O documento foi corretamente
remetido à empresa.

. locução feminina – tais locuções são formadas por grupos de palavras que
criam uma expressão idiomática; são classificadas em:
- locuções adverbiais: às vezes, à toa, às pressas, à noite, à baila, à míngua, à
direita, à revelia;
- locuções conjuntivas: à medida que, à proporção que;
- locuções prepositivas: à busca de, à espera de, à frente de, à maneira de, à
mercê de, à moda de;

112
- locuções adjetivas: à toa, às direitas (correto, honesto), à deriva, à milanesa, à
baiana.

Não deixe de notar que, para receber o acento grave, esse grupo traz sempre a
mesma noção: são locuções cujo núcleo é formado por palavra feminina, sempre
palavra feminina. Ao fim deste material você encontrará uma lista de locuções.

Conclua que o artigo definido feminino – que constitui 50% da crase – é usado
como determinante de um substantivo feminino; já a preposição – que constitui
os outros 50% da crase – origina-se da regência verbal e nominal ou das
locuções. Há questões de prova que trazem tal raciocínio: a crase se formou
graças à regência ou à locução?

6.2. Área proibida

Para não cometer as falhas mais básicas de crase, deve-se memorizar, treinar e
manter em atividade as situações em que o acento é proibido. Ao controlar isso,
passa-se a ter uma previsão, ou seja, já se sabe de antemão onde nunca ocorre
crase. O acento grave é proibido antes de:
a) palavra masculina: a bordo, a respeito de, a critério de, a olho nu, a pé;
b) infinitivo: a partir de, a contar de, a começar por, ficou a discutir;
c) expressões com palavras repetidas: face a face, cara a cara, folha a folha;
d) pronome pessoal: falei a ela, disse a nós, mandaram a mim e a ti;
e) demonstrativos essa(s) e esta(s): falei a essa pessoa, refiro-me a esta
mulher;

113
f) pronomes de tratamento (iniciados por Vossa ou Sua): requer-se a Vossa
Senhoria, falei a Vossa Excelência, o respeito a Sua Santidade;
g) “a” no singular mais palavra no plural: a piscadelas, a marretadas, a
pauladas, falei a várias pessoas;
h) a maioria dos pronomes indefinidos: falei a cada pessoa, enviei a toda
pessoa, falei a qualquer pessoa;
i) você, quem e cujo: falei a você, sei a quem você se refere, conheço a pessoa
a cujo trabalho você se refere;
j) artigo indefinido uma: referi-me a uma ideia antiga, falei a uma pessoa.

Material de revisão sobre o tema:


https://joaobolognesi.com/2016/01/27/1a-licao-de-crase/

O domínio da área proibida traz uma essência: situações em que o artigo


definido feminino não é usado. Por outro lado, conclui-se que o “a” sob análise é
só preposição. Ter em mente essa noção contribuirá para entender muitas
questões teóricas sobre a crase. Observe os exemplos:

a essa pessoa.
a uma pessoa. O verbo rege a preposição A,
a cada pessoa. mas nenhuma das construções
O juiz se referiu a qualquer pessoa. tem o uso do artigo feminino =
a pessoas. CRASE IMPOSSÍVEL.
a você.
a ela.

114
6.3. Trocas

Alguns artifícios podem ajudar na conferência da crase.

a) trocar por para a = à


Voltaram à aula / Voltaram para a aula.
Informamos a data de prova à turma / Informamos a data de prova para a
turma.

b) trocar por sinônimo masculino: ao = à


Exemplo: Ele falou à aluna / Ele falou ao aluno.

6.4. Lugar

Ao referir-se à ideia de lugar (cidade, estado, país...), use a seguinte troca:


IR À...VOLTAR DA... IR A...VOLTAR DE...
CRASE HÁ! CRASE PARA QUÊ?
Iremos à Holanda. Iremos a Curitiba.
Voltaremos da Holanda. Voltaremos de Curitiba.

Eles chegaram à Bahia. Queremos ir a Madagascar.


Eles voltaram da Bahia. Queremos voltar de Madagascar.

Cuidado – O nome do lugar que antes não recebia artigo passa a recebê-lo
quando ocorre uma adjetivação:
Fui a Curitiba. Fui à Curitiba dos belos parques.

115
Voltei de Curitiba Voltamos da Curitiba dos belos parques.

Chegamos a Brasília. Chegamos à bela Brasília.


Voltamos de Brasília. Voltamos da bela Brasília.

6.5. Aquele, aquela, aquilo

Pode também ocorrer crase nos pronomes demonstrativos aquela(s), aquele(s),


aquilo:
Eles deverão dedicar-se àquele problema.
Não vamos àquele lugar de novo.
O fato foi comunicado àquelas pessoas.
Fizemos referência àquilo tudo.

6.6. Ante, perante, mediante, contra

As palavras contra, ante, mediante e perante são classificadas como


preposição, portanto não virão com outra preposição. Dessa forma, a crase é
impossível diante delas: ante a biblioteca, perante a pessoa, mediante a
construção, contra a medida.

Perceba que, sendo a preposição ”a” proibida, temos uma área proibida de
crase; o “a” dos exemplos é apenas um artigo. Compare:
Ante o juiz... <=> Ante a juíza...
Contra o homem... <=> Contra a pessoa...
Perante o fato... <=> Perante a situação...

116
Mediante o decreto... <=> Mediante a lei...

6.7. Acento facultativo

1º Caso

Os pronomes possessivos, quando determinam os substantivos, podem também


vir antecedidos de artigo, porém tal uso é facultativo. Sendo o artigo facultativo
antes de pronomes possessivos, para o assunto crase há uma situação muito
importante, pois o artigo compõe 50% da crase. Nossa atenção deve estar
centrada inicialmente nos possessivos femininos singulares: minha, tua, sua,
nossa, vossa. Sem alteração de sentido, podemos ter duas formas corretas de
construir:

Pronome possessivo singular


Não faremos menção à sua ideia.
preposição “a” + artigo “a”
= ACENTO FACULTATIVO
Não faremos menção a sua ideia.
só preposição “a”, sem artigo

Não deixe de entender que, na construção singular, realmente é possível dizer


que o acento grave é facultativo, opcional, pois nas duas frases a única
alteração visual é o acento e ambas estão corretas.

Com a construção no plural, porém, teremos extrema diferença formal, visto que
a presença ou a ausência do artigo gera grandes diferenças visuais:

117
Pronome possessivo plural Refiro-me somente às suas aulas.
preposição “a” + artigo “as”
Nesta formação, o acento é obrigatório.

Pronome possessivo plural Refiro-me somente a suas aulas.


só preposição “a”, sem artigo
Nesta formação, o acento é proibido.

Procure fazer clara distinção entre a estrutura singular e a plural:


. ACENTO FACULTATIVO: Ele foi à nossa festa. Ou Ele foi a nossa festa.
. ACENTO PROIBIDO: Ele foi a nossas festas. (só preposição)
. ACENTO OBRIGATÓRIO: Ele foi às nossas festas. (preposição “a” + artigo
“as”)

2º Caso
Em relação à palavra até (indicando direção), o uso da preposição A é
facultativa. No exemplo a seguir, o verbo ir rege preposição “a” e, com o uso de
até, teremos apenas artigo ou artigo e preposição, ambas as formas corretas:

Fomos até à praia. <=> Fomos até a praia.


preposição “a” + artigo “a” só artigo “a”, sem preposição
= ACENTO FACULTATIVO

Fomos até às aulas. <=> Fomos até as aulas.


preposição “a” + artigo “a” só artigo “as”, sem preposição
= ACENTO FACULTATIVO

118
Para concluir, com pronomes possessivos e com a palavra até, atente-se às
seguintes possibilidades:
. ACENTO FACULTATIVO: Ele foi à nossa festa. ou Ele foi a nossa festa.
. ACENTO FACULTATIVO: Ele voltou até à aula. ou Ele voltou até a aula.
. ACENTO FACULTATIVO: Ele voltou até às aulas. ou Ele voltou até as aulas.
. ACENTO PROIBIDO: Ele foi a nossas festas.
. ACENTO OBRIGATÓRIO: Ele foi às nossas festas

6.8. Horário

Nas locuções adverbiais de tempo que indicam o horário, ocorre a crase:


A lei passa a viger à zero hora.
Amanhã, às oito horas, será feita a aula inaugural.
Exatamente às duas da tarde, ele voltou a me ligar.
O acidente aconteceu à uma hora da madrugada.
O curso recomeçará às 18 horas.
Sempre às três horas, o sinal era tocado.

6.9. Terra, casa e distância

A palavra terra, quando traz a ideia de terra firme, opondo-se à ideia de estar a
bordo, não vem com artigo e, por isso, não ocorre crase: Os marinheiros
chegaram a terra. Havendo, porém, especificação, usa-se o artigo e ocorre
normalmente a crase: Eles chegaram à terra brasileira.

A palavra casa, quando significa o lugar em que se vive, o próprio lar, não vem
com artigo e, por isso, não ocorre crase: Chegamos a casa. Se a casa vier com

119
determinação, daí passa a haver artigo e ocorre a crase: Chegamos à casa de
meus pais.

A locução a distância, quando não vem determinada, não traz artigo e não há
crase: Vimos a implosão do prédio a distância. Havendo determinação, usa-se
o artigo e daí passa a ocorrer crase: Vimos a implosão do prédio à distância de
15 metros.

6.10. Nome de pessoa

Na norma culta, o usar o artigo, mostra-se intimidade, proximidade, ou seja, que


a pessoa é tratada com informalidade. Tal uso deve ficar restrito ao trato familiar
e às pessoas que sejam íntimas. Em documentos ou textos em que vigora a
formalidade, é inconcebível o artigo ao lado do nome da pessoa. O normal é
sem artigo e, portanto, sem a ocorrência de crase.

sem artigo – formal: O réu referiu-se a Maria das Graças.

com artigo – informal : Falei à Maria toda a verdade.

Nas questões de prova, tal tópico, além de raro, às vezes aparece como uso
facultativo do acento grave, o que é coerente desde que não se considere o
contexto de uso.

Um caso merece atenção redobrada: pense que com personagens históricas


não há como se criar intimidade, informalidade, o que impede o uso do artigo e,
por consequência, a crase: O autor fez alusão a Cleópatra. Tal situação remete a
Joana d’Arc.

120
Não confunda: O autor fez alusão a Cleópatra ≠ O autor fez alusão à rainha
Cleópatra. Na primeira frase, a palavra analisada é Cleópatra (substantivo
próprio de pessoa); na segunda, é rainha (substantivo comum).

LISTA DAS PRINCIPAIS LOCUÇÕES

a álcool à busca de à colação


à alícota de a cabo de a combinar
à altura de à caça de a começar por
a arbítrio de a cacetadas à condição de
à baila a caminho de a consenso de
à bala a cântaros à conta de
à base de a caráter a contar de
à beira de à carga a contento
à beira-mar a cargo de a contragosto
a bel-prazer à cata de a contrapelo
a bem da verdade a céu aberto a convite de
a benefício de à chave a critério de
à boa-fé a cheque à custa de
à boca pequena a chicote a custo de
à borda de a chicotadas a dedo
a bordo de a coberto à deriva de

121
a descoberto à exceção de a gosto
a desejo de a exemplo de a gozo de
a despeito de a expensas de à guisa de
a diesel (às expensas de) à imitação de
a dinheiro à faca a juízo de
à direita de a facadas a julgamento
à disparada à face de a juros de
à disposição de à falsa fé a justo título
à distância de à falta de a largo de
à doida a favor de a laser
a dois à feição de a limpo
a duras penas a fim de a lume
à eletricidade à flor de à luz de
à entrada de força de à má-fé
à época de à frente de a mais
à escolha de à fresca a malgrado de
à escuta de a frio a mandado de
a esmo a fundo a mando de
à espera de a galope à maneira de
à espreita de a ganho de à mão
à esquerda de a gás à máquina
à evidência de à gasolina à margem de
à exaustão a golpe de à média de

122
à medida que a passeio a priori
a meio pau a passos largos à procura de
a menor a pé à proporção que
à mercê de a pedido de a propósito de
a mil a pedidos à prova de
à míngua de a perder de vista a público
à minuta a perigo a quatro mãos
à moda a peso de ouro à queima-roupa
a modo de a pino a quente
a montante de a pique à raiz de
à mostra de a pleno à razão de
a motor a poder de a reboque
a nado à ponta de à rédea curta
a nocaute a pontapés a requerimento
à noite a ponto de a respeito de
à obediência de a portas abertas à revelia de
a olho nu a posteriori a rigor
à ordem de a postos à risca
à paisana a prazo a risco de
a pão e água a preço de a rodo
a par de à prestação a rogo de
à parte a pretexto de a salvo de
a partir de a princípio a sangue-frio

123
à semelhança de às cegas
a serviço de às claras
à solta às escuras
à soma de às pencas
à sombra de às vezes
a sós às vistas de
à surdina
à tarde
a tempo
a termo
a tiro
a título de
à toa
a toda
a trabalho
a troco de
à unanimidade
à velocidade de
à venda
à vista de
à volta de
a zero (estar)
às avessas

124
⮚ CAPÍTULO 7 – PRONOME PESSOAL

7.1. Classificação

São três tipos:

1. caso reto – exerce a função de sujeito: eu, tu, ela, ele, nós, vós, elas, eles.

2. caso oblíquo átono – exerce a função de complemento ou de adjunto: me, te,


se, a, o, lhe, nos, vos, as, os, lhes.

3. caso oblíquo tônico – exerce a função de complemento ou de adjunto e


sempre vem preposicionado: mim, ti, si, ela, ele, nós, vós, elas, eles.

Alguns pronomes, como se nota, podem exercer mais de uma função.

7.2. Principais dificuldades

. eu ou mim
eu = função de sujeito
mim = função de complemento ou adjunto, mas nunca de sujeito

É errada a construção “Não ocorreram brigas entre você e eu”, pois o sujeito da
oração é “brigas”, o que impede o uso do “eu”. O correto é “Não ocorreram
brigas entre você e mim”.

125
. com você, contigo ou consigo
com você = usa-se quando tratamos a pessoa por “você”
contigo = usa-se quando tratamos a pessoa por “tu”
consigo = só se usa como forma reflexiva da terceira pessoa

É errada a construção “Precisamos falar consigo”, pois não há o uso reflexivo.


Dependendo do tratamento, estão corretos: “Precisamos falar com você” e
“Precisamos falar contigo”.

. conosco ou com nós


conosco = é usado quando não houver palavra reforçativa
com nós = só pode ser usado quando houver palavra reforçativa

É errada a construção “Vieram falar com nós”; cabem as seguintes construções:


“Vieram falar conosco” ou com palavra reforçativa “Vieram falar com nós todos”,
“Vieram falar com nós três”... As palavras reforçativas são: mesmos, próprios,
todos, numerais cardinais e aposto.

7.3. Pronomes átonos

7.3.1. Adaptações

Os pronomes átonos o, a, os, as sofrem alterações ao ficarem pospostos a


verbos terminados em –r, –s, –z ou a verbos com terminação nasal (letra -m
ou til):

126
a) Os verbos terminados em –r, –s ou –z perdem essa letra final e o pronome
recebe o acréscimo da letra l:
estudar + o = estudá-lo construir + as = construí-las
pus + a = pu-la repôs + as = repô-las
fiz + as = fi-las traz + o = trá-lo

b) Quando o verbo é terminado em som nasal (-m ou til), acrescenta-se a letra n


ao pronome:
põe + os = põe-nos amam + as = amam-nas
dão + o = dão-no peguem + as = peguem-nas

Observação – Os verbos conjugados na primeira pessoa do plural perdem o -s


final quando recebem (em ênclise) pronomes átonos da mesma pessoa:
vemos + nos = vemo-nos identificamos + nos = identificamo-nos

Atenção – Diante de tais combinações, conclui-se que os pronomes “lhe, lhes”


nunca exigirá uma adaptação verbal: Remetemos-lhes o documento. Vou
enviar-lhes o presente. Dirigiram-lhes novo pedido.

7.3.1. O, a, os, as x lhe, lhes

Os pronomes o, a, os, as substituem os objetos diretos:


Conheci esta cidade ontem. => Conheci-a ontem.
Ele visitou o amigo. => Ele o visitou.
O eleitorado elegeu o político. => O eleitorado o elegeu.

