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MANAUS
2020
EDUARDO WANDERLEY BRASIL
MANAUS
2020
FACULDADE MARTHA FALCÃO | WYDEN
Rua Natal,300 – Adrianópolis
Manaus | Amazonas
CEP: 69.057-090 | Telefone: (92) 2121.0949 / 2121.0999
CNPJ: 02.153.389/0001-30
wyden.com.br/fmf
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
5 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................. 47
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 49
ANEXOS ....................................................................................................................... 51
9
1 INTRODUÇÃO
Os jingles são peças publicitárias cotidianas às pessoas. Todos os dias podem ser
escutados nos diversos veículos de comunicação dos diferentes ramos de produtos,
empresas e serviços. Entretanto, poucos são os que se consagram e fixam, deixando
rastros nas gerações e em suas épocas. Sendo assim, justificamos essa pesquisa por lançar
um olhar para essa produção publicitária tão popular em seu uso e eficácia, visto que, em
meio acadêmico, há uma pequena manifestação de obras voltadas a esse assunto.
Este trabalho apresenta contribuições teóricas que podem auxiliar na criação dos
jingles, exibindo aspectos musicais (ritmo, harmonia e melodia) que podem contribuir na
fixação dessas peças. Alguns pesquisadores musicais, que no decorrer do trabalho serão
abordados, contribuíram com suas teorias a respeito das emoções, explorando o poder da
música de influenciar a vida das pessoas.
Um fato curioso que podemos observar a partir deste trabalho é a forte ligação dos
artistas com os publicitários. Desde os primórdios da publicidade, observa-se a presença
de músicos, poetas, escritores e pintores neste ramo. De todas as artes, a música é uma
das poucas que comunica com alto valor sensitivo, deixando rastros no ouvinte. Isso é
totalmente usual à publicidade, pois, parafraseando Washington Olivetto (2017): O
fundamental na indústria da propaganda é a fabricação de chicletes de ouvido.
11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Fetichismo: Admiração mórbida; veneração, feiticismo (DICIO, 2017).
12
da Roma antiga com os anúncios de TV nos horários de maior audiência nos dias de hoje,
ou quem sabe nas páginas das redes sociais mais visualizadas da internet.
Os jingles são peças publicitárias cantadas que tem como intuito promover uma
marca, produto ou serviço . Tem como característica serem músicas curtas e objetivas,
buscando “eternizar” o nome de uma marca. É possível uma empresa sair do mercado e,
anos depois, as pessoas se lembrarem dela através dos jingles. Para Marcondes (2002,
p.74), “Jingle é uma peça fonográfica criada por profissionais do meio publicitário para
vender produtos. É um recurso da propaganda para convencer o consumidor, cantando no
seu ouvido”. Uma das características dessas peças é apresentar uma linguagem simples,
direta e de fácil compreensão para todos.
isso, como forma de persuasão e buscando ênfase no discurso, eles "cantavam" as notícias
com base na afinação das trombetas, uma forma parecida com o cantochão2.
2
Cantochão: Canto tradicional da liturgia católica, também chamado canto gregoriano, que se pauta em
textos litúrgicos latinos; canto plano (DICIO, 2019).
3
Paródia: Imitação irônica, jocosa; obra que imita outra, com o propósito de satirizar ou ridicularizar seu
conteúdo: seu filme será uma paródia da vida americana (DICIO, 2013).
14
preferidos eram as partituras musicais que, futuramente, foram ganhando letras que
vangloriavam seus estabelecimentos.
Sobre as preferências dos clientes por “partituras-réclame”, vale frisar que, até
início do século XX, era comum às pessoas não profissionais em música terem acesso a
leitura de partituras. Diversas “moças de família” tinham o hábito de tocar piano em
saraus nas residências, assim como boa parte dos homens tocavam violinos, violoncelos,
violas e demais instrumentos.
Uma das características que serviu de modelo para as outras emissoras (e que
perdura até hoje) foi a comercialização de espaços publicitários para anunciantes.
Contudo, amiúde Casé tinha que ir em busca de alguns estabelecimentos tentando
convencê-los com as vantagens de patrocinar o programa.
