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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

MARIA ELIZANGELA GOES DOS SANTOS

A COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA E A INTERAÇÃO COM ESTUDANTES


DO EJA EM MIRASSOL D'OESTE

CUIABÁ-MT
2018
MARIA ELIZANGELA GOES DOS SANTOS

A COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA E A INTERAÇÃO COM ESTUDANTES


DO EJA EM MIRASSOL D'OESTE

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Estudos de Cultura
Contemporânea da Universidade Federal de
Mato Grosso como requisito para a obtenção
do título de Mestre em Estudos de Cultura
Contemporânea na Área de Concentração
Estudos Interdisciplinares de Cultura, Linha
de Pesquisa Comunicação e Mediações
Culturais.

Orientadora: Profa. Dra. Lucia Helena


Vendrúsculo Possari

CUIABÁ-MT
2018
Dedico este trabalho a todos os
estudantes do EJA que, dentro dos seus
contextos e das dificuldades enfrentadas
no dia a dia, buscam pelo conhecimento e
aprendizado.
AGRADECIMENTOS

A todos os professores doutores e mestres e aos técnicos do Programa de Pós-


Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato
Grosso (ECCO-UFMT), pela paciência e ensinamentos durante o percurso deste
mestrado.

Aos meus familiares, pelo apoio incondicional em todos os momentos de minha


vida, em especial à minha mãe, Iracema Góes, que me tornou uma pessoa apaixonada
pela comunicação radiofônica, e uma profissional desse meio.

Aos professores e estudantes da Escola Estadual Benedito Cesário da Cruz, em


Mirassol D’Oeste, por me receberem e permitirem a realização deste trabalho.

Em especial, à minha orientadora, Lúcia Helena Vendrúsculo Possari, da qual


terei gratidão eterna, por nunca ter desistido de mim durante esta dissertação.
RESUMO

Esta dissertação consiste no estudo da interação entre os estudantes do Ensino de


Jovens e Adultos (EJA) da Escola Estadual Benedito Cesário da Cruz e a programação
das emissoras de rádio (hertzianas), na cidade de Mirassol D’Oeste, Mato Grosso. É
comum ouvir que veículos tradicionais, como o rádio, por exemplo, vêm sendo
excluídos da preferência geral, sob o argumento de que grande parte dos interlocutores
tem trocado o rádio pelas hipermídias – estas facilitadas pelas novas tecnologias, tais
como o computador e o aparelho celular. Circunscrito a este contexto, o presente
trabalho investiga de que modo os participantes da pesquisa, por meio da comunicação
radiofônica, produzem interação e interatividade em sua localidade. A metodologia
utilizada para a geração de dados nesta pesquisa foi dividida em três etapas. Na
primeira, de cunho qualitativo, entrevistei comunicadores das três emissoras existentes
na cidade, no intuito de obter informações sobre a produção dos conteúdos veiculados
nas rádios, bem como, averiguar de que forma o ouvinte interage com a programação
local. No segundo momento, com a finalidade de coletar dados sobre o perfil dos
estudantes e suas possíveis afinidades com a temática proposta neste estudo, apliquei
um questionário a 88 estudantes do EJA, cujas respostas foram utilizadas como
amostra quantitativa. Por último, na terceira fase, usei uma abordagem qualitativa – de
grupo focal de associação livre (GASKELL, 2002), dividindo os participantes-estudantes
do EJA em dois grupos: o primeiro denominado ‘jovem’, constituído por 8 estudantes
entre 19 e 25 anos, e o segundo denominado ‘adulto’, composto por 9 estudantes de
faixa etária entre 30 e 45 anos, totalizando 17 participantes. O principal objetivo desta
pesquisa foi identificar, por meio das narrativas dos participantes-estudantes, que/quais
conteúdos são mediados e se evidenciam nas práticas discursivas, ou seja, quais
conteúdos produzem sentido e estabelecem vínculos, a partir da interação e da
interatividade com a programação das emissoras de rádio da cidade de Mirassol
D’Oeste.

Palavras-chave: Comunicação. Rádio. Cultura. Estudantes do EJA.


ABSTRACT

The research object selected for the present study is focused on audience perception of
radio broadcast programming, more precisely on how groups of listeners, students from
a class of Adult and Young Adult Continuing Education (EJA), held at a Public State
School named Benedito Cesário da Cruz, interact with local programming from three
(Hertzian wave) radio stations situated in Mirassol D’Oeste, Mato Grosso (Central-
Western) State, Brazil. Over the past years, it has been openly stated that traditional
mass media, such as Hertzian radio broadcasting, have been drastically dropping in
audience preference. The main argument under this current discourse is that a large
number of interlocutors have been migrating from traditional Hertzian wave radio
broadcasting to hypermedia – the latter, enhanced by new technologies such as
computers and cell phone devices. This research work is aimed to investigate how the
participants of the research group would produce interaction and interactivity, mediated
by local radio broadcast programming. The research databases were generated in a
three-phased methodological procedure. Firstly, a qualitative interview was carried out
with radio presenters from each of the three local radio stations, aiming at finding out
some relevant information regarding their content production, as well as identifying how
the selected research participants would interact with the local programming. The
second phase of the research involved other data collection tool – a questionnaire
meant to build a profile of the participants and also to identify their personal
characteristics and audience preferences to fit for research purposes. As for the survey
response rate, 88 (eighty-eight) participants spontaneously replied the questionnaire.
The outcomes from this research action provided samples for the quantitative data
analysis. Finally, on the third stage of the work, a qualitative research, framed for focus
group sessions and based on a free-association method (GASKELL, 2002) was
conducted with two groups from EJA education: one consisting of eight (08) students,
varying from 19 to 25, tagged as “Young Adults”. The other group of students, between
the age of 30 and 45 years-old, were categorized as “Adults” and counting on nine (09)
members, making a total of seventeen (17) volunteer participants. As previously stated,
the main aim of this research was to identify through student-listener narratives which
contents are mediated, and which ones are evidentiated through listener’s daily
discursive practices. In other words, the research work was designed to investigate
which contents effectively trigger the meaning-making process and are able to build
social bonds, with basis on interaction and interactivity constructed from broadcast
programming, which are provided by the three traditional radio broadcasting stations in
Mirassol D’Oeste town.

Keywords: Communication.Radio.Culture.Students of the EJA.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 – Mapa de Mato Grosso.....................................................................................41


Mapa 2 – Mapa de MT identificando Mirassol D’Oeste...................................................41
Fotografia 1 – Sede da Rádio Difusora em Mirassol D’Oeste.......................................42
Fotografia 2 – Sede da Rádio 14 de Maio em Mirassol D’Oeste...................................43
Fotografia 3 – Sede da Rádio Continental de Mirassol D’Oeste....................................43
Fotografia 4 – Entrada da Escola E. Benedito Cesário da Cruz....................................50
Fotografia 5 – Pátio da Escola E. Benedito Cesário da Cruz........................................50
Gráfico 1 – Ouvem programação jornalística.................................................................52
Gráfico 2 - Ouvem programação de entretenimento e musical......................................53
Gráfico 3 – Não ouvem programação de rádio jornalística............................................54
Quadro 1 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................59
Quadro 2 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................60
Quadro 3 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................63
Quadro 4 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................64
Quadro 5 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................66
Quadro 6 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................67
Quadro 7 – Narrativas do grupo Jovem..........................................................................68
Quadro 8 – Narrativas do grupo Adulto..........................................................................72
Quadro 9 – Narrativas do grupo Adulto..........................................................................72
Quadro 10 – Narrativas do grupo Adulto........................................................................73
Quadro 11 – Narrativas do grupo Adulto........................................................................75
Quadro 12 – Narrativas do grupo Adulto........................................................................76
Quadro 13 – Narrativas do grupo Adulto........................................................................76
Quadro 14 – Narrativas do grupo Adulto........................................................................78
LISTA DE ENTREVISTAS

Cléo Alves, radialista em Mirassol D’Oeste, entrevista em 25/04/2015.


Antonio Carlos, jornalista em Mirassol D’Oeste, entrevista em 26/04/2015.
Maysa Ventura, radialista em Mirassol D’Oeste, entrevista em 27/04/2015.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............ .................................................................................................. ........111


2 CAPÍTULO 1
RÁDIO: CONTEÚDOS E TECNOLOGIAS ............................................................................... 17
3 CAPÍTULO 2
O OUVINTE: RECEPÇÃO, MEDIAÇÃO, INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE .......................... 28
4 CAPÍTULO 3
MIRASSOL D’OESTE: ESPAÇO/TEMPO .............................................................................. 400
5 CAPÍTULO 4
EFEITOS E SENTIDOS DO RÁDIO – ALUNOS DO EJA 2015 EM MIRASSOL D’OESTE ..... 49
5.1 Descrição da Coleta Quantitativa.......................................................................................50
5.2 Descrição da Coleta Qualitativa.........................................................................................55
5.2.1 Descrição das narrativas do Grupo Jovem..........................................................58
5.2.2 Descrição das narrativas Grupo Adulto................................................................71
6 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.................................................................................. 811
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 844
REFERÊNCIAS............................................................................................................................86
APÊNDICES................................................................................................................................89
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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho, cujo objeto de estudo é a interação do ouvinte com a comunicação


radiofônica, está circunscrito à cidade de Mirassol D’Oeste, Mato Grosso, vinculado à
linha de Pesquisa em Comunicação e Mediações Culturais, do Programa de Pós-
Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato
Grosso (ECCO-UFMT), que pertence à Área Interdisciplinar da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O ECCO tem por proposta uma formação temática e problematizadora no campo
da cultura, com a finalidade de compreender os fenômenos complexos e entrecruzados
que constituem a contemporaneidade, visando atender às exigências das
transformações da sociedade e da própria ciência, impulsionadas pelas novas
tecnologias, pelos processos de mercantilização da cultura, de midiatização de práticas
tradicionais e da emergência de novos rituais de vinculação social que configuram uma
nova ordem mundial.
Segundo a estudiosa da comunicação Gisela Swetlana Ortriwano (1985),
renomada pesquisadora brasileira do veículo rádio, desde as primeiras transmissões
radiofônicas, datadas e oficializadas mundialmente em 1901, e no Brasil em 1922, mais
especificamente, o meio de comunicação radiofônico, vem se reinventando, e a cada
novo desafio consegue incorporar e fazer uso das inovações tecnológicas a seu favor.
Em 2007, o autor Marcelo Kischinheyvsky trouxe à tona a discussão sobre o
Rádio Sem Onda, abordando os novos desafios trazidos pela internet, pontuando as
mudanças tecnológicas e anunciando o possível fim do rádio tradicional hertziano. A
despeito do quadro desfavorável esboçado por Kischinheyvsky (2007, p. 12), assim
como por outros estudiosos do veículo rádio, estes admitiram que o papel social do
rádio convencional, de fato, passava por transformações naquele momento, entretanto,
os mesmos teóricos afirmavam que o rádio continuaria se redescobrindo e mantendo
seu status cultural:

O rádio ainda é, embora a maioria esmagadora de seus profissionais


não tenha consciência disso, palco fundamental para negociação de
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identidades nas sociedades contemporâneas, uma operação vital para a


própria constituição da diversidade social.

A referida temática me motivou a realizar esta pesquisa. Por ser uma profissional
que atua em diversos setores da programação radiofônica, interessei-me por investigar
como os indivíduos estavam interagindo com o meio de comunicação rádio tradicional
(hertziano), diante das constantes mudanças culturais midiáticas.
A priori, e empiricamente, eu observara que os meus alunos utilizavam o celular
durante praticamente todo o tempo de aula, para diversas finalidades. Foi a partir desta
constatação que resolvi, de forma mais sistematizada, questionar os acadêmicos dos
primeiros semestres de uma universidade particular de Cuiabá-MT, de faixa etária
variante entre 17 e 20 anos, sobre sua relação com a comunicação radiofônica, com o
objetivo de descobrir se eles ouviam rádio, e se o faziam, por meio de quais
equipamentos ou plataformas.
Em uma iniciativa de pesquisa, apliquei um questionário fechado por meio do
qual 90% dos entrevistados disseram não ouvir rádio; 7% informaram que ouviam rádio
no carro; e os 3% restantes responderam que ouviam rádio no celular.
Esses dados foram obtidos em 2015, servindo como uma etapa exploratória para
uma investigação mais aprofundada sobre a temática a ser feita com estudantes de
outros contextos, de diferentes níveis escolares, em outro contexto histórico-cultural-
geográfico de Mato Grosso, campo de pesquisa de meu particular interesse. Foi
baseada nessas premissas que elaborei meu projeto de pesquisa.
A escolha por Mirassol D’Oeste como lócus da pesquisa se deve a minha
familiaridade com a localidade, cenário onde vivenciei a infância e a adolescência e
onde construí significativas memórias afetivas sobre as comunicações radiofônicas.
Sem muito esforço, ainda posso ouvir as badaladas do sino da igreja matriz,
anunciando ‘a hora da ave-maria’, que era transmitida, às 18h em ponto, pelos serviços
de alto-falantes, único meio de comunicação coletiva na cidade nos idos dos anos 70 e
início da década de 80.
Outra programação que habita minhas memórias era apresentada pela manhã,
no horário das 8h às 9h, com músicas de roda de viola. Ainda me recordo de que, no
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decorrer do dia, informes de interesse geral à população eram repassados, com um


tímido espaço de tempo para anúncios comerciais.
Todo o meu histórico de paixão pelo rádio e o fato de eu ter me tornado uma
profissional que atua nesse meio de comunicação foram inspirados naquelas vivências
de criança. Lembro-me bem de que, por volta dos meus oito ou nove anos, costumava
passar os finais de semana em sítios de familiares em um distrito próximo, e por lá eu
recolhia cartas dos sitiantes vizinhos para entregá-las na emissora de rádio de Mirassol
D’Oeste.
Sempre às segundas-feiras, bem cedinho, lá estava eu, com as histórias e os
recados daquelas pessoas nas mãos, para que fossem retransmitidos pelas ondas
hertzianas. Outra memória que permeia meu amor pelo veículo envolve minha mãe,
que sempre foi uma ‘eterna’ ouvinte do rádio. Ela passou parte de sua vida morando na
área rural, e seu imaginário da ‘cidade grande’ foi alimentado pelas transmissões
radiofônicas: por meio das radionovelas, das canções e das histórias de amor. Hoje ela
é minha ouvinte ‘número um’.
Ainda sobre o lócus da pesquisa, o município de Mirassol D'Oeste, em sua
fundação e formação histórica, traz uma característica semelhante à de muitas outras
cidades de Mato Grosso – a de ter como referência em comunicação uma emissora de
rádio local. É relevante destacar que, no Estado, somente algumas cidades-polo
possuem retransmissoras de canais de TVs com produção de conteúdo regional. As
demais ainda têm a recepção televisiva por meio de antenas parabólicas ou de canais
por assinatura, que transmitem programação nacional.
Quanto aos participantes desta pesquisa, definidos como ‘público ouvinte’, são
estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da Escola Estadual de 1º e 2º
graus Benedito Cesário da Cruz, situada em Mirassol D’Oeste. Foram escolhidos por se
tratar de pessoas que não estudaram na idade regular ou que tiveram seus ciclos
escolares interrompidos, porém, no momento da pesquisa, se encontram em formação
novamente, em dois níveis escolares distintos – ensinos fundamental e médio. A opção
pela escola se deu devido a ela ser a única no município a ter essa modalidade de
ensino.
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As hipóteses e perguntas norteadoras deste estudo buscam investigar se, diante


do contexto hipermidiático, os estudantes do EJA ouvem o rádio tradicional, e, se
ouvem, por quê? O que gostam de ouvir? Como estes participantes promovem
interação e interatividade com a programação das emissoras de rádio daquele
município? Quais vínculos são constituídos?
Com o propósito de averiguar e compreender tais questionamentos, no que se
refere aos passos metodológicos da pesquisa, o presente estudo foi dividido em três
momentos ou etapas. Na primeira, realizei entrevistas com comunicadores das três
emissoras existentes na cidade, para coletar informações sobre a produção de
conteúdo veiculado nessas rádios, bem como averiguar de que modo o ouvinte interage
com a programação.
Na segunda fase, apliquei um questionário ao alunado participante da pesquisa
com o objetivo específico de esboçar um perfil dos ouvintes-estudantes e também as
possíveis afinidades deles com a temática proposta. No quadro geral, 88 estudantes, de
faixas etárias entre 18 e 60 anos, responderam ao questionário aplicado
espontaneamente. Estes primeiros dados foram utilizados para a amostra quantitativa
da pesquisa.
No terceiro momento do estudo, com a finalidade de ter uma leitura mais
aprofundada das perguntas de pesquisa, optei por uma abordagem qualitativa, na qual
utilizei o método de grupo focal, de associação livre (GASKELL, 2002). Para tal intento,
os participantes-estudantes do EJA foram classificados em dois grupos, de acordo com
suas faixas etárias: o primeiro, denominado de ‘Jovem’, constituído por 8 estudantes
entre 19 e 25 anos; o segundo, designado na pesquisa como ‘Adulto’, composto por 9
estudantes entre 30 e 45 anos.
O principal objetivo desta etapa da pesquisa foi identificar, por meio das
narrativas dos participantes-estudantes, que/quais conteúdos são mediados e se se
evidenciam nas práticas discursivas, ou seja, quais conteúdos produzem sentido e
estabelecem vínculos, a partir da interação e da interatividade com a programação das
emissoras de rádio locais.
A produção dissertativa deste trabalho está dividida por capítulos, a saber: o
primeiro capítulo apresenta um breve aporte teórico referente ao veículo rádio e ao seu
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desenvolvimento no Brasil, no decorrer das décadas – tanto no que concerne à


produção de conteúdos e de conceitos, quanto a que se refere à evolução tecnológica.
No capítulo 2, abordo alguns autores que conceituam as teorias de recepção, de
mediação, de interação e de interatividade, tais como, Jesus Martín Barbero (2001),
Nestor García Canclini (2000), Guilherme Orosco Gómez (2011), Mauro Wilton de
Souza (2002) e Alex Primo (2013), com a proposta de refletir e entender teoricamente
o(s) modo(s) pelo(s) qual(quais) o ouvinte de rádio tem se relacionado com o meio
radiofônico na era das mídias digitais. Finalizo o capítulo com Norval Baitello Júnior
(2014) que, juntamente com José Eugênio de Oliveira Menezes (2007), contextualiza a
cultura do ouvir e os vínculos sonoros na contemporaneidade.
Em seguida, no capítulo 3, relato o percurso metodológico da pesquisa,
abordando a formação da cidade de Mirassol D'Oeste, a cultura do local, o sujeito que
ali vive e, por fim, as emissoras de rádio que dialogam com a população que lá reside.
Com o objetivo de compreender a constituição histórica da localidade, apresento o
trabalho de autores que escreveram sobre a história do município – por exemplo, o
historiador João Carlos Vicente Ferreira (2008) –, referências que encontrei registradas
nos arquivos da prefeitura da cidade e também narrativas que coletei por meio de
entrevistas realizadas com três comunicadores que atuam, há mais de 30 anos, nas
emissoras de rádio local, e que formam o primeiro grupo de participantes da pesquisa:
os participantes-comunicadores.
Na sequência, trago o desenvolvimento do escopo do trabalho, contendo a
amostra quantitativa que retrata a compilação das informações geradas por meio dos
questionários. Em seguida apresento a análise qualitativa, baseada no diálogo proposto
com os dois grupos focais, conforme mencionado em parágrafos anteriores. Destaco
que todas as etapas deste estudo foram realizadas conforme os preceitos
metodológicos de pesquisa dos autores Martin W Bauer (2002) e George Gaskell
(2002), que trabalham a pesquisa qualitativa com texto, imagem e som.
No que se refere à análise e à interpretação das narrativas dos participantes-
estudantes, o diálogo é mediado por André Barbosa Filho (2003), que traz a abordagem
sobre os gêneros radiofônicos; Mary Jane Spink (2013), que compreende a prática
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discursiva e a produção de sentidos; e Lúcia Helena Vendrúsculo Possari (2009), que


conceitua interação e interatividade.
Por fim, nas considerações, busco responder às inquietações e perguntas da
pesquisa, bem como, ponderar sobre os pontos significativos do estudo e apontar
algumas de suas limitações, no intuito de nortear, porventura, a quem possa se
interessar em contribuir, expandir ou atualizar os resultados deste trabalho acadêmico.
17

2 CAPÍTULO 1

RÁDIO: CONTEÚDOS E TECNOLOGIAS

As definições e conceituações referentes ao rádio perfilam extensa bibliografia,


entretanto, considerei as que me pareciam mais significativas para a pesquisa
realizada. Neste capítulo, contextualizo o meio radiofônico, abordando conceitos e as
rotas das suas transformações tecnológicas e das suas programações, no intuito de
entender o veículo e seus conteúdos nos dias atuais.
Apesar de recorrente, a seguinte pergunta é necessária: O que é rádio, afinal?
De acordo com alguns teóricos, o termo deriva da palavra radiodifusão: “trata-se da
palavra em língua portuguesa equivalente à inglesa, broadcasting, forma derivada do
verbo broadcast, “enviar em todas as direções” (HORNBY, 1984, p. 107). Nos
dicionários de comunicação, e nos manuais didáticos, o termo foi definido como “meio
de comunicação que utiliza emissões de ondas eletromagnéticas para transmitir a
distância mensagens sonoras destinadas a audiências numerosas” (FERRARETTO,
2007b, p. 23).
Todavia, com o surgimento da internet, emergiram inúmeras possibilidades de
novas nomenclaturas, que foram sugeridas ao longo dos últimos anos para conceituar o
meio de comunicação radiofônica.
Do ponto de vista técnico e histórico, desde que implantada no país (1922), muito
se vislumbrou, estacionou e alavancou no que se refere à radiodifusão brasileira. A
pesquisadora Gisela Swetlana Ortriwano (1985, p. 14) destaca que o rádio que nascia
era para as elites e não para a “massa”:

Ainda nos anos 20, o rádio já começa a espalhar-se pelo território


brasileiro. As primeiras emissoras tinham sempre em sua denominação
os termos clube ou sociedade, pois na verdade nasciam como clubes ou
associações formadas pelos idealistas que acreditavam para o novo
meio.

