Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

CAIXAS TETRAPAK: NOVOS MÉTODOS DE RECICLAGEM


José Leonardo de O. Rodrigues¹

INTRODUÇÃO JUSTIFICATIVA

Este tema vem buscar dentro do campo As embalagens cartonadas longa vida,
de conhecimento em Educação presentes nas prateleiras de todos os
Ambiental e novas engenharias de supermercados, apresentam vasta
reciclagem de materiais, mostrar e utilização e consumo. Sua principal
tentar implementar o conceito de vantagem é evitar o contato dos
reciclagem de embalagens especiais. alimentos com microorganismos,
oxigênio e luz, favorecendo a sua
Em nosso estudo foi colocado em
preservação por períodos prolongados
questão a reciclagem das embalagens
sem a necessidade de refrigeração.
tipo “TetraPak”, pelo motivo destas
Vários produtos são comercializados
possuir três tipos de material que são
prensados entre si formando uma hoje com a utilização dessas
embalagens. Entretanto, o seu descarte
embalagem limpa e que é utilizada para
pode gerar impacto ambiental, em
manter alimentos livres de
função da difícil degradação de seus
contaminação.
constituintes e da grande quantidade
Além de terem um bom rendimento
gerada – em 2004, foram consumidas,
sobre o fator econômico, uma vez que
no Brasil, cerca de 160 mil toneladas
após a reciclagem e transformação da
(CEMPRE, 2006a).
embalagem é aproveitado o papel, o
Neste trabalho, serão discutidos a
plástico e o alumínio.
constituição das embalagens cartonadas
e o seu reaproveitamento com vistas a
OBJETIVO GERAL um ciclo de vida com menor impacto no

O objetivo foco do trabalho é o modo de ambiente.


reciclagem das embalagens cartonadas
modelo TetraPak.

¹ ls-consult@hotmail.com
RESULTADOS vida, as quais chegaram ao Brasil no
início dos anos 1970.
A necessidade de sobrevivência do
homem primitivo o obrigou a criar as
primeiras embalagens da humanidade.
Conchas marinhas, cascas de castanhas
ou de coco devem ter sido as primeiras
embalagens utilizadas para beber e
estocar. Usados em estado natural, sem
qualquer beneficiamento, os primeiros
recipientes passaram, com o tempo, a
ser fabricados a partir da habilidade
manual do homem. Assim, surgiram
tigelas de madeira, bolsas de pele,
potes de barro e cestas de fibras
naturais.
Figura 1: Primeira embalagem cartonada
A preocupação em conservar alimentos lançada em Lund, Suécia, em novembro de
1952.
fica mais aguda em períodos de forte Foto do banco de imagens da Tetra Pak
(TETRA PAK, 2006b).
escassez. Na Europa, durante a Segunda
Grande Guerra, o problema de Conhecendo os materiais que
abastecimento de leite foi minimizado compõem a embalagem cartonada
quando o empresário sueco Ruben
Além da conservação dos alimentos por
Rausing desenvolveu uma embalagem
períodos prolongados, o uso das
tetraédrica (Figura 1), empregando
embalagens cartonadas representa uma
papel e plástico, selada na ausência de
economia de energia elétrica, já que a
oxigênio (Tetra Pak, 2006a).
maioria dos produtos não necessita de
Era o começo da embalagem cartonada refrigeração enquanto fechados, seja no
longa vida. Durante os anos 1950, com transporte ou no armazenamento.
o aprimoramento do envase asséptico e
Essas embalagens são leves
buscando resolver também os
(embalagens de 1 litro pesam,
problemas de estocagem, a embalagem
aproximadamente, 28 g), o que
cartonada ganhou o formato de um
contribui para a economia de
paralelepípedo. Em 1961, iniciou-se o
combustíveis durante o transporte. O
uso comercial das embalagens longa
volume ocupado pelas embalagens, Esses materiais, dispostos em ordem
também, é pequeno: 300 embalagens de determinada, passam por um processo
um litro, vazias e compactadas, ocupam de laminação, que consiste,
um espaço equivalente a 11 litros simplificadamente, em realizar uma
(Zortea, 2006). O transporte para as compressão sobre as folhas dos diversos
empresas processadoras de alimentos é constituintes.
feito na forma de bobinas, o que evita o
transporte de ar.