Em uma dessas buscas, Casé se deparou com a Padaria Bragança. Tentou então
conversar com o dono do estabelecimento. O radialista dissertou como funcionava os
anúncios no rádio, o elevado índice de audiência do seu programa, as vantagens em
anunciar, porém nada adiantou. O proprietário se negava a patrociná-lo. Depois que todos
os argumentos se escassearam, o proprietário resolveu ceder com a condição de fazer
apenas uma experiência. Como se pretendia agradar ao máximo o cliente, a dificuldade
de conseguir um patrocínio foi árdua e o dono da padaria era português, sugeriu-se que
4
Esquetes: peça de curta duração, geralmente de caráter cômico, produzida para teatro, cinema, rádio ou
televisão (SIGNIFICADOS, 2013).
15
não fosse criado um esquete, sim um fado. Para Dias (2017, p. 26) “Nascia assim o
primeiro jingle do rádio brasileiro”:
5
(DIAS, 2017)
6
Top of Mind: “Topo da mente”. Expressão utilizada para quando determinada marca ganha destaque na
cabeça dos consumidores.
16
A sinestesia7 é um dos fatores que fazem com o que o ouvinte tenha essa
experiência agradável com a música. Com essa ciência é possível escutarmos um fado,
por exemplo, e nos deslocarmos a Portugal, sentindo o cheiro da gastronomia que envolve
o país, e os demais signos que estão em torno deste ambiente.
Para entendermos melhor o que se constitui essa arte, refletimos sobre os três
elementos em que ela se organiza: ritmo, melodia e harmonia. Esses se apresentam de
forma sistemática e, ao mesmo tempo, interligados. A melodia necessita do ritmo para
7
Sinestesia: Cruzamento de sensações. É a capacidade que um sentido tem de estimular o outro.
8
Alguns indivíduos carregam consigo um preconceito à música de outras culturas, afirmando que qualquer
forma de expressão sonora que não seja ligada a sua linhagem não é considerado “arte dos sons”.
17
obter um espaço no tempo, uma duração dos sons. Já a harmonia é a combinação dos sons
sendo tocados ao mesmo tempo.
Como o próprio Mattheson (1739) afirma, os afetos não são um grupo de sentidos
fechados. É possível dar margem a interpretações, ou seja, algo triste a uma pessoa, pode
soar alegre a outra. Contudo, essa teoria pode se enquadrar no senso comum, pois no
decorrer da história, os ouvintes adequaram seus ouvidos para esses sentimentos.
Exemplo disso são tonalidades maiores causando alegria e tonalidades menores causando
9
Tonalidade: Sistema específico de sons (escalas). São escalas associadas a campos harmônicos.
(DESCOMPLICANDO A MÚSICA, 2020).
18
Aspectos socioculturais devem ser considerados nos estudos da música, pois essa
manifestação artística trabalha com signos representantes de uma sociedade,
determinando assim os hábitos, costumes e aspectos folclóricos de um povo. Durante toda
história da música, os compositores compuseram suas obras baseando-se na cultura de
seus respectivos países, representando seus povos e hábitos comportamentais. Isso, de
certa forma, reflete na sinestesia da música, fazendo com que o ouvinte, ao escutá-la, faça
alusões com aquilo que já conhece, seja pela exibição de imagens, pelo olfato, pelo tato,
dentre outros sentidos, ou seja, acontece um evento sinestésico.
Para Plaza (2003, p.46), “muito mais do que real, o que os nossos sentidos captam
é o choque das forças físicas com os receptores sensoriais”. Deduzimos com isso de que
vai muito além de escutar, tocar ou olhar. Está na junção desses sentidos e na relação com
o histórico de subjetividade 10. Observa-se claramente a sinestesia nos audiovisuais,
envolvendo o som, a visão e os diversos sentidos:
10
Histórico de subjetividade: histórico em que um indivíduo carrega consigo, relacionado aos seus gostos,
cultura e experiências.
