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FORTALEZA
2013
MARCOS LEANDRO PIRES DE OLIVEIRA
FORTALEZA
2013
Aos meus pais, Marcondes e Rosa.
A Halithea.
AGRADECIMENTOS
A minha família pela confiança em acreditar que alguém de nossa família iria se
formar, e por todo o suporte durante os quatro anos de graduação.
À minha orientadora Juliana Rangel pela paciência e apoio durante a produção da
monografia.
Às professoras pelo aceite de convite para a banca: Andrea Pinheiro e Shirley Martins.
A todos professores que influenciaram e moldaram não só o meu trabalho de
conclusão, mas também a minha própria formação profissional.
À Halithea Carvalho por toda paciência, amor e compreensão.
Aos meus clientes que tiveram paciência nos momentos em que eu estava
monografando e demorava para atendê-los.
Ao mestre do universo.
“Mantenha o som na cabeça: esta é a
primeira tarefa – então todo o resto vem em
seguida.”
(Murray Schafer)
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi identificar o sentido sugerido pela voz em spots publicitários
para o rádio. A voz que neste formato, é recurso primário na criação das peças sonoras, pois
por meio dela, o locutor profissional pode realizar sua criação comunicativa com variância
de acordo com cada propósito publicitário, a partir de conhecimentos mais apurados em
relação aos parâmetros de produção da voz, noções de musicalidade e estudos dos possíveis
sentidos gerados pela prosódia. O foco deste estudo foram os spots e buscamos entender
quais os recursos vocais utilizados em sua composição para incentivar a sugestão de
imagens ao ouvinte. Para compreender essa sugestão de sentido com base no som, definimos
o recorte do objeto de análise de Spots publicitários de emissoras de rádio da cidade de
Fortaleza. A partir do material sonoro composto de três spots, realizamos analises acústicas
perceptivas, e baseando-se na análise das peças selecionadas, identificamos alguns aspectos
reincidentes nas peças e outras especificidades que levaram a pensar sobre o processo de
produção e criação desses spots. Entendemos que este trabalho pode contribuir para
pesquisas futuras sobre o papel da voz na linguagem radiofônica, para profissionais da
publicidade e para estúdios de produção sonora. Com conhecimentos ampliados, as partes
poderiam aproveitar melhor o potencial expressivo da voz e tornar o rádio mais atraente para
os anunciantes e também para os ouvintes.
The purpose of this study was to identify the meanings suggested by the voice in radio spots
advertisements. The voice that in ad format is a primary resource in the creation of sound
ads, cause using it, the voice professional can accomplish their communicative creation with
variance according to each advertiser purpose, from more accurate knowledge regarding the
parameters of the production voice, notions of musicality and studies of possible meanings
generated by the prosody. The focus of that study were on the spots and we have searched to
understand which vocal resources used on it to encourage the suggestion of images to the
listener. To understand this suggestion on the basis of sound sense, define the limits of the
subject of analysis of advertising spots to radio stations in Fortaleza. With sound material of
three spots in our hands, we conducted perceptual acoustic analysis, and based on the
analysis of the selected spots, we identified some recurring aspects in some parts and other
specifics factors that led to think about the production and creation process of these spots.
We believe that this research can contribute on future researches on the role of voice in radio
language, for advertising professionals and sound production studios. With expanded
knowledge, the parties could benefit the expressive potential of voice and make the radio
more attractive to advertisers and also for listeners.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 09
2 RÁDIO: PERCURSOS E INTERFACES COM A PUBLICIDADE ........ 13
2.1 Rádio: os primeiros momentos ............................................................... 13
2.2 A presença da publicidade no rádio ....................................................... 15
2.2.1 A descoberta da linguagem própria da publicidade no rádio ...................... 16
2.2.2 O investimentos no rádio ressurgem ............................................................. 18
2.3 Os spots publicitários preenchendo brechas ............................................... 18
3 LINGUAGEM VERBAL: A VOZ EM SEU SENTIDO PRIMEIRO ...... 23
3.1 Origens ............................................................................................................. 23
3.2 Voz: aspectos fisiológicos ................................................................................ 25
3.3 Parâmetros vocais ............................................................................................ 26
3.3.1 Ressonância ..................................................................................................... 27
3.3.2 Articulação ...................................................................................................... 27
3.3.3 Qualidade vocal .............................................................................................. 28
3.3.4 Pitch ................................................................................................................ 29
3.3.5 Intensidade ..................................................................................................... 30
3.3.6 Loudness ........................................................................................................ 31
3.4 Aspectos prosódicos da fala ........................................................................... 31
3.4.1 Compreendendo a prosódia ........................................................................... 34
4 VOZ, SIGNIFICAÇÃO E GERAÇÃO DE SENTIDO ............................ 37
4.1 Expressão e conteúdo .................................................................................... 37
4.2 Relação subtexto x entonação x recepção ..................................................... 38
4.3 Oralidade midiatizada ................................................................................... 41
4.4 As técnicas vocais e a oralidade midiatizada ................................................ 42
4.5 Publicidade e prosódia .................................................................................. 44
5 ANÁLISE ACÚSTICA DOS SPOTS ....................................................... 46
5.1 As emissoras de radio, os programas e spots escolhidos para a análise. 46
5.2 As rádios especializadas ................................................................................ 46
5.3 As emissoras escolhidas ................................................................................ 47
5.3.1 Emissora Atlântico sul FM ............................................................................ 47
5.3.2 Emissora Calypso FM ................................................................................... 48
23
5.3.3 Emissora Tempo FM....................................................................................... 48
5.4 Os programas escolhidos ................................................................................ 4823
5.5 Análise dos spots e suas assinaturas ............................................................... 50
5.6 Os spots escolhidos ........................................................................................ 51
5.7 Análise perceptiva e espectográfica do material coletado ............................ 52
5.7.1 Spot Naturágua .............................................................................................. 52
5.7.1.1 Análise acústica da assinatura do Spot Naturágua ........................................ 53
5.7.2 Spot Make B …………………………………………………....………...... 55
5.7.2.1 Análise acústica da assinatura do Spot Make B ............................................ 56
5.7.3 Spot MC Motel .............................................................................................. 58
5.7.3.1 Análise acústica da assinatura do Spot MC Motel ........................................ 59
5.8 Comparação entre as assinaturas dos spots ............................................... 60
6 CONCLUSÃO .............................................................................................. 62
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 63
ANEXOS ....................................................................................................... 69
33
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32
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23
23
9
1 INTRODUÇÃO
Durante minha formação, assim como qualquer outro estudante deste curso, direcionei
minha carreira para uma categoria específica do ramo de publicidade, a produção em áudio.
Por mais que existam opções de áreas mais procuradas como a direção de arte, a produção
para o rádio foi a área onde mais me envolvi, buscando conhecer o processo de produção das
peças publicitárias para o meio, e pesquisando a bibliografia do assunto.
Esta monografia foi provocada por esse interesse em pesquisar e conhecer o rádio, mas
também pela intensa e sensível relação minha como pesquisador com o tema. Relação já de
admiração quando eu era mais um dentre tantos ouvintes e apreciadores dos produtos
radiofônicos, e que se tornou ainda mais sólida quando me dispus a estudar e compreender o
funcionamento deste meio de comunicação, que desde seu surgimento, é conhecido por sua
popularidade.
O spot, por ser realizado a partir de uma locução, tem como recurso fundamental a voz,
que em conjunto com recursos sonoros de efeitos e trilhas de fundo é utilizada para sugerir
imagens, ambientes e sensações ao ouvinte de rádio. A possibilidade de gerar sentidos pela
voz, muito além do sentido textual, é um recurso que, nas interpretações feitas pelos
locutores, criam todo tipo de sensações apenas com mensagens sonoras, pelo adequado uso
dessa voz, ao gerenciar e regular os aspectos variantes envolvidos no processo de fala.
Pitch, intensidade, loudness, ressonância, articulação e qualidade vocal são algumas das
variáveis presentes durante a produção da voz pelo corpo em seu sistema fonador. E por
possuir à disposição diversos parâmetros variáveis, quem fala tem a possibilidade de
combinar seus aspectos para produzir incontáveis instâncias vocais e sentidos gerados por
elas.
Apesar de todo o potencial criativo pela voz em função de seus parâmetros, nós nos
sentimos motivados a pesquisar os spots, porque percebemos que em experiência nossa de
observação de produções sonoras publicitárias para o rádio, há pouca ou nenhuma menção aos
recursos e parâmetros vocais listados neste estudo, quando nos referimos à criação e
preparação técnica de locuções. As indicações percebidas eram muito vagas e reducionistas.
