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PACKER, J. I.

Na dinamica do Espírito: uma avaliacao das praticas e


doutrinas. Sao Paulo: Vida Nova, 1991. p. 53-63.

O Espírito Santo na Bíblia 1


O pensamento chave deste livro agora está diante de você. Não é um
pensamento novo; é tão antigo quanto o Novo Thstamento. Expressá-lo
não é nada mais do que fazer os cristãos se lembrarem de suas raízes. O
pensamento é simplesmente este: a essência do ministério do Espírito
Santo, nestes dias ou em qualquer outro tempo da era cristã, é ser
mediador da presença de nosso Senhor Jesus Cristo. Sob este ministério,
eu, como escritor cristão, e você, como leitor cristão, já estamos vivendo,
embora nossos pensamentos a respeito dele possam estar um pouco
atrasados em relação à realidade.
A presença de Jesus na minha fórmula deve ser considerada não em
termos espaciais. mas cm termos relacionais. Aquilo para o que estou
apontando quando uso esta frase é uma percepção de três coisas. A
primeira é que Jesus de Nazaré. o Cristo das Escrituras, uma vez
crucificado, agora glorificado, está aqui, abordando e dirigindo-se
pessoalmente a mim. A segunda é que ele é alivo, iluminando-me,
animando-me e transformando-me poderosamente, junto com outras
pessoas, enquanto ele nos incita, tentando quebrar a nossa morosidade.
aguça a nossa percepção, alivia as nossas consciências culpadas, adoça o
nosso temperamento, sustenta-nos sob pressão e nos fortalece para
praticarmos a justiça. A terceira é que em si mesmo, como cm sua obra.
ele é g/o,ioso, merecedor de toda a adoração, todo amor e toda lealdade
de que somos capazes. A mediação da presença de Jesus, portanto, é uma
questão de o Espírito fazer o que for necessário para a criação, o sustento,
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NA DINÂMICA DO ESPÍRITO O llSPIRJTO SANTO NA Bl8LJA

o aprofundamento e a expressão desta percepção nas vidas humanas. Os De fato, Espírito, como todos os termos bíblicos que se referem a
temas que surgem, à medida que se expõe isto, são bastante familiares; Deus, é uma palavra-figura com um significado vivo, preciso e colorido.
comunicação de Deus em Cristo e comunhão com Deus através de Cristo; Ela retrata fôlego soprado ou expirado, como quando você assopra as velas
a interpretação das Sagradas Escrituras e a iluminação dos corações do seu bolo de aniversário, enche balões de ar nas chamadas bexigas ou
humanos; a regeneração e santificação de pecadores; a realização dos dons ofega enquanto corre. Espfrito, neste sentido, foi aquilo com que o lobo
e das boas obras; o testemunho do Espírito acerca da nossa adoção e a sua mau estava ameaçando os porquinhos, quando lhes disse: "Vou soprar, vou
ajuda nas fraquezas humanas; o engendrar sobrenatural da fé, da oração, soprar e vou derrubar a sua casa!" O quadro é de ar impelido com força,
da esperança, do amor e de todas as muitas facetas do caráter de Cristo até violentamente, e o pensamento que esse quadro expressa é de energia
em nós; e assim por diante. Nada é novo aqui, exceto o fato de se estar liberada, força executiva invadindo, poder em exercício, vida demonstrada
enfatizando a centralidade de Cristo em relação a todas as atividades do pela atividade.
