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Será exposto neste texto uma situação efetivamente preocupante diante do contexto
neoliberal de política e conseqüentemente de ideologia, o qual se insere a questão das
comunidades tradicionais e indígenas, proprietários de um acervo valioso proveniente
de sua cultura e de sua biodiversidade, cuja dominação pelos "civilizados" não
encontra nenhum limite ético. Visto assim, é tarefa da teoria do direito, na perspectiva
da antropologia jurídica, que foi base dessa pesquisa, intervir necessariamente, a fim
de dirimir os interesses majoritários do sistema estatal, frente a aceitação da diferença
indelével entre estas comunidades e os civilizados, por mais que façam parte de um
mesmo mundo.
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Aborda-se aqui uma visão inicial do conflito que existe entre propriedade intelectual e
conhecimentos coletivos, a partir da revisão de alguns temas como o conhecimento
tradicional e a biotecnologia, a propriedade industrial como invasão ao direito de
propriedade, o direito individual e o direito coletivo, o conhecimento científico x o
conhecimento tradicional, e as bases jurídico-sociais da propriedade coletiva do
conhecimento.
Eis aqui a problemática, cuja questão principal em que se assenta esta tese é tão
evidente em todos as comunidades indígenas das quais aqui se remete — o problema
da compensação [que será discutida com maior detalhe a parte]: o regime de
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Fazendo um paralelo entre o que o Código Civil do Equador e o nosso, verifica-se que
se sustentam sob a mesma orientação, pois a propriedade em ambos é considerado
um dos pilares do direito e uma das bases fundamentais do Estado. O art. 618 do
Código Civil do Equador dispõe:
"Art. 618 – (...) el derecho real en una cosa corporal, para gozar y disponer de
ella, de accuerdo a las leys y respetando el derecho ajeno."
Maria Helena Diniz[2] assevera que, apesar de nosso Código Civil não conceituar
propriedade, em razão "da impossível tarefa de enumerar a infinita gama dos poderes
do proprietário", descreve o seu conteúdo no art. 524:
Porém, este direito que o beneficiário ou possuidor pode desfrutar, abusar e dispor a
seu arbítrio, expressa-se Gina Chávez, tem limitações que a legislação estabelece por
algumas causas. Ela cita o tratadista Enrique Coello, a respeito dessa posição:
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Assim, como descreve o tratadista, esta idéia de propriedade, que parecia ter sido
superada, dá impressão de que ressurge no sistema de proteção à propriedade
intelectual, retomando os limites que a legislação estabelece para a propriedade e para
as funções que esta deve cumprir na sociedade.
Pela regra geral, a propriedade intelectual não é mais que uma manifestação do
direito geral da propriedade, ainda que esteja submetida a regulações especiais. Isto
significa, que em termos gerais, que os princípios que regem a propriedade são
plenamente aplicáveis à propriedade intelectual.
Assim como a propriedade, lato sensu, tem limitações, tendo que cumprir com a
função social, outrossim aponta-se então uma limitação à propriedade intelectual.
Embora existam muitas dúvidas sobre esses limites, se são adequados e suficientes
para cumprir a sua função, como propriedade, sem embargar outros direitos. Um
deles é a sua temporalidade, diferentemente do direito de propriedade geral que é
permanente e estável.
Enfrentando a questão posta, o argentino Pablo M Challú, faz várias críticas ao direito
de propriedade intelectual. Ensina que, buscando alternativas para minimizar os
custos associados à exclusividade das patentes de produtos, identifica vários
questionamentos relacionados com o modelo de propriedade intelectual imposto e
agrupa-os por tendências. Um primeiro grupo de críticas, diz:(...)sostienen que el (...)
patentamiento de productos es un procedimiento por el cual se otorga a las empresas
innovadoras que desarrollan nuevos productos, el derecho de exclusividad para su
producción y comercialización y el de impedir que terceros produzcan o comercilicen
productos similares a los que ellas patentaron. Cualquiera que seja la justificación de
tal proceder, en la práctica esto significa otorgar al titular de la patente del
producto un monopolio legal sobre él. Este monopolio legal, en los hechos,
implica crear un monopolio económico en su favor. (Grifo Nosso)Um segundo grupo
de críticas sustenta que: "no existe en realidad tal derecho de propiedad, ya que el
derecho de patentes está limitado en el tiempo y no se puede concebir un
derecho de propiedad temporario." (Grifo Nosso)
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A pergunta capciosa que Gina Chávez dá, é: estes requisitos contemplados na Lei, para
aceder à proteção dos resultados do conhecimento, são acessíveis à pluralidade do
sistema de geração do conhecimento? Acredita-se que não. Quando os indígenas
demandam o reconhecimento à validez de seus sistemas de geração de conhecimento,
os métodos ocidentais se opõem por excludentes e reducionistas.