Resumiam-se a instruir que o locutor falasse triste, alegre, sério, etc.
Para isso, abordaremos nesta pesquisa a utilização desses recursos pelos profissionais de
rádio na produção de spots, com o objetivo de conhecer e identificar, quais as estratégias
utilizadas em locução para a construção das imagens sonoras em spots de algumas emissoras
11
de rádios da cidade de Fortaleza. Para o corpo de estudo, selecionamos três programas com
duração de uma hora, de três emissoras de perfis semelhantes que transmitem para Fortaleza,
para extrair spots de sua programação. As emissoras foram a Atlântico Sul FM, a Calypso FM
e a Tempo FM.
O equipamento utilizado para ao registro sonoro foi composto por um notebook com
sistema operacional Windows e dois smartphones com sistema Android. O notebook recebeu a
transmissão do programa de rádio da Tempo FM pela internet por meio do site oficial da
rádio, e a gravação foi efetuada pelo software “Total Recorder”. Os smartphones receberam
sinal tradicional de rádio e gravaram o áudio das emissoras Atlântico Sul FM e Calypso FM,
por meio de seus softwares padrão de fábrica para sintonização de emissoras de rádio.
Para auxiliar na análise do material, utilizamos o software Praat1, que analisa arquivos
de áudio de extensão “wav”, produzindo gráficos referentes a aspectos fonéticos prosódicos
como o pitch, a intensidade e as ondas sonoras dos arquivos.
1
O praat é um software aberto utilizado em análise e síntese da fala. O programa foi desenvolvido pelos
lingüistas Paul Boersma e David Weenink, do Departamento de Fonética da Universidade de Amsterdã, e o seu
foco principal é a análise sonora, através de parâmetros como freqüência, comprimento de onda, decibéis, etc.
13
O capítulo faz uma revisão histórica da trajetória do rádio, esmiuçando detalhes da sua
implantação no Brasil. Faz relação com a publicidade e a propaganda e os gêneros
publicitários criados para ele. Dentre os formatos, os spots recebem atenção especial por
serem objeto deste estudo, quando as características de sua produção e classificação são
explicadas.
2
A História do Rádio. Disponível em: <http://srhistoria.blogspot.com.br/>
14
Daí em diante, o sucesso e êxito do rádio seguiu e espalhou-se rapidamente pelo mundo.
O desenvolvimento da nova mídia de massa se deu de modo rápido nos vários locais onde foi
implantado, e sempre foi acompanhado de um grande entusiasmo dos ouvintes e dos seus
idealizadores.
As primeiras programações do rádio no Brasil, que não eram mais que algumas horas
por semana nos seus primeiros anos, tinham foco na educação e na cultura. E no início
contavam com aulas, cursos e concertos musicais regulares. Mas em pouco tempo, tanto na
Rádio Sociedade, quanto em outras emissoras fundadas por grupos de amantes da
radiodifusão, a programação educativa foi cedendo espaço a outros programas que resumiam-
se a pequenos informativos ou exibições musicais. Essas mudanças foram ocorrendo devido à
falta de investimentos no setor de rádio, e também porque os anúncios publicitários ainda não
tinham regulamentação para o seu uso no meio (MORAIS, 2011).
3
Rádio AM é o processo de transmissão através do rádio usando Modulação em Amplitude. É transmitido em
várias bandas de freqüência. Foi por oitenta anos o principal método de transmissão via rádio. Caracterizado pelo
longo alcance dos sinais, a freqüência AM está sujeita a interferências de outras fontes eletromagnéticas
(RÁDIO AM, online).
4
Em nosso texto, o termo rádio quando em gênero feminino (a rádio) denota o significado de emissora. Quando
no masculino (o rádio), representa a atividade de radiodifusão como um todo.
5
No Ceará, o marco do rádio foi a fundação da emissora Ceará Rádio Clube PRE-9 em 1931 (LIMA ET AL,
2010).
6
Nahara Cristine Makovics é Publicitária, Doutoranda em Comunicação na Universidade Metodista de São
Paulo (UMESP) e coordenadora do curso de Comunicação Social do Centro Universitário Barão de Mauá de
Ribeirão Preto.
15
é que houve o início do processo de consolidação do rádio como meio de comunicação como
conhecemos hoje em dia. A adoção do modelo de radiodifusão norte-americano e a
distribuição de concessões de canais de transmissão aproximaram ainda mais o meio rádio da
sua abertura comercial. Principalmente com o advento de Decretos-Lei em 1932 e 1934, que
regularizavam e regulamentavam a propaganda no rádio. Era o começo de uma nova e
promissora fase em parceria com a publicidade.
Com a entrada dos investimentos financeiros, o rádio sofreu mudanças. Ainda mais
quando se tornou auto-suficiente e não mais dependente de incentivos financeiros por
iniciativa de seus investidores (empresários entusiastas do novo meio de comunicação). Os
interesses econômicos e necessidades comunicacionais da sociedade da época, que passava
por algumas transformações sociais7, re-configuraram o destino do rádio. Além disso,
enquanto a publicidade ampliava seu espaço no meio, o caráter educacional da programação
foi sendo reduzido gradativamente, até chegar ao ponto de somente cumprir as exigências
mínimas de veiculação de programação educativa que constavam nos decretos-lei
anteriormente citados. Por outro lado, os iniciais dez por cento do tempo de veiculação
reservados às propagandas ou reclames homologados pelos decretos chegaram em pouco
tempo a ocupar vinte e cinco por cento da programação do dia. Simultaneamente, as
emissoras abertamente tentavam popularizar a sua programação e se posicionar claramente
com o objetivo de servir ao lazer e entretenimento (MAKOVICS, 2003a).
7
A revolução de 1930 e o processo de industrialização foram alguns dos marcos do período (RIBEIRO ET AL,
online).
16
O sucesso do rádio nesse período se deu, como consta em Vianna (2009), pelo seu
potencial expressivo, agora intensamente explorado em programas e propagandas. Os
processos giravam em torno da ideia de sugerir aos ouvintes diversas imagens utilizando os
elementos sonoros como material de construção dessas imagens.
Importante salientar que o rádio não era o único meio de comunicação de massa a
funcionar com áudio. A posterior televisão e o contemporâneo de época do rádio, o cinema
sonoro8, são mídias que utilizavam também o som como recurso. Todavia, o ponto particular
do rádio é que ele é exclusivamente baseado em áudio. Assim, o recurso de descrição tornou-
se uma característica sempre presente nos programas e nos anúncios de propaganda. Pois ao
serem enriquecidos por elementos como os recursos vocais, efeitos sonoros e dramatizações,
as produções buscavam compensar a ausência de imagens.
8
O cinema sonoro chega ao Brasil em 1929 (SOUZA, <http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/132379/o-impacto-da-
chegada-do-som-no-cinema-do-brasil-19261936>).
17
Surgido nos Estados Unidos nos anos de 1930, o jingle, definido por Siegel (1992)
como “uma pequena peça musical cuja função é a de estimular e facilitar a retenção da
mensagem pelo ouvinte. O jingle é geralmente curto e sua melodia é ao mesmo tempo simples
e de fácil compreensão” (SIEGEL, 1992 apud LOURENÇO, 2009, p.1).
Com a presença do novo meio de massa que exibia ao mesmo tempo som e imagem, o
rádio precisou se reorganizar. As emissoras ficaram cada vez mais especializadas em
determinados tipos de público com diferentes gostos e preferências. Principalmente com o
surgimento das FMs9. A audiência específica consolidou-se, mas ficava cada vez mais claro
que o rádio não voltaria a ser o meio de comunicação de massa prioritário. O rádio havia
perdido a preferência do mercado publicitário e deixou de ser a primeira escolha de mídia dos
anunciantes (MAKOVICS, 2003a).
Desde a chegada da televisão, o rádio nunca mais foi o mesmo e viveu a partir desse
período na sombra da televisão, que se popularizou ainda mais nos anos seguintes com
aumento no número de emissoras de TV e a presença de mais anunciantes maravilhados com
as possibilidades de anúncios em vídeo. Na década de 1960, o rádio chegou a ser considerado
como o meio de massa mais defasado (QUEIROZ E SILVA, 1983). Apesar disso, o rádio
manteve o seu carisma e popularidade que já encantava seus primeiros entusiastas.
9
Rádio FM é o processo que transmite informações utilizando modulação em frequência. É transmitido em
várias bandas de freqüência e apresenta qualidade de áudio superior às rádios AM.
18
Hoje em dia, o quadro de negócios do rádio com a publicidade segue de modo regular.