Espírito, de maneira que não é sempre feito. Este capítulo procura mostrar Tanto a palavra hebraica quanto a grega, traduzidas como Espfrito
que, ao fazê-lo, estou apenas seguindo as diretrizes da própria Bíblia. em nossas Bfblias (ruach e pnewna), têm em si esse pensamento básico e
Seria melhor se iniciássemos, penso eu, verificando a palavra füp(rito ambas têm a mesma amplitude de associação. Elas são usadas em relação
e observando o que ela significa. a (l) o Espírito divino, pessoal e proposiwl, invisível e irresistível; (2) a
consciência humana individual (sentido em queespÍlito se torna sinônimo
O Espírito de 0cus de alma, como, por exemplo, em Lucas 1.46, 47); e (3) o vento que, quando
sopra, agita as folhas das árvores, a ponto de desarraigá-las, derrubando
Para muitas pessoas nos dias atuais, Espírito é uma palavra vaga e até edifícios. (Como exemplos deste último uso, veja (a) Ezequiel 37.1-14,
descolorida. O pensamento que mais provavelmente ela foz vir à mente é a visão dos ossos secos, ondemach é sopro, vento, e Espírito de Deus em
de um temperamento ou atitude humana {bom espírito ou mau espírito, rápida sucessão, e {b) o uso de pneuma para o vento, bem como para o
espíritos animais, espírito alegre <)u triste, espírito de engano ou de Espírito de Deus, em João3.8.) Eu gostaria que a nossa língua tivesse uma
bondade, "o espírito da coisa" e até "espírito de porco", "espírito errado",
palavra com todas estas associaçües. Soprar (e palavras cognatas, como
etc.). Outrora, espírito era o nome clússico dado a inteligências
assoprar) e fôlego são duas )lalavras em português (as únicas, penso eu)
mio-humanas e desencarnadas de várias espécies (anjos, demônios, fadas,
que se referem tanto à expiração do ar dos pulmões humanos e à agitaç,ío
duendes, fantasmas, almas penadas, deuses locais que habiwvam nas do vento, mas em português não há nenhum termo que cu.bra,juntamente
montanhas, nas pedras e nas árvores); desta forma, quando em 1691 o com essas acepções, a individualidade intelectual, volitiva e emocional de
ancHio puritano Richard Baxter escreveu o seu livro esquisito afirmando Deus e de suas criaturas racionais. Espírito, em português, ao contrário,
a realidt1de dessas coisas, deu-lhe o nome de A Certeza dos Mundos dos denota uma personalidade consciente em ação e reação, mas não pode ser
Espíritos. Porém, a crença em espíritos como estes se desvaneceu, pelo usada ao mesmo tempo para denotar sopro ou vento. Esta é, sem dúvida,
menos em países do Ocidente. Muitos, agora, entendem por espírito nada uma razão porque ela não nos sugere poderem ação da maneira quemach
mais do que aquilo que o meu dicionário chama afetadamente de "licor
e pnewna o faziam para o povo dos tempos bíblicos.
destilado, contendo muito álcool"• e consideram a crença em outros tipos
Poder em ação é, de fato, o pensamento bíblico básico sempre que
de espírito como indicador de, no mínimo, falta de sobriedade filosófica.
o Espírito de Deus é mencionado. No Antigo Testamento, "o Espírito de
Enfim, a nossa civilização não nos presta nenhuma ajuda, virtualmente, Deus" é sempre Deus em atuação, mudando as coisas. No curso de pouco
quando o Espírito de Deus é o tema de nosso estudo.
menos de cem referências (contagem mínima, oitenta e oito; m(1Xima,
noventa e sete; os eruditos divergem), se diz que o Espírito de Deus:
Nma do troduror: Em português arç.;1ico 1;1mbém cr�• esle o �cntido da paJa\'Ta l. Molda a criação, dando-lhe forma, e anima os seres criados
••espírito·•; daí a palavra "e.�pir-i1eira", fJUC é um fog:)rciro a álcool.
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NA DINÂMICA DO ESPIRITO O ESPIRITO SANTO NA BIBLIA

tcJênesis 1.2; 2.7; Sálmos 33.6; Jó 26.13; 33.4). mas não seria verdade dizer que essas referências expressam qualquer
2. Controla o curso do que chamamos natureza e história (Salmo pensamento, da parte dos escritores, de uma pluralidade de pessoas dentro
104.29, 30; Isaías 34.16; 40.7). da unidade da Divindade. A verdade da Trindade é uma revelação do Novo
