Paráclito se manifestou ao mundo como Espírito Criador.
Dizia Santo Ambrósio: "Não podemos duvidar que seja Criador o Espírito que sabemos ser o autor da encarnação do Senho". Ele é -- juntamente com o Pai -- o grande protagonista deste momento na história. Em certo sentido, o Jubileu do Ano 2000 é quase mais a festa do Espírito Santo do que do próprio Jesus! O que significa em hebraico Ruah? Originalmente, e na sua raiz, ruah significa o espaço entre o céu e a terra, espaço que pode ser calmo ou agitado, espaço aberto, como uma pradaria, onde se percebe mais facilmente o sopro do vento; por extensão, o "espaço vital" no qual o homem se move e respira. Este sentido primordial do termo deixou alguns traços na posterior teologia do Espírito Santo. Dele, com efeito, fala-se muitas vezes, especialmente no Novo Testamento, com a preposição de lugar. A preposição típica, para falar do Espírito, é no, do mesmo modo que para o Pai se una do, e para o Filho por "por meio de": *Do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo*. O Espírito Santo é o espaço espiritual, uma espécie de "ambiente vital", em que se dá o encontro com Deus e com Cristo. Ruah significa duas coisas estreitamente ligadas entre si: o vento e a respiração. Isto é verdade também para o substantivo grego Pneuma e para o latino Spititus. Vento e sopro são, portanto, mais que simples símbolos do Espírito Santo. Neste caso, símbolo e realidade estão ligados tão estreitamente que se escondem sob o mesmo nome. Para nós, é difícil compreender a incidência que teve, no desenvolvimento da revelação, o fato de em toda a parte, na Bíblia, em que nós lemos: "vento", os Padres liam também "espírito", e em toda parte onde nós lemos "espírito", os Padre liam também "vento". Não foi o Espírito Santo que deu seu nome ao vento, mas o vento deu seu nome ao Espírito Santo. Em outras palavras, o sinal precedeu o significado porque, na experiência humana, o que vem primeiro não é o espiritual e depois o material, e sim ao contrário: primeiro vem o material, e depois o espiritual. "1Cor 15,46". No princípio do Gênesis se fala do "Espírito de Deus" que soprava com forças sobre as águas "cf. Gn 1,2". Aqui a proximidade entre Espírito e vento é tamanha, que os tradutores modernos muitas vezes ficaram na incerteza se traduziam a expressão por "Espírito de Deus" ou "vento de Deus" ou "vento impetuoso" e escolhem, de fato, ora uma ora outra tradução. O vento, com efeito, é por excelência na Bíblia, mas também na natureza, a expressão de uma força arrasadora e indomável. Ele é capaz de "dilacerar os montes e despedaçar os rochedos"-1Rs 19,11. Quanto às imagens da respiração, do sopro ou da brisa suave, servem para exprimir a bondade, a delicadeza, a quietude e a imanência do Espírito divino. A respiração é aquilo que há de mais "íntimo", mais vital e pessoal no ser humano. Pois bem, o Espírito Santo personifica, com uma evidência, o mistério de Deus que é, ao mesmo tempo, poder absoluto e ternura sem limites, movimento irrefreável e quietude infinita. Vamos refletir, agora, sobre estas duas características. Isso nos ajudará a compreender grande parte da revelação bíblica sobre o Paráclito. Tertuliano chama o Espírito Santo de "o trinador dos mártires". Vamos, portanto, à escola do "irmão vento", como o chamava Francisco de Assis. Muitas coisas nos recordará o vento, no momento oportuno, se o observarmos agora com o novo olhar iluminado pela Palavra de Deus. A linguagem das palavras e dos povos muda com ocorrer do tempo, mas não a da natureza. O "irmão vento" fala hoje como falava no tempo de Ezequiel, como no princípio do mundo. Existe, porém, uma tentação análoga, embora contrária, à racionalista: querer encerrar o Espírito Santo em "latinhas" eclesiásticas: em cânones, instituições, definições. O Espírito cria e anima as instituições, mas Ele mesmo não pode ser institucionalizado. O vento sopra onde quer, e assim o Espírito Santo distribui os seus dons como lhe apraz "cf. 1Cor 12,11". Ruah 'elohim' é às vezes traduzida por "um vento de Deus" ou "tempestade de Deus" ou "ventania terrível". Mas, neste caso, o sujeito "vento de Deus" fica em contradição com o verbo, que sempre foi entendido, no hebraico e nas traduções, no sentido de "plantar", "pairar", "chocar", isto é, como um verbo de repouso, não de tempestade.