Ainda porque os formatos de anúncios spot e jingle ainda permeiam a programação de
emissoras e são utilizados até hoje, em conjunto com os novos formatos de propaganda para o
rádio que surgiram: o testemunhal10 e assinatura de patrocínio11. O spot, relevante para este
estudo, ainda é utilizado por diversas emissoras, em programas dos mais variados e para
anunciar todos os tipos de produtos ou serviços.
Spot é o termo inglês equivalente à palavra do espanhol “cuña”, que significa peça de
madeira que se introduz em um espaço vazio para corrigir vãos. No rádio, o spot ainda
permanece como uma peça, mas agora é peça publicitária e se encaixa em espaços da
programação de uma emissora. Espaços classificados agora não como defeitos a serem
corrigidos, mas deliberadamente organizados para as inserções publicitárias.
10
Barbosa Filho (2003 apud REIS, 2010. p.7) define o testemunhal como peças radiofônicas que utilizam a
credibilidade dos comunicadores para o convencimento do público. De acordo com o autor, o texto pode ser lido
com um fundo musical exclusivo, mas normalmente mantém a mesma trilha executada anteriormente, a fim de
disfarçar com o reforço da continuidade do mesmo sinal sonoro a intenção comercial que supõe a inserção do
testemunhal.
11
Formato publicitário de rádio em que a empresa anunciante é citada no início, em intervalos ou no final do
programa patrocinado, sugerindo que houve incentivo ou apoio institucional à produção e atividades do
programa.
19
outros. O recurso principal de expressão no spot é a voz de uma locução, que pode ser
acrescida de outros elementos sonoros ou musicais para complementar a construção do
sentido pretendido na mensagem (MORAIS, 2011).
A principal diferença do spot para o jingle é que o primeiro é caracterizado por ser uma
mensagem a priori falada. E apesar desta pesquisa estudar a musicalidade da voz falada,
temos ciência que, de forma reducionista, ainda que não concordemos, o senso comum aponta
que o spot publicitário é o anúncio falado, e o jingle, o anúncio deliberadamente cantado.
A locução pode usar uma ou mais vozes. Todavia, como previne Morais (2011), é
recomendado que caso seja usada mais de uma voz em um spot, que elas não tenham muitos
padrões de semelhança, como timbre, ritmo e altura12. Pois, assim, evita-se qualquer confusão
de identificação entre as vozes e algum eventual comprometimento da “legibilidade” da
mensagem.
Porém, mesmo nesses casos, o texto do spot deve apresentar compatibilidade exigida
pelo meio rádio. A linguagem não pode ser nem uma mera reprodução de um anúncio
impresso, nem mesmo ser o áudio extraído de um comercial de televisão tal qual como foi
exibido:
12
Timbre, ritmo e altura e outros parâmetros vocais serão estudados no capítulo Linguagem Verbal: a voz em
seu sentido primeiro.
20
"Um dos maiores absurdos para quem analisa em detalhes as peças publicitárias
colocadas no ar em nossas emissoras é o fato de muitas delas serem criadas para a
TV e veiculadas no rádio, sem o menor cuidado com a adaptação" (MARCONDES,
1996 apud ALBANO SILVA, 1999. p. 35).
A solução dos profissionais de rádio acabou sendo, como bem notou Julia Lúcia De
Oliveira Albano Silva em seu livro “Rádio: oralidade mediatizada. O spot e os elementos da
linguagem radiofônica” (1999), que a publicidade no rádio brasileiro tivesse um modo de
produção baseado em promover a sinestesia e a criação de imagens e ambientes no imaginário
do ouvinte por meio do uso das palavras e dos elementos sonoros e musicais.
O ouvinte cria no seu imaginário uma imagem que pode não ser semelhante à imagem
real do locutor. Mas o importante é que ele cria imagens motivadas, vindas dos aspectos da
voz notados durante a elocução. Assim, ele pode identificar lugares, personagens,
ambientações e sensações específicas por meio dos estímulos gerados pelo corpo e a palavra
falada.
Albano Silva (1999) explica ainda outros pontos presentes das particularidades do rádio
e relaciona-os com a criação de spots. Um deles trata da efemeridade da informação
comunicada no rádio. Nesse meio, ainda que o ouvinte possa usar de fones de ouvido, é
característica forte que o receptor está isento de dedicar atenção exclusiva para a sua escuta.
No ambiente doméstico, a retenção de informações fica ainda mais comprometida devido à
circulação do ouvinte no próprio ambiente, com a presença de outros sons ou a realização de
tarefas diversas em conjunto com a escuta.
13
Professor doutor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-graduação em Estudos da
Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
14
O conceito de imaginário de GOMES difere do conceito de imaginário coletivo de Bleger, que é conjunto de
crenças, emoções e imagens que um determinado grupo produz acerca de um fenômeno (AIELLO-VAISBERG
ET AL, 2011)
21
receptor de uma mensagem com o mesmo conteúdo original com o objetivo de reforçar a
informação e tentar projetar na memória deste, por meio da sugestão, os dados desejados.
No rádio, o spot utiliza o recurso da redundância ao provocar rimas nos textos, colocar
algum ritmo nas vogais e organizar os enunciados de forma que sempre obedeçam à regra de
uso de orações coordenadas15. Pois com esse recurso, o ouvinte tende a assimilar melhor o
conteúdo das mensagens sem a necessidade de fazer relação com o que foi dito anteriormente,
já que não pode “reler” o que já foi falado (ALBANO SILVA, 1999).
Esses recursos vocais teriam ainda mais expressividade, segundo Albano Silva (1999),
sobre públicos com pouca escolaridade e baixos níveis de alfabetização. Não concordamos e
cremos que não só para o recorte social citado por Albano Silva, mas para todas as pessoas, a
expressão da voz teria mais influência que o próprio conteúdo semântico da mensagem. Os
sentidos presentes nos modos de falar teriam mais notável e relevante sentido que as próprias
palavras: “Um sentido de um mesmo enunciado pode ser alterado em função das escolhas
prosódicas16 que fazemos.” (PETER ET AL, 2007. p. 46). Zumthor reforça ainda mais a
importância dos elementos textuais na comunicação:
[...] enquanto vocal, a performance põe em destaque tudo o que, da linguagem, não
serve diretamente à informação- esses 80%, segundo alguns, dos elementos da
mensagem, destinados a definir e a redefinir a situação de comunicação. Decorre daí
uma tendência de a voz transpor os limites da linguagem, para se espalhar no
inarticulado (ZUMTHOR, 2001, p.166).
15
As orações coordenadas são sintaticamente independentes umas das outras, relacionadas entre si pelo sentido e
podem estar ou não ligadas umas às outras por conjunção coordenativa. Exemplo: “Chegou em casa e dormiu”.
(NICOLA e TERRA, 1993 apud SOARES DA SILVA e SOUZA, 2009).
16
O termo prosódia refere-se aos aspectos variantes da voz e será explicado posteriormente no capítulo seguinte.
22
A assinatura pode ser o último elemento na peça em áudio ou aparecer antes de algumas
informações de contato da empresa ou serviço, como números de telefone ou endereços de
websites. Sendo a parte específica que iremos investigar no corpo deste estudo de spots de
rádios FM de Fortaleza, as assinaturas dos spots costumam a durar não mais que 10 segundos,
mas carregam conteúdo de sentido além das poucas palavras ditas em sua execução.
Por mais prática que possa parecer a organização do processo de produção de spots, o
rádio e sua linguagem sempre impõem desafios nos momentos de produção. Somando-se à
composição da voz, os efeitos sonoros e musicais são constantemente solicitados para
complementar e consolidar o sentido requerido no planejamento do spot. Tudo com a tarefa
de construir as imagens sugestivas no imaginário, enquanto fala e sugere no ouvido desse
ouvinte (MORAIS, 2011). E para compreender melhor o substrato principal dos spots, a voz,
iremos investigar agora as suas origens, funcionamento e seus parâmetros tão importantes
para a comunicação humana.
23
Neste capítulo, faremos uma pesquisa desde as raízes das primeiras manifestações
humanas de voz até os tempos atuais. Também traremos toda a fisiologia da voz e suas
relações com o corpo, enumerando aspectos envolvidos nos processos da fala e as
possibilidades geradoras de sentidos ligadas a elas. Iremos expor também o conceito de
prosódia, importante parâmetro da fala para nossa pesquisa.
3.1 Origens
17
Era da Fala iniciou-se há cerca de 35 e 40 mil anos.
(HOMEM de Neanderthal, <http://www.avph.com.br/homoneanderthalensis.htm>).
24
física poderia ter influenciado o desenvolvimento da fala nesses homens, devido ao fluxo de
ar mais livre para saída dos pulmões e ampliação da caixa de ressonância faríngea, em
comparação com a coluna vertebral curva dos hominídeos 18 mais parecidos com os macacos.