3. Revela a verdade e a vontade de Deus aos seus mensageiros, por Testamento.
comunicação direta e/ou percepção destilada (Números 24.2; 2 Samuel Mas se alguém pensasse que, de acordo com a Escritura, Deus era
2.1.2; 2 Crônicas 12.18; 15. I; Neemias 9.30; Jó 32.8; Isaías 61.1-4; Ezequiel unipessoal durante o período veterotestamentário e que se tornou
2.2; 11.24; 37.1; Miquéias 3.8; Zacarias 7.12). tripessoal apenas quando Jesus nasceu, estaria errado. O que está em
4. Ensina ao povo de Deus, através destas revelações, o caminho da questão aqui não é o modo de ser de Deus desde a eternidade, mas a forma
fidelidade e da f,utijicação (Neemias 9.20; Salmo 143.10; Isaías 48.16; da sua revelação na história. Não estou dizendo que a terceira pessoa da
63.10-14). Divindade não existia ou não estava ativa nos tempos do Antigo
5. lnstiga a uma reação pessoal a Deus - conhecimento de Deus no Testamento; os escritores do Novo Testamento nos asseguram de que ela
sentido da própria Bíblia - na forma de fé, arrependimento, obediência, existia e estava ativa. Estou apenas dizendo que a sua personalidade
justiça, abertura para a instrução de Deus e comunhão com ele, por meio distinta não é expressa pelos escriwres do Antigo Testamento; embora a
de louvor e oração (Salmo 51.10-12; !saí.Is 11.2; 44.3; Ezequiel 11.19; triunidade de Deus seja um fato eterno, só através de Cristo ela se tornou
36.25-27; 37.14; 39.29; Joel 2.28, 29; Zacarias 12.10). conhecida.
6. Equipa indivíduos para a liderança(Gênesis 4 l.38,José; Números Agora acrescento isto: a forma correta pela qual os seguidores de
11.17, Moisés; 1 l.J6-29, setenta anciãos; 27.18, Deuteronômio 34.9,Josué; Jesus Cristo devem interpretar o Antigo Testamento é à luz de tudo o que
Juízes 3.10, Otniel; 6.34, Gideào; 11.29, Jefté; 13.25, 14. 19, 15.14, Sansão; foi revelado em Cristo e através dele, e que agora está diante de nós no
1 Samuel 10.10, 11.6, veja também 19.20-23, Saul; 16.13, Davi; 2 Reis Novo Testamento. Em seguida à identificação deJesus acerca de si próprio
2.9-15, Elias e Eliseu; lsMas l l.1-5, 42.l-4, o Messias). como o ponto de referência e cumpridor das E-scrituras (veja MateusS.17;
7. Equipa individuas com perfcia e força para realizações criativas 26.54.56; Lucas 18.31; 22.37; 24.25-27; 44-47; João 5.39, 45-47), os
(Êxodo 31.1-11, 35.30-35, Bezalel e Aoliabe; veja também I Reis 7.14, apóstolos aclamaram todo o Antigo 1estamento como instruções dadas
llirão, para habilidade artística; Ageu 2.5, Zacarias 4.6, para a edificação por Deus paraos cristãos(�eja Romanos 15.4; 1 Coríntios 10.11; 2Timóteo
do templo). 3.15-17, 2 Pedro 1.19-21; 3.16); e à medida que eles, constantemente
'Em suma, no Antigo Testamento o Espírito é Deus ativo como interpretavam a partir dele a verdade e sabedoria divinas, também
criador, colltrolador, revelador, vivificador e capacitador; e em tudo isto encontravam com constância o seu conhecimento de Cristo e das
Deus se faz presente aos homens da maneira dinâmica, exigente em que realidades cristãs refletidos nele. No uso que o Novo lestamento faz do
o Senhor agora se faz presente aos crentes. Quando o salmista pergunta: Antigo, vemos este fato acontecer.' Os cristãos apostólicos, portanto,
"Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?" devem ler as referências do Antigo Testamento à obra do Esplrito de Deus,
( 139.7), essas duas interrogações se expõem uma à outra; ambas significam à luz da revelação neotestamentária da personalidade distinta do Esplrito,
a mesma coisa. Contudo, a personalidade distinta do Espírito não fazia da mesma forma como devem ler as referências do Antigo 1estamemo ao
parte desta revelação. No Antigo Testamento, o Esplrito (sopro!) de Deus único Deus, o Senhor Javé, Criador, Salvador e Santificador, o único
está em pé de igualdade, logicame,He, com sua mão e seu braço, dois objeto correto de adoração, à luz do desvendamento reali7..ado pelo Novo
antropomorfismos que significam o seu poder grandioso, e com seu zelo, Testamento, de que Deus é triúno) Não há nada de arbitrário em se fazer
uma personificaç,1o que significa a sua firmeza de propósitos. Na verdade isto; a justeza desse procedimento segue-se diretamente ao
você poderia dizer que as referencias ao &pírito de Deus significam Deus reconhecimento de que o Deus de ambos os testamentos é único.