Nos anos 30, a organização comercial em torno do novo meio, regulamentada


pelo Decreto 21.111, de 1º de março de 1932, traz um novo momento para o veículo,
no qual as emissoras passaram a ser reestruturadas como empresa e a programação
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passou de erudita à popular, com a proposta de se obter um número maior de ouvintes,


para, consequentemente, aumentar os lucros das empresas de comunicação por meio
dos investimentos provenientes da propaganda.
Depois dessa reestruturação, os anos 40 foram registrados historicamente como
“a era de ouro do rádio brasileiro”. Tudo que li sobre essa época traz narrativas
glamorosas, como as ocorridas na memorável Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que
se tornou referência para o país.
Na programação entretenimento e musicalidade, o radiojornalismo é formatado
na produção e edição de conteúdos, com radiojornais que marcaram época, como o
Repórter Esso e o Grande Jornal Falado Tupi. Momento de alta audiência das tão
famosas radionovelas, que embalaram sonhos e criaram um novo espaço para os
artistas, até então, presentes apenas no teatro.
Destacaram-se ainda nessa década as produções e transmissões do jornalismo
esportivo, que sempre alavancaram a parte tecnológica, bem como serviram de fonte
captadora de investimentos para o meio radiofônico.
Contudo, em 1950, surge um grande desafio para o veículo rádio – a televisão.
Um novo meio de comunicação de massa que, naquele primeiro momento,
desestabiliza não apenas as estruturas da programação do rádio, mas também disputa
os investimentos disponibilizados para estas emissoras. Diante da concorrência, busca-
se para o rádio uma nova linguagem, uma programação mais econômica, praticamente
reduzida à musicalidade.
A fim de percorrer por novos caminhos e reestabelecer o diálogo com os
ouvintes, uma nova opção de programação foi produzida nos anos 60 – o “Serviço de
Utilidade Pública” –, marcado por notas de achados e perdidos, de informações sobre
meteorologia, sobre condições de tráfego nas estradas e de ofertas de empregos. Até
esse momento, tecnologicamente falando, as emissoras de rádio operavam em Ondas
Curtas (OC), Ondas Médias (OM) e a maioria delas em Amplitude Modulada (AM),
sendo esta última de amplo alcance, porém de baixa qualidade na transmissão de
áudio.
No final da década de 60, as primeiras emissoras de Frequência Modulada (FM)
entram em funcionamento, entretanto, o raio de abrangência dessa modalidade é
19

menor do que o da AM, porém com melhor qualidade na transmissão do áudio, o que
oportunizou a veiculação de conteúdos para públicos menores, sendo utilizada
inicialmente como rádio musical para ambientes direcionados, tais como hospitais,
indústrias e escritórios.
Os empresários do meio radiofônico despertaram para o mercado da
programação musical, o que impulsionou uma retomada do rádio, com a promoção de
cantores e novos investimentos. Outro marco no final da década de 60, datado em maio
de 1969, foi a criação da Rádio Mulher, em São Paulo – “a primeira emissora brasileira
a se especializar exclusivamente em assuntos femininos, fundamentada em moldes
norte-americanos e europeus” (ORTRIWANO, 1985, p. 24), proporcionando, deste
modo, uma programação segmentada.
Um pouco antes, em 1964, com o início da ditadura militar, o governo federal
propôs uma mudança radical no processo educativo do Brasil por meio da utilização do
rádio e da televisão. Para tal, o governo criou, a partir dos anos 70, o “Projeto Minerva”,
que dava ênfase à educação de adultos e que foi transmitido, por meio de emissoras de
rádio e de televisão, até meados dos anos 80.
Naquele momento histórico, faz-se necessário contextualizar o movimento
mundial das rádios livres e rádios piratas, iniciado na Itália, em 1975, com o propósito
de romper o monopólio estatal das telecomunicações, por meio de rádios ilegais e não
autorizadas. Com uma programação politizada, essas emissoras não se encontravam
vinculadas a partidos políticos, entidades religiosas, órgãos estatais ou grupos de
interesses comerciais.
No Brasil, esses tipos de emissoras também surgiram nos anos 70, o que muito
incomodou o governo da época, que optou por criar, em 1976, a Empresa Brasileira de
Radiodifusão (Radiobras), com o propósito de organizar as emissoras e operá-las. Mais
tarde, o próximo governo arrumaria outra solução para neutralizar as rádios livres,
permitindo concessões de rádios comunitárias, pela legislação (nº 9.612/1988)1, sendo
tais emissoras em frequência modulada, operada em baixa potência e de cobertura

1
BRASIL. Secretaria da Casa Civil do Governo Federal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9612.htm> Acesso em: 20 abr. 2015.
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restrita, outorgadas a fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, com


sede na localidade da prestação do serviço.
Ainda nos anos 70, surgiram as agências de produção de conteúdo em áudio,
uma inovação para atender o meio rádio. Essas agências produziam programas com
artistas famosos, abordando assuntos de interesse do momento e vendendo gravações
para emissoras de pequeno porte.
Nos anos 80, o radiojornalismo se reestabelece, deixando um marco desse novo
momento de ascensão – o lançamento do primeiro Jornal Nacional de Rádio (1983),
retransmitido via Embratel por 60 emissoras, implantadas em 16 estados, pela Rede
L&C de Rádio, pioneira na produção integrada.
A novidade permitida pelas retransmissoras movimentou o mercado e as
programações por todo o país, do final dos anos 80 até início dos anos 90. As autoras
Nélia Del Bianco (1999, p. 199-200) e Sônia Virgínia Moreira (1999) estiveram imersas
em pesquisas sobre as mudanças tecnológicas, mercadológicas e de conteúdo
radiofônico nesse período:

Uma parcela dos donos de rádio não limita mais suas estratégias de
comercialização à distribuição de sinal por satélite ou a realização de
promoções. Agora eles buscam verbas diversificando o negócio com a
venda de projetos e produtos que possuem a cara da emissora. A
Jovem Pan, por exemplo, começou a fazer discos, que venderam em
seis meses 1,5 milhão de unidades, o que equivale ao que alcançaram
Roberto Carlos e Chitãozinho e Xororó. A receita obtida é muito maior
do que a que a emissora atingiria com a venda de todo o seu espaço
inteiro.

Em 1996, mais de mil estações de rádio, de todo tipo de segmento, criaram sites
na web nos Estados Unidos. Na mesma época, o número total de emissoras brasileiras
com o endereço disponível na internet chegava a cerca de 20 empresas:

Mesmo que o rádio tenha sido concebido para ser ouvido e não
necessariamente para ser lido, é crescente o número de canais
radiofônicos centrados em entrevistas e bate-papos na internet. Embora
a maioria ofereça apenas informações sobre a estação de rádio
acessada e links para outros sites, há cada vez mais emissoras tirando
proveito da tecnologia de áudio em tempo real para transmissões ao
vivo (BIANCO, 1999, p. 213-214).
21

Em junho de 1997, o UOL permitiu ao usuário o acesso a duas rádios instaladas


na capital paulista, a Musical FM e a Trianon 740 FM. A Central Brasileira de Notícias
(CBN) foi outra rádio que optou por lançar seu website associado a um provedor:

A emissora inaugurou o primeiro site nacional de net-escuta de notícias


em tempo real, no qual o usuário pode interagir na programação através
do e-mail, com sugestões de pauta, comentários e eventuais críticas às
reportagens apresentadas (BIANCO, 1999, p. 219).

Durante os anos 2000, os meios de comunicação passaram por uma revolução


devido ao advento da internet, e de lá para cá, as mudanças foram constantes e
intensas, inclusive nas emissoras de rádio.
Se no lado empresarial houve uma busca incessante pela manutenção e pela
descoberta de formatos que pudessem atender a seus públicos, na vertente da
produção acadêmica o desafio perpassava por compreender os novos fenômenos e
elevá-los ao patamar da teorização, pois as mudanças e as novidades tecnológicas
passaram a ocorrer em uma velocidade, até então, nunca atingida – o que se
prescrevia em determinado momento, subitamente, já não servia de referência para
outro momento bem próximo.
Paralelamente, no campo tecnológico, o governo brasileiro trabalhava, junto com
os pesquisadores da área, na busca de um modelo digital adequado para as
transmissões radiofônicas e televisivas no país. Enquanto isso acontecia, o rádio ia
ficando à margem, sofrendo os impactos das tentativas e dos investimentos
empreendidos sem êxitos na corrida tecnológica.
No que se refere à TV, por sua vez, um novo formato digital foi adotado em
novembro de 2003, o ISDB-TB – uma evolução do padrão japonês com a adição de
recursos desenvolvidos em centros de tecnologia e universidades brasileiras.
Para o rádio, a definição tecnológica só chegou dez anos depois, em novembro
de 2013, quando o governo federal decidiu que os canais de frequência modulada
(FMs), utilizados até então pelas emissoras de TV, seriam liberados à migração nas
emissoras de rádio de Amplitude Modulada (AMs), ou seja, transformando todas as
emissoras do país para a tecnologia FM.
22

Tecnologicamente é isso que ocorre atualmente no Brasil – um processo de


migração das emissoras de rádio AMs para FMs, permitindo melhor qualidade de
transmissão sonora.
Ainda não temos, em território nacional, canais digitais com subcanais, como
ocorre em outros países. Tais canais permitem que a emissora possa trabalhar com um
segmento “carro-chefe” e seus subcanais com outras editorias, possibilitando um
formato de programação diferenciada:

O sistema digital, seja qual for, traz uma série de vantagens e uma delas
é a possibilidade de multiprogramação (multicast), uma vez que a
digitalização permite a divisão de frequência em dois ou três canais
diferentes, capazes de operar de forma simultânea e com a
programação diferente. A agregação de informações complementares,
como textos, fotos, gráficos, vídeos também cria novos horizontes para o
veículo no rumo multimídia, um dia tido como moribundo (NEUBERGER,
2012, p. 137).

No contexto acadêmico, várias teorias despontaram nos últimos anos, com o


propósito de dialogar sobre a construção do novo rádio tanto na esfera da produção de
conteúdo, quanto no âmbito da veiculação, por meio de novas plataformas
hipermidiáticas.
Em consequência das contínuas discussões sobre a referida questão, diversas
teorias e conceitos foram construídos no universo científico-acadêmico no intento de
que uma nova denominação para o veículo fosse definida, uma vez que a realidade
contemporânea não se restringia mais à emissora de rádio com transmissão via hertz,
tampouco ao ouvinte que recebia o conteúdo via rádio de pilha.
A partir da virada tecnológica acima relatada, tornou-se possível transmitir
conteúdos radiofônicos (áudios) e ouvi-los no espaço virtual, via internet, pelo
computador, por smartphones, por tablets, por meio de aplicativos e de tantas outras
plataformas.
Professores e estudiosos da mídia digital produziram amplo leque de vertentes
para fomentar e acompanhar as transformações tecnológicas. Pesquisas foram
desenvolvidas para pavimentar as áreas das teorias radiofônicas, das produções
segmentadas, e/ou de novos gêneros para as novas plataformas, além de análises das
23

novas práticas interacionais entre os ouvintes e o meio rádio promovidas pelas


hipermídias.
Nair Prata (2008, p. 76), em Web rádio, Novos Gêneros, Novas Formas de
Interação, descreve esse novo universo possibilitado para a rádio na web e conceitua
este momento do rádio na internet como radiomorfose:

A radiomorfose se dá por vários caminhos, mas esta tese se limita ao


estudo de dois destes pilares, os gêneros e a interação. Nesse processo
de metamorfose, os gêneros do rádio tradicional se ressignificam,
ganhando novas características, enquanto as formas de interação
passam a ser configuradas a partir das especificidades do novo suporte.

A autora também pontua algumas transformações, por exemplo, as novas


programações e as possibilidades de novos produtos em áudios gerados para a web
rádio. Paralelamente, iniciam-se estudos com o objetivo de identificar como este novo
sujeito, denominado como web ouvinte, interage com o novo suporte midiático.
Luiz Artur Ferraretto (2014, p. 19) apresenta uma atualização e uma releitura dos
conceitos discutidos até então, estabelecendo conceitos que atendem as mudanças
entre o meio tradicional e as plataformas digitais que permitem a transmissão de
conteúdo em áudio:

O termo genérico rádio compreende, portanto, manifestações


diversificadas, a saber: (1) rádio de antena ou hertziano,
correspondendo às formas tradicionais de transmissão por ondas
eletromagnéticas; e (2) rádio on-line, que engloba todas as emissoras
operando via internet, independente de possuírem contrapartes de
antena ou hertzianas, além de produtores independentes de conteúdo
disponibilizado também via rede mundial de computadores. Esta última
modalidade, por sua vez, engloba: (1) rádio na web, identificando
estações hertzianas que transmitem os seus sinais também pela rede
mundial de computadores; (2) web rádio, para emissoras que
disponibilizam suas transmissões exclusivamente na internet; e (3)
práticas como o podcasting, uma forma de difusão, via rede, de arquivos
ou séries de arquivos – os podcasts, nesse caso específico de áudio
com linguagem radiofônica.

Como vimos, Ferraretto define o rádio em duas modalidades: rádio de antena ou


hertziano e rádio on-line, subdividido em rádio na web, web rádio, podcasting e outras
24

práticas semelhantes. No entanto, o autor (2014, p. 20) se posiciona sobre a emissora


tradicional da seguinte forma:

A emissora tradicional, aquela que tem por base a transmissão


hertiziana, segue como principal produtor e distribuidor de conteúdo, em
que pesem todas as alterações introduzidas no ambiente
comunicacional por celular, internet e derivados. Constitui-se em uma
prestadora de serviço que fornece informação sonora ao seu público a
partir de uma outorga legal por parte do governo. As que se configuram
em empresas voltadas à obtenção de lucro representam parte da
parcela hegemônica do rádio brasileiro, carregando para si maior
quantidade de ouvintes.

Por outro lado, Kischinhevsky (2016, p. 17) avança no delineamento dos


conceitos que ultrapassam as barreiras hertzianas e chegam às mídias sociais,
promovendo o conceito de rádio social, já anunciado por ele em 2012. Em Rádio e
Mídias Sociais (2016), o autor amplia a discussão sobre o rádio expandido e o rádio
social, porém, compartilha da opinião de Ferraretto (2014) quando reafirma que a
emissora de rádio hertziana ainda é um veículo de forte atuação local:

Embora tenham passado a alcançar novas audiências, as emissoras de


modo geral permanecem fortemente locais, auxiliando na negociação de
identidade individuais, regionais e nacionais e na construção de
sentimentos de pertença e de comunidades de gosto, e competem hoje
pela atenção dos ouvintes com estações de outras praças e mesmo de
outros países, disponíveis a um clique no browser do computador ou em
múltiplos aplicativos para smartphones.

Para Kischinhevsky, o rádio, na era da convergência das mídias, permite novos


processos produtivos para as emissoras e para os consumidores, além de representar
um desafio aos profissionais que atuam nessa área. Exemplo ilustrativo desses novos
processos produtivos são os aparatos tecnológicos de baixo custo, usados para
criação, produção, edição, distribuição e consumo de conteúdos.
Outra questão relevante nesse âmbito é que a falta de regulação e fiscalização
nas empresas do setor permitiu o crescimento das redes de emissoras por meio de
arrendamentos, o que acabou por se tornar uma estratégia de crescimento de grandes
grupos e de expansão dos segmentos religiosos e partidários.
25

Esse movimento gerou um aumento de demanda de trabalho para os


profissionais da área, pois estes passaram a realizar todas as etapas de produção,
tornando-se, forçosamente, cada vez mais responsáveis pelo produto final. Outro fator
é que a remuneração desses profissionais também passou a ser, em grande medida,
por produtividade.
Contudo, quando se trata da produção de conteúdo para o meio radiofônico, seja
ela para transmissões via hertz ou via internet, Kischinhevsky (2016, p. 55) destaca que
pesquisas e trabalhos sobre o assunto apresentam a permanência dos formatos já
existentes:

No âmbito dos conteúdos, surpreendentemente, persistem formatos e


gêneros consolidados na programação das emissoras desde os anos
1980 ou mesmo antes, tais como informativos, esportivos e shows de
variedades, apesar do avanço das plataformas digitais e de suas novas
possibilidades. Percebe-se, no entanto, o surgimento de novas formas
de interação entre ouvintes e emissoras, bem como dos ouvintes entre
si, sobretudo via mídias sociais e microblogs, extensões dos fóruns e
chats dos primórdios da internet.

Kischinhevsky (2016, p. 72) relata que o rádio tem ampliado o diálogo com outros
meios tradicionais de comunicação, com a finalidade de se promover e também de
recorrer às plataformas e aos canais disponíveis pela internet para realizar o que o
estudioso denomina “serviços de rádio social”:

O que difere, então, os serviços de rádio social de seus antecessores?


Basicamente essas mídias sociais de base radiofônica buscam oferecer
não apenas um espaço de distribuição e de consumo de conteúdos
sonoros, mas também de negociação de identidades, de representação
social e cultural, de comunicação interpessoal e de formação de
comunidades de gosto. Neles, é necessário – ou desejável, para
desfrutar de uma série de funcionalidades – criar perfis de usuário e, a
partir daí, o consumo de arquivos sonoros gera dados que muitas vezes
alimentarão sugestões de novos conteúdos e também de amizades com
outros usuários.

Semelhantemente ao ocorrido nos anos 60, com o surgimento das FMs, que
proporcionou às emissoras de pequeno porte estar em empresas, consultórios, entre
outros, os novos softwares também permitiram o crescimento significativo de rádios
26

corporativas e customizadas. Essas cresceram em bancos, concessionárias de


ferrovias, supermercados, shopping centers e cadeias de fast food, indicando que
vários ramos de atividades têm investido no rádio como meio de comunicação direta
com seus públicos.
Tal fenômeno, por exemplo, constitui um dos desafios enfrentados pelas
emissoras tradicionais, pois estas acabam perdendo os investimentos publicitários das
empresas que passam a fazer uso dos novos softwares. Muitos enfrentamentos entre a
radiofonia e os meios digitais permanecem, e outros estão por vir.
O avanço nas interações apresenta-se por meio da distribuição de conteúdos
radiofônicos via internet nas diferentes plataformas disponíveis, redefinindo as práticas
interacionais e desenvolvendo novas modalidades de recepção, “reconfigurando o rádio
como instância de mediação sociocultural. É possível, no entanto, identificar mais
continuidades que rupturas no processo comunicacional” (KISCHINHEYVSKY, 2016, p.
124).
No sentido dado pelo autor (2016, p. 134), o desafio das emissoras hertzianas,
no mercado globalizado e segmentado, é assumir-se como meio de comunicação
fortemente local, interagindo com os ouvintes por meio de identificação, por serviços de
utilidade pública e pela análise de informações locais e regionais aprofundadas e
contextualizadas:

O rádio é o meio de comunicação eletrônica mais local jamais


desenvolvido, mesmo tendo hoje alcance planetário. E é esse favor que
leva os ouvintes a interagir com os comunicadores nas mídias sociais ou
através de aplicativos, a contribuir com informações, a repercutir
comentários e notícias, em suma, a se identificar com determinada
emissora ou serviço”.