127
Os pronomes lhe e lhes substituem os objetos indiretos introduzidos pela
preposição a (ou para), com a ideia de destinatário;
Demos o presente ao menino. => Demos-lhe o presente.
O livro pertencia aos alunos => O livro lhes pertencia.
Enviaram às pessoas os convites. => Enviaram-lhes os convites.

Observação – O pronome lhe(s) tem outro uso: sentido possessivo, equivalente


aos pronomes possessivos seu(s), sua(s). Observe as frases:
O acusado roubou-lhe a bolsa. => O acusado roubou a sua bolsa.
As fãs rasgaram-lhe a camisa. => As fãs rasgaram a sua camisa.

7.3.2. Colocação pronominal

Quanto à colocação dos pronomes átonos, há três posições em relação ao


verbo:

. Próclise - anterior ao verbo: O homem não se ateve ao fato.


É a colocação mais usada pelo brasileiro e na maioria das vezes está também
correta, desde que não inicie o período. Será obrigatória quando houver palavra
atrativa.

. Ênclise - posterior ao verbo: Informei-lhes todos os problemas.


Colocação que deve ser usada genericamente, desde que não haja palavra
atrativa. É obrigatória no início dos períodos, mas proibida quando o verbo
estiver sendo usado no futuro do indicativo ou no particípio.

. Mesóclise - no meio do verbo: Dar-lhe-emos os presentes.

128
Essa colocação é usada com o futuro do presente ou futuro do pretérito (do
indicativo) em duas hipóteses: o verbo que inicia o período está no futuro ou o
verbo no futuro não está acompanhado de palavra atrativa.

O estudo da colocação pronominal pode centrar o foco em três regras absolutas,


que, combinadas e respeitadas, garantem uma colocação coerente e correta:

. não iniciar o período com o pronome átono;


Errado: Me referi ao problema.
Correto: Referi-me o problema.

. não colocar o pronome átono após o futuro e o particípio


Errado: Ela tinha avisado-me a tempo de ajudar.
Correto: Ela tinha me avisado a tempo de ajudar.

Errado: Enviarei-lhe os documentos amanhã.


Correto: Enviar-lhe-ei os documentos amanhã.

. havendo palavra atrativa, usar o pronome átono antes do verbo.


Errado: Sabemos que tornou-se comum essa atividade.
Correto: Sabemos que se tornou comum essa atividade.

Errado: Conforme constatou-se, ele morava ali.


Correto: Conforme se constatou, ele morava ali.

Palavras atrativas

129
a) palavras com sentido negativo: não, nunca, jamais, ninguém, nada,
nenhum, nem, etc.
Nunca se meta em confusões. Você não os viu nem os chamou. Nada nos
deterá.

Observação — Quando há palavra com sentido negativo e o verbo está no


infinitivo, passa a ser facultativa a colocação do pronome, pois pode-se antepor
ou pospor:
Confirmei o horário para não me atrasar.
Confirmei o horário para não atrasar-me.
Solicitei notícias a todos, pois tive medo de não os rever.
Solicitei notícias a todos, pois tive medo de não revê-los.

b) advérbios (sem vírgula): aqui, ali, só, também, bem, mal, hoje, amanhã,
ontem, já, nunca, jamais, apenas, tão, talvez, etc.
Ontem a vi na aula. Aqui se trabalha muito. Ele sempre se referiu ao Brasil.
Com a vírgula, cessa a atração: Ontem, vi-a na aula. Aqui, trabalha-se muito.

c) pronomes indefinidos: todo, tudo, alguém, ninguém, algum, etc.


Tudo se tornou esclarecido para nós. Alguém nos chamou. Ninguém o conhece

d) pronomes ou advérbios interrogativos (o uso destas palavras no início da


oração interrogativa atrai o pronome para antes do verbo): O que ? Quem ? Por
que ? Quando ? Onde? Como ? Quanto ?
Quem a vestiu assim? Por que se fez tanto escândalo? Onde nos colocaram?

e) pronomes relativos: que, o qual, quem, cujo, onde, quanto, quando, como.

130
Havia duas ideias que se tornaram importantes. Era bela a igreja na qual se
casaram seus pais.

f) conjunções subordinativas: que, uma vez que, já que, embora, ainda que,
desde que, posto que, caso, contanto que, conforme, quando, depois que,
sempre que, para que, a fim de que, à proporção que, à medida que etc.
Ele entenderá melhor o fato caso o reanalise. Quando se notou o problema, já
era tarde.
Ele entregará os documentos conforme se combinou.

g) em + gerúndio
Em se tratando de corrupção, o Brasil tem experiência. Há alterações em se
observando falha.

h) orações optativas (são as que exprimem desejo):


Deus lhe pague! Deus os abençoe! Raios o partam!

Material de revisão sobre o tema:


https://joaobolognesi.com/category/pronome-pessoal/
https://joaobolognesi.files.wordpress.com/2021/02/pronome-atono.pdf

131
⮚ CAPÍTULO 8 – VOZ PASSIVA

8.1. Classificação

A voz passiva classifica-se em analítica e sintética. Traz em sua formação vários


aspectos gramaticais, mas tudo principia na regência verbal, pois só se pode
criar a voz passiva com VTD ou VTDI.

8.2. Voz passiva analítica

– forma-se com o verbo auxiliar ser (e mais raramente estar ou ficar) seguido
de verbo principal no particípio:
A casa será vendida pelo corretor.
O trabalho foi feito pelo aluno.
Os testes seriam realizados por todos nós.
A criança era lavada todos os dias

– o sujeito da voz passiva analítica corresponde ao objeto direto da voz ativa; já


o agente da voz passiva corresponde ao sujeito da voz ativa:

ativa: Ele fez a entrega. <=> passiva: A entrega foi feita por ele.
sujeito objeto direto sujeito agente da passiva

ativa: Ela acertou a questão. <=> passiva: A questão foi acertada por ela.
sujeito objeto direto sujeitoagente da passiva

132
– o tempo verbal deve ser mantido nas transformações entre as vozes:
Fizemos o trabalho. <=> O trabalho foi feito por nós.
pretérito perf. do ind. pretérito perf. do ind.

Vocês farão o curso. <=> O curso será feito por vocês.


futuro pres. futuro pres.
do indicativo do indicativo

Observe a correlação:

Presente do indicativo: ele lê o livro <=> o livro é lido...


Pretérito perfeito do indicativo: ele leu o livro <=> o livro foi lido...
Pretérito imperfeito do indicativo: ele lia o livro <=> o livro era lido...
Pretérito mais-que-perf. do indicativo: ele lera o livro <=> o livro fora lido...
Futuro do presente do indicativo: ele lerá o livro <=> o livro será lido...
Futuro do pretérito do indicativo: ele leria o livro <=> o livro seria lido...
Presente do subjuntivo: que ele leia o livro <=> que o livro seja lido...
Pretérito imperfeito do subjuntivo: se ele lesse o livro <=> se o livro fosse lido...
Futuro do subjuntivo: quando ele ler o livro <=> quando o livro for lido...

8.3. Voz passiva sintética

133
- forma-se com verbo transitivo direto acompanhado do pronome se (pronome
apassivador) mais sujeito paciente:
Viu-se o erro. Leem-se as cartas.
VTD + SE sujeito VTD + SE sujeito

- a voz passiva sintética só existe na terceira pessoa (singular/plural);

- a voz passiva sintética mantém estreita correlação com a voz passiva analítica:
VPA <=> VPS
é trabalhado = trabalhou-se
foi visto = viu-se
era analisado = analisava-se
não será estudado = não se estudará
seria percebido = perceber-se-ia
(caso) fosse lido = (caso) se lesse

- Quando o verbo for verbo transitivo direto e indireto, a voz passiva sintética
também pode ser construída:
Deram-se as notas (sujeito paciente) ao aluno. (corresponde a: As notas foram
dadas ao aluno)
Ao cliente enviaram-se todos os pedidos (sujeito paciente). (= Todos os pedidos
foram enviados ao cliente)
Atribuiu-se aos homens a tarefa pesada (sujeito paciente). (= A tarefa pesada foi
atribuída aos homens)

134
8.4. Voz Passiva Sintética x Sujeito Indeterminado

Em nosso idioma, conseguimos criar um tom mais neutro em frases como:


“Observou-se o erro” e “Concordou-se com a ideia”. Como não se põe quem
observou ou quem concordou, isso permite ao enunciador, além da
impessoalidade, um distanciamento em relação ao fato, uma estratégia muito
comum nos textos.

Apesar de muitas semelhanças, as frases “Observou-se o erro” e “Concordou-se


com a ideia” trazem uma estrutura que produz fatos gramaticais muito distintos.
O verbo observar é VTD (observar algo) e o verbo concordar é VTI (concordar
com algo). Essa diferença de regência é o ponto teórico inicial para entender
duas distintas montagens, mas ambas perigosas em concurso público:

. VOZ PASSIVA SINTÉTICA

=> VTD + SE + sujeito paciente – esta estrutura recebe o nome de voz passiva
sintética e traz:
. verbo transitivo direto na terceira pessoa (singular ou plural);
. pronome apassivador SE;
. sujeito paciente (termo cujo núcleo não virá preposicionado).

Além disso, aceita ser transposta para a voz passiva analítica:


Fizeram-se as encomendas. <=> As encomendas foram feitas.
Voz passiva sintética Voz passiva analítica

Não se confirmaram as datas. <=> As datas não foram confirmadas.


Voz passiva sintética Voz passiva analítica

135
Vale reforçar que nessa estrutura haverá um sujeito paciente e, com isso,
deve-se ter atenção à concordância: Observaram-se as falhas. Não se acatam
as ordens. Sempre se lerão as obras clássicas.

Quando se afirma ser necessário um VTD para a formação da voz passiva


sintética, deve-se ter consciência de que não se produzirá a estrutura sintática
VTD + OD, mas sim VTD (+SE) + sujeito paciente. Na voz passiva, o objeto
direto se transforma no sujeito paciente.

. SUJEITO INDETERMINADO

=> VTI + SE + objeto indireto – Esta estrutura recebe o nome de sujeito


indeterminado e traz:
. verbo transitivo indireto na terceira pessoa do singular;
. índice de indeterminação do sujeito SE;
. objeto indireto (termo que sempre virá preposicionado).

Trata-se de medidas paliativas. Discorda-se de tais medidas.


objeto indireto objeto indireto

Nessa estrutura não haverá sujeito e, com isso, o verbo ficará no singular.

Observação – A indeterminação com o pronome “se” também se faz com verbo


de ligação e verbo intransitivo, mas sem gravidade para o tema concordância. O
perigo se encontra no VTI, mas, como sabemos, haverá objeto indireto, termo

136
que virá preposicionado e não deve ser confundindo com sujeito.

Ao comparar voz passiva sintética e sujeito indeterminado, encontram-se duas


estruturas importantes para o domínio da concordância na norma culta. Além
disso, delas há presença intensa em concursos públicos.

Voz passiva sintética X Sujeito indeterminado


Escreveram-se as histórias. Acreditou-se nas histórias.
sujeito objeto indireto

137
⮚ CAPÍTULO 9 – CONCORDÂNCIA NOMINAL

9.1. Regra geral

Como regra geral, artigo, adjetivo, numeral e pronome concordam em gênero e


número com o substantivo. Na maioria das vezes, não encontramos dificuldades
na aplicação dessa regra, mas há palavras e expressões que precisam ser
analisadas particularmente. Deve-se atentar àquilo que se desvia da regra ou
que traga mais de um uso correto, exigindo habilidade de distinção e
classificação.

9.2. Palavras e expressões que geram dúvidas

Em várias questões de prova e no uso diário, encontramos algumas palavras e


expressões que geram dúvida quanto à flexão correta. A lista a seguir traz de
forma sucinta explicações e exemplos.

. alerta – advérbio, portanto invariável: Eles ficaram alerta. Todos deveriam estar
alerta.
Observação¹ – O brasileiro usa a palavra “alerta” como adjetivo, o que deve ser
evitado. Em situação de prova, mantenha a classificação de advérbio e o uso
invariável.
Observação² – Também se pode usar a expressão invariável “em alerta”.

. anexo – adjetivo, concordância normal com o substantivo a que se refere: As


notas serão enviadas anexas. Anexos à nota fiscal, grampeamos os cheques.

138
Observação – Também se pode usar a expressão invariável “em anexo”.

. apenso – adjetivo, concorda normalmente: Apensas, remetemos as exigências.


Observação – Também se pode usar a expressão invariável “em apenso”.

. barato – pode ser tanto adjetivo (ao qualificar um substantivo) quanto advérbio
(ao modificar um verbo):
- adjetivo: Os presentes eram baratos. As flores estavam baratas.
- advérbio: Essa loja vende muito barato. Eles pagaram barato.

. bastante – possui variada classificação (adjetivo, advérbio, pronome indefinido


e substantivo); em geral, a troca por sinônimos (bastante = muito ou bastante =
suficiente) garante a correta análise da flexão. Havendo flexão nos sinônimos, o
bastante também varia:
- adjetivo: Tínhamos provas bastantes para incriminá-lo (= provas suficientes)
- advérbio: Compraram coisas bastante bonitas (= muito bonitas).
- pronome indefinido: Vimos bastantes coisas (= muitas coisas).
- substantivo: Os animais já comeram o bastante (= o suficiente) para poder
suportar a viagem.

. caro – segue mesmo raciocínio de barato, ou seja, pode ser tanto adjetivo
(qualifica um substantivo) quanto advérbio (modifica um verbo):
- adjetivo: Os presentes eram caros. As flores estavam caras.
- advérbio: Essa loja vende muito caro. Ele pagaram caro.

. exceto – invariável, palavra que denota exclusão e se equivale a menos, só:


Exceto os homens, todos saíram. Os adultos entenderam a dificuldade, exceto
as crianças.

139
. extra – como prefixo, é invariável; como adjetivo, varia em número:
- prefixo: Eram apenas fatos extra-ambientais. Haverá tarefas extra-aulas.
- adjetivo: Havia trabalhos extras, mas também salários extras.

. haja vista – expressão (sinônima de “veja-se”, “atente-se para”, “tendo em


vista”) em que a palavra “vista” é invariável: Houve várias mudanças fiscais, haja
vista o rigor para liberar os produtos.

. incluso – adjetivo, concordância normal: As fotos seguem inclusas. A nota


fiscal segue inclusa ao pacote.

. junto – como adjetivo, varia normalmente; porém, nas locuções junto a, junto
de e junto com, a palavra junto fica invariável:
- adjetivo: Eles vieram juntos. Na confusão, as crianças permaneceram juntas.
- locução: Eles estavam junto a nós. Pedi para que elas ficassem junto da
parede.

. leso – adjetivo, concordância normal com a palavra a que se vincula: Foi um


crime de leso-patriotismo, lesa-pátria.

. longe – normalmente é palavra usada como advérbio (portanto invariável);


pode também ser usada como sinônimo de longínquo e passa, então, a
concordar, pois é classificada como adjetivo (tal uso é arcaico):
- advérbio: Eles moram longe.
- adjetivo: Sempre visitava as longes terras de seus pais.

140
. meio – pode ser usada como numeral fracionário (portanto variável) e também
como advérbio de intensidade (invariável):
- numeral: Quando havia lua cheia, em todas as meias-noites ele virava
lobisomem. Não consigo acreditar em meia palavra sua.
- advérbio: Ela vivia meio cansada. No brinquedo as crianças ficaram meio
zonzas.
Observação – Como advérbio, em caso de dúvida troque por muito; não
havendo flexão, meio é invariável.
Ela ainda está ? ressentida. = Ela ainda está meio (muito) ressentida.

. menos – palavra invariável, não se flexiona jamais: Mandaram que ele


comesse menos comida.

. mesmo – palavra que só não varia quando significa “realmente”, “de fato”,
quando aparece como reforçativo, a concordância dá-se normalmente:
- variável: As mulheres mesmas devem fazer isso. Eles mesmos aceitaram a
tarefa. As mesmas pessoas voltaram a fazer os estragos.
- invariável: Elas virão mesmo? Os seguranças estão mesmo certos que isso
não voltará a ocorrer.

. nenhum – quando anteposto a um substantivo, é completamente variável;


quando posposto, só pode variar em gênero, e não em número (portanto, não
pode ser usado no plural quando posposto):
- anteposto: Vimos que ele não tinha nenhum empréstimo, nenhuma dívida. No
projeto não havia nenhuns erros, nenhumas falhas.
- posposto: Não se conseguiu analisar trabalho nenhum. Não me enviou coisa
nenhuma.