19
Sabe-se que não há uma fórmula de um jingle fixar na cabeça dos consumidores,
muito menos do mesmo se tornar sucesso. Entretanto, há mecanismos que podem auxiliar
na fixação. A melhor forma de fixar uma ideia é através da relação e da identificação com
algo ou experiência que o indivíduo tenha vivido em sua trajetória – Histórico de
subjetividade. Quando há o cruzamento da razão com a emoção, chamamos de emoção
estética.
Essas variáveis devem ser levadas em conta não somente na conjuntura dos
jingles, mas nas peças publicitárias como um todo. Sampaio (2013, p. 132) diz que
“quanto maior o risco, mais chances de se ter sucesso nas mãos. Pois a propaganda mais
original será a mais notada”. Partindo do princípio de que não há receita infalível para um
jingle ter sucesso e de que cada caso funciona de forma subjetiva, não há como garantir
que uma peça alcançará o top of mind de um produto/marca. Para tanto, a música auxilia
na fixação da mensagem, transmitindo a emoção necessária para a atração do ouvinte.
O ritmo, com efeito, nos atinge não só o corpo ... e as emoções, mas até o
subconsciente. Quem já não terá percebido de repente que sua perna se move
ao compasso de alguma música de fundo enquanto a mente conscientemente
se acha inteiramente dirigida para outro lugar? (TAME, 1984, p.131).
11
Andamento: “Movimento rápido ou lento dos sons, guardando sempre a precisão dos tempos do
compasso” (PRIOLLI, 2006, p.109).
21
Um exemplo de jingle que utilizou desses recursos em sua criação foi o “No
silêncio de um Chevrolet. Zé Rodrix escreveu o arranjo dessa peça em 72 BPM (batidas
por minuto), a média de uma velocidade de pulsação cardíaca normal. Lima (2004) diz
que esse recurso provoca no ouvinte memórias inconscientes do ritmo cardíaco materno.
Rodrix (apud LIMA, 2004, p.14) conta como criou o jingle: “Para criá-lo, pensei num
coração batendo forte... Relacionei estar dentro de um carro a estar no ventre materno,
aquele silêncio, só a batida do coração da mãe”. Um exemplo de como a música afeta os
seres humanos.
12
Recall: recordação, em inglês. Informação/percepção pertencente ao público-alvo após ter
visto/ouvido/lido alguma peça ou campanha publicitária.
22
Muitas vezes a música pouco nos agrada, não é atraente e nem apresenta um
conteúdo relevante às pessoas, porém consegue “penetrar” nos ouvidos e não desgrudar,
disparando como se fosse uma convulsão. Esses “disparos” acontecem de maneira
involuntária e, mesmo que quiséssemos olvidar, vem à tona novamente.
Essa repetição interminável e o fato de que a música em questão pode ser banal
ou sem graça, não nos agradar ou até mesmo ser abominável, indica um
processo coercivo: a música entrou e subverteu uma parte do cérebro,
forçando-o a disparar de maneira repetitiva e autônoma (como pode ocorrer
com um tique ou uma convulsão). Um jingle publicitário ou a música-tema de
um filme ou programa de televisão podem desencadear esse processo para
muitas pessoas. Isso não é coincidência, pois a indústria da música cria
justamente para "fisgar" os ouvintes, para "pegar" e "não sair da cabeça"
(SACKS, 2007, p. 51).
13
Briefing: Documento contendo a descrição da situação da marca ou empresa, seus problemas,
oportunidades, objetivos e recursos para atingi-los. Base do processo de planejamento (SAMPAIO, 2013).
23
A criação de uma identidade deve ser a “força motriz” de uma campanha. Criar
uma música autêntica é mais proveitoso para a marca do que utilizar uma já conhecida
pelo grande público, pois sempre que a melodia vir à cabeça, a identificação se dará com
a marca em si, não com o artista e sua respectiva carreira.
14
Tarantela: Estilo musical pertencente ao folclore italiano.
15
Modulação: fuga do centro tonal para evitar a monotonia, ou seja, é quando não permanece em uma só
tonalidade. Há uma mudança para outras tonalidades com o objetivo de causar outras sensações
(RAMEAU, 1722).