É possível compreender os diversos caminhos percorridos pelo meio radiofônico


com a finalidade de transcender os obstáculos do tempo e da evolução tecnológica. As
pesquisas nos trazem informações do crescimento do rádio tradicional em portais na
internet, seja com estruturas novas de interação ou, até mesmo, de suporte para
simples retransmissão de sua programação convencional, fazendo meramente a
divulgação da respectiva emissora.
27

Outras empresas, como apontam as pesquisas, trabalham com conteúdos


diferenciados pela rádio on-line, segundo a definição de Ferraretto (2014). Já a web
rádio “democratiza” o meio, uma vez que qualquer cidadão tem a possibilidade de criá-
la em uma plataforma da internet, pois, até o presente momento, a web rádio não
necessita de outorga ou de qualquer outro tipo de autorização do governo para seu
funcionamento, ficando sujeita apenas aos custos de produções e de registro de
direitos autorais.
A web rádio também tem se tornado uma alternativa de comunicação entre os
diferentes povos, com o propósito de divulgar suas culturas e bandeiras, como
quilombolas, indígenas, ativistas, entre diversas outras comunidades.
A Rádio Yânde2 é uma das web rádios que tem se destacado na rede, devido a
sua proposta de comunicação colaborativa entre os diversos povos indígenas do Brasil.
Pelo canal é difundida a cultura tradicional dos povos, alcançando as novas gerações
conectadas com a tecnologia e a internet.
Além dessas, as web rádios corporativas, conforme já citado, crescem cada vez
mais na esfera empresarial de grande porte, que as utiliza para falar diretamente com
seus públicos, por exemplo, lojas de departamento como Magazine Luiza, Renner,
Riachuelo, Marisa, entre outras.
O podcasting é outro parceiro da comunicação radiofônica – uma produção em
áudio que está presente em inúmero sites, e é utilizado como estratégias de
entretenimento e informação em portais de diversos segmentos da esfera pública ou
privada. Nota-se que, tanto na teoria como na prática, o meio radiofônico continua
atuante, porém com novas parcerias proporcionadas pelos segmentos tecnológicos e
pelos novos desafios na produção de conteúdos capazes de ocasionar interação com
seu público específico e também com diferentes públicos.
Considerando tal perspectiva, pode-se interpretar que o rádio tradicional tende a
fortalecer o diálogo com seu público local, e a partir dessa interação gerar conteúdos e
estratégias que podem circular em diferentes comunidades virtuais por meio das novas
tecnologias.

2 Rádio Yânde. Disponível em: < http://radioyande.com/ >. Acesso em: 15 jul. 2017.
28

3 CAPÍTULO 2

O OUVINTE: RECEPÇÃO, MEDIAÇÃO, INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE

Dedico este capítulo especialmente para discutir o ouvinte de rádio, figura


essencial para a compreensão de meu objeto de estudo – a interação e a interatividade
produzidas pela mediação da comunicação radiofônica no cotidiano dos participantes-
ouvintes. Para esta finalidade, abordo nesta parte do trabalho alguns autores que, nas
últimas três décadas, desenvolveram estudos e teorias a respeito dos diferentes
momentos da recepção midiática.
As pesquisas recorrentes sobre o meio de comunicação radiofônico perpassaram
pelas mais diversas vertentes, dentre elas, a história do rádio, teorias, técnicas,
linguagens, produções, programações e gêneros referentes a este veículo. Por sua vez,
os estudos e pesquisas sobre recepção sempre estiveram marcados pela audiência,
opinião pública e consumo.
Os paradigmas e as teorias da comunicação também se ocuparam em
apresentar o sujeito receptor em diferentes relações com o meio. A primeira proposição
que desponta nos estudos dessa natureza é a do “receptor passivo”, aliás, a
associação de passividade entre emissor-receptor era evidente conjectura teórica.
As diferentes escolas da comunicação – americanas e europeias –, trouxeram o
receptor em “evolução” com agravantes, principalmente no que concerne à teoria
crítica, para a qual o indivíduo não tinha autonomia em sua decisão. O homem
encontra-se em poder de uma sociedade manipuladora “divertir-se significa estar de
acordo” (HORKHEIMER; ADORNO, 1991).
No entanto, a partir dos anos 80 um novo paradigma, proveniente dos estudos
culturais e interligados à interação entre a recepção e a comunicação, foi sinalizado
para teorizar a temática da recepção. Contudo, este novo molde teórico foi um tanto
quanto criticado, por não dar sustentação à compreensão e à explicação de tantos
fenômenos contemporâneos comunicacionais.
O paradigma apresentado por Canclini (2000) e Martín-Barbero (2001) permitiu
deslocamentos e rupturas que conduziram os estudos e as pesquisas de comunicação
a perspectivas mais abrangentes no que diz respeito ao polo da recepção. O referido
29

paradigma não mostrava a pretensão, ou ao menos não tinha como objetivo, desvendar
os efeitos produzidos por meios e mensagens sobre um receptor passivo. A proposta
dos dois autores era a de investigar o processo de comunicação onde ela realmente se
processava, ou seja, nos contextos dos receptores.
Este avanço teórico vai ao encontro de um receptor localizado culturalmente,
capaz de criar sentidos próprios para os conteúdos e os formatos veiculados pelos
meios de comunicação de massa, ou de, no mínimo, negociá-los a partir de seus
referenciais.
De acordo com essa perspectiva, o receptor deixa de ser visto como um mero
consumidor passivo dos produtos culturais de massa ou como ‘alienado’ do processo
de produção de sentidos. Contrariando as correntes teóricas de então, o receptor passa
a ser visto como um “coprodutor” desses processos.
Obviamente, a produção de sentidos a que os autores se referem não é
simétrica. Tampouco caracterizam uma coprodução no sentido de compartilhar a
concepção dos produtos de massa, uma vez que a indústria cultural ainda continua a
produzi-los. Entretanto, este mecanismo, em sua heterogeneidade, produz outros e
diversos sentidos para o que é emitido pela indústria cultural.
Apesar dessas constatações, ainda se tem dois sujeitos – o emissor e o receptor
–, e nesta relação entre eles, que não é direta, emerge o papel das mediações. Estas
são constituídas por elementos que formam a urdidura onde o tecido cultural se realiza.
Trama esta onde a atuação dos produtos massivos deve ser analisada e, pela qual, se
faz possível compreender a apropriação cultural realizada pelo receptor.
Parafraseando Martín-Barbero (2001, p. 274), a mediação pode ser entendida
como um conjunto de influências que estrutura, organiza e reorganiza a percepção da
realidade na qual está implícita, ou explícita, tal realidade. As mediações produzem e
reproduzem os significados sociais, sendo o “espaço” que possibilita compreender as
interações entre a produção e a recepção. O lugar privilegiado para abordar as
mediações tende a ser, portanto, o cotidiano: “O campo daquilo que denominamos
mediações é constituído pelos dispositivos através dos quais a hegemonia transforma
por dentro o sentido do trabalho e da vida da comunidade”.
30

Por muito tempo esta dimensão da vida foi negada pelas teorias e pela política
que, ao tratarem os amplos setores da sociedade, apenas os consideravam sob a ótica
da produção e da luta reivindicatória, respectivamente. Por não estar diretamente ligada
ao sistema produtivo, a cotidianidade foi considerada sem espessura política, portanto,
também sem interesse cultural.
A mudança de postura permitiu a compreensão do espaço doméstico, até então,
considerado um obstáculo para a conscientização política, ou tido como possibilidade
limite para o indivíduo exercer sua criatividade. A inclusão desses elementos, na
discussão sobre a relação entre comunicação e cultura, permite dizer que, na realidade,
os estudos de recepção nada mais são do que estudos sobre identidade, uma vez que
buscam identificar as diferenças entre apropriações, leituras, percepções,
entendimentos, valorações, produções de sentidos, entre outros.
Enquanto Martín-Barbero (2001) buscava entender a produção mediada entre o
sujeito e os produtos comunicacionais, Canclini (2000) pesquisava as transformações
culturais geradas pelas tecnologias da época, com a finalidade de averiguar se, naquele
sentido, a mediação não estava somente entre o sujeito e os meios de comunicação,
mas também entre o sujeito e a expansão cultural promovida pelas tecnologias e pelos
processos de expansão urbana.
Depois de seguir pesquisando os diversos caminhos entre as diferentes culturas,
Canclini (2000, p. 348) aponta que tais transformações trazem um novo conceito de
cultura, a qual o autor define como cultura híbrida:

As hibridações...nos levam a concluir que hoje todas as culturas são de


fronteira. Todas as artes se desenvolvem em relação com outras artes: o
artesanato migra do campo para a cidade; os filmes, os vídeos e
canções que narram acontecimentos de um povo são intercambiados
com outros. Assim, as culturas perdem a relação exclusiva com seu
território, mas ganham em comunicação e conhecimento.

A partir dos anos 2000, devido aos fenômenos propiciados pela internet, a
abordagem trazida por Canclini desponta em torno de novas significações para a
recepção e a mediação, além de incluir ao processo comunicacional as práticas
interacionais e interativas.
31

Mauro Wilton de Sousa (2006, p.15) aborda a recepção “sobre novos olhares”,
ele que, até então, tentava “desvendar” o lado oculto do receptor, traz nesse momento
uma mediação reinterpretada:

A mediação dos diferentes suportes técnicos passou a ser


estruturante na forma como se realizam e são interpretadas as
diferentes práticas de comunicação social. A concepção de
comunicação social contemporânea e o debate sobre o seu lugar
social passaram a se vincular à análise do lugar social dos
diferentes media.

No encadeamento dessa reflexão, o autor demonstra sua preocupação com a


redução das análises dos processos de comunicação social, que ficariam cada vez
mais restritas aos diferentes meios tecnológicos. Sousa (2006, p.16) faz uma crítica aos
novos modelos de discursos, nos quais o reconhecimento e a valorização das novas
tecnologias são maiores que os da própria comunicação, colocando as primeiras como
a fundamental categoria de explicação da sociedade contemporânea. “Sabe-se a razão
de afirmar que a comunicação passou a ser vista como ‘poder de gestão da técnica’,
ou, por que a crítica da comunicação torna-se uma crítica da tecnocomunicação”.
Com a crítica exposta acima, por conseguinte, Souza (2006, p.16) ainda ressalta
a necessidade de novos olhares para os conceitos atribuídos à recepção, nos quais as
teorias estariam voltadas para as recepções midiáticas ou para os produtos midiáticos:

A temática da recepção estaria num quadro mais amplo das relações


sociais e culturais, em seu jogo de significações históricas, incluindo,
mas não dependendo apenas dos media. A recepção mediática, mesmo
na compreensão contemporânea limitada e predominantemente ligada à
relação com os media, tem sua atualidade precisamente por ser o eixo
mais visível e sensível por onde se pode aquilatar a significação do
processo de comunicação como um todo, no qual os media se colocam
como mediação. Nesse sentido, os estudos que envolvem o receptor, o
ouvinte, o público e o consumidor apenas ante os media poderiam
reproduzir ressonância de impactos comportamentais diversos, próximos
e circunstanciais, e pouco do que traduzem enquanto componentes de
um jogo político e cultural mais vasto.

Em tais perspectivas, Sousa (2006) indica a necessidade veemente de outros


estudos sobre a temática da recepção, urgência que também é citada por outros
32

autores, por exemplo, o francês Claire Belisle3. Estudos estes que fossem voltados às
investigações entre as interfaces e os ângulos da etnografia e da psicologia; da
interlocução e da linguagem; das práticas sociais e da semiologia; da genealogia e das
práticas culturais; da interatividade do sujeito na recepção, ou dos estudos sobre
estética da recepção, entre tantas outras possibilidades. De acordo com Sousa (2006,
p. 23), as pesquisas que envolviam o construto recepção em vigência naquele
momento apontavam problemáticas parciais e transversais:

Mas é sobretudo a visão ressignificada da recepção, numa dimensão


que a envolve mais com diferentes mediações sociais e culturais do que
apenas com a conexão imediata da exposição e uso a diferentes media,
que parece marcar a direção contemporânea da pesquisa em recepção,
mesmo nas tradições de estudos de comunicação que começam a se
evidenciar no Brasil e na América Latina.

O mexicano Guillermo Orozco Gómez (2011, p. 28) amplia o conceito de


mediação, destacando que ela possui múltiplas instâncias, por exemplo, a tecnologia, a
política, a economia e a cultura. A mediação múltipla, na perspectiva de Orozco Gómez,
supõe combinações específicas de interação, sendo estas sempre dinâmicas, nunca
estáticas. Ao avançar em suas pesquisas, o autor foi construindo uma série de
conclusões parciais:

Isso levou ao que se tornou central em minha proposta do “Modelo da


Mediação Múltipla”, em que fui destacando e substanciando uma série
de mediações intervenientes nos processos comunicativos, tanto a partir
do emissor quanto da mensagem e de sua circulação, bem como a partir
da recepção, de seus processos, de seus contextos, de seus cenários e
de suas audiências.

De acordo com Orozco Gómez (2011), o Modelo da Mediação Múltipla permite


entrelaçar diferentes mediações, até mesmo com setores concretos de audiências, com
os quais há possibilidades de diálogo, permitindo um “jogo de mediação”, podendo se
obter resultados mais profícuos de apropriações de sentidos, por parte dos
participantes, na comunicação.

3 BELISLE, Claire et al. Médias, la recéption revisitée. Revista Media Pouvoirs, n. 25,1992.
33

Por outro lado, Orozco Gómez também destaca que os novos elementos
proporcionados pelas novas tecnologias da informação, como as convergências e as
interatividades, geraram, a priori, muitas dúvidas em relação às teorias propostas até
então. Segundo o estudioso, muitos teóricos declararam o fim dos meios tradicionais
devido a suas audiências nas redes sociais, gerando mecanismos do tipo “antes de” e
“depois de” cada rede social, para se explicarem as mudanças interacionais.
Na perspectiva do autor (2011, p. 29), “as maiores ‘minas’ no campo da
comunicação, no entanto, vieram da culturologia”:

Contudo, a cultura e os culturólogos intrometeram-se demasiado, para


meu gosto, em um campo que não lhes pertence totalmente, nem se
reduz ao hermêutico ou ao identitário. Esse é um problema maior.
Muitos quiseram excluir o papel e, principalmente, o peso dos meios e
da tecnologia da mediação da comunicação. De repente, parecia que
tudo se tornara significado e interpretações, e se havia acabado a
materialidade, essas outras presenças carregadas de sentido e capazes
de influenciar os processos comunicativos.

Portanto, Orozco Gómez (2011, p. 30) afirma que, após as buscas teóricas para
entender o novo contexto, o mundo acadêmico da comunicação voltou a reconhecer a
centralidade do comunicativo, da mediação midiática e de sua relação composta com o
poder:

Essa centralidade engloba tanto o nível estrutural, político-mercantil,


caracterizado pela centralização excludente do controle dos meios e das
tecnologias no mundo, quanto o nível mais interpessoal, em que o poder
se conecta com o emocional das audiências, através das próprias
narrativas ou discursos dos programas e a partir daí vai à dimensão
racional, combinação necessária para o gerenciamento das audiências
em tantos cidadãos.

Para Orozco Gómez (2011, p. 30), o desafio deverá ser enfrentado com a
educomunicação, a qual ele coloca como “condição comunicacional” que permite
transformações, no âmbito de criação e de participação efetiva dos sujeitos nas
audiências, a partir de suas interações com os meios:
34

Para a educomunicação, focalizada historicamente em modificar a


interpretação dos produtos midiáticos feita pelas audiências, o desafio
contemporâneo maior é, agora também e principalmente, formar as
audiências para assumirem-se como emissores e interlocutores reais,
não somente simbólicos dos meios e dos demais produtos
intercambiados nas redes sociais.

Apesar de o autor ter como foco central de suas pesquisas as produções


televisivas, e por consequência o audiovisual, as análises apontadas por Orozco
Gómez (2011) englobam o “sujeito audiência” que circula atualmente pelos territórios
materiais e virtuais dos meios de comunicação, sendo esta noção de sujeito
compreendida no contexto situado pelo autor, ela pode também ser estendida ao
conceito de ouvinte, seja ele de qual meio for.
Outros conceitos paralelos em questão, e que avançaram nos últimos anos nas
pesquisas de comunicação, são os de interação e de interatividade. Estes são
aplicados, de modo geral, tanto para as relações com as mídias quanto para as
vivências do dia a dia, ou cotidianas. Segundo Pierre Levy (1999), o termo interação, se
considerado de forma ampla, destaca “a participação ativa do beneficiário de uma
transação de informação” (LEVY, 1999, p. 79). Para o estudioso francês, o receptor de
informação nunca é passivo, sempre há uma interação com o conteúdo proposto.
Já o autor Alex Primo (1998) sugere, a partir da pragmática da comunicação e do
interacionismo piagetiano, dois tipos de interação: a mútua e a reativa. A primeira se
apresenta como plena e a segunda como limitada.
Esses tipos interativos são discutidos em diferentes dimensões: do sistema, do
processo, da operação, do fluxo, da relação e da interface. A interação mútua se
caracteriza como um sistema aberto, enquanto a interação reativa se caracteriza como
um sistema fechado.
A interação mútua caracteriza-se por relações interdependentes e processos de
negociação nos quais cada interagente participa da construção inventiva da interação,
afetando-se mutuamente. Por outro lado, a interação reativa é linear, limitada por
relações determinadas pelo estímulo e resposta, sendo esta roteirizada. Deste modo, o
conceito de interatividade proposto por Primo (1998) está relacionado à interação
mútua, na qual existe a possibilidade de construir interfaces.
35

Em outro trabalho, Primo (2013, p. 27) avança na abordagem dos novos


conceitos proporcionados pelas tecnologias, como: convergências das mídias, das
culturas, dos interesses. De modo que esses novos conceitos são relacionados a
conceitos tradicionais, por exemplo, a comunicação de massa e a cultura de massa.
Nesse sentido, o autor apresenta contradições entre as interações mediadas e
‘remediadas’:

O contraste entre a comunicação massiva e outros níveis midiáticos só


poderá ser plenamente compreendido se os movimentos interacionais
forem estudados em todas as suas dimensões e, de preferência,
enquanto eles ocorrem. Ou seja, é preciso observar-se como os
interagentes envolvidos negociam suas posições de produção e
recepção e como elas se alternam (as condições de interação).

Em 2005, Norval Baitello Junior (2014, pref. p. 2) e outros pesquisadores, como


José Eugenio de Oliveira Menezes, promoveram um debate em um seminário cujos
trabalhos foram transformados no livro intitulado A era da iconofagia. A abordagem
discutida pelos autores nesse trabalho promoveu reflexões profícuas sobre imagem,
comunicação, mídia e cultura, nas quais Baitello Junior pontua que:

A comunicação não é apenas ferramenta do homem, ou seu


instrumento; a cultura não é apenas um entorno de cenografia ou um
pano de fundo decorativo. Tanto os processos comunicativos quanto os
processos culturais se desenvolvem como ambientes sociais e históricos
complexos que não resistem a visões reducionistas ou simplificadoras.
Assim, a necessidade de olhares transversais num mundo que
frontalmente ainda se encanta com os próprios dígitos foi a motivação
primeira deste livro que nasceu da reunião de alguns olhares críticos
sobre os processos desencadeados pelos meios de comunicação e seu
efeito sobre o meio ambiente cultural no qual vivemos.

Nesse contexto, o foco adotado pelo autor propõe reflexões dos fenômenos de
comunicação que estão aquém dos meios das mídias, Baitello Junior (2014, pref. p. 4)
retoma a comunicação humana produzida de um ‘corpo’ emissor para a outra ponta: a
do ‘corpo’ receptor. Nessa perspectiva, ele dialoga sobre o vínculo entre a comunicação
e a cultura e vice-versa:
36

Um projeto de cultura pressupõe um projeto comunicativo, mas também


todo projeto de comunicação trama junto seu projeto de cultura. Se a
comunicação é construção de vínculos, a cultura é o entorno e a
trajetória complexa dos vínculos, suas raízes, suas histórias, seus
sonhos e suas demências, seu lastro e sua leveza, sua determinação e
sua indeterminação.

