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TODOROV, Tzvetan.

NÓS e OS OutrOS: a reflexão francesa sobre a


diversidade humana,v.1.Rio de J aneiro, J orge Zahar Editor, 1993,215 p.

JOSé dO NaSCimentO Juni Or


BaCharel em CiênCiaS SOCiaiS
UniVerSidade Federal dO RiO Grande dO Sul

Este livro escrito por Todorov - búlgaro, pesquisador do Centre National de


Ia Recherche Scientifique (CNRS) - apresenta uma reflexão do
processo de construção histórica de conceitos, tais como:
etnocentrismo, cientificismo, relativismo, raça e racialismo, à luz de
autores franc,eses dos séculos XVII e XX que contribuíram para este
pensar. Como propõe Todorov, autores como Montaigne, Renan, Lévi-
Strauss etc, permitem-nos pensar a relação entre Nós
- um grupo social determinado - e os Outros - todos aqueles que não
têm a mesma identidade que Nós.
Ao confrontare dialogar com esses autores e conceitos, Todorov
está preocupado em demonstrar como, para cada conceito forjado
historicamente, existe uma ideologia. Processo que, contextualizado dentro
de determinado período da história, permite ver como os termos se
tomaram idéias em determinado momento.
Perpassa todo o livro a tensão entre as formulações de caráter
universalista e relativista, evitando-se cair nos extremos "do monólogo ou
da gue ra". Estamos diante da discussão não apenas da diversidade de
grupos e opiniões, mas também da questão sobre a existência,ou não
de valoreslnoI1nas universais ou particulares que marcam nossas ações.
A recuperação destes temas e autores realizada por Todorov não
deve ser percebida como mais uma história do pensamento.
Precisamos contextualizá-Ia. Por que um intelectual búlgaro, morador na
França, faz um exercício de recuperação destes autores e temas? O atual
contexto franco- europeu dos discursos nacionalistas - a exemplo do Le
Pen na França pedindo restrições aos estrangeiros -, coloca-nos diante da
retomada dessas temáticas. O livro de Todorov nos possibilita perceber que
estes discursos são, de tempos em tempos, atualizados, em particular
dentro da tradição do pensamento francês. Os europeus ocidentais e os
franceses em particular sempre tiveram um olhar privilegiado para o
restante do mundo, ou seja, um olhar hegemônico, um olhar etnocêntrico.
É neste contexto que se pautam, para as ciências humanas, as temáticas
do etnocentrismo/relativismo, raça/racismo.
A opção por dialogar dentro dessa diversidade de pensamento traz ao
texto inúmeras citações sem tomá-Io pesado, possibilitando também ao
leitor se posicionar perante o tema ou o autor em questão. Para aqueles
que não se satisfazem com a abordagem tradicional destes assuntos, o
livro oferece um aprofundamento da discussão entre as ideologias
universalistas, que problematizam o que é ser da espécie humana, e
relativistas que enfatizam as diferenças constitutivas dos individuos. A não
exclusão de nenhuma dessas abordagens é que toma esse livro uma
leitura instigante.
Na continuação desta reflexão são recuperados outros temas
da filosofia política e da história como nações e nacionalismo, o
exótico, no diálogo com Tocquevi le, Michelet, Chateaubriand, etc, o
que cria uma expectativa para a leitura do segundo volume da
Reflexão francesa sobre a diversidade humana, a ser publicado.
Todorov imprime um olhar antropológico sobre todos esses temas e
autores, consegue, como diz Lévi-Strauss sobre os antropólogos,
tomar-se "o astrônomo das ciências sociais", ou seja, a partir da
constelação de temas abordados consegue ter uma visão particular
sobre a di versidade humana. Assim, possibilita a construção democrática
plural da convivência do Nós, que neste contexto são os europeus, e os
Outros que somos Nós.

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