24
O uso do coral infantil se torna um elo com a marca, visto que o público-alvo (as
crianças) se identifica com os produtos que a Brinquedo Estrela os oferece, amplificando
a mensagem. Vale ressaltar que, nesse jingle, Orquestra (1987) conseguiu incluir na letra
todos os brinquedos que a empresa fabricava, se preocupando com as rimas e com a
métrica musical.
16
Groove: Termo da língua inglesa que, para a música, tem o significado de “sentir”, ouvir sons que
combinam e são satisfatórios ao ouvinte.
25
despercebidas, mas em uma audição mais atenta demonstram que esses jingles
são excelentes exemplos do quanto a música para a publicidade torna-se arte e
se insere como elemento de cultura popular quando é bem-feita (DIAS, 2017,
p.329).
Há peças que são criadas para campanhas sazonais. Um caso que podemos apontar
é o “Riachuelo – Baratotal”. Para essa obra, Edgard Gianullo buscou referências de
quartetos vocais da década de 1950. Inicialmente era uma campanha de promoção que a
rede de lojas estava promovendo. Contudo, obteve tanta repercussão que, ao chegar o
Natal e posteriormente o Carnaval, fizeram uma releitura da peça adequando às
características dos respectivos períodos do ano.
O sucesso do “Baratotal” foi tão grande que para a campanha de fim de ano a
agência encomendou a Edgard um novo jingle com o mesmo estilo, mas com
o tema Natal. Utilizando sacadas geniais como transformar “Baratotal” em
“Nataltotal” [...]. Com a chegada do Carnaval [...] Edgard conseguiu mais uma
vez se superar, utilizando a mesma fórmula do primeiro jingle da campanha –
mas dessa vez com uma melodia típica das músicas que animam os bailes
carnavalescos e uma letra mais livre em relação aos policies do briefing (DIAS,
2017, p. 291 e 292).
olhar amplo para os acontecimentos que estão em torno, pois as tendências musicais são
fatores importantes na criação e aceitação dos jingles.
Dessa maneira, não existe o “olho ingênuo”, assim como não existe o “ouvido
ingênuo” ou, ainda, aquele proposto mecanismo de percepção virgem de
informações dirigidas, livre da influência de repertório cultural, capaz de
apreender a realidade em sua essência. Mas é possível entender os esquemas
mentais de cada época e os padrões que sustentam suas múltiplas práticas
artísticas, sendo essa uma função da aprendizagem que alimenta a emoção
estética (SEKEFF, 2002, p. 59).
Observa-se que a peça em questão apresenta uma linguagem não apropriada aos
dias atuais. A cultura popular é dominante das linguagens e modos de comunicação. Se
uma mensagem é propagada de maneira alheia à cultura popular, esta dificilmente terá
maior aceitabilidade. Todavia, quando aplicada de maneira consonante, é corroborado
por essa cultura.
Como visto anteriormente, um jingle pode se tornar parte de uma cultura popular.
Isso acontece devido ser uma linguagem que se comunica de forma clara e direta. Embora
possa fixar na cabeça de forma despercebida, é uma comunicação culturalmente
participante e, ao mesmo tempo, intrínseca. Toda e qualquer linguagem, quando
comunicada, é geradora de sentidos. As peças publicitárias, de modo geral, são linguagens
dependentes de símbolos, de representatividades.
17
Conar – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária.
18
(DIAS, 2017)
28
A decisão de compra é algo mais complexo, que envolve fatores muitas das
vezes não controláveis pela propaganda, tais como preço, prazo de pagamento,
distribuição e mesmo características do próprio produto. É ingênuo achar que
a propaganda, com música ou sem ela, é fator determinante na decisão de
compra. Eu posso ver um belíssimo filme publicitário, com belas imagens e
uma música maravilhosa anunciando roupas. Posso fixar a marca, ter desejo
de compra, ir até o ponto de venda e descobrir que não fazem roupas do meu
tamanho (o que já me aconteceu várias vezes). Ou chegar lá e perceber que não
posso pagar pelos produtos. Ou ainda, procurar a loja, descobrir que fica muito
longe de onde moro ou trabalho e acabar comprando algo parecido, em um
lugar mais próximo. Nos dois casos, a peça publicitária cumpriu seu papel de
chamar minha atenção, despertar meu interesse e até provocar meu desejo de
compra, mas, definitivamente, a decisão não para aí (MARQUES, 2004, apud
MÜLLER E JABBER, 2004, p. 108).