Baitello Junior (2014, parte II, cap. 1, p. 3) ressalta que, se os processos


comunicativos são construções de vínculos, estamos em franca expansão devido à
rede de objetos que nos proporciona essa comunicação, ou seja, os meios e as mídias:

Expansão significa aqui não apenas no sentido do espaço e do tempo


cada vez maiores; significa também relações internas cada vez mais
numerosas. Há, portanto, um crescimento para fora e um crescimento
para dentro. Um vetor nos conduz ao infinito e outro nos conduz ao
transfinito. A consequência mais imediata é que o instrumental de que a
ciência dispunha para a investigação dos processos comunicativos
seguramente não consegue mais dar conta da complexidade do objeto.

No sentido apresentado na citação acima, o autor avança em abordagens que


contextualizam o título do livro sobre o culto à imagem na sociedade atual e pontua que
há uma crise da visibilidade, proporcionada pelo excesso das mídias e do modelo visual
vigente. Baitello Junior (2014, parte II, cap. 5, p. 15-16) justifica teoricamente, por meio
dos sentidos humanos, mídias primárias (corpos); mídias secundárias (escritas) e
mídias terciárias (meios eletrônicos) que se fazem necessárias para a reconstrução dos
vínculos, a fim de resgatarmos a audição, e coloca em tese a cultura do ouvir:

Enquanto o som tem como seu principal ambiente o ar, a imagem tem
como seu canal a luz. O ar, quando vibra na produção do som, estimula
a pele. A luz somente o faz quando se transforma em calor. Mas nem
sempre a luz se transforma em calor. A imagem luminosa do cinema, da
televisão e de um outdoor não se transforma em calor. E, portanto, não
atua sobre o corpo todo, não produzindo estimulação tátil. Destina-se
apenas à retina, com um direcionamento pontual. Sua direcionalidade é
distinta, portanto. Para ouvir sons, basta que sejamos passivamente
receptivos, aprendemos a ser passivos. Já para a recepção da imagem,
somos obrigados a ser ativos, a direcionar o nosso olhar para algum
objeto.
37

Para o autor (2014, parte II, cap. 1, p. 17), os processos de comunicação


constituídos pelos meios eletrônicos e virtuais atingiram níveis de construção e
desconstrução entre o emissor e o receptor:

É o caso da violência transformada em show, das transmissões ao vivo


de acidentes e coberturas policiais, das programações tipo mondo cane,
que apresentam anomalias e aberrações, doenças e mutilações,
buscando a qualquer preço os altos índices de audiência.

Em outras palavras, Baitello Junior (2014, parte II, cap. 1, p. 18) diz ser
necessário retomarmos os sentidos para criar novos vínculos:

Em primeiro lugar o resgate do sentido. E o sentido não é apenas mais


uma construção arbitrária e autorreferente do espírito, mas um conjunto
de vínculos maiores que levam em conta o homem na sua dimensão
histórica, política e social, mas também psicológica e antropológica, ou
seja, em sua inteira complexidade, com suas potencialidades e suas
necessidades. O desafio maior será integrar as áreas do saber que
trazem aportes essenciais para as ciências da comunicação.

Nota-se, nas produções do estudioso, a sua defesa pela reconstrução de um


novo modelo para a comunicação, ou seja, um modelo que possa estabelecer novos
vínculos, menos acelerados e mais humanizados. Não é simplesmente ignorar o que
vivemos atualmente, com tantos avanços e relacionamentos tecnológicos, ao contrário,
é um convite a refletirmos sobre o modelo atual dos meios e das mídias eletrônicas ou
digitais; das produções de conteúdos para essas mídias; do consumo e do excesso de
imagem “imposto” por um “regente invisível”, um mercado voraz.
Para retomar o que foi explicado acima, pode-se inferir que a abordagem de
Baitello Junior é por uma cultura do ouvir, sobre a qual o pesquisador faz reflexões
sobre a própria natureza do corpo humano, onde a audição é perceptível para outras
sensações, para outros tempos-espaços, relembrando que a comunicação sai de um
corpo emissor para um corpo receptor, de modo diferente do intenso consumo e da
exposição de imagens que vivenciamos por meio das mídias sociais, as quais têm
proporcionado, aos indivíduos, respostas rápidas e discursos efêmeros.
38

Pensando por essa linha de raciocínio, na cultura do ouvir proposta por Baitello
Junior, o meio rádio estaria em vantagem diante dos outros meios de comunicação no
que diz respeito à audição. Vários autores abordaram anteriormente o tema, relatando
as diversidades das funções auditivas e as características peculiares do ouvido e do
ouvir.
Em síntese, a função auditiva é formada a partir do quarto mês de gravidez,
permitindo ao bebê sentir os sons emitidos pelo corpo da mãe, gerando sua condição
de pertencimento. Wulf (2002), em Cosmo, Corpo e Cultura, pontua que, além de ser o
ponto de equilíbrio do corpo, o ouvido tem a capacidade de captação de sons em 360
graus, enquanto a visão permite a captação de imagens panorâmicas ou focadas na
direção dos olhos.
Menezes e Baitello Junior fazem uma releitura de diversos autores e de seus
respectivos conceitos para dar sustentação à cultura do ouvir. Menezes (2007, p. 83)
relata a relação promovida pelo rádio com os indivíduos no dia a dia da cidade, por
meio de seus locutores e conteúdos, dentro do tempo-espaço marcado pelas 24 horas
do relógio, pela troca e consumo das informações locais e pelos vínculos culturais
estabelecidos:

Os diversos meios de comunicação atuam de forma complementar na


sincronização das atividades ou processos de vinculação dos habitantes
nas grandes cidades. No universo dos meios, o rádio tem o seu lugar
especial, não é um meio do passado, mas uma das grandes expressões
da cultura do ouvir. Atualmente, tanto pode ser captado através de
ondas eletromagnéticas, como através de outros formatos tecnológicos
de mídias sonoras.

Tanto Menezes (2007, p. 23), quanto Baitello Junior, a seu modo, buscam
entender e provocar reflexões no que diz respeito às relações humanas diante das
mídias digitais, a partir das mídias primárias, secundárias e terciárias, conforme citadas
anteriormente, no intento de chamar atenção ao que, para os dois estudiosos, está
olvidado nos estudos da comunicação. Os corpos estão antes e depois de máquinas, e
nesse entremeio, se faz essencial escutar quais são os vínculos:
39

Utilizamos a palavra vincular para nos referirmos a laços que unem dois
espaços. Vincular no sentido de se “ter ou criar” um elo simbólico ou
material, constituir um espaço (ou um território) comum, a base primeira
para a comunicação. Assim, entendemos que a sociedade se constitui
por um conjunto de vínculos.

Diante desta breve pesquisa teórica, verificam-se alguns apontamentos


relacionados aos conceitos de recepção, mediação, interação e interatividade, e
também o modo como os autores escolhidos têm abordado, com críticas e ressalvas, os
diferentes formatos de pesquisas interligados à comunicação, à cultura e às novas
tecnologias, ante as infinitas possibilidades de “resultados”, ou mesmo de
apontamentos em curtos períodos, considerando que a velocidade permitida pelas
mídias digitais produz, cada vez mais, efeitos efêmeros.
Meu propósito, a partir do aporte teórico dialogado neste capítulo, é o de ter
recursos para a análise do escopo deste trabalho acadêmico, investigando como o
indivíduo, neste caso, o indivíduo-ouvinte, está “transitando” entre os meios tradicionais
– mais especificamente o meio radiofônico –, e as novas plataformas midiáticas,
perpassando ações descritas pelas teorias da “passividade” para a “interatividade”. E,
em acréscimo, com base nos conceitos de Baitello Jr. e Menezes, perceber quais são
os possíveis vínculos estabelecidos no contexto desta pesquisa.
40

4 CAPÍTULO 3

MIRASSOL D’OESTE: ESPAÇO/TEMPO

Neste capítulo apresento o percurso metodológico desenvolvido para pavimentar


este trabalho, no qual a pesquisa foi dividida em três etapas.
Na primeira fase, investiguei a bibliografia referente à história do município de
Mirassol D’Oeste e entrevistei duas radialistas e um jornalista que atuam nas emissoras
de rádio da cidade, há quase trinta anos. Essas entrevistas foram feitas pelo método
narrativo, o que me pareceu mais adequado “tendo em vista uma situação que encoraje
e estimule um entrevistado a contar a história sobre algum acontecimento importante de
sua vida e do contexto social” (BAUER; JOVCHELOVITCH, 2002, p. 93).
Deste modo, o método apresentado por esses autores se mostra consoante com
a proposta da pesquisa, por instigar os entrevistados a relatarem suas versões e
perspectivas da história e da interação atual da mídia radiofônica com a comunidade
local.
Segundo Ferreira (2008), o povoado de Mirassol D'Oeste foi fundado em 28 de
outubro de 1964. O nome foi dado ao município em homenagem à cidade paulista
homônima onde residia a família do idealizador-fundador, Mirassol, no estado de São
Paulo. No passado, a área era ocupada por índios Bororos, também chamados pelos
desbravadores paulistas de índios Cabaçais. Atualmente, os poucos descendentes
desta etnia estão em reservas indígenas em Barra do Bugres (MT).
O desenvolvimento da região começou efetivamente com a construção da ponte
sobre o rio Paraguai, tendo por base o polo de Cáceres, no ano de 1960. A colonização
dessa área, impulsionada pelos projetos dos governos federal e estadual, que, entre
outras vantagens, concediam incentivos fiscais à colonização do Centro-Oeste, como
forma de fomento à ocupação da Amazônia. Com tais iniciativas governamentais,
muitos paulistas das cidades de Fernandópolis, Jales, Mirassol, Santa Fé do Sul, São
José do Rio Preto, Votuporanga, entre outras da circunvizinhança, migraram para a
nova localidade, trazendo consigo muitos sonhos de prosperidade para a região.
41

Mapa 1 - Mapa de Mato Grosso Mapa 2 - Mapa de Mato Grosso

Fonte: Imagem da internet. Fonte: Wheberson Lopes.

A economia do município está centrada na pecuária, tanto de corte como leiteira,


assim como na agricultura, principalmente a de cana-de-açúcar e de culturas de
subsistência. Um tímido investimento na área de turismo rural também tem despontado
nos últimos anos.
Existe uma variedade de lojas no comércio local, principalmente do setor
agrícola, por causa da forte influência da agricultura na economia do município.
Segundo dados do IBGE de 2010, a população da cidade está estimada em 24.863
habitantes.
Na área da educação, o município está contemplado com cinco escolas
estaduais, duas municipais, seguidas de duas pré-escolas e duas creches, além de
duas escolas privadas. No que se refere ao ensino superior, a cidade é atendida por
alguns cursos da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).
Mirassol D’Oeste conta hoje com três emissoras de rádio: uma AM, outra FM e
ainda uma FM Comunitária. Além destas, há uma retransmissora de TV, afiliada ao
canal Record, com uma programação local de 12 horas semanais. Foi neste cenário
histórico-social que investiguei a comunicação radiofônica e sua mediação na cultura
local.
42

Fotografia 1 – Sede da Rádio Difusora

Fonte: Maria Góes.

A Rádio Difusora de Mirassol D’Oeste - AM foi inaugurada em 12 de outubro de


1983, com programação jornalística, entretenimento e esportes, sendo a pioneira no
município. Em agosto de 2003, passou a ser retransmissora da Rede Transamérica no
segmento hits, sendo denominada Transamérica Hits 1010 KHz.
No entanto, após seis anos de funcionamento, o diretor da emissora sentiu a
necessidade de retornar às origens, com a programação local e regional voltada aos
ouvintes e anunciantes da região. Há cinco anos a emissora está associada à Rede
Católica Imaculada, com programação retransmitida diretamente da Rede em Brasília.
Contudo, a emissora produz uma programação local própria pela manhã “Jornalismo
1010 – a notícia”, e o programa esportivo “Bate Bola Difusora”, que traz informações
locais, estaduais e nacionais.
Além da programação acima descrita, a Rádio Difusora faz também a
retransmissão da missa dominical da manhã e de alguns anúncios locais. A
programação ainda é retransmitida por um portal na internet, mas não há mecanismos
de interação com o ouvinte nesta modalidade.
43

Fotografia 2 – Sede da Rádio 14 de Maio

Fonte: Maria Góes.

A segunda emissora a se instalar na cidade foi a Rádio 14 de Maio, uma FM


comunitária, inaugurada em 2002. Transmite 24 horas de programação produzida
localmente, oferecendo ao ouvinte prestação de serviços, jornalismo, entretenimento e
programas populares para a comunidade. Em 2004, passou também a retransmitir sua
programação por meio de um portal na internet, sem qualquer diferenciação da
programação convencional. O site é alimentado com notícias atualizadas, todavia,
permite interação com o ouvinte apenas por meio de enquetes.

Fotografia 3 – Sede da Rádio Continental

Fonte: Maria Góes.


44

A Rádio Continental foi a terceira emissora instalada em Mirassol D’Oeste.


Inaugurada em 28 de julho de 2007, é uma emissora FM comercial e faz parte do grupo
Rede Continental, que possui outras 11 rádios em Mato Grosso. Na sua programação
apresenta músicas, entretenimento e jornalismo local e regional.
Diferentemente das duas primeiras, a Rádio Continental possui um portal com
conteúdos comerciais e musicais que divulga a própria emissora, além de espaços para
que o ouvinte possa interagir por meio de solicitação de músicas, envio de recados,
postagens de fotos e promoções. A Rádio oportuniza ainda a divulgação dos endereços
da emissora nas redes sociais, por exemplo, Facebook, Twitter e Youtube, e também
oferece possibilidades de aplicativos para download, para serem utilizados no celular.
Verifica-se que as programações das respectivas rádios diferem apenas no que
diz respeito à utilização das novas tecnologias como suporte. Com exceção da Rádio
Difusora, que oferece maior parte da programação no segmento religioso, as demais
emissoras desenvolvem conteúdos radiofônicos tradicionais, que se encontram
distribuídos em suas programações, tais como, jornalismo, entretenimento e músicas.
Por meio de entrevistas, com os três participantes-comunicadores desta
pesquisa, obtive dados com os quais analisei as informações que permeiam a produção
da programação das emissoras de rádio em Mirassol D’Oeste. Para fins metodológicos
de identificação dos dados gerados, nomeei os participantes-comunicadores da
seguinte forma: Comunicador A, para me referir ao participante-comunicador da
emissora Rádio Difusora; Comunicador B, ao da Rádio 14 de Maio; e Comunicador
C, ao participante-comunicador da Rádio Continental.
Para propósitos da análise, o conteúdo da programação radiofônica está dividido
em três segmentos, a saber: jornalismo, entretenimento e musical. Vejamos:
De acordo com o Comunicador A (Rádio Difusora), o principal produto da
emissora é o radiojornal: “Apesar de a emissora retransmitir uma programação nacional
religiosa, os horários que mais temos audiência são nos dois programas produzidos
localmente, o 1010 a Notícia e Bate Bola Difusora”.
Segundo o Comunicador B (Rádio 14 de Maio), o horário de maior audiência da
emissora também é o do segmento jornalístico: “O jornalismo é o carro-chefe da
45

emissora e que tem mais audiência, ele ocorre entre 11h e 13h, são duas horas de
informação”.
Entretanto, o Comunicador C (Rádio Continental) informou que o programa da
manhã, que mescla notícias, músicas e entretenimento tem a maior audiência da
emissora: “O programa que tem mais audiência é o ‘Bom dia Continental’, o qual eu
apresento. O programa fica no ar das oito da manhã ao meio-dia, com participação do
ouvinte, música, e muita informação”.
Podemos perceber, pelas narrativas de audiências nas programações, que
manter-se informado a respeito das notícias locais é uma das prioridades do ouvinte em
Mirassol D’Oeste. Esses dados refletem a interação deste ouvinte com as ocorrências
locais.
Conforme dados da Pesquisa Brasileira de Mídia 20154, os principais motivos
pelos quais as pessoas ouvem rádio são: a busca por informação (63%), diversão e
entretenimento (62%) e como forma de passar ou aproveitar o tempo livre (30%). Nesse
sentido, o rádio pode ser classificado – ao lado da televisão e da internet – como um
meio de comunicação de utilidade híbrida, voltado tanto para o lazer, quanto para o
conhecimento, referentes aos assuntos importantes do cotidiano dos ouvintes.
No que concerne à programação de entretenimento, o Comunicador A destaca o
programa esportivo – devido ao restante da programação ser a retransmissão religiosa:
“O Bate Bola Difusora está há muitos anos no ar, falamos das notícias do esporte local,
regional e nacional, é feito entre 11h30 e 12h”.
Segundo o Comunicador B, os três períodos têm programação de entretenimento
na emissora, “mas é o período da manhã que continua sendo o primeiro em
participação do ouvinte, à tarde tem uma leve diminuição, à noite diminui mesmo, por
conta da televisão”. Ele informa ainda como é a interação com o ouvinte nos programas
de entretenimento:

4 BRASIL. Secretaria de Comunicação do Governo Federal. Disponível em:


http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-
atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf> Acesso em: 20 abr. 2015.
46

A participação ocorre de várias maneiras. Às vezes nós fazemos alguma


promoção, onde os ouvintes podem enviar cartas para participar, e
temos muito resultado, recebemos muitas cartas. Muito mais que
torpedos e WhatsApp, então nós percebemos que as cartas ainda
predominam. O número de mensagens por cartas ainda é maior que
pelos outros meios. Na última promoção mesmo que fizemos, sorteamos
um tablet, foram quase 500 cartas, poucos torpedos e Whats e poucas
ligações, a maioria dos moradores da cidade mesmo.

O Comunicador C também destacou que o programa matinal de entretenimento


é líder em audiência e participação do ouvinte:

Quando a rádio surgiu, nós pensamos em ter uma programação


diferenciada por ser uma FM, mas como nós estamos numa região
tipicamente sertaneja, e trata-se de uma região bem familiar, as pessoas
acabam tratando você como um ente da família, então nós tivemos que
adaptar, porque nós éramos acostumados com a AM, e agora
estávamos numa FM, porque quando você cria uma linguagem de FM
mesmo, você cria uma distância entre você e o ouvinte. Então, juntamos
uma linguagem de AM com a qualidade de áudio que a FM possibilita,
trabalhamos esse equilíbrio. E isso faz com que temos ouvintes fiéis.
Hoje com as novas tecnologias nossa interação é de várias formas pelas
redes sociais, WhatsApp, mas ainda recebemos muitas ligações e
cartas.

Sobre a programação musical, o Comunicador A informou que, na Rádio em que


trabalha, ela é composta, basicamente, de músicas religiosas. Enquanto o
Comunicador B informa que, em seu contexto profissional, os programas de
entretenimento tocam diferentes segmentos, tendo em destaque uma programação
musical sertaneja e “especiais de cantores”, como “Especial Roberto Carlos”.
O Comunicador C também ressaltou que, nos programas de entretenimento em
sua emissora, os segmentos são variados, e que é realizada uma sequência musical de
determinado “cantor do dia”. Além das programações mencionadas, tanto o
Comunicador B, quanto o C, informaram que atendem pedidos musicais dos ouvintes
diariamente.
Quando questionados sobre a programação transmitida pelo portal na internet,
bem como sobre o acesso e a participação do ouvinte, o Comunicador A disse que não
há interação, pois a emissora retransmite uma programação nacional. Por outro lado, o
Comunicador B relatou:
47

Nós retransmitimos a mesma programação na internet, não temos


nenhuma programação diferenciada para internet. Nós nos inserimos na
internet a partir de 2004 e, gradativamente, ela teve uma receptividade
muito boa. Hoje, de acordo com o provedor que a rádio é hospedada,
nós temos cerca de 3.700 a 4.000 acessos por dia. Então, em função
desse grande acesso, nós transformamos esse portal em um portal de
notícias, além da retransmissão da rádio. E hoje nosso acesso passa de
5.000 acessos diários, não só aqui da região. Como nós temos
estatísticas do próprio provedor, há acessos, talvez seja em função de
moradores de Mirassol e região que estão em outros países, como
Japão, Espanha, Portugal, Inglaterra, Bolívia, então há um acesso
grande desses países. Agora, não é tão grande o acesso aqui dentro da
cidade, ou até onde a rádio chega, nós identificamos pelos acessos que
são de locais onde a rádio fisicamente não chega.

