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Conselhos de Segurança.

13 – Manuseamento de Hidrogénio.

1. Introdução normal, produzindo cerca de 845 litros de arde até ser reduzido a água. O hidrogénio
gás de hidrogénio a partir de 1 litro de também pode reagir com outros agentes
Para o manuseamento em segurança do HL2. Imediatamente após a evaporação, o existentes, por exemplo, o cloro ou o óxido
hidrogénio, é importante conhecer as suas hidrogénio gasoso continua muito frio e nitroso. Quando o hidrogénio é combi-
propriedades e as medidas de segurança tem aproximadamente o mesmo peso que nado com um agente oxidante e depois
necessárias. Estes Conselhos de Seguran- o ar. É por isso que se espalha praticamen- deflagrado, o processo de queima pode
ça descrevem as propriedades relevantes te só na horizontal. Contudo, aquece muito ser explosivo. Se este processo ocorrer
para a segurança e dão sugestões práticas rapidamente. A sua densidade é continua- numa sala/zona fechada, pode dar-se um
úteis para trabalhar em segurança com mente reduzida e expande-se para cima. aumento súbito da pressão que pode ser
este gás. Complementam, mas não subs- muito destrutivo devido ao calor gerado.
tituem, quaisquer regulamentos nacionais À temperatura do hidrogénio líquido,
ou internacionais. todos os líquidos e gases, à exceção do Os níveis de concentração aos quais o
hélio, são sólidos. É por este motivo que hidrogénio pode reagir com o ar sob uma
2. Propriedades todas as restantes substâncias têm de ser pressão e uma temperatura normais são,
mantidas afastadas das instalações de HL2. comparativamente a outros gases com-
2.1. Propriedades físicas Uma mistura de ar sólido e de HL2 teria bustíveis, muito díspares (o limite inferior
características explosivas. de explosividade – LEL – é de 4% vol.; o
O hidrogénio (H2) é o mais leve de todos limite superior de explosividade – UEL – é
os gases (densidade 84 g/m3 a uma tem- A baixa temperatura do hidrogénio líquido de 75,6% vol.). As misturas de hidrogé-
peratura de 15°C e 1 bar). É por isso que faz com que o ar atmosférico condense no nio/ar são deflagradas através de fontes
o hidrogénio libertado ascende imediata- exterior dos elementos da instalação que de ignição que contêm muito pouca
mente e acumula-se em tetos ou em áreas não foram isolados. Através da evaporação energia. A quantidade mínima de energia
semelhantes. parcial do azoto, o ar líquido tornar-se-ia necessária para deflagrar o hidrogénio é
rico em oxigénio e, quando entrasse em 0,019 mJ, apenas 1/10 da energia neces-
O hidrogénio é armazenado no estado contacto com substâncias combustíveis, sária para deflagrar o propano. Por exem-
gasoso em garrafas ou tanques à tempe- atuaria como agente incendiário. plo, partículas de ferrugem que tenham
ratura ambiente sob alta pressão (até 300 sido transportadas por um fluxo rápido de
bar) ou é armazenado ou transportado hidrogénio podem provocar uma faísca
praticamente sem pressão na forma de deflagrante através da carga eletrostática
hidrogénio líquido criogénico em recipien- ou através da colisão contra um objeto.
tes isolados. Devido à dificuldade em reconhecer ou
Ao contrário do que acontece com outros provar esta fonte de ignição, tem-se con-
gases, uma libertação da pressão do hidro- siderado injustamente que o hidrogénio
génio a uma temperatura normal resulta tem capacidade para se autodeflagrar.
num ligeiro aumento da temperatura. A
temperatura sobe de 20 para 25°C quando Uma chama de hidrogénio é muito pálida e
a pressão desce de 175 para 1 bar. Este não é possível ser vista sob uma luz solar
aumento de temperatura não é suficiente intensa. Deverão ser utilizadas outras
para provocar a ignição espontânea do indicações como, por exemplo, uma identi-
hidrogénio libertado, já que a temperatura Aviso de substância inflamável ficação na zona suspeita.
de ignição é de cerca de 600°C
Obviamente, o hidrogénio líquido tem
O hidrogénio líquido (HL2) é um líquido 2.2. Propriedades químicas as mesmas propriedades químicas que o
muito leve (densidade 70 g/litro a uma hidrogénio gasoso. Contudo, a capacidade
temperatura de –253°C). O HL2 evapora O hidrogénio, quando combinado com o para reagir com o oxigénio é ligeiramente
muito rapidamente a uma temperatura ar ou com o oxigénio e depois deflagrado, reduzida devido à baixa temperatura.