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Associada à sua rica biodiversiade, está o seu extenso patrimônio sociocultural: uma
das populações mais diversificadas do mundo: povos indígenas (206 formados por
microssociedades), descendentes de quilombos, colonos, caiçaras, ribeirinhos,
extrativistas, populações rurais e urbanas de diferentes origens étnicas e culturais.
A Soberania Estatal
O mesmo acontece no Brasil, segundo o que dispõe o art. 231, § 3º, da CF. a
exploração mineral em terras indígenas depende de autorização do Congresso
Nacional, ouvidas as comunidades afetadas e ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra. Os direitos em relação ao solo se distinguem em relação aos
direitos minerários, do subsolo. Subtrair os recursos genéticos do usufruto exclusivo
das comunidades indígenas representaria mais uma perda.
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os direitos coletivos não são uma mera soma de direitos subjetivos individuais,
mas somente aqueles pertencentes a um grupo de pessoas, cuja
titularidade é difusa porque não pertence a ninguém em especial, mas cada
um pode promover sua defesa que beneficia sempre a todos.
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Um fato que deve ser observado com mais cautela e, por isso, levanta-se uma restrição
ao pretendido, são os fins humanitários que esse conhecimento tradicional e/ou a
biodiversidade possa atender.
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A lei da Malásia (Commuty Intellectual Rights Act) elaborada pela organização Third
World Network, parte de alguns conceitos básicos, os quais transcrevemos alguns
deles: 1) as comunidades locais e indígenas são os custodians legais e forma perpétua
da inovação. 2) quaisquer direitos de monopólio exclusivo em relação à inovação
serão nulos. 3) o intercâmbio entre as comunidades deve ser livre, desde que não
tenha finalidade comercial. 4) qualquer pessoa, órgão, organização ou empresa que
pretenda fazer uso comercial da inovação ou parte dela deve: obter o consentimento
escrito da comunidade local e pagar à comunidade local, que é a custodian de tal
inovação, uma quantia que represente uma percentagem mínima sobre as vendas
brutas de qualquer produto ou processo que incorpore tal inovação. Qualquer
comunidade indígena pode optar pelo pagamento de uma compensação
não-monetária, de acordo com seus usos, costumes e tradições.
CONCLUSÃO
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parece uma noção para escamotear relações de força, apresento o que o teórico
Frederik Barth, na década de 60, que entendeu sobre a organização social da
diferença de cultura [e também sobre etnicidade], sendo deste nome sua obra,
apresentada no livro Teorias da Etnicidade de Philippe Poutignat e Jocelyne Streiff-
Fenart. (1995. São Paulo; Editora Unesp)
Barth substituiu uma concepção estática da identidade étnica por uma concepção
dinâmica. Ele entendeu muito bem e faz entender que essa identidade, como qualquer
outra identidade coletiva (e assim também a identidade pessoal de cada um), é
construída e transformada na interação de grupos sociais através de processos
exclusão e inclusão que estabelecem limites entre tais grupos, definindo os que os
integram ou não. Então, o que importa é procurar saber em que consistem tais
processos de organização social através dos quais mantêm-se de forma duradoura as
distinções entre "nós" e "os outros", mesmo quando mudam as diferenças que, para
"nós", assim como para "os outros", justificam e legitimam tais distinções. Pois escreve
Barth, em tais processos "os traços que levamos em conta não são a soma das
diferenças ‘objetivas’ mas unicamente aqueles que os próprios atores consideram
como significativos". Desse modo, as mesma características podem suceder-se
adquirindo a mesma significação.
NOTAS
2.Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas, 1997, p.
104 e 105.
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Já Broekman ensina que temos que esclarecer que o pensamento jurídico em nosso
cultura, tanto em seus aspectos dogmáticos e teóricos como na filosofia, está marcado,
inclusive em nossa época, pelo cartesianismo. Mais surpreendente é que este influxo
se mantém apesar dos combates a ele, também no terreno do direito e do Estado. Cita
t’Hart aludindo sobre o pensamento de Giambattista Vico. Demonstra que para Vico
as instituições humanas funcionam com uma consciência aberta, condicionada pela
realidade humana histórica, refere-se, dessa forma, às relações entre a consciência do
homem e seu mundo vital – o único que ele conhece. Assim, Broekman assevera que
nossa consciência atual atormentasse com a questão de se podemos pensar, atuar e
falar de outra forma distinta da cartesiana. À primeira vista, esta questão nos levará a
muito longe. Em definitivo, o conjunto de problemas vinculados à troca de cultura
dentro de, e, pela historicidade das formas de pensamento. Assim, manifesta-se entre
o modelo da manufatura e do pensamento mecanicista.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro, 4º Volume, Direito das Coisas. São
Paulo: Saraiva, 1997.
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