(HOMEM..., 2013).
Desde então, de posse do grande novo meio de expressão (voz), o homem ampliou os
seus recursos comunicativos para usufruir de seus benefícios. Seja para dar sinais de alerta e
perigo eminente, para exprimir sentimentos de dor ou alegria, ou mesmo para indicar uma
nova fonte de caça ou colheita. A voz se tornou elemento fundamental de sobrevivência. E,
por esse motivo, o processo de fala deveria ocorrer de modo mais eficaz possível.
A discussão sobre a lógica da eficácia nos faz pensar a comunicação em suas definições
mais clássicas, fazendo-nos tropeçar em um dos modelos lineares da comunicação, como o
clássico: “emissor-mensagem-meio-receptor-impacto”, concebido por Harold Dwight
Lasswell19 e explicado por Mauro Wolf (1992). No esquema, a eficiência exige que a
mensagem recebida em um ponto “B” seja o mais semelhante possível da mensagem de
origem emitida por um ponto “A”. Não poderia haver ruídos. Este modelo que, atualmente é
estudado apenas com fins históricos de pesquisas em comunicação, é abordado aqui apenas
para ilustrar que a comunicação oral, de escuta imediata, chegou para suprir essa necessidade
de comunicação eficaz com o mínimo de ruído possível.
18
Hominídeos é uma família de animais primatas que compreende o homem e seus ancestrais.
19
Harold Dwight Lasswell foi um cientista político e teórico da comunicação estadunidense. O modelo de
comunicação de Lasswell foi apresentado em 1948, e era baseado nas perguntas: Quem? Diz o quê? Através de
que canal? Com que efeito?
20
Roman Osipovich Jakobson foi um pensador russo que se tornou num dos maiores lingüistas do século XX e
pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e arte.
25
Sobre a voz humana, pode-se dizer que, segundo o dicionário de Aurélio Buarque De
Holanda, consiste em um som ou um conjunto de sons emitidos pelo aparelho fonador
(TAFNER, 1996). Esses sons são produzidos no seu momento inicial na laringe, onde são
criados quando o ar é impulsionado pelos pulmões a percorrer a traquéia para finalmente fazer
vibrar as duas pregas vocais na região glótica. As pregas vocais são pequenas membranas
flexíveis que vibram com a passagem do ar. Essa vibração cria oscilações também no próprio
ar, que, ao passar por laringe, faringe, língua e dentes são amplificadas pela ressonância
gerada nas cavidades da faringe, boca, nariz e cabeça (ver Figura 01). As ondas sonoras
produzidas propagam-se pelo ar até atingir o ouvido ou sistema auditivo de um receptor. Todo
o processo de produção da voz humana pode ser resumido desta forma, ainda que Ahsley
Montagu21 em citação de Norval Baitello Junior (1997) afirme que a etapa final (recepção do
som) é feita não só pelo ouvido, mas pela pele. Pelo corpo inteiro.
21
Ashley Montagu foi um antropólogo e humanista inglês que popularizou relações entre raça, o gênero humano
e a sua relação à política e ao desenvolvimento.
26
O conjunto dos elementos responsáveis pela produção da voz é composto por quatro
etapas: a respiração, a sonorização, a ressonância e a articulação. A respiração fornece o ar
necessário para produzir a vibração nas pregas vocais. Seu modo de operação baseia-se no
armazenamento e expulsão do ar dos pulmões. A sonorização implica as oscilações no ar
durante a saída e que gera vibração que é o som fundamental e é ativado conscientemente,
quando muitas das propriedades da voz são escolhidas e aplicadas pelo falante no momento
da elocução, devido às alterações na abertura da boca, posição da língua, etc. A ressonância é
responsável pela amplificação das vibrações quando o ar encontra as cavidades de
ressonância. É também função da ressonância, influenciar o timbre da voz do falante.
Apesar da afirmação que a laringe é responsável pela produção da voz, junto com
pulmões, dentes e boca, essa não é a função principal desses órgãos do corpo humano. Já
sabemos que a função principal do pulmão é a de respiração, realizando a troca de gases do
corpo com o ambiente externo, e que a boca e os dentes também executam uma função
“terceirizada” durante a fala, já que sua função primordial é de triturar os alimentos e em
seguida auxiliar na deglutição. A laringe não é uma exceção. Mara Suzana Behlau22 (2001)
resgata a teoria apresentada no início do texto sobre evolução. Para a pesquisadora, a tarefa
mais importante desse órgão é conduzir o ar e proteger os pulmões da entrada de substâncias
indesejadas. A “alternativa” função de produção de voz da laringe teria sido desenvolvida na
espécie humana ao longo de seu desenvolvimento, de acordo com Behlau (2001). Isto
confirma o caráter e função social do aparelho fonador, ou seja, este aparelho se apropria de
órgãos e sistemas que têm funções vitais como importância principal. O sistema fonador faz
uso desses aparelhos para suprir uma outra necessidade vital para o ser humano. A
comunicação.
22
Mara Suzana Behlau é especialista em Voz, Mestre e Doutora pela Universidade Federal de São Paulo e
consultora em Comunicação Humana.
27
3.3.1 Ressonância
O som quando é gerado, ainda na laringe, não apresenta as características da voz que
ouvimos como de costume. O som quando ainda está no nível da laringe é fraco e assemelha-
se ao barulho de um barbeador elétrico. É apenas um zumbido de pouca intensidade. Contudo,
quando esse som básico percorre as cavidades de ressonância do corpo, passando por
estruturas que formam obstáculos ou aberturas na faringe, boca, dentes, lábios e nariz, ele
modifica-se através do processo de amplificação de algumas freqüências e abafamento de
outras. Este processo é chamado de ressonância. As cavidades de ressonância são uma espécie
de alto-falante natural presente no corpo. Deste modo, o som chega ao ambiente com volume
audível ao ouvido humano (BEHLAU, 2001).
3.3.2 Articulação
Esse aspecto abrange os ajustes e calibragens dos órgãos responsáveis pela fala durante
a produção fonética. A posição da língua na boca ou diferentes maneiras de usar os lábios, a
abertura da boca e do véu palatino23 configuram como “peças“ do mecanismo de produção de
voz ao articular as palavras e as frases. Se cada parte do sistema funciona bem, todo o
aparelho funcionará de maneira hamônica e o produto final será com características mais
precisas. Em se tratando de voz e fala, a articulação bem coordenada fará com que a
comunicação tenha mais chances de ser compreendida e assimilada.
23
Véu palatino é uma estrutura localizada no céu da boca. A parte que corresponde ao teto da boca e assoalho da
cavidade nasal é chamada de palato. Ele se divide em palato duro (parte anterior), que é uma estrutura óssea, e
palato mole ou véu palatino, que corresponde a uma prega fibromuscular móvel, suspensa na borda do palato
duro, na parte posterior. Sua função é fechar a passagem da faringe durante a deglutição (ato de engolir
alimento) e a fala (O QUE É VÉU PALTINO, 2013).
28
A qualidade vocal está proximamente relacionada com o termo timbre e está associada a
uma avaliação perceptiva da voz. Avaliação da qualidade vocal é relativamente subjetiva, pois
os parâmetros de observação são bem definidos, mas ainda assim são subjetivos na avaliação
do examinador. Behlau (2001 apud SILVA) define a qualidade vocal como um conjunto de
detalhes que caracterizam uma voz. Essas qualidades fornecem informações sobre o falante,
que cobrem desde aspectos biológicos como características básicas físicas (altura, idade,
peso); dados psicológicos como personalidade e estado emocional; e, por último, a dimensão
sócio-educacional, que revela aspectos sugestivos como classe social, escolaridade, entre
outros (PONTES24, 1995).
Vemos aqui que a voz registra marcas de singularidades da pessoa, pois o falante dá
pistas, e fazendo imagens através da voz, de qual seu gênero, idade, volume corporal ou
mesmo de estados emocionais e intenções. Cada parâmetro pode ser responsável por um
aspecto ou agir em conjunto com algum outro para caracterizar a voz. Mesmo que tais
características possam ser completamente opostas, como podemos pensar com as vozes dos
radialistas ou demais locutores que não podemos visualizar a sua imagem enquanto o mesmo
fala, mas imaginamos. Podemos dessa maneira pensar também que a voz é um corpo, ou seja,
traz organizações geradoras de sentidos.
24
Paulo Augusto de Lima Pontes é Doutor em otorrinolaringologia e presidente da Federação Internacional das
Sociedades de Otorrinolaringologia.
