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CUIABÁ-MT
2018
MARIA ELIZANGELA GOES DOS SANTOS
CUIABÁ-MT
2018
Dedico este trabalho a todos os
estudantes do EJA que, dentro dos seus
contextos e das dificuldades enfrentadas
no dia a dia, buscam pelo conhecimento e
aprendizado.
AGRADECIMENTOS
The research object selected for the present study is focused on audience perception of
radio broadcast programming, more precisely on how groups of listeners, students from
a class of Adult and Young Adult Continuing Education (EJA), held at a Public State
School named Benedito Cesário da Cruz, interact with local programming from three
(Hertzian wave) radio stations situated in Mirassol D’Oeste, Mato Grosso (Central-
Western) State, Brazil. Over the past years, it has been openly stated that traditional
mass media, such as Hertzian radio broadcasting, have been drastically dropping in
audience preference. The main argument under this current discourse is that a large
number of interlocutors have been migrating from traditional Hertzian wave radio
broadcasting to hypermedia – the latter, enhanced by new technologies such as
computers and cell phone devices. This research work is aimed to investigate how the
participants of the research group would produce interaction and interactivity, mediated
by local radio broadcast programming. The research databases were generated in a
three-phased methodological procedure. Firstly, a qualitative interview was carried out
with radio presenters from each of the three local radio stations, aiming at finding out
some relevant information regarding their content production, as well as identifying how
the selected research participants would interact with the local programming. The
second phase of the research involved other data collection tool – a questionnaire
meant to build a profile of the participants and also to identify their personal
characteristics and audience preferences to fit for research purposes. As for the survey
response rate, 88 (eighty-eight) participants spontaneously replied the questionnaire.
The outcomes from this research action provided samples for the quantitative data
analysis. Finally, on the third stage of the work, a qualitative research, framed for focus
group sessions and based on a free-association method (GASKELL, 2002) was
conducted with two groups from EJA education: one consisting of eight (08) students,
varying from 19 to 25, tagged as “Young Adults”. The other group of students, between
the age of 30 and 45 years-old, were categorized as “Adults” and counting on nine (09)
members, making a total of seventeen (17) volunteer participants. As previously stated,
the main aim of this research was to identify through student-listener narratives which
contents are mediated, and which ones are evidentiated through listener’s daily
discursive practices. In other words, the research work was designed to investigate
which contents effectively trigger the meaning-making process and are able to build
social bonds, with basis on interaction and interactivity constructed from broadcast
programming, which are provided by the three traditional radio broadcasting stations in
Mirassol D’Oeste town.
1 INTRODUÇÃO
A referida temática me motivou a realizar esta pesquisa. Por ser uma profissional
que atua em diversos setores da programação radiofônica, interessei-me por investigar
como os indivíduos estavam interagindo com o meio de comunicação rádio tradicional
(hertziano), diante das constantes mudanças culturais midiáticas.
A priori, e empiricamente, eu observara que os meus alunos utilizavam o celular
durante praticamente todo o tempo de aula, para diversas finalidades. Foi a partir desta
constatação que resolvi, de forma mais sistematizada, questionar os acadêmicos dos
primeiros semestres de uma universidade particular de Cuiabá-MT, de faixa etária
variante entre 17 e 20 anos, sobre sua relação com a comunicação radiofônica, com o
objetivo de descobrir se eles ouviam rádio, e se o faziam, por meio de quais
equipamentos ou plataformas.
Em uma iniciativa de pesquisa, apliquei um questionário fechado por meio do
qual 90% dos entrevistados disseram não ouvir rádio; 7% informaram que ouviam rádio
no carro; e os 3% restantes responderam que ouviam rádio no celular.
Esses dados foram obtidos em 2015, servindo como uma etapa exploratória para
uma investigação mais aprofundada sobre a temática a ser feita com estudantes de
outros contextos, de diferentes níveis escolares, em outro contexto histórico-cultural-
geográfico de Mato Grosso, campo de pesquisa de meu particular interesse. Foi
baseada nessas premissas que elaborei meu projeto de pesquisa.
A escolha por Mirassol D’Oeste como lócus da pesquisa se deve a minha
familiaridade com a localidade, cenário onde vivenciei a infância e a adolescência e
onde construí significativas memórias afetivas sobre as comunicações radiofônicas.
