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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

CAPÍTULO I – OS PRONOMES PESSOAIS

Os pronomes pessoais denotam as três pessoas gramaticais, isto é, têm a capacidade de


indicar, no colóquio, quem fala, com quem se fala e de quem se fala. Desempenham as
funções sintácticas próprias dos nomes, e admitem variações em número, pessoa e género.
Contudo, a variação em género só se verifica na terceira pessoa.

Além disso, os pronomes pessoais variam em caso e em forma, segundo a função que
desempenham na oração e a acentuação que nela recebem.

Entende-se por caso a variação morfológica da palavra, de acordo com a função sintáctica
assumida por esta.

De acordo com AZEREDO, PINTO e LOPES (2011, p. 204), “para além da flexão em
pessoa, número e género, os pronomes pessoais apresentam também variação em caso,
ou seja, mudam de forma conforme a função sintáctica que desempenham”. Neste sentido,
os pronomes pessoais desempenham a função de sujeito (caso nominativo), de
complemento directo (caso acusativo), de complemento indirecto (caso dativo) e de
complemento oblíquo ou de agente da passiva (caso oblíquo), numa analogia com o que
acontece com o latim, embora em português essa variação só se concretize nos pronomes
pessoais.

Quanto à função, as formas do pronome pessoal podem ser rectas ou oblíquas. São rectas
quando funcionam como sujeito da oração e oblíquas, quando nela se empregam como
complemento.

Quanto à acentuação, distinguem-se, entre os pronomes pessoais oblíquos, as formas


átonas das tónicas. São átonas as formas que ocorrem junto ao verbo, estejam elas à
direita, à esquerda ou no interior do verbo e cuja acentuação tónica é subordinada à da
forma verbal, razão pela qual são chamados pronomes clíticos.

São formas tónicas as que possuem acento tónico próprio e ligam-se à forma verbal por
meio de preposição. Sempre que o pronome é precedido de preposição, usam-se as formas
tónicas.

Para melhor compreensão, observemos o quadro seguinte:

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PRONOMES PESSOAIS
PESSOA Sujeito C. directo C. indirecto C. oblíquo C. agente
da passiva
1ª eu me Me mim, comigo mim
Singular

2ª tu te Te ti, contigo ti
3ª ele/ela o/a, se Lhe si, ele,/ela, consigo si, ele/ela

1ª nós nos Nos nós, connosco nós


2ª vós vos Vos vós, convosco vós
Plural

3ª eles/elas os/as, se Lhes si, eles/elas, si, eles,


consigo elas
Formas átonas Formas tónicas

Para os pronomes me, te, nos e vos que, ora funcionam como complemento directo, ora
como indirecto, o critério diferenciador será a natureza do verbo quanto à transitividade.
Assim, se um dos pronomes acima referidos for seleccionado por um verbo transitivo
directo, desempenhará a função de complemento directo. Se, pelo contrário, for
seleccionado por um verbo transitivo indirecto, desempenhará a função de complemento
indirecto.

Ex.:
• O menino saudou-me com alegria. (CD)
• O menino ofereceu-me um bom livro. (CI)

1.1. FORMAS LO E NO DO PRONOME OBLÍQUO

Quando o pronome oblíquo da terceira pessoa, que funciona como complemento directo,
vem antes do verbo (pronome proclítico), apresenta-se sempre com as formas o, a, os, as.

Ex.:
• Nunca a encontramos em casa.
• Ninguém os achou até ao momento.

Quando, porém, está colocado depois do verbo e liga-se a este por intermédio do hífen
(pronome enclítico), a sua forma depende da terminação do verbo. Assim:

a) Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empregam-se as formas o,


a, os, as, ou seja, as mesmas não sofrem alterações.

Ex.: Levo-o todos os dias à escola.


O professor louvou-os pela atitude tomada.

b) Se a forma verbal terminar em som nasal, a nasalação transmite-se ao pronome e


este ganha as formas no, na, nos, nas, sem alteração à forma verbal.

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Ex.:
• Não deixe a criança ali. Põe-na no berço.
• Eles compraram um rico livro e ofereceram-no ao João.

c) Se a forma verbal terminar em - r, - s, ou - z, suprimem-se essas consoantes, e o


pronome assume as formas lo, la, los, las. O mesmo se dá quando ele vem
posposto ao designativo eis ou aos pronomes nos e vos.

Ex.:
• Vê-lo para mim é um suplício;
• Encorajamo-la a não sair de casa.
• O João tem 30 anos de idade. Fê-los hoje.
• Ei-lo sorridente!
• Querem que eu vos diga o nome da menina, mas não vo-lo direi.

1.2. VALOR DOS PRONOMES OBLÍQUOS

Quando o complemento directo ou indirecto representa a mesma pessoa ou a mesma coisa


que o sujeito do verbo, estamos na presença de um pronome reflexivo, o qual pode ser
representado pelos pronomes me, te, se, nos, vos, si, comigo, consigo, connosco e
convosco.

Ex.:
• Magoámo-nos ao cortar a árvore.
• Ele resmungou consigo próprio: “vou empenhar-me nos estudos agora”.
• O João e o Manuel enganaram-se a si mesmos.

As formas do pronome reflexivo nas pessoas do plural nos, vos e se empregam-se também
para exprimir a reciprocidade da acção, indicando que ela é mútua entre dois ou mais
indivíduos, pelo que elas recebem o nome de pronomes recíprocos.

Para se evitar a ambiguidade com o sujeito plural, pelo facto de as formas do pronome
reflexivo serem as mesmas que as do recíproco, costuma-se usar expressões reforçativas
como a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, etc, ou um ao outro, uns aos outros, entre
si, conforme se trate de situação de reflexividade ou de reciprocidade, respectivamente.

Ex.:
• Elas enganaram-se a si mesmos.
• O João e o Manuel enganaram-se um ao outro.

Importa referir que, além do seu valor de reflexividade ou de reciprocidade, o pronome


se possui também sentido de passividade (pronome apassivante). O referido pronome
possui, ainda, valor de impessoalidade ou indeterminação do sujeito, quando se emprega
junto à terceira pessoa do singular, de verbos intransitivos ou transitivos tomados

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intransitivamente, ou com verbos no infinitivo impessoal, como acontece nos seguintes


exemplos:

• Fala-se muito no aumento do preço dos combustíveis. (= Alguém fala ou há quem


fale muito no aumento do preço dos combustíveis.)
• Ao querer-se tudo pode-se ficar sem nada. (= Quando alguém quer tudo, pode ficar
sem nada.

Há situações em que os pronomes me, te, se, nos e vos são exigidos ou admitidos pela
conjugação dos verbos com que se combinam. Isso acontece com verbos que exprimem,
geralmente, sentimento ou mudança de estado e, por isso, os referidos pronomes não
possuem qualquer valor pronominal nem podem ser acompanhados das expressões
reforçativas como a si próprio, um a outro e similares. A esses dá-se o nome de
pronomes inerentes. É o que acontece com verbos como apaixonar-se, arrepender-se,
casar-se, esquecer-se, indignar-se, lembrar-se, orgulhar-se, queixar-se, rir-se, sentir-se,
congelar-se, derreter-se, etc.

Ex.:
• Lembrei-me disso quando saí de casa.
• A Sónia e o André casaram-se há dois anos.
• O gelo derreteu-se completamente.

1.3. EMPREGO DOS PRONOMES OBLÍQUOS

Existem três posições de emprego dos pronomes oblíquos, nomeadamente: proclítica,


mesoclítica e enclítica. Regra geral, a posição do pronome, no presente e no pretérito, é
enclítica, desde que não haja, na oração, situações que exijam o contrário.

Ex.:
• Vi-te ontem.
• O menino saudou-me com alegria.

No futuro do indicativo e no condicional, o pronome oblíquo não pode ser enclítico, isto
é, não pode vir depois do verbo. Dá-se então a mesóclise (ou tmese), ou seja, a colocação
do pronome no interior do verbo, desde que não se observe uma das situações descritas
na regra seguinte.

Ex.:
• Este é um livro interessante. Oferecê-lo-ei ao Manuel.
• Se soubesse da existência daquele livro na loja, comprá-lo-ia a qualquer preço.

Nas orações que contêm uma palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc),
quando entre ela e o verbo não há pausa, e nas orações cujos verbos são precedidos de
certos advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez, etc.) ou certas expressões
adverbiais, sem pausa que os separe, a posição do pronome deve ser proclítica.

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Ex.:
• Não me calarei sem que o problema seja resolvido.
• Jamais o perdoarei.
• Nunca o vi tão sereno como hoje.
• Ninguém me disse que você estava doente.
• Sempre te considerei muito inteligente.
• Pouco tempo depois, os meninos encontraram-se outra vez.1

O pronome é também proclítico quando o sujeito da oração, anteposto ao verbo, contém


o quantificador universal ambos, algum dos pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém,
outro, qualquer, etc.), quando a oração é iniciada por palavras exclamativas ou exprime
desejo.