141
Observação – Como se notou, o uso plural, quando anteposto, gera grande
estranheza, mas gramaticalmente está correto.

. obrigado – completamente variável, concordância idêntica a palavras como


“grato” e “agradecido”: Ela disse muito obrigada a todos que a aplaudiram. Elas
são muito obrigadas pela ajuda prestada.

. pseudo – é um prefixo, portanto invariável: Eram ideias pseudo-organizadas.

. próprio – palavra variável: Elas próprias fizeram todo o trabalho. Eles se


feriram a si próprios. As próprias pessoas envolvidas sabem do fato.

. qualquer – palavra com plural interno: Naquele momento, eram importantes


todos os fatos, quaisquer notícias.

. quite – adjetivo, portanto variável: Se já cumpri o acordo, estou agora quite; se


vocês também cumprirem, estarão quites.

. salvo – não varia quando traz a ideia de exclusão e pode ser trocada por
exceto; do restante, a concordância ocorre normalmente:
- variável: As crianças já estão salvas. Depois de salvas as primeiras pessoas,
todos se acalmaram.
- invariável: Todos pagaram a entrada, salvo as crianças. Entraremos em contato
novamente, salvo se você antes nos ligar.

. só – palavra que pode funcionar como adjetivo (variável) ou advérbio


(invariável). Na substituição, pode-se confirmar a função:

142
a) variável: só = sozinho
Ficaremos sós (sozinhos) hoje.
Não devemos andar sós (sozinhos) por aqui.
Aqui nunca ficarão sós (sozinhos).

b) invariável: só = somente
Ficaremos só (somente) hoje.
Não devemos andar só (somente) por aqui.
Só (somente) eles não vieram.

Observação – Também há a expressão “a sós”, invariável (Fiquei a sós. Eles


também ficaram a sós).

. tal qual – a expressão, quando vincula dois substantivos, faz concordância


normalmente; atente-se somente aos respectivos vínculos, pois tal concorda
com o antecedente e qual concorda com o posterior: Os rapazes são tais qual o
pai. A mãe não queria que os filhos fossem tais quais os vizinhos. O homem, tal
quais os bichos, tem atitudes instintivas.

9.3. Plural do adjetivo composto

Flexiona apenas o último elemento:

países latino-americanos bases econômico-fiscais


teorias psicológico-normativas metas político-sociais

143
crises sul-americanas análises histórico-econômicas
pensamentos filosófico-jurídicos festa nipo-brasileira
reunião luso-franco-brasileira cabelos castanho-claros
paredes amarelo-claras blusas vermelho-escuras.

Essa noção também vale para a expressão “todo-poderoso”: homens


todo-poderosos, mulheres todo-poderosas, ideia todo-poderosa.

Exceções – surdo-mudo, pois variam ambas: surda-muda, surdas-mudas,


surdos-mudos; já furta-cor, azul-celeste e azul-marinho são invariáveis.

9.4. Adjetivos que indicam cor

Normalmente, para expressar as cores, usamos adjetivos: preto, amarelo,


branco, verde, vermelho, azul, bege, roxo, etc. Por isso, são palavras que
sempre concordam com o substantivo a que fazem referência: camisas pretas,
paredes amarelas, calças brancas, bandeiras vermelhas...

Caso se use a forma composta, haverá a variação só do último elemento:


paredes amarelo-claras, bandeiras vermelho- claras...

Ocorre que essas palavras não conseguem qualificar todas as cores existentes,
ou seja, os adjetivos são limitados, mas a variação de cores não. Para resolver
essa desproporção, apelou-se aos substantivos e passou-se a usar como
adjetivo o nome de bichos e de coisas, como: areia, abóbora, creme, salmão,
vinho, cinza, violeta, laranja, ouro, mostarda, etc. Nota-se que nesse caso

144
sempre haverá, de forma explícita ou implícita, a expressão cor de. Identificada
essa expressão, não ocorrerá flexão do substantivo agora qualificador. Confira:
camisas vinho (subentenda: camisas cor de vinho)
paredes marfim (paredes cor de marfim)
sapatos cinza (sapatos cor de cinza)
paredes azul-mar (azul cor do mar)
lenços gelo (lenços cor de gelo)
tons pastel (tons cor de pastel)
cortinas verde-bandeira (verde cor da bandeira)
cabelos vermelho-cobre (vermelho cor de cobre)
camisas verde-limão (verde cor de limão)
luvas verde-garrafa (verde cor de garrafa)
capas verde-dólar (verde cor de dólar)
sapatos amarelo-canário (amarelo cor de canário).

Diante disso, há cinco hipóteses de construção:


a) adjetivo simples – varia normalmente: camisas vermelhas
b) adjetivo composto – varia só o último: camisas vermelho-claras
c) subentendido cor de – não varia: camisas vermelho-salmão
d) subentendido cor de – não varia: camisas salmão
e) subentendido cor de – não varia: camisas salmão-claro

Pode-se concluir que em raios infravermelhos a concordância é


obrigatória, pois temos um adjetivo. Já em raios ultravioleta corretamente se usa
no singular, pois ocorre o uso subentendido da expressão cor de violeta.
Relembre que “furta-cor”, “azul-celeste” e “azul-marinho” são invariáveis: pedras
furta-cor, camisas azul-celeste, blusas azul-marinho.

145
9.5. Adjetivos em função adverbial

Sabemos que o adjetivo forma inúmeros advérbios terminados em –mente:


veloz+mente; feliz+mente. Em muitas construções, porém, o empréstimo é
direto, sem acréscimos. Nascem os adjetivos adverbializados, ou seja, adjetivos
“emprestados” à função de advérbio.

Eles falaram alto. Ela escreveu rápido. A loja vendia caro. A cerveja que desce
redondo.

alto. confuso.
fácil. bonito.
claro. duro.
Eles falaram baixo. Elas escrevem errado.
diferente. rápido.
Certo. suave.
macio. bonito.

9.6. Concordância especial

Há as expressões é bom, é necessário, é preciso, é permitido, é proibido (e


semelhantes), que ficam invariáveis graças à generalização e à falta de
determinação do núcleo do sujeito. Se houver, porém, a determinação
(geralmente o artigo ou os pronomes demonstrativos ou possessivos), ocorre a
concordância normalmente. Observe:

146
. sem determinação: Entrada de estranhos é proibido.
. com determinação: A entrada de estranhos é proibida.

. sem determinação: É necessário liberdade de expressão.


. com determinação: É necessária a liberdade de expressão.

9.7. O mais possível

Nas formações o mais possível, o menos possível, há a seguinte regra:


. artigo no singular: Quero dois pães o mais claros possível.
. artigo no plural: Quero dois pães os mais claros possíveis.

147
⮚ CAPÍTULO 10 – CONCORDÂNCIA VERBAL

10.1. Introdução

Para organizar a concordância verbal, deve-se:

1. entender a regra geral, ampliar a proficiência técnica e sistematizar as


armadilhas e dificuldades impostas pela banca;

2. organizar as construções que fogem à regra geral e, por isso, geram regras
especiais, que ora dependem do tipo de sujeito, ora dependem do tipo de
verbo.

O tema divide-se em três tópicos:

Concordância Verbal

Regra Geral Regras Especiais


1º Tópico

Sujeitos especiais Verbos especiais


2º Tópico 3º Tópico

10.2. Regra geral

148
A regra geral da concordância verbal é o verbo concordar com o núcleo do
sujeito. O núcleo do sujeito possui algumas autodefesas e dominá-las torna-se
importante para identificá-lo:
a) o núcleo do sujeito não vem unido a uma preposição;
b) entre o sujeito e o verbo, não se usa uma vírgula a separá-los.

A função de núcleo do sujeito pode ser formada por substantivo (ou outra
palavra substantivada), pronome, infinitivo ou até uma oração:
A prática de esporte transformou-se de lazer em conquista pela saúde.
Ela transformou-se de lazer em conquista pela saúde.
Praticar esporte transformou-se de lazer em conquista pela saúde.

Observe nas frases abaixo a necessária distinção entre sujeito e núcleo do


sujeito.

A análise de todos os dados pesquisados pelos auditores demonstra aos sócios


inúmeras falhas fiscais.
sujeito: A análise de todos os dados pesquisados pelos auditores
núcleo do sujeito: análise

O envio dos produtos importados e dos produtos fabricados no Brasil só ocorrerá


nos próximos dias.
sujeito: O envio dos produtos importados e dos produtos fabricados no Brasil
núcleo do sujeito: envio

Essa distinção é fundamental, pois uma das situações comuns em prova é a


banca inserir o erro e ele passar imperceptível pelos candidatos. É aí que o

149
treino e a consciência de como a banca age ampliam nossa competência na
aplicação da regra e no domínio da análise.

10.3. Armadilhas da banca

Só com a regra geral (o verbo concorda com o núcleo do sujeito), as bancas já


nos cobram uma rica experiência de idioma, pois, apesar de regra tão diminuta,
há a imposição de inúmeras armadilhas para induzir o candidato a erro. Só nos
resta reconhecer e organizar aquilo que a banca, com muito sucesso, vem
usando nas questões de concordância verbal. É fundamental estudar aquilo que
a banca constrói, com artifícios já testados e aprovados através dos anos.
Nesta hora, unem-se: teoria, técnica e prática.

Deve-se pensar que uma questão de prova é construída com o intuito de excluir
o candidato e, para que se alcance tal objetivo, a banca precisa enganá-lo, fazer
com que ele escolha a resposta que não seja a correta. Gerado pela banca e
não observado pelo candidato, o erro de concordância precisa tornar-se
matéria a ser estudada. Resta-nos identificar os artifícios dolosos e
desconstruí-los, cientes de que a banca nunca cessa de se renovar, embora
muitas vezes se repita.

Sem perder de vista que ainda se trabalha apenas a regra geral, acompanhe a
seguir a descrição das principais armadilhas usadas pelas bancas:

ARMADILHAS DA BANCA
a) Distanciamento, intercalação e musicalidade
b) Ordem inversa

150
c) Pessoa não sujeito
d) Pronome relativo

Antes que venha a ingênua pergunta à mente “A banca usa uma armadilha ou a
outra?”, já devemos ter a plena consciência de que a banca não encontra limites
para aplicar seu ardil, portanto uma armadilha funciona sozinha ou somada a
qualquer outra. Uma armadilha já é eficaz sozinha; quando somadas as
armadilhas, potencializam-se as dificuldades. Isso não importa, pois, conforme
se capta o dolo da banca, também se articulam em nós autodefesas e padrões
de análise. Façamos o estudo:

a) Distanciamento, intercalação e musicalidade

Nas alternativas em que se intercala um termo entre o verbo e o núcleo do


sujeito, geralmente há a má-fé de se produzir um distanciamento que dificulte a
identificação deles. Além disso, é bem possível que a musicalidade do termo
intercalado e posto antes do verbo também influa negativamente, induzindo o
usuário à tentação de concordar “de ouvido”. Juntos, distanciamento,
intercalação e musicalidade formam uma articulação perigosa. Observe os
exemplos:

Errado: A queda nas bolsas de valores brasileiras mostram o tamanho da crise.


Certo: A queda nas bolsas de valores brasileiras mostra o tamanho da crise.

Errado: A produção de alimentos, em regiões distantes, têm nova opção.


Certo: A produção de alimentos, em regiões distantes, tem nova opção.

Errado: A análise dos autores dos crimes nos revelam novidades para o caso.

151
Certo: A análise dos autores dos crimes nos revela novidades para o caso.

Errado: Os limites da nova tendência econômica traz uma previsão sinistra.


Certo: Os limites da nova tendência econômica trazem uma previsão sinistra.

Errado: A pluralidade de opiniões e de manifestações inibem um resultado


rápido.
Correto: A pluralidade de opiniões e de manifestações inibe um resultado rápido.

b) Ordem inversa

A ordem direta é: sujeito, verbo e complemento. A ordem inversa é qualquer


ordem que não esta. O intuito da banca é trazer um ponto a mais de dificuldade
na análise do núcleo do sujeito. Observe os exemplos:

Errado: Existe, em toda a realidade brasileira, pequenas amostras de soluções.


Certo: Existem, em toda a realidade brasileira, pequenas amostras de soluções.

Errado: É necessário para a atual fase novos investimentos.


Correto: São necessários para a atual fase novos investimentos.

Errado: Surgiu na doutrina grandes discussões.


Correto: Surgiram na doutrina grandes discussões.

c) Pessoa não sujeito

152
A construção mais comum é aquela em que temos no núcleo sujeito uma pessoa
agente. Apesar de comum, não é absoluta. Quando se usa “o menino corre”, “a
criança brinca”, “a menina estuda”, fácil deduzir o sujeito. Quando, porém, a
frase usada é “cabe aos funcionários a escolha”, há um procedimento cognitivo
diferenciado, exige-se mais do cérebro. Com isso, os segmentos devem ser
reorganizados mentalmente a fim de se revelar a ordem direta e qual é o sujeito:
“a escolha cabe aos funcionários”, “escolha” é o núcleo do sujeito. O termo “aos
funcionários” é só o complemento do verbo (não deixe de observar a preposição
“a” no termo). Observe alguns exemplos:

Errado: Coube ao ministro as análises exigidas anteriormente.


Certo: Couberam ao ministro as análises exigidas anteriormente.

Errado: Pelos peritos foram feitos anteontem o exame que prova a paternidade.
Certo: Pelos peritos foi feito anteontem o exame que prova a paternidade.

Errado: Faltaram aos brasileiros mais garra.


Certo: Faltou aos brasileiros mais garra.

d) Pronome relativo

A presença do pronome relativo é constante nas alternativas, pois ele contribui


para dois problemas: dificuldade na análise do próprio pronome relativo e mais
de uma oração para analisar. Se há mais de uma oração, deve-se analisar uma
oração por vez.

153
Errado: Foram concluídas as análises às quais se referiram a reportagem.
Correto: Foram concluídas as análises / às quais se referiu a reportagem.
(a reportagem se referiu às análises)

Errado: A política traz arranjos que nem sempre ao povo é revelado.


Correto: A política traz arranjos / que nem sempre ao povo são revelados.
(os arranjos nem sempre são revelados ao povo)

Na revisão da concordância, um bom material para treinar a regra geral:


https://joaobolognesi.files.wordpress.com/2016/04/praticando-a-concordc3a2ncia
_2016.pdf

10.4. Sujeitos especiais

a) Estruturas que permitem duas concordâncias corretas

1. sujeito composto após o verbo – concorda-se com o núcleo mais próximo ou


com todos os núcleos:
Na reunião, veio o presidente e seus assessores.
Na reunião, vieram o presidente e seus assessores.

2. partitivo + adjunto adnominal – havendo no núcleo um partitivo (“minoria,


maioria, parte, parcela, quantidade”), concorda-se com o núcleo ou com o
adjunto adnominal subsequente:
A maioria dos espectadores participou do evento.
A maioria dos espectadores participaram do evento.

154
3. porcentagem + adjunto adnominal – concorda-se com o número ou com o
adjunto adnominal:
Trinta por cento da população foram atingidos pela enchente.
Trinta por cento da população foi atingida pela enchente.
Observação – Se o número vier determinado, deve-se concordar com ele:
Os trinta por cento da população foram atingidos pela enchente.

4. fração + adjunto adnominal – concorda-se com o numeral fracionário ou com


o adjunto adnominal:
Um terço das pessoas respondeu ao questionário.
Um terço das pessoas responderam ao questionário.

5. um milhão (um bilhão, um trilhão...) – são três as possibilidades de


concordância:
. ao usar apenas milhão, o verbo fica no singular:
Um milhão rezou pelo Papa.
Menos de um milhão participou da comemoração.

. caso se fracione e se use numeral determinado e inteiro, a concordância é


plural:
Um milhão e novecentos mil rezaram pelo Papa.
Mais de um milhão e duzentos mil participaram da comemoração.

.se após milhão se inserir um adjunto adnominal, concorda-se ou com milhão ou


com o adjunto:
Um milhão de fiéis rezou /rezaram pelo Papa.
Mais de um milhão de pessoas participou / participaram.
Cerca de um milhão de moradores aceitou / aceitaram a mudança.