Sem muito esforço, ainda posso ouvir as badaladas do sino da igreja matriz,
anunciando ‘a hora da ave-maria’, que era transmitida, às 18h em ponto, pelos serviços
de alto-falantes, único meio de comunicação coletiva na cidade nos idos dos anos 70 e
início da década de 80.
Outra programação que habita minhas memórias era apresentada pela manhã,
no horário das 8h às 9h, com músicas de roda de viola. Ainda me recordo de que, no
13
2 CAPÍTULO 1
menor do que o da AM, porém com melhor qualidade na transmissão do áudio, o que
oportunizou a veiculação de conteúdos para públicos menores, sendo utilizada
inicialmente como rádio musical para ambientes direcionados, tais como hospitais,
indústrias e escritórios.
Os empresários do meio radiofônico despertaram para o mercado da
programação musical, o que impulsionou uma retomada do rádio, com a promoção de
cantores e novos investimentos. Outro marco no final da década de 60, datado em maio
de 1969, foi a criação da Rádio Mulher, em São Paulo – “a primeira emissora brasileira
a se especializar exclusivamente em assuntos femininos, fundamentada em moldes
norte-americanos e europeus” (ORTRIWANO, 1985, p. 24), proporcionando, deste
modo, uma programação segmentada.
Um pouco antes, em 1964, com o início da ditadura militar, o governo federal
propôs uma mudança radical no processo educativo do Brasil por meio da utilização do
rádio e da televisão. Para tal, o governo criou, a partir dos anos 70, o “Projeto Minerva”,
que dava ênfase à educação de adultos e que foi transmitido, por meio de emissoras de
rádio e de televisão, até meados dos anos 80.
Naquele momento histórico, faz-se necessário contextualizar o movimento
mundial das rádios livres e rádios piratas, iniciado na Itália, em 1975, com o propósito
de romper o monopólio estatal das telecomunicações, por meio de rádios ilegais e não
autorizadas. Com uma programação politizada, essas emissoras não se encontravam
vinculadas a partidos políticos, entidades religiosas, órgãos estatais ou grupos de
interesses comerciais.
No Brasil, esses tipos de emissoras também surgiram nos anos 70, o que muito
incomodou o governo da época, que optou por criar, em 1976, a Empresa Brasileira de
Radiodifusão (Radiobras), com o propósito de organizar as emissoras e operá-las. Mais
tarde, o próximo governo arrumaria outra solução para neutralizar as rádios livres,
permitindo concessões de rádios comunitárias, pela legislação (nº 9.612/1988)1, sendo
tais emissoras em frequência modulada, operada em baixa potência e de cobertura
1
BRASIL. Secretaria da Casa Civil do Governo Federal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9612.htm> Acesso em: 20 abr. 2015.
20
Uma parcela dos donos de rádio não limita mais suas estratégias de
comercialização à distribuição de sinal por satélite ou a realização de
promoções. Agora eles buscam verbas diversificando o negócio com a
venda de projetos e produtos que possuem a cara da emissora. A
Jovem Pan, por exemplo, começou a fazer discos, que venderam em
seis meses 1,5 milhão de unidades, o que equivale ao que alcançaram
Roberto Carlos e Chitãozinho e Xororó. A receita obtida é muito maior
do que a que a emissora atingiria com a venda de todo o seu espaço
inteiro.
Em 1996, mais de mil estações de rádio, de todo tipo de segmento, criaram sites
na web nos Estados Unidos. Na mesma época, o número total de emissoras brasileiras
com o endereço disponível na internet chegava a cerca de 20 empresas:
Mesmo que o rádio tenha sido concebido para ser ouvido e não
necessariamente para ser lido, é crescente o número de canais
radiofônicos centrados em entrevistas e bate-papos na internet. Embora
a maioria ofereça apenas informações sobre a estação de rádio
acessada e links para outros sites, há cada vez mais emissoras tirando
proveito da tecnologia de áudio em tempo real para transmissões ao
vivo (BIANCO, 1999, p. 213-214).
21
O sistema digital, seja qual for, traz uma série de vantagens e uma delas
é a possibilidade de multiprogramação (multicast), uma vez que a
digitalização permite a divisão de frequência em dois ou três canais
diferentes, capazes de operar de forma simultânea e com a
programação diferente. A agregação de informações complementares,
como textos, fotos, gráficos, vídeos também cria novos horizontes para o
veículo no rumo multimídia, um dia tido como moribundo (NEUBERGER,
2012, p. 137).
