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IV SIMPÓSIO NACIONAL DO RÁDI0

100 anos de rádio: democracia e cidadania nas ondas sonoras


5, 6 e 7 de maio de 2021, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Cuiabá

A FICÇÃO RADIOFÔNICA COMO REFERENCIAL À PERFORMANCE


NARRATIVA EM AUDIOLIVROS1:

Paulo Sérgio Moraes 2


Universidade Anhembi Morumbi (UAM)

RESUMO EXPANDIDO

Observa-se uma vertente crescente nas produções sonoras de Audiolivros, que


permite um olhar circunstancial para obras de ficção narradas, visando a análise da sua
forma. E, a partir das ficções radiofônicas, buscar oportunidades para a performance
narrativa nos Audiolivros. Afinal de contas, qual seria o papel do narrador nessas peças
de ficção sonora?

Uma vez que os Audiolivros se apresentam como alternativa para o mercado


literário, seja visando alcançar pessoas que encontram na falta de tempo um obstáculo
para a prática de leitura, ou se apresentando como viabilidade de inclusão para pessoas
com deficiência visual parcial ou total, é também possível identificar a relevância dos
Audiolivros nos hábitos da sociedade moderna pelos novos meios de consumo.

Em março, Hugo Cilo (2020) publicou uma matéria para a revista IstoÉ Negócios
para falar das estratégias de sucesso da Ubook – plataforma brasileira de streaming
especializada em Audiolivros, demonstrando o crescimento da plataforma nos últimos

1 Trabalho apresentado no GT 02 durante o IV Simpósio Nacional do Rádio, realizados de 05 a 07 de maio de 2020,


na Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT..
2 Mestrando em Comunicação no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi

(PPGCOM-UAM), licenciatura em Letras/UAM, bacharel em Cinema e TV/UNIVERSO. Autor dos audiolivros


ficcionais Condicional e Olhos Distantes. E-mail: paulosfmoraes@gmail.com
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anos, e comparando, em menor escala, ao fenômeno Netflix. Em entrevista otimista com


o CEO Flávio Osso, evidencia um propósito ambicioso de transformar a plataforma em
uma das maiores distribuidoras de conteúdo por streaming do mundo. Ao que Osso utiliza
a expressão desse processo como audiotainment.

É possível identificar um otimismo na matéria e observar também a quantidade


significativa de produções em Audiolivros já produzidas tanto pela plataforma Ubook
quanto em outras que distribuem esse formato como Autibooks, Scribd, Play Livros,
Storytel, Audible e até mesmo plataformas como Spotify – mais conhecida pelo
streaming musical e que agora também disponibiliza conteúdos como podcasts e
produções de ficção sonora.

Por isso, para além de reafirmar a importância dos Audiolivros, é preciso também
analisar sua forma compreendendo seu lugar como objeto passível de estudo teórico-
analítico, abrindo caminho para análises de sentido, estética, impactos sociais e outras
circunstâncias oriundas da percepção de um pesquisador. Isso ocorre pelo fato de que ao
mesmo tempo que se pode afirmar que os Audiolivros de ficção estão inseridos em
universo de produção sonora coexistindo com produções radiofônicas, adaptações
ficcionais da indústria fonográfica distribuídas no passado através de vinis, fitas cassetes
e CDs, e as práticas contemporâneas de distribuição sonora de dramaturgia em
plataformas de streaming, também é necessária a compreensão de que todas essas peças
sonoras possuem suas singularidades enquanto forma.

Torna-se, então, substancial traçar comparativos que revelem as particularidades


dos Audiolivros de ficção, no intuito de evitar possíveis equívocos de equivalências com
as demais peças sonoras. Para se descobrir meios de analisar objetos de ficção produzidos
em Audiolivros, será preciso definir, então, as características retóricas que configuram
seu formato. Neste intuito, o artigo questiona se existe uma linguagem própria do
Audiolivro ou se é possível existir. Busca identificar as condições materiais que, hoje,
viabilizam essas produções, entender como se estabelece a performance do narrador e
quais as potencialidades da oralidade na ficção narrada. A partir das hipóteses que se
apresentarem, propor meios de como analisar uma peça de ficção sonora em Audiolivro.

Para as reflexões, serão consideradas as abordagens sobre força da dimensão


psicológica do áudio drama, segundo Tim Crook (1999, p.8), e considerando ainda as
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teorias de Paul Zumthor (1993) com suas referências sobre a performance da oralidade,
compreendendo, portanto, o papel do narrador de ficcão neste processo.

Tais embasamentos serão, por fim, aplicados em exercício de análise comparativa


entre peças de ficção sonora, tendo como referencial a Radionovela O Direito de Nascer,
adaptação cubana de Félix Caignet, cujo início de sua transmissão no Brasil se deu em
janeiro de 1951 e se tornou um fenômeno radiofônico, segundo Lia Calabre (2002, p.253).
Desta maneira, em um olhar analítico para a performance de seus atores, será possível
realizar uma abordagem que compare a interpretação narrada em radionovela com a
narração do Audiolivro. Para o contraponto de objetos, com o devido exercício de
distanciamento crítico para análise metodológica, os livros de minha autoria Condicional
(2013) e Olhos Distantes (2020) foram produzidos pela produtora Livro Falante para
efeito de ilustração do processo de produção e observação da performance dos narradores.

Por fim, serão apresentadas as reflexões acerca de similaridades e diferenças entre


as peças de ficção sonora e as oportunidades para a produção de Audiolivros enquanto
forma e performance.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALABRE, Lia. No tempo do rádio: radiodifusão e cotidiano no Brasil 1923 - 1960.
Tese (Doutorado de História) - Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2002.
CROOK, Tim. Radio drama: theory and practice. London; New York: Routledge,
1999, p. 8. Google books. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=6AxqhT2f1lYC&pg=PA3&hl=pt-
BR&source=gbs_toc_r&cad=4#v=onepage&q&f=false>. Acessado em: 10 fev. 2021.