Comunicador C:

Com a globalização a internet é indispensável, nós recebemos muitos


recados por Facebook, e pela nossa página de pessoas que não estão
no Brasil, que estão na Espanha, por exemplo. Nós temos vários casos
de ouvintes que eram daqui e agora estão em outros países e nos
ouvem pela internet. É muito bacana saber que de outro continente tem
gente te ouvindo. Mas a nossa programação é a mesma retransmitida
na internet, o que muda é que temos mais possibilidades de interação
do ouvinte.

Para finalizar, perguntamos aos três participantes-comunicadores sobre suas


próprias percepções no que diz respeito à relevância do meio radiofônico. Então, o
Comunicador A ressaltou a ‘simultaneidade’ da presença do rádio na realização de
tarefas diversas da vida diária do ouvinte e a capacidade de ‘transformação ou
adaptação’ do veículo ante as mudanças tecnológicas:

A minha avaliação sobre o rádio é que as pessoas ouvem música,


informações, propaganda, comerciais, sem ter que parar o que está
fazendo, mesmo que seja pela internet, então pode mudar com as
tecnologias, mas acabar não, ele informa a população tanto de cidades
pequenas como de grandes.

Por sua vez, o Comunicador B destaca a familiaridade que ouvintes, de


diferentes classes sociais, têm com o veículo radiofônico. Este, fazendo-se presente em
48

diversos momentos da vida cotidiana do ouvinte, desde os de trabalho até os de


descanso e de intimidade em seu lar:

O rádio ainda continua sendo o fiel companheiro, seja do mais humilde


até o maior empresário. Porque é um hábito, quando a gente está em
casa, cansado de ver TV, liga-se o rádio, sintoniza uma emissora. E
também no carro, já entra no carro e liga o rádio, assim faz a dona de
casa, o funcionário no comércio, na empresa, o sitiante, então é um
hábito, você tem uma companhia, para mim o rádio vai ser eterno.
Nunca vai acabar, até porque hoje pelo celular você sintoniza, na
internet em qualquer lugar do mundo, a televisão não tem esse alcance
de atender o ouvinte com a comunicação diária do local, além do que é
uma companhia que cada vez mais as pessoas buscam.

O terceiro entrevistado, o Comunicador C, enfatiza a ‘força da informação


radiofônica’ no atendimento da necessidade do ouvinte em saber o que se passa
em seu entorno diariamente, e menciona o ‘valor agregado percebido’ que o
veículo traz à vida do seu ouvinte:

O rádio não perdeu a sua força, pelo contrário, nesse tempo de


depressão, as pessoas têm buscado no rádio a informação mais
próxima, da sua cidade, do seu bairro, além de tudo buscam
companhia. Eu tenho casos aqui de cidades vizinhas até, várias
pessoas que já relataram aqui no programa, o quanto acompanhar
uma programação de rádio melhorou a vida delas, não se sentem
tão só.

Ao ler os relatos acima, percebo a comunicação radiofônica como mediadora da


cultura local, uma vez que a interação com o ouvinte reflete-se na produção de sentido
de pertença, como percebemos nas narrativas dos participantes-comunicadores B e C,
ao se referirem aos ouvintes que eram residentes no local e que hoje, apesar de
estarem morando em outros países, continuam a ouvir as emissoras da cidade de
outrora, a fim de interagir com amigos e familiares e também de se informarem das
notícias de lá.
49

5 CAPÍTULO 4

EFEITOS E SENTIDOS DO RÁDIO – ALUNOS DO EJA 2015 EM MIRASSOL


D’OESTE

Para compreensão do lócus de pesquisa, faz-se necessária uma breve


apresentação do público pesquisado nesta etapa do trabalho. Os estudantes do Ensino
de Jovens e Adultos (EJA) reúnem uma parcela da sociedade de diferentes faixas
etárias, entre 18 e 60 anos, porém com os mesmos objetivos - o de alfabetização e de
conclusão dos ensinos fundamental e médio.
Segundo informações do site institucional do governo federal EJA Brasil:

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino


que nasceu da clara necessidade de oferecer uma melhor chance para
pessoas que, por qualquer motivo, não concluíram o ensino fundamental
e/ou o médio na idade apropriada. Surge como uma ação de estímulo
aos jovens e adultos, proporcionando seu regresso à sala de aula. Esta
modalidade respeita às características desse alunado, dando
oportunidades educacionais adequadas em relação a seus interesses,
condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames próprios.5

Dados publicados no Diário Oficial da União em 26/07/2016 informam que no


Brasil o número de matriculados no EJA, no segundo semestre de 2016, alcançou
1.780.233 de estudantes no ensino fundamental e 995.396 no ensino médio. A segunda
etapa da pesquisa do censo escolar, iniciada em fevereiro de 2017, ainda em
andamento, tem como objetivo coletar dados sobre o rendimento e movimento escolar
dos alunos, bem como aprovação, reprovação e abandono.
Interessada em conhecer como esse público interage com os meios de
comunicação, neste estudo em específico, com as emissoras e programações das
rádios locais, portanto, defini como lócus da pesquisa, no município de Mirassol
D’Oeste, a Escola Estadual Benedito Cesário da Cruz (BCC), pois esta modalidade de
ensino é ofertada apenas nesta escola na cidade.

5BRASIL. Secretaria de Educação do Governo Federal. Disponível em:


http://ejabrasil.com.br/?page_id=98> Acesso em: 11 maio 2017.
50

Fotografia 4 – Portão de entrada da E.E. BCC Fotografia 5 – Pátio da E.E. BCC

Fonte: Maria Góes. Fonte: Maria Góes.

A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2015, na época, a escola


contava com 230 alunos matriculados no EJA.
Segundo dados da Proposta Pedagógica Curricular da instituição, a modalidade
de ensino para a Educação de Jovens e Adultos foi implantada na escola em 2006,
onde a proposta de alfabetização e letramento dos alunos é integralizada em um
período de quatro anos e ocorre em ambiente (sala) multidisciplinar – dois anos para o
término do ensino fundamental, que equivalem às séries do sexto ao nono ano da
escola em tempo regular, e mais dois anos para a conclusão do ensino médio, que
correspondem do primeiro ao terceiro ano de ensino.

5.1 Descrição da Coleta quantitativa

Para desenvolver esta segunda etapa da pesquisa, realizei uma coleta de dados
para ter uma amostra quantitativa, na qual apliquei um questionário aos estudantes do
Ensino de Jovens e Adultos (EJA), para coletar dados para esboço dos perfis
socioeconômico e cultural. Segundo Bauer e Gaskell (2002, p. 23), a pesquisa
quantitativa lida com números e modelos estatísticos para explicar dados:

É correto afirmar que a maior parte da pesquisa quantitativa está


centrada ao redor do levantamento de dados (survey) e de
questionários, apoiada pelo SPSS (Statistical Package for Social
Sciences) e pelo SAS (Statistics for Social Sciences) como programas
padrões de análise estatística.
51

Por outro lado, Bauer e Gaskell (2002, p. 23) ressaltam a flexibilidade deste
modelo, uma vez que a pesquisa quantitativa passou a ser utilizada em muitos campos
da ciência social:

Mas, o entusiasmo recente pela pesquisa qualitativa conseguiu mudar,


com sucesso, a simples equiparação da pesquisa social com a
metodologia quantitativa; e foi reaberto um espaço para uma visão
menos dogmática a respeito de assuntos metodológicos – uma atitude
que era comum entre os pioneiros da pesquisa social estatística.

Levando em consideração o contexto da pesquisa, primeiramente optei por


aplicar um questionário com 31 perguntas, sendo 29 questões objetivas e 2
dissertativas, com o objetivo de identificar o perfil dos estudantes dos ensinos
fundamental e médio, entre 18 e 60 anos, e de verificar a viabilidade do presente
trabalho.
Concentrando-me neste intento, coletei 88 questionários, respondidos
espontaneamente pelos participantes-estudantes, que foram classificados, para fins de
análise, do seguinte modo: por faixas etárias – apresentadas nos gráficos; por gêneros
masculino e feminino, e pela preferência expressa por cada um dos ouvintes6, nos
segmentos: jornalístico, entretenimento e musical, e por fim os participantes que não
ouvem programação de rádio em nenhuma plataforma.
De fundamental importância relatar que nem todos os participantes-estudantes
responderam ao questionário completo, ou seja, a todas as questões, entretanto, a
maioria preencheu o perfil socioeconômico e as questões pontuais sobre a interação
com o veículo rádio e com sua respectiva programação; 33 destes estudantes ainda
responderam diretamente, ou com mais detalhes, às questões descritivas 30 e 31, as
quais permitiam que eles dissertassem sobre o que mais gostariam de falar sobre o
rádio, ou que escrevessem alguma consideração a mais sobre o assunto abordado.
Neste fluxo, contabilizo nos gráficos abaixo os resultados das questões 2, 14, 15,
16, 17 e 18, que se referem a dados como: a) gênero e idade dos participantes-

6Por ouvintes referimo-nos aos participantes-estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), da


Escola Estadual de 1º e 2º Graus Benedito Cesário da Cruz.
52

estudantes; b) se estes ouvem ou não as emissoras de rádio; c) e, se ouvem, em que


tipo de aparelho o fazem, em qual horário ouvem mais e por que ouvem.

Gráfico 1 – Programação jornalística

Ouvem programação jornalística

5 5
7 4
2
3
2
1

18 a 22 anos 23 a 28 anos 29 a 35 anos Acima de 35


anos

13 Masculino 16 Feminino

Fonte: Elaborado pela autora.

No segmento jornalístico, constatei que os participantes do gênero masculino do


gráfico acima apresentam uma média salarial entre meio e dois salários mínimos. A
maioria deles é jovem, com profissões que variam entre pedreiros, operadores de
máquinas, ajudantes de produção na área agropecuária e vendedores; 8 deles são
solteiros e 5 casados.
Em contrapartida, os participantes do gênero feminino apresentam um perfil
semelhante entre si, independentemente da faixa etária – trabalham no lar, trabalham
como autônomas, como vendedoras em lojas, como manicures e como secretárias em
consultórios; possuem uma renda salarial variável entre meio e dois salários mínimos; 6
das participantes-estudantes são solteiras e 10 casadas.
Esse grupo declarou, de modo geral, que prefere a programação jornalística das
rádios da cidade, por estas emissoras apresentarem notícias do mundo, do Estado, e,
principalmente, do município. “Assim, ficamos informados sobre empregos, eventos e
demais situações e benefícios que são ofertados na cidade e na região...”, declarou um
estudante do grupo “Jovem”, ao dissertar sobre a questão 30.
Quando questionados sobre onde ouvem programações de rádio (questão 14),
obtive o seguinte resultado, proveniente de 29 questionários respondidos: 7 ouvem
53

programações de rádio no carro; 8, pela internet; 12, por aparelhos celulares; e 24 em


aparelhos tradicionais de rádio, demonstrando que nem todos os ouvintes-participantes
ouvem por meio de apenas um canal, contudo, a maioria deles ainda ouve suas
programações favoritas no rádio tradicional.

Gráfico 2 – Programação de entretenimento e musical

Ouvem programação de entretenimento e


musical

18 a 22 anos 23 a 28 anos 29 a 35 anos Acima de 35


anos

17 Masculino 19 Feminino

Fonte: Elaborado pela autora.

Neste gráfico fica nítido que os participantes-estudantes que responderam ao


questionário, optando pela programação de entretenimento e musical, estão na faixa
etária entre 18 e 22 anos. Entre o público do gênero masculino constatei que a média
salarial está entre meio salário mínimo e dois salários mínimos e meio, atuando
profissionalmente como mecânicos, auxiliares de produção, serventes, pedreiros, entre
outros. Destes, 16 são solteiros e apenas 1 deles é casado. Apreciam mais a
programação musical sertaneja e dance, além do futebol.
A maioria dos participantes do gênero feminino, apresentada no gráfico, também
é solteira, em uma proporção de 13 participantes-estudantes solteiras e 6 casadas. As
profissões variam entre cozinheiras, babás, secretárias, do lar e estudantes. A margem
salarial das participantes do gênero feminino oscila entre meio salário mínimo e dois
salários mínimos. Elas gostam de ouvir músicas, horóscopo diário, novelas e
programações sertanejas no rádio.
54

Nesta amostra de 36 estudantes, a variação em ouvir a programação radiofônica


nas diferentes plataformas está contabilizada do seguinte modo: 6 ouvem no carro; 2
pela internet; 16 pelos aparelhos celulares e 19 nos aparelhos tradicionais de rádio,
destacando-se aqui o aparelho celular, porém a maioria dos participantes-estudantes
continua ouvindo as rádios pelos aparelhos tradicionais.

Gráfico 3 – Não ouvem programação de rádio

Não ouvem programação de rádio

18 a 22 anos 23 a 28 anos 29 a 35 anos Acima de 35


anos

08 Masculino 15 Feminino

Fonte: Elaborado pela autora.

Os 23 estudantes que afirmaram não ouvir rádio estão entre 18 e 22 anos, ou


acima de 35 anos. São vendedores, cabeleireiros, ajudantes de produção, secretárias,
domésticas, do lar, mecânicos e desempregados. As rendas, pessoal e familiar,
totalizam em média os mesmos valores dos participantes-estudantes citados
anteriormente: entre meio salário mínimo e dois salários mínimos. Esse bloco de
participantes, representando a maioria, respondeu que assiste mais à televisão e, por
isso, não ouve rádio.
O que nos chama atenção nas respostas dadas é que, mesmo se declarando
como não ouvintes de rádio, 9 participantes-estudantes responderam às questões
dissertativas, 30 e 31 do questionário, com os seguintes argumentos: “gosto do rádio,
mas assisto mais TV”; “quando eu ouço gosto de notícia e música”; “gosto, mas não
ouço porque não tem programa evangélico”; “não ouço rádio, só no celular”.
55

Tais argumentos nos fazem refletir que há pessoas que ainda relacionam o rádio
ao aparelho tradicional, mesmo quando elas estão ouvindo programações radiofônicas
em outras plataformas.

5.2 Descrição da Coleta Qualitativa

A terceira fase da pesquisa, de abordagem qualitativa, foi realizada por meio de


entrevista com dois grupos focais, pelo método de associação livre (GASKELL, 2002).
Segundo o autor (2002, p. 79), o grupo focal compreende um debate aberto, acessível
a todos os participantes que, independentemente de seu status ou lócus social, se
encontra apto a debater um determinado tema:

É um debate aberto e acessível a todos: os assuntos em questão são de


interesse em comum; as diferenças de status entre os participantes não
são levadas em consideração; e o debate se fundamenta em uma
discussão racional. Nesta característica final, a ideia de “racional” não é
que a discussão deva ser lógica ou desapaixonada. O debate é troca de
pontos de vista, ideias e experiências, embora expressas
emocionalmente e sem lógica, mas sem privilegiar indivíduos
particulares ou posições.

Considerando os argumentos e fundamentos expostos nas ponderações de


Gaskell (2002, p. 80), adotei para este trabalho de pesquisa o método de grupo focal
que faz uso do recurso de associação livre apresentado pelo autor:

Para descobrir como as pessoas imaginam um assunto, isto é, qual a


perspectiva que trazem, e para compreender a gama de outros
conceitos e ideias com ele relacionadas, a associação livre pode ser
iluminadora. O moderador pode perguntar: “Há muita gente falando de
engenharia genética hoje em dia; o que vocês pensam da expressão
engenharia genética, que palavras, ou frases, vêm à cabeça de vocês?”.

Baseada na metodologia apresentada por Gaskell, abordei os dois grupos de


participantes-estudantes do EJA da mesma forma, colocando como tema inicial: “O que
vocês pensam quando ouvem a palavra rádio?”, e, na sequência, os debates fluíram
com as intervenções que eu fiz, inserindo subtemas relacionados ao meio rádio e à
56

programação das emissoras; reconduzindo os participantes ao tema central da


discussão sempre que necessário, e ressaltando nuances da temática em debate. Cada
sessão da abordagem escolhida para a pesquisa qualitativa, com ambos os grupos
focais, durou cerca de 50 minutos.
O primeiro grupo com o qual iniciei o diálogo foi constituído por 10 participantes-
estudantes, entre 19 e 22 anos, entretanto, duas participantes tiveram que se ausentar,
restando, deste modo, 8 estudantes na sala – dentre estes, 7 eram do gênero
masculino e apenas 1 do gênero feminino.
O segundo grupo focal teve uma formação distinta do primeiro: composto por
participantes-estudantes um pouco mais velhos, entre 30 e 45 anos; 4 deles do gênero
masculino e 5 do gênero feminino. Dessa forma, obtive os dois grupos com
características, a priori, diferenciadas pela idade. Para fins de processamento dos
depoimentos gerados durante as sessões de grupo focal, dividi os grupos em duas
categorias: Grupo Jovem e Grupo Adulto, respectivamente.
No que se refere ao eixo teórico estruturante para análise das narrativas de
ambos os grupos, o recorte foi feito por meio dos gêneros radiofônicos apresentados
nas duas primeiras fases da pesquisa: jornalístico, de entretenimento e musical.
Parafraseando Barbosa Filho (2003, p. 89), os gêneros radiofônicos estão relacionados
a uma função específica que eles possuem em face das expectativas de audiência.
Analisemos.
O gênero jornalístico apresenta-se no por meio de diversos formatos:

É o instrumento de que dispõe o rádio para atualizar seu público por


meio da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos. Os
seus relatos podem possuir características subjetivas do ponto de vista
dos conteúdos e, portanto, acrescentar ao ato de informar opiniões
particulares sobre os acontecimentos.

O gênero de entretenimento, de acordo com Barbosa Filho (2003, p. 113), tem a


possibilidade de explorar com maior profundidade a riqueza do universo de linguagem
do áudio, se comparado a outros gêneros radiofônicos:

As características deste gênero ligam-no ao universo imaginário, cujos


limites são inatingíveis e causam proximidade e empatia entre a
57

mensagem e o receptor que não podem ser desprezadas, sob o preço


cruel da perda de contundência na transmissão dos significados de uma
determinada informação para o público.

A musicalidade no rádio faz parte da programação de entretenimento, segundo


Barbosa Filho (2003, p.115-116), mas também é conceituada como um gênero à parte
devido a sua diversidade. Com conteúdo e plástica diferenciados, abre o espaço para a
difusão de obras musicais dos mais diferentes estilos:

Os programas para segmentos de público cujo conteúdo privilegia a


discussão e tendências, de performances de músicos e artistas, de seus
repertórios; e os especiais, em que os textos fundem temas artísticos e
de caráter pessoal. Os temas podem variar da música erudita à popular,
do folclore à vanguarda musical.

Os fundamentos para interpretação das falas estão na compreensão de


produção de sentidos a partir das práticas discursivas, com base no trabalho
organizado por Mary Jane Spink (2013, p. 20-21):

As práticas discursivas, assim situadas, constituem o foco central de


análise na abordagem construcionista. Implicam ações, seleções,
escolhas, linguagens, contextos, enfim, uma variedade de produções
sociais das quais são expressão. Constituem, dessa forma, um caminho
privilegiado para entender a produção de sentido no cotidiano.

No que se refere ao sentido, Spink e Medrado (2013, p. 22-23) entendem que


este é produzido tanto por meio das práticas discursivas que atravessam o cotidiano,
por exemplo, narrativas, argumentações e conversas, como nos repertórios utilizados
nessas produções discursivas:

A produção de sentido não é uma atividade cognitiva intraindividual, nem


pura e simples reprodução de modelos predeterminados. Ela é uma
prática social, dialógica, que implica a linguagem em uso. A produção de
sentido é tomada, portanto, como um fenômeno sociolinguístico – uma
vez que o uso da linguagem sustenta as práticas sociais geradoras de
sentido.

Por meio dos conceitos apresentados, verifico como os estudantes pesquisados


produzem interação e interatividade com a programação das emissoras de rádio
58

(hertzianas) de Mirassol D’Oeste, e como estas ocorrem, a partir dos conceitos da


autora Lucia Helena Vendrúsculo Possari (2009, p. 41), conceitos fundamentais quando
se discutem os processos de comunicação:

A interação é o processo pelo qual interlocutores “inter-agem” e


decorrem daí os efeitos de sentidos. Interlocutores são entendidos como
os dois polos de qualquer situação de comunicação (verbal, não verbal,
mediada por tecnologias). Os interlocutores constroem sentidos
conjuntamente.

No que concerne à interatividade Possari (2009, p. 41) define:

A interatividade, por seu lado, seria o processo que permite coautoria


entre emissor e receptor, ensejando a este último transformar-se, a partir
de suas ações, em coprodutor de sentidos. Equivale a dizer que o leitor
pode interferir no texto do produtor.