Kischinhevsky (2016, p. 72) relata que o rádio tem ampliado o diálogo com outros
meios tradicionais de comunicação, com a finalidade de se promover e também de
recorrer às plataformas e aos canais disponíveis pela internet para realizar o que o
estudioso denomina “serviços de rádio social”:
Semelhantemente ao ocorrido nos anos 60, com o surgimento das FMs, que
proporcionou às emissoras de pequeno porte estar em empresas, consultórios, entre
outros, os novos softwares também permitiram o crescimento significativo de rádios
26
2 Rádio Yânde. Disponível em: < http://radioyande.com/ >. Acesso em: 15 jul. 2017.
28
3 CAPÍTULO 2
paradigma não mostrava a pretensão, ou ao menos não tinha como objetivo, desvendar
os efeitos produzidos por meios e mensagens sobre um receptor passivo. A proposta
dos dois autores era a de investigar o processo de comunicação onde ela realmente se
processava, ou seja, nos contextos dos receptores.
Este avanço teórico vai ao encontro de um receptor localizado culturalmente,
capaz de criar sentidos próprios para os conteúdos e os formatos veiculados pelos
meios de comunicação de massa, ou de, no mínimo, negociá-los a partir de seus
referenciais.
De acordo com essa perspectiva, o receptor deixa de ser visto como um mero
consumidor passivo dos produtos culturais de massa ou como ‘alienado’ do processo
de produção de sentidos. Contrariando as correntes teóricas de então, o receptor passa
a ser visto como um “coprodutor” desses processos.
Obviamente, a produção de sentidos a que os autores se referem não é
simétrica. Tampouco caracterizam uma coprodução no sentido de compartilhar a
concepção dos produtos de massa, uma vez que a indústria cultural ainda continua a
produzi-los. Entretanto, este mecanismo, em sua heterogeneidade, produz outros e
diversos sentidos para o que é emitido pela indústria cultural.
Apesar dessas constatações, ainda se tem dois sujeitos – o emissor e o receptor
–, e nesta relação entre eles, que não é direta, emerge o papel das mediações. Estas
são constituídas por elementos que formam a urdidura onde o tecido cultural se realiza.
Trama esta onde a atuação dos produtos massivos deve ser analisada e, pela qual, se
faz possível compreender a apropriação cultural realizada pelo receptor.
Parafraseando Martín-Barbero (2001, p. 274), a mediação pode ser entendida
como um conjunto de influências que estrutura, organiza e reorganiza a percepção da
realidade na qual está implícita, ou explícita, tal realidade. As mediações produzem e
reproduzem os significados sociais, sendo o “espaço” que possibilita compreender as
interações entre a produção e a recepção. O lugar privilegiado para abordar as
mediações tende a ser, portanto, o cotidiano: “O campo daquilo que denominamos
mediações é constituído pelos dispositivos através dos quais a hegemonia transforma
por dentro o sentido do trabalho e da vida da comunidade”.
30
Por muito tempo esta dimensão da vida foi negada pelas teorias e pela política
que, ao tratarem os amplos setores da sociedade, apenas os consideravam sob a ótica
da produção e da luta reivindicatória, respectivamente. Por não estar diretamente ligada
ao sistema produtivo, a cotidianidade foi considerada sem espessura política, portanto,
também sem interesse cultural.
A mudança de postura permitiu a compreensão do espaço doméstico, até então,
considerado um obstáculo para a conscientização política, ou tido como possibilidade
limite para o indivíduo exercer sua criatividade. A inclusão desses elementos, na
discussão sobre a relação entre comunicação e cultura, permite dizer que, na realidade,
os estudos de recepção nada mais são do que estudos sobre identidade, uma vez que
buscam identificar as diferenças entre apropriações, leituras, percepções,
entendimentos, valorações, produções de sentidos, entre outros.
Enquanto Martín-Barbero (2001) buscava entender a produção mediada entre o
sujeito e os produtos comunicacionais, Canclini (2000) pesquisava as transformações
culturais geradas pelas tecnologias da época, com a finalidade de averiguar se, naquele
sentido, a mediação não estava somente entre o sujeito e os meios de comunicação,
mas também entre o sujeito e a expansão cultural promovida pelas tecnologias e pelos
processos de expansão urbana.