em ação em resoluta onipotência, agindo juntos o seu braço e o seu zelo, Na verdade, este procedimento não é o que os eruditos modernos
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NA DINÂMICA DO ESPIRJTO O ESPI RITO SANTO NA BIBLIA

chamam de exegese histórica. A exegese histórica se limita a perguntar o A Personalidade do Espírito


que o escritor humano queria que seus leitores visados entendess �m do
O ESPÍRIT O COMO PARÁCLETO. No Novo Testamento, o
que ele dissera. A leitura do Antigo Testamento à luz do Novo é mais bem
Espírito Santo é apresentado como a terceira pessoa divina Jigad? ao �ai
descrita como interpretação teológica - "interpretação canônica", para _.
e ao Filho, mas distinto deles, da mesma forma como o Pa, e o Filho sao
usar a frase correntemente empregada - que é o caso de se perguntar o
distintos um do outro. Ele é "o Parácleto" (João 14.16, 25; 15.26; 16.7) -
que o Espírito Santo, que inspirou eada escritor, quer que os cristãos
uma palavra rica para a qual não há traduçao adequada em português, visto
hodiernos encontrem cm suas palavras, quando estes as l!em, tendo como
que ela, traduzida, significa alternativamente Consolador (no sent1 �0 de
seu contexto toda a verdade do Novo 'Testamento e todo o resto da Bíblia
Fortalecedor), Conselheiro, Auxiliador, Sustentador, Advogado, Ahado,
cristã. A exegese histórica nos assegura de que as �ecl ?rações
Amigo Mais Velho - e só uma pessoa seria capaz de desempenhar todos
veterotestamentárias acerca do sopro poderoso de Deus nao tinham a
esses papéis. Mais precisamente, ele é "outro" Parácleto (14.16), o
intenção, da parte dos seus escritores humanos, de dar a �nte� d�r
segundo pela ordem (podemos assim dizer) em relação ao Senhor Jesus,
distinções pessoais dentro da Divindade. A interpretação teológ1ea crista,
continuando o ministério do próprio Jesus - e somente uma pessoa,
contudo, nos obriga a seguir o Senhor Jesus e seus apóstolos em
alguém como Jesus, poderia fazer isso. João sublinha o ponto em foco,
reconhecer que a terceira pessoa da Divindade estava ativa nos tempos do
usando repetidamente um pronome masculino (ekeinos, "ele") para
Antigo Testamento e que as declarações veterotestamentárias acerca do
expressar as referências de Jesus ao Espírito, quan�o a gramática grega
sopro poderoso de Deus de fato se referem à atividade do Espírito pessoal.
exigiria um neutro (ekeino, "ele", usado para referir-se a obJetos � para
A direção aqui é dada por passagens como Marcos 12.36 e Atos 1.16; 4.25,
concordar com o substantivo neutro "Espírito" (pneuma); João deseJa que
onde se diz que Davi falou pelo Espírito Santo, ecoando 2 Samuel 23.2;
os seus leitores não tenham nenhuma dúvida de que o Espírito é uma
Lucas 4.18-21, onde Jesus, cheio do poder do Espírito Santo pessoal (veJa
pessoa, e não uma coisa, uma força, um objeto. Este pronome masculino,
3.22; 4.1, 14; veja também 1.35, 41, 67), declara que a sua pregação cumpre
que aparece em 14.26; 15.26; 16.8, 13, 14 é ainda mais notável porque em
0 testemunho de Isaías da su:1 própria unção pelo Espírito, no capítulo
14.17, onde o Espírito é apresentado pela primeira vez, João havia usado
61.1-4 da sua profecia; João 3.5-10, onde o ensinamento acerca do no�o
os pronomes neutros gramaticalmente corretos (ho e auto), assegura"?º•
nascimento "da água e do Espírito" refere-se claramente a Ezequiel
desta forma, que a sua mudança subseqüente para o gênero masculmo
36.25-27; 37.1-14, e Nicodemos, o mestre de Israel, é admoestado
seria percebida não como uma demonstração da sua incompetência em
(versículo 10), por n.lo ter compreendido essa rder�ncia; Atos 28.25 e
termos da língua grega, mas como teologia magistral.
