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ÉTICA E MORAL

Algumas posições apresentadas por diferentes autores sobre o que é Ética e o que é
moral e a definição mais comumente aceita na abordagem filosófica:

“Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis. A primeira é a
palabra grega éthos, com e curto, que pode ser traduzida por costume, a segunda
também se escreve éthos, porém com e longo, que significa propriedade do caráter. A
primeira é a que serviu de base para a tradução latina Moral, enquanto que a segunda
é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra Ética.
Ética é a investigação geral sobre aquilo que é bom”. (MOORE, G.E. Princípios éticos.
São Paulo: Abril Cultural, 1975, p. 4).

“Realmente os termos ‘ética’ e ‘moral’ não são particularmente apropriados para nos
orientarmos. Cabe aqui uma observação sobre sua origem, talvez em primeiro lugar
curiosa. Aristóteles tinha designado suas investigações teórico-morais – então
denominadas como ‘ética’ – como investigações ‘sobre o ethos’, ‘sobre as
propriedades do caráter’, porque a apresentação das propriedades do caráter, boas e
más (das assim chamadas virtudes e vícios) era uma parte integrante essencial destas
investigações. A procedência do termo ‘ética’, portanto, nada tem a ver com aquilo
que entendemos por ‘ética’. No latim o termo grego éthicos foi então traduzido por
moralis. Mores significa: uso e costumes. Isto novamente não corresponde, nem à
nossa compreensão de ética, nem de moral. Além disso, ocorre aqui um erro de
tradução. Pois na ética aristotélica não apenas ocorre o termo éthos (com ‘e’ longo),
que significa propriedade de caráter, mas também o termo éthos (com ‘e’ curto) que
significa costume, e é para este segundo termo que serve a tradução latina”.
(TUGENDHAT, E. Lições sobre Ética. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 35).

“Por ‘ética’ entendemos uma disciplina normativa, aquela filosofia do agir moral, a
qual, em termos de uma fundamentação, pergunta sobretudo pelo princípio moral.
Aristóteles certamente desenvolve uma ética desse tipo, mas não se contenta com
isso. A palavra êthos significa, a saber, três coisas: o lugar costumeiro da vida, os
costumes que são vividos nesse lugar e, finalmente, o modo de pensar e o modo de
sentir, o caráter. Devido ao primeiro significado, Aristóteles ocupa-se também com as
instituições políticas e sociais; a uma ética pertence, em entendimento amplo, a
política. Devido ao segundo significado, a sua ética assume traços de uma etologia, de
uma doutrina daquele ethos (hábito, costume) que tem parentesco etimologicamente
com êthos (cf. EN II 1, 1103a17s.). Aristóteles, contudo, não investiga meramente as
coisas comuns do seu tempo. À diferença de uma pesquisa de comportamento
empírica, ou de uma sociologia empírica, ele trata primariamente dos fundamentos do
comportamento humano. E, de acordo com o terceiro significado de êthos, ele
desenvolve uma ética normativa, a qual se interessa por algo muito mais amplo do que
tão-somente um princípio moral.” (HÖFFE, O. Aristóteles. São Paulo: Artmed, 2008, p.
169.)
“A Ética existe em todas as sociedades humanas, e, talvez, mesmo entre nossos
parentes não-humanos mais próximos. Nós abandonamos o pressuposto de que a
Ética é unicamente humana.
A Ética pode ser um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam,
ou chamam a si a autoridade de guiar, as ações de um grupo em particular
(moralidade), ou é o estudo sistemático da argumentação sobre como nós devemos
agir (filosofia moral)”. (SINGER, P. Ethics. Oxford; OUP, 1994, p. 4-6).

“Kierkegaard e Foucault diziam que a ética grega é uma estética, ou uma poética,
preocupando-se com a arte de viver, com a elaboração de uma vida bela e boa”.
(VALLS, Alvaro. In Ética e Contemporaneidade).

“Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao
bem e ao mal, ao permitido e ao proibido e à conduta correta e à incorreta, válidos
para todos os seus membros. Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e com
diferenças de castas ou de classes muito profundas podem até mesmo possuir várias
morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social.
No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma
ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e
interprete o significado dos valores morais. [...]
A filosofia moral ou a disciplina denominada a ética nasce quando se passa a indagar o
que são, de onde vêm e o que valem os costumes. [...]
A filosofia moral ou a ética nasce quando, além das questões sobre os costumes,
também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a
consciência moral individuais”. (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13 ed. São Paulo:
Ática, 2008, p.310).

“O ponto de partida da reflexão ética é, pois, a experiência moral concreta, e as teorias


éticas têm sentido como reflexo (precisamente por isso, de ‘segundo nível’) da prática
individual do raciocínio moral, que visa justificar ações e juízos, e da prática social da
discussão pública sobre os problemas morais. O ponto de chegada é matéria de
controvérsia: para alguns, o filósofo moralista deveria se abster de oferecer soluções
para os problemas morais, limitando-se a um trabalho de esclarecimento conceitual,
ou, no máximo, apresentando e analisando os argumentos pró e contra as diversas
soluções que o problema possa ter; para outros, porém, isso seria apenas um fútil
exercício intelectual, uma vez que o objetivo da ética é precisamente o de orientar e
guiar a ação. Há boas razões contra e a favor de cada uma das duas perspectivas e
provavelmente a verdade esteja no meio: de um lado, não é provável que o filósofo
examine um problema moral com a mesma indiferença e desinteresse com que
examinaria, por exemplo, um problema de lógica simbólica; de outro, a finalidade
diretiva da ética não comporta certamente que o filósofo assuma o papel de moralista
ou do pregador, ou seja, de quem se propõe recomendar e promover a observância de
um certo código moral ou até de dizer ao povo o que deve ou não deve fazer, em casos
concretos e específicos.” (NERI, Demetrio. Filosofia Moral: manual introdutório. Trad.
Orlando S. Moreira, São Paulo: Loyola, 2004, p. 11).
“Aqui vai um esclarecimento terminológico. Embora eu vá utilizar as palavras ‘moral’ e
‘ética’ como equivalentes, de um ponto de vista técnico (desculpe-me estar mais
professoral do que de hábito) elas não têm significado idêntico. ‘Moral’ é o conjunto
de comportamentos e normas que você, eu e algumas das pessoas que nos cercam
costumamos aceitar como válidos; ‘ética’ é a reflexão sobre por que os consideramos
válidos e a comparação com outras ‘morais’ de pessoas diferentes. Mas, enfim, aqui
continuarei utilizando as duas palavras indistintamente, sempre como arte de viver. A
academia que me perdoe...” (SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo:
Martins Fontes, 2004, p. 57).

“A Ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. Que o ser humano chegue
a realizar-se a si mesmo como tal, isto é, como pessoa. [...] A Ética se ocupa e pretende
a perfeição do ser humano”. (CLOTET, J. Uma introducción al tema de la ética. Psico
1986; 12 (1), p. 84-92).

“Este livro trata da Ética entendida como a parte da Filosofia que se dedica à reflexão
sobre a moral. Como parte da Filosofia, a Ética é um tipo de saber que se tenta
construir racionalmente, utilizando para tanto o rigor conceptual e os métodos de
análise e explicação próprios da Filosofia. Como reflexão sobre as questões morais, a
Ética pretende desdobrar conceitos e argumentos que permitam compreender a
dimensão moral da pessoa humana nessa sua condição de dimensão moral, ou seja,
sem reduzi-la a seus componentes psicológicos, sociológicos, econômicos ou de
qualquer outro tipo (embora, obviamente, a Ética não ignore que tais fatores
condicionam de fato o mundo moral).
Uma vez desdobrados os conceitos e argumentos pertinentes, pode-se dizer que a
Ética, a Filosofia moral, terá conseguido explicar o fenômeno moral, dar conta
racionalmente da dimensão moral humana, de modo que teremos aumentado o nosso
conhecimento sobre nós mesmos, e, portanto, alcançado um maior grau de liberdade.
Em suma, filosofamos para encontrar sentido para o que somos e fazemos e buscamos
sentido para atender aos nossos anseios de liberdade, pois consideramos a falta de
sentido um tipo de escravidão.” (CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. São Paulo:
Loyola, 2005, p. 9).

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