Depois de seguir pesquisando os diversos caminhos entre as diferentes culturas,
Canclini (2000, p. 348) aponta que tais transformações trazem um novo conceito de
cultura, a qual o autor define como cultura híbrida:
A partir dos anos 2000, devido aos fenômenos propiciados pela internet, a
abordagem trazida por Canclini desponta em torno de novas significações para a
recepção e a mediação, além de incluir ao processo comunicacional as práticas
interacionais e interativas.
31
Mauro Wilton de Sousa (2006, p.15) aborda a recepção “sobre novos olhares”,
ele que, até então, tentava “desvendar” o lado oculto do receptor, traz nesse momento
uma mediação reinterpretada:
autores, por exemplo, o francês Claire Belisle3. Estudos estes que fossem voltados às
investigações entre as interfaces e os ângulos da etnografia e da psicologia; da
interlocução e da linguagem; das práticas sociais e da semiologia; da genealogia e das
práticas culturais; da interatividade do sujeito na recepção, ou dos estudos sobre
estética da recepção, entre tantas outras possibilidades. De acordo com Sousa (2006,
p. 23), as pesquisas que envolviam o construto recepção em vigência naquele
momento apontavam problemáticas parciais e transversais:
3 BELISLE, Claire et al. Médias, la recéption revisitée. Revista Media Pouvoirs, n. 25,1992.
33
Por outro lado, Orozco Gómez também destaca que os novos elementos
proporcionados pelas novas tecnologias da informação, como as convergências e as
interatividades, geraram, a priori, muitas dúvidas em relação às teorias propostas até
então. Segundo o estudioso, muitos teóricos declararam o fim dos meios tradicionais
devido a suas audiências nas redes sociais, gerando mecanismos do tipo “antes de” e
“depois de” cada rede social, para se explicarem as mudanças interacionais.
Na perspectiva do autor (2011, p. 29), “as maiores ‘minas’ no campo da
comunicação, no entanto, vieram da culturologia”:
Portanto, Orozco Gómez (2011, p. 30) afirma que, após as buscas teóricas para
entender o novo contexto, o mundo acadêmico da comunicação voltou a reconhecer a
centralidade do comunicativo, da mediação midiática e de sua relação composta com o
poder:
Para Orozco Gómez (2011, p. 30), o desafio deverá ser enfrentado com a
educomunicação, a qual ele coloca como “condição comunicacional” que permite
transformações, no âmbito de criação e de participação efetiva dos sujeitos nas
audiências, a partir de suas interações com os meios:
34
Nesse contexto, o foco adotado pelo autor propõe reflexões dos fenômenos de
comunicação que estão aquém dos meios das mídias, Baitello Junior (2014, pref. p. 4)
retoma a comunicação humana produzida de um ‘corpo’ emissor para a outra ponta: a
do ‘corpo’ receptor. Nessa perspectiva, ele dialoga sobre o vínculo entre a comunicação
e a cultura e vice-versa:
36
Enquanto o som tem como seu principal ambiente o ar, a imagem tem
como seu canal a luz. O ar, quando vibra na produção do som, estimula
a pele. A luz somente o faz quando se transforma em calor. Mas nem
sempre a luz se transforma em calor. A imagem luminosa do cinema, da
televisão e de um outdoor não se transforma em calor. E, portanto, não
atua sobre o corpo todo, não produzindo estimulação tátil. Destina-se
apenas à retina, com um direcionamento pontual. Sua direcionalidade é
distinta, portanto. Para ouvir sons, basta que sejamos passivamente
receptivos, aprendemos a ser passivos. Já para a recepção da imagem,
somos obrigados a ser ativos, a direcionar o nosso olhar para algum
objeto.
37
Em outras palavras, Baitello Junior (2014, parte II, cap. 1, p. 18) diz ser
necessário retomarmos os sentidos para criar novos vínculos:
Pensando por essa linha de raciocínio, na cultura do ouvir proposta por Baitello
Junior, o meio rádio estaria em vantagem diante dos outros meios de comunicação no
que diz respeito à audição. Vários autores abordaram anteriormente o tema, relatando
as diversidades das funções auditivas e as características peculiares do ouvido e do
ouvir.
Em síntese, a função auditiva é formada a partir do quarto mês de gravidez,
permitindo ao bebê sentir os sons emitidos pelo corpo da mãe, gerando sua condição
de pertencimento. Wulf (2002), em Cosmo, Corpo e Cultura, pontua que, além de ser o
ponto de equilíbrio do corpo, o ouvido tem a capacidade de captação de sons em 360
graus, enquanto a visão permite a captação de imagens panorâmicas ou focadas na
direção dos olhos.