29
3.3.4 Pitch
De acordo com esse parâmetro, as vozes são classificadas em soprano, com a voz
feminina aguda; contralto, com a voz feminina grave; tenor, com a voz masculina aguda e o
baixo, que tem a voz masculina grave. Ainda que cada indivíduo apresente sua altura vocal
característica, as variações (grave, agudo, médio) estão diretamente ligadas à intenção do
discurso. (SERGL29, 2008).
25
Ana Clara Naufel de Felippe é Mestre e Doutora pela FFCLRP-USP Especialista em Voz pelo CFFa.
Professora do curso de Fonoaudiologia da Unaerp
26
Maria Helena Marotti Martelletti Grillo é Mestre em Educação pela UFSCAR Especialista em Voz pelo CFFa.
Professora do curso de Fonoaudiologia da Unaerp
27
Thaís Helena Grechi é Especialista em Motricidade Orofacial, professora do curso de Fonoaudiologia da
Unaerp
28
O hertz (símbolo Hz) é a unidade de frequência, a qual é expressa, em termos de ciclos por segundo, a
frequência de um evento periódico, oscilações (vibrações) ou rotações por segundo (s −1 ou 1/s). Um de seus
principais usos é descrever ondas senoidais, como as de rádio ou sonoras (HENRICH... , online).
29
Marcos Júlio Sergl é Pós-Doutor em Comunicações e Doutor em Artes, pela Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo, Bacharel em Composição e Regência, pela Universidade São Judas Tadeu, em
Educação Artística, com habilitação em Música, e Piano, pelo Instituto Musical de São Paulo. É docente nas
áreas de Radialismo, Educação Artística, Regência Coral e Pós-Graduação na Unisa, na Faculdade Paulus de
Tecnologia e Comunicação e na Unesp.
30
diversos outros aspectos como a intensidade da voz avaliada. No gráfico do sinal de onda
sonora, as nuances agudas e graves da voz ficam evidentes em gráficos detalhados que
revelam também a melodia do discurso, e as variações dos valores do pitch, que dão o peso
das sílabas tônicas e átonas evidenciando a inflexão melódica.
O lingüista Luiz Tatit30 (2007) explicava que mesmo um ouvinte sem conhecimentos
musicais poderia sentir a tensão física gerada pela variação do pitch da voz correspondente a
tensões emotivas, principalmente nos trechos finais dos enunciados. Tatit deu a essas
finalizações o nome de tonemas, e alertou sobre a importância dessa parte finalizadora de
enunciados na fala:
3.3.5 Intensidade
30
Luiz Tatit é professor Titular do Departamento de Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo. Possui graduação em Lingüística pela FFLCH - USP (1978) e em
Música pela Escola de Comunicações e Artes - USP (1979).
31
Pedro Bloch foi um médico foniatra, jornalista, compositor, poeta, dramaturgo e autor de livros infanto-
juvenis. Escreveu mais de cem livros. Era naturalizado brasileiro. Sua família imigrou para o Brasil no início do
século XX.
31
3.3.6 Loudness
Como vimos, pitch (ou tom) está ligado à freqüência fundamental da onda sonora, que é
o número de vezes que um ciclo de vibração das pregas vocais é realizado a cada segundo.
35
Dicionário de termos lingüísticos.
<http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=terminology&act=list&key=subdomain&val=Pros%C3%B3
dia>
33
Quanto maior a frequência de vibração, maior altura36 terá o som. Considerando uma
sequência de segmentos de sons (sílabas ou palavras), configura-se entonação o conjunto das
variações de frequência ou tom a cada segmento. Reiteramos, seja de palavras, sílabas ou
mesmo entre sentenças inteiras. Assim como consta em Mateus (2004, p. 5).
O aspecto ritmo está proximamente ligado à velocidade da fala. Isso porque são
parâmetros associados ao processo de articulação. O ritmo retrata a regularidade no tempo,
das variações entre os ciclos de movimento e relaxamento. As etapas que se repetem nesses
ciclos são respiração, pausas, tensão e momento de expulsão do ar. O ritmo é definido pelo
intervalo que determinada etapa implicaria numa linha do tempo a cada aparição durante o
falar.
Os aspectos aqui citados são sinergicamente responsáveis por dar significação à voz
humana. Fazem com que a fala tenha significado além do sentido das palavras. Assim como
na fala cotidiana, no rádio, a aplicação da voz não é diferente, como observa Balsebre: “a
36
Altura no contexto de som e música não tem relação alguma com volume ou intensidade. A não ser na
linguagem popular. Pois entende-se por altura como a característica do som que o define como grave ou agudo.
Quanto mais “grosso” o som, nós o chamamos de mais grave ou mais baixo; quanto mais “fino”, nós o
chamamos de mais agudo ou mais alto.
34
Em resumo, esses parâmetros dão colorido à voz, levando a enunciação, no caso desta
pesquisa, na direção que o locutor de rádio guia. E mesmo que conscientemente ou não, ele
modificar a voz, podendo recorrer aos aspectos de pitch, deixando mais aguda ou grave nossa
voz; mudando o loudness, pronunciando com mais ou menos força o ar dos pulmões;
alterando o ritmo ou a velocidade com que fala; ou mesmo modificando a posição de
componentes do aparelho fonador para produzir timbres diferentes. Em suma, os locutores
fazem uso dos recursos prosódicos com material construtivo para seus objetivos
comunicativos.
Os sintagmas entoacionais são importantes para este estudo porque cada divisão pode
apresentar uma curva de tom (freqüência) diferente, que em conjunto formam a curva maior,
definindo a entonação do enunciado por completo.
37
Fonema é uma unidade sonora mínima que possui a propriedade de estabelecer distinção entre vocábulos de
uma língua.
38
A fonética estuda os sons como entidades físico-articulatórias isoladas (aparelho fonador). Cabe a ela
descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades acústicas e perceptivas. Ela fundamenta-se em
estudar os sons da voz humana, examinando suas propriedades físicas independentemente do seu “papel
lingüístico de construir as formas da língua”. Sua unidade mínima de estudo é o som da fala, ou seja, o fone.
Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/distincao-entre-fonetica-e-fonologia/
39
À fonologia cabe estudar as diferenças fônicas intencionais, distintivas, isto é, que se unem a diferenças de
significação; estabelecer a relação entre os elementos de diferenciação e quais as condições em que se combinam
uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. Sua unidade mínima de estudo é o som da língua, ou
seja, o fonema. Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/distincao-entre-fonetica-e-fonologia/
36
O termo “sentido’ é definido por Louis Hjelmslev40 (1975, apud VIANNA, 2009)
apresentando características atreladas com o que ele aponta como uma função semiótica41
operacional, e que segundo Vianna, tem proximidade do conceito de substância da expressão
e do conteúdo. Para Hjelmslev, sentido é uma grandeza comum a todas as línguas e é o modo
como o ser humano percebe, sente ou tem impressões sobre o mundo e seus componentes
(FIORIN, 2003).
A forma da expressão é a “maneira” com que é pronunciada uma forma gráfica escrita,
ou inversamente, o “modo” de escrever uma forma fônica falada. É a materialidade do texto
delimitada pelos espaços em branco, e pelos silêncios no verbo falado. Podemos considerar
como o recorte feito pelo emissor da mensagem/texto dentro das opções possíveis de
expressar a mensagem.
40
Ouis Trolle Hjelmslev foi um lingüista dinamarquês nascido em Copenhagen, fundador de uma escola radical
de linguística estruturalista.
41
A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por
objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de
significação e de sentido (SANTAELLA, 2000).
38
Lembramos que conteúdo e o sentido não estão sempre explícitos. Pois como vimos nos
aspectos da voz, o sentido pode ser sugerido por outros elementos da mensagem. Na voz
falada, os elementos prosódicos são alguns importantes itens capazes de sugerir e gerar
sentidos que se encontram fora do texto em si.
O padrão textual se revela um jogo, uma interação entre o que está expresso e o que
não está. O não-expresso impulsiona a atividade de constituição do sentido, porém
sob o controle do expresso, que também se desenvolve quando o leitor produz o
42
Wolfgang Iser (22 julho 1926 – 24 janeiro 2007) foi professor de Inglês e Literatura Comparada na
Universidade de Constance na Alemanha e grande estudioso da Teoria da recepção.
39
Cada língua tem os seus marcos entoacionais próprios. Assim explica Pavis:
Não existe codificação emocional universal que se expresse nas vozes. Assim, na
Índia o timbre agudo vai exprimir a tristeza, o timbre grave a alegria, o que é a
inversão total da codificação européia [...] mesmo a maneira de chorar e rir é própria
de cada trradição (PAVIS, 2005).