5.2.1 Descrição das narrativas do Grupo Jovem

Para iniciar a pesquisa com o grupo Jovem, preparei o ambiente colocando as


cadeiras em círculo e promovi uma recepção descontraída para gerar confiança e
interação entre o grupo. Pedi que falassem seus nomes, idade e o que faziam além de
estudar. Um pouco acanhados, mas curiosos, logo permitiram que a interação
ocorresse. Todos os 8 estudantes afirmaram estar empregados sendo, por maioria, em
serviços gerais como babá, pedreiro, vidraceiro, operador de máquinas, torneiro,
mecânico, trabalhador rural e agente funerário. Também declararam ganhar, em média,
um salário mínimo e que ajudavam no sustento do lar.
Observei logo de início quem estava com o celular em mãos, 2 participantes não
pegaram o celular em nenhum momento durante a abordagem do trabalho. Notei que
apenas 2 estudantes tinham celulares ‘aparentemente’ mais modernos, com
tecnologias para recepção de internet e 7 possuíam aparelhos mais simples.
Identifico as narrativas deste grupo nos quadros abaixo, cada um deles encontra-
se enumerado com respostas de duas abordagens sobre o tema proposto. As
intervenções dos estudantes estão classificadas de 1 a 8, sendo M para gênero
59

masculino e F para gênero feminino. A descrição é feita na sequência que surgem os


diálogos.

Quadro 1 – Narrativas do grupo Jovem


M/F 1º) O que você pensa quando ouve 2º) O que lhe vem à mente quando pensa em
a palavra rádio? ouvir rádio?
1M Nas músicas, informação, no que está Ah, eu já escuto quando tá ligado, daí eu ouço
acontecendo na nossa cidade, penso as notícias, presto atenção nas informações,
nisso... isso lá no meu serviço; lá na vidraçaria que eu
trabalho, na saída para Quatro Marcos, pra
distrair é música, né...
2M Música, informação que passa... (não No serviço que eu escuto mais, daí também ligo
identificado) quando quero ouvir a tarde sertaneja, pra
passar o tempo...
3F Gosto de escutar notícia, o que tá Eu escuto lá no meu trabalho, a dona da casa já
acontecendo... liga lá, daí eu escuto tudo, gosto de músicas...
4M No que tá acontecendo, no que vai ter Eu vou mais atrás da rádio pra ouvir música...
na nossa cidade...
5M Um meio de comunicação que você Ligo pra escutar as músicas e as notícias...
vai saber da notícia, escutar músicas,
essas coisas...
6M Músicas, notícias, horóscopo... Ouço no serviço mesmo, gosto das músicas...
7M Informação do que tá acontecendo na Ouço muito quando eu vou viajar pra ficar
região, conhecer o cantor diferente, sabendo das coisas, e quando eu estou na
ficar sabendo de cada estilo de cidade eu ouço música, gosto de funk, aqui os
música diferente... mais jovens gostam muito de funk...
Fonte: Elaborado pela autora.

Nota-se, neste primeiro momento, que os estudantes respondem


sequencialmente à temática abordada. O três segmentos pontuados para análises:
jornalismo, entretenimento e música, são citados nos enunciados iniciais. Todos os
participantes, ao refletirem sobre “o que pensam quando ouvem a palavra rádio?”,
apresentam em suas falas palavras-chaves como música e informação; o estudante 6
também cita ‘horóscopo’, que faz parte da programação de entretenimento.
Dos 8 estudantes presentes no grupo, apenas 1 não se manifestou. Vale
ressaltar que o enunciado “o que tá acontecendo na cidade”, é apresentado nas falas 1,
3, 4 e 7 da primeira abordagem, na qual percebe-se, a priori, a relação dos estudantes
com a programação radiofônica para fins de obtenção de informações locais.
Já na segunda abordagem, “O que lhe vem à mente quando pensa em ouvir
rádio?”, a palavra “música” aparece em 6 das 7 respostas, demonstrando que esse
60

grupo jovem traz indícios pela preferência da programação musical. O estudante 7


declara: “aqui os mais jovens gostam de música...”, o que reforça os enunciados nos
quais os estudantes jovens preferem o gosto pela programação musical.

Quadro 2 - Narrativas do grupo Jovem


M/F 3º) Imagine se você tivesse que 4º) – Imagine ainda que você tenha que
explicar para alguém o que é o explicar para alguém como é a programação
rádio. Como você o descreveria? do rádio. O que diria?
8M Um meio de comunicação, de Assim, quando tem algum anúncio a gente já
notícias, né... fica atento, pega o número do telefone, também
quando tem uma música que a gente gosta a
gente já aumenta o volume, alguma coisa que a
gente sente que a gente gosta, uma
propaganda que a gente gosta, querendo ou
não a propaganda também é uma notícia né,
uma loja que tem uma oferta, um meio também
de se evangelizar...
1M Um meio de comunicação com Quando vai sair uma informação que a gente já
acesso rápido, porque não precisa de espera, normalmente a gente já fica mais atento
muita tecnologia. Hoje pra gente né, e a gente fica esperando, fica um pouco
poder ouvir o rádio, é fácil ter um ansioso, mais ou menos isso também... (EU: e
aparelho qualquer pra ouvir o rádio que tipo de informação se espera?) De emprego
(percepção que ele pensou em né...
relação ao celular).
2M É um aparelho que toca música lá e o Igual ele falou (concordou com o nº 8), a gente
povo fica escutando... fica esperando aquela informação, né, que se
espera (EU: mas qual informação se espera?) A
gente fica esperando anunciar informação de
trabalho, de lugar pra trabalhar...

3F É um meio de comunicação para as É isso mesmo, quando fala que vai anunciar
pessoas ficarem mais interagidas no notícia de emprego a gente já para e fica
que tá acontecendo, né... esperando (concordou com o nº 2), do mais fica
ligado lá, mas quando vai falar de emprego a
gente já fica ansioso, esperando...

8M (Interferiu) Então daquela outra vez que a


senhora esteve aqui eu tive prestando atenção,
lá em casa a gente ouve mais rádio agora, na
hora do almoço a gente vai ouvir notícia (EU: já
ouvia antes ou só depois que eu falei?) eu já
ouvia antes, mas depois que prestei atenção,
porque antes ouvia, mas passava distraído...
Obs.: ele se referiu a mim no momento anterior,
no qual estive na escola para fazer a coleta
quantitativa.

Continua
61

Continuação
4M É um meio pra anunciar algum Não se manifestou.
produto, pra anunciar o que tá
acontecendo na cidade, essas coisas
aí...
5M Um meio de comunicação pra Também quando eu escuto falar, tal fulano
anunciar uma festa, um lançou tal música, porque a rádio sempre lança
entretenimento pras pessoas, o que primeiro. Também vou escutar algum anúncio
tá acontecendo na cidade... de emprego. Às vezes anuncia que perdeu uma
galinha, depois vai falar o nome da pessoa, daí
a gente fica escutando pra ver se a gente
conhece, se ajuda ou não...

6M É um meio que tem propaganda, Não se manifestou.


locutor, música, pra anunciar festa na
cidade, notícias...
7M Um lugar pra anunciar algum lugar É o que eles falaram aí, entretenimento, notícias
que tá tendo emprego na cidade, das coisas que vêm acontecendo, às vezes a
música, notícia... gente fica esperando e quando passa você para
pra escutar, se vem alguém te atrapalhar, daí
você fala ‘peraí, que eu estou escutando’,
porque você tem que prestar atenção naquilo
ali, porque se te interessa você tem que correr
atrás, porque quando você escuta ali, você sabe
onde você tem que ir, tem que ligar, pra você
correr atrás pra você conseguir, é um meio mais
rápido para você ficar sabendo dessa
informação (a informação à qual ele se refere é
sobre anúncios de emprego).

1M (Interferiu) muitas vezes você também, a gente


passa despercebido, depois que as pessoas
conseguem a gente fica mais atento (referindo-
se ao anúncio de emprego, que ele ficou atento
depois que outra pessoa conseguiu o emprego).
Fonte: Elaborado pela autora.

As falas deste quadro já apresentam o início de interação entre o grupo, uma vez
que os estudantes começam a dialogar entre si. Na 3ª abordagem, “Imagine se você
tivesse que explicar para alguém o que é o rádio. Como você o descreveria?”, a citação
“meio de comunicação” aparece nas falas 8, 1, 3, 4 e 5, explicitando que esses
estudantes reconhecem o rádio como um veículo de comunicação, ou seja, como
emissora. Já o estudante 2 narra o rádio como “um aparelho que toca música lá e o
povo fica escutando...”, ou seja, supostamente pensou no rádio como aparelho.
62

O estudante 1 reconhece que rádio é “um meio de comunicação com acesso


rápido, porque não precisa de muita tecnologia. Hoje pra gente poder ouvir o rádio é
fácil ter um aparelho qualquer pra ouvir...”. Dessa forma, o estudante apresenta em sua
fala uma das características do veículo que é a agilidade, tanto no polo emissor como
receptor.
A palavra “anunciar” aparece nas falas 4, 5, 6 e 7, pela qual noto que esses
estudantes reconhecem o veículo como um ‘local de divulgação’, não sendo apenas de
música, notícia e entretenimento. A divulgação entendida aqui se refere à propaganda
no rádio. O estudante 6 ainda apresenta em sua fala componentes específicos do rádio,
demonstrando ter mais conhecimento técnico sobre ele: “é um meio que tem
propaganda, locutor, música, pra anunciar festa na cidade, notícias...”.
No segundo enunciado do quadro 2 (4º), quando digo “imaginar explicando para
alguém como é uma programação de rádio”, chama atenção a condução do diálogo,
pois a expressão “a informação que a gente espera” saiu em quase todas as respostas,
nas quais interferi e descobri que a ‘tal’ informação era sobre anúncio de empregos, ou
seja, uma informação de interesse dos estudantes.
Entretanto, a abordagem proposta era para que eles explicassem para outras
pessoas o que seria uma programação de rádio. Neste quesito, é possível inferir que,
diante das respostas, o principal ponto de explicação para as pessoas seria que a rádio
é um local que anuncia empregos. Abro um parêntese para relatar que em uma
conversa paralela, pós-pesquisa, com o grupo, descobri que na cidade havia um
frigorífico que fechou, gerando um grande número de desemprego no município.
O estudante 8 narra a programação e sua percepção de interação com ela:
“também quando tem uma música que a gente gosta a gente já aumenta o volume...
uma propaganda que a gente gosta... uma loja que tem uma oferta, um meio também
de se evangelizar...”. Além disso, ele faz uma intervenção paralela: “então, daquela
outra vez que a senhora esteve aqui eu tive prestando atenção, lá em casa a gente
ouve mais rádio agora, na hora do almoço a gente vai ouvir notícia...”, ele se referiu a
mim quando estive na escola para fazer a coleta quantitativa. Diante da fala dele fiz a
seguinte indagação: Já ouvia o rádio antes ou só depois que eu falei sobre esse
63

assunto? Ele continua: “eu já ouvia antes, mas depois que prestei atenção, porque
antes ouvia, mas passava distraído...”.
Aqui destaco que, devido ao rádio ser, como já citado por vários autores, “um
pano de fundo no dia a dia das pessoas”, muitos não têm a consciência de que ouvem
rádio no local em que se encontram, como exemplificado pelos próprios estudantes
quando dizem ouvir no trabalho, ou mesmo em casa, porque o aparelho já está lá
ligado.
O estudante 5 destaca que é interessante escutar o rádio para saber sobre o
lançamento de músicas: “também quando eu escuto falar, tal fulano lançou tal música,
porque a rádio sempre lança primeiro...”. Nota-se aqui que possivelmente este é um
público de jovens que não tem o hábito de buscar lançamentos de músicas em playlists
disponibilizadas pela internet, que ainda tem a cultura de consumir os lançamentos
musicais pelas emissoras de rádio.
Outra fala inusitada feita pelo estudante 5 foi sobre anúncio de perda de animais:
“às vezes anuncia que perdeu uma galinha, depois vai falar o nome da pessoa, daí a
gente fica escutando pra ver se a gente conhece, se ajuda ou não...”, o que demonstra
a percepção dele sobre a programação do veículo, um local de divulgação de serviços
de utilidade pública.

Quadro 3 - Narrativas do grupo Jovem


M/F 5º) Alguém conhece alguém que 6º) E por que vocês acham que as pessoas
ouve muito rádio, algum parente, ouvem?
amigo?
2M Minha mãe levanta 6h e é rádio o dia (Interveio na fala do nº 8) Essas frases mesmo,
todo... que ele falou de motivação, daí a pessoa fica
melhor...
1M Antigamente lá em casa ouvia muito, Não se manifestou.
acho que agora assiste mais TV...
5M Minha tia também, ela acordou, ela já Não se manifestou.
está com o rádio ligado (concordou
com o nº 2).
7M Não se manifestou. É uma forma de se entreter um pouco, de não
ficar sozinha, alguma pessoa que não tem com
quem conversar, ouve ali uma informação e não
fica tão quieto...

Continua
64

Continuação
8M Não se manifestou. E também logo de manhã eles colocam uma
frase de motivação para o seu dia, né, eles
falam umas frases bem legais mesmo, que
deixam a pessoa pra cima...
Fonte: Elaborado pela autora.

As respostas do quadro 3 foram restritas e dispersas, apenas os estudantes 2 e


5 relatam rapidamente que a mãe e a tia, respectivamente, ouvem o rádio o dia todo, o
que demonstra o hábito ou rotina delas de ter o rádio como fonte de informação,
entretenimento e, principalmente, de companhia.
As observações citadas pelos estudantes 7 e 8, na 6ª abordagem do quadro,
também retratam essas características quando eles dizem que as pessoas ouvem rádio
para entretenimento e companhia. O estudante 8 ainda opina sobre as frases de
motivação apresentadas na programação: “e também logo de manhã eles colocam uma
frase de motivação para o seu dia, né, eles falam umas frases bem legais mesmo, que
deixam a pessoa pra cima...”. Opinião compartilhada pelo estudante 2: “essas frases
mesmo, que ele falou, de motivação, daí a pessoa fica melhor...”.

Quadro 4 - Narrativas do grupo Jovem


M/F 7º) E qual a rádio que vocês mais 8º) E em relação à TV, vocês acham que as
ouvem aqui? pessoas ouvem mais rádio, ou assistem
mais à TV?
8M A Continental, ela é uma rádio que eu Acho que ouve mais rádio, porque em todas
gosto de ouvir música assim, mas casas tem um rádio...
informação assim eu ouço lá na 14 de
Maio. Dá 11 horas daí a gente muda
pra lá pra ouvir mais notícias, depois
a gente continua nas músicas...
1M É, a gente ouve mais informação na Eu acho que sim, pra uma sociedade mais
14 de Maio, que tem mais informação carente a televisão da pessoa é o rádio, né...
sobre a cidade, é mais interessante
(concordou com o nº 8).
7M Eu gosto também da programação de Não se manifestou.
madrugada, que é o Amanhecer
Sertanejo, não tem interrupção, é só
música direto, só modão, pra quem
gosta de música, é na Continental...
2M Acho que a Continental... E hoje toda a informação passa na rádio, né...
8M É, a que mais pega bem aqui é a Não se manifestou.
Continental...
Continua
65

Continuação
1M Eu acho que é mais ouvida, porque é Não se manifestou.
uma rádio mais pra jovem, acho que
é por isso, a programação é jovem,
da Continental...
7M Lá na fazenda, na região do Porto Não se manifestou.
Esperidião, as pessoas gostam de
ouvir que pega melhor a Continental,
tanto o programa que eu falei,
Alvorada Sertaneja, como o rádio
Rodeio, as notícias, porque lá tem
muita gente que é daqui, daí escuta
ela e fica sabendo das notícias
daqui...

6M Não se manifestou. É, se não tem parabólica ou o aparelhinho na


TV, não pega, daí é só o rádio mesmo...

Fonte: Elaborado pela autora.

A abordagem feita no quadro 4 foi na tentativa de compreender o gosto pela


emissora que ouvem e verificar indícios sobre o consumo do rádio em relação à
programação televisiva. A emissora Continental foi a mais citada, presente nas falas
dos estudantes 8, 7, 2 e 1. O estudante 8 também fez interferência dando sequência à
fala do estudante 2: “é, a que mais pega bem aqui é a Continental...”. Já o estudante 1
destaca que acha que a rádio Continental é mais ouvida devido a ter mais programação
para jovem.
A rádio 14 de Maio também foi citada nas primeiras narrativas dos estudantes 8
e 1, como uma emissora que tem mais informações, isso fica nítido quando o estudante
1 relata: “dá 11 horas, daí a gente muda pra lá pra ouvir mais notícia, depois a gente
continua nas músicas...”.
As informações trazidas nesses relatos estão de acordo com as narrativas feitas
pelos comunicadores das emissoras, por meio de entrevistas, já apresentadas no
capítulo 3, tópico 3.1. Nelas, a Comunicadora C, da rádio Continental, explica que a
emissora tem uma programação mais voltada para entretenimento e músicas, sendo as
notícias inseridas no decorrer do dia durante a programação. Já o Comunicador B, da
rádio 14 de Maio, disse que a emissora tem como prioridade e maior audiência o
66

radiojornal, apresentado das 11h às 13h. Já a rádio Difusora não foi citada por nenhum
dos estudantes.
Em relação à abordagem 8ª, sobre o que pensam sobre se as pessoas ouvem
mais rádio ou assistem mais à TV, apenas os estudantes 8, 1, 2 e 6 se manifestam,
superficialmente, porém com narrativas interessantes. Por exemplo, do estudante 1: “eu
acho que sim, pra uma sociedade mais carente a televisão da pessoa é o rádio, né...”.
Na percepção desse participante-estudante, o meio rádio é o local onde a
população de baixa renda pode ter acesso à informação. Nesse sentido o estudante 6
complementa: “é, se não tem parabólica ou o aparelhinho na TV, não pega, daí é só o
rádio mesmo...”. Já o estudante 2 traz em sua narrativa um contraponto: “e hoje toda a
informação passa na rádio, né...”, ou seja, as falas apresentadas dos dois estudantes
dão indícios de que quem mais ouve rádio é a população carente, no entanto, o
estudante 2 diz que isso não importa, pois o meio rádio também traz todas as
informações, como os outros meios.

Quadro 5 - Narrativas do grupo Jovem


M/F 9º) E alguém ouve rádio na 10º) E passam muito tempo na internet? O
internet, no celular? que costumam ver?
2M Música na internet eu ouço, porque Não se manifestou.
tem muitas diferentes, mas rádio
não...
1M Internet eu ouvia muito o Estúdio 95, Não se manifestou.
uma programação mais voltada para
jovem, um programa que fala de festa
e música...
4M Eu ouço a Jovem Pan também... O tempo inteiro, só não a hora que está
dormindo...
6M Não se manifestou. Só onde tem wi fi...
Obs.: todos riram, porém a percepção é de que
estão conectados no WhatsApp e não com
conteúdos relacionados à internet.
Fonte: Elaborado pela autora.

A utilização da internet pelos estudantes do grupo jovem é apresentada no


quadro 5, com a proposta de identificar se algum deles acessa rádios pela internet e
quanto tempo ficam conectados. Verifica-se que dos 8 participantes apenas 3
responderam à abordagem 9ª. O estudante 2, que só acessa músicas: “música na
67

internet eu ouço, porque tem muitas diferentes, mas rádio não...”; o estudante 1, que
relata ouvir o programa Estúdio 95, sendo esse um podcasting para jovens, e apenas o
4 afirma ouvir a emissora de rádio Jovem Pan.
Quando questionados sobre quanto tempo passam conectados na internet e o
que costumam acessar, apenas os estudantes 4 e 6 responderam. Conforme relato no
quadro, após a fala do estudante 6 todos riram da afirmação dele: “só onde tem wi fi...”
e ninguém mais se manifestou.
Esse é um ponto que merece atenção, pois geralmente os jovens estão
‘conectados’ com assuntos relacionados à internet, mesmo não ouvindo rádios,
poderiam ter narrado sobre outros temas de interação com o meio, no entanto, não
houve mais diálogo sobre o assunto.