Menezes e Baitello Junior fazem uma releitura de diversos autores e de seus
respectivos conceitos para dar sustentação à cultura do ouvir. Menezes (2007, p. 83)
relata a relação promovida pelo rádio com os indivíduos no dia a dia da cidade, por
meio de seus locutores e conteúdos, dentro do tempo-espaço marcado pelas 24 horas
do relógio, pela troca e consumo das informações locais e pelos vínculos culturais
estabelecidos:
Tanto Menezes (2007, p. 23), quanto Baitello Junior, a seu modo, buscam
entender e provocar reflexões no que diz respeito às relações humanas diante das
mídias digitais, a partir das mídias primárias, secundárias e terciárias, conforme citadas
anteriormente, no intento de chamar atenção ao que, para os dois estudiosos, está
olvidado nos estudos da comunicação. Os corpos estão antes e depois de máquinas, e
nesse entremeio, se faz essencial escutar quais são os vínculos:
39
Utilizamos a palavra vincular para nos referirmos a laços que unem dois
espaços. Vincular no sentido de se “ter ou criar” um elo simbólico ou
material, constituir um espaço (ou um território) comum, a base primeira
para a comunicação. Assim, entendemos que a sociedade se constitui
por um conjunto de vínculos.
4 CAPÍTULO 3
emissora e que tem mais audiência, ele ocorre entre 11h e 13h, são duas horas de
informação”.
Entretanto, o Comunicador C (Rádio Continental) informou que o programa da
manhã, que mescla notícias, músicas e entretenimento tem a maior audiência da
emissora: “O programa que tem mais audiência é o ‘Bom dia Continental’, o qual eu
apresento. O programa fica no ar das oito da manhã ao meio-dia, com participação do
ouvinte, música, e muita informação”.
Podemos perceber, pelas narrativas de audiências nas programações, que
manter-se informado a respeito das notícias locais é uma das prioridades do ouvinte em
Mirassol D’Oeste. Esses dados refletem a interação deste ouvinte com as ocorrências
locais.
Conforme dados da Pesquisa Brasileira de Mídia 20154, os principais motivos
pelos quais as pessoas ouvem rádio são: a busca por informação (63%), diversão e
entretenimento (62%) e como forma de passar ou aproveitar o tempo livre (30%). Nesse
sentido, o rádio pode ser classificado – ao lado da televisão e da internet – como um
meio de comunicação de utilidade híbrida, voltado tanto para o lazer, quanto para o
conhecimento, referentes aos assuntos importantes do cotidiano dos ouvintes.
No que concerne à programação de entretenimento, o Comunicador A destaca o
programa esportivo – devido ao restante da programação ser a retransmissão religiosa:
“O Bate Bola Difusora está há muitos anos no ar, falamos das notícias do esporte local,
regional e nacional, é feito entre 11h30 e 12h”.
Segundo o Comunicador B, os três períodos têm programação de entretenimento
na emissora, “mas é o período da manhã que continua sendo o primeiro em
participação do ouvinte, à tarde tem uma leve diminuição, à noite diminui mesmo, por
conta da televisão”. Ele informa ainda como é a interação com o ouvinte nos programas
de entretenimento:
Comunicador C:
5 CAPÍTULO 4
Para desenvolver esta segunda etapa da pesquisa, realizei uma coleta de dados
para ter uma amostra quantitativa, na qual apliquei um questionário aos estudantes do
Ensino de Jovens e Adultos (EJA), para coletar dados para esboço dos perfis
socioeconômico e cultural. Segundo Bauer e Gaskell (2002, p. 23), a pesquisa
quantitativa lida com números e modelos estatísticos para explicar dados:
Por outro lado, Bauer e Gaskell (2002, p. 23) ressaltam a flexibilidade deste
modelo, uma vez que a pesquisa quantitativa passou a ser utilizada em muitos campos
da ciência social:
5 5
7 4
2
3
2
1
13 Masculino 16 Feminino
17 Masculino 19 Feminino
08 Masculino 15 Feminino
Tais argumentos nos fazem refletir que há pessoas que ainda relacionam o rádio
ao aparelho tradicional, mesmo quando elas estão ouvindo programações radiofônicas
em outras plataformas.