Essa música, de importância considerável para aquele grupo indígena, faz parte
de suas vidas, garante continuidade social e cosmológica, mas para nós ela soa
estranha, diferente, e não conseguimos vivenciar espontaneamente o sentido
(ritualístico) que seus movimentos sonoros pretendem transmitir. Ou seja, os
29
Sabendo disso, a emoção estética se torna falível, pois não há conexão entre a
razão e a emoção. Na publicidade, esses exemplos são relevantes, pois seria
incompreensível, por parte de uma determinada sociedade, veicular mensagens alheias
àquela cultura. É como posicionar um outdoor19 em uma das ruas mais movimentadas do
Brasil, porém com letras garrafais na língua alemã. A mensagem verbal só seria
compreendida por quem conhecesse a língua.
Em 1970, o pensamento hippie20 era uma tendência de vida adotada pelos jovens,
buscando liberdade de expressão e de pensamentos. A partir do jingle “Só tem amor quem
tem amor pra dar” propagado pela “Pepsi”, o movimento hippie assumiu a ideologia da
peça ao seu estilo de vida, tornando-a um elemento da cultura popular. A composição do
jingle fugia dos moldes tradicionais de criação. Era voltado a um estilo rock rural, um
country utilizando banjos e violões com características dessa linguagem. Contudo, para a
época, gerou discussões por parte do governo militar. Em tempos de ditadura, a repressão
era intensa sobre qualquer movimento que empunhasse a bandeira de liberdade.
A partir dos temas da campanha “Só tem amor quem tem amor pra dar”,
criados em 1972 para a Pepsi por Guttemberg Guarabyra e Luiz Carlos de Sá,
o jingle avançou a uma nova categoria, passando definitivamente a fazer parte
da cultura popular. [...] Sua letra propagava sobretudo o pensamento hippie,
traduzido a partir do lema paz e amor, e de certa maneira pegava carona nos
duros tempos de ditadura – quando qualquer tipo de manifestação que fugisse
dos parâmetros tradicionais de moda e comportamento era reprimido -, dando
voz aos jovens que queriam se manifestar com liberdade. No comercial para
19
Outdoor: painel de divulgação publicitária em grande dimensão, geralmente exposto em locais de grande
visibilidade, como ruas, edifícios da cidade, entre outros.
20
Hippie: derivada do adjetivo hip. Indica algo que é bem informado ou sofisticado. As pessoas que adotam
esse pensamento têm por característica serem liberais.
30
TV isso era evidenciado logo no início, quando um rapaz salta uma grade em
um show (DIAS, 2017, p. 240 e 241).
Este é mais um exemplo de como um jingle pode ser adaptado a cultura popular,
sendo “tomado pra si” por determinados grupos sociais e, por consequência, tornar-se
“porta-voz” de uma ideologia. Este é um dos diversos casos que ocorreram na história da
publicidade. O mais recente que podemos mencionar é a peça “Mostra tua força, Brasil”,
do Banco Itaú. Era para ser apenas um jingle para a campanha do banco, contudo se
apropriou à imagem da Copa do Mundo de 2014.
3 PROCEDIMETOS METODOLÓGICOS
Segundo Freitas e Prodanov (2013, p. 51), este projeto se adequa a uma pesquisa
de carácter básico, pois “objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da
ciência sem aplicação prática prevista”. Ao falarmos da análise de dados do trabalho,
podemos dizer que propõem uma abordagem qualitativa, visto que não se baseia em
33
métodos estatísticos. O método qualitativo, segundo Fachin, "é caracterizada pelos seus
atributos e relaciona aspectos não somente mensuráveis, mas também definidos
descritivamente" (FACHIN, 2006, p.81). A análise de dados qualitativa é relativamente
mais simples que a quantitativa, pois não requer uma extensa coleta de dados, com
gráficos, questionários, tabelas, etc.
Além de uma análise qualitativa, propõe método dedutivo: parte de uma visão
geral para o particular. O geral seria a temática dos jingles como peça importante na
publicidade. O particular se baseia no olhar lançado às peças escolhidas para esse estudo.
