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2.1.

Conjugação pronominal

Segundo PINTO & LOPES (1998:149), a conjugação pronominal “ocorre com os pronomes pessoais: o, a, os, as. A
acção do sujeito reflecte-se num outro.”

Para UAFEUA, Salvador (2013:48), chama-se conjugação pronominal “quando os verbos estão conjugados com os
pronomes.” Existem, no entanto, algumas diferenças que são dependentes dos pronomes usados.

Com os pronomes pessoais: o, a, os, as, lo, la, los, las, nos, nas.

Ex.: Sorriu para os filhos e acarinhou-os.

Ex2: Quis vê-la pela última vez.

Ex3: Estes são os túmulos dos meus avós, observem-nos bem.

2.2. Conjugação pronominal reflexa

Na perspectiva de BECHARA (2009:148), a reflexividade consiste, “na essência, na inversão (ou negação) da
transitividade da acção verbal”. Em outras palavras, significa que a acção denotada pelo verbo não passa a outra
pessoa, mas reverte-se à pessoa do próprio sujeito (ele é, ao mesmo tempo, agente e paciente).

Para UAFEUA (2013:49), é “a conjugação feita com os pronomes (me, te, se, nos e vos) e, chama-se reflexa porque
o sujeito pratica e sofre ao mesmo tempo a acção que ele próprio pratica. O pronome aparece como complemento
directo.”

Ex.: A Joana distraía-se nos seus jardins.

Ex2: Move-me a piedade minha.

Os pronomes reflexivos propriamente ditos são “aqueles em que os pronomes pessoais (me, te, se, nos e vos),
indicam uma acção que recai ou se reflecte no agente, ou seja, uma acção que é realizada e sofrida pelo sujeito.
Ibidem

De acordo com GARCIA & REIS (2009:129) (apud CUNHA & CINTRA (2005:281) o pronome reflexivo
“expressa o objecto directo ou indirecto que representa a mesma pessoa ou a mesma coisa que o sujeito do verbo.
Tem três formas próprias: se, si e consigo, que se aplicam tanto à 3ª pessoa do singular quanto à do plural.”

Ex.: Ele vestiu-se depressa.

Ex2: Ela só pensa em si.

Ex3: Os alunos levaram os testes consigo.

Nas demais pessoas, as suas formas identificam-se com as do pronome oblíquo: me, te, nos e vos.

Ex.: Eu me feri / Tu te lavas / Nós nos vestimos / Vós vos levantais.

As formas do reflexivo nas pessoas do plural (nos, vos e se) empregam-se também para exprimir a reciprocidade da
acção, isto é, para indicar que a acção é mútua entre dois ou mais indivíduos. Neste caso, diz-se que o pronome é
reciproco. CUNHA & CINTRA (2005:281)

Ex.: Carlos e eu abraçamo-nos. / Vós vos queríeis muito. / José e António não se cumprimentam.

Como são idênticas as formas do pronome reciproco e do reflexivo, pode haver ambiguidade com o sujeito plural.

Ex.: Joaquim e António enganaram-se.


Pode significar que o grupo formado por Joaquim e António cometeu engano, ou que Joaquim enganou António e
este a Joaquim. Costuma-se remover a dúvida fazendo-se acompanhar tais pronomes de expressões reforçativas
especiais:

1) Para marcar expressamente a acção reflexiva, acrescenta-se-lhes, conforme a pessoa, a mim mesmo, a ti
mesmo, a si mesmo, etc.

Ex.: Joaquim e António enganaram-se a si mesmos.

2) Para marcar expressamente a acção reciproca, junta-se-lhes, ou uma expressão pronominal, como um ao
outro, uns aos outros, entre si, etc. Ou um advérbio, como reciprocamente, mutuamente:

Ex.: Joaquim e António enganaram-se entre si. / Joaquim e António engaram-se um ao outro.

Ex2. Joaquim e António enganaram-se mutuamente.

Não raro, a reciprocidade da acção esclarece-se pelo emprego de uma forma verbal derivado com o prefixo entre-:

Ex.: As duas entreolharam-se e Luísa atendeu. / Marido e mulher entreolharam-se.

2.3. Conjugação pronominal recíproca

Segundo PINTO & LOPES (1998:149), a conjugação pronominal recíproca é “aquela cuja acção de cada um dos
sujeitos recai mutuamente sobre ambos. É formada com os pronomes pessoais do plural, exprimindo reciprocidade
na acção praticada.”