HUGO, Cilo. A praia da Ubook é o Audiolivro. Isto É Dinheiro. 20/03/2020.


Disponível em: <https://www.istoedinheiro.com.br/a-praia-da-ubook-e-o-Audiolivro>
Acessado em: 09 nov. 2020.

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Cia das Letras, 1993.
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AS ONDAS DO RÁDIO NAS PRAIAS DA LITERATURA1:

Aclyse de Mattos 2
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Resumo: A célebre transmissão de “A Guerra dos Mundos” feita em 1938 por Orson
Welles a partir da obra homônima de H. G. Wells mostra uma incrível potência da junção
entre o Rádio e a Literatura. No entanto, quase um século depois, a recíproca não tem se
mostrado verdadeira: poucos são os contos, romances e poemas que se apropriam do tema
da radiodifusão. Se em outras artes como a Música e o Cinema a ponte é bem construída,
na Literatura impressa nota-se uma carência de obras com o tema ou pelo menos com um
enquadramento em que a atividade radiofônica seja a protagonista. Nesse sentido, iremos
mapear a produção literária do século XX e enfocar algumas obras em que “as ondas do
rádio” foram parar nas praias das páginas da Literatura de ficção. Assim “Tia Júlia e o
Escrevinhador” de Mario Vargas Llosa (romance latino-americano) ou “Ligados com o
Mundo” de Gabriel Francisco de Matos (conto brasileiro) apontam como obras que tratam
dos dois polos comunicacionais: o romance de Vargas Llosa sobre o escritor de novelas
radiofônicas e o conto de Matos sobre a recepção de dois irmãos sobre o mundo mágico
que chegava pelo rádio ao interior brasileiro. Para se refletir se a oralidade e a
popularidade do rádio não implicaram uma abordagem subvalorizada na produção
literária impressa.

Palavras-Chave: Rádio, Literatura, Radionovela, Recepção, Narrativa oral.

Resumo Expandido

O lugar da radionovela

1 Trabalho apresentado no GT 06 Música, arte e vínculos na radiodifusão durante o IV Simpósio Nacional do Rádio,

realizado de 05 a 07 de maio de 2020, na Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT.


2 Doutor em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG; Mestre pela ECA-USP e

bacharel em administração pela PUC-RJ. E-mail: aclyse@gmail.com


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Quando se lê que as telenovelas sucederam os romances folhetins publicados nos


jornais dos séculos passados, um salto elide a compreensão de que houve um gênero
intermediário de enorme brilho no século XX: a radionovela. Nestes três casos tem-se o
suporte das mídias de massa para uma arte narrativa que transcende os circuitos fechados
(não massivos) da arte. O livro e o teatro são expandidos para as páginas dos jornais (com
o romance folhetim), as ondas do rádio (com as radionovelas) e da televisão (com as
telenovelas).
O romance folhetim não é mais o romance tradicional, assim como a telenovela
não é nem o teatro nem o cinema. Pensando as radionovelas, elas estão entre a leitura
dramatizada e um teatro sem imagens, algo muito parecido com a contação de histórias,
só que à distância.
Hoje, no tempo do digital, as radionovelas não existem mais, mas os sketches de
comédia ainda fazem imenso sucesso bem como os programas que conclamam as
“confissões” dos ouvintes que revelam seus percalços amorosos não deixam de ser
dramas revestidos com a aura de uma experiência “real”. A necessidade de narrativas
continua sendo parte fundamental da constituição de uma cultura.

Transmidiação ou transtextualização?

A célebre transmissão de “A Guerra dos Mundos” feita em 1938 por Orson


Welles a partir da obra homônima de H. G. Wells mostra uma incrível potência da junção
entre o Rádio e a Literatura. Muito mais que uma transtextualidade (uma simples
oralização do conteúdo do livro), Welles produziu uma transmidiação avant la letre
absorvendo e criando a partir dos potenciais artísticos de uma transmissão radiofônica.
No entanto, quase um século depois, a recíproca não tem se mostrado
verdadeira: poucos são os contos, romances e poemas que se apropriam do tema da
radiodifusão. Salientamos aqui que, se a performance oral que atualiza os textos escritos
sempre foi um caminho atrativo (desde as performances de declamação até os roteiros
adaptados), o caminho inverso raramente foi trilhado: retornar a magia da oralidade (e
por conseguinte sua expressão midiática pelo rádio) para as “frias” letras impressas não
é muito praticada pelos autores da literatura.
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Se em outras artes como a Música e o Cinema a ponte é bem construída, na


Literatura impressa nota-se uma carência de obras com o tema ou pelo menos com um
enquadramento em que a atividade radiofônica seja a protagonista.
Filmes como Good Morning Vietnam ou Radio Days fazem do rádio não só um
cenário, mas um lugar central em sua narrativa. Na música a partir do século XX essa
ligação é estreitíssima. Os videoclipes se tornaram uma forma audiovisual definida e
cultuada. Mas nas páginas dos livros pouco se encontra desse mundo imenso da
radiodifusão.

O rádio nas páginas da literatura

Na extensa produção literária do século XX poucas são as obras em que o rádio,


a radiodifusão e seus agentes receberam uma atenção central dos escritores. Martin-
Barbero (1997 – pp 234-238) salienta a importância do radioteatro na América Latina e a
influência de autores argentinos na consolidação do gênero. Barbero parte de uma citação
de Vargas-Llosa, autor consagrado com o Nobel e um dos raros a ambientar um romance
tendo por cenário o trabalho nas rádios. O próprio Vargas-Llosa atuou na rádio em Lima
e seu romance Tia Júlia e o Escrevinhador (1978) relata essa experiência com muito de
autobiográfico e outro tanto de ficção. O personagem Pedro Camacho (argentino) era um
espantoso autor de radionovelas criando muitas vezes 10 tramas radiofônicas
simultaneamente. O romance se estrutura com capítulos intercalados entre a vida real e
as novelas de Camacho. A evolução da narrativa acaba por embaralhar o mundo ficcional
das novelas de rádio com a vida dos personagens “reais”.

