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- Observatório da Imprensa -

COMUNICAÇÃO SOCIAL

A democratização, os povos e comunidades


tradicionais
Por Moisés dos Santos Viana em 28/05/2013 na edição nº 748

Os avanços brasileiros nos últimos 10 anos são visíveis em diversos níveis sociais e econômicos. No
entanto, esses avanços não existem no campo das políticas de comunicação social com democratização e
as condições de produção cultural e simbólico referente a comunidades, povos e grupos historicamente
marginalizados.

Essas comunidades, como explicitado no decreto federal nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, são “grupos
culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização
social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e
transmitidos pela tradição”. Entretanto, eles não participam dos processos da democratização dos meios
de comunicação social, sendo excluídos dos processos de elaboração de bens simbólicos e das
transmissões desses bens.

Dessa maneira, esta reflexão parte do pressuposto comunicacional humano, a potencialidade dessa
dimensão antropológica por meio dos meios de comunicação e como tais meios são negados aos grupos
historicamente marginalizados na sociedade brasileira como exemplo explícito de falta de democratização
dos meios de comunicação social, produzindo um retrocesso no Estado democrático de direito e uma
lacuna no desenvolvimento social da última década.

Dimensão antropológica

O ser humano é um comunicador, têm os equipamentos biológicos e a estrutura cultural para tal processo,
por isso ele transforma a realidade em discurso e a reelaborar de uma maneira a proporcionar
significações profundas em sua vida como um todo. Comunicar é ter em si o aspecto de sujeito social,
político e econômico, e junto com seus semelhantes elabora significações sobre sua realidade. Isso é
comunicar-se! Assim essa ação proporciona sentido à existência, orientando suas ações para
representar-se e representar o mundo.

Comunicação é compartilhar dos espaços simbólicos, da coabitação e confiança. Pela comunicação se faz
uma captação dessa novidade e uma leitura dentro de um nível de conhecimento, de saber e de vivência
que perpassam por níveis pessoais e comunitários, moldando, desse modo, novos valores e leituras da
atualidade, adaptando os grupos e os indivíduos na sociedade humana.

Na sociedade atual, esse poder humano se maximizou com os sistemas de comunicação social. Entende-se
comunicação social como um conjunto de tecnologias e técnicas que envolvem produção e reprodução de
bens simbólicos e sua transmissão, que não se limita apenas em informação por meio sofisticados
(internet, TV, rádio), mas amplia-se em relações sociais, instituições, normas e sujeitos que perpassam as
plataformas tecnológicas. Além do mais, as formas sistemáticas da comunicação e sua instantaneidade
delineiam as estruturas das organizações globais, combinando nas influências da comunicação tanto em
nível social como individual. Tudo isso gera uma interrelação, desenvolvendo a circulação de bens

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simbólicos, linguagens, culturas e identidades, potencializados pela comunicação social na vida das
pessoas.

A monopolização das narrativas

No entanto, surgem as disparidades marcadas por níveis de vida variados, próximos fisicamente, mas que
mantêm uma profunda distância nos campos econômicos, sociais, políticos e culturais. O acesso, por
exemplo, ao contexto da globalização, ou mesmo da influencia global em nível local, tornam-se um
mecanismo de separação econômica, dando características marginais a grupos e a populações inteiras que
não se adaptam a nova lógica de consumo e práticas culturais.

Aqueles que historicamente não se adequam às condições econômicas, sociais, políticas e culturais da
sociedade dominante tendem a ser marginalizados e excluídos do processo da comunicação social.
Percebe-se que nada é feito, mesmo com os avanços no reconhecimento dos grupos como as comunidades
e povos tradicionais pelo Estado e sua tentativa de ouvi-los em fóruns. Em outras palavras, as políticas
públicas de comunicação existentes não contemplam a dimensão comunicacional desses grupos que lutam
pelo direito de divulgar suas ideias, suas identidades, sua forma de pensar, agir e desenvolver-se segundo o
Estado democrático de direito.

Historicamente, os meios de comunicação foram privilégio da elite, pois dominar tais tecnologias é uma
condição que não se desvincula do poder econômico e cultural. A alta concentração desses meios na mão
de uns poucos possibilita a monopolização das narrativas da realidade, sua interpretação e o
fortalecimento político de quem os utilizam, possibilitando a influência desses meios nas camadas sociais
mais diversas.

Castelo de cartas

O que se percebe é que no Brasil a alta concentração dos meios de comunicação tem sua produção
voltada para o lucro econômico, ao mesmo tempo em que a ideologia capitalista marginaliza e exclui
quem não se adequa à sua lógica. Dessa maneira, o que há são os monopólios e oligopólios dos meios de
comunicação, sua concentração econômica nas mãos de grupos privilegiados, não só na transmissão dos
bens simbólicos mas na sua produção, ferindo os princípios democráticos de pluralidade, regionalização e
utilidade pública e sociocultural de tais meios de comunicação.

As concessões públicas na área de comunicação passam a ser utilizadas como fonte de renda e lucro,
privilegiam grupos religiosos e políticos que reforçam os preconceitos e ferem os Direitos Humanos no
que diz respeito as conquistas das áreas fundamentais de reconhecimento dos povos marginalizados. Em
meios e programas financiados institucionalmente combatem, desconhecem e ignoram as necessidades dos
povos historicamente marginalizados por causa da cosmovisão, tradições e relações sociais construídas às
margens do processos legitimadores do Estado brasileiro.

Assim sendo, a democratização dos meios de comunicação deve ser o passo seguinte para o
desenvolvimento das conquistas sociais do Brasil, tanto no campo social como econômico. O próximo
passo qualitativo é político, dar voz e vez aos grupos marginalizados, uma ação significativa nesse
processo: ou se democratizam tais meios ou o desenvolvimento dos últimos 10 anos se tornará um castelo
de cartas, fadado aos escombros e à eterna marginalização dos povos e comunidades tradicionais,
fomentadores da cultura e identidade brasileira.

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