O método dedutivo parte da premissa de construção lógica criada por filósofos
racionalistas.
Vários são os tipos de amostragem que Gil (2002) apresenta. No caso desde
estudo, classifica-se como amostragem estratificada proporcional, selecionando uma
amostra que seja proporcional à extensão do grupo escolhido. Dessa forma, se mantém a
representatividade adotada no critério de estratificação.
34
[...] seleciona-se de cada grupo uma amostra aleatória que seja proporcional à
extensão de cada subgrupo determinado por alguma propriedade tida como
relevante. Por exemplo, se uma população é formada por 70% de homens e
30% de mulheres, então a amostra deverá obedecer às mesmas proporções no
que se refere ao sexo. Esse tipo de amostragem tem como principal vantagem
o fato de assegurar representatividade em relação às propriedades adotadas
como critério para estratificação (GIL, 2002, p. 123).
A primeira fonte de pesquisa foi o próprio Meio & Mensagem, com a apuração de
Dias. A segunda fonte foi o site da revista Exame, na qual realizou uma matéria
apresentando os “8 jingles inesquecíveis da propaganda brasileira”. A terceira lista foi
coletada no site Consumidor Moderno, listando “Os 20 jingles mais memoráveis da
propagada brasileira. A quarta se retirou do site G1, na qual realizou uma matéria com
treze peças publicitárias intitulada “Como nasce um jingle de sucesso? Compositores e
cantores explicam hits que ‘pipocam’ no cérebro”. A quinta e última fonte foi do site
Plugcitários, exibindo “10 jingles que você, provavelmente, sabe cantar do início ao fim”.
A seguir apresentaremos a tabela de cruzamento entre as listas e, abaixo dela, a triagem
final das dez peças.
35
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Nesse capítulo, iremos observar com mais detalhes os aspectos musicais, como
ritmo, melodia/harmonia presentes nos jingles a serem selecionados. Sabendo que a
música é um elemento participante da cultura popular, os aspectos sociais também serão
observados, buscando compreender o comportamento das pessoas nas diferentes épocas.
Como dito anteriormente, o critério de escolha dos ritmos a serem utilizados são
diversos. Pode ser levado em consideração um ritmo frequente àquela época, ditando às
leis da moda, ou até mesmo utilizar um ritmo que sirva de referência a um produto ou
marca. Abaixo segue a lista com os jingles e seus respetivos ritmos.
Jingles Ritmos
Pipoca com Guaraná (1991) (iê – iê –iê) - rock clássico
Cobertores Parahyba (1950) Canção
Pernambucanas (1962) Samba - Bossa
Café seleto (1970) Canção
Varig (1960) Marcha-rancho
Pizza com Guaraná (1991) Blues (doo-wops)
Parmalat (1996) Rock
Bamerindus (1970) Country
Danoninho (1980) Valsa
Big Mac do McDonald’s (1974) Rock
filmes lançados eram protagonizados por artistas do rock. Teve grande influência mundial
com os “Beatles” e, no Brasil, com a Jovem Guarda.
Outro modo de utilização dos ritmos são a partir da identificação com a marca ou
com a mensagem que ela pretende transmitir. Nas peças Cobertores Parahyba,
Bamerindus, Pizza com Guaraná e Danoninho podemos perceber esses aspectos. Em
Cobertores Parahyba, várias particularidades musicais auxiliam em sua construção. É
21
Sonoplastia: Reconstituição artificial presente em peças de comunicação que contém ruídos
acompanhados pela ação.
38
uma canção em andamento lento, remetendo a uma canção de ninar. Quando exibido na
década de 1950, funcionava como “toque de recolher” às crianças, as levando para
dormir. Para isso, era necessário utilizar um andamento “calmo”.
Na peça “Pizza com Guaraná”, que participa de uma compilação de alimentos que
combinam com Guaraná Antarctica, utiliza-se de um blues com rítmica bastante sedutora.
Segundo Dias (2017), tiveram como referência alguns grupos vocais famosos da década
de 1950, que faziam alguns doo-wops22. O blues, por si só, apresenta uma linguagem
bastante persuasiva, com acentuações que auxiliam no grau de persuasão.