Quadro 6 - Narrativas do grupo Jovem


M/F 11º) Se fosse para vocês indicarem 12º) E como vocês participam das
programas para as rádios, o que programações das rádios?
indicariam?
1M Acho que uma programação Ah, eu ligo para pedir música, oferecer música
comediante, uma piada, uma coisa para alguém, mandar feliz aniversário...
engraçada para alegrar o dia, tirar o
estresse do dia, uma coisa assim...
2M Eu também gosto de umas coisas de Eu ligo pra responder alguma pergunta que eu
piada (concordou com o nº 1) sei, daí vai ter sorteio...
8M É legal quando solta uma música (Interveio com o nº 6) É a gente pede um funk
assim e já solta uma piada... quando está na competição de som, é mais
funk mesmo, porque sertanejo a gente ouve
nas festas do Japuíra... (Japuíra é um salão de
festa na cidade).
Obs.: Todos começam a comentar: “A
gente gosta, né, de piadas...”; “Dia de
domingo de manhã cedo tem na 14
de Maio, muito engraçado...”; “Eu
gosto desse também, a gente ri
muito...”
4M É piada gravada, não é com o Eu faço pedido pelo WhatsApp lá na
humorista da rádio... Continental, de música...
6M Mais é meio difícil ter, acho que tem Ah, eu também (concordou com o estudante
pouco (referindo-se a programas de nº 8), aqui não tem muita diversão pros jovens,
humor). daí quando a gente vai fazer competição de
som, a gente também liga na rádio e pede
música...

Continua
68

Continuação
2M Tem piada mais lá na rádio em (Deu sequência à fala anterior) ...Ligo lá do
Quatro Marcos, o povo gosta de fazer meu serviço, peço música pro pessoal do
piada na rádio lá... trabalho, ligo pra participar de promoção...
3F Eu só escuto o que a mulher que vai Não se manifestou.
lá limpar e passar ouve, eu uso a
internet de um amiga minha, pra ver
Facebook e WhatsApp, mas essas
outras coisas de comunicação não.
5M Não se manifestou. Não se manifestou.
4M Às vezes eu ligo quando tem sorteio, assim
sorteio de um ingresso de uma festa ou pra
ganhar algum brinde...
3F Não se manifestou.
Fonte: Elaborado pela autora.

Nas abordagens acima busquei investigar sobre o que gostariam de ouvir no


rádio, com o objetivo de entender o desejo desse público e também na tentativa de os
estudantes relatarem outras programações. Além disso, verificar como interagem com
as programações radiofônicas. Note-se na 11ª que a maioria cita a palavra “piada”,
revelando o desejo de ouvir programas humorísticos nas emissoras. Já na 12ª, sobre
como interagem com a programação, os estudantes 1, 2, 4, 6 e 8 relatam participar da
programação por meio de telefone para pedir músicas e participar de sorteios ou
promoções.
O estudante 1 destaca ainda que liga para oferecer música para algum
aniversariante: “ah, eu ligo para pedir música, oferecer música para alguém, mandar
feliz aniversário...” e os estudantes 6 e 8 disseram pedir músicas enquanto estão com
os amigos em competição de sons. Apenas o estudante 4 informa interagir via rede
social: “eu faço pedido pelo WhatsApp lá na Continental, de música...”.

Quadro 7 - Narrativas do grupo Jovem


M/F 13º) E sobre histórias que 14º) Alguém quer falar alguma coisa a mais
envolvem o rádio, alguém tem sobre programação, meios de
alguma pra contar? comunicação?
2M Minha irmã mesmo, não sei como Não se manifestou.
aconteceu, quando a gente morava lá
em Porto Esperidião, ela colocou um
anúncio na rádio, que ela queria
casar com alguém, daí um primo
desse marido dela hoje contou pra
ele do anúncio e ele morava no Acre, Continua
69

daí depois eles foram conversar na Continuação


internet, daí eles se conheceram, daí
ele veio e casou com ela. Tem dois
anos que eles casaram.
8M A TV é boa, mas influencia as crianças, as
pessoas falam que isso não é bom...
2M É mais quando a pessoa tem vocação e vê
coisa errada daí faz mesmo...
Todos começam a opinar: “É, mas a TV
estimula coisa errada nas crianças...”; “É a TV
influencia as crianças...”; “Ah, mas as crianças
já estão na internet”. Encerram as falas.
Fonte: Elaborado pela autora.

No quadro 7 finalizo as abordagens com o grupo jovem, no qual tento despertar


alguma lembrança ou histórias que envolvem o rádio, como se pode ver apenas o
estudante 2 relata a história da irmã que conheceu um rapaz, via um programa
radiofônico, e acabou até se casando com ele.
Quando pergunto sobre algo mais que gostariam de falar, apenas o estudante 8
relata que a TV é má influência para crianças e os demais começam a opinar, mas logo
se dispersam e finalizam o assunto. Vale ressaltar que a única estudante do gênero
feminino, número 3, apresenta poucas falas durante as abordagens, porém ficou até o
final dos diálogos.
Diante dos gêneros radiofônicos que me propus analisar para esta pesquisa:
jornalístico, entretenimento e musical, as narrativas descritas pelo grupo Jovem
apresentaram os três gêneros. O grupo demonstra, em diversos momentos, que ouve o
veículo rádio para ter conhecimento das ‘notícias locais’, sobre ‘os acontecimentos na
cidade e região’. Alguns demonstram ter conhecimento dos produtos radiofônicos,
quando identificam anúncios, propagandas e serviços de utilidade pública, e ainda
ressaltam o desejo por uma programação humorística local.
No entanto, fica evidente a preferência do grupo pelo gênero musical, uma vez
que a maioria, ou seja, 6 dos 8 participantes-estudantes declaram consumir mais
músicas pelo rádio, inclusive não apresentando o hábito de ouvir em playlists. Apenas o
estudante 2 declara ouvir música pela internet, e outros dois, estudantes 1 e 4,
disseram ouvir pelo celular, mas que ouvem programas de rádio, como citou o 4, ouvir a
Jovem Pan.
70

As declarações que constatam o gosto da maioria pelo gênero musical se


reafirmam em respostas imediatas apresentadas no quadro 1 com a palavra ‘música’,
bem como no decorrer dos relatos, como do estudante 7: “aqui os mais jovens gostam
de música...”. No quadro 2, o estudante 8 se expressa: “também quando tem uma
música que a gente gosta a gente já aumenta o volume...”. E ainda, na fala do
estudante 5 que destaca ser interessante escutar o rádio para saber sobre o
lançamento de músicas: “também quando eu escuto falar, tal fulano lançou tal música,
porque a rádio sempre lança primeiro...”.
Outra evidência é identificada no quadro 4, quando a maioria dos estudantes
declara ouvir a rádio Continental, a qual tem como prioridade na programação os
gêneros de entretenimento e de musicalidade. O relato do estudante 1 dá suporte para
esta constatação: “dá 11 horas daí a gente muda pra lá pra ouvir mais notícia, depois a
gente continua nas músicas...”, referindo-se a que muda para a emissora 14 de Maio,
quando vai ouvir o radiojornal, e depois retorna para a rádio Continental para seguir
ouvindo a programação musical.
Já no quadro 6 relatam como participam da programação das emissoras e, mais
uma vez, cinco estudantes disseram participar para pedir músicas e concorrer a
sorteios ou promoções. Os estudantes 6 e 8 também declaram pedir músicas enquanto
estão com os amigos em competição de sons: “é, a gente pede um funk quando está na
competição de som, é mais funk mesmo...”; “ah, eu também (concordou com o
estudante nº 8), aqui não tem muita diversão pros jovens, daí quando a gente vai fazer
competição de som, a gente também liga na rádio e pede música...”.
E destaca-se a narrativa do estudante 4, que informa utilizar a rede social
WhatsApp para solicitar música: “eu faço pedido pelo WhatsApp lá na Continental, de
música”. Os demais disseram pedir por meio de ligação telefônica.
Ao interpretar as narrativas apresentadas pelo grupo jovem, constato que a
comunicação radiofônica (hertziana) está presente no dia a dia dos estudantes
pesquisados, pois eles trazem em seus discursos ações, seleções, escolhas e
produção de sentido, conforme os conceitos referidos da autora Spink (2013, p. 22):
71

O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais


precisamente interativo, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das
relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas –
constroem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as
situações e fenômenos a sua volta.

Nesse contexto, os estudantes demonstraram, em seus discursos, práticas


cotidianas, como a utilização da música como instrumento de entretenimento,
companhia, diversão e informação, uma vez que interagem com a programação das
emissoras, seja ouvindo, ou fazendo ligações para pedir músicas. Porém, por meio
dessa participação ocorre apenas a interação conceituada por Possari (2009), uma vez
que esses estudantes são apenas interlocutores, eles inter(agem) com essa
programação, não promovendo a interatividade que seria, segundo a autora, um
processo de coautoria, com a interferência no conteúdo, permitindo transformações,
nas ações realizadas entre o emissor e o receptor.

5.2.2 Descrição das narrativas do Grupo Adulto

No que se refere ao grupo denominado Adulto, utilizei a mesma metodologia


aplicada ao grupo jovem, preparação de ambiente, cadeiras em círculo, descontração
nas falas e coleta de informações iniciais, como nome, idade e trabalho. Este grupo foi
formado por 9 estudantes, sendo 4 do gênero feminino e 5 do gênero masculino.
As abordagens são identificadas nos quadros abaixo, bem como os alunos por
números de 1 a 9, sendo F para o gênero feminino e M para o masculino. Em relação
às profissões, o grupo é composto por estudantes que trabalham como mecânico,
operador de máquinas, eletricista, ajudante geral em uma granja, trabalhador rural,
manicure, balconista de loja, diarista de serviços domésticos e uma trabalhadora do lar.
A média salarial destes está entre um a dois salários mínimos. Sete declaram ser
casados e 2 solteiros. Quanto ao uso do celular durante a realização da pesquisa,
poucos em algum momento pegaram o celular para olhar. Percebi apenas 3 com
celulares mais modernos, com possíveis instalações de redes sociais, como WhatsApp
e Facebook, e 6 com celulares de modelo mais antigo, nos quais a rede social possível
seria somente de mensagens, via SMS.
72

Quadro 8 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 1º) O que você pensa quando 2º) O que lhe vem à mente quando pensa em
ouve a palavra rádio? ouvir rádio?
1M Nas notícias, no jornalístico da Lembro do jornal, nas informações...
cidade...
2M Penso no aparelho de ouvir Saber das notícias...
notícia...
3M Na rádio Continental... Notícias da cidade...
4M Para ficar informado pelas notícias Jornal, notícia...
do dia a dia...
5F Noticiário... Ficar informado sobre a cidade...
6F Na 14 de Maio... Ouvir pra ficar informada do que acontece...
7F Porque gosto de me manter Programas informativos e interativos...
informada...
8F Rádio 14 de Maio... Informação...
9F Penso no que fala de Mirassol, Saber da região...
Quatro Marcos, na região...
Fonte: Elaborado pela autora.

Neste grupo destaca-se a preferência pelo gênero radiofônico jornalístico, uma


vez que na primeira abordagem 4 estudantes citam a palavra “notícia”, e 2 os
enunciados “ficar informado” e “me manter informada”. Bem como citam a Rádio 14 de
Maio que, conforme já explicado, é a emissora que tem mais audiência em jornalismo,
diante das outras duas emissoras existentes na cidade.
Apenas o estudante 3 cita a Rádio Continental, mas no segundo momento, na
abordagem 2ª, relata “notícias da cidade”. A preferência por informações locais também
aparece nas falas 1, 3, 5 e 9, quando citam “notícias da cidade”, “penso no que fala de
Mirassol” e ainda “saber da região”. Já o estudante 7 apresenta uma fala mais
elaborada no segundo momento, quando diz que sobre a programação lhe vem à
mente “programas informativos e interativos”.

Quadro 9 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 3º) Imagine se você tivesse que 4º) – Imagina ainda que você tenha que
explicar para alguém o que é o rádio. explicar para alguém como é a
Como você o descreveria? programação do rádio, o que diria?
1M
Que é um meio bom para se manter Ia falar que é sobre notícia do Estado, da
informado... cidade...
2M É uma rádio da cidade que manda Ah, que é um aparelho que tem música,
notícia para o seu aparelho... notícias, que dá para falar com o locutor
por telefone...
Continua
73

Continuação
3M Que é um aparelho que sai som... Que tem programação parecida com a da
TV, mas só sai o som, por isso que tem
mais música...
4M Um aparelho de ouvir as coisas... Que lá fala de tudo que a gente precisa
saber no dia...
5F Ah, que é o lugar onde o locutor fala e a É onde passa notícia da cidade...
gente escuta...
6F Eu ia falar que é um lugar para ficar Eu já ia ligar o meu pra pessoa ouvir
informado... logo...
7F Que é um aparelho, mas que tem na Que tem muita coisa boa, mas tem muita
internet também; baixaria também...
8F Isso mesmo, é um aparelho, mas tem Isso que falei, que tem músicas e notícias
rádios que dá para ouvir na internet para as pessoas ouvirem...
(concorda com o estudante nº 7)
9F Que é um coisa boa, porque a gente Fala das notícias que acontecem por aqui,
sabe daqui. na nossa região...
Fonte: Elaborado pela autora.

Quando abordados sobre o que é o rádio, a palavra “aparelho” se destaca, sendo


citada por 5 dos 9 estudantes. A estudante 5 apresenta indícios de entendimento de
emissão e recepção quando relata: “ah, que é o lugar onde o locutor fala e a gente
escuta...”. Já as estudantes 7 e 8 apresentam ter conhecimento da existência de
emissoras via internet.
Quando explicam sobre a programação radiofônica, os estudantes 1, 2, 5, 8 e 9
apresentam nas narrativas a palavra “notícia”, o que significa que, mais uma vez, o
gênero jornalístico se apresenta na resposta imediata. Já o estudante 2 explica ainda
que, além de música e notícia, é possível interagir com o locutor: “ah, que é um
aparelho que tem música, notícias, que dá para falar com o locutor por telefone...”.

Quadro 10 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 5º) Alguém conhece alguém que ouve 6º) E por que vocês acham que as
muito rádio, algum parente, amigo? pessoas ouvem?
1M
Eu mesmo... Ficar sabendo, informado...
2M Lá na minha casa sempre meu pai tinha Igual eu falei já, pra saber das notícias
o rádio, desde que eu era pequeno, daqui, mas tem gente que gosta de música,
agora que casei lá em casa a gente né...
ouve sempre o jornal, porque só no
rádio que fala aqui da cidade...

Continua
74

Continuação
3M Minha mãe gosta muito, desde pequeno Saber notícias, ficar informado, se divertir...
eu lembro dela limpando a casa,
fazendo almoço, escutando o rádio...
4M Tem muita gente, né, acho que aqui na Pra saber das coisas da cidade, ou para
cidade todo mundo ouve... passar o tempo com música...
5F Todo mundo ouve um pouco... Uns gostam do jornal, outros da música...
(concorda com o estudante nº 4)
6F Em casa mesmo, somos em cinco, na É pra saber do jornal, dos programas, tem
hora do almoço a gente ouve o jornal... as mensagens...
7F Eu gosto de ouvir muito, e ouço muito na Porque ajuda, ensina muitas coisas,
rádio da internet... informa de tudo...
8F No meu trabalho, é bastante gente, Então, porque é igual a gente ouve no
mesmo não querendo ouvir, ouve, serviço, pra saber de tudo que acontece na
porque o rádio fica ligado o dia todo... cidade, na região...
9F Ah, umas três pessoas... Pra saber de tudo por aqui, mas tenho uma
amiga que só gosta daquele programa de
fofoca dos artistas, do horóscopo, todo dia
ouve as mensagens do dia de manhã...
Fonte: Elaborado pela autora.

As narrativas da primeira abordagem deste quadro (5º) demonstram as


memórias dos estudantes 2 e 3 no que se refere ao ouvir rádio, já os demais se
declaram ser ouvintes e relatam as situações em que ouvem. Os estudantes 4 e 5,
respectivamente, disseram acreditar que a maioria das pessoas ouve rádio: “tem muita
gente, né, acho que aqui na cidade todo mundo ouve...”; “todo mundo ouve um
pouco...”, concorda o estudante 5 com o 4. Apenas o estudante 7 declara ser ouvinte de
rádio via internet.
Os diálogos da 6ª abordagem apresentam certas semelhanças com os dos
quadros anteriores, uma vez que os enunciados “notícia”, “ficar informado”, “saber o
que acontece”, “saber das coisas”, continuam presentes.
Os estudantes também citam gêneros da programação radiofônica como “jornal”,
“músicas”, “entretenimento”, “mensagens”, quando explicam que as pessoas ouvem
para ficarem informadas e se entreterem, se divertirem: “pra saber de tudo por aqui,
mas tenho uma amiga que só gosta daquele programa de fofoca dos artistas, do
horóscopo, todo dia ouve as mensagens do dia de manhã...”, declara a estudante 9.
75

Quadro 11 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 7º) E qual a rádio que vocês mais 8º) E em relação à TV, vocês acham que
ouvem aqui? as pessoas ouvem mais rádio, ou
assistem mais à TV?
1M Eu gosto mais da 14 de Maio... Rádio é mais fácil, né, é daqui...
2M Gosto do jornal da 14 de Maio... Certeza...
3M A Continental eu acho, é porque a Pra saber daqui, né, mas à noite tem que
locutora lá era de outra rádio, daí ver o jornal nacional, pra ver as coisas do
sempre ouvi mais ela, e agora ela é da país...
Continental...
4M Eu ouço na Continental e 14 de Maio... Ah, ouvem sim...
5F FM né... Sim, sim...
6F 14 FM jornal... Pode ser que sim mesmo, mas lá em casa
a gente gosta também do Globo
Repórter...
7F Eu ouço muito de fora, Clube, Ouve sim, mas porque também poucas
Transamérica... pessoas têm internet...
8F 14 de Maio... Claro que é, lá do meu serviço, as outras
lojas também ficam com o rádio ligado,
pode não ser na mesma rádio que a gente
fica, mas é com certeza em alguma rádio
aqui da cidade...
9F FM mesmo... Bem isso, acho que as pessoas pensam a
mesma coisa sobre isso...
Fonte: Elaborado pela autora.

Quando questionados sobre qual emissora ouvem, a maioria dos estudantes, 1,


2, 4, 6 e 8, relatam ouvir a 14 de Maio, já evidenciada por ter maior audiência na
programação jornalística. Quando indagados para pensar se as pessoas ouvem mais
rádio ou assistem mais à TV, todos concordam, supondo que as pessoas de Mirassol
D’Oeste ouvem mais rádio do que assistem à televisão.
Os estudantes 1 e 3, respectivamente, trazem nos enunciados ser relevante
ouvir rádio para saber as notícias do local: “rádio é mais fácil, né, é daqui...”; “pra saber
daqui, né, mas à noite tem que ver o jornal nacional, pra ver as coisas do país...”. O
gosto pela programação informativa também aparece na preferência da TV na fala do
estudante 6: “pode ser que sim mesmo, mas lá em casa a gente gosta também do
Globo Repórter...”. Já o estudante 7 pensa que as pessoas ouvem mais rádio por não
terem acesso à internet: “ouve sim, mas porque também poucas pessoas têm
internet...”.
76

Quadro 12 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 9º) E alguém ouve rádio na 10º) E passam muito tempo
internet, no celular? na internet, o que
costumam ver?
1M Não, nem sei mexer com Não se manifestou.
esse negócio, nem fiz curso
de informática, rs...
2M Eu ouço às vezes no celular Pouco, porque acaba rápido...
só...
3M Eu não, só em casa e no Não se manifestou.
carro...
4M Não... Não se manifestou.
5F Eu só no celular também... Não se manifestou.
6F Não tenho... Não se manifestou.
7F Eu sim... Sempre que eu posso, mas
quando está na rádio faço
outras coisas em casa
ouvindo...
8F Eu não, quase não vejo Não se manifestou.
internet por causa do
trabalho...
9F Não tenho acesso à Não se manifestou.
internet...
Fonte: Elaborado pela autora.

O pouco acesso desses estudantes à internet é evidente no quadro 12,


abordagem 9ª, quando os números 1, 4, 6 e 9 declaram não ter acesso algum e o
estudante 8 ter pouco acesso. Já os estudantes 2 e 5 afirmam ouvir rádio pelo celular, e
a estudante 7, pela internet. No entanto, quando respondem à abordagem 10ª, apenas
o 2 e o 6 se manifestam demonstrando ficar pouco tempo conectados: “pouco, porque
acaba rápido...”; “sempre que eu posso, mas quando está na rádio faço outras coisas
em casa ouvindo...”.