Ocorre quando o verbo tem mais de um sujeito (ou, ao menos, sujeito no plural) e sua acção é reflectida em cada um
desses sujeitos, ou seja, a acção do verbo é executada quando o sujeito pode ser substituído por um pronome na 1ª,
2ª e 3ª pessoa do plural. www.portugues.com.br

Para UAFEUA (2013:48), é “a que se obtém juntando às formas verbais do plural ou ao gerúndio de um verbo
transitivo os pronomes nos, vos e se. Tem significado de «um ao outro «ou «uns aos outros».”

Ex.: O pai e o filho beijaram-se. (beijaram um ao outro)

Ex: os dois políticos abraçaram-se calorosamente.

Ex: Olhando-se de lado, foram sem dizer nada. (olhando um ao outro).

Na perspectiva de MATEUS (2003:809), pesam algumas condições sobre a construção recíproca:

1. O sujeito da frase deve ser plural ou coordenado, como é visível a partir da agramaticalidade:

Ex.: O rapaz beijou-se (só gramatical se "o rapaz se tiver beijado a ele próprio")

2. O sujeito e o recíproco devem exibir as mesmas marcas de concordância (género e número)

Ex.: Os rapazes dançaram umas com as outras.

Portanto, reflexos e recíprocos são anáforas no sentido de anáforas ligadas, uma vez que são formas linguísticas cujo
valor referencial é necessariamente definido pela relação com um antecedente. Ibidem

2.4. Anáforas ligadas

Reflex Recípro
os cos

Pessoas Anáfo Anáforas Reforço de Reforç


gramatic ras locais/de anáforas o de
ais locais longa reflexas anáfora
distância s
recípro
cas

1ª Me a mim
Singular próprio/mesm
o

2ª Te A ti
Singular próprio/mesm
o

3ª Se Si A si
Singular próprio/mesm
o

1ª Plural Nos A nós (n Uns


próprios/mes os) (prep)
mos outros

2ª Plural Vos A vós (v Uns


próprios/mes os) (prep)
mos outros

3ª Plural Se Si A si (S Uns
próprios/mes e) (prep)
mos outros

Autor: Mateus (2003:815)

Valores e emprego do pronome «SE»

CUNHA & CINTRA (2005) concentram o maior número de usos do pronome «se», sendo esses usos apresentados
de forma objectiva.

O pronome «se» emprega-se como:

a) Objecto directo

Ex.: Ao sentir aquela robustez nos braços, meu pai tranquilizou-se.

Ex2: Viu-se ao espelho, cadavérico.

b) Objecto indirecto

Ex.: Perguntava-se a si mesma Teresa se aquela horrorosa situação seria um sonho.

c) Sujeito de um infinitivo

Ex.: Marta deixou-se cair, no canapé, a rir.

d) Pronome apassivador

Ex.: Fez-se novo silêncio.

e) Símbolo de indeterminação do sujeito


É “aquela na qual não conseguimos identificar quem realizou a acção. Neste caso, o se acompanha os verbos
intransitivos, transitivos directos e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na 3ª pessoa do singular.”
Ibidem (p.220)

Ex.: Vive-se ao ar livre, come-se ao ar livre, dorme-se ao ar livre.

f) Palavra expletiva (para realçar, com verbos intransitivos, a espontaneidade de uma atitude ou de um
movimento do sujeito)

Ex.: Pois ela se morreu fria.

Ex2: Vão-se as situações, e eles com elas.

g) Parte integrante de certos verbos (que geralmente exprimem sentimento ou mudança de estado: admirar-
se, arrepender-se, atrever-se, indignar-se, queixar-se; congelar-se, derreter-se, etc.)

Ex.: Atreva-se. Atreva-se, e verá.

Ex2: Marta queixava-se baixinho.

2.5.1. Valores dos pronomes pessoais

Segundo PINTO & LOPES (2006:208), os valores dos pronomes pessoais são:

a) Pronome de valor reflexivo

As formas me, te, se, nos, vos, si, comigo, contigo, consigo, connosco e convosco podem apresentar-se com valor de
reflexividade, ou seja, o sujeito é simultaneamente aquele que pratica a acção e aquele sobre quem recai a acção do
verbo. Estes pronomes podem surgir acompanhados de expressões como: a mim/ ti/ si próprio (a)/ mesmo (a).

Ex.: A Joana limpou-se.