22
Doo-wops: Um estilo que se caracteriza por um backing vocal que imita certos instrumentos musicais,
algumas vezes utilizando onomatopeias.
39
Na peça Pipoca com Guaraná, a tonalidade na qual foi gravada é Fá maior. Na
teoria dos afetos, Rameau (1722) a caracteriza como agitada. Essa descrição parece ser
mui conivente com a peça, nos remetendo a pipoca pulando. Outro aspecto que agrega ao
jingle é a sonoplastia, revelando objetos caindo, como os milhos de pipoca sobre a mesa
ou, da mesma forma, um prato de bateria sendo tocado toda vez que um gelo cai no copo.
Repetições melódicas também são verificadas (anexo 5).
No caso da tonalidade do jingle “Varig Estrela” (mi menor), sobre a teoria dos
afetos, Rameau (1722) a caracteriza como sendo doce e cheia de ternura. Já́ para
Charpentier (1670), soaria como algo amoroso e choroso. Essas características
relacionadas a peça entram de acordo com a mensagem que empresa buscava transmitir.
Há pouca repetição rítmica/melódica nesta peça. Em contraponto a ela, Danoninho
apresenta repetição rítmica constante (observar anexo 8). Sua tonalidade é Sol sustenido
41
maior, exprimindo um afeto divertido, com ternura e heroico. Por ter um público-alvo
infantil, esses afetos vão de acordo com a proposta.
A partir dessa associação com os alimentos, a campanha fez com que a marca se
reposicionasse, agregando assim novos públicos. Na peça Danoninho houve também um
reposicionamento. Na década de 1980, o slogan do produto era “Aquele que vale por um
bifinho”. Contudo, a frase induzia aos pais das crianças uma possível troca de uma
refeição por um pote de Danone. Era preciso que a empresa cambiasse seu slogan e seu
discurso. Para isso, como não podiam falar a palavra “bifinho”, criaram um jingle com
base na mesma música feita para a campanha de creme de leite da Nestlé que, por sua
vez, já estava massificada pelo público.
Para resolver essa adversidade, a TV Tupi criou uma peça em que revelava o
mascote da emissora se recolhendo para a cama ao som de um jingle. O resultado criou
tanta repercussão que, ao invés dos pais pleitearem seus filhos para irem a cama, as
crianças passaram a aguardar a veiculação da peça espontaneamente para irem dormir.
43
Já é hora de dormir
E um alegre despertar23
Assim como há peças que influenciam nos hábitos da sociedade, há aquelas que
são criadas e veiculadas em sazonalidades. Entretanto, criam tanta repercussão que
ultrapassam as barreiras do tempo. Podemos observar este fato no jingle “Quem bate?”,
das Casas Pernambucanas. Nesse caso, a encomenda foi feita devido ao período de
inverno que se aproximava e, antes que ele chegasse, às pessoas reforçassem seus
estoques de flanelas, cobertores e lãs nas Casas Pernambucanas. Inicialmente era
veiculado apenas no rádio. Com a grandiosa retumbância, foi criado um comercial de TV
que ilustrava um boneco de neve tentando adentrar a casas de um cliente da rede
Pernambucanas. O sucesso foi duradouro e, até os anos 2010, ganhou várias releituras.
23
(Dias, 2017).
44
uma empresa estatal, as relações da Varig com o governo sempre foram estreitas. Com o
golpe militar de 64, a empresa se tratou de criar boas relações com os militares. Como
neste período era bem-vinda expressões ufanistas, Zamma (1967), criador do jingle, não
mediu esforços para agregar à peça elementos tipicamente brasileiros, como o ritmo
“marcha-rancho” e até mesmo os versos patriotas: “Estrela brasileira no céu azul”.
Na década de 1970, a Varig se popularizou ainda mais com os jingles criados por
Archimedes Messina, um dos jinglistas mais requisitados do mercado. Observando a
peça “Café Seleto”, verificamos que nela há estruturas similares a dos jingles que a Varig
costumava veicular. Isso acontece porque Manoel da Silva, dono do café Seleto
encomendou de Messina uma peça que fosse nos mesmos moldes da empresa aérea.