O conto “Ligados com o mundo” de Gabriel Francisco de Matos (2002) situa o


polo da recepção ao rádio. O conto apresenta dois irmãos num ermo central do Brasil
ouvindo o rádio falando línguas estrangeiras. Um dos irmãos “traduz” as falas para o
outro inventando tudo: notícias, conversas, reclamações. E mesmo sendo uma
invencionice os irmãos sentem-se ligados ao imenso mundo que adivinhavam pelo que
ouviam.
Um livro de poemas com a temática do rádio é Poesia pra tocar no rádio de Alice
Ruiz (1999), mas em verdade trata-se de uma compilação de letras para músicas escritas
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pela poeta e musicada por diversos autores. Confirma-se aqui o viés da oralidade
(sonoridade, musicalidade) em privilégio. São poemas letras de música, que convocam a
performance oral/musical e por isso sua vinculação com o rádio. Não seriam poemas para
serem lidos impressos?

REFERÊNCIAS

LLOSA, Mario Vargas. Tia Júlia e o escrevinhador. 3ª. Edição Nova Fronteira, Rio de
Janeiro, 1978
MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e
hegemonia. Editora UFRJ. Rio de Janeiro,1997.
MATOS, Gabriel Francisco. Ligados com o Mundo. In A Geringonça e outros contos.
Cuiabá, Via Lettera, 2002.
RUIZ, Alice. Poesia pra tocar no rádio. Blocos; Rio de Janeiro, 1999.
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O BRASIL E O MUNDO NO SPOTIFY1:


Análise das paradas musicais Top 50 Brasil e Top 50 Global

Carlos Jáuregui2
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Hellen Santos Perucci3


Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Este trabalho consiste numa análise contrastiva das playlists Top 50 Brasil e o Top
50 Global da plataforma de streaming Spotify, desenvolvido no escopo de um projeto de
pesquisa dedicado ao estudo de paradas musicais brasileiras. Partimos do pressuposto de
que os hits radiofônicos mostram informações relevantes sobre hábitos de consumo de
mídias sonoras, assim como os valores estéticos predominantes no universo da música
popular massiva.

Marco teórico e metodologia

O hit radiofônico é resultado de um jogo dialético na tensão entre criatividade vs.


comercialização e/ou transformação vs. continuidade, situado nas bases da indústria
musical (HESMONDHALGH, 2013). Se por um lado é entendido como a música do

1 Trabalho apresentado no GT 06 – Música, arte e vínculos na radiodifusão, durante o IV Simpósio Nacional


do Rádio, realizado de 05 a 07 de maio de 2020, na Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT.
2 Doutor em Comunicação Social e mestre em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Professor adjunto do curso de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto, na área de rádio e
linguagem sonora. E-mail: carlos.jauregui@ufop.edu.br .
3 Estudante do curso de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto e voluntária de iniciação

científica no projeto “Sentidos e afetos nos top hits brasileiros do século XXI”. E-mail:
hellen.perucci@aluno.ufop.edu.br .
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momento (a grande novidade), por outro, ele é repetido à exaustão como forma de
diminuir os riscos comerciais que as inovações carregam e de aumentar as chances de
lucro das empresas do setor.
A importância do fenômeno se consolidou ao longo do século XX, com o
surgimento das paradas musicais, divulgadas pelas próprias rádios e por publicações da
área cultural, de modo que, já nos anos 1950, a expressão Top 40 era usada por rádios
estadunidenses que se dedicavam a tocar sempre as “mais tocadas” (LAMB, 2019). No
contexto do rádio expandido do século XXI, é possível identificar que os charts
radiofônicos continuam relevantes e as próprias plataformas de música como o Spotify
divulgam diariamente as canções mais ouvidas por seus usuários, na forma de playlists
atualizadas diariamente. Neste trabalho, buscamos comparar a composição de dois desses
rankings, publicados no dia 21 de fevereiro de 2020 a partir de sete categorias: gênero
das canções, nacionalidade e identidade de gênero do(a) intérpretes, intérpretes com mais
aparições, idioma das letras e selos fonográficos.
Para a classificação de gênero usamos a proposta conceitual de Janotti Júnior
(2006) que entende o gênero musical a partir da articulação de regras econômicas,
semióticas, técnicas e formais.
Dessa forma, levamos em consideração não somente elementos estritamente
musicais (melodia, harmonia, ritmo, arranjo e instrumentação…) das faixas, mas também
aspectos relacionados ao mercado musical e às formas de interação do público que
consome a música com a plataforma Spotify.

Resultados

Observamos que a parada brasileira é basicamente composta por faixas nacionais


(94%), embora 46% dessas canções seja comercializada por selos estrangeiros. Na parada
global, o predomínio é estadunidense (60%), seguido pela produção britânica (10%). No
que diz respeito aos gêneros musicais, o sertanejo (50%) e o funk/brega-funk (30%) se
destacam no Brasil, enquanto no âmbito mundial se sobressaem a pop
music/R&B/eletrônico (44%) e o hip-hop/rap/trap (38%). É notável também a
prevalência de intérpretes masculinos nos dois rankings (68% no Brasil e 80% no mundo),
assim como a ausência da música brasileira no chart internacional.
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Assim como é perceptível a hegemonia da música brasileira, o idioma português


domina o ranking nacional em contraponto a total ausência da música em português entre
as 50 mais tocadas no mundo. Se, nosso chart é, em alguma medida, fechado à música
estrangeira, o global tampouco se mostra receptivo ao que se produz por aqui.
Podemos observar que em ambos os rankings há o predomínio dos intérpretes
masculinos, apesar do ranking nacional apresentar a cantora sertaneja Marília Mendonça
como cantora que mais aparece na lista. A concentração das canções que compõem o
ranking brasileiro em torno de um número mais reduzido de selos fonográficos também
se destaca.

REFERÊNCIAS

DE MARCHI, Leonardo. Em direção à consolidação dos mercados de conteúdos digitais?