Ex2: Eles vêem-se a si mesmos ao espelho.

b) Pronome de valor recíproco

Os pronomes nos, vos e se podem também apresentar-se como valor de reciprocidade.

Ex.: Eles cumprimentaram-se à saída.

Ex2: Eles cumprimentaram-se um ao outro à saída.

Ex3: Os namorados abraçaram-se.

Ex4: Os namorados abraçaram-se um ao outro.

Neste caso, o sujeito é necessariamente plural: implica duas ou mais entidades que estão envolvidas numa situação
simultaneamente como agentes e pacientes da acção. Estes pronomes podem surgir reforçados por expressões como
um (a) ao/à outro (a) ou uns/umas aos/às outro (a)s ou entre si.

Ex.: O João e a Joana beijam-se um ao outro.

c) Pronome com valor inerente

As formas me, te, se, nos e vos podem também surgir exigidas ou admitidas pela construção do verbo com que se
combina, mas sem terem valor reflexo ou reciproco. Não podem pois ser acompanhadas das expressões a si próprio
ou um ao outro.

Ex.: Eles riram-se de mim.


Ex2: Eles riram-se a si próprio de mim.

d) Pronome com valor impessoal

Se pode implicar um sujeito nulo indeterminado quando é utilizado na 3ª pessoa do singular ou com o verbo no
infinitivo impessoal. Equivale às expressões: há pessoa que, há quem (alguém)

Ex.: Diz-se que os preços dos combustíveis vão baixar. (= alguém diz/há quem diga que os preços dos combustíveis
vão baixar.)

Ex2: Ao querer-se tudo pode-se ficar sem nada.

e) Pronome com valor passivo


Quando se utiliza com formas verbais na 3ª pessoa do plural, se é então uma palavra com valor
passivo dado que se constrói uma frase com sentido passivo sem recurso ao verbo auxiliar da
passiva. As frases com se com valor passivo são parafraseáveis por frases com o auxiliar da
passiva. COSTA, (2010:204)

Ex.: Vendem-se livros usados aqui (Livros usados são vendidos aqui).

Se usa-se a 3ª pessoa do singular, pode-se criar ambiguidade entre o se com valor impessoal e o se com valor
passivo.

Ex.: Vende-se fruta aqui. (= Fruta é vendida aqui (se com valor passivo ou = Há quem venda/alguém vende fruta
aqui (se com valor impessoal).

2.6. O verbo reflexivo e o verbo pronominal

CUNHA & CINTRA (2005:405) dizem que os verbos pronominais são:


Todos aqueles acompanhados de pronomes, mas especificamente dos pronomes oblíquos
em sua conjugação, podendo ter uma conjugação reflexiva ou recíproca. Os verbos
reflexivos, por sua vez, são aqueles cuja acção necessariamente se volta para o próprio
sujeito que o executa. Desta feita, alguns verbos pronominais são chamados se essenciais,
enquanto outros são denominados acidentais, dependendo da obrigatoriedade do pronome
oblíquo em sua conjugação.

2.6.1. Verbos pronominais essenciais

São “obrigatoriamente conjugados com pronome oblíquo. Assim, eles não podem ser conjugados sem o pronome
oblíquo, pois não fazem sentido sem ele, por exemplos, os verbos abster-se, condoer-se, apiedar-se, queixar-se,
arrepender-se, atrever-se, suicidar-se, zangar-se, etc.” MARTINO, A. (2012)

Ex.: Arrependeu-se por não ter estudado para os exames de admissão.

2.6.2.Verbos pronominais acidentais

São aqueles que podem ser conjugados com ou sem o pronome oblíquo. Nesse caso, são
verbos que não necessariamente são acompanhados desse pronome, porem, depende do
contexto, precisam do pronome oblíquo como o seu complemento. Por exemplo, os
verbos aceitar/aceitar-se, debater/ debater-se, enganar/enganar-se, esquecer/esquecer-se,
iludir/iludir-se. Contudo, atenção à regência. Muitas vezes o verbo pronominal é regido
por preposição. (Ibidem)
Ex.: Ele esqueceu-se de algo em casa.
Ex2: Elas lembraram-se do que aconteceu naquela noite.

No que se refere às alterações no uso de pronomes pessoais reflexivos «não argumentais», destacam-se, em primeiro
lugar, a tendência para a sua supressão nas construções intransitivas, que alternam tipicamente com uma construção
transitiva de natureza causativa, como afundar vs. Afundar-se. (PE: Afundamos o navio vs. O navio afundou-se).
GONҪALVES (2010)

Ex.: Ouvi um ruído e assustei (PE: assustei-me)

Ex.: Aquilo passou, não prolongou (PE: não se prolongou).