43
Paul Ekman é um psicólogo estadunidense que tem sido pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais.
44
Docente aposentado da UNESP de Araraquara, Edward Lopes escreveu, entre inúmeros títulos, Fundamentos
da lingüística contemporânea e Discurso, texto e significação.
45
Marsel Botelho é Bacharel em Direito-UFPE. Mestre em Direito-UNICAP. Membro da Academia Brasileira
de Direito Processual Civil. Ex-Diretor do Sindicato dos Escritores Profissionais de Pernambuco. Professor
universitário.
46
Mayra Montenegro de Souza possui mestrado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (2012), e graduação em Licenciatura Plena em Educação Artística, com habilitação em Música, pela
Universidade Federal da Paraíba (2008). É atriz, cantora e preparadora vocal. Pesquisa as áreas de Técnica e
Expressão Vocal.
40
que oferecem alguma resistência à melodia na voz, como o alemão (SERGL, 2008). Esse jogo
rítmico gera curvas melódicas que passam despercebidas por quem já domina o código
linguístico. Podemos então suspeitar que as nuances melódicas são como um texto sonoro,
que soma-se ao significado verbal do texto em si, e agrega mais sentido a ele.
Raymond Murray Schafer47 (2001) afirma que na voz ocorrem variações de intensidade,
de andamento, subidas e descidas do som, dentre outras que determinam e desenham a
paisagem sonora. Esse termo, empregado pela primeira vez por Schafer em 1991, designa os
elementos constituintes do universo sonoro: ruído, silêncio, som, timbre, amplitude, melodia,
textura e ritmo. Hoje em dia, o termo “paisagem sonora” é amplamente utilizado por
profissionais de rádio e de mídias sonoras para definir uma composição de som que tem
elementos orais e sonoros como sendo ambas as partes de um mesmo conceito em um
desenho sonoro.
Os parâmetros de subidas e descidas descritos por Schafer (1991) remetem aos valores
de pitch e às alterações de freqüência ao longo da fala. É por meio dessas variações e de
outros atributos vocais que se estabelece o peso e importância de cada palavra no contexto da
sentença. Chamadas de inflexões, essas variações são os vetores que dão relevo e interesse às
palavras a serem destacadas no discurso. Sergl enxerga o fenômeno das inflexões na
entonação com ainda mais relevância nas artes cênicas:
É preciso falar de tal maneira que cada som ganhe vida. Se conseguirmos isso,
podemos até fazer com que seu sentido original definhe e morra, dando lugar a um
novo sentido, a uma nova sintaxe dentro do contexto da frase. Criamos, assim,
poemas sonoros, nos quais a oralidade e a sonoridade estão de tal forma imbricadas,
que se torna difícil dizer se emitimos uma fala cantada ou um canto falado. (2005,
p.6 ).
Esse fenômeno das inflexões e sua importância em entonação não é exclusividade das
profissões de ator ou mesmo de cantor. Sabemos que qualquer profissão requer o
conhecimento de habilidades e competências específicas para se desenvolver de maneira
satisfatória. Para professores, advogados e para locutores (capital relevância neste estudo), a
voz é também material de grande importância nos seus ofícios.
Os locutores de rádio são profissionais cujo sucesso do trabalho depende de uma boa
performance da voz. E, para eles, o uso da voz requer também a presença de todas as
47
Raymond Murray Schafer, o qual, nascido em 1933, é compositor, libretista, pedagogo musical, escritor,
educador e investigador do ambiente sonoro, além de artista plástico e cenógrafo.
41
vantagens do uso de variâncias de sonoridade tanto na entonação, quanto nos demais aspectos
característicos da fala.
Retomemos agora o termo performance, mas, dessa vez, amparados pelo conceito do
teórico suíço Paul Zumthor. Segundo este autor, performance é definida como: “ação
complexa e única que envolve a emissão e recepção simultânea da mensagem poética.”
(ZUMTHOR apud GOLIN48, 2005, p.2).
Apesar de ficar claro seu pensamento sobre o poder da palavra falada e em presença,
Zumthor não condena ou desqualifica a comunicação à distância. Ao invés disso, cria quatro
categorias de oralidades [ou com o termo que ele mesmo preferia: vocalidades] e inclui a
comunicação à distância, como o rádio, em uma delas.
A oralidade primária é presente nas sociedades que usam somente a palavra falada, onde
não há escrita. A oralidade mista é caracterizada pela presença da escrita, sem que essa exerça
grande influência. Na oralidade secundária a voz existe a partir da escrita e essa exerce grande
influência no oral. E finalmente, onde se encaixa a comunicação à distância, a oralidade
midiatizada. (GOLIN, 2005).
Diferentemente das três primeiras categorias, que fazem comparações com o nível de
importância e atuação da voz e da escrita, a oralidade midiatizada, como o próprio nome da
categoria sugere, é a realidade conhecida pela interferência midiática dos meios de
comunicação eletrônicos. A televisão, o cinema, jornais, rádio, telefone, máquina fotográfica,
48
Cida Golin possui graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1986),
mestrado em Lingüística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1992) e
doutorado em Lingüística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1998)
42
internet ou gravadores. Esses aparatos tecnológicos estão entre emissor e receptor, e mediam
as informações antes de elas chegarem ao receptor.
Até o momento, vimos que a oralidade midiatizada, realizada com o uso das técnicas
vocais efetuadas durante a performance, permitem não só que o ouvinte crie uma imagem do
emissor, mas também possibilite a adição de sentido à mensagem. Entendemos que os
recursos prosódicos aplicados à dinâmica vocal são algumas das técnicas utilizadas pelos
profissionais da voz, especificamente pelos locutores de rádio, para efetivar sua comunicação
e obter a eficiência na obtenção das metas comunicativas. Para compreender melhor o tema,
43
façamos alguns levantamentos sobre comunicação, intenção e adesão, desta vez, com as
contribuições de Mikhail Mikhailovich Bakhtin49:
Bakhtin ainda reforça as teorias já assinaladas nas partes iniciais deste estudo, quando
afirma que é preciso conhecer detalhes do destinatário da mensagem, como suas convicções e
preconceitos, para que se condicione e construa adequadamente os enunciados a ele
destinados, evitando ruídos de interpretação (2000).
Os sentidos criados na fala sinalizam a cada ouvinte como ele deve interpretar
determinada informação contida na locução. Os resultados ou respostas aos estímulos podem
49
Mikhail Mikhailovich Bakhtin foi um filósofo da linguagem e pensador russo, teórico da cultura europeia e as
artes. Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador da linguagem humana, Seus escritos, em uma variedade de
assuntos, inspiraram trabalhos de estudiosos em um número de diferentes tradições (o marxismo, a semiótica,
estruturalismo, a crítica religiosa) e em disciplinas tão diversas como a crítica literária, história, filosofia,
antropologia e psicologia.
44
ser a emissão de novas vozes, as mudanças de atitudes ou mesmo o silêncio em função do que
foi falado (PEDROSO50, 2008, p. 159).
Observamos que os estudos de Bakhtin são por demais úteis para uma sistematização ou
organização de técnicas vocais para os profissionais da voz em rádio. Este autor dá total
prioridade às relações do sujeito com os enunciados e os destinatários. Deste modo, o uso de
técnicas vocais poderia não ser meramente mecânico em seu uso, mas baseado nos
aprendizados durante a construção dos enunciados, e focados na importância dos contextos de
mensagem, e em coerência com o receptor da mensagem. No caso da locução em rádio, o
ouvinte.
Como tratamos anteriormente, a voz pode, além de carregar elementos de sentido nas
técnicas prosódicas, revelar detalhes e características do locutor de rádio. Essas
características, indicadas por Pedroso (1997, p. 9), retratam-se em três dimensões do sujeito: 1
- a biológica, que opera dados físicos relacionados ao sexo, idade e saúde; 2 - a psicológica,
que mostra detalhes da personalidade e do estado emocional; 3 - a sócio-histórica, que
identifica dados sobre grupos sociais e profissionais os quais o sujeito emissor pertence. No
entanto é valioso citar o que pensa Behlau (1997), pois para a pesquisadora, a voz é tão
flexível, que por meios das técnicas vocais é possível modificar a identidade da voz e permitir
representar índices de características de um outro locutor.
50
Maria Ignez de Lima Pedroso é fonoaudióloga e secretaria municipal da saúde de Votuporanga (SP).
51
Luiz Carlos Cagliari tem larga experiência na área de Lingüística, com especialidade em Fonética e Fonologia.