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2.3. Corrosão, materiais provocar queimaduras criogénicas se en-
trar em contacto com a pele. O mesmo se
O hidrogénio não é corrosivo. Mediante aplica quando a pele entra em contacto
uma temperatura normal, os materiais com qualquer tubo ou equipamento não
metálicos comuns como, por exemplo, isolado que contenha hidrogénio líquido.
aço, cobre, latão, alumínio, são adequados Consulte também os Conselhos de segu-
para o hidrogénio. rança Linde 1, ”Manuseamento de gases
liquefeitos criogénicos”.
Alguns tipos de aço podem ser danifica-
dos pelo hidrogénio sob determinadas O hidrogénio não se apresenta como um
circunstâncias, por exemplo, quando estão perigo para o ambiente. Não prejudica a
presentes falhas de produção (fissuras, camada de ozono e não contribui para o
revestimentos). É por isso que os materiais efeito de estufa. O gás de exaustão resul-
utilizados em instalações de hidrogénio têm tante da combustão do hidrogénio é a água
de ser selecionados por peritos familiari- e não o dióxido de carbono ou a fuligem.
zados com as condições de funcionamen-
to específicas. Para além dos materiais 2.5. Características de misturas de gás que
metálicos, também podem ser utilizadas contêm hidrogénio
borrachas e plásticos em instalações de
hidrogénio. As misturas de gás não se separam sob o
efeito da gravidade. Quando, por exem-
O hidrogénio é um gás muito “flexível“. As plo, uma mistura de hidrogénio / argon
ínfimas moléculas conseguem introduzir- se liberta numa sala, o hidrogénio não se
-se em materiais ou pequenas fissuras que acumula junto ao teto e o argon não se
seriam impermeáveis a outros gases. Não acumula junto ao solo. A mistura sobe no
deverão ser utilizados materiais fundidos seu conjunto, quando é mais leve do que o
para o hidrogénio já que a sua porosidade ar, e desce quando é mais pesada que o ar.
pode ser uma causa de fugas. Ao fazê-lo, mistura-se continuamente no Sempre que possível, as instalações de
ar. As misturas de hidrogénio com hélio ou hidrogénio deverão ser construídas em
Devido à sua baixa temperatura, o hi- azoto são sempre mais leves do que o ar. espaços exteriores para que qualquer fuga
drogénio pode provocar a fragilização da As misturas de hidrogénio / argon com até de hidrogénio aconteça para a atmosfera
borracha, dos plásticos e do aço carbono. 71% vol. de argon são mais leves do que sem perigo. Caso tal não seja possível, no
Por este motivo, a ductilidade destes mate- o ar e, quando têm um teor mais alto de mínimo, o contentor de armazenamento do
riais pode ser substancialmente reduzida. argon, são mais pesadas do que o ar. hidrogénio deverá ser instalado no exte-
É por este motivo que estes materiais não rior. As linhas de exaustão das válvulas de
são adequados para serem usados em As misturas de hidrogénio / gás inerte são segurança ou bombas de vácuo têm de ser
instalações de HL2. combustíveis quando o respetivo teor de conduzidas para o exterior. As aberturas de
hidrogénio está acima de determinados exaustão não devem ser localizadas sob
níveis. Os valores correspondentes estão rebordos, aberturas em edifícios ou perto
definidos na norma ISO 10156. Está esti- de áreas de entrada de ar. As aberturas de
pulado que misturas de hidrogénio / azoto exaustão devem ser assinaladas de forma
com mais de 5,7% vol. de H2 e de hidro- clara para que, caso sejam executados
génio / hélio, respetivamente misturas de trabalhos a quente nas proximidades,
hidrogénio / argon com mais de 2,9% vol. todos estejam conscientes das precauções
de H2 são combustíveis. Os valores indica- necessárias a tomar.
dos são valores teóricos e “mais seguros“
e não deverão ser utilizados para classifi- As linhas de fornecimento de hidrogénio
car uma mistura de gás de acordo com os deverão dispor de uma válvula de corte
regulamentos. Os verdadeiros valores dos quando entram numa área interior. Nas
limiares de combustibilidade que foram instalações de hidrogénio em espaços
identificados em experiências indicam um interiores, têm de ser utilizadas flanges
teor de hidrogénio ligeiramente superior cegas ou porcas para tapar as ligações não
na mistura de hidrogénio / gás inerte. utilizadas de modo a evitar a libertação de
2.4. Efeitos fisiológicos / Proteção am- gás para a sala.
biental
3. Medidas de precaução As salas com instalações de hidrogénio
O hidrogénio é um gás incolor, inodoro e deverão dispor de ventilação natural ou
insípido e, por isso, não é percebido pelos 3.1. Como evitar atmosferas explosivas em artificial eficiente. O teor de hidrogénio na
sentidos humanos. espaços interiores e exteriores sala pode ser controlado através de um
sistema de aviso (explosímetro).
O hidrogénio não é venenoso. O hidrogé- É possível evitar a acumulação de uma
nio provoca a asfixia quando inalado em atmosfera explosiva em áreas circundantes Deverá ser dada especial atenção aos
concentrações elevadas. Não deverá ser a instalações de hidrogénio: espaços muito pequenos como, por
permitida a estadia de pessoas em am- exemplo, os invólucros de instalações de
bientes com concentrações elevadas de • construindo centrais de hidrogénio em mistura de gás e de aparelhos de medição
hidrogénio devido ao perigo de explosão. áreas bem ventiladas, de hidrogénio. Deverá garantir-se que as
Por esta razão, a proteção respiratória não peças desses invólucros que contêm hidro-
é relevante ao trabalhar com hidrogénio. • garantindo que as centrais de hidrogé- génio deverão ser estanques, por exemplo
O hidrogénio criogénico no estado líquido nio são estanques e que mantêm essa utilizando ligações de tubos permanentes.
ou gasoso (acabado de evaporar) pode característica. Os invólucros deverão estar equipados com