3F É um meio de comunicação para as É isso mesmo, quando fala que vai anunciar
pessoas ficarem mais interagidas no notícia de emprego a gente já para e fica
que tá acontecendo, né... esperando (concordou com o nº 2), do mais fica
ligado lá, mas quando vai falar de emprego a
gente já fica ansioso, esperando...
Continua
61
Continuação
4M É um meio pra anunciar algum Não se manifestou.
produto, pra anunciar o que tá
acontecendo na cidade, essas coisas
aí...
5M Um meio de comunicação pra Também quando eu escuto falar, tal fulano
anunciar uma festa, um lançou tal música, porque a rádio sempre lança
entretenimento pras pessoas, o que primeiro. Também vou escutar algum anúncio
tá acontecendo na cidade... de emprego. Às vezes anuncia que perdeu uma
galinha, depois vai falar o nome da pessoa, daí
a gente fica escutando pra ver se a gente
conhece, se ajuda ou não...
As falas deste quadro já apresentam o início de interação entre o grupo, uma vez
que os estudantes começam a dialogar entre si. Na 3ª abordagem, “Imagine se você
tivesse que explicar para alguém o que é o rádio. Como você o descreveria?”, a citação
“meio de comunicação” aparece nas falas 8, 1, 3, 4 e 5, explicitando que esses
estudantes reconhecem o rádio como um veículo de comunicação, ou seja, como
emissora. Já o estudante 2 narra o rádio como “um aparelho que toca música lá e o
povo fica escutando...”, ou seja, supostamente pensou no rádio como aparelho.
62
assunto? Ele continua: “eu já ouvia antes, mas depois que prestei atenção, porque
antes ouvia, mas passava distraído...”.
Aqui destaco que, devido ao rádio ser, como já citado por vários autores, “um
pano de fundo no dia a dia das pessoas”, muitos não têm a consciência de que ouvem
rádio no local em que se encontram, como exemplificado pelos próprios estudantes
quando dizem ouvir no trabalho, ou mesmo em casa, porque o aparelho já está lá
ligado.
O estudante 5 destaca que é interessante escutar o rádio para saber sobre o
lançamento de músicas: “também quando eu escuto falar, tal fulano lançou tal música,
porque a rádio sempre lança primeiro...”. Nota-se aqui que possivelmente este é um
público de jovens que não tem o hábito de buscar lançamentos de músicas em playlists
disponibilizadas pela internet, que ainda tem a cultura de consumir os lançamentos
musicais pelas emissoras de rádio.
Outra fala inusitada feita pelo estudante 5 foi sobre anúncio de perda de animais:
“às vezes anuncia que perdeu uma galinha, depois vai falar o nome da pessoa, daí a
gente fica escutando pra ver se a gente conhece, se ajuda ou não...”, o que demonstra
a percepção dele sobre a programação do veículo, um local de divulgação de serviços
de utilidade pública.
Continua
64
Continuação
8M Não se manifestou. E também logo de manhã eles colocam uma
frase de motivação para o seu dia, né, eles
falam umas frases bem legais mesmo, que
deixam a pessoa pra cima...
Fonte: Elaborado pela autora.
Continuação
1M Eu acho que é mais ouvida, porque é Não se manifestou.
uma rádio mais pra jovem, acho que
é por isso, a programação é jovem,
da Continental...
7M Lá na fazenda, na região do Porto Não se manifestou.
Esperidião, as pessoas gostam de
ouvir que pega melhor a Continental,
tanto o programa que eu falei,
Alvorada Sertaneja, como o rádio
Rodeio, as notícias, porque lá tem
muita gente que é daqui, daí escuta
ela e fica sabendo das notícias
daqui...
radiojornal, apresentado das 11h às 13h. Já a rádio Difusora não foi citada por nenhum
dos estudantes.
Em relação à abordagem 8ª, sobre o que pensam sobre se as pessoas ouvem
mais rádio ou assistem mais à TV, apenas os estudantes 8, 1, 2 e 6 se manifestam,
superficialmente, porém com narrativas interessantes. Por exemplo, do estudante 1: “eu
acho que sim, pra uma sociedade mais carente a televisão da pessoa é o rádio, né...”.