Suas áreas de atuação no momento são: a alfabetização e o letramento; a ortografia e os sistemas de escrita; a
fonética descritiva e a fonética acústica, com interesse especial nos fenômenos prosódicos.
45
Reiteramos que na seleção de recursos linguísticos feita pelo locutor de rádio, ele
poderá fazer o uso de técnicas vocais como elementos aditivos e complementares dos
enunciados e caracterizar o seu discurso persuasivo. Essas técnicas vocais já expostas
anteriormente são as variações tonais, as mudanças de duração e de intensidade na voz ou na
velocidade da fala. São os aspectos da voz que são usados como recursos ricos para direcionar
a atenção de um determinado ouvinte para um tema e objetivo específico.
46
Com a chegada da televisão na década de 1950, o rádio, que já não atraía muitos
ouvintes como em sua época áurea, precisou adotar estratégias de programação para competir
pela audiência e manter-se concorrente e como forte meio. Algumas das políticas utilizadas
para isso foram a segmentação de público de acordo com os programas, e a especialização de
emissoras em gêneros para públicos específicos.
veiculação de músicas tranquilas e suaves como jazz, soul e MPB, e que tem influência de
emissoras de baladas de rock, de músicas românticas e também de rádios convencionais
(DAROLT ET AL, 2010, p. 3).
As emissoras eleitas foram a rádio Atlântico Sul FM, que opera na freqüência 105,7
megahertz (MHz), a Calypso FM na freqüência 106,7 MHz e a Tempo FM em 103,9 MHz.
52
Em observação informal durante pesquisa exploratória nossa.
53
Fonte: Campeões de audiência. Disponível em
<http://www.zonamix.com.br/campeoesdeaudiencia/2012/07/19/confira-o-ranking-das-radios-mais-ouvidas-de-
fortaleza>
48
jazz, bossa nova, blues e música popular brasileira, apresenta também noticiários e
informativos sobre moda, economia e temas atuais (LIMA ET AL, 2010).
A rádio Atlântico Sul tem como premissa ser dinâmica e voltada para um público seleto
e formador de opinião. O slogan “Atlântico Sul, felicidade é o ponto” reflete os investimentos
em interatividade com o ouvinte e com o sorteio de brindes.
A faixa de horário delimitada para extração dos spots foi de 18 às 19 horas do dia 8 de
outubro de 2013, momento em que as emissoras selecionadas veiculam programas com as
características clássicas da classificação “adulto-contemporânea” (jazz, soul, world music,
49
MPB)54. Além disso, os programas publicados nesse intervalo de tempo têm bastante
semelhança entre as três emissoras, pois os três veicularam somente músicas internacionais; e
o perfil dos programas, com notícias curtas, informações sobre o trânsito e dicas de
manutenção de automóveis, são direcionados para motoristas que trafegam nos percursos dos
seus trabalhos para casa ou faculdade, e passam muito tempo no trajeto devido ao fluxo lento
em função dos engarrafamentos na cidade de Fortaleza.
Na rádio Atlântico Sul FM, o programa veiculado foi o “Hora do Rush”, com
apresentação de Luciano Augusto. “Hora do rush” é uma expressão alusiva ao horário de pico
do volume de automóveis no trânsito. A programação musical é acompanhada de curtos e
esporádicos boletins de notícias.
Trânsito Livre foi outro programa com foco nos ouvintes que enfrentam o atribulado
trânsito de Fortaleza no horário de 18 às 19h. O “Trânsito Livre” da Calypso FM insere em
sua programação informações de trânsito, como rotas com fluxo reduzido de automóveis, e
dicas de manutenção de veículos. O programa é apresentado por Marcos Venício.
As peças publicitárias, que ocupam quinze por cento do tempo de programa, somam 22
spots, 7 assinaturas de patrocínio, 8 jingles e vinhetas institucionais (ANEXO B).
Um fato intrigante é que o programa começa com a execução de uma música erudita de
cunho religioso não identificada, assim como o programa “Hora do rush” na Atlântico Sul
FM, apesar de ambas as rádios não pertencerem a um mesmo conglomerado de comunicação.
54
Em nossas gravações, verificamos que todas as músicas executadas nos três programas foram de origem
estrangeira. Embora não houvesse nenhuma menção quanto ao tipo de música a serem executadas na grade de
programação presente nos sites oficiais das emissoras ou mesmo durante as locuções gravadas.
50
O programa “Tempo Light”, produzido e veiculado pela Tempo FM não traz no título
alguma alusão ao trânsito ou automóveis, contudo apresenta em sua programação um boletim
de informações sobre notícias do mundo automobilístico. É apresentado por Alice Maia e pela
verificação em sua grade, é um programa também com bastantes inserções publicitárias. 30
por cento do tempo de programa.
Fizemos questão de escolher os programas acima porque eram as produções que mais se
aproximavam do conceito “adulto contemporâneo” classificado das emissoras de rádio. E
selecionamos exatamente esse programas e essa faixa de horário porque, como afirmam
Darolt Et Al, apesar de temáticas atreladas ao seu perfil de rádio, as emissoras não ficam
presas aos tipos de programas direcionados a esse público específico, engessando a
programação somente para estes públicos. Em outros horários, houve veiculação de
programas não relacionados ao ouvinte “adulto contemporâneo’ durante toda a programação
do dia (2010). A composição musical das rádios escolhidas em Fortaleza, por exemplo,
contempla desde flashbacks a músicas recentes da MPB e também de canções internacionais.
E dentre a gama de programas variados encontrada em cada emissora, os programas foram
escolhidos por maior aproximação do conceito selecionado para a pesquisa.
Notamos também que a utilização de músicas de fundo para ambientação, tão indicadas
por Albano Silva (1999), foram usadas em diversos spots. Nos spots selecionados para a
análise final, os fundos musicais foram utilizados para a função expressiva. Notação de
Balsebre e explicada por Albano Silva para elementos sonoros que contribuem para o clima
emocional e para estruturar, complementar ou intensificar a caracterização de personagens nas
performances de locutores no rádio.
O critério principal para a seleção dos spots para o corpo desta pesquisa foi a presença
de assinatura com slogan na peça em áudio. Tendo em vista que alguns spots faziam
assinatura sonora apenas com a locução da marca da empresa anunciante e o telefone ou site
para contato, a escolha tornou-se mais restrita. Ao final, levando em conta que pretendíamos
obter um spot de cada uma das três emissoras selecionadas, buscamos compor uma seleção
que contemplasse distintos segmentos de negócios e anunciantes dentre todos os registros de
som gravados, no horário de 18:00 às 19:00h.
Roteiro da peça
Cliente: Naturágua
Produto anunciado: água mineral
Duração: 29 segundos
Emissora de veiculação: Atlântico Sul FM
Roteiro da peça
Vozes Música e efeitos sonoros
Loc masculino: Antigamente todo carro era preto, toda -instrumental em violão caipira
geladeira era branca e todo garrafão de água era azul. (não identificado).
Naturágua, colorindo a sua vida. A Naturágua inovou -som de arranhão de LP
mais uma vez e acaba de lançar os novos garrafões -música pop animada (não
coloridos. Agora, além do tradicional garrafão azul, identificada).
você também pode escolher entre as cores rosa, lilás ou
verde. Adicione um pouco mais de cor em sua vida.
Beba uma água mineral leve e dê um toque especial na
sua cozinha. Naturágua, mais vida, mais amor.
Fonte: Elaborada pelo autor.
53
O spot Naturágua conta apenas com uma voz masculina fazendo a locução inteiramente
argumentativa. Na primeira parte, o locutor expõe dados a respeito de tradições culturais em
cores de objetos, e em seguida questiona a autenticidade dessas tradições. A ideia principal do
spot gira em torno do contraste entre o tempo antigo e o moderno, e utiliza os recursos
sonoros para intensificar essa relação. Tais como o uso da música caipira de fundo para
remeter à antiguidade sugerida pelo locutor quando ele fala sobre cores padrão de objetos e o
arranhão de disco de vinil, que é outro recurso indicador que a primeira parte do spot é de
elementos antigos, assim como o próprio disco de vinil.
Os gráficos obtidos com o software praat exibem quatro faixas relacionadas à assinatura
selecionada. A primeira faixa é o espectograma da onda sonora; a segunda faixa é a curva de
pitch; a terceira faixa exibe a transcrição escrita da locução e a quarta faixa é a curva de
intensidade sonora.
54
A assinatura da Naturágua (faixa 4 no CD) tem duração de 2,25 segundos e é feita pela
mesma voz que fez a locução em off do spot. É uma voz de locutor jovem, com qualidade
vocal característica de apresentadores de programas de rádio para a faixa etária jovem. Sua
velocidade de locução é média (4,4 sílabas por segundo) e obedece a um ritmo semelhante ao
proposto pela trilha de fundo.
também pelas inflexões ascendentes de pitch, como constam no gráfico de freqüência (curva
verde-escuro da Figura 01).