Algumas peças artísticas podem servir de referência para uma campanha. Isso
aconteceu em “Mamíferos”, da Parmalat. Nos anos de 1990, Tom Arma, fotógrafo norte-
americano, realizou um livro em que apresentava crianças fantasiadas de animais. Devido
a grande repercussão, a Parmalat resolveu criar uma campanha nos mesmos moldes.
Pediu autorização de Arma e desenvolveu uma peça com crianças fantasiadas de animais
mamíferos. Além do jingle, a campanha ganhou outros desdobramentos como mídia
impressa, comerciais de TV, entre outros. Dez anos depois foi criada uma releitura da
peça, na qual apresentava as mesmas crianças que haviam participado do comercial
original, agora adolescentes.
É a caderneta Bamerindus24
24
(Dias, 2017)
46
O clima otimista ao qual Gracioso se refere seria o ritmo, aquilo que torna a
música atraente. Paralelamente ao ritmo, a repetição melódica e rítmica traz o verdadeiro
sentindo de “tilintar” que a palavra “Jingle” tem por significado. Já teoria dos Afetos
agrega um sentido teórico às sensações que as tonalidades são capazes de transmitir. Por
fim, o contexto social traz a ocasião e a “paisagem” sociocultural em que as peças foram
veiculadas, fazendo a harmonia necessária entre os jingles, a proposta do produto e a
representatividade de todos esses elementos para o público-alvo.
47
5 CONSIDERAÇÕES
Diante dos casos apresentados, podemos afirmar que os jingles são peças úteis e
proveitosas à publicidade. Devido a sua intensidade de persuasão e poder de fixação,
várias marcas que atuam no mercado, e até mesmo as não atuantes, são relembradas pelo
público, muitas vezes sendo top of mind. Os aspectos musicais, sociais e políticos são
modos de fixação dessas peças, pois, ao recordarmos um jingle, somos capazes de nos
deslocarmos a um ambiente, um contexto e/ou uma época distinta àquela que vivemos.
A partir deste trabalho, foi possível conhecermos elementos de fixação que muitas
vezes não estão explícitos. A repetição rítmica é um exemplo, pois a massificação da
mesma muitas vezes não está nítida. A teoria dos afetos, embora seja pertencente a uma
época dissonante a esta, nos trouxe um novo olhar sobre as emoções e sensações que a
música pode causar. Essas sensações, como ferramenta a persuasão, podem ser úteis a
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fixação da música, sendo responsável pela repetição. Para tanto, é preciso reconhecer que
há a presença de outros fatores não só musicais como sociais, psíquicos, de ciência da
informação, entre outros, que auxiliam ainda mais no processo de memorização dos
jingles.
REFERÊNCIAS
DIAS, Fabio Barbosa. Jingle é a Alma do Negócio. São Paulo: Panda Books, 2017
PRIOLLI, Maria Luísa de Mattos. Princípios básicos da música para a juventude: 48.
ed. Rio de Janeiro: Casa Oliveira de Música LTDA, 2006.
SANTAELLA, Lúcia. O que é a Semiótica: 1. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983
SEKEFF, Maria de Lourdes. Dá música, seus usos e recursos. São Paulo: Editora da
Unesp, 2002
WEINBERGER, N.M. Feel the music. Music Research Notes: 3. Ed. California:
University of California, 2001.
ZANDER. Oscar. Regência Coral: 5. ed. Porto Alegre: Editora Movimento, 2003.
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ANEXOS
- - Skol Poupança -
Bamerindus
- - Dolly - -
- - Mappin - -
- - Macarrão - -
Oriental Maggi
- - Parmalat - -
- - Carnetto / Gelato - -
- - Cremucho - -
- - Bamerindus - -
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Anexo 2 – Partitura do jingle Pizza com Guaraná (Obs: as figuras em amarelo são as
mesmas, porém com articulações diferentes por conta das ligaduras).
Anexo 7 – Partitura do jingle Café Seleto (obs. em vermelho há repetições melódicas com
ritmos diferentes)
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