Na percepção desse participante-estudante, o meio rádio é o local onde a
população de baixa renda pode ter acesso à informação. Nesse sentido o estudante 6
complementa: “é, se não tem parabólica ou o aparelhinho na TV, não pega, daí é só o
rádio mesmo...”. Já o estudante 2 traz em sua narrativa um contraponto: “e hoje toda a
informação passa na rádio, né...”, ou seja, as falas apresentadas dos dois estudantes
dão indícios de que quem mais ouve rádio é a população carente, no entanto, o
estudante 2 diz que isso não importa, pois o meio rádio também traz todas as
informações, como os outros meios.
internet eu ouço, porque tem muitas diferentes, mas rádio não...”; o estudante 1, que
relata ouvir o programa Estúdio 95, sendo esse um podcasting para jovens, e apenas o
4 afirma ouvir a emissora de rádio Jovem Pan.
Quando questionados sobre quanto tempo passam conectados na internet e o
que costumam acessar, apenas os estudantes 4 e 6 responderam. Conforme relato no
quadro, após a fala do estudante 6 todos riram da afirmação dele: “só onde tem wi fi...”
e ninguém mais se manifestou.
Esse é um ponto que merece atenção, pois geralmente os jovens estão
‘conectados’ com assuntos relacionados à internet, mesmo não ouvindo rádios,
poderiam ter narrado sobre outros temas de interação com o meio, no entanto, não
houve mais diálogo sobre o assunto.
Continua
68
Continuação
2M Tem piada mais lá na rádio em (Deu sequência à fala anterior) ...Ligo lá do
Quatro Marcos, o povo gosta de fazer meu serviço, peço música pro pessoal do
piada na rádio lá... trabalho, ligo pra participar de promoção...
3F Eu só escuto o que a mulher que vai Não se manifestou.
lá limpar e passar ouve, eu uso a
internet de um amiga minha, pra ver
Facebook e WhatsApp, mas essas
outras coisas de comunicação não.
5M Não se manifestou. Não se manifestou.
4M Às vezes eu ligo quando tem sorteio, assim
sorteio de um ingresso de uma festa ou pra
ganhar algum brinde...
3F Não se manifestou.
Fonte: Elaborado pela autora.
Continuação
3M Que é um aparelho que sai som... Que tem programação parecida com a da
TV, mas só sai o som, por isso que tem
mais música...
4M Um aparelho de ouvir as coisas... Que lá fala de tudo que a gente precisa
saber no dia...
5F Ah, que é o lugar onde o locutor fala e a É onde passa notícia da cidade...
gente escuta...
6F Eu ia falar que é um lugar para ficar Eu já ia ligar o meu pra pessoa ouvir
informado... logo...
7F Que é um aparelho, mas que tem na Que tem muita coisa boa, mas tem muita
internet também; baixaria também...
8F Isso mesmo, é um aparelho, mas tem Isso que falei, que tem músicas e notícias
rádios que dá para ouvir na internet para as pessoas ouvirem...
(concorda com o estudante nº 7)
9F Que é um coisa boa, porque a gente Fala das notícias que acontecem por aqui,
sabe daqui. na nossa região...
Fonte: Elaborado pela autora.
Continua
74
Continuação
3M Minha mãe gosta muito, desde pequeno Saber notícias, ficar informado, se divertir...
eu lembro dela limpando a casa,
fazendo almoço, escutando o rádio...
4M Tem muita gente, né, acho que aqui na Pra saber das coisas da cidade, ou para
cidade todo mundo ouve... passar o tempo com música...
5F Todo mundo ouve um pouco... Uns gostam do jornal, outros da música...
(concorda com o estudante nº 4)
6F Em casa mesmo, somos em cinco, na É pra saber do jornal, dos programas, tem
hora do almoço a gente ouve o jornal... as mensagens...
7F Eu gosto de ouvir muito, e ouço muito na Porque ajuda, ensina muitas coisas,
rádio da internet... informa de tudo...
8F No meu trabalho, é bastante gente, Então, porque é igual a gente ouve no
mesmo não querendo ouvir, ouve, serviço, pra saber de tudo que acontece na
porque o rádio fica ligado o dia todo... cidade, na região...
9F Ah, umas três pessoas... Pra saber de tudo por aqui, mas tenho uma
amiga que só gosta daquele programa de
fofoca dos artistas, do horóscopo, todo dia
ouve as mensagens do dia de manhã...
Fonte: Elaborado pela autora.