Quadro 13 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 11º) Se fosse para vocês indicarem 12º) E como vocês participam das
programas para as rádios, o que programações das rádios?
indicariam?
1M Mais documentários, gosto das histórias Só ouvindo mesmo...
dos documentários, mas só tem na TV...
2M Ter mais jornal... Ouvindo...
3M Ah, gosto de jornal, mas poderia ter uns Às vezes lá do trabalho a gente liga pra
programas engraçados das histórias pedir música, responder alguma pergunta
daqui, igual tem naquela Jovem Pan, eu da promoção, mas não é sempre, porque
acho... tem trabalho, né...
Continua
77

Continuação

4M Aqui tá bom, já tem bastante coisa Só escuto em casa, no trabalho, assim...


aqui...
5F Trazer mais informações aos ouvintes e Só escutando também, às vezes as
falar mais do amor de Deus... minhas colegas da igreja tão lá em casa e
gostam de ligar para pedir alguma música
para gente ouvir, para oferecer para
alguém...
6F Ter mais mensagens de reflexão e Gosto mesmo é de ouvir, mais sobre as
outras coisas mais pra gente gostar... coisas boas...
7F Que eles tivessem mais consideração, Às vezes eu ligo para pedir música, ou
que não ficassem com baixaria nas então quando tem jornal que fala para a
rádios e na TV (Eu interfiro: mas o que gente ligar e falar algum problema do
seria essa baixaria?). Ah, tragédia, fica bairro, da cidade, eu ligo também. Eu um
essa baixaria dos políticos mentirem, ah, dia até falei da baixaria, como eu te falei,
o desrespeito, né. falei lá na rádio para eles não ficarem
fazendo programas de baixaria, dessa
coisa que os políticos vão lá mentir,
porque dá raiva na gente...
8F Notícias atualizadas... Pra pedir música, participar do sorteio,
mas acho que mais ouvir...
9F Um programa pra falar da nossa saúde, Ah, eu gosto mesmo de ouvir programas
orientar, a nossa cidade, que tá de orientação, de coisas interessantes
precária... para a gente, tem muita coisa que passa
de manhã...
Fonte: Elaborado pela autora.

No quadro 13, o diálogo é sugestão de programas para as emissoras de rádio, e


estes continuam apresentando a preferência por notícias, apenas o estudante 3 cita
programas de humor: “ah, gosto de jornal, mas poderia ter uns programas engraçados
das histórias daqui, igual tem naquela Jovem Pan, eu acho...”, e os estudantes 5 e 6
demonstram querer algo diferente, até mesmo de cunho religioso.
Já a estudante 7 fala do que gostaria que não tivesse no rádio e ainda na TV, e
manifestou sua insatisfação diante de algumas programações: “que eles tivessem mais
consideração, que não ficassem com baixaria nas rádios e na TV...” (Eu interfiro: Mas o
que seria essa baixaria?), “ah, tragédia, fica essa baixaria dos políticos mentirem, ah, o
desrespeito, né...”.
No que se refere à interação deles com a programação das emissoras, os
estudantes 1, 2, 4, 6 e 9 declaram apenas ouvir, a estudante 5 diz apenas ouvir, mas
78

presenciar amigas que ligam para pedir e oferecer músicas. Já os estudantes 3 e 8


afirmam ligar para as emissoras para pedir música e participar de sorteios e promoções.
Somente a estudante 7 destaca que, além de pedir músicas, interage por
telefone no radiojornal: “às vezes eu ligo para pedir música, ou então, quando tem
jornal que fala para a gente ligar e falar algum problema do bairro, da cidade, eu ligo
também...”. É relevante ressaltar que nenhum dos estudantes relatou enviar
mensagens via SMS ou WhatsApp para as emissoras.

Quadro 14 - Narrativas do grupo Adulto


M/F 13º) E sobre histórias que envolvem o 14º) Alguém quer falar alguma coisa a
rádio, alguém tem alguma pra contar? mais sobre programação, meios de
comunicação?
1M Tem muitas mesmo... Gosto mais das notícias, só...
2M Só do meu pai que ouvia muito, que eu Não.
lembro...
3M Quem deve ter história deve ser esses Gosto de um pouco de sertanejo, mais de
locutores, porque tem hora que ouve viola...
cada uma nas ligações, rs...
4M Tem um amigo meu que fica só naquele Não...
programa de música romântica, ele fica
ligando para pedir música, mandar
recado, quase todo dia...
5F Acho que não... Gosto de novela e do Cidade Alerta...
6F De gente que tá triste, né, sozinho, ouve Não...
rádio para ter um conforto, uma
companhia...
7F Só das histórias que ouço nos Que pra ouvir tem que selecionar, ouvir
programas mesmos, histórias dos coisas que ensinam, deixam a gente mais
cantores, dos artistas... alegre...
8F Hum, deixa eu lembrar... ah, uma colega Que quanto mais notícias, os ouvintes
do trabalho que fica direto ligando na agradecem...
rádio para pedir música para a gente e
oferece para o pessoal da loja, meu
chefe nem briga, porque daí as pessoas
ficam mais animadas...
9F É mais o rádio mesmo, poucas pessoas Sim, temos muitos assuntos a considerar,
têm internet, aqui na escola mesmo igual falei, né, tinha que ter mais programa
pouca gente tem a internet... para orientar as pessoas, na saúde, nas
coisas da escola, acho isso...
Fonte: Elaborado pela autora.

Neste último quadro do grupo adulto, eles repetem sobre a maioria dos assuntos
já apresentados nos diálogos. Entre os relatos da abordagem 13ª, destaco o da
79

estudante 8, que demonstra a interação dos colegas de trabalho com a programação


radiofônica: “hum, deixa eu lembrar... ah, uma colega do trabalho que fica direto ligando
na rádio para pedir música para a gente e oferece para o pessoal da loja, meu chefe
nem briga, porque daí as pessoas ficam mais animadas...”.
Outra citação relevante é da estudante 9, na qual mais uma vez o rádio aparece
como opção devido ao não acesso à internet: “é mais o rádio mesmo, poucas pessoas
têm internet, aqui na escola mesmo, pouca gente tem a internet...”. A estudante 6
também traz uma narrativa do rádio como companhia: “de gente que tá triste, né,
sozinho, ouve rádio para ter um conforto, uma companhia...”.
Como se pode ver por meio das narrativas, o grupo adulto também apresenta,
como no grupo jovem, os três gêneros descritos para as análises jornalismo,
entretenimento e musical. No entanto, o grupo adulto declara a preferência pelo gênero
jornalístico, como vimos nos enunciados do quadro 8, todos os 9 estudantes
declararam ser ouvintes de informações, notícias e radiojornais. Nos quadros 9 e 10
esta constatação é fundamentada, pois, nas explicações sobre o meio rádio e sua
programação, os estudantes citam em todas elas informações e notícias.
No quadro 11, quando falam sobre a preferência por emissora, 5 dos 9
estudantes citam a rádio 14 de Maio que, conforme já explicado, é a emissora com
maior audiência na programação jornalística, entre as outras duas da cidade. Já
quando abordados sobre o uso da internet (quadro 12), fica demonstrado o restrito ou
nenhum consumo dela.
Destaca-se ainda o quadro 13, quando mencionam quais programações
indicariam para as emissoras, e mais uma vez o produto informativo é declarado, até
mesmo em outros formatos, como expressou o estudante 1: “mais documentários,
gosto das histórias dos documentários, mas só tem na TV...”.
A estudante 9 declara o desejo de programação voltada para a área da saúde:
“um programa pra falar da nossa saúde, orientar, a nossa cidade que tá precária...”, e
apenas o estudante 3 fala sobre programa humorístico: “ah gosto de jornal, mas
poderia ter uns programas engraçados das histórias daqui, igual tem naquela Jovem
Pan, eu acho...”, ressaltando o desejo de humor do local.
80

Na abordagem 12ª (quadro 13), a interação conceituada por Possari (2009), na


qual os ouvintes apenas interagem, predomina, pois a participação desses estudantes
na programação das emissoras é apenas via ligação telefônica, para a realização de
pedidos de músicas, participação em promoções e sorteios. Sendo estes a minoria, pois
os estudantes 1, 2, 4, 5, 6 e 9 afirmam apenas ouvir as programações. Somente a
estudante 7 informou que às vezes liga para participar do radiojornal: “às vezes eu ligo
para pedir música, ou então quando tem jornal que fala para a gente ligar e falar algum
problema do bairro, da cidade, eu ligo também...”.
Este grupo demonstrou, por maioria, ser consumidor da programação radiofônica
local, das emissoras hertzianas.
81

6 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Para as perguntas efetuadas no início deste trabalho, as respostas foram


satisfatórias. E houve surpresa, pois, diante dos conteúdos narrados pelos
participantes-estudantes dos dois grupos, Jovem e Adulto, constata-se, na época de
realização da pesquisa, 2015, que esses estudantes do EJA ouvem sim as emissoras
de rádio hertzianas de Mirassol D’Oeste, deixando claro a preferência pelas rádios
locais, para ouvir músicas, notícias e programações de entretenimento.
Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa foi alcançado, na medida em que
os estudantes demonstram nos discursos que a produção de sentidos ocorre quando
ouvem as programações para se ‘manterem informados’ sobre o cotidiano, o local e a
região em que vivem. “A produção de sentido é uma força poderosa e inevitável da vida
em sociedade e buscar entender como se dá sentido aos eventos do nosso cotidiano”
(SPINK, 2013, p. 21).
Neste contexto, é possível afirmar que os estudantes dos dois grupos promovem
“interação”, ou seja, que solicitam músicas, participam de sorteios e promoções das
programações dessas emissoras.
Pode-se destacar ainda que a cultura do ouvir de Baitello (2014) se aplica aos
dois grupos estudados, uma vez que apresentam essa cultura ao interagir mais com os
conteúdos e as programações das emissoras de rádios locais do que com o universo
das imagens, promovido pela televisão, por exemplo. Essa constatação vai ao encontro
da afirmação de Menezes (2007), quando aborda que o rádio promove com os
indivíduos, no dia a dia da cidade, a troca de consumo das informações locais e
fortalece os vínculos culturais estabelecidos. “No universo dos meios, o rádio tem o seu
lugar especial, não é um meio do passado, mas uma das grandes expressões da
cultura do ouvir” (MENEZES, 2007, p. 83).
Neste sentido, reforça-se também a afirmação de Kischinhevsky (2016), quando
diz que o grande desafio das emissoras hertzianas é se reconstruir no mercado local,
interagindo com os ouvintes por meio de identificação, por serviços de utilidade pública
e pela análise de informações locais e regionais aprofundadas e contextualizadas. Pois,
de acordo com os resultados apresentados pelos participantes-estudantes, tanto do
82

grupo Jovem, quanto do grupo Adulto, existe o desejo por programações mais
elaboradas sobre as histórias e acontecimentos de Mirassol D’Oeste e região, nos
segmentos jornalísticos e humorísticos.
Identifica-se aqui um universo favorável para as emissoras de rádio hertzianas,
que são fadadas à extinção toda vez que surgem novos meios e formas de
comunicação. Afinal, o público pesquisado, estudantes do EJA, faz parte de uma
grande parcela da população brasileira, de baixa renda, atingindo quase 2,8 milhões de
estudantes.
Além disso, vale ressaltar que ainda há no país um grande número de
analfabetismo, conforme informado na pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de 2016, publicada em dezembro de 2017, no jornal o Globo 7. São
cerca de 11,8 milhões de analfabetos, o que corresponde a 7,2 da população de 15
anos ou mais.
E segundo a pesquisa, conforme informou o jornal8, cerca de 24,8 milhões de
pessoas de 14 a 29 anos estão fora da escola no Brasil. Ou seja, números expressivos
quando analisados culturalmente do polo receptivo da comunicação, pois vimos nesta
pequena amostra de pesquisa que são pessoas de baixo poder aquisitivo, com poucas
condições de acesso aos novos meios, como a internet, por falta de recursos
financeiros e culturais.
Dados da pesquisa de audiência do Kantar Ibope Mídia9 do 2º semestre de 2017,
realizada em 13 regiões metropolitanas do país, também trazem informações sobre a
recepção radiofônica. São 52 milhões de pessoas que escutam rádios nas regiões
pesquisadas, um total de 87% da população, contabilizando 4h40 em média de tempo
que cada ouvinte escuta por dia. Destes, o rádio alcança 91% entre os jovens de 15 a
19 anos, e 90% nas faixas etárias entre 20 e 34 anos.
Vale apontar que 58% destes o fazem em casa no rádio convencional, 14% no
aparelho celular e apenas 4% pelo computador, o que demonstra que a emissora

7 Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/brasil-ainda-tem-118-milhoes-de-


analfabetos-segundo-ibge-22211755#ixzz56EobC05S Acesso em: 10 jan. 2018.
8 Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/brasil-tem-quase-25-milhoes-de-jovens-

de-14-29-anos-fora-da-escola-22212162 Acesso em: 10 jan. 2018.


9 Disponível em:https://www.kantaribopemedia.com/estudos-type/book-de-radio-2o-semestre-2017

Acesso em: 15 dez. 2017.


83

hertziana ainda possui um amplo espaço como meio de comunicação de informação e


entretenimento da população.
Enfim, na pesquisa realizada com estudantes do EJA em Mirassol D’Oeste,
infere-se que o rádio hertziano ainda é muito ouvido, havendo na ocasião um
compartilhamento de audiência com audição pelo celular. Assim, a pesquisa tem que
continuar, estendendo-se o cenário e atualizando-se a temporalidade.
84

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho recorri a diversos teóricos relacionados à produção


radiofônica, bem como a estudiosos sobre os processos de recepção, mediação,
interação e interatividade entre os sujeitos e os meios de comunicação.
Para investigar empiricamente a relação entre o polo emissor e o polo receptor,
escolhi no município de Mirassol D’Oeste, Estado de Mato Grosso, um pequeno grupo
de participantes-estudantes do EJA, modalidade de ensino que atende a jovens e
adultos que não estudaram na idade regular ou que tiveram seus ciclos escolares
interrompidos.
Esse recorte teve, a priori, o intuito de verificar se essas pessoas ainda ouvem as
emissoras de rádio tradicional, hertzianas, e se ouvem, o que ouvem e por que ouvem.
Defini esse público por acreditar que são pessoas que representam grande parte da
população brasileira de baixa renda e nível escolar, e ainda de acesso restrito a outros
meios de comunicação, como a internet, ponto este que ficou constatado no resultado
da pesquisa, no que se refere ao público pesquisado.
Para compreender mais a fundo o contexto citado, realizei uma pesquisa com
profissionais de comunicação das três emissoras de Mirassol D’Oeste, bem como
coletei dados quantitativos na escola pesquisada para verificar a possibilidade de
desenvolvimento deste estudo. Informações estas fundamentais, uma vez que com elas
pude verificar durante o diálogo com os grupos focais as preferências pelas respectivas
emissoras diante dos conteúdos transmitidos, como musical e jornalístico.
Pelo percurso ficou evidente que os participantes-estudantes ainda ouvem sim
emissoras de rádio tradicionais (hertzianas), como forma de interação com as
programações, de entretenimento, neste caso com destaque para o gênero musical e o
gênero jornalístico. Além disso, produzem com os mesmos sentidos no cotidiano e
reforçam os vínculos culturais.
A sociedade atual vive um grande boom das conexões midiáticas, permitidas
pela internet, via computadores e aparelhos celulares, nos quais os indivíduos têm a
possibilidade de, em apenas um ‘clic’, estarem conectados a redes informativas e
sociais.
85

No entanto, acredito ser necessário ampliar a discussão sobre o que seria, neste
contexto, o ‘acessível’ e o que seria de fato o ‘acesso’, pois, como vimos nesta
pesquisa, e já constatado em outros trabalhos, as condições financeiras e culturais não
permitem que grande parte da população tenha em mãos essas tecnologias. Mas esta
será uma outra história.
86

REFERÊNCIAS

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89

APÊNDICES

APÊNDICE A – Modelo de Questionário Quantitativo

1 - Nome: (OPTATIVO)

2 - Idade: 3 - sexo ( ) feminino ( ) masculino

4 - Escolaridade:

5 - Profissão: 6 - Onde trabalha?


7 - Há quantos anos?

8 - Renda familiar:

9 - Renda pessoal:

10 - Local residência:

11 - Quantas pessoas moram na casa?

12 - ( ) Solteiro ( ) Casado

13 - Tem filhos? Quantos?

14 - Ouve rádio? ( ) sim ( ) não

15 - Em qual tipo de aparelho? ( ) aparelho de rádio ( ) celular ( ) internet

( ) no carro

16 - Em qual horário mais ouve? ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

17 - Quais são os programas que ouve?

18 - Por quê?

19 - Em qual rádio?

20 – Assiste à TV? ( ) sim ( ) não

21 - Em qual tipo de aparelho? ( ) aparelho de TV ( ) celular ( ) internet

( ) outro qual? ______________________


90

22 - Em qual horário mais assiste? ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

23 - Quais são os programas a que assiste?

24 - Por quê?

25 - Em qual canal?

26 – Ouve/acessa rádio pela internet? ( ) sim ( ) não

27 - Em qual horário mais ouve? ( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

28 - Quais são os programas que ouve pela internet?

29 - Por quê?

30 - Em qual rádio/site?

31 - O que mais gostaria de falar sobre o que ouve no rádio?

32 - Gostaria de deixar mais alguma consideração sobre o assunto?


91

APÊNDICE B – Modelo de roteiro para realização de pesquisa com grupo focal

MÉTODO DE PESQUISA – Grupo Focal por meio de Associação Livre, a partir de


questionamentos específicos relacionados ao tema rádio.

SERÃO DOIS GRUPOS, EM MOMENTOS DIFERENTES:

A) Grupo composto por 9 pessoas: sendo 4 mulheres e 5 homens, divididos por


áreas de interesse da programação radiofônica: 3 pessoas informação – 3
pessoas música – 3 pessoas ouvem por ouvir.

B) Grupo composto por 9 pessoas: sendo 5 mulheres e 4 homens, divididos por


áreas de interesse da programação radiofônica: 3 pessoas informação – 3
pessoas música – 3 pessoas ouvem por ouvir.

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA – ROTEIRO DE DIÁLOGO

1º) O que você pensa quando ouve a palavra rádio?


2º) O que lhe vem à mente quando pensa em ouvir rádio?
3º) Imagine se você tivesse que explicar para alguém o que é o rádio. Como você o
descreveria?
4º) Imagine ainda que você tenha que explicar para alguém como é a programação do
rádio. O que diria?
5º) Alguém conhece alguém que ouve muito rádio, algum parente, amigo?
6º) E por que vocês acham que as pessoas ouvem?
7º) E qual a rádio que vocês mais ouvem aqui?
8º) E em relação à TV, vocês acham que as pessoas ouvem mais rádio, ou assistem
mais à TV?
9º) E alguém ouve rádio na internet, no celular?
10º) E passam muito tempo na internet? O que costumam ver?
11º) Se fosse para vocês indicarem programas para as rádios, o que indicariam?
12º) E como vocês participam das programações das rádios?
13º) E sobre histórias que envolvem o rádio, alguém tem alguma pra contar?
92

14º) Alguém quer falar alguma coisa a mais sobre programação, meios de
comunicação?

REFERÊNCIAS

BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, Imagem e
Som. Petrópolis: Vozes, 2002.
93

APÊNDICE C – Modelo de Questionário de Entrevistas

Entrevista:
Nome completo:
Quanto tempo trabalha na Rádio:

1 - Quantas pessoas atuam na equipe da produção da emissora?


2 - Qual o diferencial da programação, em relação às outras emissoras da cidade?
3 - Qual o programa de mais audiência da Rádio hoje?
4 - Como está a programação da rádio na internet? É retransmissão ou tem alguma
programação diferenciada para esse meio?
5 - A rádio desenvolve alguma programação de evento com a cidade?
6 – Dentro da programação local, houve mudança na linguagem do rádio durante os
últimos anos?
7 - Muitos estudiosos e até empresários da tecnologia falam do fim das emissoras de
rádio. Você, que atua nesse meio já há algum tempo, qual sua avaliação sobre a rádio
em cidades pequenas? Qual a importância da existência desse veículo para os
moradores deste município?
8 – Você acredita que com a internet diminuiu a interação do ouvinte com a rádio física,
no que se refere à interação de ouvintes ligando e enviando cartas?
9 – Você acredita, ou tem informações, sobre a audiência. Os ouvintes estão em maior
quantidade na área urbana ou rural?
10 – Gostaria que você fizesse suas considerações finais sobre a sua emissora e o
rádio em Mirassol D’Oeste.

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