As embalagens cartonadas são


constituídas por multicamadas de papel,
plástico e alumínio (Figura 2) e variam
em tamanho, forma e maneira de
abertura (Figura 3), as quais são
escolhidas de acordo com o produto a
Figura 3: Exemplos de embalagens cartonadas.
ser envasado. Foto de Stellan Stebe (Tetra Pak, 2006b).

O papel cartão utilizado nas embalagens


cartonadas, também chamado de papel
duplex, por ser formado por duas
camadas (sendo uma delas branca)
unidas sem cola, oferece suporte
mecânico e resistência à embalagem,
além de receber a impressão dos
rótulos. Segundo a empresa fabricante
dessas embalagens, a celulose usada na
fabricação desse papel é obtida de
florestas replantadas e certificadas, além
Figura 2: Multicamadas de uma embalagem de passarem por um processo produtivo
cartonada.
que não utiliza cloro (Tetra Pak, 2006a).

Em sua constituição, o papel representa Apesar disso, o processo de fabricação

75% em massa da embalagem, enquanto do papel é extremamente impactante ao

o alumínio e o plástico representam 5% ambiente e a possibilidade de

e 20%, respectivamente. reciclagem das embalagens cartonadas é


bastante atraente, tanto do ponto de
vista econômico quanto do ambiental.

O alumínio utilizado nas embalagens


atua como uma barreira à entrada de luz
e oxigênio. As embalagens apresentam
apenas uma camada de alumínio que se
encontra entre outras de polietileno.

O plástico empregado em embalagens


cartonadas (polietileno de baixa
densidade, PEBD) é útil para isolar o
papel da umidade (camada externa),
impedir o contato direto do alumínio
com os alimentos (camada interna) e
promover a adesão entre os outros
Figura 5: Estrutura química dos polietilenos de
materiais (camadas intermediárias). altas e baixas densidades
Pode ser encontrado em até quatro
camadas, como na embalagem Isso o torna razoavelmente flexível e
cartonada longa vida. O polietileno é permite que ele seja usado na produção
um polímero (material macromolecular de filmes plásticos. Outra propriedade
resultante da união de muitas importante do polietileno é o fato de ser
subunidades que se repetem, Figura 4). apolar e, assim, não ter afinidade por
água, o que é essencial para o uso em
embalagens de alimentos.

Figura 4: Polimerização do etileno Compósitos: o que não é fácil reciclar

Compósitos são combinações de dois ou


Como possui maior porcentagem de mais materiais que oferecem ao produto
cadeias laterais, o PEBD é menos final uma associação das propriedades
cristalino e menos denso que o de cada componente. Os materiais
polietileno de alta densidade – PEAD constituintes dos compósitos podem ser
(Figura 5). orgânicos, inorgânicos ou metálicos e
podem ser sintéticos ou de ocorrência
natural. Podem apresentar-se na forma um processo produtivo. Também
de partículas, fibras, lâminas ou permite verificar todos os processos
espumas. Comparados a outros sofridos pelo produto, desde a sua
materiais homogêneos, essa combinação fabricação até a sua destinação final,
variável de componentes possibilita, incluindo-se aí o impacto gerado sobre
muitas vezes, um aumento da eficiência o ambiente e os custos associados ao
do material como resistência mecânica, tratamento para minimização desse
densidade, propriedades elétricas e impacto (Zortea, 2006). Para a
valor agregado. Devido a essas embalagem cartonada longa vida, as
combinações de diferentes tipos de dificuldades em se propor um ciclo de
materiais, os compósitos podem ser vida (Figura 6) com menor impacto
difíceis de reciclar, pois se torna, ambiental são grandes, tendo em vista
dependendo de sua constituição, principalmente o caráter de compósito
extremamente difícil a pré-separação de laminado de materiais com
seus componentes para posterior características físicas e químicas bem
processamento.
diferentes. O desperdício de um
As embalagens cartonadas longa vida produto, além das implicações
apresentam um caráter de compósito ambientais, representa a perda de um
laminado, já que são formadas por uma valor energético agregado. Portanto,
combinação de papel cartão, PEBD e materiais recicláveis apresentam menor
alumínio, além da tinta usada na custo de produção do que as matérias-
impressão dos rótulos. Elas são, primas, pois já incorporaram processo e
portanto, materiais de difícil reciclagem conteúdo energético.
em função da agregação de materiais O Brasil consumiu, em 2004, 6,5
com características químicas e físicas milhões de embalagens flexíveis (dentre
bem diferentes.
elas as embalagens longa vida)
(Datamark, 2006). Nesse mesmo ano
22% das embalagens longa vida foram
Ciclo de vida e reciclagem das
recicladas no país, taxa superior à
embalagens cartonadas
mundial, que é de 16% (CEMPRE,
A análise do ciclo de vida de um
2006a). No entanto, como a maior parte
produto é uma ferramenta importante
dessas embalagens ainda é depositada
tanto para a logística quanto para a
em aterros sanitários, cresce a cada dia
verificação da viabilidade econômica de
o interesse em dar a elas um destino fabricados total ou parcialmente com
apropriado. fibras recicladas. É o caso de muitos