155
Quase um milhão de eleitores votou / votaram nele.

6. poucos de nós, quais de nós, quantos de nós, muitos de nós – estando o


primeiro constituinte no plural, pode-se concordar com o primeiro pronome ou
com o “nós”:
Quais de nós fizeram o trabalho por completo?
Quais de nós fizemos o trabalho por completo?
Observação¹ – Tal regra também vale para o “vós”:
Quantos de vós vieram me ajudar?
Quantos de vós viestes me ajudar?
Observação² – Se o primeiro pronome estiver no singular, o verbo só poderá
concordar com ele:
Qual de nós fez o trabalho por completo?
Cada um de nós deve contribuir.

7. sujeito + advérbio de companhia – concorda-se só com o núcleo ou com a


soma do núcleo mais o advérbio de companhia:
O presidente com seu assessor esteve no local do acidente.
O presidente com seu assessor estiveram no local do acidente.

8. pronome indefinido quem – concorda-se com o pronome “quem” ou com o


termo antecedente:
Foram os turistas quem observou a falha.
Foram os turistas quem observaram a falha.

Serão os brasileiros quem conquistará a vitória.


Serão os brasileiros quem conquistarão a vitória.

156
Observação¹ – Na última frase, caso o usuário seja brasileiro, também é correta
a concordância ideológica (silepse), isto é, concorda-se com a ideia e não com a
palavra textualmente expressa:
Serão os brasileiros quem conquistaremos a vitória.
Observação² – Se no lugar do pronome indefinido quem for posto o pronome
relativo que, agora a concordância será feita somente com o antecedente:
Foram os turistas que observaram a falha.
Somos nós que merecemos vencer o jogo.

9. a expressão um dos que – pode o verbo concordar com um dos antecedentes:


O ex-atleta foi um dos brasileiros que passou a viver no estrangeiro.
O ex-atleta foi um dos brasileiros que passaram a viver no estrangeiro.

10. a expressão um e outro – verbo pode ser usado no singular ou no plural:


Um e outro transeunte notaram a demolição da casa.
Um e outro transeunte notou a demolição da casa.

11. a expressão nem um nem outro – verbo pode ser usado no singular ou no
plural:
Nem um nem outro contribuíram com a solução do caso.
Nem um nem outro contribuiu com a solução do caso.

12. a expressão nem...nem – verbo pode ser usado no singular ou no plural:


Nem o Brasil nem a Argentina receberão carne da Inglaterra.
Nem o Brasil nem a Argentina receberá carne da Inglaterra.

13. nome de obras no plural – concorda-se com o nome plural ou com termo
subentendido (livro, música, ópera...):

157
“Os Miseráveis” eternizaram-se na literatura universal.
“Os Miseráveis” eternizou-se na literatura universal.

b) Sujeitos especiais: mais de um

a) havendo no sujeito a expressão “mais de um...”, se o verbo indicar que o


sujeito pratica ação independente, isto é, não há reciprocidade para que a ação
se realize, o verbo ficará no singular:
Mais de uma pessoa viu a atitude do acusado.
Mais de um jogador fez gol no jogo.

b) se indicar ação recíproca, o verbo vai para o plural:


Mais de uma pessoa cumprimentaram-se durante o encontro.
Mais de um médico revezavam-se no atendimento.

c) Sujeitos especiais: núcleos ligados pela conjunção ou


Quando os núcleos do sujeito vêm ligados pela conjunção ou, atente-se ao
sentido da construção:

. indicando exclusão (ou um ou outro) – o verbo concorda com o núcleo mais


próximo
O Brasil ou a Argentina ganhará o campeonato.

. indicando inclusão (tanto um quanto outro) – concordância com o núcleo mais


próximo ou com todos
O esporte ou a alimentação poderá / poderão ajudar em sua dieta.

158
. ligando antônimos – concordância plural
O barulho ou o silêncio mais escondem do que revelam.

. indicando retificação (sem vírgulas) – concorda com o núcleo mais próximo


O suspeito ou suspeitos foram vistos naquele local.

. indicando retificação (com vírgulas) – concorda com o primeiro


O suspeito, ou suspeitos, foi visto naquele local.

d) Sujeitos especiais: falsos plurais


Os nomes de cidades, estados, países, continentes, às vezes, criam uma
falsa impressão, pois estão no plural e o verbo no singular. A regra para eles é
simples e direta:

. sem determinante (um artigo geralmente) – verbo fica no singular


Minas Gerais cuida de suas maravilhosas obras barrocas.
Alagoas tem praias maravilhosas.

. com determinante – observe o número do determinante


As Minas Gerais cuidam de suas maravilhosas obras barrocas.
As Alagoas têm praias maravilhosas.

Observação – O país Estados Unidos deve ter adjetivo e verbo sempre no


plural. Para assim ser e não ir contra a atual regra, usa-se o nome do país
sempre com artigo.
Os Estados Unidos não participarão da reunião no Oriente Médio.
Os Estados Unidos não são capazes de conter a imigração.

159
e) Sujeito resumitivo
Numa enumeração de núcleos, a fim de resumir e generalizar, usamos
palavra ou expressão com a qual o verbo deve concordar. São elas
principalmente: tudo, nada, nenhum, ninguém, cada um, cada qual.
Todos os bairros, todos os cidadãos, ninguém deixou de participar do protesto.
Livros, jornais, revistas, tudo fazia parte de suas leituras.

f) Sujeito oracional
Sujeito oracional é aquele que traz em seu núcleo um infinitivo:
Observar a condição de trânsito convém ao motorista.
(sujeito oracional = Observar a condição de trânsito)

Consumir bebida alcoólica é proibido.


(sujeito oracional = Consumir bebida alcoólica)

Nesse tipo de sujeito, em que o núcleo é um infinitivo, o verbo da oração


permanece no singular:
Evitar a vida sedentária e ter boa alimentação conduz à longevidade.
Nadar e correr faz bem à saúde.
Se os infinitivos vierem determinados ou forem antônimos, a concordância
ocorrerá normalmente:
O nadar e o correr fazem bem à saúde. ( = infinitivo determinado)
Amar e odiar fazem parte das relações humanas. (= antônimos)

160
10.5. Verbos especiais

a) Verbo ser

. indicando horas – concorda com o número mais próximo:


São duas horas.
É uma hora e cinquenta e nove minutos.
É meio-dia.

. indicando dias – concorda com o número ou com a palavra dia subentendida:


São vinte de março.
É (dia) vinte de março.

. é muito / é pouco / é mais / é menos – em tais expressões de quantidade, não


há concordância:
Duzentas toneladas é muito.
Cem quilos é mais do que precisamos.

. ligando coisas – pode-se concordar com o sujeito ou com o predicativo:


O futuro é / são os sonhos de hoje.
As palavras ditas foram / foi a punição mas grave.

. ligando pessoa – a concordância dá-se sempre com a pessoa:


A criatividade são os próprios brasileiros.
O futuro são as crianças.

b) Voz passiva sintética x sujeito indeterminado

161
Deve-se ter todo cuidado com essas estruturas muito parecidas, mas com
diferenças enormes quando o foco é a concordância verbal. Em ambas, haverá
visualmente VERBO + SE, mas a diferença sintática é grande:

● Voz passiva sintética


=> VTD + SE + sujeito paciente

. verbo transitivo direto na terceira pessoa (singular ou plural);

. pronome apassivador SE;

. sujeito paciente (termo cujo núcleo não virá preposicionado).

. aceita ser transposta para a voz passiva analítica:

Agendaram-se as datas. <=> As datas foram agendadas.


Voz passiva sintética Voz passiva analítica

Vendem-se carros. <=> Carros são vendidos.


Voz passiva sintética Voz passiva analítica

Estudava-se a lição. <=> A lição era estudada.


Voz passiva sintética Voz passiva analítica

● Sujeito indeterminado

162
=> VTI + SE + objeto indireto

. verbo transitivo indireto na terceira pessoa do singular;

. índice de indeterminação do sujeito SE;

. objeto indireto (termo que virá preposicionado).

Precisa-se de mudanças. Acredita-se nas propostas.


OI OI

Necessita-se de livros. Não se optou pelas velhas ideias.


OI OI

Nessa estrutura não haverá sujeito e, com isso, o verbo ficará no singular.

Revisão:https://joaobolognesi.files.wordpress.com/2016/04/revisc3a3o_voz-passi
va-sintc3a9tica_2016.pdf
c) Oração sem sujeito

Entre os verbos classificados como impessoais, para a concordância verbal dois


merecem muito destaque: haver e fazer. Note as situações em que tais verbos
são impessoais:

. haver – é impessoal e fica na terceira pessoa do singular quando indicar a


ideia de existência, podendo na maioria das vezes ser substituído pelos verbos
“existir”:
Haverá mudanças em breve.

163
Houve novos exames na semana passada.
Sem que houvesse emergências, deveria tocar a sirene.

. haver – é impessoal e fica na terceira pessoa do singular quando se referir ao


tempo passado, ao tempo decorrido, podendo na maioria das vezes ser
substituído pelo verbo “fazer”:
O bebê nasceu há (= faz) trinta dias.
Isso já aconteceu há (= faz) duas semanas.
Os deputados recebiam o dinheiro havia (= fazia) seis anos.

. fazer – é impessoal e fica na terceira pessoa do singular quando se referir ao


tempo, seja cronológico, seja meteorológico:
Faz trinta dias que isso aconteceu. Ontem fez 35 graus.
O time estava sem perder um jogo fazia cinco rodadas.

Quando tais verbos formam locução verbal e ocupam a posição de verbo


principal, o singular permanece na construção, já que a oração continua sem
sujeito:
Deve haver várias pessoas que virão.
Tem havido casos em que ele vence.
Vai haver novas eleições para o cargo.
Pode haver mudanças em breve.
Está fazendo três dias que ocorreu a festa.
Vai fazer oito anos que foi feito o acordo.

Na revisão da concordância, há materiais em:


https://joaobolognesi.com/category/concordancia-verbal/

164
165
⮚ CAPÍTULO 11 – PRONOME RELATIVO

11.1. Introdução

O pronome relativo compõe um elemento essencial para quem se prepara para


um prova de concurso público. Sua funcionalidade serve bem às (más)
intenções da banca, já que é fonte inesgotável de fatos gramaticais e
interpretativos, todos eles exigindo consistência do candidato. Trata-se de um
conectivo privilegiado, produtor de questões em uma área quase sem fim.

O pronome relativo em essência:


. liga duas orações (por isso é um conectivo);
. sempre substitui um antecedente;
. exerce uma função sintática na oração em que introduz;
. a depender da função, pode vir preposicionado;
. introduz a oração subordinada adjetiva.

11.2. Tipos

Os principais pronomes relativos são:


. que – o mais comum entre todos, retoma coisa ou pessoa e não varia;
. o qual, a qual, os quais, as quais – retomam coisa ou pessoa e variam;
. quem – só retoma pessoa;
. cujo, cuja, cujos, cujas – criam uma relação de posse;
. onde – só retoma lugar.

166
11.3 Os principais pronomes relativos: que e o qual

O pronome relativo que não traz marcas nem de número nem de gênero, ele
não se flexiona, é invariável. Pode ser usado para referir-se à ideia de pessoa,
coisa, tempo, lugar, etc., ou seja, é universal. Quando preposicionado, só pode
ser usado com uma das seguintes preposições: de, com, em, a, por.

Foi encontrado o escritório em que o deputado escondia o dinheiro.


Identificou-se o erro a que o revisor fez referência.

Os pronomes relativos o qual, a qual, os quais, as quais, em geral, trazem


equivalência de uso em relação ao pronome relativo que. Por haver as flexões
de gênero e número, muitas vezes servem para desfazer ambiguidades. São
usados com todas as preposições.

Foram solicitados os documentos, sem os quais a entrada era proibida.


Tenho todos os livros com os quais você quer estudar a matéria.

11.4. Classificação da oração

Os pronomes relativos introduzem a oração subordinada adjetiva, pois, ao se


referirem a um antecedente, também trazem uma informação sobre ele,
caracterizando-o, qualificando-o, etc. São apenas dois tipos de orações
adjetivas: explicativas ou restritivas, diferenciadas pelo uso de vírgulas e pelo
sentido.

167
Em relação à vírgula, há seguinte distinção:

. oração subordinada adjetiva explicativa => sempre com vírgula

. oração subordinada adjetiva restritiva => sempre sem vírgula

Em relação ao sentido:

. a oração adjetiva restritiva sempre fará referência à parte de um todo, portanto


visa diferenciar, particularizar, restringir, sempre indicar um subgrupo dentro de
um grupo.
As pessoas que solicitaram o cartão até o dia 10 receberão o
pagamento antes (somente as que solicitaram o cartão até o dia 10 receberão o
pagamento antes).

. a oração adjetiva explicativa, por sua vez, refere-se sempre a um todo, a um


conjunto em sua totalidade; não se quer diferenciar, mas, sim, acrescentar uma
informação suplementar:
As mulheres ocidentais, que no século XX passaram por mudanças
profundas de costume, ainda vivem alguns dilemas pessoais (fica
subentendido: as mulheres ocidentais como um todo passaram por mudanças
profundas de costume, um atributo que atinge a todas elas).
Observe a síntese:

. Pronome relativo => Oração subordinada adjetiva

. Com vírgula => Oração subordinada adjetiva explicativa

168
=Refere-se ao todo, generaliza, não quer indicar diferença.

. Sem vírgula => Oração subordinada adjetiva explicativa


= Refere-se à parte do todo, sempre diferencia, particulariza, restringe.

Conclua que a inserção ou a retirada das vírgulas nas orações adjetivas interfere
no sentido. Entenda bem essa relação vírgula / sentido nas orações adjetivas,
pois a incidência em prova é alta.

Na revisão da concordância, há materiais em:


https://joaobolognesi.files.wordpress.com/2016/03/o-sentido-nas-orac3a7c3b5es-
adjetivas.pdf

11.5. Funcionamento

O pronome relativo, além de conectar uma oração a outra, exerce função


sintática na oração que introduz. Em uma visão bem prática, ele pode funcionar
com ou sem preposição e isso decorre da oração e seus vínculos. Além do tipo
de pronome relativo correto (que, cujo, onde...), deve-se atentar ao seu encaixe
na frase. Esse tópico é o mais recorrente nas provas. Observe a exemplificação:

Li o livro no qual há uma linda história. (no qual = no livro)


Li o livro do qual eles necessitam. (do qual = do livro)
Li o livro ao qual me referi. (ao qual = ao livro)
Li o livro com o qual você vem estudando literatura. (com o qual = com o livro)
Li o livro pelo qual ele tinha optado. (pelo qual = pelo livro)

169
11.6. Trocas

Muito comum nas questões pedir a troca de um pronome relativo por outro,
normalmente “que” por “o qual” quando preposicionados. Diante da constância, é
de bom senso ter de antemão as trocas memorizadas, principalmente quando
ocorre aglutinação entre preposição e artigo. Especial atenção à preposição A e
POR. Acompanhe:

● SEM PREPOSIÇÃO
que <=> o qual / a qual / os quais / as quais
Vi novamente o livro sobre filmes que (o qual) você comprou.

● PREPOSIÇÃO DE
de que <=> do qual / da qual / dos quais / das quais
Compramos o doce de que (ou) do qual ele gosta.

● PREPOSIÇÃO EM
em que <=> no qual / na qual / nos quais / nas quais
Era bonita a cidade em que (ou) na qual ele morava.

● PREPOSIÇÃO POR
por que <=> pelo qual / pela qual / pelos quais / pelas quais
Ficou famosa a rua por que (ou) pela qual ele passou.

● PREPOSIÇÃO A
a que <=> ao qual / à qual / aos quais / às quais
Vi novamente a revista a que (ou) a qual você se refere.

170
Para revisão e ampliação, não deixe de ler:
https://joaobolognesi.files.wordpress.com/2016/05/pronome-relativo_um-roteiro-d
e-estudo_2016.pdf

11.7. Quem

O pronome quem refere-se somente a pessoas e, como pronome relativo,


sempre estará preposicionado. Quando se relaciona com verbos transitivos
diretos, usa-se a preposição “a”.
O homem a quem ela ama é meu irmão.
Conheço a pessoa de quem você precisa.
Esse é o professor de quem falamos.
Encontrei o rapaz com quem você viajou.

11.8. Cujo

Para uma análise eficaz do pronome relativo cujo, siga os seguintes


procedimentos:

a) o pronome relativo cujo vem entre dois substantivos, dando-lhes uma relação
de posse. Observe um erro comum em prova:
Foi uma sentença estranha, cuja acabou por provocar grande
descontentamento (errado, o pronome “cuja” não está entre dois substantivos, a
palavra posterior é um verbo).