Um estudo de caso da indústria fonográfica no Brasil. Contracampo, Niterói, v. 36 , n.
01 , pp. 119-137, abr. 2017/ jul. 2017.
HESMONDHALGH, David. The cultural industries. 3 ed. Londres: SAGE Publications,
2013.
JANOTTI JUNIOR, Jeder. Gêneros musicais em ambientações digitais. Belo Horizonte,
MG: PPGCOM/UFMG, 2020.
_____, Jeder. Música popular massiva e gêneros musicais: produção e consumo da
canção na mídia. Comunicação, mídia e consumo. São Paulo, vol. 3 n. 7, jul. 2006. p. 31-
47. Disponível em: <
http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/69/70>. Acesso em 09 set.
2019.
LAMB, Bill. What does Top 40 Mean? The origin of the term, its history, and its meaning
today. Thoughtco. Disponível em: < https://www.thoughtco.com/what-does-top-mean-
3246981 >. Acesso em 03 jun. 2019.
MOSCHETTA, Pedro Henrique; VIEIRA, Jorge. Música na era do streaming: curadoria
e descoberta musical no Spotify. Sociologias; Porto Alegre, ano 20, n. 49, set-dez 2018,
p. 258-292. Disponível em: < https://seer.ufrgs.br/sociologias/article/view/81086 > .
Acesso em 20 mar. 2020.
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A COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA E A INTERAÇÃO COM


ESTUDANTES DO EJA EM MIRASSOL D'OESTE 1:

Maria Elizangela Góes dos Santos2


Lucia Helena Vendrúsculo Possari3
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Resumo: Este trabalho é um resumo de uma dissertação (2018) sobre o estudo da


interação entre os estudantes do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Estadual
Benedito Cesário da Cruz e a programação das emissoras de rádio (hertzianas), na cidade
de Mirassol D’Oeste, Mato Grosso. Foi investigado de que modo os participantes da
pesquisa, por meio da comunicação radiofônica, produzem interação e interatividade em
sua localidade. A metodologia nesta pesquisa foi dividida em três etapas: qualitativa,
entrevistei comunicadores das três emissoras existentes na cidade; quantitativa, apliquei
um questionário a 88 estudantes do EJA e qualitativa de grupo focal de associação livre
(GASKELL, 2002), dividindo os participantes-estudantes do EJA em dois grupos:
‘jovem’, constituído por 8 estudantes entre 19 e 25 anos, e ‘adulto’, composto por 9
estudantes de faixa etária entre 30 e 45 anos, totalizando 17 participantes. O principal
objetivo foi identificar, por meio das narrativas dos participantes-estudantes, que/quais
conteúdos são mediados e se evidenciam nas práticas discursivas, ou seja, quais
conteúdos produzem sentido e estabelecem vínculos, a partir da interação e da
interatividade com a programação das emissoras de rádio da cidade de Mirassol D’Oeste.

Palavras-Chave: Comunicação. Rádio. Cultura. Estudantes do EJA.

Resumo Expandido

1
Trabalho apresentado no GT 06 – Música, arte e vínculos na radiodifusão durante o IV Simpósio Nacional do
Rádio, realizados de 05 a 07 de maio de 2020, na Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT.
2
Graduanda em Psicologia na Universidade de Cuiabá (UNIC), Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea,
bacharel em comunicação Rádio e TV/UFMT. E-mail: maria.radio@gmail.com .
3
Orientadora do Trabalho. Professora Doutora e pesquisadora do Departamento de Comunicação Social e do
Programa de Pós-Graduação Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO-
UFMT), luciahvp@hotmail.com .
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INTRODUÇÃO
Segundo Gisela Swetlana Ortriwano (1985), o meio de comunicação radiofônico
vem se reinventando e a cada novo desafio consegue incorporar e fazer uso das inovações
tecnológicas a seu favor. Em 2007, em o Rádio Sem Onda, o autor Marcelo
Kischinheyvsky trouxe à tona a discussão sobre, pontuando as mudanças tecnológicas e
anunciando o possível fim do rádio tradicional hertziano (2007, p. 12).

O rádio ainda é, embora a maioria esmagadora de seus profissionais não tenha


consciência disso, palco fundamental para negociação de identidades nas
sociedades contemporâneas, uma operação vital para a própria constituição da
diversidade social.

A referida temática me motivou a realizar esta pesquisa. Por ser uma profissional
que atua em diversos setores da programação radiofônica, interessei-me por investigar
como os indivíduos estavam interagindo com o rádio tradicional (hertziano), diante das
constantes mudanças culturais midiáticas.

A escolha por Mirassol D’Oeste como lócus da pesquisa se deve por eu ter
morado lá até os meus 19 anos, bem como pela fundação e formação histórica, que traz
características semelhantes à de muitas outras cidades de Mato Grosso, a de ter como
referência uma rádio local. Quanto aos participantes, definidos como ‘público ouvinte’,
são estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), ensinos fundamental e médio, da
Escola Estadual de 1º e 2º graus Benedito Cesário da Cruz. Foram escolhidos por serem
pessoas que não estudaram na idade regular e possuírem baixa renda. As hipóteses e
perguntas norteadoras buscam investigar se, diante do contexto hipermidiático, os
estudantes do EJA ouvem o rádio tradicional, e, se ouvem, por quê? Como promovem
interação e interatividade? Quais vínculos são constituídos?

METODOLOGIA
A metodologia foi dividida em três etapas: qualitativa, entrevistei comunicadores
das três rádios na cidade; quantitativa, apliquei um questionário a 88 estudantes do EJA
e qualitativa de grupo focal de associação livre (GASKELL, 2002), dividindo os
participantes-estudantes do EJA em dois grupos: ‘jovem’, constituído por 8 estudantes
entre 19 e 25 anos, e ‘adulto’, composto por 9 estudantes entre 30 e 45 anos, totalizando
17 participantes. O principal objetivo foi identificar, por meio das narrativas, quais
conteúdos são mediados e se evidenciam nas práticas discursivas, ou seja, quais
conteúdos produzem sentido e estabelecem vínculos, a partir da interação e da
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interatividade com a programação das emissoras de rádio de Mirassol D’Oeste.


O aporte teórico foi desenvolvido por meio de autores que retratam à evolução
tecnológica do meio rádio por décadas, que conceituam as teorias de recepção, de
mediação, de interação e de interatividade, tais como, Jesus Martín Barbero (2001),
Nestor García Canclini (2000), Guilherme Orosco Gómez (2011), Mauro Wilton de
Souza (2002) e Alex Primo (2013), com a proposta de refletir e entender teoricamente
o(s) modo(s) pelo(s) qual(quais) o ouvinte de rádio tem se relacionado com o meio
radiofônico na era das mídias digitais. Também Norval Baitello Júnior (2014) que,
juntamente com José Eugênio de Oliveira Menezes (2007), contextualiza a cultura do
ouvir e os vínculos sonoros na contemporaneidade. Historiadores que relatam a formação
histórica de Mirassol D'Oeste, a cultura do local e as emissoras de rádio que dialogam
com a população. Para análise e interpretação das narrativas, o diálogo é mediado por
André Barbosa Filho (2003), que traz os gêneros radiofônicos; Mary Jane Spink (2013),
que compreende a prática discursiva e a produção de sentidos; e Lúcia Helena
Vendrúsculo Possari (2009), que conceitua interação e interatividade.

RESULTADOS GRUPO JOVEM


Para analisar a pesquisa fiz o recorte nos gêneros: jornalístico, entretenimento e
musical, o grupo Jovem apresentou os três gêneros. O grupo demonstra que ouve o
veículo rádio para ter conhecimento das ‘notícias locais’, sobre ‘os acontecimentos na
cidade e região’. No entanto, fica evidente a preferência do grupo pelo gênero musical,
uma vez que a maioria, 6 dos 8 participantes-estudantes, declara consumir mais músicas
pelo rádio, inclusive não apresentando o hábito de ouvir em playlists. Ao interpretar as
narrativas apresentadas pelo grupo jovem, constato que a comunicação radiofônica
(hertziana) está presente no dia a dia dos estudantes pesquisados, pois eles trazem em
seus discursos ações, seleções, escolhas e produção de sentido, conforme os conceitos
referidos da autora Spink (2013, p. 22):

O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais


precisamente interativo, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das
relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas –
constroem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as situações
e fenômenos a sua volta.

RESULTADOS GRUPO ADULTO


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O grupo adulto também apresenta os três gêneros descritos para as análises


jornalismo, entretenimento e musical. No entanto, o grupo declara a preferência pelo
gênero jornalístico, pois, nas explicações sobre o meio rádio e sua programação, os
estudantes citam em todas elas informações e notícias. Este grupo demonstrou, por
maioria, ser consumidor da programação radiofônica local, das emissoras hertzianas.
Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa foi alcançado, na medida em que os
estudantes demonstram nos discursos que a produção de sentidos ocorre quando ouvem
as programações para se ‘manterem informados’ sobre o cotidiano, o local e a região em
que vivem. É possível afirmar que os estudantes dos dois grupos promovem “interação”,
ou seja, que solicitam músicas, participam de sorteios e promoções das programações
dessas emissoras. Identifica-se um universo favorável para as emissoras de rádio
hertzianas, que são fadadas à extinção toda vez que surgem novos meios e formas de
comunicação.
REFERÊNCIAS

BAUER, Martin W; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, Imagem e


Som. Petrópolis: Vozes, 2002.
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas. 3. ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2000.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: Teoria e Prática. São Paulo: Ed. Summus, 2014.
FERREIRA, João Carlos Vicente; SILVA, Pe. José de Moura e. Cidades de Mato
Grosso e significado de seus nomes. Cuiabá: J.C.V. Ferreira, 2008.
FILHO, André Barbosa. Gêneros Radiofônicos: Os formatos e os programas em áudio.
São Paulo: Paulinas, 2003.
GÓMEZ, Guillermo Orozco. Educomunicação: Recepção Midiática, Aprendizagens e
Cidadania. Tradução Paulo F. Valério. São Paulo: Paulinas, 2014.
KISCHINHEYVSKY, Marcelo. O rádio sem onda: Convergência digital e Novos
Desafios na Radiodifusão. Rio de Janeiro: E-papers, 2007.
MENEZES, José Eugênio de Oliveira Menezes. Rádio e Cidade: Vínculos Sonoros. São
Paulo: Annablume, 2007.
ORTRIWANO, Gisela Swetlana Ortriwano. A informação no rádio, os grupos de
poder e determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985.
POSSARI, Lucia Helena Vendrúsculo; NEDER, Maria Lucia Cavalli. Educação a
distância – material didático para a EaD: processo de produção. Cuiabá: EdUFMT,
2009.
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5, 6 e 7 de maio de 2020, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Cuiabá

MINIMALISMO E UNDERGROUND:
Contracultura e mídia mainstream 1

Aline Wendpap Nunes de Siqueira2


Luiz Guilherme Santos Vieira3
Rita de Cássia Domingues dos Santos 4
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Resumo: Este trabalho se dedica a buscar conexões entre o Minimalismo e o


Underground, movimentos que funcionam em contraponto à alimentação da indústria
cultural massiva. O Minimalismo transita na contramão do que é popularmente
consumível. Caracterizado como um dos grandes processos de contracultura e resistência
dos anos 60, o Minimalismo não estava sozinho. As críticas dos pensadores da época,
resultaram ainda no início de outros movimentos, dentre eles o Underground. A tradução,
em português é “subterrâneo”, pois foge dos padrões comerciais, do que está na superfície
dos modismos da mídia. Paralelo a isso, a evolução tecnológica trouxe a possibilidade de
encontro de grupos minoritários. Ao invés dos limitados e pequenos círculos que se
formavam antes da internet, a partir deste advento houve a ruptura de barreiras, paralela
à construção de ambientes virtuais de sociabilidade, como postulou Pierre Lévy (1999).
Por fim, culturas marginalizadas, se inserem na sociedade, como alheias ao convencional.
Algumas tem o intuito de ser tornar populares, mas pelos exemplos, a ideia parece ser
justamente, a de ficar fora do mainstream.