Os processos de reciclagem de papel, papéis para impressão, para escrever,


embalagens leves e pesadas e
alumínio e plástico já estão bem
estabelecidos. O processo de reciclagem higiênicos.

do papel inicia-se com a desagregação O polietileno, por ser um material


de aparas de papel para a separação das termoplástico, pode ser remodelado a
fibras, seguido de sua limpeza e partir de seu aquecimento para a
destintamento. produção de artigos como lonas e

utensílios domésticos. Não há dados


específicos sobre a reciclagem do
Figura 6: Ciclo de vida das embalagens plástico filme, mas em 2004, 16,5% dos
cartonadas longa vida. plásticos rígidos e plásticos filmes
foram reciclados no Brasil, que ocupa o

As fibras recicladas são chamadas de 4° lugar mundial na reciclagem

fibras secundárias e, também, podem mecânica do plástico (Cempre, 2006b).

passar por um processo de A reciclagem de materiais de alumínio,


branqueamento antes de irem para a como latinhas de bebidas e algumas
etapa de formação da folha na máquina peças de automóveis, é realizada com
de papel. Vários papéis podem ser sucesso. Em 2005, o Brasil bateu, pelo
quinto ano consecutivo, o recorde toda a energia gerada no Brasil
mundial de reciclagem de latas de anualmente (Abal, 2006).
alumínio para bebidas, com o índice de Apesar das possibilidades individuais da
96,2% (Abralatas, 2006). Nesse
reciclagem de papel, alumínio e
ranking, são contabilizados os países polietileno, o seu reaproveitamento a
onde esse tipo de reciclagem não é partir da embalagem cartonada não
obrigatório pela legislação. Durante o
constitui uma extensão simples dos
processo de reciclagem, os materiais são processos individuais. O modelo
fundidos e moldados novamente,
tradicional de reciclagem dessas
eliminando a extração do minério, seu
embalagens (Tetra Pak, 2006c) permite
refino e sua redução. A reciclagem de a separação do papel, mas mantém o
alumínio requer menos de 5% da
plástico e o alumínio unidos (Figura 7).

energia necessária para obter o metal Figura 7: Processo usual de reciclagem


(alumínio primário) a partir de seu das embalagens cartonadas longa vida.