171
Como se nota, a falha ocorreu por não se inserir o segundo substantivo. Para a
devida correção, façamos a inserção. Observe:
Foi uma sentença estranha, cuja decisão acabou por provocar grande
descontentamento.

b) Jamais use artigo após o pronome relativo cujo. Confira alternativas com tal
defeito:
Encerrou-se um processo cujo o mérito sequer foi avaliado.
(o correto é “cujo mérito”)

Comprei o livro de cujo os autores você comentou em sua palestra.


(o correto é “de cujo autores”)

c) O pronome relativo cujo concorda com a palavra imediatamente posterior.


Li um livro cuja história é bonita.
Li um livro cujos conceitos contêm importante mensagem.

d) O pronome relativo cujo poderá vir preposicionado. Caso a palavra posterior


ao cujo cumpra função preposicionada, a preposição será anteposta ao cujo.
Não se apaga da memória a cidade em cujas ruas brincávamos.
(brincávamos NAS ruas)

Ele só aceitou os conselhos de cuja pessoa não desconfiava.


(não desconfiava DA pessoa)

Reli as informações de cujo conteúdo eu não me lembrava.


(eu não me lembrava DO conteúdo)

172
11.9. Onde

Para funcionar como pronome relativo, “onde” deve ter um antecedente com
ideia de lugar:
Era muito famosa a cidade por onde ele passou.
Vimos a toca onde o bicho se escondeu.

Quanto à preposição, onde pode receber o acréscimo de acordo com a sintaxe


da frase:
Conheço a cidade por onde ele passou. (passar POR algum lugar)
Conheço a cidade para onde ele vai. (ir PARA algum lugar)
Conheço a cidade de onde ele vem. (vir DE algum lugar)

Observação – À palavra onde nunca se acrescenta a reposição EM; usa-se


simplesmente onde: Conheço a rua onde ele mora. (morar EM algum lugar)

A principal dificuldade está na diferenciação de onde e aonde:

. ONDE
Além de referir-se a lugar, é usado na estrutura que exige preposição EM:
Não se viu o buraco onde o veículo caiu.
(o que caiu, caiu EM algum lugar)
O feijão está guardado no armário onde estão os alimentos.
(os alimentos estão EM algum lugar)

. AONDE

173
Além de referir-se a lugar, é usado na estrutura que exige preposição A:
Não se sabe o lugar aonde ele quer chegar.
(quem chega, chega A algum lugar)
Conheço o bar aonde vocês irão.
(vocês irão A algum lugar)

Quando onde é pronome relativo, pode ser trocado por em que ou no qual (e
variações):
Conhecemos a cidade onde ele nasceu.
= Conhecemos a cidade em que ele nasceu.
= Conhecemos a cidade na qual ele nasceu.

Há material de revisão sobre este tema em:


https://joaobolognesi.com/category/pronome-relativo/

174
❖ CAPÍTULO 12 – CONJUNÇÃO

12.1. Introdução

As orações, quando postas lado a lado, necessitam de um “intermediador” que


explicite os valores semânticos dessa justaposição. A conjunção, portanto, é
uma palavra que liga as orações e carrega em si um significado, como o de
conclusão, tempo, condição, causa, etc.

Tema muito constante nas provas, as conjunções aparecem basicamente em


dois tipos de questões: classificação (a questão pede o sentido ou a
classificação de determinada conjunção) e substituição (a questão pede para
substituir determinada conjunção por outra sem alteração de sentido).

Como há certa rotina na forma de perguntar, também se deve criar certa rotina
na forma de estudar, ou seja, busque memorizar as classificações (14 no total, 5
tipos de conjunções coordenativas e 9 tipos de conjunções subordinativas
adverbiais) e busque agrupar as conjunções com mesmo valor de uso e sentido.

Neste capítulo, falo por experiência própria, tenha um caderno bem organizado,
um material teórico e estude praticando, a resolução de questões trará a sintonia
fina do que estudar. Diante da dúvida, acione material de pesquisa e anotações.
No caderno, com o tempo, haverá aquilo que sua memória precisa aprender.

Para reforçar seus estudos, não deixe de ver:


https://joaobolognesi.com/category/conjuncao/

175
As conjunções são classificadas em coordenativas e subordinativas.

12.2. Conjunções coordenativas

a) conjunção aditiva – e, nem, bem como, (não só) mas também, (não só)
como também:
E: A crise política abafou outras crises e o governo ganhou tempo com isso.
Nem: As pessoas não responderam ao chamado nem justificaram a ausência.
Bem como: O Brasil conseguiu os acordos, bem como agendou visitas.
Mas também: Alguns não só dormem, mas também roncam em demasia.
Como também: Não só o Brasil soube usufruir da boa safra, como também
conseguiu boa exportação.

Observação – Observe que no uso de “mas também” e “como também”,


tende-se a encontrar na oração antecedente a expressão “não só”. Nesse tipo
de correlação, encontramos a expressão “não só” em par com: “mas também”,
“como também”, “mas ainda”, “senão também”.
Não só uma boa nota foi obtida pelo aluno, mas também o elogio de todos.
Ele não só arranjou a confusão, como também começou a briga.

b) conjunção adversativa – mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no


entanto, e (= mas):
Mas: Ele veio, mas não nos visitou.
Porém: Havia dias de grandes dificuldades; ela, porém, nunca desanimava.
Contudo: Eles chegaram ontem, contudo, terão de partir já amanhã.
No entanto: O menino era muito sorridente; a menina, no entanto, estava
aborrecida.

176
E (= mas): Ele prometeu o envio do presente, e não cumpriu.

Observação – Quando a conjunção “e” liga ideias contrárias e tem o mesmo


valor de “mas”, ela é classificada como adversativa.

c) conjunção alternativa – ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, já...já,


nem...nem:
Ou: O Brasil deve exportar mais ou perderá grandes negócios agrícolas.
Ou...ou: Ou você fica quieto, ou será convidado a se retirar.
Ora...ora: Ora ele falava inglês, ora espanhol.

d) conjunção conclusiva – portanto, logo, pois (deslocada), então, assim, por


conseguinte:
Portanto: Ele estudou bastante, portanto, fará uma boa prova.
Logo: Penso, logo existo.
Pois (deslocada): Eles prometeram sinceridade, vão falar, pois, a história toda.

Observação – As palavras “logo”, “então” e “assim” têm mais de um uso. Por


isso, serão conjunções conclusivas quando tiverem o valor de “portanto”.

Observação – A conjunção “pois” só tem valor de “portanto” quando aparece


deslocada na oração, geralmente posposta ao verbo: Ele conseguiu a
passagem; deverá chegar, pois, às 10 horas.

177
e) conjunção explicativa – pois, que, porque, porquanto, já que, uma vez que,
visto que:
Pois: Houve o desconto, pois o pagamento era à vista.
Porque: Não faça isso, porque passar sob a escada dá azar.
Que: Faça elogios, que ela o agradecerá.

12.3. Conjunções subordinativas

f) conjunção causal – porque, porquanto, como (= porque), já que, uma vez


que, visto que, dado que, tanto mais que, pois, na medida em que:
Porque: Ele faltou porque passou mal.
Porquanto: O enfeite ficará bonito, porquanto ela sabe montá-lo.
Uma vez que: A crise econômica ficou até esquecida, uma vez que a crise
política tomou seu espaço.
Como (= porque): Como ele sempre chegava antes de todos, sentava no melhor
lugar.
Já que: Ele não deve mais reclamar, já que fizemos o pagamento como
combinado.
Que: Vocês cuidem das crianças, que eu vou sair.
Visto que: O Brasil está crescendo, visto que é a tendência mundial.

Observação – A conjunção causal “como” exige a formação inversa, isto é, a


oração que ela introduz sempre virá antecedendo a oração principal.

Observação – Na prática, a diferença entre explicativas e causais muitas vezes


não é notada e os concursos evitam tal questionamento devido à dificuldade de

178
distinção. Na prática, é explicativa quando não há relação de causa e efeito
entre as orações:
- O vento vai piorar, porque sinto frio até nos ossos (o frio nos ossos não é a
causa para a piora no vento, portanto temos uma explicação).
- Ele caiu porque o chão está liso (nesse exemplo, o chão liso é a causa para a
queda).

g) conjunção comparativa – que e do que (antecedidos por mais, menos,


maior, menor, melhor, pior), qual (depois de tal), como:
Como: Ele é bravo como uma fera.
Do que: Ele veio mais rápido do que os outros.
Que: A chance de ele vencer é menor que a dos outros concorrentes.
Assim como: Os argentinos amam o tango, assim como os brasileiros amam o
samba.
(Tal) qual: Ele soube agir com humildade, tal qual um grande homem faria.
(Tal) como: Houve uma grande mudança política, tal como tinha ocorrido em
1964.
(Tanto) quanto: Aquilo criou discórdia tanto no lado brasileiro quanto no lado
estrangeiro.
(Tanto) como: Nada cria tanto a vida como o amor.

Observação – Nas comparações de inferioridade e superioridade, pode-se usar


a conjunção que ou do que: Ela é mais alta que ele. Ela é mais alta do que ele.

179
h) conjunção concessiva – embora, conquanto, posto que, ainda que, apesar
de que, mesmo que, nem que, se bem que, por mais que, por muito que, por
menos que, não obstante:
Embora: Embora houvesse o número necessário de pessoas, a reunião foi
cancelada.
Conquanto: Ele alcançará a vitória, conquanto necessite treinar mais.
Posto que: Posto que a prova tenha sido difícil, todos conseguiram a nota
mínima.
Ainda que: Ele não confiava mais no sócio, ainda que este insistisse em provar
sua inocência.
Apesar de que: Apesar de que ele sempre tivesse sido pontual, naquele dia se
atrasou.
Mesmo que: Mesmo que todos quisessem, não iríamos sair.
Nem que: Nem que quiséssemos, não poderíamos ajudá-lo.
Se bem que: Se bem que o problema atinja a todos, aqui parece mais fácil de
resolver.
Não obstante: Não obstante houvesse vários avisos no local, ele se feriu.
Por mais que: Por mais que ele tenha coragem, dificilmente ultrapassará o
obstáculo.
Por muito que: Por muito que tentasse, não conseguia entender o estrangeiro.
Por menos que: Por menos que quisessem, a conquista trouxe grande fortuna a
todos.

i) conjunção condicional – se, caso, contanto que, a não ser que, sem que,
salvo se, exceto se, a menos que, desde que:
Se: Ele fará o bolo se for fiel à receita.
Caso: Tudo seria diferente caso considerassem a sua opinião.

180
Contanto que: Poderemos assistir ao evento, contanto que façamos o
pagamento.
A não ser que: O assunto não interessava ao artista, a não ser que o tema fosse
sua vida.
Sem que: Sem que você envie os documentos, não poderemos entregar o
prêmio.
Salvo se: Não haverá exportação do produto, salvo se ele vier com os
documentos necessários.
Exceto se: A vítima será ressarcida do prejuízo, exceto se foi ela própria a
causadora.
A menos que: Todos devem pagar o ingresso, a menos que traga consigo o
convite especial.
Desde que: Aceitaremos o proposto, desde que você cumpra os prazos.

Observação – Não use “se caso”, pois caracteriza pleonasmo. Use as


expressões separadamente (ou “se” ou “caso”).

j) conjunção conformativa – conforme, como (= conforme), segundo,


consoante:
Conforme: Eles obedeceram aos requisitos conforme lhes foi solicitado.
Como (= conforme): Como ele disse, o presidente já sabia de tudo.
Segundo: Segundo a vida nos ensina, em tal hora é melhor ficar quieto.

k) conjunção consecutiva – que (antecedido por tal, tanto, tão, tamanho), de


modo que, de sorte que, de maneira que, a tal ponto que:
Que: Estava tão nervoso que começou a gaguejar.

181
Sem que: Não conseguia fazer duas coisas sem que uma desse errado.
(Tanto...) que: Havia tantas falhas que não conseguimos conserta a tempo.
(Tão...) que: Ele era tão mentiroso que todos desconfiavam de suas histórias.
(Tamanho...) que: Para o deputado, a sorte era tamanha, que ganhar 15 vezes
na loteria era normal.
(Tal...) que: Ele se enfiou em tal situação que não quis falar conosco.

Observação – Também servem para introduzir oração consecutiva expressões


como: de modo que, de sorte que, de maneira que, a tal ponto que etc. Nas três
primeiras, pode-se usar ou omitir a palavra tal (de tal modo que, de tal sorte que,
de tal maneira que). Observe alguns exemplos:
De sorte que: A noite era muito escura, de sorte que ninguém quis sair dali.
De modo que: Faça as coisas de modo que ninguém desconfie.
De maneira que: Ele foi arrasador, de maneira que o adversário não resistiu.

l) conjunção final – a fim de que, para que:


Para que: Correu para que não se atrasasse.
A fim de que: A fim de que houvesse rapidez no atendimento, fez-se uma fila.

Observação – A conjunção “porque” (= para que) também pode introduzir a


ideia de finalidade, porém, é de uso raro e, muitas vezes, ambíguo:
Era necessário silêncio porque (= para que) ele possa manter a concentração.

m) conjunção proporcional – à medida que, à proporção que, ao passo que,


quanto mais, quanto menos:
À proporção que: À proporção que se exercita, melhora sua saúde.

182
À medida que: À medida que ele passar confiança, poderemos dar-lhe tarefas
mais difíceis.
Ao passo que: A festa se animava ao passo que os convidados chegavam.
Quanto mais: Quanto mais ele ficava em silêncio, mais desconfiado fiquei.
Quanto menos: Quanto menos problemas ocorrerem, mais tranquilo ficarei.

n) conjunção temporal – quando, sempre que, logo que, antes que, depois
que, assim que, enquanto, mal, cada vez que, até que, desde que:
Quando: A reunião acontecerá quando todos chegarem a um acordo.
Logo que: Ele começou a chorar logo que você saiu.
Depois que: Depois que ela chegou, a casa está mais alegre.
Antes que: Antes que o acidente acontecesse, ele conseguiu nos alertar.
Mal: Mal ele entrou aqui, já começou a trabalhar.
Enquanto: Enquanto você dormia, ela limpou sua carteira.

Observação – Há várias palavras que, ao receberem a conjunção “que”,


passam a introduzir uma oração temporal: sempre que, desde que, agora que,
até que, assim que, todas as vezes que, cada vez que, entre outras.

183
⮚ CAPÍTULO 13 – CONEXÃO

13.1. Introdução

Em capítulo anterior, houve o estudo do pronome relativo e a sua oração


subordinada adjetiva, elementos gramaticais que têm grande incidência nas
provas e com diversidade de abordagem, o que exige um estudo profundo e rico.
Essa é uma primeira e importante parte do estudo da conexão em nosso idioma.

A segunda parte é o estudo das conjunções que contêm significado e elas são
classificadas em 14 tipos: 5 tipos formam as orações coordenadas e 9 tipos
formam as orações subordinadas adverbiais. Com grande frequência nas
provas de concurso, essas conjunções exigem o domínio da classificação e a
substituição de uma pela outra sem alteração de sentido.

Restam no estudo da conexão duas outras aprendizagens que, apesar de menor


incidência nas provas, precisam fazer parte de nossos conhecimentos
gramaticais: oração subordinada substantiva e oração reduzida.

13.2. Conjunção integrante e oração substantiva

A classificação das orações subordinadas substantivas liga-se muito à análise


sintática e exige uma abordagem correta para se obter êxito.

. Oração subordinada substantiva: como classificá-la?

184
A oração recebe tal classificação, pois ela exercerá uma função sintática que
pode ser substituída por um substantivo, daí o nome substantiva subjetiva,
substantiva objetiva direta... Inicia-se pelas conjunções integrantes “que”
(quando há uma ideia de certeza, convicção) ou “se” (quando há uma ideia de
dúvida, incerteza): Sabemos que ele virá. Não sabemos se ele virá.

Ao se trocar a oração substantiva pelo pronome “isto”, identifica-se a função


sintática da oração.
O presidente percebeu que havia falhas.
O presidente percebeu isto. (percebeu isto = objeto direto, portanto a oração
“que havia falhas” será uma oração subordinada objetiva direta, pois
complementa “perceber”, VTD)
Não sabemos se ele virá.
Não sabemos isto. (isto = objeto direto, portanto a oração “se ele virá” será uma
oração subordinada objetiva direta)

Analisou-se que ele pode vir.


Analisou-se isto. (isto = sujeito, estrutura da voz passiva sintética [Analisou-se
isto = Isto foi analisado], portanto a oração “que ele pode vir” será uma oração
subordinada substantiva subjetiva)

Fomos informado de que ele virá.


Fomos informado disto. (disto = objeto indireto, portanto a oração “que ele virá”
será uma oração subordinada substantiva objetiva indireta)

Eis as características e alguns exemplos dos seis tipos de oração substantiva:

185
a) oração subordinada substantiva subjetiva – no espaço da oração principal
jamais se identificará um sujeito, pois esta função será cumprida pela oração
seguinte; o verbo da oração principal sempre ficará no singular; na oração
principal, há quatro estruturas que geram a oração s. substantiva subjetiva:

– voz passiva analítica (ser + particípio: foi analisado, é visto, será avisado, seria
falado...)
Foi analisado que o Brasil cresceria este ano.
or. principal or. sub. substantiva subjetiva

Será avisado que todos devem estar identificados.


or. principal or. sub. substantiva subjetiva

– voz passiva sintética (VTD + SE: viu-se, não se observa, constata-se,


analisou-se...)
Constata-se que ele tem condições para o trabalho.
or. principal or. sub. substantiva subjetiva

Viu-se que tudo foi só um mal-entendido.


or. principal or. sub. substantiva subjetiva

– verbo de ligação + predicativo do sujeito (é bom, é certo, é necessário, é


preciso, é verdade...)
É preciso que ele esteja aqui hoje.
or. principal or. sub. substantiva subjetiva

Será necessário que o governo assuma seus atos ilícitos.


or. principal or. sub. substantiva subjetiva

186
– verbos unipessoais (parecer, constar, convir, ocorrer, urgir...)
Convém que ele entregue isso pessoalmente.
or. principal or. sub. substantiva subjetiva

Consta no documento que ele é solteiro.


or. principal or. sub. substantiva subjetiva

b) oração subordinada substantiva objetiva direta – na oração principal há o


sujeito e o verbo transitivo é direto, portanto a oração subsequente faz o papel
do objeto direto exigido pelo verbo da oração principal; não deve vir
preposicionada.
O músico afirmou que a inspiração vinha do cotidiano.
or. principal or. sub. substantiva objetiva direta

Ele perguntou se você poderá vir até aqui.


or. principal or. sub. substantiva objetiva direta

c) oração subordinada substantiva objetiva indireta – na oração principal, o


verbo transitivo é indireto e a oração subsequente faz o papel do objeto indireto
exigido pelo verbo da oração principal.
Ela não se esqueceu de que eu falara.
or. principal or. sub. subst. objetiva indireta

Informamos o aluno de que a prova foi alterada.


or. principal or. sub. substantiva objetiva indireta

187
* Nas orações objetivas indiretas, a preposição é sempre correta, mas no uso
formal é muito comum a ausência dessa preposição:
Cremos que ele virá.
Gostaria que você me ligasse.
Concordo que isso não dará certo.

d) oração subordinada substantiva predicativa – na oração principal


encontram-se o sujeito e o verbo de ligação (geralmente o verbo ser), ou seja,
falta o predicativo, função que a oração subsequente cumprirá.
A verdade é que o Brasil está melhorando.
or. principal or. sub. substantiva predicativa

Nossa vontade era que você não viajasse sozinho.


or. principal or. sub. substantiva predicativa

e) oração subordinada substantiva completiva nominal – na oração principal


encontra-se um substantivo (ou, mais raramente, um adjetivo) e a oração
subsequente faz o papel de complementá-lo; classificação extremamente
recorrente em algumas provas devido ao necessário uso da preposição.
Ele tinha certeza de que você seria o escolhido.
or. principal or. sub. substantiva completiva nominal

Há a crença de que ele virá.


or. principal or. sub. subst. completiva nominal

188
f) oração subordinada substantiva apositiva – é uma oração que funciona
como aposto de algum termo da oração principal; sempre virá separada por
vírgulas ou dois-pontos.
Saiba uma coisa boa: que você será promovido.
or. principal or. sub. subst. apositiva

Nunca fale isto: que ele não conseguirá vencer.


or. principal or. sub. substantiva apositiva

* Nas orações apositivas, a conjunção integrante é geralmente omitida:


Ele falou uma coisa: (que) eu seria o escolhido.

189
13.3. Oração desenvolvida e oração reduzida

● Visão do conjunto

Ao relacionar as orações, podemos usar basicamente três formas:

a) sem conectivo
Reinava a ditadura, imperava a censura, não se vivia.

b) com conectivo
Reinava a ditadura, imperava a censura, portanto não se vivia.
Quando reinava a ditadura e imperava a censura, não se vivia.

c) com oração reduzida


Ao reinar a ditadura e imperar a censura, não se vivia.
Por reinar a ditadura e imperar a censura, não se vivia.

O procedimento de reduzir orações refere-se à forma de construir a frase,


oferecendo a ela o melhor encaixe na progressão das ideias. Toda oração
reduzida virá presa a uma outra oração, o que gera um grau permanente de
dependência sintática.

● Construindo a oração reduzida

Para conceber a oração reduzida, deve-se antes entender a oração


desenvolvida, pois esta sempre será a referência para a classificação e para o

190
sentido. A desenvolvida, portanto, traduz a reduzida. Observe o aspecto formal
que as diferencia:

. Oração desenvolvida
Sempre há uma conjunção ou um pronome relativo (portanto virá com
conectivo) e o verbo vem conjugado em um dos três modos (indicativo,
subjuntivo e imperativo):

Quando estiver no debate, direi a ideia.


conjunção / verbo no subjuntivo

É preciso que haja mudanças eleitorais.


conjunção / verbo no subjuntivo

Aqui, caso se plante e se cuide, tudo dá.


conjunção / verbo no subjuntivo

A ideia, porque está errada, será rejeitada.


conjunção / verbo no indicativo

. Oração reduzida
Não há conjunção nem pronome relativo (portanto virá sem conectivo) e o
verbo vem conjugado em uma das três formas nominais (gerúndio, particípio e
infinitivo):

Estando no debate, direi a ideia.


sem conjunção / verbo no gerúndio

191
É preciso haver mudanças eleitorais.
sem conjunção / verbo no infinitivo

Aqui, em se plantando e cuidando, tudo dá.


sem conjunção / verbo no gerúndio

A ideia, por estar errada, será rejeitada.


sem conjunção / verbo no infinitivo

● Exemplos de orações reduzidas

Orações reduzidas de infinitivo

O infinitivo pode aparecer sozinho, mas também introduzido por uma


preposição.

a) oração s. substantiva
É necessário haver mudanças em tal legislação.
(or. principal) (or. s. substantiva subjetiva)

b) oração s. adjetiva
As eleições a serem realizadas trarão muitas novidades.
(or. principal) (or. s. adjetiva restritiva) (or. principal)

Devem limitar-se a três os casos a serem analisados por nós.


(or. principal) (or. s. adjetiva restritiva)

192
c) oração s. adverbial
Por estarem viajando, não conseguimos visitá-los
(or. s. adverbial causal) (or. principal)

Para finalizar a construção, ele fez um empréstimo.


(or. s. adverbial final) (or. principal)

Orações reduzidas de particípio

a) oração s. adjetiva
O escândalo denunciado pelo deputado revelou um esquema de corrupção.
(or. principal) (or. s. adjetiva restritiva) (or. principal)

b) oração s. adverbial
Concluída a análise, a empresa aceitou nosso pedido.
(or. s. adverbial temporal) (or. principal)

Assustados com a tempestade, todos correram para os abrigos.


(or. s. adverbial causal) (or. principal)

Orações reduzidas de gerúndio

b) oração s. adverbial
Havendo sorte, chegaremos hoje à cidade.
(or. s. adverbial condicional) (or. principal)

193
Mesmo sendo tão inteligente, caiu no golpe do malandro.
(or. s. adverbial concessiva) (or. principal)

* Não deixe de notar que a diferença entre orações desenvolvidas e reduzidas


às vezes se restringe à presença da conjunção “que”:
oração reduzida oração desenvolvida
Apesar de alguém falar <=> Apesar de que alguém fale
Por alguém falar <=> Porque alguém falou
Mesmo falando alguém <=> Mesmo que alguém fale
13.4. Síntese da classificação das orações

1º EIXO DE RELAÇÃO

● Oração coordenada

Oração coordenada assindética => vincula-se sem o uso de conjunção.

Falava rápido, poucos o compreendiam.


Falava rápido => oração coordenada assindética
poucos o compreendiam. => oração coordenada assindética

Oração coordenada sindética => vincula-se com o uso de conjunção (aditiva,


adversativa, alternativa...).

Ele jogou bem, mas não venceu.


Ele jogou bem => oração coordenada assindética

194
mas não venceu => oração coordenada sindética adversativa

Ele está chegando, pois escuto seus passos.


Ele está chegando => oração coordenada assindética
pois escuto seus passos => oração coordenada sindética explicativa

Vieram aqui, pegaram as coisas, portanto tinham a chave da casa.


Vieram aqui => oração coordenada assindética
pegaram as coisas => oração coordenada assindética
portanto tinham a chave da casa.=> oração coordenada sindética conclusiva

2º EIXO DE RELAÇÃO

● Oração principal + oração subordinada

Oração subordinada adjetiva => vincula-se com o uso de pronome relativo


(que, o qual, cujo, quem, onde...).
Conheci a pessoa que você namora.
Conheci a pessoa => Oração principal
que você namora => oração subordinada adjetiva restritiva

Oração subordinada adverbial => vincula-se com o uso de conjunção


subordinativa (causal, concessiva, temporal, condicional...).

O jogo transcorreu sem problemas embora chovesse muito.


O jogo transcorreu sem problemas => oração principal

195
embora chovesse muito => oração subordinada adverbial concessiva

Oração subordinada substantiva => vincula-se com o uso de conjunção


integrante (há a necessidade de analisar a oração principal).

Ele confirmou que estava com os documentos.


Ele confirmou => oração principal
que estava com os documentos => oração subordinada substantiva objetiva
direta (complementa o verbo confirmar)

As orações reduzidas devem ser analisadas em sua forma desenvolvida


(quando isso for possível) e classificadas segundo o padrão acima. Exemplo:

Chegado aqui, chame por nós.


(Chegado aqui = Quando chegar aqui
=> oração subordinada adverbial temporal)

Por haver chuva, dirija com atenção redobrada.


(Por haver chuva = Porque há chuva
=> oração subordinada adverbial causal)

Os candidatos avaliados pelo professor receberão a nota amanhã.


(avaliados pelo professor = que / os quais foram avaliados pelo professor
=> oração subordinada adjetiva restritiva)

196
Na sua prova, raramente haverá questões só com a classificação em si. Muito
mais comum encontrar questões sobre o sentido ou sobre a reconstrução do
trecho. Por isso, são noções gerais que devem fazer parte de sua preparação.

197
⮚ CAPÍTULO 14 – PONTUAÇÃO

14.1. Introdução

A função essencial dos sinais de pontuação é dar um ritmo ao leitor, gerando


clareza e facilitando a compreensão dos vínculos. Não há dúvida de que, entre
os sinais, a vírgula traz um protagonismo tanto na frequência do uso quanto na
dificuldade de aprendizagem das regras, muitas vezes fato gerado pelo princípio
equivocado de relacionar vírgula e pausa. Enquanto na leitura é sensato dar
pausa diante da vírgula, na escrita o raciocínio que gera a vírgula não nasce na
respiração.

A vírgula é um sinal usado dentro do período para separar ou isolar termos e


orações. Ela é gráfica, portanto pertence exclusivamente à linguagem escrita e,
por essa razão, deve estar desvinculada das noções de pausa que provêm da
oralidade. O uso da vírgula está ligado a aspectos sintáticos e não respiratórios.

O princípio geral da vírgula é não separar aquilo que possui relação lógica.
Paralela a essa noção, deve-se saber isolar o termo secundário, explicativo ou
deslocado, que estará entre os que possuem relação lógica.

14.2. Vínculos lógicos

a) não se separa o sujeito e o verbo nem o verbo e o complemento


Os números pesquisados não revelam a verdadeira tendência do eleitor.
sujeito verbo complemento

198
b) não se separa o conectivo e a oração que ele introduz
Todos sabiam que a solução do problema dependeria da ajuda do governo.
conectivo oração a ele vinculada

c) não se usa vírgula para a oração adjetiva restritiva


As pessoas que se inscreveram até o dia 10 receberão o comprovante hoje.
oração adjetiva restritiva

14.3. Elementos acidentais

d) usa-se a vírgula para os adjuntos adverbiais e orações adverbiais deslocados


Os números não revelam , com precisão , a tendência do eleitor.
adjunto adverbial deslocado

Eles sabiam que , embora houvesse sinais de melhoria , a solução seria difícil.
oração adverbial deslocada

Caso se atingisse o índice , o Brasil receberia as aplicações.


oração adverbial deslocada

e) usa-se a vírgula para o aposto


Pelé , representante do Brasil , participou do evento.
aposto

199
f) usa-se a vírgula para a oração adjetiva explicativa
O Brasil , que ainda pode crescer neste ano , tenta exportar mais.
oração adjetiva explicativa

g) usa-se a vírgula para as orações reduzidas com valor adverbial


Ao estabelecer uma meta , o Brasil passou a ter um controle maior.
oração reduzida

O Brasil , estabelecendo uma meta , passou a ter um controle maior.


oração reduzida

Passados alguns meses , a estabilidade econômica revelou-se possível.


oração reduzida

14.4. Conjunções coordenativas deslocáveis

h) usa-se a vírgula para as conjunções coordenativas (porém, pois, portanto...)


quando estão deslocadas
Pelos motivos alegados, a empresa não podia , portanto , cobrar esta taxa.
conjunção deslocada

Comprei as revistas; os livros e os jornais , porém , não consegui.


conjunção deslocada

i) quando as conjunções coordenativas (porém, contudo, pois, portanto...) estão


abrindo uma oração, usa-se somente uma vírgula antes
Havia um contrato , portanto ambas as partes deveriam respeitá-lo.

200
conjunção abrindo a oração

O time jogou bem , porém não conseguiu vencer.


conjunção abrindo a oração

14.5. Conjunções “e”

Quanto à conjunção “e”, ela receberá corretamente a vírgula quando

. ligar orações com sujeitos diferentes


O Brasil fez a proposta , e a Argentina pensa em aceitá-la.
sujeito 1 sujeito 2

. unir orações com ideias adversas (a conjunção “e” pode ser trocada pela
conjunção “mas”)
O Brasil fez a proposta , e a Argentina rejeitou-a imediatamente.
e = mas

. formar o polissíndeto (repetição da conjunção)


E correu , e brincou , e pulou, e gritou.

14.6. Orações adjetivas

As orações adjetivas são sempre introduzidas por pronomes relativos. Para que
seja classificada a oração adjetiva, depende-se do uso da vírgula, pois:

. a adjetiva explicativa sempre virá com vírgula;

201
São Paulo , que continua a ampliar sua vida cultural , inaugura novo museu
esta semana.
(pronome relativo => oração adjetiva => com vírgulas => explicativa)

. já a adjetiva restritiva sempre virá sem vírgula.


Não reconheci o médico que nos atendeu no plantão de ontem.
(pronome relativo => oração adjetiva => sem vírgula => restritiva)

14.7. Outros sinais de pontuação

Apesar de a vírgula reinar com folga nas questões de concurso, o ponto e


vírgula e os travessões aparecem eventualmente e costumam gerar algumas
dúvidas. O ponto e vírgula tem por essência auxiliar a vírgula em certos casos
de extensão e possíveis ambiguidades, sendo que sua presença indica uma
quebra dentro de um segmento. Não permite a mesma sistematização que a
vírgula, mas tem certos usos constantes. Acompanhe a análise de alguns casos:
. o ponto e vírgula separa orações coordenadas longas ou as que possuem uma
simetria e necessitam de pausa maior que a da vírgula, mas menor que o ponto
final:

Precisamos de muitas pessoas, mas não de mentirosos; de doutores, mas não


de hipócritas; de todo o povo, mas não de demagogos; enfim, de homens que
mereçam ser chamados de cidadãos.