Ex.:
• Ambos o viram ontem.
• Alguém nos transmitiu o recado.
• Que o vento te leve os meus recados de saudade!
• Que Deus o abençoe!
• Bons olhos o vejam!

O pronome é ainda proclítico:

a) Quando a oração é disjuntiva de ou ou quer.

Ex.: Ou te vais embora ou te ponho eu lá fora!

b) Nas orações subordinadas.

Ex.: Espero que Deus nos conceda saúde e força suficientes.

c) Nas orações introduzidas por pronomes ou advérbios interrogativos.

Ex.:
• Quem me busca a essa hora tardia?
• Como o julgam os seus amigos

Com os particípios, não se dá a ênclise nem a mesóclise nem a próclise. Quando ele vem
sem auxiliar, deve-se, sempre, usar as formas regidas de preposição, isto é, as formas
tónicas do pronome pessoal. Se, porém, o verbo no particípio vier acompanhado de
auxiliar, o pronome átono virá enclítico ao auxiliar, se não se verificar nenhuma das
situações proibitivas dessa regra.

Ex.:
• Dada a mim a explicação, retirei-me.

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Refira-se que, nessa circunstância, o pronome é enclítico devido à presença da vírgula, que separa o
advérbio da forma verbal.

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• Tenho-o visto sempre.

Com os infinitivos soltos, mesmo quando modificados por negação, pode-se aplicar a
próclise ou a ênclise, embora haja maior tendência para a última colocação pronominal.

Ex.:
• Diga ao pai para me levar. / Diga o pai para levar-me.
• Para não o prejudicar, ignorei o seu mau comportamento/ Para não prejudicá-
lo, ignorei o seu mau comportamento.

Deve-se, rigorosamente, aplicar a ênclise quando o pronome é o (principalmente o seu


feminino, a) e o infinitivo vem regido da preposição a.

Ex.: Se soubesse da sua antipatia, não continuaria a convidá-lo.

Note-se que a colocação pronominal no português do Brasil difere da do português de


Portugal, admitindo aquela a possibilidade de se iniciarem frases com os mesmos
(pronomes), fundamentalmente com me, a aplicação da próclise em orações absolutas,
principais e coordenadas, não iniciadas por palavra que exija tal colocação e a próclise ao
verbo principal, nos complexos verbais.

Por outro lado, é frequente, no português do Brasil, o emprego do pronome recto da


terceira pessoa (ele, ela, eles e elas), em vez do oblíquo, que desempenha a função de
complemento directo (o, a, os, as).

Ex.:
• Me desculpe se falei demais.
• Se sua Majestade me permite, eu me preparo melhor.
• Será que o pai não vai te dar o dinheiro?
• Hoje vi ele no mercado. (Em vez de hoje vi-o no mercado.)

Na mesma senda, verifica-se que nas línguas bantu, como é o caso do kikongo, do
kimbundu e do umbundu, por exemplo, a colocação pronominal é sempre proclítica,
independentemente do tempo e da polaridade da frase, o que não deve constituir problema
para a aprendizagem do português, pois as regras gramaticais não são comuns a todas as
línguas, embora possam convergir em certos aspectos.2

1.4. FORMAS CONTRAÍDAS DOS PRONOMES ÁTONOS

Nas orações em que ocorrem dois pronomes átonos, sendo um complemento directo e
outro indirecto, os mesmos podem contrair-se, com base nas seguintes regras:

2
A respeito da colocação pronominal em português - língua não materna consulte-se QUIVUNA, M. O
Ensino de Português em Contexto Bilingue/Plurilingue Angolano – Sete Estudos – Lisboa: Edições Colibri;
2014. Pág. 191.

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a) Os pronomes me, te, nos, vos, lhe e lhes, enquanto formas do complemento
indirecto, juntam-se a o, a, os, as, que são formas do complemento directo, dando
lugar a:

me+o = mo me+a = ma me+os = mos me+as = mas


te+o = to te+a = ta te+os = tos te+as = tas
lhe+o = lho lhe+a = lha lhe+os = lhos lhe+as = lhas
nos + [l]o = no-lo nos + [l]a = no-la nos + [l]os = no-los nos + [l]as = no-las
vos + [l]o = vo-lo vos + [l]a = vo-la vos + [l]os = vo-los vos +[l]as = vo-las
lhes + o = lho lhes + a = lha lhes + os = lhos lhes + as = lhas

b) O pronome se associa-se a me, te, nos, vos e lhe(s), mas nunca a o, a, os e as. Na
escrita, as duas formas conservam a sua autonomia, quando antepostas ao verbo,
e ligam-se por hífen, quando lhe vêm pospostas.

Ex.:
• Não se me pôs impedimento na viagem para Luanda.
• Pôs-se-lhe um obstáculo na sua circulação.

1.5. REGRAS PARA UMA CORRECTA PRONOMINALIZAÇÃO

A pronominalização é o processo de substituição de um grupo nominal (GN) ou


preposicional (GPrep), que desempenham a função de sujeito ou de complemento do
verbo, geralmente directo ou indirecto, por um pronome que lhe seja correspondente.

Para que ela se processe de forma correcta, deve-se ter em conta a função sintáctica do
elemento ou elementos em causa, o que permitirá distinguir se se trata de sujeito, de um
ou de ambos os complementos acima referidos.

Assim:
a) Se o elemento em causa desempenhar a função sintáctica de complemento directo,
um dos pronomes a ser utilizado será: o, a, os, as, conforme o número do grupo
nominal seja singular ou plural e o género, masculino ou feminino;

b) No caso de o elemento a ser substituído se tratar de um complemento indirecto, o


pronome substituto será lhe ou a sua variante plural, conforme se tratar de singular
ou plural do grupo preposicional;

c) Se ocorrerem na frase dois complementos, sendo um directo e outro indirecto,


recorrer-se-á às formas contraídas dos pronomes constantes da tabela apresentada
na página anterior. Todavia, convém ter sempre presente que o género e o número
da forma contraída dos pronomes dependem unicamente do género e do número
do pronome que desempenhar a função de complemento directo, ainda que o
complemento indirecto seja representado por elementos que estejam no plural e,
como tal, susceptíveis de serem substituídos pelo pronome lhes.
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CAPÍTULO II – A FRASE E A SUA ESTRUTURA

2.1. TIPOS E FORMAS DE FRASE

De acordo com DUBOIS et al. (2001, p. 292) “em gramática tradicional, a frase é uma
reunião de palavras que formam um sentido completo, distinta da proposição pelo facto
de aquela poder conter várias proposições (frase composta e complexa)”.

Porém, para os referidos autores, essa definição apresenta algum inconveniente,


decorrente do facto de, para se definir frase, não ser possível utilizar a unidade de sentido,
pois o mesmo conteúdo pode ser expresso numa frase ou em duas.

Para a gramática moderna, “uma frase é um enunciado cujos constituintes devem assumir
uma função e que, na fala, deve ser acompanhada de uma entoação”.

Por seu turno, AZEREDO, PINTO e LOPES (2011, p. 94) sustentam que a frase é “um
conjunto de palavras organizadas em torno de um elemento central, o verbo (principal ou
copulativo), formando com ele um todo com sentido visto que se estabelece entre os seus
elementos uma relação de predicação”

Para MOURA, (2011, p. 212) a frase é uma sequência coerente e coesa de palavras,
estruturada formalmente como unidade autónoma de sentido mais ou menos completo,
ao dispor da comunicação, independentemente do contexto da enunciação, o que torna o
seu número praticamente infinito.

Qualquer que seja a corrente que pretendamos adoptar, o certo é que o conceito de frase,
enquanto unidade mínima de comunicação, está intimamente ligado à ideia de palavra ou
conjunto de palavras, que se estruturam em torno de um elemento central, regidas por
regras lexicais e morfossintácticas, visando a transmissão de ideias, sentimentos, etc.

A frase pode ser simples ou complexa, conforme tenha um verbo principal (na forma
simples ou composta) ou mais do que um verbo principal (estando, cada um deles, na
forma simples ou composta), respectivamente.

2.1.1. DIFERENÇA ENTRE FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO E PARÁGRAFO

Antes de abordarmos a questão relacionada com os tipos e formas de frase, apresentamos


a seguir a sua noção e a de oração, período e parágrafo, visando a compreensão das
diferenças e semelhanças que os referidos termos encerram.

Como já referimos, a frase é “um conjunto de palavras organizadas em torno de um


elemento central, o verbo (principal ou copulativo), formando com ele um todo com
sentido visto que se estabelece entre os seus elementos uma relação de predicação”.
Também já nos referimos ao facto de a frase poder ser simples ou complexa, em função
de ser constituída por um só verbo principal ou por mais de um, respectivamente. A frase
pode, assim, conter uma ou mais orações.

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A oração é um enunciado em que um grupo verbal afirma ou nega algo coerente e coeso
(predicado) em torno de uma entidade explícita ou subentendida, o sujeito. A oração é a
unidade mínima contida numa frase complexa, podendo ocorrer de forma isolada, sendo,
nesse caso, sinónimo de frase simples.

Período é a frase organizada em oração ou orações. O conceito de período confunde-se


com o de frase. Porém, todos os períodos são frases, mas nem todas as frases são períodos,
uma vez que podem não conter um grupo verbal.

A terminologia actualmente utilizada no ensino do português considera que os termos


frase e oração pertencem ao domínio da sintaxe, enquanto o período e parágrafo se
enquadram no plano da representação gráfica. Assim, de acordo com CUNHA e CINTRA
(2013, p. 155) “período será cada uma das partes constituintes de um parágrafo, que se
caracteriza por conter uma ou mais frases simples ou complexas e ser delimitada por
ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação ou reticências.”

Parágrafo são as divisões principais que estruturam o discurso escrito, isto é, uma forma
de organização, caracterizada pela unidade das ideias que o constituem, tendo em conta
o seu sentido completo e a sua independência sintáctica.

Cada parágrafo pode ser constituído por períodos e estes, por uma ou mais frases simples
ou complexas. A oração difere da frase simples pelo facto de ser um enunciado que se
estrutura com base num verbo, ao passo que nesta, nem sempre existe um verbo.

2.1.2. TIPOS DE FRASES


Existem frases do tipo declarativo, interrogativo, imperativo e exclamativo.

2.1.2.1. FRASES DO TIPO DECLARATIVO

As frases do tipo declarativo são aquelas que exprimem uma asserção, ou seja, frases que
possuem certas propriedades gramaticais, podendo exprimir qualquer tipo de acto
ilocutório. Em outras palavras, as frases declarativas são aquelas em que o emissor relata
um acontecimento, exprime uma ideia, informa sobre um acontecimento, descreve um
estado ou uma situação.

Ex.: O director da escola convocou os alunos para uma reunião.

2.1.2.2. FRASES DO TIPO INTERROGATIVO

As frases do tipo interrogativo são aquelas em que o emissor formula uma pergunta para
efeitos de pedido de informação ou de obtenção de esclarecimento.

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De acordo com a articulação dos constituintes da frase (simples ou complexa), as frases


do tipo interrogativo podem ser directas ou indirectas e, de acordo com o tipo de resposta
que se espera, podem ser totais ou parciais.

Nas frases interrogativas directas, a interrogação é feita de modo directo e é assinalada


pelo ponto de interrogação (frase simples), ao passo que, nas interrogativas indirectas, a
interrogação é introduzida por verbos como perguntar e sinónimos, sem a presença do
ponto de interrogação (frase complexa).

Ex.:
• Queres almoçar comigo? (interrogativa directa)
• Perguntei-te se querias almoçar comigo. (interrogativa indirecta)

Diz-se que uma frase é interrogativa total, proposicional ou de sim/não quando a


interrogação envolve toda a frase, conduzindo a respostas afirmativas ou negativas.
Quando, porém, a interrogação incide apenas sobre os advérbios ou pronomes
interrogativos, diz-se que a frase é interrogativa parcial, de constituintes, de instanciação
ou interrogativa “Q”, pois abrange apenas uma parte da frase (os advérbios ou pronomes,
como se fez referência).

Ex.:
• Leste o livro de Camões? (interrogativa total)
• Quando leste o livro de Camões? (interrogativa parcial)

2.1.2.3. FRASES DO TIPO IMPERATIVO

As frases do tipo imperativo exprimem ordem ou desejo, podendo, igualmente, permitir


ao emissor efectuar pedidos, exortações, conselhos ou instruções. Com o recurso a uma
frase do tipo imperativo, o emissor pretende obter, num futuro imediato, a execução de
uma acção ou actividade, por parte do ouvinte ou de alguém a quem o ouvinte transmita
o acto directivo.

Não se deve, porém, reduzir a ideia que se tem das frases do tipo imperativo ao uso do
modo com a mesma designação. As frases do tipo imperativo vão além do âmbito do
imperativo, podendo servir-se, além deste, do conjuntivo, do indicativo, do gerúndio ou
até do infinitivo.

Ex.:
• Levanta-te depressa!
• Sentem-se à vontade.
• Rastejou!
• Entrando!
• Disparar!

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2.1.2.4. FRASE DO TIPO EXCLAMATIVO

São frases do tipo exclamativo aquelas através das quais podemos transmitir sentimentos
de satisfação, ameaça, surpresa, indignação ou admiração. Quando a exclamação recai
sobre toda a frase, diz-se que ela é total; quando, pelo contrário, a exclamação recai
apenas sobre o grupo nominal, diz-se que é parcial. A exclamativa total caracteriza-se por
ser frase não elíptica ao passo que a parcial pode ser elíptica ou não elíptica.

Ex.:
• O conto é excelente! (exclamação total)
• Linda menina! (exclamação parcial elíptica)
• Tanto disparate que ele diz! (exclamativa parcial não elíptica)

2.1.3. FORMAS DE FRASE

Quanto à forma, as frases podem ser afirmativas ou negativas, activas ou passivas e


enfáticas (marcadas) ou neutras (não marcadas).

Diz-se que a frase é afirmativa ou possui polaridade afirmativa quando não é marcada por
nenhuma realização lexical específica, sendo identificada por via da ausência de
elementos caracterizadores da frase negativa. Entendido desse ponto de vista, o conceito
de frase afirmativa vai além da simples ideia de se considerar afirmativas as frases que
decorrem de interrogativas totais, como as marcadas pela palavra sim, comummente tida
como marcador da forma afirmativa.

Ex.:
• A noite é boa conselheira.
• O tempo estava bom.

A frase assume a forma ou polaridade negativa quando indica a inexistência de uma


situação ou propriedade que seria originalmente apresentada. Requer a presença de
elementos negativos, os quais incidem geralmente sobre o predicado.
Ex.:
• O professor e os alunos não assistiram ao jogo.
• Ninguém vos autorizou entrar.

Por seu turno, a frase é activa quando apresenta uma perspectiva centrada a partir do
sujeito, o qual estabelece uma relação com outra entidade que, na frase passiva,
desempenha a função de agente da passiva. A construção de frases activas ou passivas
ocorre apenas com verbos transitivos directos, transitivos directos e indirectos e
transitivos-predicativos.

Deve-se ter em consideração que da frase na forma passiva consta sempre o verbo auxiliar
ser, seguido do particípio do verbo principal mais a preposição por (ou de) e o agente da
passiva, que, em certos casos, pode estar omisso.
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Quanto às funções sintácticas que elas podem acolher, os elementos facilitadores da


distinção de frases activas das passivas são, respectivamente, o complemento directo e o
complemento agente da passiva. Assim, estão na voz activa as frases que contêm
complemento directo e, na voz passiva, as que contêm materialmente expresso ou não o
agente da passiva.

Ex.:
• A chuva destruiu as casas. (voz activa)
• As casas foram destruídas pela chuva. (voz passiva)

Por fim, a frase pode ser enfática (marcada) ou neutra (não marcada). A frase é enfática
quando a entoação e as expressões lá, cá, já e é que contribuem para lhe dar um tom mais
enfático, e neutra, quando nem a entoação nem as referidas expressões põem em relevo o
que afirmamos.

Ex.:
• Não quero cá saber.
• Ouve lá, menino... Queres apanhar surra?

2.1.4. ORDEM SINTÁCTICA LÓGICA OU PADRÃO E ORDEM


SINTÁCTICA PSICOLÓGICA OU EXPRESSIVA

A ordem padrão das palavras na frase portuguesa é: sujeito, verbo e complemento (s),
através da qual os falantes do português conseguem saber que o significado de uma frase
não decorre só das palavras nela utilizadas, mas também da ordem por que as mesmas
são nela apresentadas.

Ex.:
• O Miguel ama a colega. (A colega pode corresponder-lhe ou não.)
• A colega ama o Miguel. (O Miguel pode corresponder-lhe ou não.)

O recurso à ordem padrão na frase da língua portuguesa garante uma fácil compreensão
da mesma e é uma opção a ter-se em conta quando se quer escrever sem equívocos,
fundamentalmente em textos informativos ou científicos.

Porém, o português é uma língua que não se limita na rigidez da frase padrão. Por
questões de estética, ultrapassa-a, transgride-a, quer alterando a ordem lógica, quer
omitindo alguns dos constituintes da frase padrão. Assim, se o elemento omisso for o
predicado, estaremos na presença de uma frase nominal que, pela sua concisão,
vivacidade e objectividade, é muito frequente nos títulos dos jornais, na publicidade, nas
legendas, na linguagem técnica e em provérbios.

Ex.:

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• Mãos frias, coração quente, amor para sempre.


• Patrão fora, dia santo na loja.

Na frase construída na ordem sintáctica psicológica ou expressiva, o falante encadeia os


elementos da frase pela ordem do interesse ou relevo que têm para si, e não pela ordem
padrão da língua. Ela é mais frequente no texto literário, mas também é habitual noutros
tipos de texto, nos provérbios e na conversação de todas as camadas sociais.

Ex.:
• A bom entendedor meia palavra basta.
• Depois da batalha, aparecem os valentes.

A adequação, a clareza, a vivacidade e a eficácia devem ser os critérios prioritários para


a opção entre a ordem padrão e a expressiva. A objectividade e a clareza são, de modo
mais óbvio, garantidas pela ordem lógica.

2.2. FUNÇÕES SINTÁCTICAS

De acordo com a sua importância, a tradição gramatical agrupava os elementos da


oração em três, nomeadamente:

a) Elementos ou termos essenciais da oração;


b) Elementos ou termos integrantes da oração e;
c) Elementos ou termos acessórios da oração.

Porém, esta classificação apresentava a inconveniência de não ser consensual para os


vários gramáticos, pois, à excepção dos elementos ou termos essenciais, a classificação
de alguns termos em integrantes ou acessórios variava de autor para outro, dificultando,
desse modo, a compreensão da referida matéria.

O Dicionário Terminológico em vigor apresenta alterações relativas à distribuição das


funções sintácticas em grupos, cujo quadro é o seguinte:

a) Funções sintácticas ao nível da frase;


b) Funções sintácticas internas ao grupo verbal;
c) Funções sintácticas internas ao grupo nominal e;
d) Funções sintácticas internas ao grupo adjectival.

2.2.1. FUNÇÕES SINTÁTICAS AO NÍVEL DA FRASE

As funções sintácticas ao nível da frase compreendem o sujeito, o predicado, o


modificador da frase e o vocativo.O sujeito é o ser sobre o qual se produz um enunciado
e controla a concordância verbal, sendo na oração representado por um grupo nominal,

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uma palavra ou expressão substantivada, um pronome, um quantificador numeral ou uma


oração subordinada substantiva.

Por sua vez, o predicado é tudo aquilo que se diz do sujeito. É a função sintáctica
desempenhada por um grupo verbal, isto é, por um verbo ou complexo verbal, mais os
seus complementos e/ou modificadores.

No entanto, nem sempre o sujeito e o predicado vêm materialmente expressos. Nesse


caso, diz-se que a oração é elíptica, porque nela falta um termo essencial e, conforme o
caso, dir-se-á que o sujeito ou o predicado está elíptico.

Grupo nominal e grupo verbal

Antes de efectuarmos outras abordagens relativas ao sujeito e ao predicado, lancemos um


olhar à noção de grupo nominal (GN) e grupo verbal (GV), para uma fácil identificação
das duas principais funções sintácticas: o sujeito e o predicado.

Na oração estes senhores fizeram hoje um grande trabalho, distinguimos duas unidades
maiores:

a) O sujeito: estes senhores;


b) O predicado: fizeram hoje um grande trabalho.

Compreende-se que o sujeito é formado por duas palavras: estes senhores. O


demonstrativo estes é um determinante (D) do nome (N) senhores, palavra que constitui
o núcleo da unidade.

Toda unidade que tem por núcleo um nome designa-se grupo nominal (GN). A oração
que estamos a estudar apresenta, assim, dois grupos nominais:

GN1 = estes senhores; GN2 = um grande trabalho.

Uma oração pode conter vários grupos nominais, mas apenas um deles será o sujeito,
sendo a sua posição, na ordem directa e lógica do enunciado, à esquerda do verbo. Os
demais grupos nominais encaixam-se no predicado.

O núcleo de um grupo nominal admite a presença de determinantes (D) – que são os


artigos, os quantificadores, os possessivos e os demonstrativos – e de modificadores que,
no caso, são os adjectivos ou expressões adjectivais (GAdj) e advérbios ou expressões
adverbiais (GAdv).

Assim, os dois grupos nominais que vimos estudando até aqui podem ser esquematizados
da seguinte maneira:

14
Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

GN1 GN2

D N D GAdj N

Adj
Estes senhores um grande trabalho

O grupo verbal (GV) constitui o predicado. Nele há sempre um verbo que, quando
significativo, é o seu núcleo. O grupo verbal pode ser complementado por grupos
nominais (GN), grupos adverbiais (GAdv), grupos adjectivais (GAdj) e grupos
preposicionais (GPrep).

A oração que nos serve de exemplo obedece, por isso, ao seguinte esquema:

GN1 GV

GN2

V GAdv GAdj

D N Adv D Adj N

Estes senhores fizeram hoje um grande trabalho

2.2.1.1. O SUJEITO

O sujeito pode ser simples ou composto. É simples quando tem um só núcleo, isto é,
quando o verbo se refere a um só nome ou conjunto de nomes, a um só pronome, a um só
numeral ou a um único outro elemento que o represente na oração. É composto quando
tem mais de um núcleo, isto é, quando é formado pela coordenação de grupos nominais
ou similares.

Ex.:
• O João é um bom estudante. (sujeito simples)
• A menina e o seu irmão encontraram-se no cinema. (sujeito composto).

Quando o sujeito é um grupo nominal ou uma oração subordinada substantiva relativa


sem antecedente, pode ser substituído pela forma nominativa do pronome pessoal; quando
é uma oração subordinada substantiva completiva, pode ser substituído pelo pronome

15
Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

demonstrativo “isso”, em posição pré-verbal, mas nunca pelo pronome demonstrativo


átono "o".

Ex.:
• Os estudantes obtiveram resultados indesejados.
• Quem não trabalha não come.
• É óbvio que amanhã teremos aulas.

Já foi referido que nem sempre o sujeito vem materialmente expresso na oração, embora
a sua presença se faça sentir por via de outros recursos proporcionados pela língua. Assim,
diz-se nulo o sujeito sem realização lexical, isto é, que não vem materialmente expresso
na oração. O sujeito nulo pode ser subentendido, indeterminado ou expletivo3.

Diz-se que o sujeito é nulo subentendido quando não está materialmente expresso na
oração, ou seja, quando não está explícito, mas pode ser identificado pela desinência
verbal ou pela sua presença noutra oração.

Ex.:
• Ficámos muito tempo sem falar.
• A criança bocejou. Vai adormecer?

O sujeito é nulo indeterminado quando o verbo se refere a uma entidade não específica,
ou por se desconhecer a entidade à qual a acção se refere, ou por não haver interesse no
seu conhecimento. Neste caso, põe-se o verbo, ou na 3ª pessoa do plural, ou na 3ª do
singular, com o pronome se.

Ex.:
• Consideram-no o maior edifício da cidade.
• Ainda se vive uma incerteza quanto ao futuro da humanidade.

As orações sem sujeito são distintas das que possuem sujeito indeterminado. Sobre as
orações sem sujeito, interessa-nos o processo verbal em si, pois não o atribuímos a
nenhum ser. Diz-se, então, que o verbo é impessoal e o sujeito, nulo expletivo.

Os casos de sujeito nulo expletivo são expressos pelos verbos que denotam fenómenos
da natureza, pelo verbo haver na acepção de “existir”, pelos verbos haver, fazer e ir,
quando indicam tempo decorrido e pelo verbo ser na indicação do tempo em geral.

Ex.:
• Anoitecia e tinha acabado de jantar.
• Na sala havia muita gente.
• O João vivia ali havia muitos anos.
• Faz hoje oito dias que comecei a trabalhar.
• Vai para uns quinze anos escrevi uma crónica.

3
O sujeito nulo expletivo corresponde ao que, na tradição gramatical, se chamou sujeito inexistente.

16
Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

• Era na época chuvosa.

Da atitude do sujeito

Já que o sujeito é o ser sobre o qual se produz um enunciado, como foi referido, importa
considerarmos a atitude que mesmo pode assumir em contextos diferentes.

Assim, de acordo com CUNHA e CINTRA (2013, p. 170) quando o verbo exprime acção,
a atitude do sujeito em relação ao processo verbal pode ser de actividade, de passividade
ou de actividade e passividade ao mesmo tempo.

Ex.:
• A Maria magoou o menino.
• O menino foi magoado pela Maria.
• O menino magoou-se.

Quando, porém, o verbo evoca um estado ou qualidade, a atitude do sujeito é de


neutralidade. Neste caso, o sujeito não é o agente, nem o paciente, mas a sede do processo
verbal, o lugar onde ele se desenvolve.

Ex.:
• O Pedro é inteligente.
• O João permanece doente.
• O porteiro ficou pálido.

Incluem-se entre os verbos que evocam estado os incoativos como adoecer, emagrecer,
empalidecer, os quais são equivalentes a ficar doente, ficar magro e ficar pálido,
respectivamente.

É essa atitude (de neutralidade) do sujeito que, em nosso entender, nos afasta da
tradicional ideia que considera sujeito o ser que pratica a acção, o que, em muitos casos,
como nos exemplos acima apresentados, não acontece.

2.2.1.2. O PREDICADO

Predicado é a função sintáctica desempenhada pelo grupo verbal, correspondendo ao


conteúdo do enunciado que se produz a respeito do sujeito. Nele é obrigatória a presença
de uma forma verbal ou um complexo verbal que, quando significativo, é o seu núcleo.
Quando se identifica o sujeito de uma oração, identifica-se também o predicado.

Se o verbo trouxer um complemento e/ou modificadores, estes passarão, sintacticamente,


a fazer parte dele, isto é, o predicado passará a ser constituído por todo o conjunto verbo
+ complemento + modificadores.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

Para a identificação deste constituinte frásico, pode-se recorrer aos seguintes testes
sintácticos de construção da interrogativa, cujas respostas constituem, na totalidade, o
predicado:

a) O que faz + sujeito?


b) Sujeito + faz o que?
c) O que acontece a + sujeito?
d) O que se passa com + sujeito?

O predicado pode ser: verbal, nominal ou verbo-nominal.4


Predicado verbal
O predicado verbal tem como núcleo, isto é, como elemento principal do enunciado que
se produz em torno do sujeito, um verbo significativo.

Os verbos significativos são aqueles que trazem ideia nova ao sujeito e exprimem
processos, ou seja, indicam acção, acontecimento, fenómeno natural, desejo ou actividade
mental, como é o caso dos verbos acontecer, considerar, desejar, julgar, pensar, querer,
suceder, chover, correr, fazer, nascer, pretender, raciocinar, etc.

Ex.:
• O menino comeu a banana.
• As meninas estudam português.

Predicado nominal

O predicado nominal é formado por um verbo de ligação, também chamado verbo


copulativo, mais o seu complemento, que recebe o nome de predicativo do sujeito.

O verbo de ligação exprime estado permanente, contínuo ou transitório. Serve para


estabelecer a união entre duas palavras ou expressões de valores diferentes e não traz
ideia nova ao sujeito.

Todavia, devemos sempre considerar o valor que os verbos apresentam em determinada


oração, pois existem alguns que funcionam, ora como copulativos, ora como
significativos.

Comparemos as seguintes frases:

• Andei muito preocupado. Andei muito hoje.


• Continuamos silenciosos. Continuamos a marcha.
• O menino ficou calado O menino ficou em casa.

4
A actual terminologia do ensino do português não distingue os diferentes tipos de predicado. No
entanto, incluímos tal distinção nesses apontamentos por razões de ordem histórica, visando lembrar os
estudantes ou corrigir eventuais imprecisões que se registem nesse domínio.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

Nas primeiras, andar, continuar e ficar são verbos de ligação, porque preocupado,
silenciosos e calado se referem aos sujeitos nulos subentendidos eu e nós e o menino,
respectivamente, qualificando-os. Já nas segundas, os mesmos verbos são significativos,
porque muito hoje, a marcha e em casa são, respectivamente, modificadores do grupo
verbal, complemento directo e complemento oblíquo.

Predicado verbo-nominal

Em alguns casos, os verbos significativos também seleccionam predicativo do sujeito,


facto típico dos verbos de ligação.

Consideremos as seguintes frases:

• O Paulo riu despreocupado.


• A Marta voltou do hospital muito pálida.

Constatamos que os verbos rir e voltar são significativos. Na primeira oração,


despreocupado refere-se ao sujeito Paulo, qualificando-o. Por outro lado, muito pálida
qualifica Marta, sujeito da segunda oração.

De acordo com CUNHA e CINTRA, ao predicado misto, que possui dois núcleos
significativos, sendo um verbo e um predicativo, dá-se o nome de predicado verbo-
nominal. (2013, p. 180)

O predicado verbo-nominal apresenta as seguintes características:

a) Possui dois núcleos: um verbo e um nome;


b) Possui predicativo do sujeito;
c) Indica acção ou actividade do sujeito e uma qualidade ou estado.

No predicado verbo-nominal, o predicativo anexo ao sujeito pode vir antecedido de


preposição, ou do conectivo como.

Ex.:
• O acto foi acusado de ilegal.
• O Carlos voltou como doutor.

2.2.1.3. O MODIFICADOR DA FRASE

De modo geral, modificador é uma função sintáctica desempenhada por grupos de


palavras com características internas diferentes que podem incidir sobre ou modificar
grupos verbais, grupos nominais, grupos adverbiais e frases.

O modificador da frase é a função sintáctica desempenhada por constituintes que ocorrem


na frase, não sendo seleccionados por verbos, nomes, adjectivos, etc, pelo que a sua
ausência não provoca agramaticalidade. Estes constituintes são, regra geral, grupos
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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

adverbiais, grupos preposicionais ou orações subordinadas adverbiais condicionais ou


concessivas.

É o elemento acessório que modifica o sentido da frase, podendo exprimir:


a) A opinião do falante sobre a frase;
Ex.: Felizmente está a chover muito.
b) Um juízo de valor sobre a atitude de quem praticou a acção;
Ex.: Cuidadosamente, a menina desceu do leito para ajudar a irmã.
c) Um valor de probabilidade ou incerteza;
Ex.: Talvez amanhã chova.
d) A ideia de assunto ou domínio ou;
Ex.: Musicalmente, a nota é o sinal que representa o som e a sua duração;
e) Comentar a linguagem utilizada.
Ex.: É tudo quanto se podia dia dizer sobre o assunto, resumidamente.

Refira-se que o modificador da frase com a forma de grupo adverbial não pode ser
interrogado nem negado; com a forma de grupo preposicional incide sobre a totalidade
da frase e, com a forma de oração, sobre toda a oração subordinante.

Ex.:
• Para a minha grande alegria, eles venceram o jogo.
• Se chover, não iremos à praia.
• Embora estude muito, não obtenho boas notas.

2.2.1.4. O VOCATIVO

É a função sintáctica desempenhada pelo constituinte cuja finalidade é a de fazer


chamamento ou interpelação do interlocutor, não pertencendo nem ao sujeito nem ao
predicado, visto que é uma das quatro funções sintácticas ao nível da frase. Isola-se do
resto dela por vírgula ou vírgulas, podendo aparecer no princípio, no fim ou no meio da
oração e ocorre, geralmente, em frases imperativas, interrogativas e exclamativas.

Ex.:
• Ó mãe, posso sair?
• Quanto tempo sem te ver, amigo!
• Jogai, ó bravos rapazes, que a taça será vossa.

2.2.2. FUNÇÕES SINTÁCTICAS INTERNAS AO GRUPO VERBAL

2.2.2.1. COMPLEMENTO DIRECTO

É o complemento de um verbo transitivo directo, transitivo directo e indirecto ou


transitivo-predicativo, vindo normalmente ligado a ele sem preposição e indica o ser para

20
Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

o qual recai, directamente, a acção expressa pelo verbo. Por outras palavras, o
complemento directo é a função sintáctica interna ao grupo verbal, desempenhada pelo
constituinte seleccionado por um verbo transitivo directo, transitivo directo e indirecto ou
transitivo-predicativo.

O complemento directo pode ser representado por um grupo nominal, um pronome, uma
oração subordinada substantiva, um numeral ou uma palavra ou expressão substantivada.
Ex.:
• Os jornais nada publicaram.
• Não quero que fiques triste.
• Os estudantes compraram os livros.

Existem três vias que facilitam a identificação do complemento directo, nomeadamente:

a) Teste de substituição: o complemento directo na forma de grupo nominal pode


ser substituído pela forma acusativa do pronome pessoal (me, te, o, a, nos, vos,
os, as) e o complemento directo na forma oracional, pelo pronome demonstrativo
isso ou pelo átono o. Este teste permite, igualmente, identificar os limites do
constituinte, já que o pronome substitui todo o complemento directo, tornando
agramaticais frases como: o menino levantou-o do chá e na altura senti isso me
faltava, após a pronominalização dos complementos de frases como o menino
levantou o tabuleiro do chá e na altura senti que o chão me faltava.

Ex.:
• O menino levantou o tabuleiro do chá. / O menino levantou-o.
• Na altura senti que o chão me faltava. / Na altura senti isso.

b) Teste de pergunta-resposta, cuja resposta é o complemento directo: quem/o que


é que + sujeito + verbo?
• P.: O que é que o menino levantou?
• R.: O tabuleiro do chá.
• P.: O que é que (eu) senti?
• R.: Que o chão me faltava.

c) Teste da transformação passiva, em que o complemento directo exerce a função


de sujeito na frase passiva correspondente. Note-se que tal não se verifica com
certos verbos como o ter.

Ex.: O tabuleiro do chá foi levantado pelo menino.

Embora o complemento directo se ligue ao verbo sem preposição, há situações em que


esta regra admite excepções, como acontece com verbos que exprimem sentimentos, com
o pronome oblíquo tónico ou quando se quer evitar ambiguidade, casos em que não deve

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

ser confundido com o complemento indirecto. Nestes casos, diz-se que o complemento
directo é preposicionado.

Ex.:
• Não amo a ninguém.
• Saudei a todos.
• Ao pobre ninguém prometa.
• O jovem recebeu um grande presente, e esqueceu o filho, a mulher e a si.

Por outro lado, quando se quer chamar atenção para o complemento directo que precede
o verbo, costuma-se repeti-lo. É o que se chama complemento directo pleonástico.

Ex.:
• Árvore, filho e livro, queria-os perfeito.
• A mim ninguém me engana.

2.2.2.2. COMPLEMENTO INDIRECTO

É o complemento de um verbo transitivo indirecto ou transitivo directo e indirecto,


ligando-se a ele por meio de uma preposição5(tipicamente a preposição a, contraída ou
não com os artigos) e indica o ser para o qual recai, indirectamente, a acção expressa pelo
verbo.

O complemento indirecto pode ser representado pelos mesmos elementos que os do


complemento directo, com as necessárias adaptações, quanto aos pronomes pessoais
oblíquos, uma vez que alguns destes, pela sua natureza, só podem desempenhar uma das
duas funções e não ambas.

Ex.:
• Os alunos entregaram os livros à professora.
• Obedeci sempre aos meus pais.

O grupo preposicional que desempenha a função de complemento indirecto admite


sempre a sua substituição pelo pronome pessoal na sua forma dativa (me, te, lhe, nos, vos,
lhes).

Adicionalmente, podemos identificar o complemento indirecto através do teste de


pergunta-resposta, cuja resposta representa o complemento indirecto: a quem/a que é que
+ sujeito + verbo (+complemento directo)?

5
Sublinhe-se que isso só acontece com os grupos preposicionais e os pronomes tónicos, já que com os
átonos me, te, lhe, nos, vos e lhes não há preposição que os anteceda. Além disso, nem sempre a referida
preposição introduz o complemento indirecto, pois também o faz em relação ao complemento oblíquo.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

Quando se verifica que o grupo preposicional seleccionado pelo verbo principal não é
substituível pelo pronome pessoal na sua forma dativa, considera-se que estamos perante
um complemento oblíquo e não indirecto.

2.2.2.3. COMPLEMENTO OBLÍQUO

É o complemento de um verbo transitivo indirecto ou transitivo directo e indirecto, sendo


representado por um grupo preposicional, por um grupo adverbial ou pela coordenação
dos dois, geralmente introduzido por qualquer preposição e é seleccionado pelo verbo,
constituindo com ele uma unidade.

Ex.:
• Fui a Luanda.
• Caminhei até ao hospital.
• Ele fica aqui ou em casa?
• O pescador pôs a rede no barco.

Como o complemento oblíquo é seleccionado pelo verbo, a sua supressão origina


frequentemente frases agramaticais, característica que o distingue do modificador do
grupo verbal. Além disso, não pode ser substituído pelo pronome lhe, característica que
o distingue do complemento indirecto.

Reitera-se que, quando se verifica que um grupo preposicional, adverbial ou a


coordenação dos dois não é substituível pelo pronome pessoal na sua forma dativa,
estamos perante um complemento oblíquo.

Consideremos os seguintes exemplos:

• Insisti no assunto.
• Não suspeito do João.
• Todos concordaram com a decisão.
• Discordo do teu ponto de vista.

Nota-se que no assunto, do João, com a decisão e do teu ponto de vista desempenham
a função de complemento oblíquo e a sua supressão pode provocar frases incorrectas, de
sentido incompleto ou alteração de sentido, pois:

a) Insistir é sempre em alguma coisa;


b) Suspeitar é sempre de alguém ou alguma coisa;
c) Concordar é sempre com alguém ou algo;
d) Discordar é sempre de algo ou alguém.

Por outro lado, nenhum dos elementos que, nas frases acima apresentadas, desempenham
a função de complemento oblíquo, pode ser substituído pelo pronome lhe.

• Assim, não é correcto dizer-se:

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

• *Insisti-lhe;
• *Não lhe suspeito;
• *Todos lhe concordaram;
• *Discordo-lhe.

O complemento oblíquo surge obrigatoriamente em respostas não redundantes6, como:

a) O que fez + sujeito?

Ex.:
• A Maria colocou o livro ali.
• O que fez a Maria?
• A Maria colocou o livro ali. (E não a Maria fez…)

b) O que se passa com + sujeito?

Ex.:
• O João levou longe as suas ambições.
• O que se passa com o João?
• O João levou longe as suas ambições. (E não o João passa-se…)

c) O que aconteceu com + sujeito?

Ex.:
• O pescador sentiu-se mal.
• O que aconteceu com o pescador?
• O pescador sentiu-se mal. (E não o pescador aconteceu…)

Um dado muito importante a reter é que alguns constituintes que, na tradição gramatical,
desempenhavam a função de complemento indirecto e outros que desempenhavam as de
complementos circunstanciais deram lugar ao complemento oblíquo.

2.2.2.4. COMPLEMENTO AGENTE DA PASSIVA

É o complemento que, na voz passiva, designa o ser que pratica a acção sofrida ou
recebida pelo sujeito. É geralmente introduzido pela preposição por ou, mas com menos
frequência, pela preposição de e representado por um grupo preposicional, pronome,
numeral ou oração substantiva.

Ex.:
• As casas foram destruídas pela chuva.
• O menino foi aplaudido por todos os que estiveram em casa.
• A operação foi coroada de êxito.

6
As respostas redundantes tendem a repetir parte da pergunta. Por exemplo: - O que fez o menino? – O
menino fez…

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

2.2.2.5. PREDICATIVO DO SUJEITO

Predicativo do sujeito é o termo ou expressão que complementa algo acerca do sujeito,


conferindo-lhe, não só uma qualidade, propriedade ou característica, mas também uma
localização espacial ou temporal. Deste modo, um grupo preposicional ou adverbial que
contribua para situar o sujeito no espaço ou no tempo desempenha também esta função
sintáctica.

Assim, o predicativo pode ser representado por um grupo adjectival, nominal,


preposicional ou adverbial. É seleccionado por um verbo copulativo e pertence ao
predicado nominal.

Ex.:
• Hilário era o herdeiro da quinta.
• Os rapazes parecem contentes.
• A menina está sem coragem.
• Os manuais estão ali.

2.2.2.6. PREDICATIVO DO COMPLEMENTO DIRECTO7

O predicativo do complemento directo é a função sintáctica desempenhada por um grupo


nominal, adjectival ou preposicional seleccionado por um verbo transitivo predicativo,
atribuindo uma propriedade ao complemento directo.

Ex.:
• Uns a nomeiam primavera.
• Todos consideram António Jacinto um grande escritor.
• Achei os legumes caros.
• A escola classificou os alunos com distinção.

2.2.2.7. MODIFICADORES DO GRUPO VERBAL


Tal como acontece com o modificador da frase, os do grupo verbal são a função sintáctica
desempenhada por constituintes que ocorrem na frase sem que sejam seleccionados por
verbos, nomes, adjectivos ou preposições, mas distinguem-se pelo facto de os primeiros
pertencerem às funções sintácticas ao nível da frase e os segundos, ao predicado.

Ex.:
• Os navegadores partiram para o mar com receio.
• As crianças brincaram em locais perigosos.
• Encontramo-nos aqui todos os dias.

7
Não se fez referência ao predicativo do complemento indirecto, pois este só aparece com o verbo
chamar, além de as referidas funções não constarem da actual terminologia para o ensino do português.
Ex.: Chamo-lhe mestre.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

• A menina chorou quando viu o pai magoado

2.2.3. FUNÇÕES SINTÁCTICAS INTERNAS AO GRUPO NOMINAL

No grupo nominal, podemos encontrar as seguintes funções sintácticas: complemento do


nome, modificador restritivo e modificador apositivo.

2.2.3.1. COMPLEMENTO DO NOME

É uma função sintáctica seleccionada por um nome, que pode ser desempenhada por um
grupo preposicional, um grupo adjectival ou um grupo preposicional oracional, que se
posicionam à direita do nome, formando com ele uma unidade com sentido próprio.

Ex.:
• A cedência do campo permitiu-lhes jogar.
• A reacção contra o árbitro foi justa.
• Os conhecimentos informáticos são indispensáveis aos dias de hoje.
• A literatura clássica inspirou muitos intelectuais renascentistas.
• Temos o sonho de viajar por todo o mundo.
• A tendência para fazer reservas de hotéis pela internet tem vindo a aumentar.

2.2.3.2. MODIFICADOR RESTRITIVO

É a função sintáctica desempenhada por um adjectivo, um grupo preposicional ou por


uma oração subordinada relativa restritiva8 que surge normalmente à direita do nome,
restringindo a realidade que refere, mas não é seleccionado pelo nome.

Ex.:
• O carro azul é do meu amigo.
• A cidade de Ndalatando é a capital do Cuanza Norte.
• Os jogadores que terminaram os treinos dirigem-se aos balneários.

2.2.3.3. MODIFICADOR APOSITIVO

Este modificador surge à direita do nome, ma nem restringe a realidade que refere nem é
seleccionado pelo nome. Fornece uma informação adicional acerca da expressão que
modifica, ocorrendo como um parêntesis na frase. Pode ser representado por um grupo

8
Orações subordinadas relativas restritivas são as introduzidas por uma palavra relativa e restringem o
âmbito do nome antecedente. Contêm informação relevante em relação ao nome cujo conteúdo
restringem e não podem ser separadas ou isoladas por vírgulas.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

nominal, um grupo adjectival, um grupo preposicional ou uma oração subordinada


adjectiva relativa explicativa9 e é sempre isolado por vírgulas.

Ex.:
• Uanhenga Xitu, escritor angolano do século XX, deixou grandes obras.
• A luta de libertação nacional, de importância capital para os angolanos, durou
anos.
• Os jogadores, que se mostraram confiantes, entraram no campo.

2.2.4. FUNÇÕES SINTÁCTICAS INTERNAS AO GRUPO ADJECTIVAL

2.2.4.1. COMPLEMENTO DO ADJECTIVO

É o elemento sintáctico constituído por um grupo preposicional que pode ser oracional
ou não oracional e é seleccionado pelo adjectivo.

Ex.:
• O menino está insatisfeito por ter perdido o jogo.
• Esta máquina é fácil de manejar.

9
Orações subordinadas adjectivas relativas explicativas são as que, introduzidas pelo pronome relativo
que e isoladas da frase por vírgulas, dão um esclarecimento facultativo e adicional ao nome antecedente,
mas não o restringem.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

QUADRO SINÓPTICO DAS FUNÇÕES SINTÁCTICAS

Funções
sintácticas
Internas
Ao nível
ao grupo
da frase
verbal

Sujeito Predicado Compleme Complemento


nto directo indirecto

Complement
Complemento o agente da
Simples
oblíquo passiva

Modificador
Composto Predicativo

Nulo

(subentendido Do
, Do complemento
indeterminado
sujeito directo
e expletivo)

Modificador Vocativo

Internas
Internas
ao grupo
ao grupo
adjectival
nominal

Complemento
Complemento Modificador
do adjectivo
do nome

Restritivo Apositivo

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

2.3. COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO

Quando abordámos a questão relativa à frase, distinguimos a simples da complexa. É essa


última que nos interessa para efeitos de estudo da coordenação e da subordinação, por
serem dois processos que se verificam apenas na frase complexa.

Convém sublinhar que ambos os processos ocorrem, frequentemente, com recurso a


conjunções, que são palavras invariáveis que ligam duas orações ou dois termos
semelhantes da mesma oração, permitindo a coordenação (conjunções coordenativas) ou
a subordinação (conjunções subordinativas). Por seu turno, as locuções conjuncionais,
são sequências de duas ou mais palavras com valor de uma conjunção.

2.3.1. COORDENAÇÃO

Nas frases complexas formadas por coordenação, as orações aparecem ligadas por meio
de conjunções coordenativas ou por pausas. A coordenação une duas ou mais orações que
se apresentam ao mesmo nível, sem que uma esteja dependente da outra.

Assim, a coordenação pode ser sindética, quando uma conjunção ou locução conjuncional
coordenativa introduz uma das orações coordenadas e assindética quando, na ausência
destas, as orações são separadas, na escrita, por uma vírgula.

Ex.:
• O balão subiu rapidamente e já não o vemos. (coordenação sindética)
• O balão subiu rapidamente, afastou-se muito e já não o vemos. (coordenação
assindética, no primeiro caso, e sindética, no segundo)

Quanto à natureza da conjunção que as interliga, as orações podem ser coordenadas


copulativas, coordenadas adversativas, coordenadas disjuntivas, coordenadas
explicativas ou coordenadas conclusivas.

Diz-se que uma oração é coordenada copulativa quando se relaciona com outra por meio
de uma conjunção copulativa, a qual apresenta ideia de adição.

Ex.:
• O menino estuda e a menina arruma a casa.
• O meu amigo lê e escreve muito bem.

Dá-se o nome de conjunções ou locuções conjuncionais coordenativas copulativas


àquelas que ligam orações coordenadas copulativas, nomeadamente: e, nem, nem…nem,
não só... mas também..., não só... como também.

As orações adversativas são coordenadas por meio de conjunção adversativa, que


apresenta uma ideia de contraste ou oposição em relação ao facto expresso na primeira
oração.

Ex.: O menino estuda muito, mas obtém sempre notas baixas.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

De acordo com Dicionário Terminológico, a única conjunção coordenativa adversativa é


mas. Palavras como porém, todavia, contudo e no entanto, embora tenham valor
contrastivo, são advérbios e locuções adverbiais conectivos, porque podem ter outra
posição na frase ou co-ocorrer com conjunções, em vez de surgirem em posição inicial
de um elemento coordenado.

Ex.:
• Ele pensa que tem sempre razão, contudo, está enganado.

As orações disjuntivas são coordenadas através de uma conjunção disjuntiva, que


estabelece um sentido de alternativa ou escolha.

Ex.:
• Irás ao concerto ou ficarás em casa?
• Ou comes ou falas.

As conjunções coordenativas disjuntivas são: ou, ou... ou, quer... quer, ora... ora,
seja...seja.

As orações explicativas são coordenadas através de conjunções explicativas, por meio das
quais a oração por elas introduzidas dá uma explicação para o facto apresentado na
primeira.

Ex.:
• Vamos à escola, que são treze horas.
• Hoje não sairei, pois está a chover muito.

As conjunções coordenativas explicativas são: pois, que e porque.

A distinção entre a conjunção coordenativa explicativa e a conjunção subordinativa


causal nem sempre é fácil. No entanto, deve-se notar que as conjunções pois e que
apresentam comportamento típico das conjunções coordenativas, visto que não podem
iniciar uma frase, segundo CUNHA e CINTRA. (2013, p. 720).

Ex.:
• * Que estou morrendo de fome, vamos comer.
• Vamos comer, que estou morrendo de fome.
Porque e porquanto possuem, pelo contrário, características de conjunções
subordinativas, embora alguns autores distingam, para a primeira, dois valores: causal e
explicativo. (op. cit.)

Ex.:
• Não podiam sair sozinhas à rua porque eram mulheres.
• Choveu porque está molhado.

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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

As orações conclusivas são coordenadas através da conjunção conclusiva logo, a qual


atribui à oração por ela precedida o valor de conclusão ou consequência.
Ex.:
• O professor está doente, logo não haverá aula.

As expressões pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim e por consequência,
apresentam propriedades que as distinguem das conjunções, justificando-se, por isso, a
sua inclusão na classe dos advérbios e locuções adverbiais conectivos, de acordo com a
terminologia actual.

2.3.2. SUBORDINAÇÃO

A subordinação é um processo que permite a existência, na mesma frase, de duas ou mais


orações subordinadas. A oração subordinante pode constituir uma unidade de sentido ou
pode necessitar de ver o seu valor complementado pela oração subordinada.

Ex.:
• Quando ele chegou, fui-me embora porque já era tarde.
• Está calor, embora já seja cacimbo.
• Decidi dar um passeio agora.

Numa frase complexa formada por subordinação, a oração subordinada exerce uma
função sintáctica em relação à subordinante. No entanto, a oração subordinada pode não
estar dependente de toda a oração subordinante, mas apenas de um grupo ou palavras
desta oração. A esse grupo ou palavras chamamos elemento subordinante.

Assim, a oração subordinada pode desempenhar a função sintáctica de sujeito, predicativo


do sujeito, complemento do verbo, complemento do nome, complemento do adjectivo,
modificador do grupo verbal, modificador do nome e modificador da frase.

Ex.:
• É verdade que cheguei atrasado.
• Ele não é quem tu julgas.
• Ele disse que tinha chegado atrasado.
• A ideia de chegar demasiado tarde preocupa-me
• Ele está preocupado por chegar atrasado.
• A aula já tinha começado quando ele chegou.
• A matéria que o professor explicou era interessante.
• O professor não o repreendeu embora ele tenha chegado tarde.