Hebreus 3.7; 10.15-17, onde o ensinamento do Antigo lestamento que tem
Mais uma vez se diz que o Espírito Santo ouve, fala, testifica,
uma aplicação neotestament:iria é atribuído ao Espírito Santo co� � sua
convence, glorifica a Cristo, guia, dirige, ensina, ordena, profbe, deseja,
fonte; e - o que é mais decisivo - Atos 2.16-18, onde Pedro 1denuf1ca o
_ dá capacidade para falar, dá ajuda e intercede pelos cristaos com gemidos
derramamento pentecostal do Espírito Santo pessoal como o que havia
inarticulados, clamando ele mesmo a Deus nas orações destes (veja João
sido predito nas palavras "... derramarei o meu Espírito... ", de Joel 2.28,
14.26; 15.26; 16.7-15; Atos 2.4; 8.29; 13.2; 16.6,7; Romanos 8.14, 16, 26, 27;
29.
Gálatas 4.6; 5.17, 18). E, também, pode-se mentir para ele, e ele pode ser
Prossigo, portanto, tendo como base o fato de que as referências
ofendido (Atos 5.3, 4; Efésios 4.30). Só a respeito de uma pessoa podem
veterotestamentárias ao Espírito de Deus são de foto testemunhas da obra
ser ditas estas coisas. A conclusão é de que o Espírito não é apenas uma
do Espírito Santo pessoal no Novo Tostamento.
influência; ele, à semelhança do Pai e do Filho, é uma pessoa
individualmente.
O ESPÍRITO COMO DIVINDADE. Sobretudo, o Espírito Santo é
apresentado como pessoa divina. A sua individualidade está dentro da
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NA DINÁMICA DO ESPIRITO O ESPfRITO SANTO NA BfBLIA

unidade da Divindade. A própria palavra santo sugere a sua divindade, e ombros de João, para eotendermos plenamente o que nos dizem Mateus,
várias passagens são explícitas a este respeito. Jesus declara que o nome Marcos, Lucas, Pedro e Paulo acerca do Espírito.
de Deus, em que devem ser batizados aqueles que se tornam seus A PROMESSA DO ESP1RJTO. Na noite em que foi traído, assim
discípulos (nome, no singular, note, pois existe apenas um só Deus) é nos conta João, Jesus falou extensivamente com onze de seus seguidores
tripessoal: "nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28.19). a respeito do seu futuro discipulado, à luz da sua partida iminente para a
(Karl Barth docemente chamou esta expressão de "nome cristão" de glória (capltulos 13-16). Ele se referiu várias vezes ao Parácleto, a quem
Deus!) Mais uma vez, João começa a sua carta às sete igrejas, identificou como o Espírito da verdade (14.17; 15.26; 16.13) e como
desejando-lhes graça e paz "da parte daquele que é, que era e que há de Espírito Santo (14.26). O Parácleto, disse ele, seria enviado pelo Pai
vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono, e da parte mediante seu pedido pessoal (do Filho), logo em seguida à sua partida (14.