Uma outra inovação de relevo na área dos pronomes «não argumentais» regista-se no uso de um pronome de flexão
reflexiva, inexistente em PE, cuja função é assinalar a afectação das entidades designadas pelos SN sujeito pelas
acções descritas pelo verbo. De um modo geral, este pronome é inserido junto de verbos que descrevem experiências
psicológicas da entidade designada pelo SN sujeito [⁺humano]: Tanto quanto os dados disponíveis mostram, a
presença deste pronome não tem carácter obrigatório, funcionando como um recurso opcional destinado a enfatizar
o papel do SN sujeito na acção descrita pelo verbo. Ibidem

Ex.: Parecia troçar-se dele [PE: troçar].

Ex2: A senhora desconfiou-se este senhor [PE: desconfiou]

Ex3: O Fernando preferiu-se da tal rapariga [PE: preferiu].

CUNHA & CINTRA (1999:405), afirmam que, “muitos verbos são conjugados com pronomes átonos, à semelhança
dos reflexivos, sem que tenham exactamente o seu sentido.” São chamados verbos pronominais de que podemos
distinguir dois tipos:

a) Os que só se usam na forma pronominal como: apiedar-se; condoer-se; queixar-se; suicidar-se

b) Os que usam também na forma simples, mas esta difere pelo sentido ou pela construção da forma
pronominal, como: debater=discutir; debater-se=agitar-se

2.6.3. Voz reflexiva

O verbo vem acompanhado de um pronome oblíquo que lhe serve de objecto directo ou mais raramente, de objecto
indirecto e representa a mesma pessoa que o sujeito. Ibidem

Ex.: A Joana deu-se o trabalho de vir a minha casa.

O verbo reflexivo pode indicar também a reciprocidade, isto é, uma acção mútua de dois ou mais sujeitos.

Ex.: Os dias sucedem-se calmos.

2.7. Descrição dos tipos e siglas do pronome «se»

Grupo reflexivo Sigla Grupo não Sigla


reflexivo

Reflexivo Ref Passivo Pas

Estilístico Est Ambíguo Amb


Pronominal Pro Indeterminado Ind

Autor: LIMA (2006)

Em relação ao tipo reflexivo, foram encontrados: a) reflexivo simples; b) reflexivo recíproco, no qual a reflexividade
se expressa por uma acção recíproca realizada pelos dois agentes, e c) reflexivo duplicado, no qual o pronome é
duplicado com o intuito de reforçar a reflexividade.

a) Reflexivo simples

Ex.: O João recuperou-se imediatamente.

b) Reflexivo recíproco

Ex.: A troco disto se vendiam uns aos outros.

c) Reflexivo duplicado

Ex.: O negro se sentiu-se marginalizado…

Quanto à estrutura temática, os verbos em estrutura reflexiva atribuem dois papéis temáticos simultaneamente, isto
é, agente e paciente, que estão coindexados por meio do pronome «se». De salientar que o agente é sempre
interpretado como + animado. Quanto a estrutura temática, o verbo é, portanto, sempre + bi-argumental. VITRAL,
Lorenzo citado por LIMA, Bruno Fernandes Zenóbio de (2006)

Nas orações em que se encontram o se-reflexivo, o pronome «se» apresenta a possibilidade de sua substituição pelas
formas a si mesmo, a si mesma, etc., e recebe caso acusativo, o que não acontece com os tipos estilísticos e
pronominal. Ibidem

Ex.: O Abel feriu-se (a si mesmo).

Há ainda, como dissemos, construções em que aparece o «se» estilístico. Nesses casos, tem-se um verbo
intransitivo:

Ex.: Riu-se a Ninfa e disse…

Nas orações em que se encontra o «se» -estilístico, o pronome «se» exprime a vivacidade ou espontaneidade do
movimento da acção executada pelo sujeito, mas não recebe nenhum caso, diferentemente do reflexivo que recebe
acusativo. LIMA (2006)

a) E com isto se tornou para a sua pousada.

b) E com isto se tornou (*a si mesmo) para a sua pousada.

Não é possível em b) a interpretação reflexiva, já que o verbo tornar não é um verbo transitivo directo, portanto, não
exigindo complemento.