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aberturas de ventilação para que o hidro- evitar a ignição. Contudo, deverão ser tidas soldadura que funcione com hidrogénio e
génio possa ser libertado. em consideração as seguintes recomenda- oxigénio, deverão ser instaladas válvulas
ções gerais: de retenção para garantir que um gás não
As ligações de tubos em instalações de hi- entra na linha de fornecimento do outro.
drogénio deverão, sempre que possível, ser • Não deverá ser utilizado equipamento
soldadas de forma permanente ou fixadas elétrico ou este deverá ser instalado Os compressores de hidrogénio deverão
por brasagem já que estes métodos garan- numa versão à prova de explosão (EX). ser equipados com um alarme de baixa
tem uma impermeabilidade duradoura. Esta • O trabalho com fogo (soldadura, corte, pressão e de oxigénio para garantir que
recomendação aplica-se especialmente desbaste) só é permitido se a área em não é possível criar uma mistura de hidro-
aos tubos de hidrogénio encaminhados perigo estiver livre de hidrogénio. Isto génio / ar explosiva.
subterraneamente ou em áreas de difícil deverá ser verificado recorrendo a um
acesso como, por exemplo, num canal. explosímetro e nunca, em circunstância Se o hidrogénio tiver de ser combinado
alguma, utilizando uma chama despro- com ar ou oxigénio para processos técnicos
Quando os tubos que podem ser separados tegida. Quando realizar trabalhos com especiais, isto só poderá ser efetuado
são ligados através de flanges aparafusa- fogo, é importante nunca esquecer que mediante pré-requisitos supervisionados
das ou de encaixes de tubos, deverão ser as faíscas resultantes da soldadura ou do de forma muito atenta: a manutenção da
utilizados os tipos que melhores garantias desbaste podem ser projetadas até uma pressão permitida e concentração ideais e
de impermeabilidade dão. Em ligações distância de 10 m do local de origem. a ausência de fontes de faíscas.
de tubos aparafusadas, deverá ser dada • O trabalho de montagem não é permi-
preferência aos encaixes de compressão. tido enquanto ocorrer uma fuga de hi- Antes das instalações de hidrogénio serem
A verificação da existência de fugas em drogénio, mesmo quando são utilizadas colocadas em funcionamento, o ar deverá ser
instalações de hidrogénio deverá ser ferramentas à prova de faíscas, já que removido, por exemplo, através da utilização
realizada, em primeiro lugar, com um continua a existir um risco de ignição. de uma bomba de vácuo ou de purga. O
gás não inflamável como, por exemplo, o método mais seguro é a purga com azoto
azoto ou o hélio. Só após todas as fugas 3.3. Como evitar misturas explosivas em caso seja atingido um teor de oxigénio
identificadas terem sido reparadas é que instalações de hidrogénio inferior a 1% vol. na instalação. Se forem
deverá ser realizado um segundo teste de utilizadas misturas de argon / hidrogénio
fugas utilizando hidrogénio à pressão de Não é aceitável ter uma mistura explosi- ou formações de gases (mistura de azoto
funcionamento. va numa instalação de hidrogénio. Estas / hidrogénio) para soldar contendores, o
misturas deflagram facilmente, por exemplo, ar também terá de ser removido através
Uma instalação de hidrogénio com fugas mediante o calor resultante da fricção ao da purga de modo a evitar uma explosão
identificadas não é segura. A instalação acionar uma válvula ou através de partícu- no contentor. (Devido a motivos técnicos
deverá ser despressurizada, purgada e las de ferrugem que foram transportadas associados à soldadura, a prevenção de cor
reparada. (ver parágrafo 2). Mesmo o aquecimento do de recozimento, o teor de oxigénio tem de
gás que pode ser provocado por um choque estar um pouco abaixo do teor referido
3.2. Como evitar fontes de ignição em de pressão de hidrogénio a fluir rapidamen- acima). Além disso, durante a sua desa-
espaços interiores e exteriores te para uma secção da instalação enchida tivação, o hidrogénio de uma instalação de
com ar pode provocar uma ignição. hidrogénio tem de ser eliminado através da
A central e instalação de hidrogénio, utilização de uma bomba de vácuo ou atra-
incluindo as áreas circundantes, deverão O ar e o oxigénio têm de ser mantidos vés de purga. O teor de hidrogénio tem de
ser classificadas de acordo com o risco de afastados das instalações de hidrogénio. ser reduzido para 1% vol. antes da instalação
atmosfera explosiva, ver DIN EN 1127-1, Isto e possível se a instalação não dispuser ser aberta. Se, ao desativar a instalação,
DIN EN 60079-10 ou outros regulamentos de nenhuma ligação para sistemas que con- os seus elementos continuarem sob pressão,
relevantes. A classificação serve de guia tenham ar ou oxigénio. Caso estas ligações o hidrogénio tem de ser desligado com
relativo às precauções necessárias para existam, por exemplo, em equipamento de cuidado do elemento que está sob pressão,
por exemplo, através de um bloco duplo com
uma válvula de despressurização intermédia
entre os blocos, de desconexão, etc.. É im-
portante lembrar que, em todos os processos
de purga, o gás de purga percorrerá o
percurso que oferece menos resistência.
Por isso, deverá ser dada especial atenção
a percursos sem saída. Poderá ser necessário
verificar se todas as válvulas assumiram a
respetiva posição de controlo necessária.
(As válvulas que aparentam estar abertas