Continuação
Neste último quadro do grupo adulto, eles repetem sobre a maioria dos assuntos
já apresentados nos diálogos. Entre os relatos da abordagem 13ª, destaco o da
79
6 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
grupo Jovem, quanto do grupo Adulto, existe o desejo por programações mais
elaboradas sobre as histórias e acontecimentos de Mirassol D’Oeste e região, nos
segmentos jornalísticos e humorísticos.
Identifica-se aqui um universo favorável para as emissoras de rádio hertzianas,
que são fadadas à extinção toda vez que surgem novos meios e formas de
comunicação. Afinal, o público pesquisado, estudantes do EJA, faz parte de uma
grande parcela da população brasileira, de baixa renda, atingindo quase 2,8 milhões de
estudantes.
Além disso, vale ressaltar que ainda há no país um grande número de
analfabetismo, conforme informado na pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de 2016, publicada em dezembro de 2017, no jornal o Globo 7. São
cerca de 11,8 milhões de analfabetos, o que corresponde a 7,2 da população de 15
anos ou mais.
E segundo a pesquisa, conforme informou o jornal8, cerca de 24,8 milhões de
pessoas de 14 a 29 anos estão fora da escola no Brasil. Ou seja, números expressivos
quando analisados culturalmente do polo receptivo da comunicação, pois vimos nesta
pequena amostra de pesquisa que são pessoas de baixo poder aquisitivo, com poucas
condições de acesso aos novos meios, como a internet, por falta de recursos
financeiros e culturais.
Dados da pesquisa de audiência do Kantar Ibope Mídia9 do 2º semestre de 2017,
realizada em 13 regiões metropolitanas do país, também trazem informações sobre a
recepção radiofônica. São 52 milhões de pessoas que escutam rádios nas regiões
pesquisadas, um total de 87% da população, contabilizando 4h40 em média de tempo
que cada ouvinte escuta por dia. Destes, o rádio alcança 91% entre os jovens de 15 a
19 anos, e 90% nas faixas etárias entre 20 e 34 anos.
Vale apontar que 58% destes o fazem em casa no rádio convencional, 14% no
aparelho celular e apenas 4% pelo computador, o que demonstra que a emissora
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No entanto, acredito ser necessário ampliar a discussão sobre o que seria, neste
contexto, o ‘acessível’ e o que seria de fato o ‘acesso’, pois, como vimos nesta
pesquisa, e já constatado em outros trabalhos, as condições financeiras e culturais não
permitem que grande parte da população tenha em mãos essas tecnologias. Mas esta
será uma outra história.
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REFERÊNCIAS
BIANCO, Nélia R. Del; MOREIRA, Sônia Virgínia. (Orgs). Rádio no Brasil Tendências
e Perspectivas. Rio de Janeiro: EDUERJ e Editora UnB, 1999.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: Teoria e Prática. São Paulo: Ed. Summus, 2014.
FERREIRA, João Carlos Vicente; SILVA, Pe. José de Moura e. Cidades de Mato
Grosso e significado de seus nomes. Cuiabá: J.C.V. Ferreira, 2008.
87
PRATA, Nair. WEBradio, novos gêneros, novas formas de interação. São Paulo:
Editora Insular, 2012.
88
______. Interação mútua e reativa: Uma proposta de estudo. Revista Farmecos, n. 12,
p. 81-92, jan. 2000.
PRIMO, Alex. (Org.). Interações em Rede. Porto Alegre: Editora Sulina, 2013.
RÁDIO Yânde. Disponível em: < http://radioyande.com/ >. Acesso em: 15 jul. 2017.
SOUSA, Mauro Wilton. (Org.). Recepção Midiática e Espaço Público: Novos Olhares.
São Paulo: Paulinas, 2006.
APÊNDICES
1 - Nome: (OPTATIVO)
4 - Escolaridade:
8 - Renda familiar:
9 - Renda pessoal:
10 - Local residência:
12 - ( ) Solteiro ( ) Casado
( ) no carro
18 - Por quê?
19 - Em qual rádio?
24 - Por quê?
25 - Em qual canal?
29 - Por quê?
30 - Em qual rádio/site?
14º) Alguém quer falar alguma coisa a mais sobre programação, meios de
comunicação?
REFERÊNCIAS
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa com texto, Imagem e
Som. Petrópolis: Vozes, 2002.
93
Entrevista:
Nome completo:
Quanto tempo trabalha na Rádio: