Ano letivo 2022/2023

Português, 12.º Ano

Ricardo Reis

Ricardo Reis não consegue atingir a calma e o contentamento existencial que caracterizam Caeiro.
À lição do Mestre, aprendida, mas impossível de ser cumprida, Reis acrescenta a filosofia antiga, ela
recolhendo os princípios epicuristas e estoicos que norteiam o pensamento e a sua vida.
O Epicurismo defende que a felicidade humana tem por base o prazer comedido e uma existência
simples, dedicada à reflexão e afastada das lutas sociais e políticas. Tal existência permite a
conquista da verdadeira independência de espírito, conducente à desejada ataraxia - estado de

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indiferença, ausência de dor e de preocupação -, e da verdadeira sabedoria - o homem sábio é
tranquilo e sereno. Cada dia é único e deve ser vivido na sua singularidade porque pode ser o último
- carpe diem (aproveita o dia), máxima do poeta latino Horácio.
O Estoicismo defende que a felicidade humana não consiste no prazer, mas, sim, na
autossuficiência fundada na independência face às circunstâncias exteriores ao indivíduo; o homem
sábio é aquele que vive racionalmente e de acordo com a natureza. A doutrina estoica advoga uma
atitude de resignação e de aceitação relativamente à condição e ao destino humanos.
Reis é um epicurista triste: faz a apologia do gozo comedido, do carpe diem e da suprema
indiferença (princípios epicuristas); apela à fortaleza de ânimo para enfrentar o fatalismo da morte e a
dor de viver (princípios estoicos). Tais princípios visam atingir o estado possível de felicidade que é
permitida aos humanos: viver “sem desassossegos grandes”, aceitando as leis do Destino e aguardar
a morte serena e dignamente. A efemeridade da vida e a inevitabilidade da morte são temáticas
obsessivas e geradoras de uma profunda angústia que Reis tenta ultrapassar através do domínio da
emoção pela razão.
Trata-se de uma lição de não-vida: não amar para não sofrer, não desejar para não se ser
desiludido, não questionar para não encontrar o vazio.