de Jesus Cristo..." (Apocalipse 1.4, 5). No simbolismo numérico de 16, 26), e assim pode-se dizer que ele seria enviado pelo Filho como agente
Apocalipse, sete significa a perfeição divina, e os "sete espíritos" do Pai (15.26; 16.7). Ele seria enviado, disse Jesus, "em meu nome"
certamente significam o Espírito Santo na plenitude do seu poder e sua (14.26), ou seja, como correio de Jesus, seu porta-voz e representante; ele
obra (veja 3.l; 4.5; 5.6). Quando o Pai é colocado em primeiro lugar, o ficaria com os discípulos de Jesus "para sempre" (14.16); e, mediante a
Filho em terceiro, e o Espírito entre eles, como aqui, não resta lugar para sua vinda a eles, o próprio Jesus, seu Senhor glorificado, na verdade
se duvidar da co-igualdade do Espírito com eles dois. Confirmando isto, retornaria a eles (14.18-23). Em seu novo ministério pactuai (pois é a esse
uma série de passagens "triádicas" ligam Pai, Filho e Espírito Santo na respeito que Jesus estava falando), o Espírito obliteraria a si mesmo,
inseparável unidade de um único plano de graça (veja 1 Coríntios 12.4-6; dirigindo todas as atenções para Cristo - e, conseqüentemente,
2 Coríntios 13.14: Efésios 1.3-13; 2.18; 3.14-19; 4.4-6: 2 Tessaloniccnses afastando-as de si próprio - e atraindo as pessoas para a fé, esperança,
2.13, 14; 1 Pedro 1.2). A conclusão é de que o Espfrito não é mera criatura amor, obediência, adoração e dedicação que constituem a comunhão com
poderosa, como um anjo; ele, juntamente com o Pai e o Filho, é Deus Cristo. Este, é bom que se diga, continua sendo o critério pelo qual pode
Todo-poderoso. Por isso, eu peço: nunca pense nem fale no Espírito Santo ser medida a autemicidade dos movimentos supostamente "espirituais"
em termos inferiores aos pessoais! - o movimento ecumênico, o movimento carismático, o movimento
litúrgico, o movimento de pequenos grupos, o movimento de apostolado
O Espírito Santo e Cristo dos leigos, o movimento de missões mundiais, e assim por diante - e
também o das experiências supostamente "espirituais".
Um século de debates acadêmicos, acerca da confiabilidade histórica O ESPÍRITO E A PRESENÇA DE CRISlO. Assim sendo, o
do evangelho de João, fez com que se tornasse rora de moda começar com Espírito faria da presença de Cristo e da comunhão com ele e seu Pai
ele quando se exploram temas neotestarncntários. Convencionou-se, pelo
realidades de experiência para aqueles que, obedecendo às suas palavras,
contrário, elaborar o estudo do testemunho de João através dos volumes mostrassem que o amavam (14.21-23). "Se alguém me ama, guardará a
de Mateus, Marcos e Lucas, e algumas vezes também de Pedro e Paulo, minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele
como se alguém pudesse ver o que João está dizendo, apenas em cima dos
morada". Este é o acesso para aquela qualidade de experiência cristã da
ombros desses outros escritores. Todavia, como alguém que não vê
qual o próprio João testificou, quando escreveu: ''A nossa comunhão é com
nenhuma razão plausível para duvidar da autenticidade ou da clareza o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" (l João l.3), e esse testemunho vem
inlrínseca do que João registra, proponho que façamos do seu evangelho como desafio de Cristo para que nós todos busquemos esta comunhão
o trampolim para que, a partir dele, elucidemos o novo ministério pactuai experimental e não nos conformemos com nada menos do que isto.
do Espírito: pois é no Evangelho de João, dos lábios do próprio Jesus, que O ENSINO DO ESPfRITO DE DEUS. E, outra vez, o Espírito
nos é dado o indício, a sugestão vital para entendermos esse ministério.
haveria de ensinar, como Jesus havia ensinado durante três preciosos anos
Com respeito a este tópico, de qualquer forma, precisamos estar sobre os
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NA DINÂMICA DO tsPIRITO O ESPIRITO SANTO NA BIBUA

do seu ministério na terra; e a maneira de o Espírito ensinar seria fazer conscientizar os homens acerca da glória de Jesus.