minério, o que constitui uma grande


vantagem econômica e ambiental.
Nesse processo, a etapa inicial promove
Essa economia de energia elétrica a agitação mecânica das embalagens
representou, em 2004, cerca de 3 900 com água, em um equipamento
GWh/ano, o que corresponde a 1% de chamado hidrapulper, possibilitando a
hidratação das fibras de papel, fábrica de reciclagem de embalagens
separando-as das demais camadas de longa vida utilizando tecnologia de
plástico e alumínio. Essas fibras podem plasma térmico, que permite a
ser usadas na confecção de papelão separação total do alumínio e do
ondulado, bandeja de ovos, palmilhas plástico que compõem a embalagem
para sapatos e papel toalha. O alumínio (Tetra Pak, 2006c, Klabin, 2006). O
e o polietileno são prensados e secados novo sistema, segundo a empresa,
ao ar. A recuperação posterior desses totalmente desenvolvido no Brasil,
dois materiais pode envolver a utiliza energia elétrica para produzir um
incineração com obtenção de energia, jato de plasma a quinze mil graus
produzindo vapor d’água, dióxido de Celsius (15 000 °C) e aquecer a mistura
carbono e trióxido de alumínio (Al2O3), de plástico e alumínio.
que pode ser usado como agente
O plástico é transformado em parafina,
floculante em tratamentos de água ou
utilizada em indústrias petroquímicas, e
como refratário em altos fornos. O
o alumínio de alta pureza é totalmente
alumínio também pode ser recuperado
recuperado, voltando a ser transformado
na forma metálica em fornos de pirólise,
em folhas que serão empregadas na
com baixo teor de oxigênio, em que o
fabricação de novas embalagens
plástico serve como combustível para o
cartonadas, fechando o ciclo do
próprio forno. Nesse caso, o polietileno
material.
reage com o oxigênio, liberando
energia. Outra possibilidade é a
fabricação de materiais plásticos, com CONCLUSÕES FINAIS
alumínio incorporado, pelo processo de Este trabalho veio propiciar a
termo-injeção. aprendizagem sobre como é feito a
As embalagens também podem ser reciclagem das embalagens cartonadas
incineradas diretamente para produzir que utilizam três matérias diferentes
energia ou prensadas, a altas (papel, plástico e alumínio). É
temperaturas, para a produção de chapas importante de se dizer que a partir de
resistentes para a utilização em móveis estudos como este possa vir a acontecer
e divisórias. uma conscientização das comunidades,
escolas e municípios para a implantação
Em maio de 2005, foi inaugurada em
da coleta seletiva e reciclagem,
Piracicaba, estado de São Paulo, uma
mostrando o valor econômico deste ABRALATAS, Associação Brasileira
processo. dos Fabricantes de Latas de Alta
Reciclabilidade. Disponível em
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS http://www.abralatas.org.br/reciclagem_

MANO, E.B. e MENDES, L.C. brasil.asp

Introdução a polímeros. 2ª ed. São CEMPRE, Compromisso Empresarial


Paulo: Edgard Blucher, 1999. para a Reciclagem. Disponível em

SANTOS, C.P., et al. Papel: como se http://www.cempre.org.br/fichas_tecnic

fabrica? Química Nova na Escola, n. 14, as_emb_carton.php

p. 3, 2001. CEMPRE, Compromisso Empresarial

WILEY, John & Sons, Composite para a Reciclagem. Disponível em

materials, encyclopedia of chemical www.cempre.org.br/fichas_tecnicas_pla

tecnology, v. 6, 3ª ed., p. 683-685. stico_filme.php

ZORTEA, R.B. Viabilidade econômica DATAMARK. Disponível em

e tecnológica para a reciclagem das http://www.datamark.com.br/newdatam

embalagens cartonadas longa vida pós- ark/ASP/FS/fs_pk_p.asp

consumo de Porto Alegre. Dissertação KLABIN. Disponível em


de mestrado. Porto Alegre: http://www.klabin.com.br/br/noticias_1
Universidade Federal do Rio Grande do 019.asp
Sul, 2001. Disponível em
TETRA PAK. Disponível em
http://volpi.ea.ufrgs.br/
http://www.tetrapak.com.br/htmls/sobre
teses_e_dissertacoes/td/00568.pdf
/historia/index_historia.asp

TETRA PAK. Disponível em


Na Internet http://www.tetrapak.com/content/page_i

ABAL, Associação Brasileira de magebank2.asp?navid=122

Alumínio. Disponível em TETRA PAK. Disponível em


http://www.abal.org.br/downloads/rsia_ http://www.tetrapak.com.br/htmls/tetrav
abal_pt.zip c/publicacoes/meio/meio_artigos.asp

Você também pode gostar