Conforme a função sintáctica que desempenham, podemos distinguir três tipos de orações
subordinadas: as adverbiais (finitas ou não finitas), as substantivas (finitas ou não
finitas) e as adjectivas (finitas ou não finitas).

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2.3.2.1. ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS

A oração subordinada adverbial estabelece uma relação estrutural de encaixe com a


subordinante, ocupando uma posição típica de advérbio e pode aparecer à esquerda, à
direita ou no interior da oração subordinante, para desempenhar a função de modificador
do grupo verbal ou da frase.

As orações subordinadas adverbiais podem ser: causais, finais, temporais, concessivas,


condicionais, comparativas ou consecutivas. Além disso, essas orações podem ser
finitas ou não finitas.

São causais as orações que estabelecem com a subordinante uma relação de causa, razão
ou motivo. Podem ser finitas, quando recorrem ao modo indicativo, e não finitas, quando
nelas são usados o infinitivo, o gerúndio ou o particípio.

Ex.:
• O menino não passou de classe, porque estudou pouco.
• Tendo estudado pouco, o menino não passou de classe.

Como o sentido das orações subordinadas adverbiais causais está próximo ao das
coordenadas explicativas, existem dois critérios sintácticos que facilitam a sua distinção.
Assim, só as subordinadas causais podem ser antepostas.

Ex.:
• Porque se enganou, o Pedro recuou na sua decisão.
• * Pois se enganou, o Pedro recuou na sua decisão.

Além disso, na oração subordinada, o pronome átono antecede o verbo, facto que não
acontece com a explicativa.

Ex.:
• O Pedro recuou na decisão porque se enganou.
• O Pedro recuou na decisão, pois enganou-se.

As orações subordinadas adverbiais finais exprimem um fim ou propósito em relação ao


que é afirmado na oração subordinante e podem ser finitas ou não finitas, conforme
recorram, respectivamente, ao modo conjuntivo ou ao infinitivo.

Ex.:
• Cheguei mais cedo para que tivesse tempo de estudar.
• Cheguei mais cedo para assistir ao jogo.

As orações subordinadas adverbiais temporais localizam uma acção ou um facto num


intervalo de tempo, relacionado com a acção ou facto expresso na oração subordinante,

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podendo ser finitas, quando recorrem ao modo indicativo ou conjuntivo, ou não finitas,
quando recorrem ao infinitivo, gerúndio ou particípio.

Ex.:
• Quando tu chegaste, eu estava a ver televisão.
• Antes que que saias, verifique se as portas estão fechadas.
• Depois de chegares, fizemos o jantar.

As concessivas exprimem ideia de concessão, um contraste ou oposição à realização da


acção ou à verdade expressa na oração subordinante, sem, no entanto, a impedir. São
finitas, quando recorrem ao modo conjuntivo, e não finitas, quando nela aparece o
infinitivo, o gerúndio ou o particípio.

Ex.:
• Viajo muito, embora seja pobre.
• Apesar da estar doente, irei à escola.

As orações condicionais expressam uma condição tida como hipotética para a


concretização da ideia expressa na oração subordinante. Podem recorrer ao uso do
indicativo (carácter real da condição) ou do conjuntivo (carácter hipotético ou irreal da
condição). Nestes casos, diz-se que as orações são finitas. Se, pelo contrário recorrerem
às formas não finitas do verbo, diz-se que elas são não finitas.

Ex.:
• Se está a chover, não vamos à praia.
• Se não participasses no jogo, ficarias só.
• Aplicando as estratégias definidas, vencemos o jogo.

As comparativas estabelecem uma comparação ou gradação em relação a um termo da


oração subordinante, construídas, geralmente, com base na elipse da forma verbal, a qual
surge apenas na subordinante.

Ex.:
• O menino é mais aplicado do que a sua irmã.

Por fim, as consecutivas surgem depois da subordinante e exprimem a consequência do


que foi declarado na subordinante. São anunciadas na oração subordinante através de um
elemento intensificador tão ou tanto e introduzidas pela conjunção que ou locuções
conjuncionais consecutivas, de modo que, de forma que, de maneira que, de sorte que,
a ponto de, etc. Quando finitas, recorrem ao uso do indicativo e, quando não finitas,
recorrem ao uso do infinitivo.

Ex.:
• A polícia foi tão rápida que surpreendeu os ladrões na loja.
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Apontamentos de Língua Portuguesa II – ESPCN (2023/2024)

• A polícia foi tão rápida, a ponto de surpreender os ladrões na loja.


18/11/2022 – B
2.3.2.2. ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS

São as orações que completam um dos núcleos da oração subordinante, desempenhando


funções sintácticas típicas dos grupos nominais. Assim, as orações subordinadas
substantivas podem desempenhar a função sintáctica de sujeito, complemento do verbo,
complemento do nome ou do adjectivo. Dividem-se em completivas e relativas sem
antecedentes.

As orações subordinadas substantivas completivas podem ser finitas, quando têm o verbo
no indicativo (como pode ser no conjuntivo ou no condicional), ou não finitas, quando
têm o verbo no infinitivo.

As primeiras são introduzidas pelas conjunções completivas que, se e para podendo


desempenhar a função sintáctica de sujeito, complemento directo, complemento oblíquo,
complemento do nome ou complemento do adjectivo.

Ex.:
• É certo que amanhã inicio as minhas aulas.
• Perguntei-te se conhecias esta pintura.
• A atitude dele levou a que os companheiros se revoltassem.
• Estou consciente de que o horário não será alterado.
• Levantou-se a hipótese de que o réu fosse inocente.

As orações subordinadas substantivas não finitas são sempre infinitivas, pois têm o verbo
no infinitivo e podem desempenhar as mesmas funções que as desempenhadas pelas
finitas.

Ex.:
• Causou alegria a equipa ter alcançado uma boa classificação.
• O professor disse para os alunos fazerem um resumo.
• O professor esforça-se por motivar os alunos.
• Esta máquina é fácil de manejar.
• A hipótese de ganhar o campeonato foi considerada.

As orações subordinadas substantivas relativas sem antecedentes finitas são introduzidas


por advérbios relativos, pelo pronome relativo quem e pelo quantificador relativo
quanto, sem nomes antecedentes aos quais se refiram.

As não finitas são introduzidas por advérbios relativos e pelos pronomes relativos que e
quem e têm o verbo no infinitivo.

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Podem desempenhar a função sintáctica de sujeito, complemento directo, predicativo do


sujeito, complemento indirecto, complemento agente da passiva, complemento oblíquo
ou modificador do grupo verbal.
Ex.:
• Quem desdenha quer comprar.
• Respeito quem trabalha.
• Este não é quem tu julgas.
• Nem sempre se dá valor a quem merece.
• O jogo foi ganho por quem teve mais respostas certas.
• Reflecti acerca de quanto me disseste.
• Ele vive como lhe apetece.
• Ele procura a quem deixar o cão.
• Já tenho com que escrever.

2.3.2.3. ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJECTIVAS

As orações subordinadas adjectivas desempenham a função típica dos adjectivos. Podem


ser finitas ou não finitas gerundivas e relativas restritivas ou relativas explicativas.

São relativas restritivas finitas as que, introduzidas por palavras relativas, não são isoladas
por vírgulas e, uma vez retiradas da frase, alteram o sentido da subordinante, pois
restringem o significado do antecedente, exercendo a função de modificador restritivo do
nome.

Por seu turno, as relativas explicativas desempenham a função de modificador apositivo


do nome ou modificador da frase e, sendo isoladas por vírgulas, a sua retirada não altera
o sentido da subordinante. Acrescentam apenas uma informação ao antecedente.

Ex.:
• Os jogadores que terminaram os treinos dirigem-se para os balneários.
• Os computadores contendo defeitos serão reciclados.
• Os jogadores, que se mostraram confiantes, entram no campo.
• A criança venceu o jogo, o que deixou os pais orgulhosos.

A seguir, apresentam-se algumas conjunções e locuções subordinativas:

Adverbiais
- Causais: porque, que, como, visto que, já que, pois que, por, visto, dado, ...
- Temporais: quando, mal, apenas, enquanto, logo que, assim que, até que, primeiro que,
sempre que, todas as vezes que, desde que, antes que, depois que, antes de, depois de, ...
- Finais: que, afim de que, para que, para, a fim de, ....
- Condicionais: se, a não ser que, a menos que, salvo se, contanto que, desde que, caso,
excepto se, no caso de, ...

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- Comparativas: como, conforme, assim como ...assim, também, bem como, mais (menos)
... do que, tão (tanto)... como, ...
- Concessivas: embora, conquanto, se bem que, ainda que, mesmo que, mesmo se, posto
que, nem que, por mais que, malgrado, não obstante, apesar de, ...
- Consecutivas: que (de tal modo) ...que, (tão)... que, (tanto) ...que, (de tal maneira) ...
que.

Substantivas completivas: que, se e para.

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