202
. quando deslocamos as conjunções coordenativas, pode-se criar um terrenos
fértil para ambiguidades, algo que pode facilmente ser superado com a presença
do ponto e vírgula no lugar da vírgula:

ambíguo: Na festa, havia crianças, idosos, mulheres e homens, porém, não


encontrei.
adequado: Na festa, havia crianças; idosos, mulheres e homens, porém, não
encontrei.

ambíguo: Estudei Inglês, Francês e Espanhol, entretanto, não tive tempo.


adequado: Estudei Inglês; Francês e Espanhol, entretanto, não tive tempo.

. nos itens de uma enumeração que já trazem vírgula, é interessante, na


passagem de um item para outro, o uso do ponto e vírgula:
Há três importantes regiões: a brasileira, pois conseguiu bater o recorde de
produção no ano passado; a mexicana, por investir, ano a ano, em pesquisa e
tecnologia; e a africana, que pode se transformar em um centro importador de
produtos.

Quanto ao uso do travessão, nota-se que é um sinal que também vem auxiliar a
vírgula, dando, por exemplo, mais clareza na relação entre os termos. O que
muitas vezes um par de vírgulas faria com certa confusão, os travessões vêm
substituí-las e dar um isolamento mais evidente, mais demarcado, algo muito
próximo aos parênteses. Façamos a observação de alguns casos mais
relevantes:

203
. põem-se entre travessões termos e orações com valor sintático secundário ou
meramente explicativo, algo que não comprometa a construção do período em
si:
Mudamos de cidade –que era bela, mas muito agitada– e fomos para uma
mais tranquila.
Ele viu o livro –quando esteve na livraria–, mas não pôde comprar.
A chuva durou uma semana –fenômeno incomum na região– e causou
muitos prejuízos.

. o uso da vírgula após o segundo travessão dependerá do vínculo sintático


entre os termos que estão antes e depois dos travessões:
O time do Brasil –quinto na competição– necessitava de mais preparo.
(vírgula proibida)
(O time do Brasil = sujeito; necessitava = verbo)

Ele estudava –sempre que possível– as matérias da prova.


(vírgula proibida)
(estudava = verbo; as matérias da prova = objeto direto)

No Brasil –país com variada influência culinária–, há interessantes costumes


alimentares.
(vírgula facultativa)
(No Brasil = adjunto adverbial antecipado)

Por ter havido falha mecânica –principalmente nos breques–, o motorista não
pode ser culpado diretamente pelo acidente.
(vírgula obrigatória)
(Por ter havido falha mecânica

204
= oração reduzida, com valor adverbial, antecipada)

Melhorou o governo brasileiro, que com os planos sociais vem recebendo


elogios estrangeiros –inclusive da União Europeia–, e com isso as eleições
ganham outros traços.
(vírgula obrigatória)
(que com os planos sociais vem recebendo elogios estrangeiros
= oração adjetiva explicativa)

. se o uso do travessão estiver no final do período, só se usa o primeiro,


dispensando o segundo:
No fim, a CPI não conseguiu provar juridicamente a existência do mensalão
–prática imoral e ilegal praticada pelo partido do governo como forma de controle
nas votações.
Faltou um acordo para o sigilo bancário ser quebrado –principalmente dos
políticos da situação.

. o travessão é usado em substituição aos dois-pontos a fim de dar ênfase:


Só havia três países com chances de vencer – Brasil, Argentina e Alemanha.
Apaixonados, só pensavam em uma coisa – amar!

205
⮚ CAPÍTULO 15 – INTERPRETAÇÃO

15.1. Introdução

A banca, quando constrói a prova de Língua Portuguesa, tem dois caminhos


muito evidentes. Em um primeiro momento, ela pode formar questões com
extrema objetividade e, com isso, evita erros e anulações, facilitando o próprio
ofício. Isso influi até na preparação dos candidatos, pois a dimensão do que
estudar se faz mais controlável. Resolva a questão a seguir:

1. (CAIXA – CEBRASPE – 2014) Seria mantida a correção


gramatical do texto, caso fosse empregado o acento indicativo de
crase no “a”, em “cunhagem a martelo”. (Gabarito ao fim deste
capítulo)

Quando uma prova traz essa perspectiva, ela diminui a tensão, pois estão em
jogo regras e conceitos consagrados e estabilizados. A alternativa está errada,
pois “martelo”, por ser masculino, é uma área proibida de crase. Essa análise é
externa à banca, não depende da vontade dela, o raciocínio do fato gramatical é
do próprio idioma e não da banca.

Dominar esses elementos que contêm extrema objetividade tem um custo alto
durante o processo de preparação para um concurso, mas os benefícios em
prova são maravilhosos. A resposta é memorizável. Há rapidez e precisão
depois que essas informações são entendidas. Em uma prova como a sua, isso
é muito importante.

206
Outro caminho bastante distinto é a banca trabalhar aspectos textuais em que a
interpretação seja a tônica. Com isso, apresenta-se ao candidato um conteúdo
não previsto, não memorizável. Observe a diferença:

“Ouro em FIOS
A natureza é capaz de produzir materiais preciosos, como o ouro e o
cobre — condutor de ENERGIA ELÉTRICA. O ouro já é escasso. A
energia elétrica caminha para isso. Enquanto cientistas e governos
buscam novas fontes de energia sustentáveis, faça sua parte aqui no
TJDFT:
— Desligue as luzes nos ambientes onde é possível usar a
iluminação natural.
— Feche as janelas ao ligar o ar-condicionado.
— Sempre desligue os aparelhos elétricos ao sair do ambiente.
— Utilize o computador no modo espera.
Fique ligado! Evite desperdícios. Energia elétrica. A natureza cobra o
preço do desperdício.”

2. (TJ-DFT – CEBRASPE – 2015) O pronome “isso” retoma a


ideia expressa no primeiro período do parágrafo, ou seja, refere-se ao
fato de o ouro ser escasso.

3. (TJ-DFT – CEBRASPE – 2015) A finalidade do texto é alertar o


interlocutor sobre as consequências que podem resultar do
desperdício de energia elétrica e apresentar-lhe um conjunto de
ações recomendadas pelo TJDFT com vistas a evitar o desperdício
de energia elétrica.

207
Os esforços são muito diferentes e a objetividade da questão agora é forjada
pelas mãos da banca. Precisa-se alcançar a “lógica” que organiza a questão, o
pensamento que a produziu. Ambas as questões estão erradas, trazem
informação incorreta. A questão 2 retoma apenas a ideia de “escassez” e a 3,
em nenhum momento, fala sobre consequências. O raciocínio que está por trás
dessas duas últimas questões é muito diferente do raciocínio que se viu na
primeira.

Como se notou, está aí uma receita interessante para dificultar uma prova de
Língua Portuguesa: diminuir as questões com marcas extremas de objetividade
e ampliar as questões que exigem interpretação, reduzindo, portanto, a área de
referência teórica previsível, memorizável.

15.2. Interpretar textos em concurso público

A palavra interpretar sugere que um texto é sempre algo a mais do que está
sobre a superfície do papel, algo que vai além de uma simples leitura. Ler, por si
só, já é uma atividade bastante complexa, pois o conhecimento de um idioma e
de suas regras impõe-se antes de tudo. Interpretar um texto exige a união de
vários conhecimentos, que se iniciam no texto e se estendem até o contexto.
Vêm à tona aspectos linguísticos, culturais, históricos, geográficos, ideológicos,
artísticos, entre tantos outros.

A interpretação exigida em concursos públicos traz uma restrição característica.


Aproxima-se de uma análise dos constituintes textuais em si, ficando fora as
informações contextuais. O trabalho da banca concentra-se no texto, naquilo que
ele pode oferecer. Um concurso público, ao trabalhar com alternativas e não com

208
respostas escritas pelo candidato, busca o que permite um grau seguro de
objetividade. O que se interpreta está no texto posto ou pressuposto, exigindo
do candidato a verificação ou a inferência. Resolva a questão a seguir e reflita
sobre a informação implícita:

4. (TJ-AC – CEBRASPE – 2006) “No Brasil, hoje em dia, os


cartórios vão muito além de sua função de registrar. Os cartórios são
a mais efetiva máquina de fiscalização tributária do país.”
Infere-se das informações do texto que os cartórios constituem um
entre outros mecanismos de fiscalização de impostos no Brasil.

O texto apresenta um tema, em geral traz um posicionamento do autor sobre o


tema, cria-se uma hierarquia nas informações. Além disso, o texto também se
refere a si próprio: de forma dosada, retoma informações e progride com o tema,
agregando informação nova. O planejamento e a execução de um texto exigem
cuidados globais e particulares, da coerência das ideias à capacidade de
construí-las, da força dos argumentos à destreza de apresentá-los com
encantamento e eficácia. Toda essa costura nem sempre se faz com uma linha
visível e caberá ao leitor calcular, inferir, observar vínculos, entre tantas outras
ações que um texto impõe a quem o lê.

Há as questões em que se fala dos sentidos globais, da argumentação, do ponto


de vista do autor, entre outros elementos. Outro conjunto que viceja
abundantemente é a parte da construção: são as retomadas, os implícitos, os
vínculos, as conexões, além da gramática aplicada ao texto. A banca é
oportunista e lê o texto em busca de tudo que possa oferecer uma boa questão.
O papel do candidato é aprender a olhar de forma mais consequente, entender a

209
ação da banca e aguçar a percepção para os lugares do texto provedores da
questão. Observe o exemplo a seguir:

5. (TJ-DFT – CEBRASPE – 2015) “O direito não é mero


pensamento, mas sim força viva. Por isso, a justiça segura, em uma
das mãos, a balança, com a qual pesa o direito, e, na outra, a espada,
com a qual o defende.”
A forma verbal “defende” está flexionada na terceira pessoa do
singular por concordar com seu sujeito, cujo referente é “a justiça”.

A questão mais comum de interpretação forma-se com a paráfrase, que


consiste em reescrever o texto, conservando o sentido original. É no ato de
reescrever que a banca cria sua força, pois, embasada nas informações textuais,
ela meticulosamente produz novos sentidos e valores, obrigando ao candidato
um cálculo comparativo entre o texto original e a alternativa. Julgue a alternativa
a seguir:

6. (AL-CE – CEBRASPE – 2011) “Em 2007, o governo licitou um


pacote que incluiu a Régis Bittencourt, principal corredor entre São
Paulo e o sul do país, a Fernão Dias, que une a capital paulista à
mineira, e outras cinco rodovias importantes do Sul e do Sudeste do
país. Com a Dutra, elas formam o cerne da malha rodoviária
nacional.”
Depreende-se da leitura do texto que “a Dutra”, apesar de ser uma
das rodovias que formam o cerne da malha rodoviária nacional, não
faz parte do grupo das rodovias licitadas pelo governo.

210
A paráfrase não é o texto, mas nele se constrói; o que estava no texto
transforma-se na alternativa. Aos olhos do candidato são apresentados o original
e o recriado e, a cada alternativa, há a mesma pergunta que se renova: a
alternativa aqui reescrita é fiel às ideias originais? O que pode estar facilmente
compreensível no texto ganha a intensidade e as cores de quem recria,
reescreve, retextualiza. Por isso, ao candidato compete aprender a conviver com
tal situação.

15.3. Locais da interpretação

Conforme se estuda e se pratica a interpretação de texto em provas de concurso


público, logo se nota certa dificuldade em identificar um local único gerador de
questões ou uma regra que consiga ser aplicada em todas as provas. As
questões são produzidas a depender do que o texto oferece, bem como da força
criadora da banca.

Assim, é decisivo viver a prática da organização textual e o enfoque dado às


questões; se possível, projetar-se no local da banca, ver com os olhos maduros
da banca. Logo se notará a fartura que um texto contém e é aí que entra a mão
do profissional que formula as questões, necessariamente dando a elas a
qualidade e a coerência que por todos são aguardadas, bem como o
induzimento a erro e confusões variadas que por todos tão pouco são
desejados, mas imprescindíveis para o contexto do concurso público.

Ao candidato resta estudar a ação da banca. Se em toda matéria há um


conteúdo que está previsto no edital, na interpretação de texto cabe ao
candidato treinar muito os locais da interpretação, mapeando como a banca age.

211
Não se espera uma questão repetida, nem uma regra salvadora, mas a
experiência refinada de acompanhar os movimentos da banca, como ela produz
seu trabalho, como olha para um texto e traz dele aquilo que é o objeto de nosso
estudo. Palavras como experimentar e amadurecer exigem convivência com o
objeto em análise.

15.3.1. Sinônimo, antônimo, parônimo e homônimo

Uma palavra é sinônima de outra quando há equivalência semântica, ou seja, há


palavras que têm significado idêntico ou aproximado. Quando vamos a um
dicionário, além de esclarecer o sentido da palavra, podemos ali encontrar
sinônimos dela. Nas provas, tradicionalmente há grande incidência de questões
com tal tema. Já antônimo consiste nas palavras com sentido contrário, oposto.
Parônimos e homônimos foram estudados na ortografia e estão relacionados às
semelhanças (ratificar / retificar) e igualdades (senso / censo) entre as palavras.
Observe um exemplo:

7. (CADE – CEBRASPE – 2014) “Um plano oficial de educação


pouco poderia fazer para alterar esse iminente risco de
desintegração.”
Sem prejuízo para o sentido original do texto, o termo “iminente”
poderia ser substituído por “elevado”.

15.3.2. Sentido denotativo X sentido conotativo

212
O sentido figurado ou conotativo ocorre quando se usa palavra ou expressão
fora do sentido comum, fora do sentido dicionarizado; o oposto é o sentido
denotativo, sentido literal, sentido lógico, que equivale ao sentido dicionarizado.
Acompanhe os exemplos.

8. (SEDUC-AL – CEBRASPE – 2021) “Nunca tivemos censura


prévia em obra de arte. Efetivamente se queimaram alguns livros,
mas foram raríssimos esses autos de fé. Em geral a reação se limitou
a suprimir ataques diretos, palavras de ordem, tiradas demagógicas, e
disto escasso prejuízo veio à produção literária.” (Graciliano Ramos)
No trecho “Efetivamente se queimaram alguns livros, mas
foram raríssimos esses autos de fé”, a expressão “autos de fé” foi
utilizada em sentido denotativo, ou seja, para referir-se a um tipo de
processo de destruição pelo fogo, queima.

9. (Prefeitura de Rio Branco-AC – CEBRASPE – 2007) O clima


do estado do Acre é classificado genericamente como tropical
chuvoso (temperatura média do mês mais frio superior a 18 ºC), com
pequena estação seca. A umidade relativa apresenta-se em níveis
elevados durante todo o ano, com médias mensais em torno de
80%-90%, sem significativas oscilações no decorrer do ano. É um
clima quente e úmido, com duas estações: seca e chuvosa.
A expressão “É um clima quente e úmido” está sendo empregada em
sentido conotativo ou figurado.

15.3.3. Gramática e interpretação

213
A gramática ajuda a construir o texto e traz uma riqueza de itens significativos,
que podem exigir uma análise sutil. Isso reflete na ordem das palavras, o vínculo
criado, o uso ou omissão de uma vírgula, palavras que podem ocupar
classificações e sentidos diferentes... Observe os exemplos:

Guia do consumidor consciente


Antes de comprar, conheça aspectos socioambientais da produção e
do descarte do papel
O que fazer – Dar preferência a produtos que usem poucas
embalagens e reciclar. A reciclagem reduz a poluição do ar em 74% e
da água em 35%. Outra opção é usar papéis alternativos, feitos de
resíduo de palha de cereais e de casca de banana, por exemplo.
10. (DOCAS-PA – CEBRASPE – 2006) Preserva-se a coerência
textual e respeitam-se as regras gramaticais ao se empregar “usam”
em lugar de “usem”, mas perde-se a ideia de hipótese ou
possibilidade da frase original.

11. (CPRM – CEBRASPE – 2013) “Apesar de certa retenção em


2012, o valor da maioria dos metais tende a continuar em alta.”
Feitas as necessárias alterações na grafia das palavras, o
deslocamento do vocábulo “certa” para logo após o substantivo a que
se refere manteria a correção gramatical e o sentido original do texto.

15.3.4. Aspectos coesivos

Enquanto a coerência trabalha o sentido, o nexo a lógica, a coesão refere-se


essencialmente à materialização do texto, à construção dos nexos entre os

214
elementos linguísticos, desde o posto até o pressuposto. Tais elementos
envolvidos na construção estabelecem relações entre si e cabe à coesão
harmonizá-los, dando à memória informação necessária para que se possa
entender com adequação. A interdependência entre os elementos textuais e a
necessidade de vinculá-los, para que haja a produção de sentido, são as marcas
dos elos coesivos. A retomada e a progressão são os dois principais
movimentos textuais que constroem a coesão.