Dentre os aspectos caracterizadores do «se» -pronominal, quatro são fundamentais:

a) O pronome se nos verbos pronominais é parte integrante do radical;


b) Tal pronome não tem função sintáctica, ou seja, é uma forma fossilizada nos radicais dos verbos;
c) O complemento é sempre preposicionado;
d) Nas estruturas pronominais o «se» não recebe caso, isto é, diferentemente dos demais tipos de
«se» aqui analisados que possuem função sintáctica e significação gramatical, o «se» -pronominal,
pelo menos no português actual, não dispõe de qualquer traço sintáctico ou semântico.

Quanto aos seus traços semânticos, o «se» -pronominal pode ser caracterizado como: em relação
ao aspecto sujeito, ele apresenta sempre os traços + animado e + experienciador, é sempre um ser
animado que vivencia um estado emocional; quanto ao verbo, é sempre + bi-argumental, ou seja,
há a exigência de dois papéis temáticos, o de + experienciador e o de + experienciado. LIMA
(2006)

Outro emprego do pronome «se» assinalado por Kury é na formação da voz passiva pronominal. O autor considera
que, quando numa oração na voz activa com verbo transitivo directo o agente é indeterminado e o paciente é
inanimado, e, por isso, incapaz de exercer a função de sujeito, essa construção pode admitir uma voz passiva, como
em construíram-se muitos edifícios, caracteriza-se, então, a voz passiva por uma perspectiva diferente de foco da
oração, ou seja, o foco perspectiva que é estabelecido nas construções activas no sujeito, passa a ser, no caso da
construção passiva, no objecto.

2.8. Propriedades dos pronomes clíticos

Propriedades gerais caracterizadoras dos pronomes clíticos

Pronomes pessoais

MATEUS (2003:826) define os pronomes clíticos como sendo:


Pronomes pessoais que também podem ser designados pronomes átonos ou clíticos
especiais. Os pronomes pessoais denotam a pessoa gramatical das entidades participantes
no acto de comunicação (locutor, ouvinte e entidade acerca da qual se fala). Os pronomes
clíticos por sua vez, correspondem prototipicamente às formas átonas do pronome
pessoal que ocorrem associadas à posição dos complementos dos verbos.

Ex.: Dá-me um abraço.


Ex2: Não lhe disse que ia chover?
Ex3: O meu irmão? Levá-lo-ei comigo.

Pessoas Clíticos não Reflexos


reflexos

Gramaticais Acusativo Dativo Acusativo/Dativo

1ª do singular Me Me Me

2ª do singular Te Te Te

3ª do singular O/a Lhe Se

1ª do plural Nos Nos Nos

2ª do plural Vos Vos Vos

3ª do plural Os/as Lhes Se

Autor: Mateus (2003)

Na perspectiva de BECHARA (2009:139) os pronomes pessoais designam as duas pessoas do discurso e a não
pessoa (não eu, não tu), considerada pela tradição, a 3ª pessoa:

1ª pessoa eu (singular), nós (plural)

2ª pessoa tu (singular), vós (plural)

3ª pessoa ele/ela (singular), eles/elas (plural)

A cada um destes pronomes pessoais rectos corresponde um pronome pessoal oblíquo e pode apresentar-se em
forma átona ou forma tónica. Ao contrário das formas átonas, as tónicas vêm sempre presas a preposição.
De um modo geral, para indicar que o objecto da acção é a mesma pessoa que o sujeito que a pratica, é obrigatório a
concordância entre o pronome reflexivo e a pessoa a qual se refere.

Ex.: Eu se machuquei.

Ex.: A melhor companhia acha-se em uma livraria escolhida.

Ex.: As virtudes se harmonizam, os vícios discordam entre si.

Ainda segundo BECHARA (2009:140), o pronome oblíquo reflexivo é o pronome oblíquo da mesma pessoa do
pronome recto, significando a mim mesmo, a ti mesmo, etc. e, o pronome oblíquo recíproco é representado pelos
pronomes nos, vos, se quando traduzem a ideia de um ao outro, reciprocamente.

Ex.: Ele se vestiu

Ex.: Eles abraçaram-se (um ao outro).

2.8.1. Padrão de colocação dos pronomes clíticos

Segundo MATEUS (2003:847) os pronomes clíticos têm um comportamento uniforme quanto aos padrões de
colocação. Assim, todos eles exigem um hospedeiro verbal, o que se traduz num requisito de adjacência entre o
pronome clítico e uma forma verbal, finita ou não finita.