Aviso de atmosfera explosiva

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nem sempre permitem a passagem e as
válvulas que estão fechadas nem sempre
são estanques.)

3.4. Como reagir quando ocorrem fugas


de hidrogénio ou a deflagração do
hidrogénio

Se existir uma fuga não intencional de


hidrogénio, o fornecimento de gás tem de
ser cortado através do fecho dos controlos
necessários. Não deverá tentar reparar
a fuga enquanto continuar a verificar-se
a fuga de hidrogénio devido ao perigo
de ignição. Caso haja uma fuga de uma
quantidade significativa de hidrogénio
para a sala, existe um perigo extremo de
explosão. O pessoal deverá evacuar a sala
que depois deverá ser devidamente venti-
lada. Deverá ser efetuada uma medição
de verificação para comprovar a eficácia
da ventilação.

Se a fuga de hidrogénio tiver deflagrado,


esta poderá ser extinta através do fecho tir que não ocorreu o retorno de chamas intactas. Os pontos de ligação deverão
das linhas de fornecimento de hidrogénio. para o interior. ser verificados para garantir que não
Caso este procedimento não resulte, não existem fugas. As válvulas de garrafas e
tente extinguir o incêndio em salas com 3.5. Manuseamento de garrafas de hidro- de quadros de garrafas deverão ser fe-
agentes extintores já que o fluxo contínuo génio em segurança chadas quando não estão a ser utilizada
de hidrogénio poderia implicar um risco de modo a evitar a fuga de gás através
de explosão. Neste caso, é necessário Os regulamentos nacionais incluem dife- de ligações com fugas.
deixar o incêndio deflagrar até o hidrogé- rentes requisitos referentes ao manusea-
nio se esgotar e o fogo extinguir-se por mento de garrafas de gás. As seguintes
si. Poderá ser necessário arrefecer com regras também deverão ser respeitadas 4. Considerações finais
água algumas áreas que possam estar em ao manusear garrafas e quadros de
perigo devido ao incêndio (por exemplo, garrafas de hidrogénio: As válvulas de O hidrogénio pode ser utilizado para diver-
garrafas de gás). Quando o incêndio esti- garrafas e de quadros de garrafas só sos fins. Os nossos especialistas em gases
ver quase terminado, a instalação afetada deverão ser abertas após ser conecta- terão todo o prazer em esclarecer como o
deverá ser purgada com azoto para garan- do o redutor de pressão com vedações poderá utilizar de forma segura e eficaz.

Linde Portugal, Lda.


Av. Infante D. Henrique, Lt. 21/24, 1800-217 Lisboa
Tel +351 808 500 087, Fax +351 808 500 089
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