com que os disclpulos lembrassem e compreendessem o que o próprio Lembro-me de ter ido a uma igreja em certa noite de inverno para
Jesus havia dito (14.26; veja também 16.13, onde a frase de Jesus "toda a pregar acerca das palavras "ele me glorificará" e, quando me encaminhava
verdade", à semelhança de "todas as coisas" em 14.26, significa não "o que para lá, ao virar a esquina, vi o ediflcio inundado pela luz dos holofotes e
os espera," mas uo que me espera" - a cruz, a ressurreição, o reino, a percebi que aquela era exatamente a ilustração que a minha mensagem
volta, a restauração de todas as coisas). Este é o teste que mostrará o precisava. Quando essa focalização é bem feita, os holofotes são colocados
quanto do Espírito existe em cada um dos vários tipos de teologia de forma que você não os veja; de fato, não devemos ver de onde a luz está
supostamente cristã que demandam a nossa atenção hodiernamente. vindo; o que se tenciona mostrar é exatamente o edifício para o qual estão
O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO. Finalmente, o Espírito dirigidos os holofotes. O efeito previsto é torná-lo visível quando, de outra
comprovaria Cristo na forma de uma testemunha, fazendo que as pessoas forma, ele não seria visto nas trevas e aumentar a sua dignidade,
soubessem que, embora crucificado como criminoso, ele não era de forma fazendo-se ressaltar todos os detalhes, de forma que você os veja de
alguma pecador, que de fato ele estava sendo vindicado como justo por maneira adequada. Isto ilustra perfeitamente o novo papel pactuai do
causa da sua volta à glória do Pai, que ele começara a desempenhar o seu Espírito. Ele é, por assim dizer, o holofote oculto que focaliza a sua luz no
papel como juiz do mundo mediante o julgamento, executado na cruz, que Salvador, fazendo-o resplandecer.
destronara o principe das trevas deste mundo (veja também 12.31) e que Ou, então, pense nesta idéia da seguinte maneira. É como se o
o fato de não reconhecê-lo nestes termos é o pecado de incredulidade Espírito estivesse de pé, por trás de nós, lançando luz sobre o nosso ombro,
(15.27; 16.8-11). Desta forma, o Espírito testificador agiria como um sobre Jesus, que está il nossa frente, olhando para nós. A mensagem do
promotor público da humanidade, imprimindo em coração após coração Espírito para nós nunca é: "Olhe para mim; escute-me; venha a mim;
o veredicto: "Errei, sou culpado; preciso de perdão", à medida que ele faz conheça-me", mas sempre: "Olhe para ele e veja a sua glória; ouça-o, e
entender a enormidade da rejeiçao de Jesus ou pelo menos de não tê-lo escute as suas palavras; vá a ele e tenha vida; conheça-o e prove o seu dom
levado suficientemente a sério (16.8). Esta é uma promessa da ajuda do de alegria e paz". O Espírito, podemos dizer, é o "casamenteiro", o agente
Espírito na evangelização. A sua maneira de convencer e sentenciar é matrimonial celeste, cujo papel é unir-nos - Cristo e nós - e tomar
através da persuasão cristã, à medida que a Igreja dissemina a mensagem providências para que permàneçamos juntos. Como segundo Parácleto, o
apostólica; o seu testemunho é uma questão de ele abrir o ouvido interno Espírito nos leva constantemente para perto do Parácleto original, que se
e aplicar à consciência individual as verdades que os cristãos que testificam aproxima, como vimos acima, através da vinda a nós do segundo Parácleto
colocam diante da mente (veja 15.27; 17.20). (14. 18). Desta forma, capacitando-nos a discernir o primeiro Parácleto e
Desta forma, o Espírito iria glorificar o Salvador glorificado ( 16.14), levando-nos a estender as nossas mãos para ele, quando este desce do seu
agindo tanto como intérprete, para tornar clara a verdade a respeito dele, trono para vir ao nosso encontro, o Espírito Santo glorifica a Cristo, de
quanto como iluminador. para assegurar que as mentes propícia� a acordo com as próprias palavras deste.
recebessem. Jesus, o Senhor Cristo, seria o ponto central do ministério do
Espírito, do princípio ao fim.
O MINISTÉRIO DE HOLOFOTE. O novo e característico papel
pactuai do Espírito Santo, portanto, é cumprir o que podemos chamar de
ministério de holofote em relação ao Senhor Jesus Cristo. No que
concerne a esse papel, o Espírito "até esse momento não fora dado" (7.39,
grego literal), enquanto Jesus estava na terra; só quando o Pai o glorificou
(a Jesus - veja 17.1, 5), pôde começar a obra do Espfrito no sentido de

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