Para MARTINO (2012) a colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na
frase em relação ao verbo. A colocação pronominal faz referência à posição dos pronomes pessoais oblíquos átonos
em relação ao verbo. Os pronomes pessoais oblíquos átonos são: me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos, vos.

Na óptica de CUNHA & CINTRA (2005:310), o pronome átono pode ser:

I. Enclítico, isto é, depois do verbo. Ex.: Calei-me.

II. Proclítico, isto é, antes do verbo. Ex.: Eu me calei.

III. Mesoclítico, ou seja, no meio do verbo, colocação que só é possível com formas do futuro do presente ou
do futuro do pretérito. Ex.: Calar-me-ei; Calar-me-ia.

2.8.2. Regras da ênclise

a. Usa-se a ênclise depois do verbo auxiliar ou depois do verbo principal nas locuções verbais em que o verbo
principal esteja no infinitivo ou no gerúndio:

Ex.: Devo-lhe explicar o que se passa.

Ex2: O roupeiro veio interromper-me.

b. Caso não haja palavra que atraia a próclise, usa-se a ênclise depois do verbo auxiliar em que o verbo
principal esteja no participo.

Ex.: Foi-lhe explicado como deveria agir.

Ex2: Tinha-lhe feito às vontades se não tivesse sido mal criado.

No PE, se não houver algo que atraia o clítico para outra posição, a ênclise é a posição padrão, isto é, o clítico surge
depois do verbo (Ele ofereceu-me um livro). Esta é, aliás, uma diferença em relação ao PB, onde a próclise é mais
frequente, isto é, posição antes do verbo (Me desculpa se falei demais). Mateus (2003:849)

Há, no entanto, um conjunto de situações em que o clítico é atraído para antes do verbo, sendo que, em algumas
destas situações, a próclise é mesmo considerada obrigatória. Os contextos que atraem os clíticos para antes do
verbo podem sistematizar-se da seguinte maneira:
a) Partículas de negação: (não, nunca, jamais, ninguém, nada) quando entre ela e o verbo não há pausa.

Ex.: Não lhe dizia eu?

Ex2: Nunca o vi tão sereno e obstinado.

b) Pronomes ou advérbios interrogativos:

Ex.: Quem te avisou?

Ex2: Por que te assustas de cada vez?

c) Palavras exclamativas, bem como nas orações que exprimem desejo (optativas):

Ex.: Que o vento te leve os meus recados de saudade.

Ex2: Que Deus o abençoe!

d) Pronomes ou advérbios relativos:

Ex.: Consultou o médico que lhe indicaram.

e) Conjunções subordinativas complectivas

Ex.: Acho que o ofendi.

Ex2: Perguntaram se a tinha visto.

Ex3: Foi isso que eu te disse.

f) Conjunções subordinativas que introduzem orações adverbiais (causais, comparativas, concessivas,


condicionais, consecutivas, finais e temporais):

Ex.: Perdeu o início do filme porque se atrasou.

Ex2: Como lhe disse anteriormente, estou convencido da veracidade dos factos.

Ex3: Ainda que vos custe, têm de partir.

Ex4: Se me ofereceres um livro, ficarei feliz.

Ex5: Abanou tanto o ramo que o partiu.

Ex6: Trabalhou muito para o conseguir.

Ex7: Quando a viu, sorriu.

g) Advérbios ou locuções adverbiais como: ainda, já, oxalá, sempre, só, talvez, também.

Ex.: Ainda ontem as vi.

Ex2: Já o conheço bem.

Ex3:Oxalá se mantenha assim.

Ex4: Sempre o conheci atrevido.

Ex5: Só lhes entreguem os documentos hoje.


h) Quantificadores e pronomes ou determinantes indefinidos como: algo, alguém, ambos, poucos, qualquer,
todo, tudo.

Ex.: Algo a intrigava.

Ex2: Ambos se sentiam humildes e embaraçados.

Ex3: Alguém lhe bate nas costas.

Ex4: Tudo me incomoda.

i) Preposições (excepto a preposição a) ou locuções preposicionais:

Ex.: Criticou o filme antes de o ver.

Ex2: Comprei a saia para a usares.

j) Gerúndios regidos da preposição em:

Ex.: Em se ela anuviando, em a não vendo

Ex2: Em lhe falando, tudo será mais fácil.

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