Palavras-Chave: minimalismo, underground, contracultura, indústria cultural,


mainstream.

Resumo Expandido

1
Trabalho apresentado no GT 06 – Música, arte e vínculos na radiodifusão, durante o IV Simpósio Nacional do Rádio,
realizados de 05 a 07 de maio de 2020, na Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT.
2
Professora Colaboradora do PPGECCO-UFMT, Bolsista PNPD Capes, Doutora em Estudos de Cultura
Contemporânea. E-mail: alinewendpap@gmail.com
3
Mestrando em Estudos de Cultura Contemporânea no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura
Contemporânea (PPGECCO-UFMT), bacharel em Comunicação Rádio e TV/UFMT. E-mail: luiz_vieira@live.com
4 Professora Adjunta do ECCO, Doutora em Estudos de Cultura Contemporânea. E-mail: rita.domingues@gmail.com
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Se estar antenado à mídia entre 1960/70 era um risco à saúde pública, o que os
críticos da época diriam sobre o que se vive hoje? Quando a internet transformou a forma
de comunicar.
Busca-se conexões entre o Minimalismo e o Underground, movimentos de
contracultura, que funcionam em contraponto à alimentação da indústria cultural, na qual
segundo Horkheimer e Adorno (2002, p. 38) “desaparece tanto a crítica como o respeito:
àquela sucede a expertise mecânica, a este, o culto efêmero da celebridade”. Também
responsável pela produção da imagem de um mundo padronizado, onde só o que está
dentro dos modelos estabelecidos é aceito como consumível e popular.
O Minimalismo transita na contramão do popularmente consumível. Analisando
pinturas e esculturas dos primeiros artistas minimalistas, percebe-se as características
alheias ao popular no seu início (SANTOS, 2019). A música minimalista, segundo Fink
(1945, p. 203) ficou marcada como hipnótica, repetitiva e modular. Paulatinamente
passou a fazer parte das salas de concerto americanas e se inseriu no cinema. Filmes como
“Koyaanisqatsi” (1982), de Godfrey Reggio e trilha de Philip Glass, mostraram a
presença da crítica, inserida como impulso para a construção de produções audiovisuais.
As repetições das técnicas musicais acompanham o ritmo frenético da decadência urbana,
ao passo que as cenas desaceleradas dão espaço à alteração radical na mensagem auditiva.
Para Fink (1945, p. 203) é evidente a resistência aos padrões culturais populares “A
mensagem anti-tecnologia e anti-mídia do filme é feita brutalmente, quase
pornograficamente visível. ”
Sendo um dos grandes processos de contracultura e resistência, o Minimalismo
não estava sozinho. As críticas dos pensadores da época, deram início a movimentos,
como o Underground. Traduzido como “subterrâneo”, por fugir de padrões comerciais.
O Underground apresenta conexões com o Minimalismo dos anos iniciais 5,
quando se observa as contraculturas na contramão do popular. Ambos aparecem na
história em meados da década de 1960. Segundo Carvalho e Nunes (2014, p. 201) “as
práticas relacionam-se à noção do que ficou conhecido nos anos 1960, no Brasil, como

5Apesar de no Brasil o Minimalismo permanecer à margem, atualmente existem, predominantemente nos Estados
Unidos, derivações do Minimalismo nas artes, que foram incorporadas ao mainstream, englobadas sob o título de Pós-
minimalismo, que se preocupam com a comunicabilidade da obra artística, dentre outras características diferenciadas
do Minimalismo dos anos iniciais. Mais informações em SANTOS (2019).
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cultura underground, durante o momento de resistência e embate ao mainstream 6,


entendido como tendência dominante”.
Tendo em mente que, para ser Underground deve-se estar à margem da mídia,
podemos retornar à proposta de resistência do Minimalismo dos anos iniciais, enquanto
sobrevivência como contracultura. O Underground abre espaço àqueles que discordam
da midiatização das culturas populares, tradicionais. Todavia, em meio a estes universos
culturais escondidos, às sombras, ou “subterrâneos”, estão histórias, lutas, vidas.
A evolução tecnológica trouxe a possibilidade de encontro de grupos minoritários.
Ao invés dos limitados e pequenos círculos que se formavam antes da internet, a partir
deste advento houve a ruptura de barreiras e a construção de ambientes virtuais de
sociabilidade. Lembrando Pierre Lévy (1999), a respeito das diferentes formas de
construção coletiva, verifica-se como “O ciberespaço fornece possibilidades de
construção coletiva e colaborativa para grupos geograficamente dispersos.” Posto que, o
mesmo “fornece possibilidades de construção coletiva e colaborativa para grupos
geograficamente dispersos”. A partir de então a comunicação não mais trata apenas do
transporte e emissão de mensagens, mas da interação, construída pelos sujeitos
envolvidos.
As culturas minimalistas e undergrounds surgiram no mesmo cenário político,
com ideias semelhantes, de fuga dos padrões e resistência. Hoje, ao observar essas
produções críticas, feitas em uma realidade, onde a evolução tecnológica estava aquém
da de hoje, pode-se avaliar que os críticos previram o por vir.
Culturas marginalizadas, se inserem na sociedade, como alheias ao convencional.
Talvez algumas tenham intuito de ser populares, entretanto, a ideia parece ser a de estar
abaixo do limite do mainstream.

REFERÊNCIAS
HORKHEIMER, Max e ADORNO, Theodor W.; DE ALMEIDA, Jorge Miranda (trad.).
O ILUMINISMO COMO MISTIFICAÇÃO DAS MASSAS. In.: Indústria cultural e
sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

CARVALHO, Guilherme; NUNES, Máira de Souza. Underground e ciberespaço: Uma


leitura atual para estudos da comunicação. Revista UNINTER de Comunicação, v. 2, n.
3, 2014.