Vale destacar que o movimento de retomada recebe o nome de anáfora e o


movimento de progressão chama-se catáfora. Pode a banca usar-se desses
nomes para formar questões.

Anáfora: A criança viu o livro, mas não o conseguiu ler.


O pronome “o” refere-se ao termo anterior “livro”.

Catáfora: O principal problema era sempre este: o atraso na entrega da


mercadoria.
O pronome “este” refere-se ao termo posterior “o atraso na entrega da
mercadoria”.

As retomadas (as anáforas) são mais constantes nos concursos. A quantidade


exagerada de questões revela que a banca age com certa margem de
segurança, aguardando as melhores oportunidades para o questionamento. São
geralmente retomadas em que, apesar de a referência ser para apenas um
termo, há outros termos concorrentes. Ao candidato compete ler com mais
refinamento, atentar-se para a forma como a banca age.

215
12. (TJ-RJ – CEBRASPE – 2008) “Embora ocupe lugar central e
mais ou menos indisputado na história da literatura produzida no
Brasil, o escritor e sua obra ainda hoje guardam algo do caráter
excêntrico, inclassificável e surpreendente que assombrou seus
primeiros críticos.”
O pronome relativo “que” refere-se a “o escritor”.

13. (TC-DF – CEBRASPE – 2012) “Exceção a essa regra foi a


Inglaterra, onde, já em 1215, o poder do rei passou a ser um tanto
limitado pelos nobres, que o obrigaram a pedir autorização a um
conselho constituído por vinte e cinco barões para aumentar os
impostos.”
O pronome “o” retoma, por coesão, a expressão “o poder do rei”.

14. (CESPE – FUB – 2015) “A língua funciona do mesmo modo:


há uma norma para entrevistas de emprego, audiências judiciais; e
outra para a comunicação em compras no supermercado. A norma
culta é o padrão de linguagem que se deve usar em situações
formais.”
O pronome “outra” está empregado em referência ao termo “A língua”.

15.3.5. Tipologia textual

Socialmente, é útil haver certos modelos de textos, algo relacionado à forma


como se organizam. Dividem-se tradicionalmente os tipos de texto em narração,
descrição e dissertação. Há questões sobre este tema que também incluem o
tipo injuntivo.

216
● Narração

É o relato que desencadeia uma sequência de ações. Há narrador, aquele que


conta a história, personagem(ns), que são os seres que vivem as ações, tempo,
espaço e enredo, que se constitui na forma como o narrador ordena as ações no
tempo e no espaço, o modo como o narrador dispõe esses elementos a fim de
constituir a história relatada. Observe um trecho retirado de Memórias Póstumas
de Brás Cubas, de Machado de Assis:

“...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.
Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras;
achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
— Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade,
provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e
gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto:
— Gatuno, sim senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto... Sacou da
algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-mos na cara.
— Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas
que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas
ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.”

● Descrição
Enquanto a narração produz uma sequência de ações, a descrição, em
geral, traz uma sequência de características da pessoa ou coisa descrita.
Exemplo:

217
“A parede era alta e ao lado havia uma linda árvore que sombreava todo o canto
da casa. Embora todo o quintal tivesse grama, ali ela não nascia.”

É muito raro haver um texto exclusivamente descritivo, é mais comum ele fazer
parte de outro tipo de texto.

● Dissertação

Divide-se em dissertação expositiva e dissertação argumentativa.

● Dissertação expositiva

Suas características centram-se na exposição de um tema, na sua explicação,


visa-se informar o leitor. É, em geral, a exposição organizada de um saber já
estabelecido, não se quer debater, polemizar, mas sim levar o leitor a conhecer
um tema. É essencialmente informativa. Acompanhe um exemplo:

“O termo informática resulta da aglutinação dos vocábulos informação e


automática, traduzindo-se conceitualmente como conjunto de conhecimentos e
técnicas ligados ao tratamento racional e automático de informação, o qual se
encontra associado à utilização de computadores e respectivos programas.
Como ferramenta de trabalho, a informática contribui inequivocamente para a
elevação da produtividade, diminuição de custos e otimização da qualidade dos
serviços”. (Revista Espaço Acadêmico)

218
● Dissertação argumentativa

Discussão organizada de um problema. Em geral, tendo em vista um tema,


procura-se defender um ponto de vista (uma tese) e, por meio de argumentos
que justifiquem e deem consistência ao ponto de vista, tenta-se convencer o
outro. É essencialmente opinativa. Observe um exemplo:

“Considerando que nosso futuro será, em grande parte, determinado por nossa
atitude perante a questão nuclear, é bom nos perguntarmos como chegamos até
aqui, com o poder de destruir a civilização. O que isso nos diz sobre quem
somos como espécie?
Nossa aniquilação é inevitável ou será que seremos capazes de garantir nossa
sobrevivência mesmo tendo em mãos armas de destruição em massa?
Infelizmente, armas nucleares são monstros que jamais desaparecerão.
Nenhuma descoberta científica “desaparece”. Uma vez revelada, permanece
viva, mesmo se condenada como imoral por uma maioria. O pacto que
acabamos por realizar com o poder tem um preço muito alto. É irreversível. Não
podemos mais contemplar um mundo sem armas nucleares. Sendo assim, será
que podemos contemplar um mundo com um futuro?” (Marcelo Gleiser)

● Injunção

O texto injuntivo traz informações de como executar algo, instrui, ensina a


proceder, como em uma receita de bolo, um manual de instruções,
regulamentos, leis, editais. É muito comum o uso da ordem, como o modo
imperativo.

219
Questões sobre o tópico

15. (SERPRO – CEBRASPE – 2008) “A ansiedade não é doença.


É problema de ordem do comportamento que afeta o convívio social.
A ansiedade pode se apresentar como sintoma em muitas doenças
ditas emocionais e mentais, e interfere sobremaneira nos níveis de
satisfação do indivíduo.”
O parágrafo acima é do tipo expositivo, pois caracteriza a ansiedade.

16. (SERPRO – CEBRASPE – 2008) “Quem não se sentiu


ansioso até hoje? Com o mundo do jeito que está, natural é se sentir
ansioso; é permitido ficar ansioso. Prejudicial é não saber lidar com a
ansiedade. A proposta é abordar meios eficazes de lidar com esse
comportamento que gera tantos distúrbios.”
No trecho, há uma passagem descritiva e outra narrativa.

17. (ANCINE – CEBRASPE – 2 012) “O riso é tão universal como


a seriedade; ele abarca a totalidade do universo, toda a sociedade, a
história, a concepção de mundo. É uma verdade que se diz sobre o
mundo, que se estende a todas as coisas e à qual nada escapa. É, de
alguma maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em todos os
seus níveis, uma espécie de segunda revelação do mundo.”
Embora o texto seja essencialmente argumentativo, seu autor se vale
de estruturas narrativas para reforçar suas opiniões.

220
15.3.6. Paráfrase

O ato de reescrever um texto, conservando o sentido original, é o que


caracteriza a paráfrase. Ela forma toda a base da interpretação de texto e o
subterfúgio da banca para injetar dificuldades nas questões. É por isso que há
vários níveis de obstáculos nas alternativas, tendo em vista que o resultado
depende da mão que as escreve. A inspiração da banca pode abrandar ou
acentuar as dificuldades.

18. (TJ-DFT – CEBRASPE – 2015) “O direito é um labor contínuo,


não apenas dos governantes, mas de todo o povo. Cada um que se
encontra na situação de precisar defender seu direito participa desse
trabalho, levando sua contribuição para a concretização da ideia de
direito sobre a Terra.”
Por ser um trabalho contínuo e de todo o povo, todos os cidadãos são
chamados a tomar parte na tarefa de concretizar a ideia do direito
sobre a Terra.

221
● Treinando a interpretação

A crise financeira mundial desencadeada no último trimestre de 2008 e que se


estendeu ao ano seguinte contribuiu, e muito, para uma forte mudança no
cenário econômico. As incertezas sobre a recuperação rápida dos países
europeus e dos Estados Unidos da América (EUA), até então considerados
seguros para a maioria dos investidores, provocaram forte redirecionamento do
capital estrangeiro rumo aos países emergentes. Em meio à turbulência
financeira, essas nações também ganharam voz e importância no contexto
geopolítico que culminou com a ascensão do G-20 — grupo que reúne as
dezenove mais importantes economias do planeta e a União Europeia — ao topo
da liderança do debate global.

Criado na década de 90 do século passado, o bloco, inicialmente de natureza


comercial, tornou-se a expressão do atual e do futuro pensamento mundial.
Estimativas feitas pelo Instituto de Finanças Internacionais (IFI) confirmam esse
movimento. A organização, que reúne os maiores bancos do mundo, calcula que
os países emergentes tenham recebido US$ 825 bilhões em 2010, ou seja, 42%
a mais que os US$ 581 bilhões do ano anterior. China e Brasil lideram o ranque
desses investimentos.

O fato de os emergentes se expandirem em um ritmo bem mais acelerado que o


das economias mais ricas é o principal atrativo para os investimentos
estrangeiros. Segundo o IFI, essa propensão tenderá à aceleração nos próximos
anos, quando os emergentes assumirão, definitivamente, o papel de
protagonistas do mundo. (Rosana Hessel)

222
19. (BRB – CEBRASPE– 2011) Infere-se do texto que os países
que se mantiveram no G-20 após a crise de 2008 foram por ela
menos afetados, uma vez que conseguiram manter suas economias
fortes.

20. (BRB – CEBRASPE– 2011) O volume de dinheiro investido em


países como Brasil e China aumentou nos últimos três anos, em
detrimento dos EUA e de países europeus.

21. (BRB – CEBRASPE– 2011) Afirma-se no texto que, na década


de 90 do século XX, quando foi criado, o G-20 não era constituído,
necessariamente, por países com representatividade econômica, mas
que essa situação se alterou ao longo dos anos e que, hoje, o grupo é
referência mundial em assuntos econômicos.

22. (BRB – CEBRASPE– 2011) Subentende-se das informações


do texto que, no período pós-crise econômica, o lucro obtido com os
investimentos feitos nos países emergentes tem sido mais
compensador que o do capital investido em países mais bem
estabelecidos economicamente.

23. (BRB – CEBRASPE– 2011) Comparativamente ao ano de


2009, Brasil e China, juntos, receberam 42% a mais de investimentos
estrangeiros no ano de 2010.

223
24. (BRB – CEBRASPE– 2011) A expressão “essas nações” (linha
7) faz referência aos termos “países europeus” e “Estados Unidos da
América” (linha 4).

Gabarito
1-Errado 7-Errado 13-Errado 19-Errado
2-Errado 8-Errado 14-Errado 20-Correto
3-Errado 9-Errado 15-Correto 21-Errado
4-Correto 10-Correto 16-Errado 22-Correto
5-Correto 11-Errado 17-Errado 23-Errado
6-Correto 12-Errado 18-Errado 24-Errado

224
⮚ CAPÍTULO 16 – REDAÇÃO OFICIAL

16.1. Introdução

Redação Oficial é a forma pela qual o Poder Público redige comunicações


oficiais e atos normativos. Por ser um estudo centrado no Manual de Redação
da Presidência da República, será uma atividade que produzirá mais efeito
quando somadas as informações teóricas do Manual com a prática de
resoluções de questões.

Também observe que não se escreverá uma redação oficial na prova, mas sim
se tratará do tema em questão objetiva. Há alguns elementos que podem
organizar o estudo: a linguagem, os pronomes de tratamento, o vocativo, o
fecho e os expedientes (tipos de textos da Administração Pública).

Endereço eletrônico do Manual:


http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-pr
esidencia-da-republica

16.2. Linguagem

São atributos da redação oficial: clareza e precisão; objetividade; concisão;


coesão e coerência; impessoalidade; formalidade e padronização; e uso da
norma padrão da língua portuguesa. O primeiro capítulo do Manual vai detalhar
esses atributos e, com base neles, nascem variadas questões de concurso.

225
❖ Importante para a sua prova: A redação oficial é elaborada sempre em
nome do serviço público e sempre em atendimento ao interesse geral dos
cidadãos. Sendo assim, os assuntos objetos dos expedientes oficiais não devem
ser tratados de outra forma que não a estritamente impessoal.

Deve-se fazer uma leitura inicial e buscar aperfeiçoar essa aprendizagem por
meio da resolução de questões, pois só assim podemos dimensionar como
aspectos da linguagem da Redação Oficial conseguem produzir a dificuldade
encontrada em algumas questões. Logo se vai perceber que quase tudo que se
pergunta em prova é embasado literalmente no Manual, muitas vezes
exatamente o que lá está escrito. Assim, esse fluxo entre questões e Manual
torna-se muito produtivo para a memorização.
16.3. Pronomes de tratamento

Nesta parte do Manual, procura-se justificar a manutenção de certas


formalidades na comunicação da Administração Pública e explicar os usos
gramaticais e a quem se direciona cada um dos pronomes de tratamento. O
mais comum é “Vossa Excelência”, que abrange inúmeros cargos.

16.4. Vocativo

O vocativo é uma invocação ao destinatário. Nas comunicações oficiais, o


vocativo será sempre seguido de vírgula. Em comunicações dirigidas aos
Chefes de Poder, utiliza-se a expressão Excelentíssimo Senhor ou
Excelentíssima Senhora e o cargo respectivo, seguidos de vírgula.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,

226
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal,

As demais autoridades, mesmo aquelas tratadas por Vossa Excelência,


receberão o vocativo Senhor ou Senhora seguido do cargo respectivo.
Senhora Senadora,
Senhor Juiz,
Senhora Ministra,

Na hipótese de comunicação com particular, pode-se utilizar o vocativo Senhor


ou Senhora e a forma utilizada pela instituição para referir-se ao interlocutor:
beneficiário, usuário, contribuinte, eleitor etc.
Senhora Beneficiária,
Senhor Contribuinte,

Ainda, quando o destinatário for um particular, no vocativo, pode-se utilizar


Senhor ou Senhora seguido do nome do particular ou pode-se utilizar o
vocativo “Prezado Senhor” ou “Prezada Senhora”.
Senhora [Nome],
Prezado Senhor,

Em comunicações oficiais, está abolido o uso de Digníssimo (DD) e de


Ilustríssimo (Ilmo.). Evite-se o uso de “doutor” indiscriminadamente. O
tratamento por meio de Senhor confere a formalidade desejada.

16.5. Fecho

227
Com o objetivo de simplificar e uniformizar, o Manual estabelece o emprego de
somente dois fechos diferentes para todas as modalidades de comunicação
oficial:

a) Para autoridades de hierarquia superior a do remetente, inclusive o


Presidente da República: Respeitosamente,

b) Para autoridades de mesma hierarquia, de hierarquia inferior ou demais


casos: Atenciosamente,

Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a autoridades


estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios.

16.6. Identificação do signatário

Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da República, todas as


demais comunicações oficiais devem informar o nome e o cargo da autoridade,
abaixo do local de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:

(espaço para assinatura)


NOME
Ministro de Estado da Justiça

16.7. Expedientes

228
São os textos produzidos pela Administração Pública. Três deles – ofício, aviso e
memorando – recebiam distinção até a segunda edição do Manual, mas, a partir
da edição mais recente (a terceira), todos os três passaram a receber o mesmo
nome: ofício. Com o objetivo de uniformizar, adotou-se nomenclatura e
diagramação únicas, o que se passou a chamar de padrão ofício.
Além disso, o Manual traz:

. mensagem – instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos Poderes


Públicos;

. exposição de motivos – expediente dirigido ao Presidente da República ou ao


Vice-Presidente por um Ministro de Estado.

Esses dois últimos recebem formatação distinta do ofício. No Manual, há vasto


detalhamento e exemplificação dos elementos que compõem cada um dos
documentos, inclusive a diagramação, a disposição dos itens, data,
endereçamento, assinatura, entre outros.

Resolva muitas questões e, com base no Manual, pesquise o item gerador da


dúvida. Embora técnico, o que se precisa estudar é curto: o que cai na prova vai
até a página 48. Infelizmente, muitos alunos não estudam a Redação Oficial com
o mesmo ímpeto que outras matérias e sempre lá está ela na prova, às vezes
com um número significativo de questões. E, se não estudar, é uma matéria
muito difícil, quase sempre inimaginável, pois nunca se viu em lugar nenhum.
Portanto, não pense duas vezes, estude regularmente.

229

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