A curva de freqüência da assinatura é bastante divergente entre seus níveis mais altos e
mais baixos de frequência, com valor mínimo de 99,9 Hertz e máximo de 288,8 Hz,
mostrando que a entonação tem curva melódica bastante elevada com algumas ascendências,
agregando sentido de energia, vitalidade e descontração à peça.
Roteiro da peça
Cliente: Make B Boticário
Produto anunciado: Maquiagem
Duração: 29 segundos
Emissora de veiculação: Calypso FM
Vozes Música e efeitos sonoros
Loc Entrevistadora: O Rio pra você é uma cidade...
Loc feminina 1: maravilhosa -som ambiente de rua (vento no
Loc feminina 2: quente microfone)
Loc feminina 3: Ai,inspiradora -som ambiente de escritório (toque
Loc feminina 4: charmosa de telefone)
Loc Entrevistadora: A beleza do Rio sempre encantou o -som ambiente de salão de beleza
mundo. Agora é a sua vez. Chegou a coleção (secador de cabelo)
primavera-verão de maquiagem Make B Rio Sixties de -som ambiente de pátio de escola
O Boticário. E mais, na compra da fragrância da (gritos de crianças)
coleção, você aproveita os outros itens Rio Sixties com -música instrumental (bossa nova
vinte por cento de desconto. Promoção válida de dois de não identificada)
setembro a 13 de outubro ou enquanto durarem os
estoques. Make B, você linda e na moda.
Fonte: Elaborada pelo autor.
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O spot utiliza uma representação de uma entrevista que ocorre em ambientes diferentes.
As paisagens sonoras são sugeridas pelos efeitos sonoros de ambiente de acordo com cada
uma das várias vozes femininas que respondem à pergunta da entrevistadora sobre a opinião
delas sobre a cidade do Rio de Janeiro. A entrevista serve como contexto e justificativa para
as afirmações da locutora-entrevistadora sobre a relação da beleza da cidade e a beleza
proporcionada pelo uso dos produtos cosméticos anunciados pelo fabricante Make B.
Com uma voz quase sussurrando, em harmonia com a trilha musical em bossa nova, a
locutora fala de modo pontual e compassado. Ou seja, projeta as frases uma a uma sem a
preocupação em manter a locução incessante de voz. Suspeitamos que isto seja influência do
ritmo da música que a acompanha.
A voz feminina tem velocidade levemente elevada (5,4 sílabas por segundo) e aparenta
ser de uma mulher em torno de 30 anos de idade, que por ser um pouco sussurrada,
naturalmente apresenta intensidade moderada, apesar da presença da variação padrão da
língua portuguesa, como observado no gráfico verde-claro da Figura 03. Apenas no final da
locução há uma queda brusca de intensidade quando no momento de pronuncia da sílaba “da”
de moda, causando o “apagamento” do trecho. Acreditamos que tenha ocorrido a queda de
intensidade no enunciado por problema de suprimento de ar nos pulmões no momento final da
locução, interferindo na sua fluência.
A frequência do trecho sonoro varia de 104,5 a 229,6 Hertz em picos e vales discretos.
A melodia da voz na assinatura é contida em termos de gama de tons devido à temática do
spot e aos recursos usados para ambientação. A trilha em bossa nova sugere e incita a
serenidade legitimada pelo quase sussurrar já justificado e pelo tom mais baixo de voz da
locutora, comprovado pelo gráfico na Figura 03.
Roteiro da peça
Cliente: MC Motel
Produto anunciado: Serviço de motel
Duração: 29 segundos
Emissora de veiculação: Tempo FM
Vozes Música e efeitos sonoros
Loc masculina: Que tipo de pedra preciosa você daria para o -musica lenta instrumental
seu amor? Jade? Safira? Rubi? Esmeralda ou diamante? em violão (não identificada).
Escolha uma dessas pedras preciosas, que são as nossas suítes
e presenteie o seu amor com momentos inesquecíveis no MC
Motel. MC Motel, o seu amor merece uma pedra rara.
Loc feminina: MC Motel, a arte do amor. 3257 8877.
Fonte: Elaborada pelo autor.
A canção lenta de fundo sugere o ambiente das suítes para estimular ao ouvinte a
satisfação de uma estadia no MC Motel. Ainda mais com a exaltação do momento de fruição
das suítes, comparando-os com pedras preciosas presenteadas ao(a) parceiro(a).
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Podemos notar que o sentido figurativo de classificar o amor ou sexo como um tipo de
arte, pode ser uma tentativa de ganhar a simpatia do público-alvo pela marca MC Motel, ao
tratar atividades humanas como se fossem elaborações de peças de arte.
também relação com a seriedade que o assunto tratado “motéis” tem, por ser um tema adulto
[no Brasil, é proibida a entrada de menores de 18 em motéis].
Vimos que os slogans pesquisados têm carga de sentido gerada por construção de rede
semântica, sempre próxima do ramo de atuação dos anunciantes. E o modo que as
informações complementares são apresentadas depende do ramo de atuação do anunciante,
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Percebemos também, que as escolhas tonais tiveram relação direta com o conteúdo
temático dos três spots estudados. As alturas de locução, intensidades e velocidades
empreendidas pelos profissionais da publicidade em rádio tiveram a finalidade de promover o
efetivo entendimento da mensagem publicitária entre o anunciante e o ouvinte de rádio. As
pistas prosódicas orientaram a apreensão dos significados, ao amplificar, reduzir ou modificar
sentidos das palavras pronunciadas, ou associar a outros sentidos. Tudo direcionado pelos
recursos de criação de imagens sonoras. Suspeitamos que, antes de iniciar uma unidade tonal,
o locutor de rádio já saiba como deveria proceder em sua fala, selecionando as proeminências
e acentos melódicos de acordo com as informações contextuais.
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CONCLUSÃO
Mais que as recorrências, percebemos também que nas etapas finais da pesquisa
defrontamos com um fator até o momento não relatado: a intencionalidade. Sendo assim,
entendemos que o mais importante na criação de peças publicitárias para o rádio não é
somente caracterizar a curva de entonação com as ênfases e acentos recomendados ou com a
formatação apropriada de características como intensidade, ressonância, velocidade e ritmo.
Mas sim, compor a cada locução, buscando encontrar a composição entre os recursos
prosódicos utilizados e a intenção requerida pela peça publicitária.
Esperamos que mais relações entre intencionalidade do discurso articulado aos estudos
de aspectos prosódicos da fala possam, em um próximo estudo, ser acrescentadas aos aspectos
de produção vocal abordados e analisados. Deste modo, a pesquisa encontraria outras
análises, e por conseqüência outras respostas, para acrescentar mais recursos teóricos à
bibliografia do tema. Deste modo, ampliaríamos a compreensão da área de estudo e
poderíamos buscar descobrir não só “o que” e “como” é falado, mas o “porquê” ao produzir
para o meio rádio e quais os objetivos declarados ao compor a mensagem.
Esperamos também que os aspectos que abordamos gerem mais estudos de análise de
voz, não só em spots, mas também em jingles e outros gêneros publicitários do rádio. E que as
discussões levantadas possam chegar a gerar mais reflexões a respeito de nossas práticas de
publicidade em rádio, para que compreendamos o funcionamento dos recursos de voz, efeitos
e trilhas musicais que utilizamos e possamos produzir material sonoro de qualidade, e que seja
compatível com a linguagem singular do meio rádio.
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REFERÊNCIAS
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de Wolfgang Iser. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.
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Comunicação. Campo Grande, 2011.
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Arte da Escuta. 1997. Disponível em: < http://www.radioeducativo.org.br/artigos/norval.pdf
>. Acesso em: 6 jul. 2013.
LIMA, Nonato; MARQUES, Paula e PINHEIRO, Andréa. Panorama do Rádio em
Fortaleza. Intercom. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Caxias do
Sul, 2010.
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LOURENÇO, Luiz Cláudio. Jingles Políticos: estratégia, cultura e memória nas eleições
brasileiras. Revista Aurora n.4: 2009. Disponível em: < www.pucsp.br/revistaaurora>.
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Carvalho. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003a.
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Comunicação. Universidade Metodista de São Paulo, São Paulo, 2003b.
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MONTAGU, Ashley. Tocar. O significado humano da pele. São Paulo: Summus, 1988
NICOLA, José de; TERRA, Ernani. Gramática e Literatura para 2º Grau. São Paulo:
Scipione 1993.