6Mainstream é um conceito que expressa uma tendência ou moda principal e dominante. A tradução literal é
"corrente principal" ou "fluxo principal".
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FINK, Robert. Going with the Flow: minimalism as cultural practice in the USA since
1945. In: POTTER, Keith; GANN, Kyle; SIÔN, Pwyll ap. The Ashgate Research
Companion to Minimalist and Postminimalist Music. England: Ashgate, 2013.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

SANTOS, Rita de Cássia Domingues dos. Repensando a Terceira Fase Composicional


de Gilberto Mendes: o Pós-Minimalismo nos mares do Sul. Curitiba: CRV, 2019.
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A ARTE DOS SONS NO RÁDIO1:


Aspectos da música ofertada pela Rádio Cultura FM - SP

Ney Alves de Arruda2


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Resumo: Uma paixão: rádios que transmitem música clássica! Sem dúvida, versa-se
sobre quase uma raridade no panorama cultural radiofônico brasileiro. Tem-se aqui uma
reflexão sobre a importância do rádio com esse perfil de programação. Com apoio
metodológico no método da escuta, versa-se sobre esse paradigma consolidado na rádio
paulistana de muitos anos de mercado que firmou uma conduta comunicativa sólida a
partir da música erudita.

Palavras-Chave: rádio, transmissão, música, clássica, ouvinte.

Resumo Expandido

1) Introito temático:
Como uma necessária introdução, vislumbra-se que um dos veículos de
comunicação de massa mais extraordinários criado pelo homem, sem dúvida, segue
sendo o rádio. Historicamente este principiou suas operações na aurora do século
passado. De fato, manifesta sua proficuidade social como instrumento modelar de
distinguido vigor cultural e energia dialógica diante das hodiernas formas de
comunicação da humanidade. Tendo em vista que o rádio alcançou a
contemporaneidade da presente 21.ª centúria, capacitado economicamente por resistir
como duto de difusão cultural a ocupar relevância comunicativa perante a era digital.

1
Trabalho apresentado no GT 06 – Música, arte e vínculos na radiodifusão durante o IV Simpósio Nacional do
Rádio, realizados de 05 a 07 de maio de 2020, na Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT.
2 Doutor pela Universidad Pablo Olavide (Sevilha – Espanha), Mestre pela UFSC, docente da Faculdade de

Comunicação e Artes da UFMT. E-mail: neyarruda@gmail.com


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2) Escopo
Evidenciando aspecto geral do objetivo deste labor, colima-se a apreciação da
difusão radiofônica de repertórios culturais e reação diante do corriqueiro vivenciado
pelos ouvintes. Trata-se de leitura preliminar das mutações de substância radiofônica
transmitida por emissora pública à coletividade nacional. Focaliza-se a assimilação de
cultura musical, de conteúdos informativos referentes aos compositores enfocados,
mediante a irradiação de determinadas e específicas obras dos períodos: barroco,
classicismo, romântico, modernismo. O ouvinte tem consumido o quê? Percebe-se
metodologicamente uma atenção na transmissão dentro de rádio pública com uma
análise preliminar de programas musicais difundidos por emissora estatal. O “case
method” aqui específico é ofertado pela Rádio Cultura FM - SP.
3) Diálogo almejado
Com o intuito de estabelecer o debate, eis que se está diante de um possível
diálogo acerca do exame efetivo das modalidades de apreciadores radiofônicos frente a
programações de repertórios musicais e a veiculação de conteúdos informativos de
caráter estético cultural. Interessante observar que os radialistas dessa emissora
radiofônica costumam transmitir dados: a) sobre fatores estéticos gerais da obra musical
a ser irradiada, b) aspectos sobre a vida dos compositores enfocados, c) elementos
informativos causais sobre os grupamentos musicais intérpretes como orquestras,
quartetos, solistas.
Dessa forma, a Rádio Cultura FM de São Paulo atinge uma massa de ouvintes
integrados por cidadãos estudantes, profissionais, motoristas em deslocamento,
atingindo ambientes de trabalho e lares indistintamente. Uma interpretação de possíveis
dados fluídos de como o ouvinte escuta (contempla, elege, prefere, seleciona) perante a
programação desta rádio pública tem potencial para demonstrar que autores como Bach,
Vivaldi, Mozart, Beethoven, Chopin seguem mantendo um elevado grau de interesse
para apreciação dos ouvintes. Não obstante a multiplicidade de compositores, épocas,
estilos que a Rádio Cultura FM - SP comunica irradiando valores culturais pelas formas:
I) sinfônica, II) ópera, III) camerística, IV) canto coral de música clássica que transmite.
De uma perfunctória análise pela escuta da rádio sob comento, da forma que se
constroem significados dos repertórios musicais programados e irradiados e as
resultantes encontradas no sentido das reações dos consumidores de cultura musical
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percebe-se a solidez do trabalho educacional proporcionado pela Rádio Cultura FM de


São Paulo.
4) À guisa de prévia conclusão
Uma admissível fundamentação para esta abordagem poderia estar na crítica do
fenômeno comunicacional alusivo ao rádio na era digital que, nesta vertente, detém
chances de ser constatada com base na epistemologia filosófica da “Teoria Crítica da
Sociedade” com atenção na leitura ofertada por Theodor Wiesengrund Adorno. O qual
conta com recentes e profundas investigações da pesquisadora professora Iray Carone.
Tendo em mira a oportuna função social exercida pelo rádio como veículo de
transmissão de cultura via da arte musical e possíveis alterações benéficas do ambiente
vivido pela cidadania. Com efeito, uma “Teoria Social e Crítica do Rádio” é o que
Carone busca evidenciar no esforço filosófico de Adorno ao edificar tal fundamentação.
O que nos leva a concluir provisoriamente sobre o valor comunicativo para a cultura e
educação de um país acerca de uma rádio que transmite música clássica.

REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor W. “A social critique of radio music”. In: The Kenyon Review, v.
7, 1947.
ADORNO, Theodor W. “Analytical study of the NBC Music Appreciation Hour”, The
Musical Quarterly, v. 78, n. 2, 1994.
ADORNO, Theodor W. “Music in radio” (microfilme) Lazarsfeld Papers, Nova York:
Columbia University, 1938.
BURROWS, J. Guia de música clássica. Trad. José Telles. São Paulo: Zahar Editor,
2006.
CARONE, Iray. “Adorno e a música no ar: The Princeton Radio Research Project”. In:
Carone, Iray. Adorno em Nova York: os estudos de Princeton sobre a música no rádio
(1938-1941), 1.ª edição, São Paulo: Editora Alameda, 2018.
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Qual a importância social de uma radionovela durante uma pandemia?


Giovana Borges Mesquita1
Sheila Borges de Oliveira2
Sarah Rebeka Rêgo de Souza3
Vitória Regina Oliveira de Lima4
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Resumo Expandido
O presente trabalho busca compreender como a produção das radionovelas se
modificou com o rádio expandido (KISCHINHEVSKY, 2016) especificamente durante
a pandemia do novo coronavírus. Para isso, realizamos uma discussão sobre qual
importância social de uma radionovela, sobretudo em momentos de crise, a exemplo da
pandemia da Covid-19, usando como objeto de estudo dois programas radiofônicos
criados, em 2020, por estudantes do Centro Acadêmico do Agreste (CAA) da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): o “Auto da Compadecida em Tempos de
Pandemia” e o “Santos Conectados no Combate à Covid-19”.
Com base nos conceitos de radionovela (CALABRE, 2007) e rádio expandido
(KISCHINHEVSKY, 2016), buscamos encontrar uma resposta para a nossa pergunta
central: como o rádio expandido transformou a produção das radionovelas durante a
pandemia da Covid-19?

Metodologia

1 Professora do adjunta do Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail:


giovana.mesquita@ufpe.br
2 Professora adjunta do Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail:
sheila.boliveira@ufpe.br
3 Graduanda do 7º período do curso de Comunicação Social da UFPE/CAA. E-mail: sarahrebekarego1@gmail.com
4 Graduanda do 7º período do curso de Comunicação Social da UFPE/CAA. E-mail vitorialima75@hotmail.com
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O trabalho se propõe a realizar uma pesquisa descritiva, em que “têm como


objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou
fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2008, p. 28), além de
ter na sua composição uma revisão bibliográfica, com o objetivo “de permitir ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla” (GIL, 2008, p.
50).

Rádio Expandido
Durante décadas o rádio foi uma plataforma de comunicação líder em audiência,
contudo, os produtos radiofônicos precisaram acompanhar a evolução dos meios de
comunicação. O rádio foi evoluindo com o passar das décadas tornando-se um meio
expandido e hipermidiático (KISCHINHEVSKY, 2016).
Praticamente todos os gêneros radiofônicos precisaram se adaptar às novas
tecnologias, como é o caso das radionovelas. Os registros das primeiras radionovelas
datam de 1931, em Cuba. O tipo de produção se popularizou em outros países da América
Latina, como o Brasil, ganhando espaço com as narrativas amorosas. De acordo com
Calabre (2007, p. 51), a primeira radionovela brasileira foi lançada em 1941 e era uma
adaptação feita por Gilberto Martins da obra “Em Busca da felicidade”, do cubano
Leandro Blanco. Com o tempo, o gênero também precisou se reinventar diante das
transformações tecnológicas, adquirindo uma importância social.

Radionovelas em tempos de Covid-19


As radionovelas "Auto da Compadecida em tempos de pandemia" e "Santos
Conectados no combate à Covid-19" são exemplos da reinvenção no meio radiofônico.
Os produtos foram desenvolvidos em dois programas de extensão realizados no curso de
Comunicação Social da UFPE/CAA, nos quais discentes e docentes estiveram envolvidos
em todas as etapas, que são caracterizadas pela leitura de material teórico, escrita de
roteiro, seleção e direção de atores, captação de falas, edição, veiculação, divulgação e
estratégias de redes sociais.
Com o intuito de entreter, mas, sobretudo, alertar e prevenir sobre o novo
coronavírus, as radionovelas foram criadas a partir do imaginário popular brasileiro. Os
programas, que eram veiculados nas redes sociais e nas plataformas de streaming foram
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produzidos de forma remota.


No "Auto da Compadecida em Tempos de Pandemia", a obra de Ariano Suassuna
foi adaptada para os dias atuais, onde os personagens precisaram enfrentar o Capitão
Covid, personagem que faz alusão à doença. Através dessa adaptação, foram discutidos
assuntos relacionados à saúde, às fake news e às políticas públicas.
A radionovela "Santos Conectados no Combate à Covid-19" também surgiu da
necessidade de alertar à população dos riscos da doença. Na narração, os santos juninos
conversam pelo WhatsApp com seus fiéis e os estimulam a seguir as medidas de
prevenção contra o novo coronavírus.

Conclusão
Entendemos que o rádio expandido vem suprir uma necessidade de integrar os
conteúdos radiofônicos nas diferentes plataformas de comunicação e gerar mais
engajamento e interatividade com seus ouvintes. As radionovelas "Auto da Compadecida
em tempos de pandemia" e "Santos Conectados no combate à Covid-19" surgiram como
produtos dessa nova era do rádio. A produção dos programas, especialmente durante a
pandemia, só foi possível devido às possibilidades fornecidas pelo rádio expandido, como
a veiculação do conteúdo através da internet. Além disso, diferentemente da função
original das radionovelas, os programas têm uma importância social na medida que se
propõem a orientar e alertar a população sobre o novo coronavírus.

Referências
CALABRE, Lia. O rádio na sintonia do tempo: radionovelas e cotidiano (1940- 1946).
Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2006.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social / Antonio Carlos Gil. - 6.
ed. - São Paulo : Atlas, 2008.
KISCHINHEVSKY M. Rádio e mídias sociais: mediações e interações radiofônicas em
plataformas digitais de comunicação. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.

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